FUNDAMENTOS DE METODOLOGIA CIENTÍFICA O QUE É CIÊNCIA? • Um dos grandes problemas dos acadêmicos é o de diferenciar ciência de outras formas de conhecimento, em especial o senso comum. • Mas afinal, o que é isso tudo? • Em primeiro lugar, precisamos conceituar o que é conhecimento... O que é conhecimento? • Grosso modo, se define o conhecimento como a busca • • • pela verdade. De acordo com as filósofas Maria Aranha e Maria Martins conhecimento é uma “...relação que se estabelece entre um sujeito cognoscente (ou uma consciência) [que está aprendendo] e um objeto.” (Aranha & Martins: 1998, p. 54). Existem outros filósofos, no entanto, que discordam disso. Alguns que seguem uma linha inspirada em Nietzche, afirmam que o conhecimento é produto apenas do olhar do observador e não de uma relação com o objeto analisado. Segundo elas, existem diversas formas de se conhecer o mundo. FORMAS DE SE CONHECER O MUNDO • Entre os modos de se conhecer o mundo estão: • Mito • Senso comum • Arte • Ciência • Filosofia MITO • Mito é uma das primeiras formas de conhecer o • • mundo que surgiu. Tem por objetivo acomodar os seres humanos em um mundo que não conseguem controlar. Na Antigüidade tentava explicar a totalidade do mundo (como surgiu a vida, de onde viemos, para onde vamos...), hoje divide espaço com outras formas de conhecimento, principalmente o conhecimento racional da ciência. MITO • A característica principal que define o mito como • • tal é seu caráter dogmático. Ele não precisa ser provado, não pode ser contestado e para crer-se nele basta acreditar ou não. Por isso toda religião é um tipo de mito, pois lida com questões que não podem ser comprovadas. Ele se refere, portanto, a coisas que de fato as pessoas acreditam. Saci-Pererê ou lobisomem, por exemplo, não são mitos pois as pessoas não acreditam em sua existência. Sendo assim, eles pertencem ao campo do folclore. SENSO COMUM • É o nosso conhecimento cotidiano, simples e • • • sem grandes reflexões. Geralmente reproduz preconceitos e idéias sobre as quais não nos preocupamos em refletir. Um dos grandes desafios para nós é desenvolver o bom-senso, ou seja, mesmo sem sermos cientistas ou filósofos, entender o mundo criticamente e refletir sobre os nossos valores. O bom-senso é um desafio porque nos acomodamos ao senso comum, pois ele nos trás segurança e temos dificuldades de mudar. ARTE • A arte é uma forma peculiar de se conhecer o • • • mundo. Sua importância não reside em objetividade ou mesmo em conteúdo. O trabalho artístico é uma interpretação construída pelo sujeito que produz a obra. O conhecimento apresentado pela arte é, então, de um mundo interpretado e transmitido pela sensibilidade do artista. CIÊNCIA • A ciência é uma forma mais elaborada de conhecimento. • O que caracteriza algo como ciência? • Método • Uso da razão para se compreender o mundo • A rejeição às explicações religiosas FILOSOFIA • Se diferencia das demais ciências por transitar • • pelas diferentes formas de conhecimento buscando uma reflexão que não se fragmente. “Complica” todas as demais formas de conhecimento, pois se dedica a refletir sobre elas. Se dedica principalmente ao estudo da ciência e ao questionamento dos métodos científicos. DIFERENÇAS ENTRE CIÊNCIA E SENSO COMUM • Muitas vezes as pessoas confundem • • • conhecimentos obtidos por meio do senso comum com o científico. Por que isso acontece? Por observarmos o mundo que nos cerca, geralmente, cremos que nossas impressões são as corretas. Chegamos até mesmo a pensar que são inquestionáveis. DIFERENÇAS ENTRE SENSO COMUM E CIÊNCIA • O conhecimento imediato, que obtemos por • • meio da simples observação ou fazendo “testes” em casa pertence ao campo do senso comum. Isso ocorre muito com as donas de casa que aprendem a cozinhar observando outras pessoas e testando as suas receitas. Por meio dessas ações, desenvolvem um saber prático sobre as coisas. O QUE É CIÊNCIA? • A ciência se diferencia disso. • Como? • O cientista busca sempre conhecer determinados aspectos do mundo que o cerca. • Porém não faz isso de qualquer maneira. • Ele segue um MÉTODO. COMO O CONHECIMENTO CIENTÍFICO É PRODUZIDO? • Os conhecimentos científicos são produzidos a • • • partir de PESQUISA. A pesquisa, por sua vez, tem que ser embasada. Não