Grupo de Trabalho da Violência ao Longo do Ciclo de Vida
A Família como Sistema
Todos os indivíduos estão ligados a uma ou mais famílias, mesmo
que por vezes só se conheça e se relacione com um número muito
reduzido de elementos, mas ela funciona com os seus problemas
e competências, existindo neste seguimento vários conceitos
para definir uma família. Para Relvas (1996), esta é entendida
como um sistema, um todo, uma globalidade que só numa
perspectiva holística pode ser correctamente compreendida.
Andolfi (1981) define família como “um sistema de interacção
que supera e articula dentro dela os vários componentes
individuais”. Defenda que a família é um sistema entre sistemas
e que é essencial a exploração das relações interpessoais e das
normas que regulam a vida dos grupos significativos a que o
indivíduo pertence, para uma compreensão do comportamento
dos membros e para a formulação de intervenções eficazes.
Segundo a OMS (cit. in Rodrigues, et. al, 2007), o conceito de
família não pode ser limitado a laços de sangue, casamento,
parceria sexual, ou adopção. Qualquer grupo cujas ligações
sejam baseadas na confiança, suporte mútuo e um destino
comum, deve ser encarado como família.
Na opinião de Relvas (1996), podemos afirmar que a família é o
primeiro espaço onde a criança se integra e onde vai estruturar
a sua personalidade. É a primeira Instituição Social que assegura
e responde a determinadas necessidades tais como amor,
carinho, afecto, alimentação, protecção e socialização, sendo
um sistema que muda em função do espaço e do tempo.
Para Relvas (1996), a família é uma rede complexa de relações
e emoções na qual se passam sentimentos e comportamentos,
com as alterações decorridas ao longo dos tempos no seio
familiar, deparamo-nos com vários tipos de organização
familiar de entre os quais, as famílias nucleares sem filhos
biológicos, as famílias nucleares com filhos biológicos, famílias
monoparentais, quer sejam masculinas ou femininas (que
estão a surgir em maior número na nossa sociedade), famílias
reconstituídas, alargadas, adoptivas e de acolhimento. De facto,
não existe um tipo de família modelo ou ideal.
Minuchin (1990) define a família como “um conjunto invisível de
exigências funcionais que organiza a interacção dos membros
da mesma, considerando-a igualmente como um sistema que
opera através de padrões transaccionais. Assim, no interior da
família, os indivíduos podem construir subsistemas, podendo
estes ser formados por geração, sexo, interesse e/ou função,
havendo diferentes níveis de poder, e onde os comportamentos
de um membro afectam e influenciam os outros membros. A
família como uma unidade social enfrenta uma série de tarefas
de desenvolvimento, diferindo a nível dos parâmetros culturais,
mas possuindo as mesmas raízes”.
A mesma autora defende que as famílias estão rodeadas por
fronteiras, por limites, que à semelhança de membranas semipermeáveis permitem a passagem selectiva da informação,
tanto entre a família e o meio como entre os diversos
subsistemas familiares.
De acordo com os princípios do pensamento sistémico, podemos
afirmar que os membros de uma família estão relacionados uns
com os outros.
Uma família não pode ser compreendida isoladamente do resto
do sistema, e o funcionamento e os mecanismos de “feedback”
entre os seus membros são importantes no funcionamento do
sistema familiar (Relvas, 1996).
Numa família podemos distinguir vários subsistemas:
• Individual - constituído pelo indivíduo, que tem o seu papel
na família a que pertence, desempenhando também outros
papéis noutros sistemas e que por sua vez influenciam o papel
que desempenha na família.
• Parental - com funções executivas, tendo a seu cargo a
responsabilidade dos mais novos.
• Conjugal - o casal.
• Fraternal - os irmãos.
A forma como se organizam e inter-relacionam estes
subsistemas traduz a estrutura familiar. A coesão do sistema
familiar depende da comunicação familiar uma vez que
esta proporciona: o ajustamento das diferentes partes que
o constituem, a adaptação do sistema ao meio envolvente,
sendo graças à comunicação e à informação que os sistemas
delimitam as suas fronteiras (identidade) face aos outros
sistemas (Alarcão, 2006).
Segundo Bronfenbrenner (cit in Relvas, 1996), os quatro níveis do
Sistema Ecológico vem introduzir novos conceitos, os ambientes
em que o indivÍduo se integra e interage estruturam-se desde
o nível: pessoal (as suas circunstâncias próprias, características
e desenvolvimento da sua personalidade), o macrossistema
(refere-se ao contexto sócio cultural, é a sociedade em que nos
inserimos) e o micro e mesosistema (os que estão mais próximos
- família, escola, amigos, bairro) que em suma têm um papel
crucial no processo de socialização. A família evolui ao longo
do tempo, ultrapassando várias etapas, tendo como funções
primordiais o desenvolvimento e protecção dos seus membros,
bem como a socialização dos mesmos. O caminho traduz-se no
ciclo vital da família, onde são consideradas as tarefas de cada
elemento, a presença de crianças e as suas idades.
Relvas (1996) diz-nos a propósito do ciclo vital que a sua
conceptualização dá um contributo valioso para o estudo,
ao centrar-se na evolução temporal das interacções (entre
os membros da família, entre estes e outros não-familiares,
entre a família e outras estruturas sociais) e ao perspectivar
a continuidade, transformando-se num instrumento clínico
importante para o diagnóstico e planeamento da intervenção.
Deve, no entanto, ser utilizado com alguma cautela, já que
comporta riscos de “normalização” e espartilhamento da
realidade familiar quando aplicado numa perspectiva simplista
e linear que escamoteie a individualidade de cada família. Todas
as famílias estão sujeitas a situações de stresse, de mudanças,
passando ao longo do seu ciclo por várias crises. As chamadas
famílias sãs são flexíveis, evoluindo para níveis mais complexos
com maior ou menor dificuldade. As famílias que não o
conseguem, porque se fecham excessivamente ou porque se
abrem excessivamente não encontrando caminho para essa coevolução, entram em disfuncionamento que pode cristalizar-se
na patologia de um ou mais dos seus elementos. As mudanças
familiares acompanham as transformações quer no plano
social, económico e cultural que ocorrem na sociedade. Do
mesmo modo se pode dizer que o perfil de uma dada sociedade,
encerra em si configurações familiares específicas.
Referências Bibliográficas
Alarcão, M (2006), (Des)equilíbrios familiares-Uma visão
sistémica - 3ª edição. Coimbra: Quarteto Editora
Andolfi, M. (1981). A Terapia Familiar. Lisboa: Editorial Veja.
Minuchin, S. (1990). Famílias: Funcionamento & Tratamento.
Porto Alegre: Artes Médicas.
Relvas, A. (1996). O ciclo vital da família perspectiva sistémica.
Porto: Edições Afrontamento.
Rodrigues, M., Macedo, P., Montano, T. (2007). Manual
do Formador - Formação dos membros das Comissões de
Protecção de Crianças e Jovens. Lisboa: Comissão Nacional de
Protecção de Crianças e Jovens em Risco.
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