Jornal do Comércio - Porto Alegre
Quinta-feira, 3 de Setembro de 2015
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ENERGIA
Aneel admite reavaliar leilões
para as linhas de transmissão
FÁBIO RODRIGUES POZZEBOM/ABR/DIVULGAÇÃO/JC
Falta de interesse nos lotes oferecidos significa um atraso na expansão de oferta de eletricidade no País
O
diretor-geral da Agência
Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Romeu Rufino, afirmou, na semana passada, que o governo deve
reavaliar as condições oferecidas
no edital do leilão de linhas de
transmissão. Baixo interesse das
empresas e ausência de disputa
marcaram o leilão de linhas de
transmissão de energia realizado na quarta-feira, 26, pela Aneel (Agência Nacional de Energia
Elétrica).
Apenas quatro dos 11 lotes
ofertados foram arrematados e só
um deles recebeu mais de uma
proposta. Os empreendimentos
leiloados representam investimentos de R$ 1,45 bilhão, apenas
19% do total estimado pelo governo para as 11 linhas ofertadas. O
resultado do leilão vai atrasar a
construção de linhas de transmissão de eletricidade no País,
problema que afeta a segurança
do sistema elétrico e restringe a
expansão da oferta de energia.
Dois lotes foram arrematados
pela espanhola Isolux, um pela
estatal goiana Celg GT e outro
pela Planova, uma empresa de
planejamento e construções novata no setor. A baixa concorrência resultou em um deságio baixo,
de 2,04%, em média. O único desconto representativo em relação
ao teto estabelecido pela Aneel foi
de 15,5%, apresentado pela Celg,
subsidiária da Eletrobras, para a
construção de uma subestação
em Goiás, sua área de atuação.
A Isolux ofereceu descontos
de 1,49% e 0,12% pela licença
dos empreendimentos que serão
construídos na Bahia e em Rondônia. A Planova não ofereceu
desconto na proposta apresentada para operar linhas no Rio
Grande do Sul.
O presidente do Instituto
Acende Brasil, Cláudio Salles,
classificou o leilão como um “fracasso”, que ele atribui à baixa remuneração imposta pela Aneel
aos futuros concessionários. Embora tenha sido elevada de 5,5%
para um intervalo entre 7,63% e
7,86%, a taxa mínima de remuneração (WACC) não reflete as
condições atuais do mercado. “É
uma taxa irrealista”, diz Salles.
A alta do dólar, que eleva os
custos com insumos, incertezas
com a obtenção de licenciamento ambiental e o crédito escasso
elevaram o risco dos empreendimentos - o Bndes reduziu a parcela de financiamento nos projetos
de 70% para 50%.
Ricardo Savoya, diretor da
consultoria Thymos, especializada no setor, lembra que as empresas que atuam em transmissão
já estão com grandes obras em
curso, o que pode ter limitado o
apetite delas no novo leilão. Essa
não é a primeira vez que leilões
de transmissão são marcados
pelo desinteresse do setor privado. Em janeiro, apenas metade
dos lotes ofertados foi arrematada. Nos certames do ano passado, 12 linhas de transmissão não
receberam propostas. Em 2013, 10
projetos ofertados não foram licitados e, em 2012, três, segundo o
Instituto Acende Brasil.
“Fizemos um grande esforço
no sentido de melhorar para ter
mais atratividade nos leilões. Colocamos prazo mais realista, fizemos uma definição mais clara de
preço. Entendo que avançamos
muito, mas aparentemente não
foi suficiente. Agora, temos de
acolher reflexões que o mercado
vai nos apresentar”, admitiu Rufino ao chegar à Fundação Getulio
Vargas (FGV), no Rio de Janeiro,
para participar de debate promovido pela FGV Energia.
“Certamente a conjuntura
econômica deve ter contribuído
para isso. Agora, vamos ter de
reavaliar as condições que foram
oferecidas no edital”, afirmou Rufino. Segundo ele, as linhas que
não tiveram interessados devem
ser ofertadas novamente no próximo leilão, ainda sem data. Segundo Rufino, será “o mais breve
possível”, com chances de acontecer ainda em 2015.
Triunfo vende duas usinas
hidrelétricas a grupo chinês
por cerca de R$ 2 bilhões
A Triunfo Participações e
Investimentos (TPI) anunciou
a venda de duas hidrelétricas para a China Three Gorges
Energia Brasil - subsidiária da
empresa chinesa dona de Três
Gargantas, a maior hidrelétrica
do mundo. O negócio envolve
as usinas Salto (GO), com capacidade de 116 megawatts (MW),
e de Garibaldi (SC), de 192 MW,
além da unidade de negócios
responsável pela comercialização de energia.
A operação poderá alcançar quase R$ 2 bilhões, valor
que será usado para melhorar a
estrutura de capital da TPI, afirma o presidente da companhia,
Carlo Bottarelli. O anúncio da
venda foi muito bem recebida
pelo mercado. As ações da TPI
- controladora de várias concessionárias de rodovias e acionista do grupo que administra o
aeroporto de Viracopos - fecharam em alta de 18,7%, depois de
subir 30% no início da manhã.
Segundo Bottarelli, o negócio começou a ser desenhado em julho de 2014, quando a
empresa contratou o banco BTG
para iniciar o processo de venda dos ativos. Na primeira fase,
14 companhias mostraram interesse, sendo que nove apresentaram propostas. Dessas, quatro
foram para a negociação final.
A escolha da China Three
Gorges ocorreu no dia 31 de julho, quando foram iniciadas as
negociações dos detalhes da
venda, afirma Bottarelli. “Foram 20 dias de negociação até
chegar ao valor de R$ 970 milhões pelos ativos mais a dívida
de R$ 770 milhões.” Além disso, afirma ele, o valor deverá
ser acrescido de R$ 148 milhões
referente a algumas contingências condicionadas a metas,
mais alguns ajustes de balanço.
Com a venda, o grupo praticamente sai da área de energia, mantendo apenas a participação na Hidrelétrica Três
Irmãos ao lado de Furnas.
“Já vendemos seis empreendimentos de energia elétrica. Nosso foco é escolher um
bom projeto, agregar valor
e vender”, afirma Bottarelli.
Segundo ele, os cerca de R$ 2
bilhões da venda das duas hidrelétricas serão usados para
desalavancar a empresa. “Nos
últimos anos, nosso crescimento se deu por meio de dívidas na
holding, que não é uma forma
sadia de endividamento, pois
não há eficiência tributária. Fomos muito punidos pelo mercado por causa dessa estrutura de
capital. Mas agora acredito que
estaremos numa posição privilegiada”, diz o executivo.
Agora, completa Bottarelli,
a Triunfo Participações e Investimentos entra numa fase de
crescimento orgânico. Nos cálculos dele, com a venda, a dívida/Ebitda deve cair de cerca
de cinco vezes para três vezes.
Na avaliação do analista do BB
Investimentos Renato Hallgren,
a venda já era esperada, mas
a demora para a conclusão da
operação preocupava o mercado devido ao aumento nos investimentos em outras áreas da
infraestrutura e à alavancagem
da companhia. “O que surpreendeu positivamente foi o preço: R$ 970 milhões mais a parte das dívidas representa um
múltiplo bem interessante para
o setor”, analisa Hallgren. Com
a aquisição, a companhia chinesa elevará a participação no
mercado brasileiro de 687 MW
para 1.000 MW. A empresa está
no País desde 2013 com parcerias em três usinas hidrelétricas
e em 11 parques eólicos.
MARCELO CAMARGO/ABR/JC
Bottarelli (e) usará recursos da venda para desalavancar a Triunfo
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