UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ECONOMIA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO EM ECONOMIA Estratégia de preços da Petrobras no mercado de combustíveis brasileiro pós-liberalização e instrumentos de amortecimento de variações internacionais CARLA MARIA DE SOUZA E SILVA MATRÍCULA Nº: 101602987 ORIENTADOR: Prof. Edmar Luiz Fagundes de Almeida NOVEMBRO 2003 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ECONOMIA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO EM ECONOMIA Estratégia de Preços da Petrobras no mercado de combustíveis brasileiro pós-liberalização e instrumentos de amortecimento de variações internacionais CARLA MARIA DE SOUZA E SILVA matrícula nº: 101602987 ORIENTADOR: PROF. EDMAR LUIZ FAGUNDES DE ALMEIDA NOVEMBRO 2003 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ECONOMIA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO EM ECONOMIA Estratégia de preços da Petrobras no mercado de combustíveis brasileiro pós-liberalização e instrumentos de amortecimento de variações internacionais CARLA MARIA DE SOUZA E SILVA MATRÍCULA Nº: 101602987 ORIENTADOR: PROF. EDMAR LUIZ FAGUNDES DE ALMEIDA. NOVEMBRO 2003 ii Estratégia de preços da Petrobras no mercado de combustíveis brasileiro pós-liberalização e instrumentos de amortecimento de variações internacionais Carla Maria de Souza e Silva Dissertação de Mestrado apresentada ao Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em Economia Banca Examinadora: Prof. Edmar Luiz Fagundes de Almeida (orientador) IE- UFRJ Prof. Helder Queiroz Pinto Junior IE-UFRJ Prof. Luiz Augusto Horta Nogueira Diretor ANP e EFEI Carlos Felipe Guimarães Lodi Diretor- Petrobras Rio de Janeiro 2003 iii As opiniões expressas neste trabalho são de exclusiva responsabilidade da autora iv Dedico este trabalho aos meus pais Yle e Adenilda, pelo amor eterno, irrestrito e incondicional v Agradecimento à ANP/FINEP Este trabalho foi realizado no contexto do Programa de Recursos Humanos da ANP que, através da parceria ANP/FINEP, forma profissionais especializados para a indústria de petróleo e gás natural. Através deste programa foram ministradas disciplinas eletivas capazes de fornecer uma maior compreensão das peculiaridades da indústria mundial de petróleo, abrangendo assuntos pertinentes ao novo cenário político e institucional das indústrias de energia. A participação dos alunos bolsistas em seminários, simpósios e congressos foi muito importante no sentido de aumentar o contato dos bolsistas com os reais atributos e dificuldades das indústrias de petróleo e gás natural. Gostaria de agradecer ao Programa de Recursos Humanos da ANP, em especial ao PRH-21, por auxiliar o desenvolvimento dos conhecimentos relativos às indústrias de hidrocarbonetos, e a conclusão desta dissertação. AGRADECIMENTOS A participação do Programa de Capacitação de Recursos Humanos da Agência Nacional do Petróleo (PRH/ANP), do programa de número 21, o qual reúne os cursos de Economia, Engenharia de Produção e Pesquisa e Planejamento Energético, foi uma experiência única. Primeiro, o fato de ser o PRH, um programa de incentivo à pesquisa do setor de petróleo e gás permitiu o contato e acompanhamento das transformações ocorridas nesta indústria nos últimos anos. Segundo, o apoio financeiro possibilitou a troca de experiência e ampliação do conhecimento obtido através da participação em seminários e congressos do setor, no Brasil (Macaé Offshore, WPC, entre outros) e no exterior (Aberdeen, Escócia, 2002). O apoio financeiro também garantiu o acesso a material bibliográfico (periódicos e livros) e de apoio (computador) impossíveis sem o mesmo. Em terceiro, a participação do PRH, num programa interdisciplinar como o PRH 21, possibilitou o intercâmbio de alunos e cursos entre os três centros de ensino o que resultou em externalidades muito positivas para a formação acadêmica e profissional de todos os envolvidos. Por tudo isso, meu agradecimento especial a ANP. Durante o curso de mestrado, passei por alguns períodos de incerteza quanto aos rumos profissionais e acadêmicos a seguir. Nestes momentos, as conversas francas com meu orientador foram de grande importância. Os incentivos, os esclarecimentos sobre as opções de caminho a seguir e a disponibilidade em ouvir, se não reduziram a incerteza (dado que é inerente ao futuro), contribuíram para reduzir a ansiedade e aumentar a confiança e otimismo na trajetória escolhida. Além disto, sua contribuição para a formação teórica, na orientação de leituras sobre economia do petróleo e do gás, na troca constante de idéias e nos artigos escritos em conjunto para o Boletim Infopetro, é inestimável. Por sua dedicação e atenção à orientação, leitura e comentários na elaboração deste trabalho, meu agradecimento ao Professor Edmar de Almeida. Os professores do Grupo de Economia da Energia do Instituto de Economia, que exerceram grande influência na construção do conhecimento de base sobre economia da energia, seja através de cadeiras formais como Infraestrutura e Desenvolvimento, seja através de discussões e comentários informais para artigos, trabalhos de fim de curso e sobre a dissertação. Meus agradecimentos particulares a professora Carmen Alvel, pela maneira doce de ensinar, ao professor Helder Pinto Jr, pelo rigor profissional, e Ronaldo Bicalho, pelos momentos de descontração no ambiente profissional. vi Não posso me esquecer de agradecer a Lucia Bicalho, da ANP, pela atenção e esclarecimentos prestados em pontos específicos da dissertação. Nos momentos mais difíceis, o papel dos amigos é fundamental para encontrar novas formas de encarar os desafios. Dessa forma, meu agradecimento carinhoso às amigas Gabriela Motta e Mariana Iootty pela paciência dispensada e conselhos sobre a condução de vida e do trabalho a ser realizado. Aos amigos do mestrado, em particular, Rafael Pertusier pela companhia constante em seminários e congressos do setor, e Alexandre Siciliano. A família que é o alicerce da minha vida reúne meus amigos em todos os momentos de vida. A distância de 13 km da ponte Rio-Niterói não reduziu o companheirismo e a certeza de que posso sempre contar com o amor e a compreensão de meus pais Yle e Adenilda e do irmão Flauviano, mesmo lhes sendo tão cara (em saudade) a desculpa pela freqüente ausência nos últimos meses Realmente me faltam palavras para expressar a imensa e eterna gratidão por tudo o que sou. A Eriksom, cujo amor e amizade nos momentos mais difíceis foram fundamentais para elaboração deste trabalho. A compreensão pelas horas de convívio e lazer roubadas, os gestos de carinho e as palavras de incentivo serviram para fortalecer e aumentar o amor já sentido (fato que pensava impossível). A atenção em ouvir às dúvidas de trabalho, os comentários sempre pertinentes e a vontade constante de contribuir, só fizeram aumentar minha admiração como amigo e economista. A tudo isso, soma-se seu papel ativo na leitura, correção e sugestões de trabalho. Ao meu companheiro de vida e profissão, meus carinhosos agradecimentos. Os erros de português e digitação ainda remanescentes se devem exclusivamente a autora. vii RESUMO A Petrobrás, empresa dominante na oferta de combustíveis no mercado brasileiro, segue tendo seu controle estatal, a despeito das medidas liberalizantes implementadas ao longo dos anos 90 com vistas à atração de novos investimentos e promoção da competição. A esperada abertura de mercado e liberalização de preços de combustíveis, ocorridas em 2002, trazem como efeito colateral a maior vulnerabilidade dos preços domésticos às variações de preços no mercado internacional. No caso brasileiro, o fato de o governo manter o controle da empresa dominante na oferta de combustíveis, abre espaço para interferências políticas nos preços praticados pela empresa, em particular em períodos de maior turbulência internacional. Esta prática pode ter impactos sobre estrutura industrial que vão de encontro aos objetivos perseguidos pelas reformas institucionais, qual seja, promoção de novas opções na oferta de derivados. Neste contexto, o objetivo da dissertação foi avaliar se, de fato, a política de preços de combustíveis foi utilizada como mecanismo de amortecimento de preços internacionais nos três primeiros semestres da liberalização de preços e mostrar quais os possíveis impactos desta política sobre a estrutura da oferta de combustíveis. Além disso, foram propostas alternativas de instrumentos que sirvam aos objetivos de proteção da economia a choques externos de preços e que não sejam incompatíveis com os objetivos da reforma institucional, com base na experiência internacional em mecanismos de preços A partir de um modelo de determinação de preços em um mercado com firma dominante (modelo de preço-limite) conclui-se que a capacidade de uma firma préestabelecida em um mercado de dissuadir a entrada de novas firmas, depende do nível de barreiras a entrada e do nível de capacidade instalada pela firma no mercado. Frente a este arcabouço, analisou-se que a capacidade da política de preços da Petrobrás em barrar a entrada de novas opções de oferta (produção local, importação e formulação) depende das barreiras a entrada e de sua capacidade de produção. Para os três combustíveis analisados gasolina, diesel e GLP - somente para a gasolina há capacidade suficiente de suprimento da totalidade do mercado brasileiro. Com relação à análise do comportamento de preços, viu-se que: os preços da gasolina, do diesel, e do GLP, não estiveram alinhados aos preços internacionais no período analisado. Verificam-se maiores distanciamentos de preços em dois períodos específicos: o período eleitoral entre agosto e outubro de 2002 e o período prévio a guerra do Iraque (entre fevereiro e março de 2003). Se no caso da gasolina, as condições de entrada naturais já são pouco favoráveis à entrada pelo excesso de capacidade, a possibilidade de intervenção estatal através da política de preços da Petrobras reforça esta tendência. No caso do diesel e do GLP, os viii descolamentos ocorridos indicam clara intervenção pública, uma vez que a estratégia natural a partir do modelo de preço limite seria estabelecimento de preços acima da paridade de importação e acomodação de entradas marginais no mercado via importação. Dessa maneira, Esta política discricionária de intervenção nos preços praticados pela firma dominante se constitui em um instrumento não neutro de amortecimento de variações internacionais, pois reforça o poder de mercado da empresa. Além disso, pode ainda contribuir para aumentar a volatilidade no mercado doméstico dada a insuficiente capacidade de produção doméstica destes derivados. Mostrou-se ainda que, em função de características particulares da indústria de petróleo, a volatilidade nos preços de petróleo e combustíveis é inerente ao mercado. A volatilidade de preços tem impactos negativos sobre o bem-estar de consumidores, pois lhes retira a capacidade planejamento de consumo. Pela existência de um mercado internacional para a transação destes bens, os preços internacionais se tornam a referência para os preços domésticos, os quais se tornam vulneráveis a estes efeitos. Assim, os diversos países implementam uma ampla gama de medidas com o fim de atenuar a volatilidade internacional sobre os preços domésticos. A experiência internacional confirma esta realidade para países desenvolvidos quanto em desenvolvimento, mesmo após reformas liberalizantes. A experiência internacional serve de exemplo ao caso brasileiro por mostrar novas alternativas de medidas para o amortecimento de variações internacionais. Em especial, a experiência francesa na construção de uma regra de gatilho para os impostos incidentes sobre o diesel em face de variações nos preços internacionais é vista como uma referência a ser adaptada ao caso brasileiro a partir da CIDE. Conclui-se assim que mecanismos de amortecimento de preços de combustíveis, longe de representarem um retrocesso no processo de abertura, são fundamentais para a evolução da estrutura de oferta no Brasil. ix Índice Introdução 1 Capítulo 1 - Determinação de Preços na Presença de uma Firma Dominante 4 1.1 - Determinação de preços como firma dominante - a teoria neoclássica 4 1.2 - Prevenção estratégica a entrada - Modelo de Preço-Limite 6 1.2.1 - Conceitos e fontes de barreiras à entrada 8 1.2.2 - Determinação do Preço-limite 12 1.2.3 - Considerações acerca do Postulado de Sylos 16 1.3 - Custos irrecuperáveis e preço-limite 18 1.4 - Considerações finais 21 Capítulo 2 - Comportamento dos preços de petróleo e derivados no mercado internacional e impacto no bem-estar 24 2.1 - Comportamento dos Preços de Petróleo Internacional: Causas da Volatilidade 24 2.1.1 - Quebra da coordenação oligopolística e instabilidade 29 2.1.2 - Formas de comercialização, proteção ao risco e volatilidade 31 2.2 - Volatilidade dos preços de derivados 37 2.2.1 - Características do parque de refino 37 2.2.2 - Grau de integração entre mercados locais 38 2.2.3 - Crescentes especificações técnicas e ambientais 39 2.2.4 - Sazonalidade da demanda 41 2.2.5 - Condições de competição ao longo da cadeia 41 2.3 - Volatilidade e Impactos Econômicos 46 2.3.1 - Alocação de Recursos 46 2.3.2 - Bem-estar do consumidor 47 2.4 - Considerações Finais 51 Capítulo 3- Papel do Governo na Estabilização de preços de Derivados: Experiência Internacional 52 3.1 - Dilemas na definição de política públicas para o amortecimento de preços domésticos 53 3.2 - Regras e instrumentos de amortecimento de preços de derivados ao consumidor 55 3.3 - Experiência Internacional 60 3.3.1 - Países desenvolvidos 60 3.3.2 - Países em desenvolvimento 67 x 3.4 - Considerações Finais Capítulo 4 Comportamento dos Preços de Combustíveis no Brasil pós Liberalização 74 75 4.1 - O Processo de Liberalização de Preços 76 4.1.1 - Estruturas de preços: 1998 - 2001 77 4.1.2 - A substituição da PPE pela Cide 79 4.2 - As reformas institucionais na oferta de derivados 82 4.3 - Estrutura de oferta e demanda de derivados no Brasil 83 4.4 - Comportamento dos preços após a liberalização 84 4.4.1 - Índice de Alinhamento 88 4.4.2 - Análise da Volatilidade 91 4.5 – Impactos na estrutura da oferta: política de preços de uma empresa dominante 95 4.5.1 -Mercado de Gasolina 96 4.5.2 - Diesel e GLP 97 4.6 – Impactos Distributivos: características da cadeia de distribuição e revenda 99 4.7 - Alternativas de políticas para amortecimento de preços internacionais 102 Conclusões 104 Referências Bibliográficas 109 xi Introdução A liberalização de preços na Indústria de Petróleo Brasileira foi um processo gradual iniciado na primeira metade da década de 90. Todos os preços e margens ao longo da cadeia de produção e distribuição de petróleo e derivados eram controlados pelo governo através do extinto Departamento Nacional de Combustíveis (DNC). A lei 9478, conhecida como a “Lei do Petróleo”, foi promulgada em 1997 com o objetivo de definir as diretrizes da abertura da indústria a novos investimentos em todas as fases da cadeia. A referida lei estabeleceu, dentre outros, a criação da Agência Nacional do Petróleo (ANP), agência encarregada por regulamentar as condições de entrada e atuação das firmas. A partir desta lei, a liberalização de preços passa a ser condição sine qua non para a total abertura do setor. Com relação à estrutura industrial, a lei estabeleceu que a Petrobras permaneceria uma empresa verticalmente integrada e de controle estatal. A empresa desempenhou papel importante na abertura do segmento de Exploração e Produção (segmento upstream) através da formação de parcerias com empresas privadas. Na produção e oferta de derivados (segmento downstream), a empresa permanece com sua posição dominante concentrando cerca de 98% da capacidade de produção doméstica. Em 2002, caíram os últimos obstáculos ainda remanescentes à liberalização do mercado de combustíveis: a eliminação dos controles sobre os preços da gasolina, diesel e GLP na porta da refinaria, e a abertura às importações dos dois primeiros combustíveis. O livre movimento de preços no mercado de combustíveis, visto como condição necessária e esperada da abertura do setor, traz como efeito colateral a maior vulnerabilidade dos preços domésticos às variações de preços no mercado internacional. No caso brasileiro, o fato do governo manter o controle da empresa dominante na oferta de combustíveis nacionais abre espaço para interferências políticas nos preços praticados pela empresa, em particular em períodos de maior turbulência internacional. Esta prática tende a ter impactos na estrutura industrial que vão de encontro aos objetivos perseguidos pelas reformas institucionais, qual seja, promoção da competição na oferta de derivados. Além disso, a utilização da política de preços da empresa dominante pode não se mostrar sustentável frente a posição de importador líquido de combustíveis brasileira e o comportamento dos preços no mercado internacional. Cabe ressaltar ainda que a Petrobras, embora seja de controle público, é uma empresa de capital misto. Diante deste quadro, o objetivo desta dissertação é avaliar se a política de preços da Petrobras foi, de fato, usada como mecanismo de amortecimento de preços internacionais nos três primeiros semestres da liberalização de preços, traçar os possíveis impactos desta política sobre a estrutura da oferta de combustíveis e mostrar as possíveis alternativas a serem adotadas pelo governo com o fim de proteger os preços domésticos das variações internacionais. Assim, dissertação está dividida em mais quatro capítulos, além desta introdução e das conclusões. No primeiro capítulo define-se o referencial teórico base para a análise do comportamento de uma firma dominante frente a ameaça de novas entrantes. A base teórica é o modelo de preço limite, desenvolvido a partir das contribuições de Joe Bain e Paolo SylosLabini. Este modelo parte do pressuposto que uma firma dominante em um mercado define seus preços, com base em objetivos de longo prazo de manutenção de sua posição no mercado. Pela presença de barreiras a entrada, uma firma pré-estabelecida pode praticar um preço máximo, ao qual ela aufere lucros extraordinários sem, contudo tornar economicamente viável a entrada de uma nova firma. No modelo tradicional uma série de considerações sobre as hipóteses de comportamento levou a revisão e desenvolvimento de outros modelos de preço limite. Para os objetivos desta dissertação ressalta-se o modelo de Dixit (1977), o qual inclui as dimensões capacidade produtiva e custos irrecuperáveis de modo a conferir maior credibilidade às ações da empresa dominante na prevenção estratégica a entrada. Do ponto de vista da análise proposta este referencial teórico visa mostrar em que condições, o preço praticado por uma firma dominante pode influenciar a estrutura industrial através de estratégias de prevenção a entrada.. Tendo definido o referencial teórico, o capítulo 2 trata do comportamento de preços no mercado internacional. O entendimento da lógica do funcionamento do mercado internacional é importante por dois motivos. Num mercado aberto, o preço praticado no mercado internacional de combustíveis passa a ser o preço de referência no mercado doméstico, uma vez que, pelo princípio do custo de oportunidade e na ausência de barreiras à entrada, a possibilidade de transacionar o combustível internacionalmente implicaria na convergência dos preços domésticos aos preços internacionais. Por outro lado, tal fato não acarretaria em grandes impactos econômicos caso os preços no mercado internacional fossem relativamente estáveis. Em função de especificidades técnico-econômicas e fatores geo-políticos inerentes à indústria de petróleo, os preços de petróleo e combustíveis apresentam comportamento volátil. Dessa maneira, o capítulo está dividido em dois blocos: condicionantes da volatilidade de preços no mercado de petróleo e derivados, e impactos da volatilidade de preços sobre o bem estar dos consumidores. Cabe ressaltar que a volatilidade de preços tem efeitos micro e macroeconômicos, dentre os quais cita-se os impactos no nível de preços, no balanço de pagamentos, na arrecadação fiscal dentre outros, porém, como o impacto da volatilidade sobre as variáveis macroeconômicas depende da configuração econômica de cada país, buscou-se 2 enfatizar os efeitos teóricos e generalizados da volatilidade de preços com enfoque microeconômico. O capítulo três tem como objetivo apresentar as alternativas de políticas com vistas a redução da volatilidade do mercado doméstico de combustíveis, a partir de experiências internacionais. O capítulo está focado nas experiências de países importadores líquidos por serem mais próximos da situação brasileira, e nesse sentido se constituírem em exemplos. Na adoção de medidas com este fim, os governos enfrentam um tradeoff entre a adoção de medidas com vistas melhoria do bem estar dos consumidores e a preservação da situação fiscal. A partir de um panorama amplo de experiências internacionais, busca-se mostrar que a discussão e a implementação de mecanismos de proteção de preços está posta para uma diversidade de países, sejam de orientação mais liberal como no caso americano, seja mais intervencionista como no caso europeu. A idéia é mostrar que o debate em torno da construção de mecanismos fiscais de proteção, não se constitui em retrocesso em processos de abertura e liberalização de mercados, mas, em situações de volatilidade de preços, tendem a ser eficientes na proteção do bem estar dos consumidores bem como determinadas alternativas promovem um ambiente de maior estabilidade e transparência de preços, ambientes necessários a atração de novas firmas. No capítulo quatro chega-se a análise do comportamento de preços de combustíveis no mercado brasileiro. O capítulo inicia com um breve histórico do processo de liberalização de preços e das reformas institucionais no Brasil, bem como um panorama sobre oferta e demanda de derivados no mercado brasileiro. A partir de então, se segue a análise de preços. Os preços nacionais dos três principais combustíveis – gasolina, diesel e GLP, que em conjunto correspondem a mais de 70% do consumo brasileiro - são comparados aos preços de referência no mercado internacional. Análise de preços é realizada nos três primeiros semestres da liberalização de preços. A comparação no comportamento dos preços visa analisar se houve interferência política nos preços praticados pela empresa no período considerado e quais os possíveis impactos na estrutura da oferta de combustíveis no Brasil. Estas duas etapas têm como suporte o arcabouço teórico desenvolvido no primeiro capítulo. Por fim, avaliam-se as alternativas de medidas passíveis e desejáveis de adaptação ao Brasil Seguem-se então as conclusões do trabalho. 3 Capítulo 1 Determinação de Preços na Presença de uma Firma Dominante O objetivo deste capítulo é fornecer o referencial teórico para a análise da estratégia de determinação de preços de uma firma dominante. Ressalta-se em que condições a política de preços pode efetivamente dissuadir a entrada de novas firmas no mercado em questão. O capítulo se inicia com uma breve revisão teórica da microeconomia neoclássica e o seu tratamento de um mercado em monopólio, a seguir seguem-se as contribuições estruturalistas para a análise da determinação de preços de uma firma dominante, o modelo de preço-limite. Na terceira seção é mostrado um dos desenvolvimentos mais recentes das abordagens de preço-limite o qual confere maior credibilidade aos pressupostos anteriores. Por fim, seguemse as considerações finais do capítulo. 1.1 - Determinação de preços como firma dominante - a teoria neoclássica A presença de uma empresa dominante em um mercado recebeu o tratamento formal pela literatura econômica como um mercado em monopólio, mercado no qual existe apenas uma firma, apresentado como extremo oposto de um mercado perfeitamente competitivo. Como a definição dessa estrutura de mercado é tratada pelo seu oposto, cabe assim, uma visão sobre a noção de um mercado perfeitamente competitivo. Na análise de equilíbrio parcial, Marshall (1890) retoma e formaliza os conceitos desenvolvidos de maneira dispersa pelos teóricos clássicos Adam Smith (1776) e David Ricardo (1821), acerca da competição. A visão de concorrência clássica é vista como um processo de competição inter-capitais pelas melhores oportunidades de lucro. Na ausência de barreiras à mobilidade intersetorial de capital, essa competição faz com que haja uma equalização das taxas de lucro em todos os setores da economia. O cerne da abordagem clássica está na teoria do valor, e, portanto o processo de competição só tem importância ao explicar a razão pela qual, no longo prazo, na presença de perfeita informação e livre mobilidade, os preços de mercados gravitam estavelmente em torno dos preços naturais1. 1 Na teoria clássica, o valor de um bem se dá pela natureza do trabalho humano e é a essência do preço, o qual formado na esfera da troca. O preço natural é a expressão do valor-trabalho das mercadorias (Possas, 1985) e Marshall define um mercado perfeitamente competitivo, como um mercado no qual há um grande número de produtores e consumidores, que agem de maneira independente, têm perfeita informação e tomam suas decisões de produção e consumo com base no preço de mercado, o qual por sua vez é determinado pela interação entre oferta e demanda. De acordo com Stigler (2000), Marshall incorpora em sua concepção de competição perfeita a noção de curva de demanda horizontal para cada produtor individual, conforme desenvolvida por Cournot2,. A definição de Cournot parte da condição de maximização de lucro das firmas e define competição perfeita como um mercado no qual cada firma individual encara sua curva de demanda residual como horizontal. Isto é, num mercado em perfeita competição, as firmas isoladamente não têm capacidade de alterar preços, e por isso definem sua oferta com base no preço de mercado, como um dado. Pela definição de Cournot quando há um elevado número de firmas no mercado, as firmas irão produzir no ponto em que o preço de mercado se igualar ao custo marginal, isto é o custo da última unidade necessária a igualdade entre oferta e demanda. No longo prazo, a ausência de barreiras à entrada faz com que qualquer lucro acima do normal seja exaurido pela entrada de novos competidores. Com isso, o preço de equilíbrio de longo prazo é suficiente apenas para cobrir os custos médios de longo prazo calculados aos seus custos de oportunidade. Nesta posição, as firmas presentes na indústria estariam ganhando um lucro normal (o capital também seria remunerado pelo seu custo de oportunidade) e não haveria incentivo a novas entradas. De maneira oposta, em um mercado no qual existe apenas uma firma ofertante e um grande número de compradores sem poder de barganha, essa tem capacidade de determinar o preço de mercado, ofertando no ponto em que sua curva de custo marginal se iguale à curva de receita marginal. Em outros termos, o preço é definido da mesma forma que na definição de Cournot, isto é, através de um markup sobre o custo marginal, que será tanto maior, quanto menor a elasticidade preço da demanda no mercado em questão. Na teoria microeconômica tradicional, não há nenhuma explicação acerca da estrutura de mercado, a qual é determinada em função do número de ofertantes, compradores e das características do produto. A teoria toma a estrutura de mercado como um dado e analisa seus resultados em termos de preço praticado e quantidade transacionada. Constitui-se assim, numa incorpora a remuneração dos fatores de produção. Nas palavras de Fritsh, ele representa : “Medida de valor determinada pela soma dos níveis naturais das remunerações do trabalho, do capital e da terra” (Fritsh, 1983). 2 Ao derivar a função de lucro das firmas em relação a sua quantidade tem-se que p + qi dp/dq = CMg, sendo p, o preço de mercado, qi a quantidade produzida pela firma i e Cmg, o custo marginal de produção, o qual apresente comportamento em “u” pela hipótese dos rendimentos marginais decrescentes. A soma das n equações deste tipo para as n firmas do mercado, tem-se a relação da oferta. O preço é determinado por p= Cmg – p / nε, onde ε é a elasticidade preço da demanda. 5 abordagem estática, uma vez que as ações de cada firma não afetam, nem as decisões das outras presentes no mercado, nem estrutura definida inicialmente. No modelo marshalliano, o equilíbrio é atingido na presença de hipóteses restritivas acerca das características e do comportamento das firmas: número de firmas e as hipóteses de comportamento assumidas, quais sejam, perfeita informação, comportamento maximizador de curto prazo e ausência de retornos crescentes. Já no caso de um mercado em monopólio, não há nenhuma ameaça por parte de outras firmas e nesse sentido, o único limitante da capacidade de determinação de preços seria a elasticidade-preço da demanda conforme explicitado na fórmula de Cournot. Empiricamente, uma firma monopolista em um mercado, somente poderia pautar suas decisões de preço a partir do arcabouço neoclássico em duas situações: numa situação de monopólio legal, isto é, garantido seja por uma patente ou outro tipo de proteção legal de mercado; ou no caso em que a tecnologia de produção favoreça a existência de apenas uma firma no mercado (monopólio natural). Em todas as outras situações, a estrutura de monopólio não é dada, mas está constantemente ameaçada pela possibilidade de entrada de novas firmas no mercado. Neste sentido, as práticas de determinação de preços serão afetadas por esta ameaça, configurando uma interdependência nas decisões da firma presente e das possíveis entrantes. Dependendo do tipo de relação e interdependência, a estrutura industrial resultante pode assumir inúmeras configurações. Face a complexidade das estratégias de determinação de preços na presença de interdepedências, ocorreram desenvolvimentos teóricos na linha da teoria de oligopólio com o fim de conferir maior poder explicativo a teoria microeconômica e à análise da organização industrial. Desenvolvimentos nesta linha teórica têm fundamentais contribuições nos trabalhos de Bain (1956) e Sylos-Labini (1957) que incorporam as noções de competição potencial e barreiras a entrada para analisar o comportamento de uma firma dominante em um dado mercado. 