Competências e Desempenho Organizacional – Uma Polêmica Relação Autoria: Bruno Henrique Rocha Fernandes, Maria Tereza Leme Fleury Resumo Como relacionar as competências e os recursos de uma organização ao seu desempenho é um tema relevante, em que a literatura e os casos empíricos analisados têm dado respostas parciais e pouco satisfatórias. Este trabalho procura se debruçar sobre esta polêmica, numa tentativa de sistematizar as principais contribuições ao debate. Partindo da questão: quais são os recursos que dirigem a performance organizacional, considerando todas as perspectivas de performance do BSC (balanced scorecard) e observando outros indicadores, além dos tradicionais indicadores financeiros, como a competência, realizamos um estudo em uma empresa de saneamento. A empresa pesquisada dispunha de uma estrutura com 93 unidades de negócio e um sistema de avaliação de performance baseado no BSC. O fato de possuir unidades comparáveis, avaliadas pelos mesmos indicadores, possibilitou investigar a relação entre recursos e indicadores de performance. 1. Introdução O tema competências organizacionais, desde o sucesso do artigo de Prahalad e Hamel sobre as core competence, vem ganhando importância crescente, tanto em debates acadêmicos, como em fóruns profissionais. Como articular as competências e recursos de uma organização ao seu desempenho é um tema relevante em que a literatura e os casos empíricos analisados têm dado respostas parciais e pouco satisfatórias. Este trabalho procura se debruçar sobre esta polêmica, numa tentativa de sistematizar as principais contribuições ao debate, trazer o resultado de uma pesquisa empírica, testando relações e levantando novas questões. Seguindo os princípios da Visão da Empresa baseada em Recursos (VBR), o trabalho assume o conceito de competência organizacional como um conjunto de recursos coordenados que afetam o desempenho. Entretanto, uma revisão da literatura, considerando a natureza dos recursos e o modelo do balanced scorecard (BSC) como um referencial para organizar as diversas dimensões do desempenho, revelou que muitos dos estudos empíricos quantitativos na área focalizam recursos como práticas de RH, particularmente os chamados sistemas de trabalho de alta performance. Poucos estudos abordam outros recursos como satisfação ou competência dos empregados e, em geral, consideram apenas o desempenho financeiro. Partindo assim da pergunta “quais são os recursos que dirigem a performance organizacional, considerando outros indicadores além das práticas de RH, incluindo todas as perspectivas de performance do BSC?”, realizamos um estudo em uma empresa do setor de saneamento. Na ocasião, a empresa dispunha de uma estrutura com 93 unidades de negócio, e um sistema de avaliação da performance baseado no BSC. O fato de possuir unidades comparáveis, avaliadas pelos mesmos indicadores, estabeleceu uma interessante base para investigar a relação entre recursos e indicadores de performance. O trabalho está dividido em quatro partes, além desta introdução. A primeira faz a revisão da literatura, do conceito de competência organizacional aos estudos empíricos relacionando recursos à performance. A segunda discorre sobre os procedimentos metodológicos que orientaram a pesquisa. A terceira consiste no caso que serve de base empírica para a análise. A quarta, a conclusão, reflete sobre os resultados alcançados no estudo. 2. Construindo os conceitos e estabelecendo as relações entre competência e desempenho organizacional – revisão teórica Como mencionamos, desde o artigo de Prahalad e Hamel (1990) sobre as competências essenciais da organização, este tema das competências organizacionais ganhou destaque na literatura e na prática da administração. Mas um aspecto não tão enfatizado é a origem da discussão sobre competências: a visão da empresa baseada em recursos (VBR), proposta por Penrose (1959). Segundo esta visão, uma organização pode ser entendida como conjunto de recursos empregados de maneira produtiva para gerar riqueza. O próprio conceito de competência pode ser compreendido a partir da VBR. Mills et alii (2002) afirmam que uma competência resulta de um conjunto de recursos coordenados de modo tal que determina um nível particular de performance em uma atividade. Por exemplo, considere-se a Figura 1, em que o triângulo ilustra a competência velocidade no lançamento de novos produtos em uma dada organização. Quando analisada de perto, pode-se concluir que tal competência resulta da combinação e coordenação de diversos recursos, como uma equipe tecnicamente preparada e motivada, um sistema de recompensa à inovação e uma boa integração entre marketing e P&D – os três representados no interior da Figura 1. Vale destacar, a Figura não só ilustra a relação entre competências e recursos, mas assinala uma metodologia para entender a competência a partir de seus recursos constitutivos, denominada por Mills et alii (2002) como arquitetura de competências e recursos. Para representar a interdependência entre e coordenação que resulta na competência organizacional, os autores desenharam um triângulo com os recursos representados por círculos e as fronteiras e flexas representando a coordenação. Figura 1: Articulação de recursos e competências Competência: velocidade no lançamento de novos produtos Equipe preparada e motivada Sistema de recompensa à inovação Integração entre marketing e P&D Fonte: Mills, Platts, Bourne e Richards, 2002, p. 14. Usando termos distintos, outros autores compartilham a idéia da relação entre VBR e competências. Por exemplo, Grant (1991, p. 120) propõe que “as capacidades de uma empresa são o que ela pode fazer como resultado de grupos de recursos trabalhando juntos”. Da mesma forma, Sanchez (2001, p. 7) define competência como “a habilidade de uma organização de sustentar o emprego coordenado de ativos e capacidades de forma a ajudar a atingir seus objetivos”. Hamel (1994, p. 11) afirma que competências são uma “integração de habilidades e tecnologias, em vez de uma habilidade ou tecnologia única e isolada”. Dentre os recursos organizacionais, uma categoria essencial é a competência das pessoas. Fleury e Fleury (2000, p. 21) a definem como “um saber agir responsável e reconhecido, que implica mobilizar, integrar, transferir conhecimentos, recursos, habilidades, que agreguem valor econômico à organização e valor social ao indivíduo”. Dutra (2001) faz eco à idéia de “agregar valor econômico”, ao sugerir que conhecimentos, habilidades e atitudes do indivíduo devem ser “entregues” à organização, ou