A candidatura universitária de Miguel Relvas revela, pelo menos, uma característica do atual ministro Adjunto e dos Relvas é um hoAssuntos Parlamentares: mem atento e está próximo dos centros Senão, vejamos: o decreto-lei que implementa a Declaração de Bolonha processo que reduziu a maioria das lide decisão. - três anos, uniformizando o ensino superior na Europa - é publicado a 24 de março de 2006. E logo a 7 de setembro, o então deputado do PSD apresenta cenciaturas a o seu pedido de admissão, ao abrigo da nova legislação, ao curso de Ciência Polí- tica da Universidade Lusófona. Miguel Relvas teve, portanto, as férias «grandes» para preparar o processo através do qual documentou o seu percurso no ensino secundário e a sua passagem fugaz pelos cursos de Direito, na Universidade Livre, e de Relações Internacionais, Lusíada. Aconselhou-se na Universidade também com amigos que estavam por dentro dos meandros académicos. Um deles foi Feliciano Barreiras Duarte, atualmente seu secretário de Estado Adjunto era professor de Ciên- que, na época, já cia Política na Lusófona. «Falou comigo como sei que falou com muitas outras pessoas não só sobre esta universidade, mas sobre outras, quando teve conhecimento O caso da sede 'emprestada' Uma empresa do grupo Lusófona cedeu, em 2010, gratuitamente e durante dois meses, um primeiro andar candidatura de Pedro Passos Coelho à liderança do PSD. 0 espaço situa-se no edifício popularmente designado por «Franjinhas», na Rua Braamcamp, em Lisboa. Segundo o Correio da Manhã, o espaço foi cedido á candidatura do atual primeiro-minístro pela Luso-Formatar, empresa do universo Lusófona, de cuja administração faz parte a deputada social-democrata Maria da Conceição Caldeira, eleita em 2011. Quem tratou de tudo foi o ex-diretor de campanha de Passos à Coelho, nessa eleição, Paulo Coelho. Este militante social-democrata, atualmente chefe de gabinete do secretário de Estado Pedro Afonso de Paulo, é um homem muito próximo de Miguel Relvas, de quem foi chefe de gabinete no Governo de Durão Barroso. Na altura, surgiu referenciado no «caso Somague» (Público, 25/8/2007) - em março de 2002. essa empresa de construção pagou ilegalmente 233 mil euros ao PSD. Coelho era advogado avençado da Somague e chefe de gabinete do secretário-geral José Luís Arnaut. F.G. e P.P. do PSD, do processo de Bolonha. nestes casos», explicou O que é normal, à VISÃO. Feliciano Barreiras Duarte, que é professor na Lusófona desde 1999 e já serviu nos governos de Durão Barroso e de Santana Lopes, foi, de resto, um dos poucos a responder sem reservas às perguntas da VISÃO. Nega qualquer tipo de intervenção sua na licenciatura obtida por Miguel Relvas em 2007: «Mesmo que tivesse sido [professor de Relvas], não vejo o que teria de extraordinário. Quem até ao momen- to foi meu aluno sabe quanto sou rigoroso no cumprimento das regras académicas», declara o membro do Governo que, em 2006, era também consultor da administração e reitoria da universidade. 'CURRÍCULO RICO' No processo de candidatura, consultado pela VISÃO na passada terça-feira, 10, Lusónas instalações da Universidade fona, em Lisboa, Relvas apresenta-se Miguel Relvas entregou os papéis na Lusófona, poucos meses depois de publicada a legislação de Bolonha PSD Um partido dividido As bases do PSD começam a acusar o desgaste do primeiro ano de Governo. Os «não-assuntos» que têm envolvido - do «superespião» à «turbolicenciatura», como são referidos estão a fazer as no interior do partido Miguel Relvas - Mas não são caso único. «0 desconforto relativamente ao Governo vai muito para além de Miguel Relvas. suas mossas. Ele pode ser um pretexto para mexer na ferida, mas há mais que isso», refere um ex-dirigente social-democrata. «A questão curricular do ministro Adjunto só vem acentuar a ideia que se tem de que este é um Governo impreparado.» Uma parte do PSD está afastar-se do Executivo por discordar da receita de excesso de austeridade a e por perceber ? os resultados mentos do Santos Neves, à época reitor daquela instituição académica, que aprecie o seu com um «canudo» obtido nestes termos, o que corresponde a 0,03% das licencia- currículo profissional, «tendo em vista o de equivalêneventual reconhecimento cias, ou de créditos, nos termos aplicáem conformidade veis, designadamente com a Declaração de Bolonha». No que diz resà acreditação de competências turas concedidas por aquela instituição privada. «O que há de incomum no caso de Miguel Relvas é apenas o facto de ele desempenho económico em relação aos sacrifícios pedidos», acrescenta a mesma fonte. Mas se existem divisões é porque, além das vaias e assobios, há uma parte do PSD que apoia e defende ter solicitado a equipa peito, o espírito de Bolonha é o de que, de facto, os cidadãos possam requerer a apreciação da sua experiência profissional (bem como da sua formação pós-secundária como, por exemplo, as ações de formação). A lei, omissa em relação ao «como», deixa aos estabelecimentos de ensino superior a definição dos procedi- da Lusófona, dos que tentam