1.2 - Prevenção estratégica a entrada - Modelo de Preço-Limite A abordagem estruturalista tem seu desenvolvimento baseado nas contribuições de Bain (1956) e Silos-Labini (1957) ao modelo estrutura-conduta-desempenho, o qual, grosso modo, estabelece relações unívocas entre a estrutura do mercado, dada por características como, substitutibilidade entre produtos, condições de entrada e estruturas de custos, e a conduta das firmas presentes, as quais seriam determinadas em função desta estrutura. O caráter estrutural da abordagem está em estabelecer o nível de preços e lucros a partir de características técnico-econômicas das indústrias. As firmas presentes no mercado garantem a possibilidade de lucros extraordinários em função de vantagens de tamanho, de estruturas de 6 custos, dentre outras barreiras à entrada, que tendem a permanecer, caso não haja mudança de ambiente. Esta abordagem abre espaço para a introdução de uma análise dinâmica e mais “realista” do processo de concorrência, que não estava presente na análise tradicional. Na análise estruturalista, uma empresa dominante não tem esta posição garantida em lei, mas adota estratégias com o fim de mantê-la. Dessa forma, a denominação de firma dominante está relacionada a uma firma que têm poder de determinação de preços em um determinado mercado e cujas estratégias de preços podem alterar a estrutura de oferta, seja através da prevenção à entrada de novos competidores, ou mesmo à exclusão de outros competidores do mercado. Mesmo em situações em que a posição de dominância se aproxime de 100% da oferta no dito mercado, a possibilidade de alteração da estrutura, seja através de inovações tecnológicas ou mudança de ambiente3, coloca em xeque a todo o momento sua posição e, portanto tal empresa não poderia ser denominada como uma empresa monopolista. Uma firma monopolista seria então aquela presente num mercado em monopólio, cujas características foram descritas na seção anterior. Dito isso, tem-se que uma firma dominante não prioriza a maximização de lucros no curto prazo, porém adota um comportamento de maximização de lucros no longo prazo, isto é, a firma busca estabelecer um nível de preços que lhe garanta lucros extraordinários, sem estimular a entrada de novos concorrentes. O preço assim determinado é chamado de preçolimite, pois é determinado como o maior nível de preço possível de ser praticado sem tornar economicamente viável o estabelecimento de outros concorrentes no mercado. A possibilidade de estabelecimento de um preço em nível intermediário entre o nível de competição perfeita no longo prazo (isto é, preço igual a custo médio de longo prazo) e o monopólio, baseia-se na existência de barreiras à entrada no mercado. O papel da concorrência potencial na determinação das estratégias das empresas abre espaço para uma análise da própria transformação da estrutura da indústria a partir dos cálculos de possíveis ações e reações dos agentes presentes e potenciais no mercado. Assim, dependendo de “quais” firmas pretendam entrar no mercado, e das possíveis reações da firma pré-estabelecida, poder-se-ia ter trajetórias diferentes determinando soluções finais de equilíbrio diferentes (em termos de preços e estruturas industriais diferentes). Outro ponto importante é a percepção das assimetrias entre as firmas, as quais são responsáveis, tanto pelas vantagens diferenciais das líderes vis a vis às concorrentes internas, quanto com relação às potenciais entrantes. 3 Sylos-Labini define quatro fatores que podem alterar a capacidade de definição de preços por empresas dominantes: aumento na extensão do mercado (medido pelo volume de quantidades vendidas a um dado preço), mudança na elaticidade-preço da demanda, mudanças tecnológicas e mudança nos preços dos fatores produtivos. [Sylos-Labini (1957) cap. 2] 7 1.2.1 - Conceitos e fontes de barreiras à entrada Existem vários conceitos que definem barreiras à entrada4. O conceito mais tradicional e abrangente é o de Joe Bain (1956), o qual estabelece como “condição de entrada”: “by the advantages of established sellers in an industry over potential entrant sellers, these advantages being reflected in the extent which established sellers can persistently raise their prices above competitive level without attracting new firms to the industry” [Bain (1956), p. 3]. Uma outra definição importante é a de Stigler : “um custo de produção que é incorrido pela firma entrante mas não incorrido pelas firmas já estabelecidas” [Stigler apud Kupfer, (2002) p.113]. Nesta última definição, qualquer vantagem das firmas estabelecidas sobre as entrantes é considerada uma barreira à entrada, porém, caso a estabelecida e a entrante enfrentem as mesmas condições de demanda e tenham acesso à mesma tecnologia, isto é detenham a mesma curva de custos, não haveria barreira à entrada. Assim, enquanto no conceito de Bain (1956), economias de escala são consideradas barreiras à entrada, no conceito de Stigler, estas não são. Um conceito mais abrangente, posto que inclui não só barreiras a entrada, mas também barreiras à saída é o conceito de Gilbert (1989) que percebe uma barreira a entrada como “a rent that is derived from incumbency. (...) crucial to the consequences for capital mobility is the combined incidence of structural factors that impede entry or exit behavior in a industry” [Gilbert (1989) p. 478]. No decorrer deste capítulo, a definição utilizada será a definição tradicional de Bain (1956), quando não for explicitamente afirmado o contrário.5 Bain (1956) assume, que numa indústria existe um preço máximo que pode ser praticado por uma firma pré-estabelecida de modo a obter lucros extraordinários sem atrair novos entrantes. Este é o chamado preço-limite. Em seguida o autor define uma condição de entrada E, a qual seria um markup percentual sobre o custo médio mínimo de longo prazo da firma estabelecida, a qual seria definida da seguinte maneira: E = (Pl – Pc) / Pc , onde E representa a condição de entrada, Pl o preço-limite e Pc o preço competitivo (igual ao custo médio mínimo no longo prazo). Esta expressão apresenta uma mensuração do nível das barreiras à entrada numa determinada indústria. Manipulando esta expressão, temos que Pl = Pc (1+E), ou seja o preço-limite depende do nível de barreiras à entrada na indústria. A 4 Entrada em um mercado é definida por Bain (1956) como sendo: i) a adição de nova capacidade produtiva, ou ii) reativação de capacidade anteriormente inoperante, por uma nova empresa, excluindo de sua definição: a) a expansão da capacidade produtiva pelas empresas já instaladas; b) a aquisição de capacidade produtiva já existente por uma nova empresa, por meio de fusão ou aquisição. 5 Para uma revisão de uma série de outros conceitos de barreiras a entrada ver Gilbert (1989). 8 ameaça de entrada de novas firmas impõe o limite superior de preços para as firmas que exercem liderança em um mercado. Caso não haja barreiras à entrada, o Preço-limite não pode ser diferente do preço competitivo6. No extremo oposto, caso as barreiras sejam muito elevadas, a firma estabelecida pode definir o preço-limite igual ao preço de monopólio sem atrair novas firmas. Na verdade, a condição de entrada indica com que facilidade novas empresas podem entrar neste mercado e a conseqüente opção das empresas já estabelecidas pela maximização de lucros a curto prazo ou a longo prazo, neste último caso fixando preços de prevenção a entrada Com relação às fontes de barreiras à entrada, Bain (1956) inicialmente identificou três possíveis fontes de barreiras à entrada: vantagens absolutas de custos, vantagens advindas da diferenciação de produtos7 ; e existência de economias de escala. Análises posteriores desdobram a barreira tradicional de vantagens absolutas de custos em um tipo distinto de barreira: requerimento inicial de capital. Seguindo a análise tradicional de Bain, e posteriormente de Guimarães (1983), não se considerará este fator como uma fonte de barreiras à entrada distinta. Vantagens absolutas de custos As vantagens absolutas de custos se verificam quando a curva de custos de longo prazo da firma estabelecida se posiciona abaixo da curva de custos de longo prazo da entrante, para qualquer escala de produção. No caso mais simples de Custos Médios de Longo Prazo Constantes (CMLP) tem-se o seguinte gráfico: Preço custo CMLP2 pl pc . Fonte: Clarke, 1985 CMPL1 ql qc 6 Neste caso, a firma estabelecida tende a cobrar um preço de monopólio e aceitar a entrada de novos concorrentes. 7 Segundo Guimarães (1983) a nomenclatura usada por Bain contém um mal-entendimento do conceito de diferenciação de produto. Tal barreira seria proveniente das preferências dos consumidores e não da possibilidade de diferenciação de produtos. 9 No gráfico acima, CMLP2 representa a curva de custo médio de longo prazo da firma 2 (entrante) e CMLP1 a curva de longo prazo da firma 1 (estabelecida). Dessa maneira, a condição de entrada seria exatamente proporcional à vantagem absoluta de custos entre a entrante e a estabelecida: E = (Pl – Pc) / Pc = (CMLP2 – CMLP1)/ CMLP1. As razões pelas quais podem surgir vantagens absolutas de custos são: vantagens tecnológicas, isto é, as firmas estabelecidas têm acesso a melhores métodos de produção não acessíveis às entrantes ( presença de patentes) ou somente acessíveis a custos adicionais (presença de royalties); condições de acesso privilegiadas a fatores produtivos (matériasprimas e recursos humanos), devido ao controle de fontes de matérias-primas com custos mais baixos (seja pela propriedade direta ou por contratos de longo-prazo), de melhor qualidade e maior quantidade ou proximidade aos centros consumidores; ou menores custos de capital (vantagens no acesso a fundos de investimento), uma vez que firmas inicialmente estabelecidas gozam de reputação no mercado para acesso a capitais a menores custos, e que firmas entrantes necessitariam de montante maior de investimento, a maiores custos, tanto maior a escala mínima requerida para operação na indústria. A dificuldade em obter o capital necessário para um novo investimento, no entanto, será menor para as empresas do mesmo ramo industrial já atuando em outros mercados ou mesmo para empresas de setores diferentes com uma posição já consolidada em seu setor original (retornar-se-á a esse tema posteriormente). Conforme ressalta Guimarães (1983), este fator somente se constituiria numa barreira no caso de se tratar de uma firma completamente nova e não de uma firma já estabelecida em outros setores industriais O efeito final é indeterminado, a menos que se possa identificar a potencial entrante. Logo, pode-se apenas afirmar que indústrias nas quais o montante de capital inicial seja elevado tendem a apresentar maiores barreiras à entrada. Conforme exposto anteriormente, este tipo de barreira atualmente é tratado pela literatura de organização industrial como uma fonte quarta fonte de barreira à entrada, tratada à parte. Este tipo de barreira também estaria associada a presença de economias de escala na indústria [Kupfer (2002); Koutsouyanys (1975); Tirole, (1998)]. Diferenciação de produtos (preferência dos consumidores) Outra fonte de barreira à entrada refere-se ao que Bain (1956) denominou de “vantagem derivada da diferenciação de produto”. A possibilidade de diferenciação de produto garante às firmas algum poder de mercado na determinação de preços, casos tratados primeiramente pelos modelos de concorrência monopolística. A possibilidade de 10 diferenciação de produtos depende das características técnicas de cada produto, ou mesmo da própria característica da concorrência da indústria (na existência de acordos tácitos de preços, a concorrência via diferenciação de produtos é mais acirrada). Na possibilidade de diferenciação de produtos, as firmas estabelecidas podem possuir vantagens frentes as firmas entrantes em função da preferência dos consumidores. A preferência dos consumidores por um produto conhecido em relação aos demais (incluindo novos produtos) pode-se dar pela própria inércia dos consumidores, pelo conhecimento da marca adquirido por tempo acumulado de publicidade, ou pela reputação da marca, redes de distribuição e assistência técnica ou serviços associados. Essas vantagens das empresas estabelecidas serão tanto maiores quanto maior for a dificuldade do comprador em avaliar as características do produto, seja em função da prevalência de fatores subjetivos de avaliação dos produtos (nos casos em que a ausência de critérios objetivos ou a importância do ‘gosto’ do consumidor dificultam a avaliação), seja pela existência de múltiplas características ou dimensões de análise [Guimarães (1982) p. 38]. A firma entrante deveria despender muito em gastos com propaganda para poder entrar no mercado, configurando assim uma desvantagem de custos em relação à estabelecida. Em termos gráficos, esta situação poderia ser representada como no caso anterior, em função dos elevados custos de propaganda incorridos pela entrante. Este tipo de barreira à entrada pode ser diluída no caso da entrante ser uma firma já conhecida em outro setor, ou na possibilidade da firma entrante realizar promoções (preços mais baixos) e outros tipos de competição extra-preços, de modo a deslocar as preferências dos consumidores. Economias de Escala Economias de escala estão relacionadas à técnica de produção de uma indústria que permite a redução dos custos unitários de produção (ou distribuição) a partir da ampliação do tamanho da planta ou firma. A barreira à entrada referente a existência de economias de escala decorre da incerteza por parte da entrante quanto a exploração destas economias sem com isso deprimir o nível de preços correntes. Caso a escala mínima eficiente8de produção seja suficientemente grande em relação ao tamanho do mercado, a entrada de uma nova empresa nesse nível de escala resulta em queda dos preços após a entrada pelo aumento da oferta. O novo nível de preços pode inclusive localizar-se abaixo do nível de custo médio da entrante. 8 Escala Mínima eficiente representa o tamanho de planta na qual todas as economias de escala foram exauridas, isto é, o tamanho de planta que minimiza os custos médios de longo prazo. 11 Dessa maneira, a potencial competidora enfrenta um dilema entre efetivar a entrada e produzir à escala mínima eficiente ou produzir com uma escala sub-ótima. No primeiro caso, o aumento na quantidade ofertada na indústria pode levar o preço a um nível abaixo dos seus custos médios mínimos, o que pode causar-lhe prejuízos. A diferença de preços antes e após a entrada dependerá do tamanho da escala mínima eficiente em relação ao mercado, bem como da elasticidade preço da demanda, uma vez que, quanto menor a sensibilidade da demanda a um aumento de quantidades menor o preço resultante. No segundo caso, haveria uma desvantagem de custo da entrante em relação à estabelecida, o que possibilitaria à firma estabelecida definir um preço-limite, como visto no caso de vantagens absolutas de custos. A desvantagem da firma entrante em produzir a uma escala sub-ótima será tanto maior quanto mais inclinada for a curva de custo médio da firma ou planta em questão. A figura 2 exemplifica esta desvantagem. Figura 1 – Comparação entre o comportamento da Curva de Custo Médio de Longo Prazo com o aumento da escala de produção – Vantagens da economia de Escala C, Caso 1 – Curva de custo médio de longo prazo (CMLP) decresce acentuadamente com o crescimento da escala de produção C Caso 2- Curva de Custo médio de Longo Prazo (CMLP) decresce suavemente com o aumento da escala de produção CMLP CMLP Escala de produção Escala de Produção A partir da Figura 1 é possível perceber que as vantagens oriundas da presença de economias de escala são mais acentuadas no caso 1 que no caso 2. Dessa forma, uma estratégia de entrada visando a produção em uma escala inferior a escala mínima eficiente seria mais plausível na situação 2. 1.2.2 – Determinação do Preço-limite O Preço-limite é aquele estabelecido pela firma dominante de modo a desestimular a entrada de novas firmas no mercado. A concepção deste nível de preços é a de que a firma presente no mercado maximizaria seus lucros no longo prazo e esta seria uma posição de equilíbrio com lucros extraordinários. A determinação do preço-limite está calcada em três pressupostos básicos. O primeiro refere-se à ordenação linear dos potenciais entrantes de 12 acordo com as condições de competição de cada um. Aquele que reúne as melhores condições para se estabelecer é chamado de entrante potencial mais favorecido e se torna a base de análise de reações estratégicas. O segundo pressuposto é o de que, somente a expectativa de obtenção de lucros econômicos estritamente positivos pós-entrada é capaz de estimular a potencial competidora a efetuar posição na indústria. O terceiro é o chamado “postulado de Sylos”, o qual estabelece que as novas entrantes tomam suas decisões de entrada baseadas na crença de que a firma dominante não altera a quantidade produzida após a entrada, o que significa que o preço de mercado varia em função da quantidade adicional no mercado. Em outros termos, não há acomodação da entrada de novos competidores, através da redução de produção. O “postulado de Sylos”, por sua vez, tem três fundamentos: a) a expectativa de que um preço inferior ao observado antes da entrada seja a alternativa mais “pessimista” do ponto de vista da entrante; b) a acomodação da entrada de uma nova concorrente pode implicar num aumento de capacidade ociosa e conseqüente elevação dos custos unitários da firma dominante, a qual ainda teria seu efeito sobre a rentabilidade agravado pela redução de preços [Modigliani apud Koutsouyanis (1975) p. 318]; c) pode se constituir num sinal positivo para a entrada de outras firmas no mercado [Sylos-Labini (1957) p. 60]. Conforme destaca Possas (1985), o receio da potencial concorrente de que a sua entrada provoque uma reação “irracional” das empresas estabelecidas devido a um possível rompimento da coordenação oligopolística e uma conseqüente guerra de preços, seria um outro forte apelo desta hipótese. Dessa maneira, a firma toma como um dado as quantidades produzidas pela firma estabelecida, e assim pode estimar qual será a redução de preços pela sua entrada e, conseqüentemente, qual será seu lucro. A firma dominante tem conhecimento da forma de procedimento das entrantes, e, por conta disso, estabelecerá sua quantidade produzida no nível tal que, se a competidora potencial efetivar a entrada, o preço de mercado cai ao nível de custo médio de longo prazo da entrante. Nessa conjectura, a firma entrante obteria lucros econômicos nulos e, portanto, não se estabeleceria no mercado. A firma estabelecida define sua quantidade produzida de modo que a demanda residual a ser enfrentada por uma firma entrante seja tangente a curva de custo médio de longo prazo da mesma. O cálculo do preço-limite pode ser feito inicialmente a partir do pressuposto de que a firma entrante somente efetiva sua ação, caso possa produzir à escala mínima eficiente (QEME), a qual é conhecida. Considera-se um produto homogêneo e que a tecnologia é de livre acesso às firmas entrantes. A firma estabelecida vai fixar sua quantidade produzida num nível QL tal que, quando a concorrente potencial entrar no mercado, produzindo a quantidade Qe, o 13 preço de mercado seja no máximo suficiente para remunerar o custo médio da firma entrante. Nesta situação não se verifica a condição de lucros estritamente positivos e assim, a ação da firma dominante demoveria a entrante de sua intenção. Dada a curva de demanda do mercado, a firma estabelecida definirá suas quantidade da forma mostrada no Gráfico 1. Gráfico 1 - Determinação do Preço-limite PL PC CMLP Dr D QEME QL Qc Fonte: Clarke, 1985 PL = Preço-limite Pc = Preço competitivo Qc = Quantidade Competitiva QL = Quantidade Limite D = Curva de demanda do mercado Dr = Demanda residual da firma entrante . A demanda residual da firma entrante será igual à demanda do mercado D(p) – QL, quantidade produzida pela firma estabelecida. Neste caso, a curva de demanda residual fica abaixo da curva de custos médios de longo Prazo (CMLP) e, portanto, não há quantidade produzida pela firma entrante que lhe garanta pagar seus custos de produção. Caso D(p) seja do tipo linear, dada por: P = A – bQ , que representa a curva de demanda inversa (P(q)), a quantidade limite ( QL) é dada por : QL = Qc – Q EME. Assim, PL = A – bQL e Pc = a – b Qc, o que implica em: (PL – Pc) = b (Qc – QL) PL – Pc = b Q EME Dividindo ambos os lado por Pc temos: (PL – Pc) / Pc = b QEME / Pc Multiplicando o lado direito da igualdade por Qc/Qc, chega-se a: PL – Pc / Pc = QEME / Qc * (b Qc/Pc). Cabe observar que o termo bQc/Pc é igual ao inverso da elasticidade preço da demanda (1/ε). Efetuando-se a substituição, tem-se que: 14 Pl – Pc / Pc = QEME / Qc* ε ; ou, ao colocar PL em evidência: PL = Pc (1+ QEME / Qc* ε) A partir deste desenvolvimento, conclui-se que o preço praticado pela empresa dominante será tanto maior quanto: i) maior for a escala mínima eficiente em relação à extensão do mercado (QEME / Qc); ii) quanto mais inclinada for a curva de demanda, isto é, quanto menor a elasticidade preço da demanda do mercado (ε) 9. Pode-se ainda tomar a determinação do preço-limite a partir da hipótese de que a firma entrante leva em consideração a produção a uma escala sub-ótima. Esta hipótese, como assinalado anteriormente, será mais crível quanto menor a desvantagem de custos entre a escala sub-ótima e a mínima eficiente. Uma formalização do cálculo do preço-limite nestas circunstâncias pode ser vista em Gilbert (1989). Segundo esta formalização, a firma dominante se comportaria como uma empresa líder do tipo Staklelberg, isto é uma empresa que exerce liderança a partir das quantidades produzidas. Haveria assim, uma definição de preço-limite no curto prazo a partir dos custos fixos conhecidos da possível entrante. Dessa maneira, sendo P = a – b Q a curva de demanda inversa linear do mercado e C(q) = F + c q a curva de custos de ambas as firmas, tem-se que o lucro da entrante é dado por: πe = [P (Qi + Qe)] Qe – [F + c Qe] A entrante toma suas ações baseada na crença no postulado de Sylos. Assim, considera em sua função de lucro, que a quantidade total ofertada no mercado pós entrada será Qi + Qe,, onde Qi representa a quantidade produzida pela firma estabelecida, e Qe representa a quantidade a ser produzida pela entrante. Ao derivar esta expressão em relação a Qe e efetivar a maximização da mesma (iguala-se a primeira derivada a zero) obtém-se a função de reação10 da firma entrante, que será: Qe = ( a – c - bQi ) / 2b se πe >0 A firma dominante, ao conhecer a função de reação da entrante, define uma quantidade Qi tal que πe = 0. Supondo que a concorrente só entre caso obtenha lucros estritamente positivos, esta estratégia bloquearia a entrada. Substitui-se Qe em πe e iguala-se esta expressão a zero temos que : Qi = (a – c)/b – 2 (F/b)1/2 = QL Somente valerá a pena para a potencial competidora entrar no mercado, na situação em que Qi seja menor que QL. Do ponto de vista da estabelecida, esta só conseguirá deter a 9 Esta apresentação do modelo de preço-limite tradicional é resultado do trabalho de Modigliani (1958), considerado uma generalização dos modelos de Sylos-Labini e Bain [Koutsouyanis (1975)]. 10 A curva de reação expressa qual a quantidade ótima a ser produzida pela firma i em função da quantidade produzida por sua concorrente j. Expressa uma reação estratégica. 15 entrada da concorrente caso sua quantidade produzida seja superior ou igual a QL.O preçolimite praticado pela dominante será: PL = a – b QL , que implicará em PL = a – b [(a – c)/b – 2 (F/b)1/2 ], ao substituir a expressão encontrada para QL acima. Através de manipulações algébricas tem-se que: PL = a – (a –c) + 2(F/b)1/2 e, finalmente, PL = c + 2 (Fb) 1/2 A partir deste modelo, a possibilidade da firma estabelecida limitar a entrada depende da sua capacidade produtiva para suprir o mercado e do nível de custos fixos da entrante. Bain (1956) definiu a condição de entrada bloqueada no caso em que a quantidade de monopólio é maior que a quantidade limite. Quando a firma estabelecida pode impedir a entrada apenas aumentando parte de sua produção, os benefícios de tal estratégia superam seus custos e esta seria uma situação de entrada eficazmente bloqueada. No caso de uma entrada fácil, isto é no caso em que a dominante deve elevar em muito a sua produção de modo a evitar a entrada, a opção mais vantajosa é permitir a entrada. Em suma: tanto a presença de economias de escala muito relevantes em relação ao mercado, quanto a desvantagem de custos de uma firma produzir numa escala sub-ótima, influenciarão a definição do preço-limite pela firma estabelecida. Quanto maior a escala mínima eficiente e maior a diferença de custos de produção entre a escala ótima e uma inferior, maior o preço-limite praticado pela firma. Por outro lado, pode ser que a vantagem de custos seja tão pequena que valha mais à pena a firma estabelecida maximizar seu lucro no curto prazo (estabelecendo preço de monopólio) e deixar a outra firma entrar. 1.2.3 - Considerações acerca do Postulado de Sylos Apesar dos argumentos descritos na seção anterior em prol da racionalidade do postulado, esta não é tão óbvia como parece ser a primeira vista. Caso se abandone a hipótese de lucros econômicos estritamente positivos, uma firma pode bancar a entrada no mercado em questão (mais a frente discute-se acerca desta possibilidade). Nesta situação, isto é, entrada efetivada, caso a firma estabelecida mantenha a produção no nível pré-entrada, o preço de mercado pode cair abaixo dos seus próprios custos, incorrendo ela própria em prejuízo. Bain (1956) originalmente definiu seis possíveis conjecturas que uma entrante pode fazer acerca da reação da dominante: manutenção do nível de produção; manutenção do nível de preços; acomodação parcial de preços; retaliação; elevação de preços; e indiferença (caso em que a entrada seria muito pequena, quase imperceptível) [Koutsoyanis (1975), p 294]. Segundo o autor, a hipótese mais provável seria a de uma acomodação parcial da entrada, na qual a firma pré-estabelecida reduziria parcialmente a sua produção de modo a não permitir 16 uma grande queda de preços de mercado. O preço resultante seria menor que o preço préentrada, porém maior que o obtido a partir do postulado de Sylos pós-entrada. O autor baseia sua análise nos casos extremos, de preço ou quantidade constantes por questões analíticas. Por outro lado, a acomodação de uma firma no mercado, não implicaria necessariamente a atração de outras firmas, pois, na medida em que o autor escalona as firmas entrantes em função de seus custos de produção, as outras potenciais entrantes continuam a enfrentar barreiras à entrada até mais elevadas. Além disso, Possas (1985) ressalta que a difusão de práticas colusivas em oligopólios sugere uma probabilidade não desprezível para uma reação cooperativa por parte da firma estabelecida, em especial se a entrante dispuser de meios técnicos, comerciais e financeiros ao menos a altura das empresas melhor situadas no mercado. Rocha (2002) mostra que para uma firma pré-estabelecida que se depara com uma entrante em igualdade de condições, a liderança é dificilmente mantida. Nesse sentido, o autor supõe que uma entrante nestas condições pode supor que após a sua entrada, passe a vigorar um regime de oligopólio de Cournot, no qual as duas empresas definam as quantidades produzidas simultaneamente. A partir desta condição, o autor analisa a competição como um jogo em forma extensiva que se dá em três estágios: no primeiro, a firma estabelecida define seu nível de produção tendo duas opções – produzir QL como mostrado na seção anterior, ou produzir QM, que seria a quantidade de monopólio; no segundo estágio a potencial competidora decide entrar ou não no mercado – em caso negativo, o jogo termina, em caso positivo, o jogo caminha para o terceiro estágio, no qual a firma entrante decide produzir a quantidade como num duopólio de Cournot e a firma estabelecida deve decidir entre manter o nível de produção anterior, ou produzir a quantidade de Cournot. Tomando as mesmas hipóteses sobre a curva de demanda da seção anterior, a melhor alternativa para a firma estbelecida é produzir a mesma quantidade que a firma entrante, isto é, as quantidades de um duopólio de Cournot (que neste caso é dado por QCournot = (A –c)/ 3b). A ameaça de manutenção do nível de produção anterior à entrada não é crível, pois a adoção da do postulado de Sylos não representa uma posição de equilíbrio de Nash nestas condições [Rocha (2002)]. Nesse sentido, como a entrante levaria em consideração apenas as expectativas de lucros após a entrada, a limitação de preços pré-entrada teria impacto nulo na prevenção à entrada da mesma. De acordo com Koutsoyannis (1975) existem outros argumentos contrários ao postulado. Em primeiro lugar, as barreiras à entrada relativas à presença de economias de escala e/ou à diferenciação de produto, podem não ser tão relevantes caso a firma entrante seja uma firma já estabelecida em outra indústria. O autor ressalta que elevadas barreiras à 17 entrada, por permitirem um preço-limite elevado, podem inclusive estimular a entrada uma vez que firmas entrantes podem suportar perdas inciais, se os preços correntes permitirem lucros para plantas de grande escala. Em outras palavras, firmas entrantes podem suportar perdas inciais se tiverem expectativas de ganhos futuros. O mesmo argumento é defendido por Guimarães (1983): “(...) cabe rever inicialmente a hipótese de que a decisão de entrar em uma indústria depende da expectativa de obtenção imediata de lucro superior ao normal de modo a considerar a hipótese alternativa de que o entrante espera obter lucros dentro de um certo intervalo de tempo (...) este intervalo pode ser relativamente dilatado no caso em que a entrada corresponde a uma diversificação de uma firma operando em outra indústria.”[Guimarães (1983), p. 41] Em segundo lugar, as barreiras podem ser contornadas com firmas entrantes inovadoras, ou com acesso a novos métodos de produção, ou que venham a localizar-se em posições privilegiadas em termos do mercado consumidor, ou tenham acesso a melhores fontes de recursos. Nesse sentido, pode considerar-se que as barreiras à entrada que permitem a adoção de estratégias de prevenção a entrada, não são dadas, mas estão sujeitas a alterações. Dessa maneira, a própria hipótese subjacente ao postulado de Sylos, perde revelância na ocasião de mudanças estruturais na indústria. 1.3 - Custos irrecuperáveis e preço-limite Em função destas considerações acerca do postulado de Sylos, desenvolveram-se uma série de modelos de prevenção estratégica a entrada, a partir do relaxamento do postulado e de outras hipóteses do modelo tradicional 11. Dentre estes modelos, para efeitos desta dissertação, destaca-se o modelo de Dixit (1979) que inclui as dimensões capacidade produtiva e custos irrecuperáveis à definição de estratégias. A inclusão destas dimensões ao modelo de preçolimite tradicional, confere credibilidade e sustentabilidade ao postulado de Sylos frente a ameaça de entrada. Ao assinalar que investimentos já realizados em capacidade produtiva não podem ser revertidos para outros fins, o modelo de preço-limite torna-se mais adequado à análise do comportamento da Petrobras no mercado de combustíveis brasileiros pósliberalização, como se verá mais adiante. O modelo apresentado nesta seção é um resumo das versões apresentadas em Gilbert (1989) e Tirrole (1988). 11 Uma série de modelos de “prevenção estratégica à entrada foram desenvolvidos relaxando tanto a hipótese do postulado de Sylos, quanto outras hipóteses. Para uma apresentação destes modelos ver Tirrole (1988) caps 8 e 9, ou Gilbert (1989). 