seja caracterizar uma real contribuição à organização. As competências individuais, no entanto, podem ser encarados sob dois lados: como recursos, enquanto elementos à disposição da organização para alcançar um particular nível de performance, ou como instância coordenadora de recursos – e, neste caso, assume destaque a competência gerencial. Conseqüência direta destas idéias é que o desempenho organizacional dependerá, em maior ou menor grau, da qualidade e quantidade dos recursos por ela possuídos, a competência das pessoas entre eles, bem como do modo pelo qual a organização coordena tais 2 recursos. Desta forma, é razoável supor-se que um aumento na qualidade e quantidade dos recursos, tomados como variáveis independentes, deverá se traduzir em melhor desempenho, tomado como variável dependente. Tal idéia remete ao outro lado da polêmica discussão deste trabalho: o desempenho ou performance da organização. Desde o Tableau de Bord, desenvolvido por engenheiros franceses em meados na década de 50 (Epstein e Manzoni, 1998), diversos autores vêm chamando a atenção para a limitação de se avaliar o desempenho da empresa apenas por meio de indicadores financeiros – erro ainda hoje freqüente em muitas organizações que monitoram somente fluxo de caixa e resultados contáveis. Por exemplo, Meyer (1994), destaca a inadequação de medidas financeiras para tomada de decisões: “o fato de que um projeto está seis meses atrasado e US$2 milhões acima dos custos não diz nada sobre o que saiu errado e o que fazer na seqüência” (p. 97). Este autor sugere, assim, outras dimensões a serem monitoradas para se ter uma visão mais abrangente do desempenho. A proposta mais famosa de avaliação abrangente do desempenho organizacional deve-se a Kaplan e Norton (1992), o balanced scorecard (BSC). Propõem os autores que as empresas monitorem seu desempenho segundo quatro perspectivas: financeira, clientes, processos internos e inovação e aprendizagem. Sugerem que competências e recursos sejam monitorados na quarta perspectiva, a de inovação, destacando que recursos atuam como direcionadores da performance nas outras perspectivas. Para reforçar o argumento, exemplificam: “se aumentarmos o treinamento dos empregados sobre produtos, então eles terão maior conhecimento sobre a linha de produtos; se conhecem melhor a linha, então a efetividade das vendas aumentará. Se a efetividade das vendas aumenta, então a margem dos produtos crescerá” (Kaplan and Norton, 1992, p. 149). No seu livro de 2004 os autores reforçaram este argumento enfatizando a quarta dimensão em termos dos seus recursos: humanos, informação, e capital organizacional. Neste livro, Kaplan e Norton utilizam explicitamente a idéia de ativos intangíveis como o conteúdo da perspectiva de aprendizagem e crescimento. Um outro comentário interessante, nesta linha foi levantado por Marr e Adams (2004) . Os autores discutem o que significa realmente ativos intangíveis. Segundo eles, o último livro de Kaplan e Norton é ainda algo confuso neste aspecto, pois os autores negligenciaram a vasta literatura sobre o tema. Entretanto, os autores concordam com a importância ods ativos intangíveis para direcionar o desempenho. Entre os diversos recursos que guiam a performance, vários autores enfatizam os fatores humanos. Como Becker e Gerhart (1996) escreveram:“de acordo com a VBR, as empresas podem desenvolver vantagem competitiva sustentável somente criando valor numa maneira que é escassa e difícil para os concorrentes imitarem. Embora as fontes tradicionais de vantagem competitiva como recursos naturais, tecnologia, economias de escala, e assim por diante, gerem valor, a VBR sugere que tais recursos são cada vez mais fáceis de imitar, especialmente quando comparados com estruturas sociais complexas como o sistema de trabalho. Se isto é assim, então as estratégias de recursos humanos podem ser especialmente importantes como fonte de vantagem competitiva sustentável” (p.781-782). A fim de testar em que medida os recursos relacionados ao fator humano impactam a performance, vários estudos empíricos vêm sendo desenvolvidos recentemente. Em uma revisão da literatura nesta área, considerando o tipo de recurso pesquisado, de um lado, e o desempenho organizacional, de outro, Fernandes (2004) identificou três categorias de pesquisas: os estudos ligados aos “sistemas de trabalho de alta performance”1 (HPWS), as pesquisas alinhadas ao “espelho da satisfação” e outros indicadores de pessoas, e experiências de implantação de sistemas de mensuração de performance. 3 Sistemas de trabalho de alta performance O primeiro grupo inclui autores ligados à área de recursos humanos que visam testar em que medida o uso de práticas mais sofisticadas de gestão de pessoas está associado a melhor desempenho empresarial. Enquadram-se neste grupo os trabahos de Arthur (1994), abordando o efeito de práticas de RH sobre turnover e performance operacional; Lawler, Mohman e Ledford (1995), confrontando o desempenho financeiro de empresas que adotavam práticas de “alto envolvimento dos empregados” e “Total Quality Management” (TQM) com as que não adotavam; Macy e Farias (apud FARIA e VARMA, 1998), investigando indicadores financeiros, desempenho comportamental e qualidade de vida no trabalho em empresas com HPWS; Husselid (1995), avaliando o efeito da adoção conjunta de uma série de práticas, em vez de práticas isoladas (esse estudo foi reeditado em 1997 e 1999 por BECKER, HUSSELID e ULRICH, 2001), entre outros. Outros trabalhos olharam para outros contextos culturais além do anglo-saxão, como o de Bae e Lawler (2000), focando empresas coreanas; e Guthrie (2001), examinando empresas da Nova Zelândia. Em geral, estes estudos vêm demonstrando relações entre recursos (no caso, práticas de RH) e desempenho relativamente fracas ou inexistentes2 (MUELLER, 1996; BECKER e GERHART, 1996; FARIAS e VARMA, 1998). Em particular, Mueller (1996) chamou a atenção para o fato de que a simples existência de práticas não acarreta melhores resultados. Sugeriu que tais práticas serão efetivas se:“acompanharem processos subjacentes de formação de habilidades, que podem ser facilitados ou acelerados, mas não substituídos, pelas atividades da ARH (...) [e] se os recursos humanos trabalharem em sintonia com outros recursos, isto se houver interdependência entre os recursos” (MUELLER, 1996, p. 771); reforça-se assim a idéia que as prática de gestão de pessoas precisam estar alinhadas à estratégia organizacional. Espelho da satisfação e outros indicadores relacionados a pessoas Outros