se pode defender uma tese a partir do “eu acho”. Existe um rigor na produção desse conhecimento que deve ser baseado em dados e informações, as quais muitas vezes não estão à disposição do público ou que nunca antes foram coletados. Também tem que ser realizado em diálogo com outros cientistas. DIFERENTES CIÊNCIAS • Assim como temos diferentes formas de conhecimento • • • • também possuímos diferentes tipos de ciências. Possuímos as Ciências Humanas, as quais trabalham mais com idéias e questões teóricas. Dispensam o trabalho em laboratório. As Ciências Sociais Aplicadas, cujo conhecimento muitas vezes se aplica diretamente no mundo empresarial. Outro ramo é composto pelas Ciências Experimentais, com as quais a área tecnológica dialoga mais. O que as diferencia, portanto, é o MÉTODO DE PESQUISA que utilizam, ou seja, quais materiais e quais procedimentos utilizam em sua busca por resultados. ETAPAS DA PESQUISA CIENTÍFICA EXPERIMENTAL • A pesquisa científica nas áreas que utilizam o método experimental envolve as seguintes etapas: • Observação • Hipótese • Experiência • Generalização OBSERVAÇÃO E HIPÓTESE • O cientista observa determinado aspecto da realidade e • • • • • • a partir disso formula uma hipótese. Correto? ERRADO A observação e a formulação de hipóteses ocorrem de maneira unificada e acompanham todo o processo científico. Entretanto, ninguém faz uma bateria de experimentações em laboratório sem ter um objetivo e sem saber minimamente o que está fazendo. Por isso no início dos trabalhos de pesquisa você possui apenas a observação e a hipótese. Não existem explicações precisas sobre como surge a idéia de se pesquisar algo. OBSERVAÇÃO E HIPÓTESE • Geralmente, o cientista inicia uma pesquisa tentando • • articular o conhecimento teórico que aprendeu em sala de aula ou estudando por conta própria a um problema prático do cotidiano e/ou a objetos que ainda não foram estudados em sua área de conhecimento. Por exemplo, a Gastronomia é uma ciência recente que surgiu da necessidade de se aplicar conhecimento científico das áreas de ciência de alimentos, nutrição, história e geografia na preparação e apresentação de alimentos. Por isso, o Gastrônomo não é um mero leitor de receitas, mas uma pessoa que domina todo o processo de cozinha e buffet. OBSERVAÇÃO E HIPÓTESE • Ao mesmo tempo em que se cruzam essa observação do • • • • • campo teórico e a realidade que se vive e que pode estudar, surgem as hipóteses. Por exemplo: Em São Paulo um químico pesquisou o fenômeno das chuvas ácidas. Um aluno do Oeste do Paraná viu a pesquisa e achou interessante. Resolveu pesquisar as chuvas ácidas na região. Levando-se em consideração que o fenômeno das chuvas ácidas não existe no Oeste Paranaense, tal projeto de pesquisa é possível de ser realizado? OBSERVAÇÃO E HIPÓTESE • SIM. Por que? • Toda chuva é ácida. • Sabendo disso, o aluno resolveu propor uma pesquisa • • • • • • em que ele analisaria a acidez das chuvas na região. O resultado de seu trabalho poderia servir para se entender a relação das chuvas com a produção agrícola. Ele articulou: Conhecimentos teóricos de Química. Diálogo com as pesquisas de outros profissionais. Observação da realidade vivida e que o interessava pesquisar. Dessa articulação surgiu sua hipótese de pesquisa. O EXPERIMENTO • Mas como saber se a hipótese está correta? • Isso é possível por meio da CONFIRMAÇÃO DA HIPÓTESE. • No caso das ciências experimentais é por meio do EXPERIMENTO. • Muitas vezes ele é realizado em laboratório. O EXPERIMENTO • A experimentação seria a parte “prática” da pesquisa. • Em laboratório o cientista tenta possuir o controle sobre • • • • • o objeto investigado. O experimento permite ao cientista: Verificar os fenômenos dentro de situações por ele criadas. Repetição, ou seja, verificar o mesmo fenômeno várias vezes. Isolar partes e simplificar fenômenos do objeto observado. Por isso permite que exista uma investigação mais rigorosa. RESULADOS DO EXPERIMENTO • Se os experimentos não confirmam as hipóteses levantadas é necessário ao cientista abandoná-las ou então formular outras hipóteses passíveis de verificação. • Se os experimentos confirmarem as hipóteses teremos então a GENERALIZAÇÃO dos resultados. GENERALIZAÇÃO • A generalização é, portanto, o