18 No modelo de Dixit, as decisões tomadas pela estabelecida e pela entrante ocorrem em dois períodos subseqüentes. No primeiro período, a firma estabelecida investe em capacidade produtiva, a qual pode ser posteriormente ampliada, mas não reversível a outros fins. No segundo período a firma entrante decide se ingressa ou não no mercado, com base na expectativa de que, após sua entrada, a indústria se torne um duopólio de Cournot. Os custos de produção de uma firma dependem da capacidade instalada K, além dos custos tradicionais de produção: custos fixos (F) e variáveis (v). A capacidade instalada tem um custo de ‘s’ por unidade de capacidade instalada. A firma dominante (i), por já ter investido em capacidade de produção (Ki), tem uma função de custo que é dada em função da quantidade produzida (qi) e da capacidade instalada (K): Ci (qi, K) = vqi + sK + F, se q [ K e; (v + s)qi + F, se q > K Na situação em que q>K, a firma dominante deveria incorrer em nova instalação de capacidade produtiva. Logo, esta segunda curva representaria a curva de custos de longo prazo da firma dominante. Com relação à firma entrante, como esta ainda não realizou investimentos em capacidade produtiva, esta não teria custos irrecuperáveis sendo sua curva de custos dada por: Ce (qe, K) = (v + s)qe + F. A partir da curva de custo total da firma estabelecida, é possível notar que a firma teria uma curva de custo marginal descontínua que se comportaria conforme apresentada no gráfico 2. Gráfico 2 Custo Marginal da Firma Dominante na presença de prévia capacidade instalada CMg v+s v Ki Qi Fonte: Tirrole (1988) Para qi [ Ki, o custo marginal de produção no curto prazo seria de v, o qual por sua vez é menor que o custo marginal de longo prazo (v+s) para qualquer unidade de produção superior a Ki. A partir deste gráfico, observa-se o valor do investimento em capacidade produtiva: ao reduzir o custo marginal de produção até o limite de capacidade, torna vantajosa 19 a produção de qi = Ki, no segundo período. Dessa maneira, o investimento em Ki representa um comprometimento da firma dominante com a produção no nível K. Em função da interdependência entre as ações das duas firmas, a curva de reação da firma entrante determina a quantidade ótima a ser produzida, em função da quantidade definida pela firma dominante. Neste caso, tem-se que a função de reação da firma entrante será dada por: Re (qi) = (a – (s+v) – bqi)/2b. No caso da firma dominante, como sua curva de custos apresenta uma descontinuidade, esta terá duas curvas de reação. Na região em que qi m K, a firma estabelecida teria a mesma curva de reação da firma entrante, a qual seria dada por: Ri (qe)1 = (a – (s+v) – bqe)/2b. Porém, quando a firma opera com excesso de capacidade, isto é, qi < K, a curva de reação seria dada por: Ri (qe)2 = (a – v – bqe)/2b > Ri (qe)1 O equilíbrio nesta situação pode ser visto no gráfico 3. Gráfico 3 Curvas de reação e equilíbrio com investimentos em capacidade produtiva e custos irrecuperáveis qe Ri Ri com capacidade ociosa sem capacidade ociosa Re A B qi Fonte: Gilbert (1989) No gráfico 3, a curva de reação da firma dominante descrita como “Ri sem capacidade ociosa” representa as quantidades produzidas pela firma estabelecida como resposta a uma ação da firma entrante para Ki < qi. A curva de reação da firma dominante descrita como “Ri com capacidade ociosa” representa as quantidades produzidas pela firma dominante em função da quantidade da firma entrante, na presença de capacidade ociosa. O importante a 20 notar nestas curvas é o fato de que na presença de capacidade ociosa, a reação da firma dominante será sempre pela produção de uma maior quantidade, o que é explicado pelo menor custo marginal na produção das quantidades inferiores ou iguais a capacidade instalada. Caso a firma estabelecida (i) não possua excesso de capacidade, o equilíbrio se daria no ponto A. Caso a firma dominante tenha capacidade ociosa, o ponto de equilíbrio seria no ponto B. Qualquer ponto na faixa da curva de reação da firma entrante entre os pontos A e B seriam pontos de equilíbrio, compatíveis com a hipótese de competição em quantidades no segundo período. O elemento fundamental para a determinação do ponto de equilíbrio será o nível de capacidade instalada K. Se, dado um investimento de capacidade K, a posição de equilíbrio resultante é tal, que a entrante não consiga cobrir seus custos médios, uma firma racional optaria por não realizar a entrada. Dessa maneira, se a Quantidade Limite estabelecida no modelo tradicional se posicionasse entre A e B a firma estabelecida poderia definir este nível de capacidade produtiva e, assim, barrar a entrada de sua concorrente. No modelo de Dixit, o investimento em capital fixo e irreversível pode se constituir numa efetiva forma de deter a entrada de novos competidores, mesmo se a firma entrante dispuser da mesma curva de custos da estabelecida. A explicação está no fato de que, se a firma dominante estiver comprometida com capacidade investida, mesmo nas conjecturas de um duopólio de Cournot, pós-entrada, a manutenção, ou a resposta da firma dominante com aumento de capacidade torna-se uma estratégia crível. “The incumbent invests in (sunk) capacity which allows the firm to commit to a fixed output in excess of A. This commitment is larger than the incumbent’s post-entry equilibrium output that would result if its capital costs were not sunk. (…) The output commitment reduces the demand available to the entrant and allows the incumbent firm exploit economies of scale in the entrants technology”. [Gilbert (1989) p. 492] Segundo Gilbert (1989), a principal lição do modelo de Dixit é a de que os incentivos estratégicos para a detenção a entrada dependem das decisões tomadas pela firma dominante antes da entrada, e das expectativas de competição pós-entrada, o que por sua vez vai depender das condições da entrante potencial. Em outras palavras, uma firma dominante sem capacidade ociosa, ou capacidade produtiva suficiente para o suprimento do mercado, dificilmente consegue estabelecer uma estratégia sustentável de prevenção estratégica à entrada quando defrontada com firmas em iguais condições de competição. 1.4 - Considerações finais O modelo de preço-limite apresentado neste capítulo, em particular após a consideração do nível de capacidade produtiva, serve como base de análise do comportamento 21 da Petrobras na oferta de derivados no Brasil, a partir de 2002, conforme se verá no quarto capítulo desta dissertação. Cabem contudo, algumas considerações de modo a tornar a base teórica mais adequada à análise empírica. A primeira refere-se ao conceito de entrada. De acordo com Bain (1956), a entrada em um mercado somente se efetiva a partir da construção de nova capacidade produtiva, a qual teria como incentivo a expectativa de lucros estritamente positivos. O próprio autor em sua definição de “condição de entrada” utiliza o termo “vendedor” (seller) e não produtor, ou firma (firm). Um vendedor em um mercado inclui não só o produtor daquele bem como também aqueles que têm acesso a produção de outros mercados. Nesse sentido, o termo usado pelo autor abre a possibilidade para uma flexibilização do conceito de entrada pois permite incluir não só os produtores domésticos mas também os importadores de combustíveis. Este conceito mais flexível permite a consideração de “entradas” em menor escala de novos ofertantes no mercado, ao reduzir o nível de investimento inicial e a o requerimento de escala para oferta de combustíveis no mercado brasileiro. A segunda consideração refere-se à expectativa de lucros estritamente positivos pósentrada. Conforme ressaltado, firmas entrantes podem visar não apenas lucros imediatamente após entrada, mas uma previsão de lucros em um determinado prazo. Este pressuposto é particularmente crível, na presença de firmas entrantes com capacidade de suportar perdas financeiras iniciais. As firmas atuantes na indústria de Petróleo, possuem porte financeiro, comercial, tecnológico, iguais ou maiores que a firma dominante no mercado nacional, a Petrobras e nesse sentido, teriam condições de bancar a entrada no mercado, caso existissem expectativas de lucros num prazo determinado. Pela presença tradicional de grandes empresas da indústria de petróleo nos segmentos de distribuição e revenda de combustíveis, as potenciais entrantes na oferta, contam com reconhecimento dos consumidores, não havendo a priori a barreira referente a preferência dos consumidores. É importante salientar as vantagens possuídas pela firma dominante decorrentes, principalmente, de sua estrutura verticalmente integrada nos segmentos de exploração e produção de petróleo, transporte e armazenagem e refino. Outra importante vantagem refere-se a disposição do parque de refino que propicia o abastecimento de mercados regionais. Nesse sentido, a empresa dominante contaria com vantagens que a possibilitariam adotar a estratégia de prevenção estratégica a entrada, definindo preços que inviabilizem a entrada. Além disso, a formação de expectativas acerca dos ganhos econômicos do estabelecimento de uma nova opção de oferta (importação ou produção) depende do quadro de estabilidade de regras vigentes na indústria. Um quadro de instabilidade tende a distorcer a 22 formação de expectativas e com isso, se constituir em mais uma “barreira a entrada” no mercado, mesmo através de importações. A partir do modelo desenvolvido por Dixit [Dixit apud Gilbert (1989)], a presença de capacidade instalada prévia pela firma estabelecida é um elemento fundamental para a adoção de estratégia de prevenção a entrada. Como será visto no quarto capítulo, a Petrobras conta com capacidade excedente, apenas para um combustível, a gasolina. Assim, a partir do modelo, a empresa teria menor capacidade de prevenir a entrada de outros concorrentes nos mercados dos outros combustíveis analisados, diesel e GLP. Dessa maneira, a presença de capacidade instalada é um elemento determinante da capacidade de uma firma em alterar a estrutura industrial do setor. A terceira consideração refere-se ao preço-limite, preço máximo a partir do qual passa a ser economicamente viável a entrada de uma nova firma no mercado brasileiro. A princípio, sob o conceito flexibilizado de entrada, a viabilidade econômica depende de um preço que seja capaz de cobrir os custos da oferta. Os combustíveis são mercadorias para as quais existe um mercado internacional organizado em bolsas de negócios, onde se pode transacioná-los diariamente a partir dos preços definidos. Assim, o custo da oferta de uma possível entrante seria dado pelo preço determinado nestes mercados. Por outro lado, esses preços também servem como referência ao cálculo do custo de oportunidade da produção e venda no mercado interno. A existência de outros custos e barreiras a internalização dos combustíveis abre a possibilidade de um diferencial entre os preços cobrados no mercado interno e os preços internacionais, que será tanto maior quanto maiores estes custos. Este ponto será retomado no quarto capítulo. Neste momento da dissertação, o ponto a salientar é a importância dos preços dos combustíveis definidos no mercado internacional como parâmetro para a definição dos preços internos, mesmo na presença de uma firma dominante. Tendo isto em vista passa-se então, ao comportamento dos preços no mercado internacional e seus efeitos sobre o bem estar dos consumidores. 23 Capítulo 2 Comportamento dos preços de petróleo e derivados no mercado internacional e impacto no bem-estar O petróleo e seus derivados se constituem em mercadorias transacionáveis no mercado internacional e, portanto, têm seus preços formados a partir das regras básicas de mercado através da interação entre oferta e demanda. Porém, existem características particulares da indústria de petróleo e derivados que tornam seus preços mais voláteis do que o de outros bens presentes na economia. A volatilidade nos preços de petróleo e derivados gera impactos negativos nas economias locais e, por isso, tem sido objeto de discussão sobre a necessidade de ações públicas no sentido de mitigar seus efeitos. O objetivo deste capítulo é mostrar as causas da volatilidade dos preços de petróleo e derivados, bem como os impactos microeconômicos sobre o bem-estar dos consumidores. O capítulo está estruturado em quatro seções. A primeira descreve o comportamento do mercado internacional e as causas da volatilidade nos preços do petróleo cru. Os preços dos derivados, embora mantenham uma estreita relação com o preço do petróleo, dependem de outros fatores que podem ampliar ou reduzir a volatilidade de seus preços. Estes fatores são objeto da segunda seção. Na terceira seção, apresentam-se os potenciais efeitos negativos de preços voláteis no bem-estar dos consumidores e as falhas de mercado que impedem a adoção de comportamentos de proteção. Na quarta e última seção são feitas as considerações finais do capítulo. 2.1 - Comportamento dos Preços de Petróleo Internacional: Causas da Volatilidade Instabilidade é uma característica estrutural da indústria de petróleo, seja por fatores políticos, seja por fatores técnico-econômicos. O primeiro ponto de instabilidade refere-se ao fator geopolítico. O petróleo, particularmente após a segunda guerra tornou-se a base do desenvolvimento econômico e industrial. Como as jazidas de petróleo estão distribuídas de maneira desigual pelo mundo, o fornecimento da maioria dos países, em especial os industrializados, depende em grande medida de fontes externas. No início do século XX, Winston Churchil foi o primeiro político a reconhecer que a segurança nacional dependia do fornecimento externo do recurso. [Cechi e Dutra (1998)]. Desde então, a garantia de fornecimento é considerada base de soberania dos países, o que gradualmente tornou as condições de oferta e demanda sujeitas à intervenções de ordem política. Além disso, o longo prazo de maturação requerido pelos investimentos na indústria resulta em um elevado grau de incerteza e risco político para as decisões privadas de inversão. Com relação à oferta, duas características técnico-econômicas merecem destaque. A primeira é a presença de rendas minerais na indústria. O conceito de renda mineral remonta ao conceito ricardiano de renda da terra, a qual surge a partir da incorporação de terras marginais ao plantio. Como os preços dos produtos agrícolas no mercado são determinados a partir do custo de produção das terras marginais, os proprietários das terras intrafronteiras recebem uma “renda” proveniente da propriedade das terras mais férteis. O próprio Ricardo estendeu o conceito de renda diferencial à propriedade de outros recursos com oferta fixa na natureza. Marshall (1890) desenvolve o conceito de renda econômica como qualquer excedente entre o preço de um bem e seu custo marginal. O autor estabelece uma distinção entre renda e quaserenda. A renda seria um excedente econômico derivado do uso de fatores naturais escassos, como a terra, a qual pelo fato de ter oferta fixa, qualquer variação na demanda reflete necessariamente em seu preço. Por outro lado, o termo quase-renda serve para caracterizar os rendimentos oriundos de máquinas e outros equipamentos, cuja oferta tende a ser inelástica no curto prazo, mas na passagem do longo prazo a oferta se ajusta aos desequilíbrios de longo prazo, eliminando o diferencial entre preço e custo de capital. Porém, o conceito de renda mineral na exploração petrolífera excede o conceito de renda ricardiana e marshalliana pelo o fato de ser o petróleo um recurso exaurível. A extração do recurso no presente representa a sua não exploração futura, o que implica a existência de um custo de oportunidade na utilização do recurso no presente. O custo de uso é definido pela diferença entre o preço do recurso e seu custo marginal de produção, e representa uma compensação ao detentor da jazida pela perda de seu valor ao longo tempo em função da exploração. Dessa maneira, mesmo em condições competitivas existe uma parcela de renda acima do custo marginal que corresponderia ao custo de uso. O custo de uso assim definido é também chamado de “renda de Hotelling”. Hotelling (1931) identifica as reservas de recursos esgotáveis como um ativo financeiro. Em função disso, os detentores de reservas teriam maior incentivo à venda de petróleo quando o valor presente do mesmo superar seu valor futuro descontado a uma determinada taxa. A despeito das críticas a esta regra (principalmente em função da incerteza quanto aos preços futuros do petróleo), a importância desta está em mostrar o incentivo existente à exploração racional intertemporal dos recursos naturais exauríveis. 25 Por outro lado, as atividades compreendidas pela indústria, a saber – exploração, desenvolvimento e produção de petróleo, refino, transporte e distribuição – são atividades que apresentam elevada intensidade de capital. No segmento upstream da cadeia, os altos riscos exploratórios combinados aos custos incorridos no período pré-produção tornam a decisão de desenvolvimento de um poço praticamente irreversível. A necessidade das firmas em recuperar os investimentos realizados nestas etapas, as leva a definir um volume mínimo de produção, que lhes permita cobrir seus custos no menor tempo possível. Na etapa de refino, a presença de retornos crescentes a escala, a produção em proporções fixas de derivados e o peso dos custos fixos sobre os variáveis, fazem com que a oferta de derivados também apresente pouca sensibilidade em relação ao preço. Este efeito tende a ser exacerbado quando as refinarias operam próximas às suas capacidades produtivas. Pelo lado da demanda, a ausência de substitutos econômicos ao petróleo e o grau de essencialidade que este recurso assumiu ao longo século passado, torna o consumo relativamente insensível ao preço. No caso dos derivados de petróleo, embora exista um maior número de substitutos econômicos, estes tendem a ter origens semelhantes (gás natural) e/ou a custos de substituição, que podem ser irrecuperáveis, tornando a demanda inelástica ao preço no curto prazo. O equilíbrio de um mercado no qual demanda e oferta são inelásticas a preço requer grandes variações nos preços. Qualquer desequilíbrio entre quantidades produzidas e procuradas implica em uma maior variação de preços de modo a re-estabelecer o equilíbrio. Assim, este efeito conjunto resulta na potencial volatilidade de preços. O resultado conjunto de demanda e oferta inelásticas nos mercados de petróleo e derivados é ilustrado na Figura 1. Figura 1 Variação de Preços em um mercado com oferta e demanda elásticos a preço x mercado com baixas elasticidades preço da demanda e oferta. Mercado com oferta e demanda preço-elásticas P D’ P D’ D Mercado com oferta e demanda preço-inelásticas D O O Q Q Fonte: World Energy Outlook (2001) 26 Dadas as características do mercado de petróleo, um excesso de oferta sobre a demanda pode levar a uma grande queda de preços. De acordo com Penrose (1971): “ (…) the fact that crude oil production, transportation, refining storage and distribution all require large amounts of capital leads to heavy fixed charges and forces competitive producers to produce as much as possible as quickly as possible in an attempt to recover their sunk costs and their overhead; the fact that demand is not readily expanded when prices fall means that prices are easily pushed below costs of production by relatively small surpluses. ”[Penrose (1971), p. 183]. A partir das características técnico-econômicas descritas acima, outro ponto de instabilidade é a estrutura oligopolística da indústria de petróleo mundial. Neste tipo de estrutura, a existência de um pequeno número de firmas com capacidade de alteração de preço e a interdependência nas funções de reação das firmas fazem com que não haja uma posição única e estável de equilíbrio. Esta somente é obtida pela imposição de hipóteses restritivas ao comportamento das firmas. De acordo com Fellner: “in a oligopoly, a determinate equilibrium seems to be impossible to maintain and instability impossible to eliminate unless firms arrive at some implicit or explicit form of agreement.” [Fellner apud Clô (2000) p. 76] Como forma de evitar os efeitos negativos dos desequilíbrios entre oferta e demanda advindos de uma competição em preços mais acirrada, a forma de organização padrão na indústria foi a integração vertical das atividades, internacionalização e coordenação oligopolística entre as firmas. Esta forma de organização prevaleceu entre as décadas de 40 e 70 e foi responsável pelo período de maior estabilidade de preços na indústria de petróleo mundial. “In 22 of the 30 years from 1940 to 1970 there was substantial nominal price stability (with variations of 5%). Substantial oscillations only occurred during exceptional times (the second WW, the Suez crisis, and the six days war of 1967). For around three decades the oil price on international market stayed between 1.5 e 2.0 dollars per barrel: quite an extraordinary feat, when one remembers that during that time total demand increased by a factor of 8, to around 3 billions tons, while the flow of Middle East Supply multiplied 70 times over 1 billion tons.” [Clô (2000) p. 65] Dessa forma a passagem de um período de grande estabilidade de preços para um período de instabilidade remonta aos fatores que levaram a quebra das formas de coordenação e planejamento da oferta, exercidas pelo oligopólio internacional das empresas de petróleo. (gráfico 1) 27 Gráfico 1 Comportamento dos preços do óleo cru: 1861-2002. Em dólares correntes por barril e dólares de 2002 por barril U$ correntes US$ 2002 Fonte: British Petroleum Energy Statistical Review, 2003 1851 – 1944 Média Americana 1945 – 1985 Arabian Light @ Pas Tanura 1986 – 2002 Brent Spot 2.1.1 - Quebra da coordenação oligopolística e instabilidade Conforme descrito anteriormente, o benefício das rendas minerais é um direito dos proprietários das jazidas de petróleo. Até início dos anos 60, sete empresas internacionais, as chamadas “sete irmãs”1, dominaram a indústria de petróleo, através do controle de 85% do petróleo produzido fora dos EUA, e 90% da produção dos países do Oriente Médio e da Venezuela, além do refino e distribuição de produtos derivados em mais de 90% do consumo mundial [Penrose(1971)]. Estas empresas eram verticalmente integradas, 75% da produção de petróleo era destinada às refinarias das próprias empresas e o restante era negociado através de contratos de longo prazo. Constituíam-se em empresas multinacionais que mantinham estreitas relações de cooperação, seja através de propriedade conjunta de subsidiárias para exploração nos países produtores, seja através de contratos de longo prazo de suprimentos e acordos de comércio. Este tipo de relação entre as chamadas sete irmãs evitava uma competição mais acirrada em preços, vista como mutuamente danosa para as participantes da indústria. Contudo, conforme assinala Penrose (1971), a competição entre estas empresas era bastante acirrada em outras dimensões extra-preço, como na busca por crescentes participações de mercado, publicidade, prospecção de novas fontes de recursos, inovações tecnológicas e diferenciação de produtos e serviços. 1 As sete irmãs, também chamadas de seven majors: Shell, BP, Exxon, Chevron, Gulf, Texaco e Mobil. 28 A partir da década de 60, com a criação da Organização dos Países Produtores de Petróleo (OPEP), os conflitos entre empresas e países produtores na partilha dos ganhos petrolíferos se acirraram. O conflito se refletiu em condições mais desvantajosas firmadas nos contratos de exploração destas empresas com os países produtores e culminou com a nacionalização e instituição dos regimes de monopólio estatal no início dos anos 70. A desarticulação das formas de controle das empresas dominantes sobre as principais reservas promoveu um racha na indústria: de um lado, grandes multinacionais com atuação concentrada nos segmentos downstream (refino e comercialização); e de outro, estatais de países produtores, cuja renda seria derivada da venda de petróleo cru. Esta divisão conferiu poder a OPEP de definição dos preços de petróleo, o que resultou nos dois eventos conhecidos como primeiro choque do petróleo (1973) e segundo choque do petróleo (1979). No período compreendido entre o primeiro choque do petróleo e a primeira metade da década de 80, os preços do petróleo passam a apresentar crescente instabilidade. Entre 73 e 79, os preços passam de US$ 3 por barril em 1973 para cerca de US$ 14 no início de 1979. Em 1981, o preço atinge um pico de US$ 40 por barril e caindo a US$ 9 em 1986 com o contrachoque. [Grant & Cibin (1996)]. O objetivo do cartel dos países produtores era se apropriar das rendas petrolíferas para o financiamento do desenvolvimento econômico em seus países. Acreditava-se que a origem dos lucros das multinacionais derivava exclusivamente da administração dos preços de petróleo em patamares superiores aos custos de produção. Logo, se apropriar da renda petrolífera implicava em controlar os preços. Porém, a coordenação de estratégias entre os participantes do cartel se mostrou muito complexa, principalmente em função das assimetrias existentes em relação aos recursos minerais disponíveis em cada país (relação reservas produção), e à dependência de fontes externas para financiamento de programas de desenvolvimento e déficits públicos [Fernandes & Pinto Jr(1998)]. Os conflitos inerentes a esta situação e o não cumprimento das quotas de produção acordadas entre as partes, eram contornados pela atuação da Arábia Saudita. Este, em sua posição de maior produtor, buscava, através da variação de sua própria produção, atingir o preço definido. “(...) para se ter uma idéia clara deste movimento, vale lembrar que a Arábia Saudita produzia em 1982 cerca de 10 milhões de barris/ dia; em 1985 sua produção foi de apenas 3 milhões de barris/dia” [Fernandes & Pinto Jr(1998) p. 21]. O abandono da posição de swing producer da Arábia Saudita foi a gota d’água para o fracasso da coordenação de preços pelos países da OPEP. Tal fato se refletiu na acentuada queda de preços verificada em 1986. A opção pela fixação concomitante de preços elevados e 29 ajuste da oferta pelos países da OPEP mostrou-se ineficaz. A partir deste episódio, conhecido como contrachoque, a estratégia do cartel passa a ser a de busca por cotas fixas de produção. O preço, então, passa a ser determinado via mercado. Cabe assinalar ainda outros fatores importantes que contribuíram para dificultar a estratégia de fixação de preços por parte da OPEP: i) desenvolvimentos tecnológicos nas atividades de exploração e produção, ii) a desconcentração geográfica na produção de petróleo, iii) a exclusão das majors das principais fontes, e iv) políticas de redução da dependência externa. O primeiro fator permitiu a produção em regiões críticas como o Mar do Norte, o que, aliado a preços mais altos propiciaram a entrada de outros países e empresas como ofertantes de petróleo no mercado internacional. Boa parte do crescimento da produção não OPEP se dá no âmbito de políticas governamentais de valorização dos recursos nacionais e redução da dependência externa, através da disseminação dos regimes de monopólios estatais na exploração de recursos naturais (como foi o caso brasileiro). Em paralelo, ocorre o crescimento de empresas estatais de países industrializados consumidores (Eni, Elf, Repsol), que encontram novas oportunidades de expansão de suas atividades, uma vez que a oferta de petróleo passa a estar disponível no mercado internacional e não mais dominado pelas sete irmãs. Pelo lado da demanda, verificam-se políticas de redução do consumo de petróleo, busca por fontes alternativas e o aumento das restrições ambientais, com efeitos negativos sobre o consumo. O período compreendido entre o primeiro choque do Petróleo e o contrachoque, pode ser caracterizado como um período de transição do modo de organização da indústria de Petróleo: verifica-se a passagem de uma forma de organização baseada em empresas vertical e horizontalmente integradas e grande concentração industrial, para uma estrutura mais desconcentrada e competitiva. Sob este novo modo de organização, a tentativa de administração de preços por parte dos países produtores se mostra pouco eficaz. Dessa forma, embora haja uma coordenação de quotas de produção por parte do cartel, os preços são formados via interação entre oferta e demanda no mercado internacional, num contexto de instabilidade que se reflete na volatilidade de preços no período posterior ao contra-choque. 2.1.2 - Formas de comercialização, proteção ao risco e volatilidade Em função da instabilidade, os agentes buscam formas de proteção ao risco, que se refletem na aversão a relações contratuais de longo prazo, na administração e manutenção de estoques e no desenvolvimento de instrumentos financeiros com este fim. 30 Progressivamente, as transações comerciais passam a realizar-se via mercado, através de contratos bilaterais de curto prazo, ou contratos spot. A forma predominante de transação é o fechamento de contratos bilaterais de curto prazo, cujos preços são acordados com base nos preços do mercado spot. Contratos spot, por sua vez, são contratos isolados de compra e/ou venda de um carregamento de óleo, ou derivado sob preço e termos de entrega determinados no momento da transação. Os preços no mercado spot são formados a partir das condições de oferta e demanda diárias dos mercados nos principais centros de refino armazenagem e distribuição: Singapura, Noroeste da Europa e Golfo Americano. Os preços formados neste mercado informam sobre as condições de oferta e demanda em cada mercado de produto (petróleo, gasolina, óleo diesel, etc...). “The evolutions of a regional market into a pricing center has its foundation on logistics. These markets have a ready supply, transportation choices, storage facilities and many buyers and sellers” [EIA,(2003)a]. De acordo com Pyndick (2001), a demanda no mercado spot (Qt) é uma função do preço (P) neste mercado, de condicionantes específicas, tais como nível de renda, estoque de equipamentos que utilizam derivados e sazonalidades (z1) por fatores imprevisíveis como mudanças tecnológicas (e1t). A oferta (Xt), por seu turno, seria também uma função do preço, de fatores que influenciam os custos de produção (z2) e de fatores aleatórios, tais como greves e outros eventos que afetem a produção de maneira imprevista (e2t). Além disso, os agentes mantêm estoques que os permitem fazer frente a imprevistos, bem como a redução de custos de ajustes da produção e a precaução contra paralisações de produção e comercialização, na presença de variações inesperadas de demanda. A variação no nível de estoques (∆N) no período t seria dado pela diferença entre demanda e oferta no mercado spot (∆Nt= Qt (P, z1, e1t) - X(P, z2, e2t)). Ao reescrever esta relação, o autor apresenta o preço no mercado spot, como uma função da variação no nível de estoques, dos condicionantes da produção e da demanda, isto é, P = f (∆Nt, z1t, z2t, et)2. Assim, os preços no curto prazo dependem do nível de estoques mantidos pela indústria. Em períodos de baixos níveis de estoques, existe maior potencial para variações de preços. O mercado spot se constitui numa alternativa de suprimento e escoamento de excedentes de produção e os preços formados neste mercado servem de referência às transações da indústria e na valoração de ativos. 2 A decisão do nível de estoques depende do diferencial de preços entre o preço spot e o preço futuro da mercadoria [Pyndick (2001)]. 31 Existem diversos tipos de petróleo que são produzidos e transacionados, e que diferem em razão de seu percentual de enxofre e/ou de sua propensão à retirada de maior volume de derivados leves de maior valor agregado, como a gasolina3. Assim, o critério para a cotação dos diferentes tipos de petróleo é a definição de um cru de referência, a partir de cujo preço se adiciona um diferencial de qualidade e custos de transporte. Os três principais crus de referência são: o Brent, o West Texas Intermediate (WTI) e o Dubai. Os preços spot de cada um destes serve como referência para as transações em uma determinada “área de influência”. Por exemplo, todos os tipos de cru produzidos ou destinados ao mercado europeu e africano têm seu preço formado a partir do Brent. No caso do continente americano, o WTI é o cru de referência principal4. Tabela 1 Formação de Preço dos diferentes tipos de cru Janeiro de 1995. Destino Cru de referência Arabian Light 34 Brent Iranian Light 34 Brent Arabian Light 34 WTI Nigerian Bonny Light 37 WTI Arabian Light 34 Kuwait 31 Base de Preço Fator tempo de entrega Europa FOB 40 dias após carregamento CIF Data do carregamento EUA FOB Fator de Ajuste US$/barril Preço Final -0,95 16,01 -0,25 16,63 50 dias após carregamento FOB 15 dias após carregamento Extremo Oriente -2,60 16,34 +0,32 17,08 Oman+ Dubai FOB Média mensal +1,90 16,84 Oman+ Dubai FOB Média mensal +0,30 15,71 Fonte: Clô (2000) Dentre as opções financeiras para a redução dos riscos, destacam-se os mercados de futuros e de opções. Um contrato futuro é uma promessa de compra ou venda de uma quantidade de uma commodity em um determinado lugar, a um determinado preço a ser pago em uma data futura. Uma opção é um contrato que dá ao detentor, o direito de compra ou 3 O petróleo tem uma classificação básica em função do seu grau de API, classificação definida pelo American Petroleum Institute. Os graus de API variam de 0 a 50, petróleos com maiores graus de API, indicam petróleos de menor densidade a partir dos quais se pode tirar maior volume de derivados leves. Como os derivados leves são os de maior valor agregado, os petróleos com maior grau API tendem a ter maior valor, para um mesmo percentual de enxofre. 