autores, com origem principalmente na área de marketing, concentraram seus esforços para entender em que medida a satisfação dos empregados se transformava em satisfação e lealdade do consumidor e, por extensão, em melhor performance. Inicialmente proposto por Heskett et alii (1997), tais estudos privilegiaram o setor de serviços. Nesta linha estão os trabalhos de Rucci et alii (1998), descrevendo a cadeia lucro-serviços na Sears, e a pesquisa de Barber et alii e Bevan (1999) em empresas de varejo britânicas. Também examinando a satisfação de empregados como driver está o trabalho de Varma et alii (1999). Já Hitt et alii (2001) abordaram especificamente a relação do capital humano com a performance. Por fim, Batt (2002) e Gales et alii (2002) incluem as habilidades dos funcionários como recursos. Experiências de implantação de sistemas de mensuração da performance Este grupo é constituído de experiências de implantação de sistemas de mensuração da performance em algumas empresas, com a investigação da relação entre os indicadores das diversas perspectivas. São exemplos os relatos de Becker et alii (2001) na GTE; Schay et alii (2002) no governo federal americano; Kaplan e Norton (2001), na Mobil e Store 24; e Neely e Najjar (2003), na British Airways e em uma empresa de serviços denominada X. De forma geral, estes estudos consistem em reflexões sobre projetos de consultoria para implantar sistemas de avaliação do desempenho. Primeiro, desenvolvem indicadores para as diversas perspectivas de performance, segundo a estratégia da empresa. Algum tempo após a implantação, coletam dados referentes a estes indicadores. A seguir, investigam, mediante técnicas estatísticas, a associação entre indicadores nas diferentes perspectivas. O Quadro 1 apresenta um resumo de trabalhos empíricos que relacionam recursos ligados à gestão de pessoas e performance organizacional, incluindo outras pesquisas levantadas na revisão de Fernandes (2004). O referencial do BSC foi utilizado para classificar as dimensões 4 da performance. Os recursos correspondem às variáveis independentes, e as dimensões da performance, às variáveis dependentes. Cada célula apresenta os estudos com os indicadores que operacionalizaram a variável dependente. Não estão mencionados todos os indicadores e variáveis de controle adotados em cada estudo. O quadro também informa, entre colchetes, a empresa na qual se realizou a pesquisa quando se trata de estudo de caso. Quando não é feita menção, trata-se de survey. Embora recursos pertençam à perspectiva de aprendizagem, esta perspectiva também é apresentada no quadro sob forma de variável dependente, pois alguns de seus indicadores podem ser considerados resultantes de outros indicadores antecedentes – por exemplo, a influência de HPWS sobre o índice de turnover. A análise dos estudos empíricos permite inferir algumas conclusões. Uma delas é que ainda são relativamente poucos os estudos que cobrem todas as dimensões da performance organizacional. Nesse sentido, observa-se um claro predomínio das pesquisas que confrontaram recursos com desempenho financeiro, talvez pela fácil mensuração e pela existência de indicadores comuns e disseminados entre organizações. Ainda, estudos que abarcaram todas as dimensões, como o de Bae e Lawler (2000), basearam-se em indicadores percebidos. Por exemplo, não verificaram se o uso de HPWS estava associado ao aumento real na satisfação do cliente; testaram, sim, se HPWS estava correlacionado à percepção, pelo respondente, de que o cliente estaria mais contente. Uma segunda observação é que a maior parte dos estudos concentra-se nas práticas de RH como direcionadores de performance, em particular, avaliando efeitos de HPWS’s. Observase que poucos estudos abordam outros recursos, como satisfação, capital intelectual ou competências. Talvez isto ocorra porque direcionadores de performance são específicos à empresa ou, pelo menos, ao setor. Assim, de acordo com a natureza do negócio, os direcionadores são distintos. Por exemplo, a satisfação do funcionário pode ter impacto maior na Sears, loja de departamento em que vendedores têm grande interação com clientes, do que em supermercados, voltados ao auto-serviço. Ainda, a relação entre estabilidade de pessoal e performance pode ser bem distinta na GTE e em uma cadeia de fast-food – ou mesmo dentro da própria GTE, se analisada outra área. Isto sinaliza que, dependendo do negócio, deverá ocorrer uma customização dos indicadores. Ora, se cada empresa possui direcionadores diferentes para alavancar seu desempenho, como escolher um determinado e avaliar seu impacto sobre negócios distintos? Isso pode explicar porque estudos abordando outros direcionadores tendem a se concentrar em um setor – por exemplo, escritórios de advocacia para Hitt et alii (2001), ou call centers para Batt (2002) – ou mesmo em organizações específicas, como os estudos relacionados à implantação do BSC. Por outro lado, todas as organizações possuem práticas de RH, mais ou menos formalizadas, mais ou menos sofisticadas. Daí que vários estudos tenham escolhido tais práticas para testar até que ponto sua intensidade estaria relacionada à performance. Porém, a não observação da relação em alguns estudos ou a constatação de relações relativamente fracas apontam para a necessidade de mergulhar em outros drivers ou recursos para se entender o que determina uma performance superior. Outra dificuldade relacionada à escolha de direcionadores refere-se à operacionalização dessas medidas. Considere-se o caso do conceito de competências/habilidades como direcionador. Nos relatos, mesmo quando se pensou em incluí-lo não foi possível mensurá-lo (caso da Mobil), ou acabou transfigurado para ser operacionalizado (como na empresa Store 24 ou na pesquisa de Batt, 2002, onde competência é operacionalizada como “anos de exercício na função”), ou não se obteve resultados conclusivos (SCHAY et alii, 2002). 