resultado de uma • pesquisa. Ao final de uma investigação científica, uma vez confirmada uma hipótese, o cientista a transforma em uma nova teoria ou lei. • Por que isso acontece? • Porque o caráter impreciso da hipótese foi superado por • • meio do experimento. O experimento, nesse caso, forneceu o embasamento necessário a uma formulação científica. Superou-se o “eu acho” pelo “isto é ou pode ser assim”. GENERALIZAÇÃO • Isto significa que os resultados de uma pesquisa são • • • • inquestionáveis? NÃO. O conhecimento científico é embasado e rigoroso, porém, não é A VERDADE ABSOLUTA DOS FATOS. Novas pesquisas podem “jogar por terra” os resultados alcançados. Outros métodos de experimentação, aparelhos e novos conhecimentos podem demonstrar limites ou até mesmo “erros” e “falhas” na pesquisa realizada e na teoria dela elaborada. GENERALIZAÇÃO • Por isso mesmo faz parte da generalização a • • divulgação dos resultados da pesquisa científica em eventos e revistas especializadas. Além da divulgação é necessário também o debate com a comunidade científica. Muitas “falhas” ou mesmo “limites” de uma pesquisa podem ser percebidos durante seu processo de feitura e assim ser superados antes de sua conclusão. GENERALIZAÇÃO • Porém, é preciso lembrar que não existe conhecimento perfeito. • É por isso que se diz que a ciência possui um caráter PROVISÓRIO. • Mesmo possuindo limites, toda pesquisa auxilia no desenvolvimento científico e de novas pesquisas. AS PECULIARIDADES DA PESQUISA TECNOLÓGICA • Vimos todo um quadro sobre o desenvolvimento da pesquisa científica experimental. • Mas, afinal, onde entra a tecnologia nisso tudo? • As regras são as mesmas? • A resposta é NÃO. A pesquisa tecnológica possui algumas peculiaridades que cabe ao cientista considerar. AS PECULIARIDADES DA PESQUISA TECNOLÓGICA • Geralmente divide-se a ciência em “de base” e “aplicada”. • A ciência de base não possui uma aplicação imediata na sociedade. • Geralmente serve para auxiliar outros cientistas a desenvolver novas pesquisas. • Seu alcance, muitas vezes, fica circunscrito a comunidade científica. AS PECULIARIDADES DA PESQUISA TECNOLÓGICA • A pesquisa tecnológica está mais ligada à ciência aplicada. • De maneira diferente da ciência de base, seus resultados têm uma aplicação mais imediata na sociedade. • Geralmente o resultado de uma pesquisa na área de tecnologia é o desenvolvimento de um novo produto. AS PECULIARIDADES DA PESQUISA TECNOLÓGICA • Nesse sentido, podemos afirmar que a • • observação, hipótese e experimentação é algo presente em todas as pesquisas científicas. O que diferencia uma pesquisa tecnológica do restante das pesquisas científicas são os resultados e propósitos com que se faz uma pesquisa tecnológica. Seus propósitos são o de desenvolver novos objetos, alimentos e produtos úteis para a sociedade. AS PECULIARIDADES DA PESQUISA TECNOLÓGICA • Isso não faz a pesquisa tecnológica ser menos • • • científica do que as demais áreas do saber. Não se pode dizer que uma ciência é melhor que o outro, pois isso depende muito dos interesses e objetivos de cada cientista. Existe dentro do campo das ciências uma grande diversidade de metodologias, objetivos e resultados a serem desenvolvidos e alcançados. A escolha de cada um deles depende das motivações do cientista. COMO UTILIZAR ESSES CONCEITOS NA VIDA ACADÊMICA? • As regras do conhecimento científico servirão apenas • • • • quando o discente realizar sua pesquisa de conclusão de curso? NÃO As normas para a realização de uma pesquisa acadêmica servem para todos os níveis de pesquisa. Isso significa que até mesmo uma simples pesquisa com livros e internet possui regras. A sistematização dos resultados da pesquisa, como os trabalhos acadêmicos, também devem ser feitos dentro de normas. AFINAL, PARA QUE SERVEM AS NORMAS? • As normas nos auxiliam a organizar as pesquisa • • • e trabalhos que desenvolvemos. Também servem para auxiliar a compreensão por outras pessoas daquilo que escrevemos e dos experimentos que realizamos. Por isso devemos aprender as normas e métodos de pesquisa e utilizá-las sempre que for possível. Auxiliar o discente nesse processo de aprendizado é o propósito da Unidade Curricular de Metodologia da Pesquisa, neste curso de Tecnologia em Processos Químicos.