4 3% das transações no mercado americano usam como referência o Alaskan North Slope. 32 venda de uma determinada quantidade da mercadoria a um determinado preço em uma data futura. Este direito pode ou não ser exercido na data de expiração da opção5. Um contrato a termo (forward contract) possui basicamente as mesmas características de um contrato futuro, a diferença está nas partes envolvidas. Este é um contrato bilateral acordado, em geral, entre dois participantes da indústria. A formação de contratos a termo encontra algumas desvantagens, tais como: dificuldades na definição de contrapartidas contratuais e risco de não cumprimento do contrato por uma das partes [EIA, 2002a)]. Já os contratos futuros são acordados entre um agente e uma bolsa de negociação, na qual há o fechamento diário das posições dos agentes envolvidos nas transações. As principais bolsas de transações financeiras com petróleo e derivados, são a New York Mercantile Exchange (Nimex) nos EUA, e a International Petroleum Exchange (IPE) em Londres. Assim, apesar de existir mercado futuro para a transação de petróleo desde os primórdios da indústria no século XIX, o boom do mercado de futuros de petróleo ocorre a partir da década de 80. Os mercados futuros permitem a transação do risco inerente às atividades da indústria entre firmas em diferentes elos da cadeia cujas expectativas de preços futuros sejam distintas, ou, entre firmas e agentes interessados em ganhos financeiros derivados de alterações de preços futuros. A presença da bolsa de negociações propicia que os agentes fechem suas posições de compra e venda antes da maturação dos contratos sem a necessidade da entrega física do produto. De acordo com Clô (2000), na Nimex, dois terços dos participantes são empresas de petróleo envolvidas em diferentes elos da cadeia e o terço restante são especuladores. Os preços futuros são formados em paralelo com os preços no mercado spot. A rigor, os preços no mercado futuro não podem ser usados como previsão do preço futuro, pois efetivamente o futuro é incerto e imprevisível e a justificativa para a existência de mercados futuros é a proteção contra o risco. Porém, os preços formados neste mercado fornecem informações acerca do comportamento futuro do mercado de petróleo que, por seu turno, exercem efeito dinâmico sobre o nível de preços no mercado spot e no nível de estoques mantidos pela indústria. A manutenção de estoques é outra forma de proteção ao risco. A decisão de manter uma unidade em estoque baseia-se na análise do benefício associado a esta estratégia vis a vis seu custo de manutenção. Pyndick (2001) supõe que o preço a disposição em pagar por uma 5 No caso das opções americanas, o detentor da opção pode exercer sue direito a qualquer momento até o período de maturação do contrato. No caso das opções européias o detentor só pode exercê-la no final do contrato [EIA (2002 a)]. 33 unidade de estoque depende dos benefícios associados à manutenção de estoques. Este preço, chamado de convenience marginal yield, (ψ),é uma função do nível corrente de estoques, da volatilidade de preços (σ), de fatores condicionantes do consumo (z3), incluindo o preço spot e de choques aleatórios (ε3). A disposição a pagar por uma unidade de estoque é negativamente relacionada ao nível de estoques (quanto menor N, maior a disposição a pagar por uma unidade adicional de estoque), positivamente relacionada a volatilidade de preços (quanto maior a volatilidade de preços, maior o benefício da manutenção de estoques para proteção futura) e às condições da demanda (em particular no caso do preço spot, haveria uma maior predisposição a pagar, por um bem com preços mais altos, do que na ocasião de preços mais baixos). Assim, pode-se escrever que ψ = g (N, σ, z3 , ε3). O custo de carregamento deste estoque é dado pelos custos de estocagem física, representado por (kt), e o custo de oportunidade do estoque, representado pelo preço spot capitalizado a uma taxa de juros R. Dessa maneira, o preço a ser pago pela manutenção de um uma unidade do período t, ao período T, seria: ψt,T = (1+ RT) Pt – Ft,T, + Kt onde: RT, representa a taxa de juros do período T, Pt representa o preço spot no período t e Ft,T é o preço futuro para entrega no período t+T. Quando a disposição em pagar por uma unidade marginal de estoque supera o custo físico, isto leva a uma situação em que o preço spot é superior ao valor presente do preço futuro Ft,T/ (1+ Rt). Quando ocorre esta situação, diz-se que o mercado futuro apresenta backwardation. Pyndick (2001) afirma que na indústria de petróleo, a expectativa é de que os mercados futuros sempre apresentem algum grau de backwardation, pois se isto não ocorresse, os produtores não teriam nenhum incentivo para a extração do petróleo dos reservatórios6. De acordo com a World Energy Outlook [WEO (2001)], os preços futuros são formados com base nas expectativas sobre as condições futuras de oferta e demanda e haveria um efeito dinâmico quando os preços no mercado futuro divergem muito dos preços no mercado spot. Na presença de backwardation, ao se levar em consideração os preços nos mercados futuros como referência para as receitas a serem obtidas por um estoque de produto, valerá mais a pena vender a produção no presente do que no futuro. Neste sentido, haveria uma baixa inclinação à manutenção de estoques. Variações negativas no nível dos estoques 6 “The reason is that owning in-ground reserves is equivalent to owning a call option with an exercise price equal to the extraction cost, and with a payoff equal to the spot price of the commodity. If there were no backwardation, producers would have no incentive to exercise this option, and there would be no production (just as the owner of a call option on a non- dividend paying stock would wait to exercise it until just before the option expiration date)”[Pyndick(2001) p. 17] 34 sinalizam que há uma situação de excesso de consumo sobre a produção, o que por seu turno tende a exercer pressão sobre o nível de preços correntes, ampliando o diferencial de preços. Em função da inter-relação entre os preços no mercado futuro e os preços no mercado spot, existe uma controvérsia acerca do papel das transações financeiras para a redução dos riscos. Segundo o Word Energy Outlook (WEO, 2001), a liberalização dos mercados de petróleo e o desenvolvimento de instrumentos para a realização das transações virtuais, contribuem para a ampliação da volatilidade de preços, devido ao maior número de agentes presentes no mercado. O desenvolvimento destas tecnologias amplia o acesso à informações relevantes sobre oferta e demanda (note que estes fatores incluem fatores políticos nos países produtores e consumidores), porém intensificam as reações dos participantes a tais informações, de qualidade nem sempre comprovadas7. Além disso, é ressaltado o efeito dinâmico dos mercados futuros sobre os preços presentes como um amplificador da volatilidade. De acordo com a EIA (2002 a), não existem evidências conclusivas sobre o efeito dos mercados futuros sobre o nível de volatilidade de preços e, portanto, as transações nos mercados futuros serviriam ao seu propósito de proteção ao risco. Para finalizar a seção, cabe mostrar o comportamento da volatilidade de preços de petróleo e derivados. Volatilidade representa a medida da variação no preço em um determinado período. Para os mercados de petróleo e derivados, a medida padrão de volatilidade é o desvio padrão das variações percentuais nos preços medidos em intervalos definidos: mês, semana ou dia [WEO (2001)]. O gráfico 2 apresenta o comportamento da volatilidade de preços do petróleo, da gasolina e do diesel entre 1984 e 2000. O gráfico 2 apresenta séries mensais para o desvio padrão das variações diárias nos preços do petróleo, da gasolina e do diesel.8 A partir do gráfico pode-se perceber que a própria volatilidade varia bastante, e apesar de oscilar entre 10 e 20 % na maior parte do período, chega a ultrapassar picos de 40% em algumas ocasiões. Ao focalizar apenas na década de 90, o WEO (2001) identifica uma tendência ao aumento da volatilidade dos preços a partir desta década. Outro fator importante é a forte correlação entre a volatilidade nos preços do petróleo, diesel e gasolina. Esta correlação é bastante coerente com o fato de ser o petróleo o principal custo na produção dos outros combustíveis. Entretanto, cabe perceber 7 Um exemplo disso refere-se às informações sobre as condições dos estoques de petróleo norte-maericanos. As condições semanais são divulgadas pelo American Petroleum Institute e a Energy Information Administration. Em várias ocasiões as informações divulgadas pelos dois órgãos são divergentes. 8 Essas séries foram construídas com base em amostras móveis de cinco semanas para o desvio padrão das variações percentuais diárias ocorridas na semana corrente e nas quatro semanas anteriores. 35 que, em alguns momentos, as linhas pontilhadas no gráfico ‘que representam o comportamento de diesel e gasolina) se descolam da linha contínua preta. Dessa maneira, apesar da importância do preço do petróleo nos preços da gasolina e do diesel, este comportamento indica que outros fatores atuam no sentido de ampliar ou amortecer a volatilidade destes preços. Gráfico 2 – Comportamento da volatilidade de preços de petróleo, gasolina e diesel9 Desvio Padrão (pontos % por mês) Petróleo Gasolina Diesel Fonte: Pyndick, 2001 2.2 - Volatilidade dos preços de derivados Apesar dos preços do petróleo cru responderem por boa parte das variações nos preços dos derivados, há outros fatores que podem ampliar a volatilidade nestes mercados: características do parque de refino, grau de integração regional entre os mercados locais, sazonalidade da demanda, especificações técnicas dos combustíveis e condições de competição ao longo da cadeia de produção do derivado até o consumidor. 9 Não há referência explícita na fonte quais é o petróleo de referência nem os preços da gasolina. Acredita-se que a referência seja o mercado americano. O WEO (2001) apresenta uma estimativa semelhante para o comportamento da volatilidade do preço do Brent com resultados similares. 36 2.2.1 Características do parque de refino A atividade de refino é a que apresenta as menores margens na cadeia de valor do petróleo, característica que se intensificou a partir dos anos 90, devido ao aumento nos custos de investimento para adequação do parque às crescentes restrições ambientais bem como aumento da complexidade do parque de refino10. Ademais, devido a presença de economias de escala no transporte de petróleo cru por dutos ou navios, as refinarias passaram a ser construídas próximas aos centros consumidores. Esta proximidade permite a refinaria maior flexibilidade no atendimento de variações sazonais na demanda por derivados, bem como maior adequação ao perfil da demanda. Porém, há alguns casos de exceção a esta tendência: os centros de refino no Caribe (voltado a exportação de óleo combustível aos EUA) do Oriente Médio e de Singapura (voltada ao atendimento do mercado asiático). De acordo com a EIA (2003 b), centros de refino voltados à exportação se constituem em exceção, uma vez que a maioria das refinarias é voltada ao atendimento dos mercados locais. Assim, a partir da década de 90, a atividade de refino tem sido submetida a um processo de ajuste para a eliminação de capacidade excedente (fechamento de plantas ineficientes e/ou não adequadas aos padrões de consumo), aumento do grau de utilização do parque de refino remanescente, maior adequação ao perfil da demanda e redução dos custos operacionais. Segundo o BP Statistical Review of World Energy (2003), a capacidade de refino mundial em 2001 era de 82,2 milhões de barris por dia (bpd), o que excede a demanda por derivados, de 72,3 milhões de bpd. Todavia, esse aparente excesso de capacidade de refino mundial deve ser ponderado pelos seguintes fatores: i) introdução de legislações ambientais mais rigorosas em diversos países têm levado ao fechamento de diversas plantas; ii) mudanças nos padrões de consumo; iii) especificações de qualidade de derivados devido às normas ambientais. Estes fatores levam a concluir que embora em excesso, parte desta capacidade de refino não está apta a atender às novas exigências de determinados países. Segundo a consultoria PIRA (2002), a avaliação da capacidade de refino mundial deve distinguir entre derivados claros (leves) e escuros (pesados), pois a demanda por derivados claros crescem a maiores taxas ao passo que a capacidade de refino instalada favorece a produção de escuros. Como a oferta de derivados leves não atende a demanda, o prêmio por estes produtos tende a aumentar. Por outro lado, necessidade de maior adaptação do parque de refino ao perfil de demanda e a busca por redução de custos nesta etapa aumentam o grau de especificialização de cada refinaria, com redução de sua flexibilidade. Além disso, as pressões 10 O grau de complexidade de um parque de refino está associado a presença de unidades de conversão de correntes pesadas em derivados leves, como unidades de craqueamento catalítico e hidrocraqueamento. 37 para a redução nos custos de refino levaram a adoção de estratégias de estoques mínimos de petróleo e derivados mantidos pelas empresas, o que, em contrapartida, as torna mais vulneráveis a picos de demanda não previstos. Estes fatores - crescentes especificidades no parque de refino e redução de estoques – somados ao fato de que várias refinarias operam próximas de seus limites de capacidade, induzem a maior tendência para a volatilidade nos preços. 2.2.2 Grau de integração entre mercados locais Na ocorrência de desequilíbrios locais entre oferta e demanda por derivados, este desequilíbrio será mais rapidamente eliminado se houver: i) excesso de oferta em outra região adequada às especificações técnicas de consumo; e ii) facilidade de transporte entre regiões superavitárias e deficitárias. Se as refinarias de uma localidade operam próximas de sua capacidade máxima e há descasamento entre oferta e demanda de um derivado eleva seu preço, atraindo oferta de outras regiões. Quanto mais rápida e menos custosa é a chegada de suprimento externo, mais rápido os saltos de preços serão corrigidos. O preço, então, tenderia a retornar ao preço inicial pela existência de interligação de transporte e infra-estrutura que garantam o influxo de produtos de outras regiões. Caso contrário, as alterações de preços nestas regiões tendem a ser maiores e duradouras. Como exemplo desta situação, menciona-se o mercado californiano de gasolina, que se constitui num dos mercados que apresentam maior volatilidade de preços de gasolina, como se verá mais adiante. Um dos fatores explicativos é o relativo isolamento geográfico deste mercado de fontes alternativas. Um navio com carga proveniente do Golfo Americano leva cerca de 10 dias para chegar a Califórnia [EIA (2003)c]. 2.2.3 - Crescentes especificações técnicas e ambientais Se um mercado local de um determinado produto possui especificações técnicas muito distintas de outras regiões, a possibilidade de suprimento externo se reduz e abre-se maior espaço para a volatilidade do preço de um derivado neste mercado. Exemplo disto pode é a proliferação de diferentes tipos de gasolinas no mercado americano e a relação com a volatilidade de preços nos mercados locais. Desde a aprovação da Emenda Constitucional sobre Ar Puro em 1990 (Clean Air Act Amendments), um grande número de diferentes tipos de gasolinas passou a integrar o mercado norte-americano, uma vez que cada estado tem o poder de definir o tipo de gasolina a ser produzida e comercializada. Até então, os tipos de gasolina se restringiam a três tipos de variações (comum, intermediária e premium) e dois graus de volatilidade diferentes vigentes 38 no Sul e no Norte do país (Reid Vapor Pressure – RVP) [EIA (2002)b]. Exceto por alguns ajustes locais necessários, como no caso de localidade em extrema altitude ou áridas, poucas distinções inter-estaduais eram usadas. O Clean Air Act criou dois tipos de blends: a gasolina oxigenada e a gasolina reformulada (RFG), as quais passaram a integrar o sistema vigente. Cada tipo (oxigenada ou reformulada) teria as três variações (comum, intermediária e premium) com distintos padrões de volatilidade no Sul, no Norte. Quando o programa de gasolina reformulada começou em 1995, diversas dúvidas pairavam sobre a capacidade do parque de refino e do sistema de distribuição em lidar com os tipos adicionais de gasolina. Os dutos transportavam maior diversidade de produtos e obrigou a um aumento no número de tanques intermediários de armazenagem distintos para cada tipo de gasolina. Isto teve impacto também na velocidade com que os produtos eram movimentados no sistema. A indústria respondeu com a eliminação parcial da variação intermediária das gasolinas: as gasolinas comum e premium passaram a ser misturadas nos terminais de armazenagem, ou nos postos de gasolina. Em paralelo a estas transformações em nível federal, os estados também adicionaram diferenciações de tipos de gasolina. A partir dos planos de implementação, voltados a melhoria da qualidade do ar, muitos estados acharam que poderiam atingir significativas quedas nos níveis de emissão a partir de restrições ainda mais severas nos níveis de emissão das gasolinas comuns. Como os custos de produção de gasolinas com baixo nível de emissão (low RVP) eram menores que os custos de produção da gasolina reformulada, alguns estados optaram pela primeira alternativa. O estado da Califórnia estabeleceu um tipo de gasolina ainda mais “limpo” do que a gasolina reformulada estabelecida em nível federal (Californian reformulated gasoline) e a região do Meio Oeste definiu uma mistura única de gasolina reformulada com etanol (ethanol-blended reformulated gasoline). Este processo resultou no surgimento de 18 tipos distintos de gasolina produzidas e comercializadas no mercado norteamericano. Esta multiplicidade reduz a flexibilidade da oferta em responder a variações na demanda, devido ao grande número de diferentes tipos de gasolina destinado a diminutas parcelas de consumidores e produzidas por um menor número de fornecedores. Face à desequilíbrios inesperados entre oferta e demanda em uma dada região, o mercado tem menor capacidade para solucioná-los. Como resultado, os preços regionais tendem a sofrer variações contínuas e os aumentos podem durar por semanas. Dessa maneira, estados que optaram por gasolinas com baixo nível de emissão, preferiram trocar menores custos de produção por maiores custos de distribuição e instabilidade de preços. 39 No caso californiano, por exemplo, as refinarias operam próximas de seus limites de dispondo de pequena margem para variações inesperadas de demanda. Mais ainda, a especificação técnica da gasolina californiana torna difícil o suprimento externo, uma vez que não é imediata a sua produção por parte de outras refinarias. Assim, o mercado californiano de gasolina é o que apresenta maior volatilidade de preços dentre os mercados norteamericanos (gráfico 3). Gráfico 3 Comportamento dos preços da gasolina: Califórnia versus média norte-americana (jan/95 a maio/03) Fonte: EIA (2003c) 2.2.4 - Sazonalidade da demanda A demanda por derivados é relativamente inelástica ao preço no curto prazo em função, da baixa capacidade de substituição dos derivados por parte dos consumidores e apresenta sazonalidades. A demanda por gasolina, por exemplo, tende a ser maior nos meses de verão, em função das viagens de férias. Nos EUA, por exemplo, a demanda por gasolina aumenta de 5 a 6% nos meses de verão [EIA (2001)]. Nos países frios, a demanda por óleo diesel (heating oil), tende a aumentar no inverno. Como estas sazonalidades afetam o equilíbrio entre oferta e demanda, os preços tendem a variar conforme a sazonalidade do consumo de cada derivado. Dessa maneira, mesmo que não haja variação nos preços internacionais do petróleo cru, em função da sazonalidade na demanda, os preços dos 40 derivados podem apresentar maior diferencial em relação aos preços do petróleo. Este diferencial tende a ser maior, ou mais variável quanto mais “inesperado” o aumento da demanda. 2.2.5 - Condições de competição ao longo da cadeia O repasse de preços ao longo da cadeia até o consumidor não é uniforme. Embora, se possa assumir que os diferentes ofertantes nos distintos elos da cadeia busquem cobrir seus custos e ter lucro, os vendedores diferem em suas políticas de preços em função das diferentes percepções sobre a reação dos concorrentes e consumidores. Assim, a forma de repasse depende em primeiro lugar, do número de intermediários entre a refinaria e o consumidor. Uma firma verticalmente integrada com boa produção doméstica de petróleo pode ter uma política de preços mais baixos nos seus postos de varejo de modo a aumentar o volume de venda de derivados e assim manter um fluxo constante de receitas. Um varejista independente pode adotar a mesma estratégia para aumentar sua participação no mercado. Firmas verticalmente integradas podem ter estratégias distintas relativas a outros elos da cadeia e são estruturas de governança que “economizam” em margens de lucro e custos de transação [Williamson, (1985)]. Por outro lado, a presença de poucas firmas verticalmente integradas reduz a possibilidade de entrada de pequenos ofertantes, além de permitir práticas restritivas de competição entre distribuidoras e postos de revenda, diminuindo a rivalidade entre as empresas. Quando preço do derivado varia, os ofertantes podem optar por cotar seus produtos para a venda de acordo com o custo da compra mais recente e adiantar o aumento de preços, ou mesmo retardar repasses através de redução de margens. Como nem todos os produtos são destinados aos mesmos elos da cadeia à jusante - alguns são vendidos diretos para grandes consumidores, outros são vendidos à rede distribuidora da própria refinaria, a distribuidores independentes, ou a postos da mesma distribuidora, a estrutura da cadeia (número de elos intermediários até o consumidor e poder de barganha dos mesmos) e as condições de competição ao longo da cadeia podem servir para ampliar ou mesmo amortecer as variações de preço no nível da refinaria. “It is useful that the prices of petroleum products to consumers reflects costs plus market conditions, and those market conditions may augment or prevent a penny for penny passthrough of cost increases at any stage of the market.” [EIA (2003)a] Em função de diferentes estruturas locais de mercado e das estratégias dos ofertantes desde a refinaria até o consumidor, o preço do varejo pode apresentar movimentos assimétricos em relação ao mercado spot [EIA (1999)]. Os movimentos de preços entre o 41 mercado spot e o varejo podem apresentar dois tipos de assimetria: assimetria de montante (amount assimetry) e assimetria de padrão (pattern assimetry). Simetria de montante significa que uma variação no preço do mercado spot se reflete em uma variação de mesma magnitude no preço ao consumidor. Simetria de padrão significa que variações positivas e negativas de preços no mercado spot são repassados no mesmo ritmo ao consumidor. Cabe atentar para o fato de que o ajuste de preços entre os diferentes elos da cadeia não são imediatos mas levam tempo, em função da presença de estoques ceteris paribus. Por exemplo, num determinado mercado verificou-se que o tempo necessário para o ajuste de preços ao consumidor a variações no mercado spot é de 5 semanas. Assim, se o preço no mercado spot variar em x centavos, o preço ao consumidor deve registrar essa variação total na quinta semana após o reajuste. Se isto ocorre, diz-se que existe simetria de montante. Por outro lado, se uma variação positiva de preço no spot for verificada já na primeira semana após o reajuste a montante, enquanto variações negativas levam as cinco semanas para se refletir nos preços ao consumidor (supondo simetria de montante), diz-se que existe assimetria de padrão, isto é, aumentos de preços no mercado spot são repassados de maneira mais rápida ao consumidor do que reduções de preço. Além disso, podem ocorrer combinações destes dois movimentos. A existência de um tempo necessário à passagem de variações entre os diferentes elos da cadeia torna complexa a identificação precisa destes movimentos ao longo da cadeia. De toda forma, a existência de movimentos assimétricos de montante negativos, ou seja, um aumento de preços no spot se reflete num aumento de menor magnitude no varejo, pode indicar que as próprias forças de mercado operam no sentido de amortecer preços a partir de variações nas margens de lucro ao longo da cadeia. Por outro lado, se a assimetria for positiva, um aumento inicial no spot pode implicar uma variação ainda maior nos preços do varejo, o que indica que não só o poder de mercado para repassar todo aumento de preços e ainda se beneficiar do comportamento inelástico do consumidor para ampliar as margens. Mesmo na ausência de assimetria de montante, uma estrutura de mercado mais concentrada pode se beneficiar através de ajustes assimétrico em termos de padrão, isto é, os preços no varejo apresentam maior rigidez a quedas do que à elevações. Para demonstrar o papel da estrutura de mercado no amortecimento de preços ao consumidor, toma-se por base os dados apresentados no gráfico 4 sobre o comportamento dos preços médios no varejo e no mercado spot da gasolina no mercado em questão. 42 Gráfico 4 – Preços da Gasolina no Varejo e no mercado spot : média semanal no mercado americano Varejo Preço Varejo, Cents por Galão Preço Spot, Cents por Galão Fonte: Burdette & Zyren, 2003 A partir do gráfico pode-se perceber que as variações de preços no varejo são mais “suáveis” que no mercado spot. Além disso, nota-se também que há defasagens temporais entre os movimentos no mercado spot e os do varejo. Burdette & Zyren (2002 e 2003) realizam dois estudos distintos sobre a forma de repasse de 10 centavos nos preços spots da gasolina e do diesel pelos elos da cadeia até o consumidor. No caso da gasolina, o estudo conclui que, em média, mais de 50% deste aumento é repassado nas duas semanas seguintes ao aumento de preços, sendo totalmente repassado num período médio de sete semanas. Ressalta-se que este é um padrão médio.Na Califórnia, por exemplo, no período de sete semanas, o aumento médio no varejo é de 9,2 centavos por galão, havendo repasse, apenas parcial aos consumidores. Já na região do Meio Oeste, o aumento é totalmente repassado em 4 semanas. A explicação dos autores para o rápido repasse de preços ao consumidor na região reside na proximidade das fontes de suprimento do centro consumidor. No caso do diesel, há um aumento de 5 centavos nas duas primeiras semanas e de pelos menos 8 centavos em 4 semanas. Na média, o repasse integral ao mercado demora as mesmas sete semanas. Embora apresentem a mesma média no tempo de repasse, os aumentos nos preços varejo do diesel são maiores nas primeiras semanas, o que é explicado pelos autores 43 pela estrutura mais simples de revenda do diesel, com menor número de atravessadores e menor complexidade na distribuição. 11 A princípio o estudo revela que não haveria assimetria de montante relativo a variações de preços no varejo na média do mercado norte-americano, aumentos ou reduções no mercado spot são repassados na mesma magnitude ao varejo no tempo médio de 7 semanas. Burdette & Zyren (2003) afirmam que a percepção generalizada de que existiria uma rigidez à baixa dos preços do varejo, se deve ao fato de que uma redução nos preços do mercado spot se realizem em um momento no qual o varejo ainda está repassando ao consumo parte da alta passada de preços. O efeito líquido dos atrasos no repasse é uma redução de preços menor nos momentos subseqüentes aos movimentos no mercado spot, o que pode indicar assimetria no padrão de comportamento. O estudo conclui que há pouca diferença entre os preços atuais observados no varejo e as previsões de preços a partir de movimentos no mercado spot com a devida defasagem de tempo. O estudo afirma também não haver evidência de irregularidades na competição nos mercados de varejo de diesel e gasolina de modo agregado, uma vez que não há evidência de assimetria nos movimentos de preços (preços rígidos a queda). Em estudo anterior realizado com o mesmo objetivo, o US General Accounting Office (GAO) [EIA (1999)], aponta evidências de assimetria de padrão no movimento de preços no mercado de gasolina americano. As explicações para a rigidez dos preços ao consumidor a quedas nos preços à montante seriam: incerteza sobre a permanência da redução dos preços no atacado e do preço do petróleo cru durante choques de preços, e inelasticidade de curto prazo da demanda por gasolina e o padrão de competição no varejo, no qual predomina a liderança tácita de preços, isto é, os varejistas esperam até que seu concorrente resolva elevar ou reduzir preços. Porém, na ausência de choques, o GAO, chega à mesma conclusão de que os preços no varejo acompanham os preços no atacado e as assimetrias seriam pouco sgnificativas. Para efeitos desta dissertação o resultado mais interessante a ser destacado é o fato de que no caso americano, observado pela sua média, as próprias forças de mercado se encarregam de amortecer as variações do mercado spot ao varejo. A indústria norte-americana é composta por quase 700 mil empresas, na qual co-existem empresas grandes e verticalmente integradas e pequenas distribuidoras com alguns postos de serviço e um caminhão. Pela sua 11 O diesel nos EUA não é usado em caminhonetes, somente por ônibus e caminhões, assim as vendas no varejo são realizadas principalmente próximo às auto-estradas. 44 constituição pioneira e peculiar esta indústria é considerada a mais competitiva em todos os segmentos. 2.3 - Volatilidade e Impactos Econômicos A volatilidade de preços de petróleo e derivados têm diversos efeitos econômicos. Do ponto de vista macroeconômico, menciona-se os impactos nos níveis de preços, na arrecadação fiscal, uma vez que a tributação sobre as atividades da cadeia é uma importante fonte de receita governamental; no Balanço de Pagamentos, tanto de países exportadores, dependentes da renda em divisas oriundas das transações externas, como países importadores. Como estes efeitos assumem diferentes proporções em função da estrutura econômica e industrial de cada país, buscou-se focar neste trabalho os impactos microeconômicos da volatilidade, principalmente na alocação de recursos no setor e no bem-estar dos consumidores. 