5 Batt (2002): crescimento nas vendas Heskett et alii (1997): vendas Rucci et alii (1998): crescimento receita [Sears] Barber et alii (1999): receita Varma et alii (1999): eficiência; custos Kaplan e Norton (2001): ROI [Mobil; Store 24] Neely e Najjar (2003): vendas [British Airways] Batt (2002): crescimento das vendas Kaplan &Norton (2004) :crescimento de vendas, ROI (Northwestern, Mutual, Volvo) Turnover Motivação dos empregados (satisfação e conscientizaçã o para estratégia) Capital humano Habilidades Fonte: Fernandes (2004). Financeira Lawler at alii (1995): performance financeira Macy et alii (1995): performance financeira Husselid (1995, 1997, 1999): lucro; valor de mercado da empresa Batt (2002): crescimento das vendas Davidson et alii (1996): valor das ações Welbourne et alii (1996): valor das ações, sobrevivência Delery et alii (1996): lucratividade Delaney et alii (1996): crescimento vendas Banker, Lee et alii (1996): vendas, lucros Varma et alii (1999): eficiência; custos Bae et alii (2000): vendas; força financeira Batt (2002): crescimento vendas Recurso Práticas de RH Schay et alii (2002): satisfação do cidadão Heskett et alii (1997): satisfação do cliente Rucci et alii (1998): satisfação consumidor [Sears] Barber et alii (1999): satisfação e lealdade do consumidor Schay et alii (2002): satisfação do cidadão Kaplan e Norton (2001): satisfação do cliente [Mobil; Store 24] Neely e Najjar (2003): satisfação do cliente [British Airways; X] Schay et alii (2002): satisfação do cidadão Kaplan &Norton (2004) satisfação do cliente, força da marca, novos produtos Clientes Banker, Lee et alii (1996): satisfação dos clientes Delaney et alii (1996): participação de mercado, satisfação dos clientes Bae et alii (2000): imagem Quadro 1: Estudos empíricos na relação recursos organizacionais e performance Hitt et alii (2001): capital humano e receita/ empregado Schay et alii (2002): tempo de resposta Kaplan & Norton (2004) gestão de projetos, apoio tecnológico, qualidade Processos internos Arthur (1994): eficiência, desperdício. Husselid (1995, 1997, 1999): produtividade (vendas/empregado) Delaney et alii (1996): qualidade; inovação em produtos Yount et alii (1996): performance operacional Banker, Lee et alii (1996): vendas Banker, Field et alii (1996): produtividade, qualidade do produto Varma et alii (1999): velocidade, qualidade, produtividade Bae et alii (2000): qualidade; produtividade Guthrie (2001): produtividade (vendas/ empregado) Hitt et alii (2001): receita/empregado Becker et alii (2001): inovação produtos [GTE] Schay et alii (2002): tempo de resposta Varma et alii (1999): velocidade, qualidade, produtividade Schay et alii (2002): tempo de resposta Kaplan e Norton (2001): conhecimento da estratégia, motivação; lead time [Mobil; Store 24] Gales et alii (2002): uso de tecnologia e práticas administrativas 7 Aprendizagem Arthur (1994): turnover Macy et alii (1995): comportamento e qualidade de vida Husselid (1995, 1997, 1999): turnover Delaney et alii (1996): habilidade dos funcionários Yount et alii (1996): clima Guthrie (2001): turnover Batt (2002): turnover Todas essas constatações apontam para a necessidade de aprofundar os estudos sobre a relação entre competências organizacionais e performance, tema deste trabalho. Em particular, tais estudos deveriam privilegiar os seguintes aspectos: • avaliar a performance em suas múltiplas dimensões; • incluir outros recursos ou direcionadores da performance, como competências individuais, ativos tangíveis, satisfação etc., além das práticas de RH – o que pode implicar na restrição do estudo para setores ou empresas específicas. 3. Procedimentos metodológicos Para investigar tais questões, desenhou-se uma pesquisa com os seguintes procedimentos: a) identificar uma empresa e/ou setor com unidades comparáveis, e em número suficiente para tratamento estatístico, e em que se pudesse medir recursos e graus de performance (usando indicadores comuns); b) definir uma competência organizacional e seus recursos componentes, para tais unidades, utilizando a metodologia arquitetura de competências e recursos (Mills et alii, 2002); c) estabelecer ligações entre recursos e indicadores de performance por meio de mapas causais, tomando por referência as quatro perspectivas do BSC; d) coletar dados definidos juntos aos sistemas de informação quando já monitorados pela empresa, e desenvolver e aplicar instrumento de coleta específico no caso de dados nãodisponíveis; e) aplicar técnicas de análise fatorial, visando identificar fatores que explicassem parte significativa da variância em cada perspectiva do BSC; f) conduzir análises de regressão para verificar correlações entre variáveis reduzidas, tomadas como recursos ou indicadores de performance; e g) simular o impacto do aumento de direcionadores de performance significativos sobre outras dimensões do desempenho, utilizando as equações de regressão. Para o item a) a empresa escolhida cumpriu com os requisitos necessários para a investigação em virtude de sua estrutura composta por unidades de negócio similares. Quanto ao item b), os procedimentos foram: identificar um fator-chave de sucesso no setor; avaliar o desempenho da empresa face este fator; avaliar valor, sustentabilidade e versatilidade do fator, a fim de caracterizá-lo ou não como competência, sempre com o uso de questionários estruturados. A partir daí, escolheu-se o fator que foi a maior competência organizacional dentre as analisadas. Tal competência foi decomposta em recursos constitutivos. A etapa c) consistiu na construção de mapas causais, ligando-se as variáveis que supostamente afetavam outros indicadores. As relações da causalidade foram representadas mediante setas saindo da variável independente para a dependente – que poderia transformar-se em independente em relações consecutivas. As etapas b) e c) foram desenvolvidas mediante entrevistas e workshops com um grupo de sete gestores da empresa. Na etapa d), olhou-se para as diversas bases de dado da empresa, visando obter informações necessárias à pesquisa. Em um caso concreto, a informação não estava disponível, e criou-se e aplicou-se um questionário. As informações foram buscadas no nível das unidades de negócio, e foram separadas em variáveis referentes a recursos, e variáveis de desempenho. Via de regra, variáveis de recursos foram divididas por um denominador comum – o número de ligações de água e esgoto da unidade – como forma de aumentar a comparabilidade. Para as variáveis de desempenho, olhou-se o quociente entre metas e valores realizados, ou seja, o quanto as unidades realizaram frente à meta. Só os resultados alcançados, nesse caso, dizem pouco, pois há muitos outros fatores que intervêm. Por exemplo, características geográficas como relevo da região influenciam significativamente os resultados. Uma unidade de negócios A, atendendo uma região com grandes desníveis de altitude, teria um alto consumo de energia elétrica para bombear água, algo que uma unidade B, responsável por uma região plana, não teria. Nessa situação, se comparadas as unidades, A teria desempenho superior a B em indicadores como custos e rentabilidade. Isso, porém, não estaria relacionado à competência, mas a fatores geográficos. 