influenciar o processo de privatização da RTR Por enquanto, José Fialho Feliciano, Relvas não tem razões para temer pelo futuro. Ainda vigoram as declarações do primei ro-ministro que, em finais de maio, disse, no Parlamento, manter toda a adotar. que ela não está a dar anunciados. «As divisões como «gestor» (profissão que, aliás, continua a indicar na biografia que tem no site do Parlamento) e solicita a Fernan- No caso concreto da Lusófona, segundo apurou a VISÃO, existem 89 indivíduos um processo de acreditação disse à VISÃO uma de competências», fonte ligada aos serviços administrativos sublinhando que existem poucos processos desta natureza. Os professores que avaliaram o currículo de Miguel Relvas o antropólogo - antigo professor catedrático do ISCTE que também lecionou na Universidade Lusófona, e, por inerência de funções, o então reitor Fernando Santos Neves - consideraram que «a informação constante do curriculum do candidato denota uma elevada experiência profissional». Datado de 6 de outubro de 2006 e assinado pelos dois docentes, o parecer, que também consta do processo consultado pela VISÃO, faz referência a um currículo «rico» em três aspetos: «a longevidade das funções desempenhadas, a natureza das de liderança mesmas - maioritariamente institucional, ou grande responsabilidade e a sua variedade». No final do documen- á Relvas falou comigo como sei que falou com muitas outras pessoas' Feliciano Barreiras secretário de Estado Duarte, to, os relatores recomendam, no entanto, que, dado «o caráter embrionário deste tipo de processos», na atribuição de notas de competências de avaliação.acreditação profissionais seja «complementada com avaliações aferidas por eventuais classificações pós-secundárias ou então se pro- no partido já passaram a fase Internas das gafes do Álvaro ou dos casos de Relvas. Têm mais a ver com o fraco laranja. E entre esses, a teoria mais comum é a de que o ministro dos Assuntos Parlamentares está a ser vítima Abdicar no seu braço-direito. dele? Só se ele decidir abandonar «o Governo por uma outra razão da sua a confiança vontade», garantiu Passos. S.S. ceda à aplicação de escalas qualitativas». A VISÃO tentou contactar, sem sucesso, Santos Neves, que é atualmente reitor da Lusófona do Porto e que, no site da instituição, se apresenta como da Declaração de Bolo«apóstolo-mor» nha. José Fialho Feliciano também não esteve disponível para falar com a VISÃO. Universidade FOLCLORES E TEMPLÁRIOS Miguel Relvas é, assim, admitido no curso Ciência Políticaeßelaçõeslnternacionais - um curso de três anos, 36 disciplinas nas quais se tem de obter 180 créditos para o concluir. o currículo da Lusófona, de Relvas valeu 160 créditos. Para os decisores ? Os restantes concluindo, 20, o aluno despachou-os em apenas um ano, as disci- plinas de Quadros Institucionais da Vida Económico-Político-Administrativa(do 0 ano, com 12 valores); Introdução 3. ao Pensamento Contemporâneo (i.° ano, 18 valores) ; Teoria do Estado da Democracia e da Revolução (do 2. 0 ano, 14 valores); e Geoestratégia, Internacionais Geopolítica II (3.° ano, 15 e Relações valores). O currículo que Miguel Relvas entregou na Lusófona está dividido em três áreas: exercício de cargos públicos, políticos e «funções privadas, empresariais e de intervenção social e cultural e frequência universitária». Entre os cargos públicos, pelos quais lhe são atribuídos 90 créditos, encontra-se o de deputado durante várias legislaturas, secretário de Estado da Administração Local no XV Governo constitucional e membro da delegação portuguesa da NATO. No que se refere aos cargos políticos, Miguel Relvas apresenta as suas competências como secretá- rio-geral do PSD e membro da Comissão Política do partido, tendo-lhe sido dada equivalência a quatro cadeiras. No último capítulo, pelo qual lhe são atribuídas dez cadeiras e um seminário/estágio, Miguel Relvas elenca as funções privadas. Em agosto de 2005, o ministro deixou de ser deputado em exclusividade e começou a trabalhar como consultor: primeiro na Société Générale de Surveillance; depois na sociedade de advogados Barrocas, Sarmento, Neves (janeiro de 2006) e na Roff-Consultores Independentes (junho 2006). Quanto ao cargo de administrador da GIBB-Prointec Brasil, menciona-o no pedido à Lusófona, mas à comissão parlamentar de Ética só o refere quando passa a ser consultor da GIBB Portugal. Para obter o canudo, Relvas faz-se ainda valer dos cargos de vice-presidente do Instituto Francisco Sá Carneiro; de presidente da Assembleia-Geral da Associa- ção de Folclores da Região de Turismo dos Templários e diretor da revista Templários Turismo (anexas ao processo estão, inclu- sivamente, fotocópias de algumas páginas da revista); e de «conferencista convidado». E refere a frequência dos cursos de Direito e de Relações Internacionais, na última alínea das suas competências. Por onde, porventura, começaria o currículo de um estudante com um percurso um pouco mais tradicional ou, pelo menos, de um estudante que não apresentasse a sua candidatura aos 45 anos. ?