2.3.1 - Alocação de Recursos Os preços são o principal veículo de informações para a alocação de recursos numa economia de mercado. No caso da indústria de petróleo, preços voláteis não são capazes de cumprir esta função gerando distorções alocativas. No tocante a oferta de petróleo, embora esta seja, relativamente inelástica ao preço no curto prazo, no longo prazo, há maior sensibilidade ao nível de preços correntes e esperados. Nas atividades de exploração, os investimentos são capital-intensivos e há elevado risco geológico associado à prospecção e identificação de novas reservas. De acordo com Clô (2000), embora investimentos em pesquisas geológicas ampliem a probabilidade de descoberta de novas reservas, a efetiva descoberta só ocorre com a perfuração de poços. Ademais, após a descoberta de uma jazida, não existe garantia de que a produção e a comercialização deste petróleo seja lucrativa, uma vez que isto depende do nível corrente de preços. Assim, a volatilidade de preços aumenta a incerteza com relação aos preços esperados no momento da produção, o que torna as empresas mais relutantes a investir. Pyndick (2001) explica o efeito da volatilidade de preços sobre o nível de produção, a partir do conceito de opção real. Conforme descrito anteriormente, um detentor de reservas têm a opção de retirar o petróleo do reservatório, que é exercida caso o retorno supere o custo. Maior volatilidade de preços tende a aumentar o valor da opção de manter a reserva no solo, o que pressiona o nível de preços correntes. Também foi explicado o impacto da volatilidade de preços sobre a demanda por estoques, que são positivamente relacionados. O autor ressalta 45 que a volatilidade é um determinante fundamental do valor de derivativos financeiros (contratos futuros e opções) e opções reais como reservas não desenvolvidas de petróleo e gás natural O World Energy Outlook (2001) testa estatisticamente a relação entre volatilidade de preços e nível de investimentos na indústria de petróleo. O estudo conclui que a sensibilidade do investimento em relação a volatilidade é de – 0,11, o que demonstra que o aumento da volatilidade afeta negativamente o nível de investimento. Com a redução nos investimentos em produção, a indústria apresenta uma relação estreita entre demanda e oferta. Quanto mais próxima esta relação, maior é o potencial para a volatilidade dos preços, pois diminui a capacidade da oferta em responder a variações inesperadas de consumo. Nesse sentido, a própria volatilidade fornece sinais negativos às empresas, que passam a demandar um maior prêmio de risco para efetivar os investimentos na indústria, retro-alimentando o efeito anterior. 2.3.2 - Bem-estar do consumidor A volatilidade tem diferentes implicações, em sua maioria negativas, ao bem-estar do consumidor, pois dificulta a capacidade de planejamento e financiamento do consumo. Ressalta-se três efeitos distintos sobre o bem-estar do consumidor decorrentes: i) da possibilidade de arbitragem do consumo; ii) da aversão ao risco; iii) da existência de custos no ajuste do consumo e iv) dificuldade de acesso a instrumentos de proteção. Inicialmente a literatura econômica sobre os efeitos de preços voláteis no bem-estar do consumidor versava apenas sobre o efeito arbitragem. A arbitragem representa a possibilidade de transferência intertemporal no consumo e assim, se o consumidor for capaz de reduzir seu consumo em períodos de preços elevados e aumentar seu consumo em períodos de preços mais baixos, ele, de fato, pode se beneficiar de variações exógenas nos preços das commodities. O efeito arbitragem proposto por Waught [(1944) apud Massel (1969)] está baseado na seguinte esquematização gráfica: Figura 2 – Efeito da arbitragem de consumo de commodities sobre o bem-estar do Consumidor O1 P2 µP P1 f a c b d O2 e D Q 46 Waught (1944) segue o conceito marshalliano de bem-estar representado pelo excedente do consumidor, o qual é calculado pela área compreendida entre o nível de preços e a curva de demanda. O gráfico analisa a variação no excedente do consumidor promovido por dois fatores: elevação no nível de preços de P1 para P2; e uma política de estabilização de preços pela sua média (µp= ½(P1+P2)). Na figura anterior, quando o preço é P1, o excedente é dado pela soma das áreas a+b+c+d+f. Se o preço sobe para P2, por uma variação exógena da oferta, o excedente do consumidor passa a ser representado por f. Se a ocorrência de preços alto (P2) e baixo (P1) ocorrem com probabilidade de ½, o excedente esperado do consumidor é E (G )= f + ½ (a+b+c+d+f). Suponha que o preço seja estabilizado em µp. Nesta situação, o excedente do consumidor é a soma das áreas a+b+f. Quando o preço de mercado for P2, o consumidor que teria excedente apenas da área f, ganha a área a+b por conta da estabilização de preços. Porém, se o preço de mercado for P1, o consumidor teria o excedente de a+b+c+d+f, fica com excedente de apenas a+b+f. Pela inclinação negativa da curva de demanda, a área c+d perdida pelo consumidor pela estabilização é maior que a área a+b ganha. O resultado líquido de uma estabilização de preços é negativo para o consumidor. A partir desta análise o consumidor teria maior bem-estar na ocasião de preços variáveis. Massel (1969) parte do mesmo pressuposto, mas objetivou avaliar o efeito conjunto de preços voláteis sobre o bem-estar de produtores e consumidores de uma commodity. O autor assume que os indivíduos são neutros ao risco e que a mercadoria em questão tem um baixo peso no orçamento do consumidor. De maneira geral, o modelo de Massel considera curvas de demanda e oferta lineares do tipo S = αP + x e D = y – ΒP, nas quais x e y são variáveis aleatórias conjuntamente distribuídas e independentes, com medias µx e µy e variâncias σ2x, σ2y, que representam distúrbios aleatórios na demanda e na oferta, determinados por diferentes tipos de fatores independentes. Considerando que a média de preços, µP, é conhecida e se constitua no preço de referência para estabilização, o preço seria igual a µp= (µy – µx )/ a+b. Calculando o valor esperado do aumento no excedente do produtor (Gp) em função da estabilização, tem-se: E(Gp) = [(α +2Β) σ2x - σ2y] / 2 (α+β)2. De maneira análoga, o valor esperado do aumento no excedente do consumidor (Gc) decorrente da estabilização de preços é: E (Gc) = [ (2α +Β)σ2y - Βσ2x] / 2 (α+β)2. O ganho social de um programa de estabilização é dado por E(G) = E (Gp) + E (Gc) = (σ2y + σ2x) / 2 (α+β), o qual é necessariamente não negativo. Isto indica que o ganho líquido para a sociedade de um 47 programa de estabilização de preços é positivo e abre a possibilidade de compensação entre produtores e consumidores. A análise de Massel (1969) apresenta um benefício associado a planos de estabilização de preços de commodities em função da compensação entre consumidores e produtores por ganhos e perdas advindos de variações nos preços. Esta análise, parte da hipótese que consumidores e produtores possam prever as variações positivas e negativas de preços, e os ganhos advindos da possibilidade de arbitragem se efetivem. Entretanto, em um ambiente de preços voláteis, os consumidores não têm esta capacidade de previsão e se tornam, portanto, agentes avessos ao risco. Newbery & Stiglitz (1981)12 desenvolvem uma análise rigorosa e extensa dos efeitos de planos de estabilização de preços de commodities sobre consumidores e produtores a partir da hipótese de aversão ao risco. Além disso, os autores adotam a hipótese de implementação de planos de estabilização parcial, isto é, planos que amenizem a volatilidade mitigando os riscos para produtores e consumidores. Neste sentido, como a estabilização de preços é apenas parcial, os consumidores ainda podem beneficiar-se dos efeitos de transferência intertemporal do consumo, quando viável. Agentes avessos ao risco são aqueles que preferem uma ação com retorno garantido, por exemplo, Ỳ a outra com retorno arriscado, mas de mesmo valor esperado E(Y). Para um agente avesso ao risco a satisfação (utilidade) proporcionada por um retorno garantido, U (Ỳ) é maior do que o valor esperado da utilidade do retorno de Ŷ, onde Ŷ = Ỳ+ δ com probabilidade ½ ou Ŷ = Ỳ-δ com probabilidade de ½. Assim, E U (Ŷ)= ½ ( U (Ỳ+ δ) + U (Ỳ – δ))13 A diferença entre a utilidade do retorno garantido, U (Ỳ) e E U (Ŷ), é chamado de custo do risco. Outra forma de se calcular o custo do risco para um agente é associar EU(Ŷ) ao valor da utilidade de um valor Ÿ, isto é EU(Ŷ) = U (Ÿ). A diferença entre Ỳ - Ÿ é chamada de prêmio de risco, representado por ρ . Newbery e Stiglitz (1981) mostram que ρ / Y, isto é o prêmio de risco sobre o retorno de uma ação é aproximadamente ½ R σ2y, onde R = coeficiente de aversão ao risco do agente, e σ2y, é a variância do retorno. A partir desta base, os autores mostram que o benefício para o 12 Na verdade, os autores desenvolvem um arcabouço de análise a ser aplicado caso a caso que permite avaliar os benefícios do produtor, dos consumidores na redução do risco promovido por um programa de estabilização de preços, bem como os efeitos macroeconômicos em países produtores e consumidores. Como o objetivo desta seção é apenas mostrar que os consumidores obtém benefícios de esquemas de estabilização de preços em função de sua aversão. Sugere-se ao leitor interessado ver Newbery &Stiglitz (1981) como base metodológica a trabalhos posteriores de avaliação de impactos no bem-estar social de plano de estabilização de preços de combustíveis no Brasil. 13 Isto decorre do fato de ser côncava a curva de utilidade do agente avesso ao risco. 48 consumidor de um mecanismo de estabilização parcial de preços em termos da parcela da renda gasta na aquisição do bem é dada por: (B/X)r = ½ R ( 1-α2). αp2 , onde: B representa o benefício ao consumidor, medido em quanto o consumidor estaria disposto a pagar pela estabilidade de preços; R, o coeficiente de aversão ao risco do consumidor e; X, representa a parcela da renda média gasta pelo consumidor na aquisição do bem cujo preço será estabilizado. Levando em conta o benefício da arbitragem que o consumidor pode obter, o qual depende da elasticidade-preço da demanda, da parcela da renda do consumidor gasta com a aquisição da commodity em questão e o coeficiente de aversão ao risco, o benefício total do consumidor terá o mesmo sinal da expressão: X (R – n) + ε, sendo n a elasticidade renda do consumo da commodity e ε a elasticidade preço [Turnovsky apud Frederico et. Al (2001)]14: Além do efeito derivado da aversão ao risco, outro fator que tem impacto negativo sobre o bem-estar dos consumidores refere-se ao custo de ajuste do consumo face a variações de preços. Consumidores de derivados, sejam firmas ou consumidores domésticos, enfrentam custos no ajuste de suas atividades a novos preços. Isso os leva a preferir preços estáveis a preços variáveis, porque têm pouca capacidade de adaptação dos níveis de consumo aos novos patamares de preços. No caso das firmas, os custos estão associados a investimentos necessários a adaptação da tecnologia de produção aos novos preços dos derivados (equipamentos com menor consumo do derivado e/ou substituição por outro tipo de fonte de energia). Uma parcela destes custos se refere a custos irrecuperáveis, o que induz comportamentos de espera dos consumidores postergando o ajuste do consumo aos preços com o aumento da volatilidade. A adaptação do consumo aos níveis de preço depende da magnitude de variação, na percepção sobre a duração do choque e do comportamento dos custos de ajustes. Se um choque de preços é percebido como temporário, os consumidores tendem a manter o mesmo nível de consumo, variando a parcela da renda gasta na aquisição. Por outro lado, se o choque de preços é percebido como duradouro os consumidores sem custos de ajuste, adaptam sua demanda ao nível de preços imediatamente. Consumidores, que apresentem custos no consumo, que sejam fixos podem adotar duas medidas: alteração do nível de consumo, se a magnitude do aumento de preço superar o custo de ajuste, ou não alteração caso contrário [Frederico, et al. (2001)]. 14 Os autores ressaltam que as derivações dos resultados líquidos para o consumidor dependem da fonte de instabilidade dos preços, do peso do bem no orçamento, bem como dos efeitos cruzados dos preços do bem em consideração sobre os mercados de bens substitutos e complementares. Para uma visão mais completa destes possíveis efeitos ver capítulo 17 de Newbery & Stiglitz (1981). 49 Dessa monta, os problemas associados à existência de custos na adaptação do consumo são de duas ordens: i) avaliação – correta previsão da permanência de uma variação de preço; ii) de financiamento. Ainda que o consumidor conseguisse distinguir entre variações de preços permanentes e temporárias, o ajuste gradual dos planos de consumo aos preços tenderia a reduzir os impactos negativos sobre seu bem-estar, mas depende de formas de financiamento a este comportamento. Formas de financiamento incluem a oferta de fundos emprestáveis (crédito) e/ ou acesso ao mercado financeiro. O problema desta alternativa está no limitado acesso do consumidor a linhas de crédito ao consumo. Em particular na indústria de petróleo, as instituições financeiras também são avessas ao risco imposto pela volatilidade de preços, uma vez que esta aumenta o risco de não-pagamento do tomador de empréstimos. Por outro lado, o consumidor isolado também não tem acesso a mercados financeiros de proteção ao risco (como os contratos futuros), pois a utilização destes instrumentos envolve custos e requer uma escala mínima de operações. Dessa forma, as falhas existentes nos mercados de proteção ao risco de mercado impedem o ajuste ótimo dos níveis de consumo aos preços e reduzem o bem-estar do consumidor. Por último, embora não menos importante, preços voláteis reduzem a capacidade do consumidor em pesquisar preços e exercer maior pressão sobre os diferentes elos da cadeia, pois o consumidor perde o referencial de preços. Este fato abre espaço para comportamentos abusivos por parte de revendedores e produtores, pois a sensibilidade da demanda em relação ao preço torna-se ainda menor devido a distorção na percepção dos consumidores acerca do nível de preços. Instabilidade de preços, em especial em estruturas de mercado com baixa rivalidade, abre oportunidade para maior apropriação do excedente do consumidor por parte de distribuidores e revendedores através de repasses assimétricos das variações de preços a montante. 2.4 - Considerações Finais Características técnico-econômicas e geopolíticas específicas da indústria de petróleo e derivados levam ao comportamento volátil dos preços destes. Além disso, instrumentos desenvolvidos com o fim de redução de riscos para os agentes da indústria (transações financeiras e manutenção de estoques) podem inclusive reforçar o potencial de volatilidade. Embora haja grande correlação de preços de petróleo e derivados, condicionantes específicos dos segmentos de refino e distribuição, bem como características dos mercados locais podem ampliar ou amortecer as variações de preços ocorridas a montante da cadeia. Em especial, 50 ressaltou-se o papel das estratégias privadas concorrenciais no amortecimento de variações ao consumidor, a partir do exemplo americano. A volatilidade, por seu turno, exerce efeitos sobre a alocação de recursos no setor (nível de investimento, estoques e produção), e impactos negativos sobre o bem-estar do consumidor, que são ampliados pelas imperfeições no mercado de proteção ao risco e na presença de estruturas pouco concorrenciais na comercialização. Em função destes fatores, abre-se espaço para a ação governamental com vistas ao amortecimento das variações de preços de derivados no mercado doméstico. As opções, os instrumentos e os riscos enfrentados pela ação pública no amortecimento de variações internacionais são objeto do próximo capítulo. 51 Capítulo 3 Papel do Governo na Estabilização de preços de Derivados: Experiência Internacional No capítulo anterior foram vistos os condicionantes e os efeitos microeconômicos da volatilidade de preços. São diversos os fatores que tendem a reforçar estes impactos negativos sobre o bem estar dos consumidores, em particular o restrito acesso a instrumentos de proteção e adaptação dos planos de consumo e estruturas concentradas a montante. Em função destes fatores, políticas públicas voltadas ao amortecimento das variações de preços de derivados no mercado doméstico podem aumentar o bem estar de consumidores intermediários e finais. Todavia, a implementação de tais políticas envolve custos e riscos fiscais e dessa maneira, os benefícios da ação governamental devem ser ponderados por seus custos. Esta avaliação custo benefício é fundamental para a constituição de instrumentos que atuem como amortecedor de choques, mas que não exponham demasiadamente as contas públicas. Além disso, deve se ter em conta que intervenções estatais na economia podem ocasionar distorções na alocação de recursos e na estrutura industrial. Nesse sentido, os instrumentos a serem utilizados devem prezar a neutralidade econômica da ação pública. O objetivo deste capítulo é mostrar os dilemas enfrentados pela ação pública na definição de políticas voltadas ao amortecimento de preços (seção 3.1), as opções de instrumentos e regras a serem definidas, bem como as vantagens e desvantagens associados a cada um (seção 3.2) e experiências internacionais que sirvam para ilustrar os pontos em questão. Por último seguem-se as considerações finais do capítulo. 3.1- Dilemas na definição de política públicas para o amortecimento de preços domésticos As políticas públicas de “controle” ou monitoramento dos preços de derivados, de um modo geral, procuram atenuar os efeitos macroeconômicos - mais evidentes do ponto de vista governamental - das variações de preços os preços dos derivados, quais sejam, o impacto sobre o nível de preços, sobre a arrecadação tributária e sobre o Balanço de Pagamentos. Os governos enfrentam dois dilemas básicos na implementação de políticas de preços: i) neutralidade versus benefícios sociais e ii) melhoria do bem estar do consumidor versus exposição das contas públicas. O primeiro dilema refere-se ao princípio da neutralidade, o qual estabelece que a intervenção pública não deve interferir nas decisões de consumo e alocação de recursos produtivos na economia (decisões de produção e investimento). Conforme ressaltado no capítulo anterior, os preços exercem um papel de sinalizador das decisões de alocação de recursos em economias de mercado. A teoria microeconômica, a partir dos modelos de equilíbrio geral, postula que a formação de preços pelas livres forças da oferta e procura gera um resultado eficiente. Intervenções exógenas sobre o sistema de preços geram ineficiências e distorções. No caso em questão, uma política voltada ao amortecimento das variações internacionais, pode gerar distorções, em primeiro lugar nas decisões de consumo. Segundo Frederico et al. (2001), dependendo do instrumento utilizado, pode-se gerar um diferencial entre os preços domésticos dos combustíveis e seus custos de oportunidades, dados pelos preços internacionais. Esta situação leva a existência de um excesso de demanda sobre a oferta interna que acabaria por pressionar para cima o preço doméstico. Por outro lado, tal política permite a arbitragem, especialmente entre mercados nacionais próximos geograficamente. A arbitragem surgiria pela possibilidade de ganho econômico decorrente da compra de derivado no país cujo preço estivesse abaixo do preço internacional e venda em outro. Esta possibilidade elevaria a demanda por derivados no país que implementa um mecanismo de amortecimento de preço, o que comprometeria o funcionamento do mecanismo. Em sentido oposto, Newbery & Stigler (1981) reconhecem este “dilema”, porém ressaltam que, em mercados nos quais os preços são voláteis, estes veiculam, não apenas informações acerca das condições de oferta e demanda, mas também, uma série de outros elementos, inclusive comportamentos especulativos de agentes externos à indústria. Dessa maneira, os preços nestes mercados não exercem seu papel de sinalizador de decisões de alocação de recursos e, por isso, são incapazes de gerar resultados eficientes. “For the moment we only wish to emphasize that in markets in which there is as much imperfection of information as characterize those for many agricultural commodities there is no presumption that market allocates resources efficiently. Thus, there is a distinct possibility that government intervention, e.g, to stabilize prices, could improve economic efficiency. (…) a study such as this is necessary, even for economies in which prices adjust smoothly to clear markets which are competitive.”[Stiglitz & Newbery, 1981, p. 25] 53 Nesse sentido, deve-se relembrar o efeito negativo da volatilidade dos preços internacionais de petróleo nas decisões de investimento em desenvolvimento e produção de petróleo. Essa distorção tende a agravar a volatilidade dos preços. Além disso, do ponto de vista teórico, preços livres somente geram resultados eficientes na presença de mercados perfeitamente competitivos, perfeita informação, inexistência de falhas de mercados e economias de escala. Ainda sobre a neutralidade, um instrumento a ser implementado pelo governo no amortecimento de preços não deve interferir no grau de risco percebido por investidores privados na indústria [Postalli (2002)]. Se isto ocorre, o instrumento tem como efeito negativo distorções nos níveis de investimento e produção. Este ponto é de particular interesse para o caso brasileiro dado o objetivo perseguido pelas reformas institucionais de atração de investimentos e diversificação das opções de oferta no mercado de combustíveis e será retomado no próximo capítulo. O segundo dilema enfrentado pelos governos refere-se aos custos fiscais de suas ações vis-à-vis os benefícios sociais. A intervenção pública no amortecimento de variações de preços pode gerar custos fiscais através do pagamento de subsídios aos produtores ou consumidores. Os custos fiscais efetivos incorridos em uma política deste tipo podem, ou melhor, devem ser compensados pela construção de mecanismos de amortecimento eficientes, isto é, cujos custos sejam cobertos pelas receitas geradas em momentos de queda de preços e vice-versa, de modo a não haver nem a acumulação de recursos nem de dívidas. Ver-se-á mais adiante, todavia que a construção de mecanismo com tal eficiência está sujeita ao risco decorrente da volatilidade de preços. Caso o mecanismo de amortecimento seja construído a partir de variações nos impostos sobre combustíveis, pode-se alegar a existência de um outro tipo de custo fiscal: um custo de oportunidade, decorrente da renúncia à receita tributária que seria recebida caso não fosse implementada a política. Porém, tal alegação é infundada. De acordo com Frederico et al (2001), a tributação sobre derivados de petróleo é uma grande fonte de receita fiscal para países em desenvolvimento. A participação deste segmento sobre o nível de arrecadação destes países varia entre 7 a 30 %, em função da elevada carga tributária sobre o setor. Assim, os autores salientam que haveria grande espaço para a atuação governamental no amortecimento de variações ao consumidor através de variações no nível de arrecadação. 54 Segundo Hossain (2003), em muitos países com problemas fiscais, o aumento de impostos sobre combustíveis é uma alternativa rápida para elevação de receitas. Do ponto de vista social, este tende a ser um mecanismo perverso e regressivo pois, recai exatamente sobre produtos não passíveis de substituição pelos consumidores. Logo, se o objetivo público é o aumento de receitas tributárias, a alternativa preferível seria a elevação geral nos níveis de impostos sobre valor agregado ou renda. Para o autor, o governo não deveria pautar o financiamento de suas atividades pela tributação específica sobre determinadas mercadorias. A tributação setorial tem por base outros objetivos setoriais tais como, a correção de externalidades no uso das mercadorias (efeitos ambientais, desgaste de estradas e rodovias) e a proteção a variações abruptas de preços. Dessa forma, a variação de impostos no setor de combustíveis não representa renúncia fiscal, mas sim, a adequação da tributação específica ao seu fim. 3.2 - Regras e instrumentos de amortecimento de preços de derivados ao consumidor A definição de uma política de preços de derivados inicia na escolha entre uma das seguintes opções: i) permitir a livre formação de preços; ii) permitir repasses parciais das variações internacionais; iii) impedir qualquer repasse de variações através da fixação de preços. Na primeira, não há intervenção pública e os preços são formados livremente. A segunda pressupõem algum grau de intervenção pública com o fim de restringir os repasses de preços ao mercado doméstico, ou definir as formas de repasse. Na terceira opção verifica-se o total controle de preços, com o governo definindo os preços nos diferentes estágios ao longo da cadeia. Dentre as três, a que apresenta maiores vantagens do ponto de vista econômico é a segunda, pois possibilita amenizar os impactos negativos sobre o bem-estar do consumidor sem exercer excessiva sobrecarga às contas públicas. Mais ainda, esta alternativa não elimina os incentivos à adaptação dos níveis de consumo visto que permite oscilações de preços, apenas influenciando no seu ritmo. Por esses motivos, as alternativas apresentadas nesta seção são de políticas voltadas ao repasse parcial de variações internacionais aos preços domésticos de derivados. As políticas de repasse parcial de variações internacionais aos preços domésticos podem ser discricionárias ou seguir uma regra pré-estipulada. A vantagem na adoção de políticas discricionárias está na sua flexibilidade que assegura ao governo o poder para avaliar 55 o melhor momento de repasse de uma variação internacional ao mercado doméstico. O governo pode avaliar a magnitude e a duração das variações e decidir sobre o melhor ritmo de repasse ao mercado doméstico para mitigar os impactos sobre a economia. É evidente que pode haver erros de avaliação, como por exemplo, o governo pode identificar uma variação duradoura de preços como temporária e, com isso, retardar o repasse ao mercado e comprometer sua situação fiscal. O importante a destacar, como salientado por Frederico et al. (2001), é que a avaliação do governo, em geral, está baseada em objetivos políticos como controle inflacionário ou metas de arrecadação. Ou seja, o governo pode retardar por longos períodos o repasse de aumentos com o fim de conter a inflação, ou ainda, não repassar quedas de preços internacionais em função de seus objetivos de arrecadação fiscal. Um dos instrumentos para se efetuar uma regra discricionária é através da política de preços de empresa estatal no setor. Este tipo de alternativa pode proteger as contas públicas (strictu sensu) da volatilidade de preços, transferindo à estatal os custos da intervenção. Este tipo de alternativa pode comprometer o resultado da empresa e sua política de investimentos. Além disso, em países nos quais a indústria de petróleo passou por processos de abertura e reformas institucionais, este tipo de opção pode dificultar a entrada de novas empresas na indústria e ser portanto, não-neutro do ponto de vista industrial. A segunda opção de atuação é através de ajustes automáticos dos preços domésticos com base em uma regra pré-estabelecida que defina as condições e o ritmo de repasse. A vantagem da adoção de regras está na minimização da interferência de fatores políticos, vantagem que só é clara quando a regra é robusta e obriga a sua observância nas situações definidas. Se a observância à regra se verifica, a intervenção pública através da mesma revelase neutra a investimentos de outras empresas. O cálculo econômico de firmas que pretendam ofertar combustíveis neste mercado fica protegido da incerteza proveniente de intervenções públicas imprevistas. A construção de regras de repasse deve ter por princípio, garantir variações graduais de preços, estimular comportamento de adaptação por parte dos consumidores, complementar a atuação do setor privado na auto-proteção e zelar pela sustentabilidade fiscal do governo[Frederico et al. (2001)]. Dentre as fórmulas de ajuste automático, Frederico et al (2001) descrevem três tipos de regras básicas: médias móveis; gatilho de preços; e regras de máximo e mínimo. A regra de médias móveis define que o preço no varejo (ou ex-refinaria) seja determinado pela média dos preços passados no mercado spot. Quanto maior o período de 56 tempo escolhido para base de cálculo da média, maior é o efeito amortecedor obtido nas variações de preços no mercado doméstico. Sob esta regra, os preços seguem os mecanismos de mercado e não há nenhuma imposição externa quanto ao nível de preços. Sua desvantagem está no fato de não haver discriminação entre grandes e pequenos choques e, por isso, pode não fornecer os incentivos adequados para a adaptação de comportamento. Simulações realizadas por Frederico et al. (2001) mostram que este tipo de regra permite amortecer cerca de 30% no desvio padrão das variações de preços de petróleo quando adotada a média de preço dos três últimos meses. O impacto fiscal decorrente da implementação da mesma regra de “três meses” seria da ordem de 0,1% do PIB para um país “típico importador” 1 a cada ano. As regras de gatilho definem que os preços domésticos são reajustados toda vez que houver uma variação de X % positiva ou negativa no preço internacional do petróleo ou do derivado em questão, em um determinado período. Após o reajuste, tem-se o novo preço focal. Esta regra permite a proteção dos agentes domésticos a pequenas variações de preços, mas torna a economia vulnerável a grandes variações de preços. As simulações realizadas pelos autores apontam que este tipo de regra não seria a opção mais adequada ao amortecimento da volatilidade, pois pode inclusive ampliar o desvio padrão das variações de preços, como é o caso em que o “gatilho” é definido em 30%. Nos casos em que as variações são elevadas, este tipo de regras gera benefícios fiscais, uma vez que pela observância estrita da regra, os preços são considerados constantes: pequenas quedas de preços não seriam repassadas ao mercado doméstico e as grandes elevações, ainda que menos freqüentes seriam repassadas ao consumidor. A regra de gatilho portanto, tem a vantagem de proteger o governo de grandes choques fiscais e evitar custos de transação, caso o objetivo fosse o maior alinhamento de preços domésticos aos internacionais. O terceiro tipo de regra é a de máximos e mínimos, na qual se define uma banda de variação para o preço doméstico em relação ao preço internacional. Esta banda de variação é garantida através da aplicação de uma taxa pelo governo, quando o preço cai abaixo do “piso” estabelecido, e de um tipo de compensação (subsídio, ou crédito) às firmas quando o preço 1 As simulações realizadas pelos autores se dão com base em um país “típico importador”, o qual foi obtido pela média dos dados de países importadores líquidos em 1999. A razão da balança comercial de petróleo sobre o PIB, média para os países da amostra dos autores (países em desenvolvimento – descritos na seção 3.3), foi de 3%. Com base neste parâmetro, os autores realizam simulações sobre o percentual de redução no desvio padrão das variações percentuais mensais dos preços spot do cru, entre 1987 e 2000. Não há especificação de qual o cru de referência. Além disso, as simulações avaliam qual a magnitude do choque fiscal produzido por cada regra de amortecimento, ano a ano, e o efeito acumulado no período considerado. 