8 As etapas e), f) e g) foram rodadas mediante o uso dos softwares estatísticos SPSS e Excel, e nelas foram observadas as cautelas referentes às condições de uso das técnicas, no que respeita à normalidade da amostra, e indicadores para aceitação ou não dos resultados. Na etapa e), a redução no número de variáveis fez-se necessária porque muitas das variáveis originais continham praticamente as mesmas informações. Além do mais, o número excessivo de variáveis poderia revestir de complexidade e mascarar fenômenos relevantes. Para a aceitação das variáveis reduzidas e seu uso em análises posteriores, observou-se a medida de adequação da amostra de Kaiser-Meyer-Olkin (KMO, ideal valores superiores a 0,7), que avalia a validade do modelo como um todo. Os resultados foram rotacionados a fim de se obter maior facilidade de interpretação dos fatores. Foi utilizado o método de rotação ortogonal VARIMAX com normalização de Kaiser. O uso de um método de rotação ortogonal deveu-se ao fato de que os resultados foram utilizados em análises estatísticas posteriores, que exigiram multicolinearidade mínima nos dados. Foram calculados os valores dos fatores como novas variáveis. Por fim, à exceção da perspectiva de aprendizado, para as demais perspectivas tomaram-se as variáveis de maior poder explicativo da variância. Para a etapa f) foram inseridas duas variáveis de controle. Já a última etapa, g), inspirou-se em procedimentos adotados por Husselid et alii (1997) e Gales et alii (2002) para avaliar o impacto de HPWS sobre o desempenho da empresa. A investigação é horizontal e comparativa, olhando para diversas unidades de negócios e seus recursos, e avaliando como estes influenciaram a performance. Ao mesmo tempo, a pesquisa é qualitativa, ao modelar recursos constitutivos, competências e mapas causais; e quantitativa, ao tratar estatisticamente dados obtidos da empresa. A situação em estudo a) Identificação da empresa Para o estudo, foi escolhida uma empresa do setor de saneamento, a Sanepar – Companhia Paranaense de Saneamento. Criada em 1963 para fornecer tratamento de água e esgoto no Estado do Paraná, a empresa em 2002 faturou cerca de R$ 1 bilhão, empregando 4000 funcionários diretos. Os dados coletados para a pesquisa referem-se ao ano de 2002. Desde 1997, sua estrutura organizacional consiste em dois níveis: uma holding no nível corporativo, e unidades de negócio (UN’s) no nível operacional. O nível corporativo é responsável por decisões centralizadas como o processo de investimento, planejamento de longo prazo e P&D. As unidades de negócio são de dois tipos: as unidades de serviço (US), cujo papel é oferecer serviços no mercado interno para outras UN’s, e as unidades de receita (UR), que lidam com clientes externos. As US’s incluem Recursos Humanos, Manutenção, Contabilidade, Engenharia etc., e obtêm sua receita por meio de um sistema de transferência de preços internos. Por ocasião da pesquisa, a empresa possuía 93 UN’s, sendo 38 delas UR’s. O sistema de gestão é inspirado no BSC, embora a empresa não siga o modelo rigorosamente. No início do ciclo de planejamento anual, a UN detalha suas metas de acordo com o planejamento estratégico central. Para cada perspectiva – financeira, clientes, processos internos e aprendizado – existem indicadores de performance que devem ser preenchidos como metas. Durante o processo de definição de metas, os gestores das UN’s negociam com unidades fornecedoras, clientes e pares para chegarem a números factíveis. A seguir, negociam com o nível corporativo. Os resultados da discussão são estabelecidos como metas para a UN atingir no próximo exercício. Parte da remuneração variável está condicionada ao alcance dessas metas. O Quadro 2 apresenta alguns indicadores adotados pela empresa para UR’s, de acordo com a perspectiva do BSC. O sistema de gestão é monitorado pelo software SGS, o qual armazena todos os indicadores das UN’s. Em 2002 este software foi premiado pela Microsoft como a melhor Solução em Business Intelligence na America Latina. 9 Quadro 2: Explicação de alguns indicadores de gestão da empresa Perspectiva Indicadores Financeira EBITDA Evasão de receitas II Margem despesa pessoal Margem operacional Receita operacional ajustada Clientes Aumento ligações água Aumento lig. esgoto Satisfação dos clientes Processos Internos Aprendi -zagem Explicação Resultado UN antes de juros, impostos, depreciações e amortizações Percentual da receita operacional que não foi arrecadada no período Percentual de uso da receita operacional com despesas de pessoal Percentual de uso da receita operacional com despesas de exploração Somatória da receita tarifária mais a receita de serviços para clientes externos (água, esgoto, e serviços) Número de ligações de água que a UN efetivamente aumentou Número de ligações de esgoto que a UN efetivamente aumentou Pesquisa de satisfação para avaliar produtos e serviços, no que se refere a operação, manutenção, atendimento e projetos e obras Total de reclamações Soma de todas as reclamações classificadas em: reclamações sobre o faturamento; reclamações sobre os serviços prestados; reclamações relativas a operação do sistema (falta de água, água suja, etc.) Nível atendimento água Nível de cobertura com serviços de água Nível atend. esgoto Nível de cobertura com serviços de esgoto No ligações de água Quantidade de ligações de água da UN No ligações de esgoto Quantidade de ligações de esgoto da UN Produtividade Quantidade de ligações de água e esgoto para cada empregado da UN Perdas no faturamento Relação entre o volume produzido e o faturado. É uma composição de perdas físicas e não-físicas que, além das atribuídas a desvios de medição, incorporam volumes utilizados e não cobrados Índice de perdas no Volume produzido disponibilizado ao volume utilizado. Água sistema distribuidor – disponibilizada e não utilizada constitui parcela não contabilizada, PSD12 que incorpora perdas físicas e não-físicas no sistema de distribuição Refluxos de esgoto Número de refluxos ocorridos para cada 1.000 ligações de esgoto Reposição de Percentual de serviços de reposição de pavimentos com prazo de pavimentos execução igual a 10 dias em relação ao total de serviços de reposição Treinamento funcionário Quantidade de horas/ano Satisfação funcionários Pesquisa de clima Fonte: Sanepar. Outro sistema importante é a gestão de pessoas baseado em competências. Inspirado no modelo de Dutra (2001), usa os seguintes conceitos: competência, como conhecimentos, habilidades e atitudes (inputs) aplicados dentro de um contexto profissional, de modo a agregar valor social ao indivíduo e valor econômico à empresa (outputs ou entrega); complexidade, que traduz o nível de abstração em que o indivíduo realiza seu trabalho; espaço ocupacional, referente ao conjunto de atribuições e responsabilidades a encargo de uma pessoa; e eixos de carreira, trajetórias naturais de crescimento profissional. O sistema comporta uma etapa de enquadramento das pessoas dentro de um eixo de carreira e em um nível de complexidade, caracterizado por um conjunto de competências. A partir daí, o profissional é avaliado segundo seu grau de proficiência em cada competência, bem como seu atendimento quanto aos requisitos de acesso (inputs). Um resultado desta avaliação é o inventário do nível de competência em cada unidade de negócios. O modelo de competências da Sanepar é monitorado por meio do software Sistema de Competências e Relações com Empregados (SCRE). O software parametriza todos os critérios do modelo, permite a avaliação on line dos funcionários, e armazena os resultados em uma base de dados, com a distribuição de competências de todos os funcionários. Essas circunstâncias de possuir um sistema de avaliação de performance, um sistema de gestão de pessoas baseado em competências e uma estrutura organizacional com unidades comparáveis fazem da empresa um campo privilegiado para investigar a relação entre recursos e performance (MILLS e FERNANDES, 2004). 10 b) Arquitetura de competência e recursos Todo este modelo de negócios está orientado à consecução de uma competência organizacional julgada essencial nas entrevistas e workshops: atingir resultados. Assim, utilizando a metodologia proposta por Mills et alii (2002), levantou-se quais os recursos seriam necessários à efetivação da competência. O Quadro 3 apresenta tais recursos. Quadro 3: Recursos constitutivos da competência “alcançar resultados” Tipo recurso Recursos tangíveis Conhecimentos habilida-des e experiências Procedimentos e sistemas Valores e cultura Network Recursos importantes para mudança Variáveis Grau de automação da unidade Recursos materiais (infra-estrutura física administrativa e rede) Número de funcionários, aquisição x perda de funcionários, horas extras Competência individual do gestor (orientação para resultado, liderança etc.) Competências da equipe (orientação para resultado, trabalho em equipe etc.) Satisfação do colaborador Experiência da equipe Treinamento da equipe Sistema de monitoramento Sistema de remuneração (participação nos resultados) Sistemas de qualidade (ISO, 9.000 e 14.000; PARES) Orientação para resultado Orientação para o cliente (interno/ externo) Grau de articulação/ do gestor/equipe com relação à empresa e ao negócio Fornecedores de manutenção e produção da unidade Gestor competente Valores da equipe de abertura à mudança Recursos financeiros Fonte: Entrevistas e workshops. c) Mapas causais O grupo também concebeu o mapa cognitivo que liga estes recursos a dimensões da performance. A metodologia utilizada consistiu em: primeiro, listar as variáveis mais relevantes para a performance em cada perspectiva; em segundo, desenhar setas assinalando que variáveis influenciam quais. O mapa resultante foi demasiado complexo, com16 variáveis na perspectiva de aprendizado, 8 na de processos internos, 6 na de clientes e 8 na financeira, com 37 relações de causalidade propostas entre as variáveis. d) Coleta de dados Para localizar onde poderiam ser obtidas informações referentes às variáveis de recursos e de desempenho, olhou-se para os sistemas de gestão da empresa. O Quadro 4 mostra algumas das fontes de variáveis de recursos. Variáveis de desempenho foram todas retiradas do SGS. Quadro 4: Variáveis, formas de mensuração e indicadores Variáveis Grau de automação da unidade Recursos materiais Competência individual do gestor / equipe Satisfação do colaborador Treinamento da equipe Sistema de monitoramento Sistema de remuneração (participação nos resultados) Sistemas de qualidade (ISO, 9.000 e 14.000; PARES) Orientação para o cliente (interno/ externo) Fornecedores de manutenção e produção da unidade Mensuração Direta Indireta Direta Direta Aproximada Não há Não há Não há Indireta Direta Indicadores (fonte) Grau de automação (questionário) Valor patrimonial da unidade (SGS) Competência e entrega (SCRE) Satisfação do colaborador (SGS) Treinamento da equipe (SGS) Observação: tais sistemas são comuns a todas unidades, não explicam diferença de desempenho. Competência e entrega (SCRE) Fornec. manutenção/ produção (SGS) Fonte: Autores. 11 e) Análise fatorial Face à complexidade do modelo proposto, foi realizada análise fatorial, a fim de obter, para cada perspectiva do BSC qual fator explicaria a maior parte da variância. O Quadro 5 apresenta as variáveis aceitas, segundo critérios explicados na seção sobre metodologia. Quadro 5: Síntese das variáveis do modelo após análise fatorial Perspectiva Financeira Clientes # var. Componentes inicial 7 Receitas e despesas Ind. financeiros líquidos 2 Satisfação dos clientes Processos Internos 6 6 Aprendizado e crescimento 7 9 Metas água Metas esgoto Perdas no sistema Reparos e consertos Interrupções abastecimto Densidade recursos Satisfação empregado Entrega (competência)3 Variância explicada 65,2 22,6 67,9 Aceitação Sim Não Não 60,0 24,0 48,2 21,3 17,7 55,9 20,9 62,8 Sim Não Não Não Não Sim Sim Sim Observação Fator escolhido KMO<0,7. Uso da variável original satisfação dos clientes. Fator escolhido KMO<0,7 Fator escolhido Fator escolhido Fator escolhido Fonte: Autores. f) Análise de regressão Duas variáveis de controle foram adicionadas: realização das previsões de consumo e desempenho dos fornecedores. A primeira foi incluída porque o modelo assume que previsões realizadas no planejamento irão acontecer. Se não se efetivam, a performance pode ser afetada por motivo não relacionado a recursos ou competência. A segunda variável visou controlar até que ponto o fornecedor afeta o resultado da UN. Um novo mapa causal foi desenhado com as novas variáveis reduzidas e variáveis de controle, conforme ilustra a Figura 2. Figura 2: Mapa causal com variáveis reduzidas interno UR externo UR Receitas e despesas Financeira Consumo residencial Satisfação do cliente Clientes Metas água Processos internos Crescimento e aprendizagem Entrega Satisfação empregado Densidade de recursos Desempenho fornecedor Fonte: Autores. Para resumir, o modelo propõe que as variáveis da base afetam as metas relativas ao fornecimento de água. Tais metas, se alcançadas, influenciarão