57 ultrapassa o teto pré-estabelecido. Esta regra fornece estímulo aos consumidores a se ajustar a pequenas variações de preços, e ao mesmo tempo os protege de grandes variações. Como desvantagem tem-se que ela não é adequada a choques persistentes de preços, o que obrigaria a complementação da regra por outros instrumentos que possibilitem o ajuste da banda de variação. A experiência internacional mais conhecida é o caso chileno. Frederico et al. (2001) simulam três tipos de regras Max-min, sendo duas com preços rígidos (US$ 18,50/barril e US$ 20/barril) e uma na qual o preço focal é obtido a partir de uma média móvel. Preços focais fixos promovem maior proteção contra a volatilidade externa, porém, se constituem na opção de maior risco do ponto de vista fiscal. No primeiro caso, o governo teria déficits acumulados no período considerado pelos autores entre 1987 e 2000, e no segundo caso, teria superávits, o que demonstra que o risco fiscal depende da correta estimativa do preço futuro do petróleo. No caso do preço móvel, as variações orçamentárias são sensivelmente menores, uma vez que há ajustes constante do preço focal. Este tipo de regra conta, ainda, com a vantagem de promover o estímulo gradual de comportamento por parte dos consumidores em situações de elevações permanentes de preços2. Por fim, é importante ressaltar o papel dos agentes privados no amortecimento de variações internacionais. Quando os preços são fixados pelo governo, os agentes privados presentes na oferta doméstica absorvem as variações de preços através da variação de margens, até que o novo patamar de preços seja definido pelo governo. No extremo oposto, quando os preços são formados livremente, fica a cargo das firmas vendedoras a decisão pelo ritmo e montante de repasse das variações de preços ao mercado domésticos. Em alguns mercados, conforme visto no capítulo anterior, a estrutura industrial menos concentrada ao longo da cadeia pode operar como atenuante das variações ao consumidor. Dessa forma, uma alternativa de política de amortecimento de preços seria a liberalização de preços e promoção de políticas de aumento da rivalidade na oferta doméstica. 2 Os autores propõem como alternativa para o manejo do risco fiscal decorrente de tais políticas, a utilização pelos governos de mecanismos financeiros de hedge como mercados futuros e de opções. No caso dos mercados futuros, estes garantem maior nível de segurança com relação aos preços domésticos no futuro, porém impedem o governo de repassar eventuais quedas nos preços internacionais, pois o imobiliza nas posições futuras. No caso do mercado de opções, haveria maior flexibilidade, mas a um custo mais elevado. Embora, as alternativas propostas pareçam interessantes, estas apresentam um forte obstáculo à sua adoção por países em desenvolvimento: os elevados custos de participação nos mercados, decorrentes da avaliação do risco de crédito de cada país e o restrito acesso de alguns países aos mercados internacionais. 58 Entretanto, em mercados de longa permanência de estruturas concentradas e organizadas em monopólios estatais, a presença de barreiras a entrada pode dificultar, ou mesmo impedir a completa transição estrutural. “(…) the introduction of market pricing mechanisms is only feasible in a mature oil market and with established investments environment, and that the benefits of market pricing do not simply result from a government lifting petroleum product price regulation. Since investment to build refinery facility and retail outlet of petroleum products is capital intensive and there exist economies of scale in the oil sector, there can hardly be a new entrant where a number of firms have failed to initiate investment in the oil sector in some developing economies despite the government’s liberal stance.” [APERC (2001 )p.28] Como norma geral, pode-se afirmar que a opção de política de preços deve ser um intermediário entre a completa liberalização e o controle de preços, principalmente nos casos em que as estruturas de produção e distribuição de derivados não sejam “suficientemente” competitivas. Em especial nos países em desenvolvimento, há sempre necessidade de alguma forma de intervenção estatal nos preços com o fim de complementar o papel dos mecanismos de mercado no amortecimento das variações externas. Nas palavras de Frederico et al.: “Under some circumstances, price deregulation may not be a viable strategy however. If domestic market conditions are not sufficient competitive, price regulation may be necessary, which implies the government needs to assume responsibility for price smoothing decisions. If this is the case, governments should still consider the option of involving private sector in managing price smoothing activities”[Frederico et al. (2001) p. 24] 3.3- Experiência Internacional As informações apresentadas nesta seção foram obtidas, em sua maioria de fontes secundárias, isto é de pesquisas já realizadas sobre políticas de preços de derivados em diferentes países. Obteve-se ainda, informações complementares de fontes primárias oficiais nos sites de órgãos responsáveis pela regulação setorial nos países pesquisados. Assim, conseguiu-se uma visão geral acerca de políticas de preços de derivados, que permite ilustrar os pontos apresentados nas seções anteriores. Contudo, pelas dificuldades e limitações nas fontes, alguns casos são apenas mencionados. A seção foi dividida entre exemplos de países desenvolvidos e países em desenvolvimento. 59 3.3.1 - Países desenvolvidos A inclinação natural é imaginar que nos países desenvolvidos, as forças de mercado seriam o principal determinante dos preços. O estudo da APERC (2001) sobre as políticas de preços de energia nos países da região Ásia-Pacífico3 região que abrange países desenvolvidos e em desenvolvimento confirma esta afirmativa. Segundo o estudo, nos países desenvolvidos, de um modo geral, a indústria de petróleo é composta por empresas privadas, ambiente de mercado e os preços são determinados com “o mínimo de intervenção governamental”. Os casos a seguir exemplificam o que seria esta “mínima intervenção” e ressalta a importância de instrumentos de atenuação de preços, mesmo em países de origem mais liberal como os EUA. A Agência Internacional de Energia (IEA) é um órgão autônomo criado em 1974 no âmbito da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), para a implementação de um programa de cooperação energética entre 26 dos 30 membros da OCDE4. Dentre as inúmeras publicações deste órgão sobre as políticas energéticas dos países integrantes, o periódico trimestral Energy Prices & Taxes fornece uma comparação dos preços de fontes energéticas e carga tributária nos países membros. A partir do número um de 2003 [IEA (2003), primeiro trimestre], pode-se concluir que pelo menos quatro destes países apresenta alguma forma de controle de preços: Austrália, França, Japão e Espanha. (IEA, 2003). Dentre estes, a experiência australiana, francesa e espanhola merecem maior atenção. O caso australiano é interessante pelos impactos da liberalização de preços sobre o comportamento dos preços domésticos e o debate, pós-liberalização sobre a volta de instrumentos públicos de controle. O país é um importador líquido de petróleo e sua estrutura de oferta de combustíveis é composta por 8 refinarias, com capacidade total de processamento de 840 mil barris/dia. Estas são controladas por quatro empresas: Shell, Caltex, BP e Esso [EIA (2003)d]. Os combustíveis são vendidos a grandes consumidores (firmas) e a postos de varejo, diretamente pelos refinadores, ou por distribuidores integrados ou independentes5. Em 3 Países integrantes do estudo da Ásia-Pacífico: Brunei, Canadá, Chile, Camboja, China, Hong Kong, Indonésia, Japão, Coréia, Malásia, México, Peru, Filipinas, Rússia, Singapura, EUA, Taiwan, Tailândia, Vietnã, Austrália, Nova Zelândia. 4 Os países que fazem parte da IEA: Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá, República Tcheca, Dinamarca, Finlândia, França, Alemanha, Hungria, Irlanda, Itália, Japão, Corea, Luxemburgo, Holanda, Nova Zelândia, Noruega, Portugal, Espanha, Suécia, Suíça, Turquia, Estados Unidos, Reino Unido. 5 Dos distribuidores, 11% vendiam a postos sem bandeira. As oil majors têm participação acionária em metade dos 180 distribuidores no país [ACCC (2003)] 60 2000, existiam 8700 postos de varejo, sendo que deste total 3432 estavam localizados em áreas urbanas segundo a Australian Competition and Consumer Commission [ACCC (2003)]. Os varejistas podem ser classificados em 6 tipos: i) Distributor supplied (controlados por distribuidoras, ou por proprietários independentes com contratos com um ou mais distribuidores); ii) franqueados, isto é postos com contratos de franquias com refinadores; iii)postos independentes, operados por negociadores independentes que fecham contratos diretamente com a Refinaria e que apresentam menor poder de barganha de preços; iv) Cadeias independentes (cadeias de postos independentes supridos por refinadores ou por importações); v) Supermercados e vi) postos diretamente operados por refinadores. Desde de meados da década de 90, o downstream australiano passou por reformas institucionais com vistas ao aumento da concorrência no setor, particularmente através da redução da integração vertical no mercado. Foram implementadas restrições ao número de postos operados diretamente pelos refinadores, e assegurado o livre acesso aos terminais de armazenamento das grandes empresas. Surgiram novas cadeias independentes de distribuidores e cresceu o número de postos de bandeira branca aumentando as pressões competitivas sobre as firmas pré-estabelecidas. Os preços, até 1998, eram regulados pela ACCC que estabelecia preços máximos mensais no atacado para a gasolina e o diesel com base nos preços spot (Singapura, CIF),os quais eram convertidos ao dólar australiano, mais um adicional de componentes locais (custos de transportes, armazenagem, distribuição, uma taxa de retorno médio do capital praticado no setor e impostos incidentes sobre a produção local). Os preços não eram mandatórios, mas as firmas que praticassem preços acima do teto definido, deveriam se explicar junto ao órgão da concorrência. Com a abertura do mercado, foi eliminado o limite de preços, dado o aumento da competição. Mesmo assim, a agência continuou realizando o acompanhamento de preços, no atacado e ao consumidor, e manteve a divulgação semanal dos preços de paridade de importação, que servem de referência aos preços domésticos. Em março de 2001, o governo encomendou à comissão um estudo sobre o comportamento de preços ao consumidor pós-liberalização que incluísse a avaliação sobre a necessidade de imposição de limitadores às oscilações de preços. O estudo realizado [ACCC (2001) e (2003)] nas principais regiões metropolitanas do país (Sydney, Melbourne, Brisbane, Adelaide, Perth), revelou que os preços da gasolina ao consumidor se tornaram mais voláteis com a liberalização. Os preços da gasolina ao consumidor, que já possuíam um 61 comportamento cíclico no período anterior, passaram a apresentar volatilidade de preços. Além disso, verificou-se redução no grau de alinhamento dos preços domésticos da gasolina aos internacionais: os preços no mercado australiano distanciaram-se dos preços internacionais sendo inferiores em média à paridade de importação. Os preços ao consumidor são modificados, em média, pelo menos uma vez ao dia no período após liberalização nas cinco capitais. As causas para o aumento da volatilidade no mercado australiano de gasolina no período considerado, são [ACCC (2003)]: • Remoção dos “tetos” de preços, os quais funcionavam como preços focais para os quais tendiam os preços de mercado; • Aumento das importações; • Políticas de preços das firmas pré-estabelecidas que fornecem suporte de preços para seus franqueados na concorrência com as redes independentes; • Acirramento na disputa por fatias de mercado de varejo; • Volatilidade dos preços dos derivados e da taxa de câmbio do dólar australiano. Com relação ao mercado de diesel, o estudo conclui que este não apresenta volatilidade de curto prazo, e as razões apresentadas para tal são as características da demanda do combustível que é majoritariamente destinado a grandes consumidores comerciais, com maior poder de barganha de preços. A maior volatilidade nos preços da gasolina suscitou o retorno de formas de controle de preços, uma vez que essas poderiam ser benéficas ao consumidor. Em dois estados australianos, os preços são regulados no terminal de estocagem, e as mudanças de preços devem ser informadas ao órgão estadual de monitoramento de preços com, pelo menos, 24 horas de antecedência para facilitar o planejamento do consumo. É importante ressaltar que o estudo da ACCC (2003), aponta que o aumento da concorrência resultou na redução do preço médio ao consumidor apesar da instabilidade. Dessa forma, a alternativa proposta, é a de continuidade do debate com a indústria sobre o aprofundamento das reformas regulatórias, o acompanhamento dos resultados obtidos pelos estados com restrições de preço e implementação de políticas de informação aos consumidores sobre o comportamento dos ciclos e níveis correntes de preços da gasolina, para que estes possam programar de maneira mais eficiente o consumo. 62 Uma ressalva que merece ser feita quanto ao estudo em questão é a de que a análise dos benefícios ao consumidor derivados de maior estabilidade de preços baseou-se exclusivamente no efeito arbitragem, não se levando em conta o componente de aversão ao risco, e o peso do bem no orçamento. Na Espanha, os preços dos combustíveis são dos mais baixos da Europa. A Lei de Hidrocarbonetos promulgada em 1998, liberalizou os preços dos derivados, exceto os do GLP. O GLP é comercializado tanto em botijões de 8 Kgs, quanto por dutos, e seus preços estão sujeitos à fixação de preços máximos pelo Ministério da Economia. Os preços máximos são reajustados duas vezes ao ano, para o GLP envasado, e, mensalmente para o GLP distribuído por dutos. O reajuste é baseado com vistas a garantir uma taxa de taxa de retorno definida aos investimentos em redes. De acordo com o órgão [Ministerio de la Economia (1999)], os preços do GLP permanecerão controlados até que se estabeleçam condições competitivas na sua estrutura de distribuição. “(...) la alta variabilidad de las cotizaciones internacionales de materia prima y flete en los mercados internacionales de los gases licuados del petróleo (GLP's), cuyas cotizaciones provienen de fuentes limitadas en número y consecuentemente en volumen de operaciones, que las mismas representan, aconsejan, para aquellos consumos de marcado carácter social, es decir, para el suministro envasado, buscar fórmulas que garanticen una estabilidad en los precios, salvaguardando los intereses de los consumidores y manteniendo el régimen económico vigente. Por la misma razón, se incluye la aplicación de un tipo reducido de IVA y la modificación de la tarifa del Impuesto Especial de Hidrocarburos para el GLP envasado.”(Ministerio de la Economia, 1999) Além do controle de preços, a carga tributária do GLP é inferior à da gasolina e do diesel. Em 2001, o GLP estava sujeito a uma taxa de 7% de Valor Agregado enquanto este imposto para a gasolina e para o diesel era de 16%, o que contribui para que os preços do GLP na Espanha correspondam quase a metade do preço médio na Europa [IEA (2001)]. A partir da citação anterior, percebe-se que o argumento utilizado para o controle de preço está na volatilidade internacional dos preços do combustível frente à participação do mesmo no consumo energético do país. O consumo de GLP na Espanha é um dos mais altos da Europa, sendo amplamente utilizado por 11,5 milhões de residências principalmente para cocção [IEA (2001)]. O consumo em 1999 foi de 2,6 milhões de toneladas métricas. A distribuição de GLP, é aberta a novos entrantes, mas dominada pela Repsol Butano que detém 94% do mercado de distribuição de GLP envasado. Potenciais entrantes, apesar de já 63 possuírem concessão para operar no mercado, argumentam que o regime de preços torna a entrada economicamente inviável. Nesse sentido, a política de preços de GLP parece ter efeitos sobre a estrutura industrial dificultando a solução do fato motivador do controle de preços: pela ausência de uma estrutura mais concorrencial na oferta, há implementação de controles, o que por sua vez inviabiliza novos investimentos por parte de empresas interessadas. Nesse sentido, parece evidente que o objetivo de política não está apenas no amortecimento de preços, mas na promoção de objetivos sociais. Com relação aos outros combustíveis, a legislação obriga que os varejistas informem à Administração de Energia (órgão ligado ao Ministério da Economia) qualquer alteração de preços. Desde de Agosto de 2000, o órgão divulga lista nacional de preços mensais dos varejistas acompanhada de preços nos outros países europeus como base de comparação [IEA (2001)]. A experiência francesa é a mais importante dentre as citadas, pela implementação de um mecanismo exclusivo de amortecimento de variações internacionais, de baixo custo fiscal e relativa neutralidade sobre a oferta do derivado, cujo preço é amortecido. Os preços de derivados na França são livres desde 1985, quando foi extinto o sistema de banda de variação. A partir de então, e mais notadamente na década de 90, a indústria petrolífera francesa tem passado por transformações com vistas à introdução de maior competição no setor e menor participação estatal (privatizações da Elf Aquitaine e a Total). O consumo de petróleo total da França alcançou a 98,5 milhões de toe, do qual mais de 90% é importado. O país conta com 13 refinarias cuja capacidade de refino cobre 95% do consumo de derivados [IEA (2003)b]. A carga fiscal sobre os combustíveis continua uma das mais altas da Europa, apesar da gradual redução verificada desde 95, quando chegou a 80% do valor da gasolina no varejo e 72% do diesel automotivo. Em 2002 esta carga foi de 72% para a gasolina e 66% para o diesel [MINEFI (2003)]. Segundo a Agência Internacional de Energia, a carga tributária sobre o diesel é inferior a da gasolina para proteger a posição competitiva dos transportadores franceses no mercado europeu [IEA (2003b)]. Os impostos sobre os combustíveis são compostos de dois elementos, um imposto sobre valor agregado e uma excise tax sobre derivados chamada de TIPP (Taxe Intérieure sur les Produits Pétrolieres), cuja alíquota é um valor fixo por litro. O valor da TIPP é determinado pela Lei de Finanças votada pelo Parlamento, anualmente e a taxa de valor agregado é calculada sobre o preço já adicionado da TIPP, conforme as regras da União Européia. 64 A elevação do preço internacional do petróleo ocorrida entre 1999 e 2000 impulsionou reivindicações públicas para implementação de ações estatais no amortecimento dos choques de preços internacionais. Protestos liderados por agricultores e caminhoneiros afirmavam que o governo se beneficiaria de aumentos na receita fiscal derivada das altas de preços sem repasse dos benefícios a sociedade. Em Outubro de 2000, o governo francês cedeu aos apelos e passou a adotar um mecanismo de flutuação para o impostos específico, a TIPP, em função do comportamento do preço internacional do Brent. O mecanismo vale apenas para o diesel e define que os preços internacionais são reavaliados em períodos de 15 dias. Toda vez que houver um aumento superior a 10% no preço de referência no período considerado, a TIPP é reduzida no mesmo montante de aumento extra na arrecadação a título de valor agregado. Em caso oposto, quando ocorre queda em mais de 10% no preço internacional, o montante de TIPP retorna ao seu valor inicial [EIA (2003b)]. Além disso, foram suspensos os aumentos previstos na TIPP do diesel de 7 centavos de Euro por litro com o fim de igualar à carga fiscal da gasolina [MINEFI (2003)]. A alta nos preços internacionais do petróleo no mesmo período também impulsionou debates no Reino Unido. A carga fiscal sobre os combustíveis no país é a mais alta da Europa, alcançando no primeiro trimestre de 2003 a 76,8% do preço final da gasolina e 75,7% do preço final do diesel [IEA (2003)]. Apesar do debate sobre os efeitos da carga tributária no consumo de combustíveis e na parcela da renda gasta pelo consumidor britânico na aquisição de combustíveis [Smith (2000)], o maior alarde foi feito em relação à apropriação das rendas petrolíferas por parte das empresas produtoras de petróleo no Mar do Norte. Segundo o governo, os altos preços propiciaram às firmas a obtenção de lucros extraordinários e, portanto, estas poderiam “compartilhá-los” com o governo a partir do pagamento de uma windfall tax. Este tipo de imposto é um tributo pago uma única vez, pensado primeiramente para incidir sobre o lucro de empresas privatizadas sujeitas a regulação [Chenels (1997)]. De concreto nada foi alterado, pois o imposto não obteve aprovação no Congresso. Este adendo ao trabalho serve apenas de ilustração sobre a intervenção pública setorial, presente mesmo em países vistos como “liberais”, em especial na presença de grandes choques de preços. Outro exemplo disso é o próprio caso americano mencionado no capítulo anterior. A preocupação com a volatilidade de preços no mercado norte-americano de gasolina foi relacionada à proliferação de diferentes tipos de gasolina no mercado. Em função deste efeito, coube verificar que medidas poderiam ser tomadas a fim de mitigá-lo. Uma das alternativas 65 propostas foi a restrição à diversidade de gasolinas no mercado. Segundo a EIA (2002b), a redução do número de diferentes tipos de gasolina, não eliminaria a volatilidade no preço da gasolina, uma vez que esta depende de uma série de fatores inerentes à indústria, mas contribuiria para reduzir a magnitude e a permanência dos choques de preços. O estudo ressalta, contudo, que esta solução poderia ser custosa, e até inviável, dependendo do tipo de gasolina padrão a ser escolhida. As duas localidades que apresentam maior volatilidade de preços, a Califórnia (Californian Reformulated Gasoline) e a região de Chicago-Milwalkee (ethanol-blended reformulated gasoline), não estariam dispostas a aceitar como padrão um tipo de gasolina com maior nível de emissão de poluentes produzida em outros estados. Por seu turno, dificilmente, os outros estados estariam dispostos a arcar com maiores custos de produção em troca de menor volatilidade de preços. Em função das restrições ambientais, a tendência identificada pela EIA (2002b) é de aumento no número de diferentes gasolinas. Desta maneira, haveria que se pensar outras alternativas para redução da volatilidade, tais como investimentos em infraestrutura de armazenagem e incentivos para a manutenção de maiores níveis de estoques precaucionais. Ademais, poderia se investigar medidas de proteção ao consumidor contra elevações abruptas no preços da gasolina, nos moldes dos programas existentes em alguns estados no mercado de diesel, no qual o consumidor paga um prêmio adicional pela proteção contra grandes choques de preços. “Other options may also exist. An expansion of infrastructure (e.g., more tanks) could help relieve the price volatility. However, incentives for holding inventories in those tanks would also have to exist. There could be ways to cushion consumers from price surges. For example, consumers in some areas pay a slight premium to have guaranteed price caps. Perhaps programs such as these might be developed for the gasoline markets.”[EIA ( 2002)b] 2.3.2 - Países em desenvolvimento Frederico et al (2001), pesquisaram sobre mecanismos de amortecimento de preços domésticos de derivados em países em desenvolvimento. De um total de 45 países em desenvolvimento6, no ano de 2000, 73% realizavam algum tipo de controle de preços, no varejo, ou ex-refinaria, sendo que 24% utilizavam regras de repasse automático e 18% 6 África do Sul, Argélia, Argentina, Armênia, Arzeibaijão, Bolívia, Brasil, Chile, China Colômbia, Corea, Costa Rica, Costa do Marfim, Egito, Geórgia, Guinea, Irã, Jordânia, Kirziquistão, Mauritânia, Marrocos, México, Moçambique, Moldovia Mongólia, Nigéria, Papua Nova Guiné, Paquistão, Peru, Philipinas, Quênia, Rússia Senegal, Sudão, Tanzânia, Thailandia, Togo, Tunísia, Turquia, Ucrânia, Uganda, Venezuela, Vietnam, Yemen, Zâmbia. 66 possuíam um fundo de estabilização. De acordo com os autores, mesmo os que liberalizaram os preços exerceram pressões sobre as empresas de petróleo para moderar os repasses de preços. Como exemplo, citam-se a Tailândia e as Filipinas. Vale ressaltar que o Brasil integra a amostra e figura entre os países que regulavam preços ex-refinaria e administravam fundo de estabilização de preços. No caso tailandês, a forte dependência externa de petróleo e concentração de fontes de fornecimento (mais de 70% proveniente do Oriente Médio) explica a preocupação com o suprimento e o nível interno de preços. A economia conta com 5 refinarias com capacidade de 704 mil b/d. A desregulamentação de preços se iniciou em 1991, seguindo a queda de preços internacional. Até então, os preços eram determinados pelo governo com base nos preços spot (Singapura CIF) e existia um fundo de estabilização administrado pelo mesmo. Com a desregulamentação de preços e abertura às importações os preços passaram a ser definidos pelos refinadores. O governo aumentou a taxa de importação de diesel, gasolina e querosene de 1 (satang/litro) para 6,5 (satangs/litro) com o objetivo de fornecer proteção aos refinadores domésticos, que se mostrou de particular importância com a crise econômica de 97, e a conseqüente redução da demanda doméstica. Porém, para dar maior estabilidade ao suprimento e ao nível de preços domésticos, o governo também aumentou os requerimentos de estoques mínimos de petróleo cru mantidos por refinadores (de 4 para 5% do volume de processamento diário) e de derivados mantidos por comerciantes (oil traders) de 3 para 5% do volume negociado [APERC (2001)]. Dos outros países em desenvolvimento da Ásia abrangidos pela região da Ásia-Pacífico, [APERC (2001)], a Coréia ainda exerce controle sobre os preços do GLP e, em Brunei, China, Indonésia, Malásia e Vietnã, a indústria de petróleo é caracterizada pelo monopólio estatal e por controles de preços. Com relação aos países da América Latina, a tabela 1 apresenta uma comparação entre as políticas de preços de combustíveis e da estrutura da indústria de petróleo dos principais países. É possível perceber a diversidade de políticas de preços nesta região. Dentre as diferentes políticas, merecem particular destaque, as experiências argentina, boliviana e chilena. Na Argentina, a liberalização de preços numa indústria concentrada permitiu o comportamento abusivo dos ofertantes frente às variações internacionais através de repasses assimétricos de preços em prejuízo ao consumidor. Esta situação abriu o debate acerca da intervenção estatal na política de preços de combustíveis. No caso boliviano, o governo foi o 67 principal beneficiado da política de preços adotados, ao manter fixos os preços domésticos, num período de queda dos preços internacionais. Por fim, o caso chileno serve para ilustrar os benefícios econômicos e os custos fiscais do programa de estabilização de preços, em vigor desde 1992. Tabela 1 – Políticas de preços de derivados na América Latina. País Argentina Bolívia Brasil Chile Colômbia México Preços Refinaria Margens Distribuição Estrutura Industrial Combustíveis Livres Livres Posição dominante da YPF, na produção de derivados (>50%) e na distribuição (>45%). Há divulgação de preços de paridade de importação. Regulados Regulados Até 2000, preços controlados pela Secretaria de Regulação Setorial (SIRESE - Ministério da Economia) seguiam regras de reajuste do tipo gatilho. Após 2001, preços são mantidos constantes pela variação do imposto específico. Política é válida até o final de 2003. Livres Livres Petrobrás tem posição dominante na produção interna. Há subsídio ao GLP através do Auxílio Gás com recursos da Cide. Regulados Livres Papel dominante da ENAP (estatal) na produção de derivados e oligopólio na distribuição. Gasolina Comum, Regulados Preços definidos pela Empresa Diesel e GLP, Colombiana de Petroleo (Ecopetrol) regulados Demais derivados livres Regulados - Livres Regulados Posição dominante da PEMEX na produção e distribuição. Preços determinados com base nos preços de referência internacionais (menos diesel e gasolinas) Paraguai Somente o diesel tem Somente o diesel tem Preços são determinados pelo preços regulados margem regulada Governo através do Ministério de Indústria e Comercio (Direção Geral de combustíveis Venezuela Regulados Regulados Preços praticados pela Petróleos de Venezoela (PDVSA) são determinados pelo ministério de energia em níveis abaixo do internacional Notas: Combustíveis considerados: Gasolina Comum, Premium, Óleo Combustível, Querosene, Diesel e GLP. Preços Livres significa que não há um teto de preços estabelecido pelo governo; Preços Regulados significa que há um limite de preços. Fonte: CEPAL, 2002 e dados obtidos dos órgãos de energia dos respectivos países. 68 Na Argentina, o processo de liberalização e abertura da indústria de petróleo iniciado em 1989 e resultou na total liberalização de preços no mercado doméstico e a privatização da Yacimientos Petrolíferos Fiscales (YPF), em 1994. Foram instituídas novas regras e condições para a atuação de novos agentes na indústria de petróleo e gás com o objetivo de atração de investimentos e promoção da concorrência. Segundo Rabinovich et al. (2000) a privatização da YPF levou à inusitada situação de uma firma privada dominante no mercado de combustíveis, sujeita a nenhum tipo de restrição governamental às suas políticas de preços. A oferta de combustíveis é dominada pela RepsolYPF, cuja parcela de mercado era de 51% em 1997, mas conta também com a participação da Shell (18%), da Esso (16%) e da EG3 (6%). As mesmas empresas detém grandes fatias nos mercados de distribuição de gasolina e diesel. Em 1998, a participação da YPF em ambos os mercados era de 45%, da Shell 17%, da Esso era de 16% no mercado de gasolina e de 23% no diesel, e EG3 detinha 9% do mercado de gasolina e 10% do de diesel. Os autores analisam a evolução do índice de concentração7, no mercado argentino de distribuição de gasolina e diesel e conclui que o nível de concentração do setor se reduziu na primeira metade da década, pela entrada de novas distribuidoras, porém, entre 94 e 97, o índice fica relativamente constante passando então a subir graças ao movimento de fusões e aquisições e, posteriormente, à crise econômica. O impacto da concentração industrial no comportamento dos preços da gasolina e do diesel é medido pela comparação entre os preços domésticos e os preços internacionais.A metodologia de cálculo foi considerar os preços dos combustíveis na porta da refinaria e o preço de referência internacional de cada combustível. Para a gasolina optou-se pelos preços spot da gasoline unleaded regular no oxigenated (FOB Nova York) e para o diesel a referência foi o heating oil n. 2 (FOB Nova York). Os preços na porta da refinaria foram comparados entre os 4 maiores refinadores. A comparação resultou em um índice de alinhamento de preços (IA) obtido pela razão dos preços domésticos (PPL – preços de paridade local) e os preços de referência (PPI - Preço Paridade Internacional). Na comparação realizada, nenhuma das quatro companhias apresentou alinhamento com os preços internacionais, em especial no período entre 98 e 99, no qual se verifica forte queda no preço internacional do petróleo. Durante o período analisado, para o caso do Diesel, 7 O Índice de Concentração utilizado é o Herfindall-Hirschman, índice calculado pelo somatório das participações percentuais de mercado das empresas do setor elevadas ao quadrado. Um mercado é dito competitivo quando apresenta HH menor ou igual a 600. 