a satisfação do consumidor e permitirão o atingimento das metas de faturamento e despesas. Uma análise de regressão foi 12 conduzida para testar tais relações, examinando pares de variáveis quando a associação entre uma e outra tinham significado teórico. O Quadro 6 ilustra os resultados. Quadro 6: Análise de regressão das relações no modelo V independente Metas de água V. dependente Satisfação dos empregados Entrega R2 Valor –p R2 Valor –p Densidade de recursos Desempenho fornecedores Consumo residencial Metas de Água R2 Valor –p R2 Valor –p R2 Valor –p 0,405 0,000 -0,017 0,538 0,110 0.023 0,021 0,189 0,620 0,000 R2 Valor –p Satisfação dos clientes 0,227 0,001 -0,014 0,492 -0,015 0,510 -0,026 0,822 0,059 0,077 0,232 0,001 Receitas e despesas 0,090 0,037 -0,027 0,907 0,104 0,027 -0,013 0,472 0,405 0,000 0,377 0,000 Fonte: Excel. Os resultados mostram associações significativas entre o recurso satisfação do empregado e as três perspectivas da performance (p<0,05). A densidade de recursos revelou-se associada com a perspectiva de processos internos e as metas financeiras, mas não com a perspectiva dos clientes. As previsões de consumo residencial revelaram o efeito mais forte sobre os processos internos e as metas financeiras. As competências dos empregados e o desempenho dos fornecedores não demonstraram associação com a performance da UN. g) Simulação da satisfação Para entender melhor o impacto da satisfação dos empregados sobre o desempenho, aumentou-se um desvio padrão na variável independente e observou-se o efeito nas demais. A variável independente correspondeu à variável reduzida satisfação dos empregados, cujo aumento de 1 desvio corresponde a 6% de acréscimo na variável original satisfação dos empregados. O Quadro 7 mostra como o aumento se propaga em outras dimensões. Quadro 7: Impacto da satisfação dos empregados sobre a performance Aumento na Satisfação do empregado 6,0 % Metas de água 0,72% Incremento em Satisfação do consumidor 0,45% Receitas e despesas 1,64% Fonte: Autores. Os resultados parecem apontar para o fato que, quando os funcionários estão mais satisfeitos, aumenta o grau de alcance de metas operacionais; como conseqüência, os clientes ficam mais satisfeitos e a UR aumenta seu atingimento das metas financeiras. Outros trabalhos na área demonstram este impacto do aumento da satisfação do empregado sobre a satisfação do cliente. O Quadro 8 ilustra alguns estudos. É interessante notar como trabalhos no setor de varejo ou serviços, em que o cliente tem interação direta com o funcionário, o impacto tende a ser maior que neste estudo, com relações mais remotas. 13 Quadro 8: Pesquisas com a relação entre satisfação do empregado e do cliente Aumento satisfação Aumento dos empregados satisfação clientes 5% 1,30% 1% 0,23% 1% 0,25% 6% 0,45% Empresa / setor – país Sears/varejo – EUA Varejo – Inglaterra Empresa serviço – Inglaterra Empresa saneamento – Brasil Autores Rucci et alii (1998) Barber et alii (1999) Neely et alii (2003) Presente estudo Fonte: Autores. Conclusão Este artigo assume o conceito de competência como um conjunto de recursos que afeta a performance. Entretanto, uma revisão da literatura utilizando o modelo do BSC para organizar as dimensões da performance revelou que poucos estudos avaliam como diferentes recursos (não apenas práticas de RH) afetam todas as dimensões do desempenho simultaneamente. O presente artigo examina esta questão em uma companhia de saneamento. Em geral, recursos pareceram estar associados à performance, mas outras questões surgiram: • o grau de competência das pessoas, medido por meio de avaliação de competências segundo o modelo de Dutra, não apresentou relação com o desempenho; • os fatores ambientais relacionados ao consumo residencial apareceram como o mais forte determinante da performance (e a competência para prevê-los torna-se assim muito importante neste tipo de negócio); • a satisfação dos empregados demonstrou associação com metas de processos internos, com metas financeiras, e com a satisfação dos consumidores, ainda que com impacto mais fraco que o revelado por estudos no setor de varejo e serviços. O primeiro resultado é curioso. Sugere que o nível de desenvolvimento das pessoas não conta muito nesta empresa. Possíveis explicações para tal resultado são: • as pessoas podem ser competentes, mas se isto não é coordenado adequadamente, tais competências individuais não se convertem em desempenho organizacional. Uma aproximação do grau de coordenação seria a competência do gestor mas, na pesquisa, não foi possível avaliar a competência do gestor separadamente da competência de sua equipe. Assim, não se mensurou o grau de coordenação; • o desenvolvimento de competências apresenta resultados no longo prazo, e a pesquisa coletou e analisou dados no horizonte de um ano, tempo talvez insuficiente para aparecer os frutos do desenvolvimento das pessoas; • na pesquisa, as UN’s testadas eram de nível bem operacional, em que recursos como normas pareciam ser o principal mecanismo de coordenação; nesta situação, seguir procedimentos pode ser mais importante que o grau de desenvolvimento da pessoa. Estes resultados reforçam a perspectiva adotada da RBV, mostrando uma situação empírica, em que organizações com condições similares, com recursos comparáveis apresentam desempenho diverso, em função da forma como coordenam seus recursos. O trabalho também procurou avanças metodologicamente, ao propor uma metodologia que avalia o link entre recurso e desempenho em condições particulares. Esta metodologia, desenhando mapas casuais relacionando diferentes indicadores de desempenho, aplicando análise fatorial, modelos de regressão procurou avançar nesta direção. A pesquisa futura neste campo deveria focar empresas intensivas em conhecimento, nas quais é possível que o grau de competência dos indivíduos surja como o fator mais relevante. Outras investigações seriam estudos empíricos longitudinais sobre o tema e estudos avaliando o impacto de competências pessoais específicas do gestor e da equipe no desempenho. 14 Referências ARTHUR, J. Effects of Human Resource Systems on Manufacturing Performance and Turnover. Academy of Management Journal, Briarcliff NY, v. 37. n. 3, p. 670 – 687, 1994. BAE, J.; LAWLER, J. J. Organizational and HRM Strategies in Korea: Impact on Firm Performance in an Emerging Economy. Academy of Management Journal, Briarcliff Manor NY, v. 43, n. 3, p. 502 – 517, 2000. BARBER, L; HAYDAY, S.; BEVAN, S. From People to Profits. Brighton: The Institute for Employment Studies. Report 355, 1999. BARNEY, J. B. Gaining and Sustaining Competitive Advantage. NY: Wesley, 1996. BATT, R.. Managing Customer Services: Human Resource Practices, Quit Rates and Sales Growth. Academy of Management Journal, Briarcliff NY, v. 45, n. 3, p. 587 – 597, 2002. BECKER, B. E.; GERHART, B.. The Impact of Human Resources Management on Organizational Performance: Progress and Prospets. Academy of Management Journal, Briarcliff Manor NY, v. 39. n. 4, p. 779 – 801, 1996. BECKER, B. E.; HUSSELID, M. A.; ULRICH, D. The HR Scorecard: linking people, strategy and performance. Boston: Harvard Business School Press, 2001. DUTRA, J. S. Gestão de Pessoas com base em Competências. In DUTRA, J. S. (org.). Gestão por Competências: um modelo avançado para o gerenciamento de pessoas. São Paulo: Ed. Gente, 2001, p. 23-40. EPSTEIN, M.; MANZONI, J. F. Implementing Corporate Strategy: From Tableaux de Bord to Balance Scorecards. European Management Journal. Oxford, v.16, n.2, p.190-203, 1998. FARIAS, G.; VARMA. A. High Performance Work Systems: What We Know and What We Need to Know. Human Resource Planning. New York NY, v. 21, n. 2, p. 50-55, 1998. FERNANDES, B. H. R. Competências e Performance Organizacional: um Estudo Empírico. Tese (Doutorado) – Faculdade de Economia e Administração. São Paulo: Universidade de São Paulo, 2004. FLEURY, A.; FLEURY, M. T. L. Estratégias empresariais e formação de competências: um quebra cabeça caleidoscópico da indústria brasileira. S. Paulo: Atlas, 2000. FOSS, N. J. Resources, Firms and Strategies: A Reader in the Resource-Based Perspective. Oxford: Oxford University Press, 1997. GALES, H. FREDERICK; WOJAN, TIMOTHY R.; OLMSTED, JENNIFER C. Skills, Flexible Manufacturing Technology, and Work Organization. Industrial Relations, Malden, MA, v. 41, n. 1, p. 48 – 79, Jan 2002 GRANT, R. M. The Resource-Based Theory of Competitive Advantage: Implication for Strategy Formulation. California Management Review. Berkeley CA, v. 33: n. 3, p. 114135, Spring 1991. GUTHRIE, J. P. High-Involvement Work Practices, turnover, and productivity: evidence form New Zealand. Academy of Management Journal, Briarcliff Manor NY, v. 44, n. 1, p. 180 – 190, Feb 2001. HAMEL, G.. The Concept of Core Competence. In HAMEL, G.; HEENE, AIMÉ (Ed.) Competence based Competition. Chichester: John Wiley and Sons, 1994, p. 11-34. HESKETT, J.; SASSER, W.; SCHLESINGER, L. The Service Profit Chain: How Leading Companies Link Profit and Growth to Loyalty, Satisfaction and Value. NY: Free Press, 1997. HITT, M.; BIERMAN, L.; SHIMIZU, K.; KOCHHAR, R. Direct and Moderating Effects of Human Capital on Strategy and Performance in Professional Service Firms: a Resource-Based Perspective. Academy of Management Journal, Briarcliff NY, v. 44, n. 1, 13-28, 2001. HUSSELID, M. Impact of Human Resource Management on Turnover, Productivity and Corporate Financial Performance. Academy of Management Journal, Briarcliff Manor NY, v. 38, n. 3, p. 635-672, 1995. 15 HUSSELID, M. A.; JACKSON, S. E.; SCHULER, R. S. Technical and Strategic Human Resource Management Effectiveness as Determinants of Firm Performance. Academy of Management Journal, Briarcliff Manor NY, v. 40, n. 1, p. 171-188, 1997. KAPLAN, R.; NORTON, D. The Balanced Scorecard – Measures That Drive Performance. Harvard Business Review, Boston, v. 70, n. 1, p. 71-79, Jan-Feb 1992. KAPLAN, R.; NORTON, D. Organização orientada para a estratégia: como as empresas que adotam o balanced scorecard prosperam no novo ambiente de negócios. Tradução Afonso C. Cunha Serra. Rio Janeiro: Campus, 2001. KAPLAN, R.; NORTON, D. Mapas Estratégicos: convertendo ativos intengíveis em resultados tangíveis. Tradução Afonso C. Cunha Serra. Rio Janeiro: Campus, 2004. LAWLER, E. E.; MOHMAN, S.; LEDFORD, G. Creating High Performance Organizations. San Francisco, CA: Jossey-Bass, 1995. MARR, B.; ADAMS, C.(2004). The Balanced scorecard and intangible assets: similar ideas, unaligned concepts. Measuring Business Excellence,Vol. 8, No.3,pp18-27. MEYER, C. How the Right Measures Help Teams Excel. Harvard Business Review. Boston, v. 72, n. 3, p 95-192, May-Jun 1994. MILLS, J.; PLATTS, K.; BOURNE, M.; RICHARDS, HUW. Competing through competences. Cambridge: Cambridge University Press, 2002. MILLS, J.; FERNANDES, B. H. R.. Linking Resources and Organizational Performance: replicated research designs, a case and a warning. In Performance Measurement Association Conference, 2004, Edinburgo, Escócia. Anais Performance Measurement Methodology. Cranfield: Cranfield University, 2004, v. 1, p. 715-722. MUELLER, F. Human Resource as Strategic Assets: An Evolutionary Resource-based Theory. Journal of Management Studies, Oxford, v. 33, n. 6, p. 757-785, Nov 1996. NEELY, A.; NAJJAR, M. Linking financial performance to employee and customer satisfaction. In NEELY, A. (Ed.) Business Performance Measurement: theory and practice. Cambridge: Cambridge University Press, 2003. p. 295-303. PENROSE, E. T. The theory of growth of the firm. London: Basil Blackwell, 1959. PRAHALAD, C. K.; HAMEL, G. The core competences of the corporation. Harvard Business Review, Boston, v. 68, n. 3, p. 79-91, May/ Jun 1990. RUCCI, A. J., KIM, S. P., QUINN, R. T. The Employee-Customer-Profit Chain at Sears, Harvard Business Review, Boston, v. 76, n. 1, p. 83-97, jan-feb 1998. SANCHEZ, R. Managing Knowledge into Competence: The Five Learning Cycles of the Competent Organization. In SANCHEZ, R. (ed.) Knowledge Management and organizational competence. Oxford: Oxford University Press, 2001. cap. 1, p. 3-37. SCHAY, B. W., BEACH, M. E.; CADWELL, J. A.; LaPOLICE, Christelle. Using Standardized Outcome Measures in the Federal Government. Human Resource Management, New York, v. 41, n. 3, p. 355-368, Fall 2002. VARMA, A.; et alii. High Performance Work Systems: Exciting Discovery or Passing Fad? Human Resource Planning, New York NY, v. 22, n. 1, p. 26- 37, 1999. 1 Sistemas de trabalho de alta performance ou high performance work systems (HPWS) é a expressão que a literatura na área tem usado para definir (vagamente) uma série de inovações no ambiente de trabalho, como equipes semi-autônomas, sistemas sócio-técnicos, sistemas de planejamento participativos, desenhos inovadores de plantas, remuneração elevada, uso intensivo de práticas de RH etc. (Farias e Varma, 1998). 2 Nos estudos considerados, R2 ajustado médio da relação entre práticas de RH e performance era de 0,15. 3 A variável reduzida “entrega” consolidou num só constructo todas as competências dos gestores e dos indivíduos da equipe, incluindo o gestor. 16