69 a empresa que apresenta menor índice de alinhamento é a YPF, com 1,19, e o maior, é a EG3 com 1,32. Isto significa que os preços no mercado doméstico de diesel foram 19% mais caro, em média, no período considerado. No caso da gasolina comum, os menores índices médios para o período são da Esso e a EG3, com 1,21, e o maior é o da YPF que é de 1,25. Os autores ressaltam, contudo, que no período 98/99, à distância de preços foi em torno de 100% para todas as empresas. Isto indica que na ausência de pressões competitivas, as empresas locais adotam padrões de repasses assimétricos: os preços domésticos acompanham apenas as altas de preços internacionais [Rabinovich et al. (2000)].8 Atualmente, há um debate na Argentina em torno do controle de preços. A Secretaria de Energia, através de sua Subsecretaria de Hidrocarbonetos e Combustíveis, divulga um acompanhamento de preços realizado pelo Ministério de Economia. No site do órgão estão disponíveis os preços da gasolina e do diesel, nas refinarias e no posto. Também são divulgados os preços de referência FOB Nova York, bem como os custos de fretes internacionais por origem e tipo de transporte, os preços dos combustíveis nos países do Mercosul, a cotação do WTI e a taxa de câmbio. O site divulga todas as informações necessárias para se avaliar o nível dos preços domésticos9. Além disso, o Instituto Argentino da Energia divulga, todos os meses, um Boletim sobre o alinhamento de preços domésticos aos internacionais. Na Bolívia, os preços são fixados pela Superintendência de Hidrocarbonetos da Secretaria de Regulação Setorial (SIRESE), órgão ligado ao Ministério da Economia. A lei de Hidrocarbonetos Boliviana, promulgada em 1996 conferiu à secretaria o poder de fixação de preços por um prazo máximo de 5 anos. Este prazo que terminaria em 2001, foi prorrogado por mais dois anos [Cepal (2002)]. Até 2000, a política de preços de combustíveis no país seguia uma regra de gatilho, que estabelecia o reajuste automático dos preços domésticos na ocorrência de variações de preços superiores a 5% no preço de referência internacional. É importante ter em conta, que o período de vigência da regra, foi um período de queda nos preços internacionais. Todavia, conforme mostra a SIRESE (2003), com o aumento dos preços internacionais ocorrido em 2000, foram registradas 64 elevações nos preços domésticos e apenas duas reduções. 8 Este comportamento de preços representou uma grande transferência de renda da sociedade Argentina para as empresas de petróleo a qual foi estimada em cerca de US$ 4,5 bilhões de dólares total no período de análise. 9 Vale conferir em http://energia.mecon.gov.ar 70 Com o fim de reduzir o impacto da volatilidade externa sobre a economia boliviana, a secretaria fixou os preços da gasolina, do diesel e do GLP pelo prazo de um ano, em acordo com refinaria e distribuidores. Em 2001, com o iminente término do prazo de fixação de preços, o governo busca outra forma de manter os preços domésticos fixos. A solução encontrada é a definição de uma fórmula mediante a qual, o Imposto Especial sobre Combustíveis e Derivados (IEHD) absorve qualquer movimento de ascensão ou de queda dos preços internacionais do petróleo e derivados. O IEHD, que era um imposto de valor fixo definido pela SIRESE, passa a ter seu valor variável de modo a manter fixos os preços domésticos da gasolina e do diesel. Graças à queda de preços verificada no ano de 2002, o governo se beneficiou do incremento em suas receitas graças ao aumento nos valores de IEHD. Segundo a própria Sirese (2003), a redução nos preços domésticos dos produtos não regulados foi significativa. O maior percentual de queda foi verificado nos preços da gasolina de aviação, que chegou a cair 36% entre 2001 e 2002. No caso do GLP, foi criado um mecanismo similar, porém a variável de ajuste definida é a margem de refino. O GLP é subsidiado pelo governo através da emissão de notas de crédito fiscal em favor da Empresa Boliviana de Refinación (EBR), única refinadora do país. Dessa maneira, os subsídios ao GLP foram caindo paulatinamente neste período. De acordo com a Sirese (2003), os decretos não definem uma data limite para a fixação de preços, e estes continuam até que uma nova metodologia de cálculo seja definida. A política de preços de combustíveis no Chile é conhecida pela existência do fundo de estabilização de preços de petróleo (FEPP). O Chile é um país que apresenta uma forte dependência externa de petróleo dada sua pequena produção (14 mil barris/dia em 2001) em contraposição a participação do petróleo como 40% da matriz energética. A produção e o refino de petróleo são controlados pela companhia estatal ENAP (Empresa Nacional de Petróleo). No Chile, o preço dos derivados é determinado pela paridade de importação, adicionados os custos de transporte e armazenamento locais, margens dos distribuidores, o imposto de Valor Agregado e, em alguns casos, o imposto específico. Para a produção interna, a ENAP, tem graus de liberdade no estabelecimento dos preços, em geral de 5% acima ou abaixo deste patamar, em função da capacidade das outras distribuidoras em importar derivados [Márquez (2000)]. 71 Face esta dependência, foi criado o Fundo de Estabilización de Precios de Petróleo (FEPP), em 1991. O FEPP se constitui numa regra do tipo Max-min e, até 2000, operava com dois conceitos de preços: i) os preços de referência, que são determinados pelo Ministerio de Minería em informe da Comissão Nacional de Energia (CNE); ii) os preços de Paridade de Importação, que se referem a cotação semanal do derivado no mercado internacional (preço CIF). Os preços de referência definem o intervalo de variação para o preço doméstico e assim, são definidos em três patamares: um Preço de Referência superior (PRsup), um intermediário e um inferior (PRinf). O preço de referência intermediário é calculado com base no preço esperado do petróleo no médio prazo. O PRsup é definido 12,5% acima deste preço focal e o PRinf é calculado 12,5% abaixo. O preço de paridade de importação é calculado semanalmente pela CNE. Quando o preço de paridade de importação ultrapassava o limite superior dado pelo PRsup, o mecanismo estabelecia um crédito ao importador/produtor, de 100% da diferença entre o preço de paridade de importação e o PRsup. No caso inverso, isto é, quando o preço de paridade era inferior ao PRinf, o mecanismo previa um imposto de 60% da diferença entre as duas cotações [Márquez (2000)]. O objetivo era de compensação entre os créditos e débitos ao longo do tempo. Quanto ao funcionamento do FEPP, Márquez (2000) informa que nem sempre houve observância estrita das condições pré-definidas. Entre setembro de 99 e final de janeiro de 2000, por exemplo, o preço de paridade permaneceu constantemente acima do limite superior e o mecanismo não vigorou. A responsabilidade pela absorção dos choques foi deixado à ENAP. No tocante ao custo de operação, os recursos destinados inicialmente ao fundo foram de US$ 200 milhões, mantidos até 1996. Desde então, o autor ressalta a progressiva deterioração dos recursos, o que demandou um aporte adicional de US$ 250 milhões, em 2000. Em relação ao custo fiscal incorrido na manutenção do fundo, Márquez (2000) estima os possíveis impactos sobre a economia chilena de uma elevação de 30% no preço internacional do petróleo (percentual inferior ao ocorrido entre fevereiro e abril de 99) repassada inteiramente para os preços internos. O estudo mostra que o PIB se retrairia em 0,82 %, e o índice de preços ao consumidor seria elevado em 1%. Haveria também impactos negativos sobre outros agregados macroeconômicos e setoriais, como o nível de investimentos e sobre produção industrial em alguns setores. Para exemplificar o benefício 72 do fundo, a redução em 0,82 % do PIB corresponde a uma redução de US$ 34 milhões (a dólares correntes) em 1992. Pelas dificuldades enfrentadas em 2000, o FEPP foi inteiramente modificado. Em lugar de um fundo único, o FEPP foi dividido em 5 fundos específicos, um para cada combustível: gasolina, diesel, GLP, querosene e óleo combustível. O novo modelo foi constituído de forma que os fundos específicos não podem ser esgotados. Cada fundo tem um valor objetivo definido em lei e os créditos e impostos são definidos em função da disponibilidade de recursos nos fundos [Ruiz (2001)]. Quando o preço de paridade for inferior ao preço de referência inferior, o valor a ser tributado dependerá dos recursos disponíveis no fundo objetivo. O percentual tributado então será: • 100% da diferença entre o preço de referência inferior e a paridade internacional (PR inf – PP), caso os recursos disponíveis no fundo mais os ingressos esperados para as próximas 12 semanas, sejam inferiores ao valor definido como objetivo incluindo os ingressos • um percentual a ser definido pela razão entre, a diferença do valor definido como objetivo para o fundo (F*) e o valor disponível no fundo (Fdisp), e a entrada esperada de recursos para o fundo nas 12 semanas subseqüentes, caso os recursos disponíveis adicionados dos ingressos esperados em 12 semanas superem o fundo objetivo. Na situação oposta, se os recursos disponíveis forem ao menos suficientes para cobrir as saídas estimadas para as próximas 12 semanas, concede-se a diferença integral ao produtor/importador em forma de subsídio, caso contrário, o percentual concedido será igual a razão entre o fundo disponível e o valor dos gastos estimados nas 12 semanas. De forma esquemática tem-se que: Imposto = min {PR inf – PP; (F* - F disp) / (qe x (PR int – PP) x T)} , onde T = 12 sup) x T), onde: qe representa a semanas; e Crédito = min {PP – PR sup; F disp / (qe x (PP – PR quantidade vendida no período T. Para Ruiz (2001), o mecanismo remodelado permite a eliminação dos subsídios cruzados presentes na forma anterior e preserva os recursos do fundo. Porém, para Márquez 73 (2000) ainda restam dúvidas sobre a capacidade de amortecimento de preços proporcionado pelo novo mecanismo, uma vez que os repasses de preços se tornaram mais freqüentes. 3.4- Considerações Finais As informações apresentadas no capítulo serviram para mostrar a importância de políticas de amortecimento de preços e os princípios que devem pauta-las: neutralidade econômica, promoção do bem estar e preservação das contas públicas. Os instrumentos básicos foram apresentados ressaltando-se suas vantagens e custos em função dos três pontos de vista. A intervenção pública com o fim de amortecimento de preços se mostrou ainda mais relevante na presença de estruturas de oferta (produção e comercialização) pouco competitivas, que se mostram mais comuns em estruturas ainda em transição nos países em desenvolvimento. O amplo panorama das experiências internacionais serviu para exemplificar a implementação destes instrumentos em países desenvolvidos e em desenvolvimento. Nos países desenvolvido, embora menos disseminados, pode-se verificar a intervenção pública, ou, ao menos o debate acerca de sua necessidade. Isto se verifica tanto em países de inclinação mais liberal como os EUA quanto em países que passaram por reformas liberalizantes, como a França., cuja experiência pode ser um referencial ao caso brasileiro, pelas vantagens do instrumento construído. Nos países em desenvolvimento, a existência e necessidade de mecanismos deste tipo, se combinam às maiores dificuldades fiscais, o que reforça a preocupação com este princípio. Nesse sentido, a experiência chilena indica os riscos decorrentes, não da implementação de mecanismos de amortecimento em si, mas na construção do mesmo. No caso chileno, a reforma do mecanismo visou a preservação dos recursos. Embora este seja um ponto importante, ao que parece o principal problema residia na falta de uma regra complementar de calibragem do preço focal (preço de referência intermediário). Tendo em vista todo o exposto acima, cabe agora analisar o caso brasileiro com atenção a três pontos principais: os princípios da ação pública, em particular a neutralidade econômica, os objetivos preconizados pela reforma institucional, e as alternativas de ação pública à luz das experiências internacionais. 74 Capítulo 4 Comportamento dos Preços de Combustíveis no Brasil pós Liberalização A liberalização de preços na indústria de petróleo nacional foi um processo gradual iniciado nos primeiros anos da década de 90. Todos os preços e margens ao longo da cadeia de produção e distribuição de derivados eram controlados pelo governo através do Departamento Nacional de Combustíveis (DNC). Com a edição da Lei 9478-97, “Lei do Petróleo”, foram definidas as etapas necessárias a total abertura do setor, para o que a liberalização de preços passa a ser uma condição sine qua non. A desregulamentação passava pela eliminação dos subsídios cruzados presentes na estrutura de formação de preços de derivados. A despeito da eliminação dos controles formais de preços de combustíveis e da completa abertura às importações ocorridos em 2002, a referida lei garante ao governo, o controle acionário da Petrobras. Pela presença dominante da empresa na oferta de combustíveis e de sua atuação pregressa, isto abre espaço para a utilização da política de preços da empresa como um instrumento discricionário de amortecimento das variações nos preços internacionais. Dessa maneira, o objetivo deste capítulo é fazer uma comparação entre os preços domésticos de gasolina, diesel e GLP, e os internacionais dos respectivos derivados, com o fim de avaliar se houve intervenção política na determinação de preços da empresa e qual o impacto da política de preços sobre a estrutura de oferta. Esta análise é baseada no arcabouço teórico traçado no primeiro capítulo. A partir desta avaliação, cabe mostrar as alternativas à disposição do governo para o amortecimento de variações internacionais nos preços domésticos à luz da experiência internacional. Antes, porém, o capítulo traz um breve histórico da política de preços pré-2002 (seção 4.1), as reformas institucionais realizadas na oferta de combustíveis com vistas à atração de investimentos (seção 4.2) e um balanço da oferta e consumo de derivados no Brasil (seção 4.3). 4.1- O Processo de Liberalização de Preços De acordo com Sathler (2000), a aprovação da Proposta de Emenda Constitucional n.5 de 1995 que flexibilizou o monopólio da união sobre os recursos naturais, seja um marco na Indústria de Petróleo, o processo de liberalização dos preços é um processo anterior, cujo marco foi a fixação de preços máximos para gasolina e diesel em território nacional em março de 1990. Esta medida permitiu a prática de descontos por parte dos revendedores, o que resultou na desequalização das margens de revenda. Entre a edição desta medida até a promulgação da Lei 9478-97, o autor elenca outras medidas tomadas com este intuito, que foram concentradas na liberalização de preços de derivados de menor participação no consumo nacional como, óleos lubrificantes, parafinas e produtos especiais ou experimentais e a progressiva desequalização dos preços do GLP, gasolina e diesel no território nacional. Neste período, 0s preços dos derivados eram compostos pelas seguintes parcelas: Valor Médio de Realização + Parcela de Contribuição (= Preço de Realização) + Frete de Uniformização de Preços + Royalties + Imposto de Importação + Cofins, Pis/Pasep (= Preço de Faturamento ex-refinaria). O Valor Médio de Realização (VMR) era a receita destinada a cobrir os custos médios do refino1. O Preço de Realização de cada derivado i (PRi ) era estabelecido de modo que, sua média ponderada pelo seu respectivo volume (Vi), fosse igual ao valor médio de realização Custo médio do refino = CMR / Vi VMR = Σ PRi x Vi/ Σ Vi CMR / Vi = Valor Médio de realização = PRi x Vi / Σ Vi Parcela de contribuição = PRi – VMR A parcela de contribuição, calculada pela diferença entre o preço de realização do derivado e seu valor médio de realização, representava a contribuição do derivado para o equilíbrio do preço médio. Esta parcela permitia a prática de subsídios cruzados, que ocorriam da gasolina e do óleo diesel (parcela de contribuição positiva) para o GLP, o óleo combustível, a nafta e QAV, que apresentavam contribuição negativa [Billwiller (2001)]. O Frete de Uniformização de Preços (FUP) era destinado ao pagamento de custos não cobertos pelas demais parcelas, como a diferença entre o custo CIF do petróleo importado e o custo CIF de referência para calculo do VMR; diferenças cambiais entre o dólar petróleo e a taxa de cambio oficial; diferença entre o custo de importação do petróleo realizada por refinarias privadas e o preço fixado e fretes de cabotagem. Além disso, este ainda compensava a receita insuficiente obtida pelo Frete de Uniformização de Preços do Álcool (FUPA), destinado a cobrir os diferenciais de preço e custos de aquisição e transporte de álcool carburante. 1 O custo médio do refino compreendia, quatro grupos, a saber: Grupo I : Custo de aquisição do petróleo (produção interna e importação) e os custos dos produtos químicos usados no processamento do petróleo; (representa 86,9% * do custo médio de refino – CMR); Grupo II: Custo da mão de obra direta (representa 0,3* % do CMR); Grupo III:, Custos de transferências do petróleo com terminais e oleodutos (0,9%* do CMR); Grupo IV: Custos de capital: depreciação e remuneração do capital (11,9% do CMR) [Sathler (2000)]. 76 O funcionamento deste mecanismo de controle e subsídios tinha por base um “fundo” de ressarcimentos do governo para a Petrobras, a chamada “Conta Petróleo” na qual lançavase a débito as receitas obtidas com a FUP e a parcela de contribuição; e a crédito as despesas com os demais itens supracitados. Em função dos sucessivos planos de controle inflacionário e a progressiva recuperação dos preços internacionais, a conta passou a apresentar saldos negativos.2 4.1.1 - Estruturas de preços: 1998 - 2001 Em conformidade com o estabelecido pela Lei 9478-97, o período entre 1998 e 2001, seria de transição entre o regime vigente para um de preços livres. Assim, a portaria interministerial n ° 3 de 27 de julho de 1998, estabeleceu a nova sistemática que definiria os preços derivados de petróleo nessa fase, com duração prevista inicial de 36 meses3. A nova regra definia a convergência entre os preços de realização dos derivados básicos (gasolina, diesel, GLP, QAV, óleo combustível e nafta petroquímica) e os respectivos preços internacionais, com base no conceito de custo de oportunidade. A determinação dos preços de realização baseou-se no cálculo da média das cotações FOB ponderada pelo volume das principais fontes de suprimento. A seguir imputaram-se os custos médios de frete e seguro, bem como o imposto de importação de cada derivado e, a taxa portuária, que teve como referência o Porto de Vitória- ES. O ajuste dos preços de realização seria feito mensalmente em função da cotação internacional do derivado e da taxa de câmbio. Os preços de referência foram as cotações diárias no golfo americano (US Gulf) à exceção do GLP, cuja referência foi o mercado do Texas (Mont Belvie). Os preços de faturamento dos derivados permaneceriam fixos até ato contrário, exceções à nafta petroquímica, cujo preço de faturamento variava mensalmente segundo formula instituída em 1993, e ao QAV, cujo preço de faturamento variava mensalmente conforme o preço de realização [Billwiller (2001)]. As refinarias eram remuneradas de acordo com os preços de realização, que eram atualizados no primeiro dia de cada mês segundo a formula: PRn = PRn-1* (CM1/CM2) * ( C1/C2), onde: PRn= preço de realização do derivado nas refinarias no mês de faturamento n; PRn-1 = preço de realização do derivado nas refinarias no mês anterior ao de faturamento; CM1 = 2 Em 1996, o déficit da conta Petróleo chegou 7,4 bilhões de dólares equivalentes.Em 30 de junho de 2001, após sucessivas amortizações com saldos da FUP/FUPA e, posteriormente, dos saldos da PPE, essa cifra havia diminuído para 1,4 bilhões de dólares-equivalentes. [Brasil Energia, (1999)] 3 Inicialmente o período de transição estabelecido em Lei era de, no máximo, trinta e seis meses, contados a partir da data de publicação da Lei 9.478/97. A edição da Lei nº 9.990, de 21 de julho de 2000, prorrogou o período de transição para, no máximo, 31 de dezembro de 2001 [SILVEIRA ( 2002)] 77 cotação média do derivado no golfo americano, verificada no período de 25 do mês n-2 a 24 do mês n-1; CM2= cotação média do derivado no golfo americano verificada no período de 24 do mês n-2 a 25 do mês n-3; C1= cotação de venda do dólar norte americano, divulgada pelo Banco Central (BC), no penúltimo dia útil do mês n-1; C2 = cotação de venda do dólar norte americano, divulgada pelo BC, no penúltimo dia útil do mês n-2; A diferença entre o preço de faturamento da refinaria e o preço de realização já adicionado das contribuições PIS e COFINS foi chamada de Parcela de Preços Específica (PPE)4 , que substituiu a FUP. A PPE, a princípio, teria a mesma função da FUP, além de abater a dívida da União com a Petrobras. Além disso, se constituía num mecanismo de amortecimento das variações tanto do preço internacional quanto do câmbio através do método das médias móveis. Em novembro de 2000, é estabelecida uma fórmula de reajuste dos preços de faturamento da gasolina, óleo diesel e GLP, em função dos preços internacionais. Com vigência para o ano de 2001, o novo modelo de parametrização determinava que os preços de faturamento seriam ajustados no quinto dia útil de cada trimestre, com base em um Índice de Reajuste (I.R) cujas referências eram o preço do petróleo tipo Brent e a taxa de câmbio divulgada pelo BC5. 4.1.2 - A substituição da PPE pela Cide O principal obstáculo à liberalização das importações de gasolina e diesel era a estrutura tributária do setor, mais especificamente a existência da PPE. Assim, vale descrever 4 Parcela de Preços Específica = PFATn – [PRn + (PIS/PASEP + CoFINS)] PPEn = Parcela de Preço Específica do derivado no mês n; PFATn= Preço de faturamento do derivado, na condição a vista, nas refinarias produtoras no mês n, exclusive ICMS, fixado pelos ministérios da Fazenda e Minas e Energia; PRn= Preço de realização do derivado nas refinarias produtoras no mês n; 5 IR = [IAP/(1 + RC/100) – 1] * 100, onde I.Ri = Índice de Reajuste do combustível i, expresso em percentagem. R.C = Reajustes já concedido ao combustível em análise, expresso em percentagem. I.A.P = índice de ajuste padrão, calculado da seguinte forma: I.A.P. = C média / P Referência , onde: Cmédio = média das cotações diárias do petróleo; Cmédio = Σ ( CPBD * CM ) / n CPBD = cotação do petróleo tipo Brent, entre 1 de janeiro de 2001 e o último dia do mês imediatamente anterior ao mês de reajuste; CM = cotação diária da taxa de câmbio comercial de venda do dólar norte-americano PTAX-800, publicada pelo Banco Central do Brasil, entre 1º de janeiro de 2001 e o último dia do mês imediatamente anterior ao mês do reajuste; n = número de dias, contados a partir de 1 janeiro de 2001 até o último dia do mês imediatamente anterior ao mês do reajuste, em que foram publicadas as cotações referidas acima; Preferência = preço de referência para o petróleo, estabelecido arbitrariamente pelos Ministérios das Minas e Energia e da Fazenda de R$ 55,00 por barril. Sendo este o valor aquele que permite assegurar uma arrecadação consistente com a meta de resultado primário definida pelo governo além ser o valor que permite a eliminação do saldo negativo da cota petróleo até o final do ano de 2001; [SILVEIRA (2002)] 78 as mudanças ocorridas nos tributos incidentes sobre derivados no Brasil: i) Imposto de Importação; ii) ICMS; iii) CPMF; iii) Contribuições Sociais; iv) PPE/CIDE. O imposto de importação é um tributo de competência federal cuja base de calculo é o preço CIF de importação.6 Já o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e sobre a Prestação de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal (ICMS) é de competência estadual cujas alíquotas, que podem ser diferentes, são estabelecidas no âmbito do Conselho Nacional de Política Fazendária – CONFAZ. O ICMS incide sobre as atividades de refino, distribuição e revenda. As contribuições sociais incidentes são duas: o Programa de Integração Social (PIS) e a Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (COFINS). Até julho de 2000, as refinarias, as distribuidoras e os revendedores contribuíam no ato da venda dos derivados para o PIS/PASEP com a alíquota de 0,65%. Desde então, as distribuidoras e postos revendedores de gasolina, óleo diesel, GLP e álcool carburante ficaram isentos de contribuir para o PIS/PASEP. O tributo passou a incidir exclusivamente sobre as refinarias e demais ofertantes com alíquota aumentada para 2,7% do valor da venda dos derivados. O mesmo ocorreu com a Cofins, cujos valores saltaram da alíquota única de 3% para 12,45% sobre a gasolina, 10,29% sobre o óleo diesel e 11,84% sobre o GLP [SILVEIRA (2002)]. A PPE não se constituía propriamente em um imposto, mas em uma receita gerada no processo de formação dos preços dos derivados. Na verdade, como era instrumento para a prática de subsídios cruzados, ela tinha valor positivo para alguns derivados, como no caso da gasolina e do diesel, e negativo em outros, como no caso do GLP (gráfico 1). Assim, caso as importações fossem liberalizadas, haveria uma grande desvantagem de preços entre os derivados domésticos frente aos importados. Ademais, a PPE tinha como base jurídica uma Portaria Interministerial que poderia ser facilmente contestada pelos agentes entrantes no mercado, visto que não era prevista na Constituição7. A Emenda Constitucional nº 33, de 11 de dezembro de 2001, regulamentada pela Lei Complementar nº 10.336/01, de 19 de dezembro de 2001, extingue a PPE e institui a Contribuição de Intervenção de Domínio Econômico (CIDE). 6 O imposto de importação tem alíquota zero para petróleo e derivados [Silveira(2002)] “Artigo 155, parágrafo terceiro da Constituição de 1988: ‘A exceção dos impostos de que tratam o inc.I “b”do caput deste artigo(impostos sobre operações relativas a circulação) e os art. 153 I,II (impostos de importação e exportação) e o 156 (impostos sobre vendas a varejo), nenhum outro tributo incidirá sobre operações relativas a energia elétrica, combustíveis líquidos ou gasosos, lubrificantes e minerais do País.”[Cechi e Dutra (1998) p. 92) 7 79 Gráfico 1 Composição dos Preços de Faturamento sem ICMS:Setembro de 2001 1,2000 PPE 1,0000 PIS / COFINS 0,2614 0,8000 0,0799 R$/un 0,4000 0,0817 0,6688 0,5708 0,2000 0,0173 0,0142 0,5046 0,3716 0,3057 -0,0121 0,0000 GLP -0,2000 Preço Realização 0,2106 0,6000 GASOLINA A -0,2606 OLEO DIESEL OLEO COMB. A1 OLEO COMB. B1 -0,4000 Fonte: Araújo, 2001 A CIDE é cobrada sobre a produção, importação e comercialização de gasolinas, diesel, QAV, outros querosenes, óleos combustíveis, GLP e álcool etílico anidro. As alíquotas foram definidas para cada combustível em valores específicos na Lei Complementar n. 10.336, de 10/12/2001, que instituiu a contribuição. Mais recentemente, a lei n. 10.636 de 30/12/02 e o decreto n. 4565 de 01/01/03, alteraram as alíquotas para os valores apresentados na tabela 1. Tabela 1 Quadro comparativo das alíquotas da CIDE Combustível Gasolinas1 (R$/litro) Diesel1 QAV1 Outros Querosenes1 Óleos Combustíveis2 Lei n. 10336/ 01 0,5011 0,1578 0,032 0,02590 0,01140 Lei n. 10636 / 02 0,860 0,39 0,092 0,0921 0,04090 GLP2 0,1367 0,25 Álcool Etílico 0,0292 0,372 Combustível1 1 - R$/litro * altos teores de enxofre ** baixos teores de enxofre 2 - R$ / Kg Decreto n. 4565 / 03 0,5411 0,218 0,065 0,0538 0,0297* 0,04090** 0,167 0,2925 Fonte: RETZ, 2003 Na formação dos preços finais de realização, os valores devidos a título de contribuições sociais podem ser abatidos do montante pago da CIDE, até limites préestabelecidos em lei (Tabela 2). É importante ressaltar que o Poder Executivo tem o poder de alterar as alíquotas da CIDE e os limites de dedução das contribuições sociais, desde que respeitados os limites definidos em lei. Com relação a alterações de valores, uma importante inclusão foi feita no decreto 4.565/2003: 80 “Art. 3º. Os valores da Cide estabelecidos no art. 1º poderão ser ajustados periodicamente de acordo com fórmulas a serem estabelecidas em regulamento.” [Decreto n. 4565 de 01/01/03] Este adendo é de particular importância para o tema discutido neste trabalho, pois abre possibilidade para criação de uma fórmula de variação da contribuição com o fim de amortecimento dos preços internacionais. Resta apenas, a criação da referida fórmula em regulamento específico. Este ponto será retomado mais adiante. Tabela 2 Valores máximos de dedução das Alíquotas da CIDE para fins de pagamento das contribuições sociais. Combustível Lei n. 10336/ 01 PIS/Pasep Cofins 0,039 0,181 0,0156 0,072 0,0057 0,026 0,0046 0,0213 0,002 0,0094 0,024 0,112 0,005 0,024 Lei n. 10636 / 02 PIS/Pasep Cofins 0,049 0,23 0,0303 0,139 0,0163 0,0758 0,0145 0,0758 0,0444 0,0264 0,0132 00,2056 0,024 0,00525 Gasolinas1 (R$/litro) Diesel1 QAV1 Outros Querosenes1 Óleos Combustíveis2 GLP2 Álcool Etílico Combustível1 1- R$/litro * altos teores de enxofre ** baixos teores de enxofre 2- R$ / Kg Decreto n. 4565 / 03 PIS/Pasep Cofins 0,0465 0,2146 0,0264 0,1216 0,0116 0,0537 0,163 0,0375 0,0105 0,01920 0,0298 0,1378 0,00525 0,024 Fonte: RETZ, 2003 Outro item da lei que instituiu a CIDE que abre espaço para a utilização da contribuição com fim de amortecimento, refere-se a destinação dos recursos arrecadados. “Parágrafo Primeiro: das destinações dos recursos arrecadados com a CIDE. O produto da arrecadação da Cide será destinada, na forma de lei orçamentária, ao: I - pagamento de subsídios a preços ou transporte de álcool combustível, de gás natural e seus derivados e de derivados de petróleo, II financiamento de projetos ambientais; e III – financiamento de programas de infra-estrutura”. [Lei n. 10336 de 19/12/2001] Cabe notar que já foi promulgada lei para regulamentar as destinações de recursos previstas pelos itens II - recursos destinados ao Ministério de Meio Ambiente para investimento em projetos ambientais relacionados à indústria de petróleo - e III - a criação do Fundo Nacional de Infra-estrutura (FINIT). Com relação ao item I, a Lei n. 10.453, de 13/05/02 define a destinação dos recursos da CIDE à concessão subsídios à compra de GLP por famílias de baixa renda, programa conhecido como “Auxílio Gás”, bem como subsídios aos produtores de álcool combustível. 81 4.2- As reformas institucionais na oferta de derivados8 Até final de 2001, o segmento da oferta de combustíveis apresentava-se estruturado em segmentos que atuavam segundo funções especializadas. Pelas regras vigentes, apenas a Petrobrás estava autorizada a importar gasolina e diesel. As importações de outros derivados já haviam sido liberadas, embora necessitassem de prévia aprovação da ANP. Na produção de derivados, as refinarias da Petrobras, a Ipiranga e a Manguinhos já estavam autorizadas a produzir todos os derivados, e as Centrais Petroquímicas (PQU, Copene, Copesul) podiam produzir gasolina, diesel e GLP9. A adição do álcool anidro à gasolina para a produção da denominada gasolina “C”, estava reservada aos distribuidores. Os produtores de derivados poderiam comercializar produtos entre si e com os distribuidores. Por sua vez, os distribuidores estavam autorizados a comercializar combustíveis líquidos derivados de petróleo, álcool combustível e outros combustíveis automotivos. As distribuidoras somente poderiam adquirir os derivados básicos das refinarias e das centrais petroquímicas, utilizando-se para tanto de contratos celebrados diretamente com esses produtores ou do sistema de quotas. Os distribuidores estavam autorizados a comercializar seus produtos com os revendedores varejistas e transportadores-revendedores-retalhistas (TRR). Além do comércio de combustíveis automotivos, era facultado aos revendedores varejistas o desempenho de outras atividades comerciais e de prestação de serviço nos postos. Os revendedores só podem adquirir combustíveis de distribuidores autorizados pela ANP. Caso o revendedor varejista opte por exibir a marca comercial do distribuidor deverá vender somente combustíveis fornecidos pelo distribuidor detentor da marca comercial exibida. Caso opte por não exibir marca específica, tornando-se posto independente ou "bandeira branca", poderá comercializar combustíveis de qualquer distribuidora, devendo, no entanto, identificar a origem dos mesmos nas respectivas bombas abastecedoras. No final de 2001, com a proximidade do término do período de transição para um mercado livre, a ANP lançou um conjunto de portarias com as novas disposições sobre o modelo do downstream. Na Produção de Derivados as principais alterações referem-se à introdução de dois novos agentes: “o Formulador” e “o Importador”, pessoas jurídicas distintas que deverão atender a requisitos específicos para o exercício das respectivas atividades. As mudanças visavam promover novas opções de oferta a disposição dos consumidores. 8 Esta seção foi elaborada com base em Almeida & Silva (2001). Autorização para a produção de gasolinas por Centrais Petroquímicas – Portaria 56/2000 ANP. Autorização para a produção de diesel e GLP, portaria 084/2001 [RETZ(2003)]. 9 82 Os formuladores são agentes autorizados pela agência reguladora a “formular” derivados a partir de correntes de hidrocarbonetos líquidos. Estes agentes não podem atuar diretamente no varejo, mas lhe são permitidas as seguintes atividades: importação de derivados, compra no mercado doméstico, e comercialização a outros produtores, importadores e distribuidores, e a exportação de excedentes. O importador é uma pessoa jurídica específica autorizada pela ANP a comprar no mercado internacional, lhe sendo vedada as atividades de formulação, exceto a adição de marcadores de qualidades. Estas firmas podem ser formadas isoladamente ou por distribuidoras, já que estas só podem importar através deste expediente. No caso da revenda, a principal modificação refere-se a autorização concedida às TRR´s para adquirirem os produtos que irão comercializar (óleo combustível e diesel) diretamente das Refinarias e Centrais Petroquímicas. Na realidade, os TRR’s são quase distribuidores, pois lhes falta apenas a autorização para compra e venda de gasolina automotiva. 4.3- Estrutura de oferta e demanda de derivados no Brasil A queda das barreiras institucionais a entrada de novos agentes no mercado lograda pelas reformas, pouco alterou a estrutura industrial do setor. O parque de refino brasileiro é composto por treze plantas, com a Petrobras em posição dominante no mercado, detendo o controle de 11 plantas e aproximadamente 98% da capacidade de produção de derivados no país. As outras participantes do refino são a Refinaria de Petróleo Ipiranga e a participação da Repsol nas refinarias de Manguinhos e na REFAP (30%). Em função da importância do modal rodoviário no transporte de cargas e de passageiros, o consumo de gasolina e, principalmente, diesel são os componentes mais importantes na demanda por derivados no país. Nos últimos anos, a maior parte do crescimento da demanda ocorreu nesses dois segmentos, permanecendo estável o consumo de óleo combustível. Em 2001, demanda por derivados no país totalizou, segundo a ANP (ANP, 2002), a média diária de 1.836 mil bpd, sendo a produção de 1.694 mil bpd10. As exportações de derivados (principalmente gasolina e óleo combustível) foram de 173 mil bpd, enquanto as importações (em especial diesel, GLP e Nafta) somaram de 315 mil bpd, resultando num déficit de importações de 142 mil bpd. Em 2002, por conta da desaceleração da economia e dos altos preços do GLP, o consumo de combustíveis registrou uma queda de 1,3% (ANP, 10 A discrepância entre os valores do total da produção das plantas de refino (97,5% do total) e o total produzido no país decorre da produção das centrais petroquímicas (0,7%) e das unidades de processamento de gás natural (1,8%). 83 2003). Em particular esta queda foi mais acentuada para Gasolina de Aviação (-23%), Óleo Combustível (-16%) e GLP (-4%). A gasolina e o diesel registraram crescimento de consumo de menos de 2% cada. Tabela 3 Produção de Derivados energéticos e não energéticos no Brasil – 1993-2002 Derivados de petróleo Total Energéticos Gasolina A Gasolina de aviação GLP Óleo combustível Óleo diesel QAV Querosene iluminante Não-energéticos Asfalto Coque Nafta Óleo lubrificante Parafina Solvente Outros 1998 90.083 77.550 19.591 109 6.966 17.691 29.351 3.765 76 12.533 1.984 877 7.091 757 126 437 1.261 1999 93.931 78.258 18.364 96 7.324 17.219 31.447 3.722 86 15.674 1.551 1.359 9.981 743 161 481 1.397 Produção (mil m3 ) 2000 95.262 78.835 18.576 85 7.893 17.453 30.883 3.744 200 16.428 1.764 1.958 10.182 739 152 515 1.118 2001 100.599 84.866 19.930 93 8.793 18.890 33.217 3.714 228 15.733 1.628 1.793 9.917 710 120 618 948 2002 98.557 83.531 19.407 71 9.093 17.787 33.321 3.625 227 15.026 1.664 1.817 8.794 768 136 685 1.161 Fonte ANP, 2003 Tabela 4 Importações Líquidas de Derivados Energéticos e não energéticos (1993-2002) Derivados de petróleo Importações menos exportações (mil m3 ) 1998 1999 2000 2001 2002 Total Energéticos 11.017,0 6.189,8 11.216,4 5.782,8 10.416,4 4.978,3 4.646,8 (1.283,1) 3.546,2 (1.426,6) Gasolina A -1.541,43 -1.305,11 -1.960,15 -2.965,26 -3.225,50 Gasolina de aviação -9,60 -37,04 -21,42 -20,84 -17,75 GLP 5.024,99 5.113,68 5.086,91 3.839,21 3.177,44 Óleo combustível -2.098,27 -2.154,31 -1.675,79 -6.320,27 -4.855,77 Óleo diesel 6.206,61 5.768,66 5.740,34 6.511,84 6.372,35 996,90 1.124,97 899,44 1.158,19 991,44 -2.389,40 4.827,2 -2.728,00 5.433,5 -3.091,00 5.438,1 -3.486,00 5.929,9 -3.868,82 4.972,8 -3,04 -23,89 -21,15 -13,73 -16,72 4.976,53 3.652,84 3.805,25 3.307,58 3.200,22 79,63 74,39 67,02 155,47 159,47 QAV Outros Não-energéticos Asfalto Nafta Óleo lubrificante Parafina 1,17 -1,38 -29,52 27,29 -5,08 Solvente 14,02 -465,25 -404,53 -216,32 -256,96 -241,08 2.196,81 2.021,06 2.669,63 1.891,89 Outros Fonte: ANP, 2003 4.4 - Comportamento dos preços após a liberalização Com a extinção dos controles de preços, a expectativa era de que os preços domésticos acompanhassem as variações dos preços internacionais. Assim, a análise do comportamento 84 dos preços domésticos vis-à-vis aos internacionais pode mostrar se houve interferência política na prática de preços da Petrobras no período pós-liberalização. O primeiro passo da análise foi comparar diretamente a evolução dos preços nos mercados doméstico e internacional. Para os preços domésticos, foram utilizados os preços de realização na porta da refinaria dos três principais derivados - gasolina, diesel e GLP. Os preços de realização foram calculados a partir dos preços de faturamento médios semanais divulgados pela ANP11. Já os preços de referência internacionais foram calculados com base nas cotações diárias no golfo americano para a gasolina e diesel12 e da cotação diária do propano Mont Belvieu, todas obtidas no site Departamento de Energia norte-americano. Essas cotações foram então, convertidas para reais pela cotação diária de venda do dólar no período considerado [IPEADATA (2003)]. Em seguida, calculou-se a média semanal dos preços de referência assim obtidos, que foi, então comparada aos preços domésticos. Os resultados são apresentados nos gráficos a seguir. Gráfico 2 Preços de Referência x Preços Domésticos (de Realização) da Gasolina: Janeiro de 2002/Junho de 2003 (em R$/litro) 1,2 1 Preço de Referência Preço Doméstico 0,8 0,6 0,4 0,2 3/ 6/ 1/ 20 0 2/ 2 20 3/ 02 3/ 2 31 002 /3 /2 28 002 /4 /2 26 002 /5 /2 23 002 /6 /2 21 002 /7 /2 18 002 /8 /2 15 002 /9 / 13 200 /1 2 0/ 10 200 /1 2 1/ 20 8/ 12 02 /2 0 5 / 02 1/ 20 2/ 03 2/ 20 2/ 03 3/ 2 30 003 /3 /2 27 003 /4 /2 25 003 /5 /2 22 003 /6 /2 00 3 0 Fonte:Elaboração Própria 11 A ANP divulga os preços médios ponderados semanais praticados pelos produtores (refinarias, centrais petroquímicas e formuladores) e importadores de Gasolina A, Óleo Diesel, Querosene de Aviação (QAV) e Gás Liquefeito de Petróleo (GLP), retroativo ao dia 1º de janeiro de 2002. Nesses preços estão incluídas as parcelas da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE) e das contribuições sociais (PIS/PASEP) e Cofins,. O preço de realização é calculado da seguinte maneira: A = D - B – C, onde A é o preço de realização, D é o preço de faturamento e B é a Cide e C as contribuições sociais. Pela Lei 10 336, as parcelas devidas dos programas PIS/Pasep e de financiamento da Seguridade Social podem ser deduzidos do valor da Cide. 12 USGC unleaded gasoline e low sulfur diesel n. 2 (www.eia.doe.gov). 85 Gráfico 3 - Preço de referência x Preços Domésticos (de Realização) do Diesel: Janeiro de 2002/Junho de 2003 (em R$/litro) Preço de Referência 1,2 Preço Doméstico 1 0,8 0,6 0,4 0,2 6/6/2003 6/5/2003 6/4/2003 6/3/2003 6/2/2003 6/1/2003 6/12/2002 6/11/2002 6/10/2002 6/9/2002 6/8/2002 6/7/2002 6/6/2002 6/5/2002 6/4/2002 6/3/2002 6/2/2002 6/1/2002 0 Fonte:Elaboração Própria Gráfico 4 - Preço de referência x Preços de Realização do GLP: Janeiro de 2002/Junho de 2003 (em R$/Kg) Preço de referência 2 1,8 1,6 1,4 1,2 1 0,8 0,6 0,4 0,2 0 6/6/2003 6/5/2003 6/4/2003 6/3/2003 6/2/2003 6/1/2003 6/12/2002 6/11/2002 6/10/2002 6/9/2002 6/8/2002 6/7/2002 6/6/2002 6/5/2002 6/4/2002 6/3/2002 6/2/2002 6/1/2002 Preço Doméstico Fonte:Elaboração Própria Os preços de referência poderiam ser interpretados como os preços hipotéticos a serem praticados no mercado doméstico, caso estes fossem formados estritamente pelos preços internacionais e a taxa de câmbio. A simples análise visual dos gráficos possibilita perceber características comuns na relação entre os preços internacionais (preços de referência) e os domésticos para os três derivados. A primeira delas refere-se ao maior “descolamento” de preços dos três derivados, em dois períodos particulares: 86 a. No segundo semestre de 2002, mais precisamente, entre a última semana de agosto e a primeira de novembro, no qual os três derivados apresentam preços abaixo dos preços internacionais; b. No primeiro semestre de 2003, mais notadamente entre a segunda semana de janeiro e a terceira de março, no qual os preços novamente permanecem novamente abaixo dos preços internacionais. O primeiro período de descolamento de preços foi um período marcado, principalmente pela grande volatilidade da taxa de câmbio brasileira13, conforme apresentada no gráfico 5. Este gráfico apresenta a média semanal das cotações diárias da taxa de câmbio, bem como, a variação percentual de uma semana a outra. No período entre agosto e novembro de 2002, a taxa de câmbio salta de R$/US$ 3,08, na primeira semana de agosto, para R$/US$ 3,96, na terceira semana de outubro. Além da grande elevação, nota-se grande variação percentual entre uma semana e outra. Assim, a proximidade das eleições presidenciais e o amortecimento de preços realizado indicam que a política de preços da empresa foi bastante coerente com os interesses do acionista controlador. Gráfico 5 – Média Semanal da taxa de câmbio diária e variações percentuais semanais das médias semanais 4,5 14% 4,0 12% 10% 3,5 8% 3,0 6% 2,5 4% 2,0 2% 0% 1,5 -2% 1,0 -4% % semanal 22/6/2003 25/5/2003 27/4/2003 30/3/2003 2/3/2003 2/2/2003 5/1/2003 8/12/2002 10/11/2002 13/10/2002 15/9/2002 18/8/2002 21/7/2002 23/6/2002 26/5/2002 28/4/2002 31/3/2002 3/3/2002 -8% 3/2/2002 -6% 0,0 6/1/2002 0,5 média semanal Fonte: IPEADATA (2003) Com relação ao segundo período de descolamento de preços, entre fevereiro e março de 2003, este foi concomitante a elevações de preços internacionais do petróleo. Um conjunto de fatores contribui para este comportamento dos preços internacionais: inverno rigoroso no 13 A explicação oficial, e para efeitos desta dissertação suficiente, para as grandes variações da taxa de câmbio ocorridas no período foram as incertezas decorrentes da sucessão eleitoral e os resultados do balanço de pagamentos. 87 hemisfério norte; queda dos níveis de estoques comerciais de petróleo e derivados norteamericanos aos níveis mais baixos em 10 anos; redução na oferta de gás natural nos EUA; problemas na geração nuclear no Japão; greve na Venezuela, e particularmente, o ataque americano ao Iraque [PIRA (2003)]. As incertezas com relação a condução macroeconômica do novo governo brasileiro, em especial no tocante aos índices de inflação, tornam clara a coerência dos preços praticados pela empresa com os interesses políticos. O segundo movimento conjunto refere-se ao comportamento de preços entre março e final de junho 2003, no qual os três derivados passam a ter preços acima dos preços internacionais. Neste período, cabe ressaltar o comportamento declinante da taxa de câmbio, conforme verificado no gráfico 5, bem como, a reversão do quadro adverso na indústria de petróleo internacional. Gráfico 6 Preço do petróleo Brent e WTI no mercado Internacional ( Setembro 2002 a Agosto 2003) Fonte: Boletim Infopetro, 2003 4.4.1 - Índice de Alinhamento Como a própria nomenclatura informa, os preços internacionais convertidos em reais representam uma referência de preços ao mercado doméstico, mas não são os únicos elementos a serem observados. É importante considerar os custos incorridos nas transações internacionais da commodity. Estes compreendem os custos de aquisição do produto os custos de afretamento marítimo, o seguro do transporte da carga, perdas no transporte, o custo da descarga portuária e do desembaraço aduaneiro [SEAE (2002)]. Por isso, ao invés de considerar apenas o preço de referência em reais, o mais adequado seria adotar o conceito de paridade internacional. 88 Em uma economia aberta, na presença de um mercado internacional para as transações de um bem, uma empresa decidirá o quanto vender no mercado doméstico, no ponto em que o retorno seja ao menos igual ao que seria obtido na alternativa de exportar o produto. Dado que para a colocação no mercado externo a empresa exportadora incorre em custos adicionais, o cálculo do ganho alternativo computaria estes custos (como percentual do possível ganho). O preço de referência descontado do possível custo de exportação constituiria a chamada paridade de exportação14. Por outro lado, a paridade de importação está relacionada aos custos incorridos por um possível importador para ofertar no mercado doméstico. Conforme visto no primeiro capítulo, esta representaria o preço-limite no mercado doméstico, isto é, o preço mínimo capaz de cobrir os custos de um possível ofertante-importador e, portanto, viabilizar a entrada no mercado doméstico. Dessa maneira, seria coerente supor que os preços domésticos acompanhassem o preço de referência dentro de uma faixa de variação entre as paridades de exportação e importação. Adotando a suposição de que os custos relativos às operações internacionais de derivados correspondam, em média, a 7,5% do valor de referência nos casos da gasolina e do diesel, e de 15% do valor de aquisição do GLP [Tusiani (1996)]15, pode-se utilizar esta faixa como uma aproximação inicial das paridades de importação e exportação, dada a indisponibilidade de dados sobre custos de transportes de derivados no Brasil. Para analisar o grau de alinhamento dos preços domésticos aos internacionais adota-se uma medida chamada de índice de alinhamento (IA) [Rabinovitcsh (2000)]. O IA é obtido pela razão entre o preço doméstico ex-refinaria (preço de realização) e o preço de referência. Com base em Tusiani, define-se a faixa de paridade entre 0,925 e 1,075 para a gasolina e diesel, e a faixa de paridade de 0,85 a 1,15 para o GLP. Os gráficos a seguir apresentam o resultado do cálculo do IA para os três derivados analisados. Os gráficos 6 e 7 reforçam a análise anterior quanto aos períodos de descolamento. Nos dois períodos mencionados - pré-eleitoral e anterior à guerra no Iraque - os três derivados chegam a apresentar preços inferiores, inclusive, à paridade de exportação. Preços inferiores à paridade de exportação, num mercado aberto de bens transacionáveis abrem a possibilidade 14 Em outras palavras, o produtor compara o preço no mercado doméstico com o preço internacional FAS (free alongside ship), também chamado de posto-porto, que representa o preço internacional descontado das tarifas aduaneiras, do frete e dos seguros de carga. 15 Segundo Tusiani (1996), o valor dos shipping costs, que incluem não só, os custos de transporte, mas também os custos de carregamento e descarga nos portos, para as principais rotas de comércio de gasolina e diesel, variam entre 5 e 10% do valor total da carga. Para cargas de GLP, este valor seria o dobro, variando entre 10% e 20% do valor total, em função da distância, do trajeto e do tamanho dos navios. Uma vez que as distâncias de transações comerciais de derivados do Brasil e para o Brasil não se constituem nas maiores distâncias de tráfego internacional (Brasil x Nigéria em comparação Oriente Médio x Japão), e não existe imposto de importação nem de exportação para derivados no Brasil, optou-se por adotar o valor percentual mediano como proxy dos custos totais. 89 de ganhos de arbitragem por parte de agentes independentes, uma vez que torna economicamente vantajosa a compra de derivado no mercado doméstico e venda no mercado internacional. Gráfico 7 Índices de Alinhamento entre preços domésticos e de referência da Gasolina e do Diesel (janeiro de 2002 a junho de 2003) 1,6 Índice de alinhamento gasolina 1,4 Índice de Alinhamento Diesel 1,2 1 0,8 0,6 0,4 0,2 6/6/2003 6/5/2003 6/4/2003 6/3/2003 6/2/2003 6/1/2003 6/12/2002 6/11/2002 6/10/2002 6/9/2002 6/8/2002 6/7/2002 6/6/2002 6/5/2002 6/4/2002 6/3/2002 6/2/2002 6/1/2002 0 Fonte: Elaboração Própria Gráfico 8 Índice de Alinhamento entre os preços domésticos e referência do GLP (janeiro de 2002 a junho de 2003) 1,6 1,4 1,2 1 0,8 0,6 0,4 0,2 6/6/2003 6/5/2003 6/4/2003 6/3/2003 6/2/2003 6/1/2003 6/12/2002 6/11/2002 6/10/2002 6/9/2002 6/8/2002 6/7/2002 6/6/2002 6/5/2002 6/4/2002 6/3/2002 6/2/2002 6/1/2002 0 Fonte: Elaboração Própria Além disso, é possível notar a partir dos gráficos, que, à exceção dos dois períodos mencionados, o IA da gasolina é o que apresenta maior variação no interior da faixa de paridade. Os IA´s do Diesel e do GLP se mantiveram por mais tempo acima da faixa de 90 variação, o que significa que os preços destes dois derivados estiveram, na maior parte do tempo ao menos 8% acima do preço de referência (internacional), no caso do diesel, e 13% acima no caso do GLP. Cabe observar que o IA do GLP chegou ao ponto máximo em março de 2002, alcançando o valor de 1,6 e o IA do Diesel é o que permaneceu o maior período acima da paridade, mais notadamente no período entre maio e junho de 2003. A Tabela 5 apresenta a freqüência das observações do Índice de Alinhamento dos três derivados, para as 78 semanas consideradas. A tabela mostra o número de semanas em que os índices estiveram acima, abaixo ou no interior da faixa de paridade, bem como o somatório das diferenças entre o preço doméstico e o internacional. Este somatório visa dar uma noção da perda ou ganho econômico na política de preços no período. Tabela 5 Freqüência das observações do IA nas 78 semanas observadas para a gasolina, diesel e GLP Gasolina Diesel GLP No interior da faixa de paridade Acima da faixa Abaixo da faixa Total de semanas 25 32% 15 19% 24 31% 19 24% 46 59% 41 53% 34 44% 17 22% 13 17% 78 100% 78 100% 78 100% Σ (P Realização Preferência) -2,49 2,3298 3,0923 Fonte: Elaboração Própria Essa tabulação permite concluir que os preços domésticos não estiveram alinhados aos internacionais, na maior parte do período considerado. No caso da gasolina, o índice de alinhamento esteve oscilando abaixo da faixa de paridade em 44% do período, e nos casos do diesel e do GLP os preços estiveram variando acima da faixa mais de 50% do período. No tocante às diferenças entre preços de realização domésticos e de referência, a somatória destas diferenças indica que haveria uma perda econômica na política de preços adotada para a gasolina, que seria, porém, mais que compensada pelos ganhos obtidos no caso do diesel e do GLP. Cabe ressalvar que esta é uma análise puramente econômica pois se trata da comparação entre o preço obtido efetivamente no mercado doméstico e o custo de oportunidade representado pelo preço de referência, não havendo nenhuma consideração financeira a respeito de tal prática de preços. 4.4.2 - Análise da Volatilidade No capítulo 2, foram analisados as causas e os impactos da volatilidade dos preços internacionais de petróleo e derivados sobre o bem-estar dos consumidores. Cabe, agora, comparar a volatilidade dos preços de referência dos três combustíveis em análise com 91 relação à volatilidade dos preços domésticos, com o fim de avaliar se houve amortecimento da volatilidade internacional nos preços domésticos. Antes porém, é importante lembrar que o preço de referência foi calculado com base na cotação spot do derivado, convertida pela taxa de câmbio diária. Dessa maneira, o preço de referência embute não só a volatilidade dos preços internacionais, como também a volatilidade da taxa de câmbio. Nesse sentido, foram analisados os três elementos distintos: a volatilidade dos preços domésticos (realização), dos preços de referência, e da cotação spot do derivado em US$. Conforme especificado no capítulo 2, para os mercados de petróleo e derivados, a medida padrão de volatilidade é o desvio padrão16 das variações percentuais nos preços medidos em intervalos definidos: ano, mês, semana ou dia. Para a análise proposta, optou-se, primeiramente, por avaliar a volatilidade no período total das 78 semanas e nos 3 períodos definidos de 26 semanas (3 semestres), cujos resultados encontram-se na tabela 6. Tabela 6 Comparação entre as volatilidades dos preços domésticos x preço de referência x cotação internacional em US$ Diesel Gasolina GLP Volatilidade Preço de Preço de Cotação Preço de Preço de Cotação Preço de Preço de Cotação Realização Referência Internacional Realização Referência Internacional Realização Referência Internacional Desv. Padrão (78 semanas)* 3,1% 6,2% 4,7% 3,8% 12,5% 5,3% 4,1% 8,7% 8,1% Desv Padrão: 1o Semestre 1,5% 3,5% 3,7% 4,6% 12,8% 5,2% 3,9% 3,9% 4,3% Desv Padrão: 2o semestre 4,4% 7,2% 4,3% 3,9% 9,9% 5,3% 5,5% 4,6% 2,4% Desv Padrão: 3o semestre 1,7% 6,5% 5,8% 2,4% 14,1% 5,2% 1,8% 13,6% 13,1% * Desvio Padrão das variações percentuais de preço: Desv Pad (Pt/Pt-1) onde t representa o tempo em semanas. Representa pontos percentuais. Fonte: Elaboração Própria Com base nos dados da primeira linha da tabela 6, observa-se que o desvio-padrão das variações percentuais dos preços domésticos, calculado nas 78 semanas, foi inferior ao da cotação internacional em dólar, e o do preço de referência em real. Assim, pode-se inferir que 16 O desvio padrão mede o quanto os valores reais de uma determinada variável estão dispersos em relação ao valor médio. No caso especificado, a variável é a variação percentual de preços num determinado período. Assim, quanto maior o desvio padrão, maior a volatilidade de preços. Como, apenas buscou-se calcular qual foi, efetivamente, esta dispersão, calculou-se o Desvio Padrão da seguinte maneira: {[nΣx2 – (Σx)2]/n2}1/2 92 houve amortecimento da volatilidade, tanto dos preços internacionais quanto do câmbio, nos preços domésticos dos três derivados, para o período como um todo. Todavia, é interessante notar que, quando se realiza a análise por semestres, excepcionalmente para os preços do GLP no segundo semestre, depreende-se que a política de preços adotada resultou em aumento da volatilidade de preços domésticos deste derivado, inclusive quando comparada à volatilidade do preço de referência, que inclui a volatilidade cambial (ver dados em negrito). Em função deste resultado, resolveu-se analisar a volatilidade “mensal” dos preços. Como a periodização em semanas não permite uma definição estritamente mensal, optou-se por calcular o desvio padrão das variações percentuais de preços em períodos de 4 semanas (19 períodos). Os resultados são apresentados nos gráficos subseqüentes. Gráfico 9 Volatilidade dos Preços da Gasolina Mercado Doméstico x Cotação Internacional X Preço de Referência em Reais ( 19 quadrisemanas) desvio padrão da cotação USGC 25% desvio padrão preço realização desvio padrão preço de referência 20% 15% 10% 5% 0% 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 Fonte: Elaboração Própria Conforme ressaltado, a divisão em quadrissemanas seria uma proxy de uma periodização mensal. Nesse sentido, pode-se considerar que os números expressos nos eixos horizontais nos três gráficos representariam, aproximadamente, os meses do período analisado, ou seja, número 1 corresponderia a janeiro de 2002 e assim, sucessivamente. O gráfico 8 mostra o comportamento da volatilidade dos preços doméstico da gasolina, em comparação à cotação spot da gasolina no golfo americano e seu preço de referência. Pode-se observar neste gráfico, que os desvio-padrão em pontos percentuais dos preços domésticos, situaram-se abaixo dos da cotação spot e do preço de referência, exceto no período 4. Cabe ressaltar que este período compreende última semana de março e as três iniciais de abril, nas 93 quais o aumento da volatilidade dos preços domésticos está relacionado ao repasse de variações internacionais não efetuados nos três “meses” anteriores. Gráfico 10 Volatilidade dos Preços de Diesel: Mercado Doméstico x Cotação Internacional X Preço de Referência em Reais ( 19 quadrisemanas) desvio padrão cotação internacional 14% desvio padrão preço de referência 12% desvio padrão preço de realização 10% 8% 6% 4% 2% 0% 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 Fonte: Elaboração Própria Gráfico 11 Volatilidade dos Preços do GLP: Mercado Doméstico x Internacional X Preço de Referência em Reais ( 19 quadrisemanas) desvio padrão cotação internacional 25% desvio padrão preço referência desvio padrão preço realização 20% 15% 10% 5% 0% 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 Fonte: Elaboração Própria Pode-se notar que o mesmo ocorre no gráfico 10 (GLP), em que, no mesmo período 4, o desvio padrão das variações percentuais supera, inclusive, o dos preços de referência, que tende a ser maior em função do câmbio. No gráfico 9, que apresenta o comportamento do 94 mercado de diesel, verifica-se um aumento da volatilidade dos preços domésticos no mesmo período 4, mas este não chega a superar a volatilidade do preço de referência. Voltando a atenção para os gráficos 9 (diesel) e 10 (GLP), é possível perceber um outro momento comum em que a volatilidade de ambos supera a dos preços de referência: no período pós-eleições. Nos gráficos, observam-se “picos” no comportamento da volatilidade dos preços domésticos exatamente no período 11, que compreende as semanas finais de outubro e inicial de novembro, na qual os preços domésticos iniciam a recomposição das perdas incorridas durante o período de contenção de repasses das variações internacionais verificada no período pré-eleitoral. Dessa maneira, pode-se concluir que de um modo geral a política de preços promoveu o amortecimento das variações internacionais. Contudo, nos períodos de retenção dos repasses das variações internacionais (ou seja, de permanência de preços fixos por um período) e repasses acumulados em períodos seguintes, esta política contribui inclusive para o aumento da volatilidade de preços domésticos. Uma política deste tipo seria ineficiente para fins de amortecimento da volatilidade internacional. 4.5 – Impactos na estrutura da oferta: política de preços de uma empresa dominante A estratégia de preços da Petrobrás num mercado livre poderia ser analisada com base no modelo de preço-limite descrito no primeiro capítulo, por se tratar da estratégia de uma empresa dominante frente à ameaça de potenciais entrantes. A hipótese distinta a ser feita para a utilização dos modelos refere-se ao conceito de entrada em um mercado. A partir da conceituação de Bain (1956), somente se configura a entrada em um mercado quando há a criação de nova capacidade de produção. Porém, no mercado de derivados nacional, apesar da existência de barreiras à entrada na atividade de refino descritas por Martins (2003)17, existem outras opções para a ampliação da oferta através das atividades de importação e formulação, que apresentariam menores barreiras à entrada, pelo menos no concernente a escala de produção. Por esses motivos, o conceito de entrada neste estudo compreende a ampliação de oferta, não necessariamente produzida localmente. No modelo de preço-limite duas condições permitem a prática de preços de prevenção à entrada: existência de barreiras a entrada e a existência de capacidade de produção suficientemente grande de modo a suprir o mercado. Esta última condição seria fundamental 17 No caso do refino, as barreiras a entrada seriam a escala do investimento, bem como as diferentes condições de produção e comercialização de derivados, a ausência de tradição regulatória e as limitações impostas pela infra-estrutura de transporte e armazenamento existente. No caso das importações apenas a barreira referente a escala seria menos relevante.[Martins (2003)] 95 frente a ameaça de entrada de empresas em igualdade de condições à firma pré-estabelecida. No caso da Petrobras, empresa dominante na oferta de combustíveis, esta condição adicional, somente se verifica para o mercado de gasolina. Com base na tabela 4 (seção 4.3) é possível observar que, para os combustíveis analisados, a gasolina é o único para o qual se verifica a situação de exportador líquido. Em função desta situação, haveria estratégias de preços distintas a serem praticadas no mercado de gasolina e nos mercados de diesel e GLP, para os quais a empresa não conta com capacidade instalada suficiente de abastecimento do mercado. 4.5.1 -Mercado de Gasolina Em função da existência de uma capacidade instalada superior a demanda de mercado, a empresa poderia adotar uma política de preços de prevenção a entrada, que seria crível por parte de suas concorrentes. A hipótese de acomodação da entrada de um potencial concorrente é improvável, uma vez que implicaria no aumento de sua capacidade ociosa e, conseqüentemente, elevação de seus custos médios. Para a Petrobras então, bastaria praticar preços próximos aos preços de paridade de importação, uma vez que teria capacidade para retaliação de entrantes, e vender o restante no mercado internacional. O comportamento dos preços de gasolina no período pós-liberalização tendeu, porém, a “exagerar” na prevenção a entrada. Conforme exposto na seção anterior, o preço doméstico situou-se abaixo da paridade de exportação na maior parte do período analisado, o que significa que o possível ganho com as exportações foram superiores aos preços obtidos através das vendas no mercado interno. Preços domésticos situados abaixo da paridade de exportação abrem espaço para comportamentos de arbitragem: um agente poderia se valer dos preços reduzidos no mercado doméstico para obter vantagens econômicas no mercado internacional. A permanência de preços neste patamar indica, no entanto, que devem existir outros fatores que restringiram a prática de arbitragem. Como ressaltado no primeiro capítulo, a Petrobras tem vantagens frente às potenciais competidoras, mesmo que importadoras, que se referem, em primeiro lugar à administração da infra-estrutura de transportes e armazenagem portuária, através da subsidiária Transpetro. Dessa maneira, as transações em maiores escalas realizadas com este intuito passariam, necessariamente, pela infra-estrutura da empresa. O agente deveria comprar o derivado da empresa e depois negociar com a própria uma tarifa de uso de sua instalação. Como a regulação brasileira relativa ao acesso a terceiros define que as condições devem ser negociadas entre as partes e, somente em caso de conflitos, haveria a interferência da Agência Reguladora, a própria Transpetro tem poder para, através das tarifas de acesso, limitar a ocorrência de comportamentos deste tipo. Cabe ainda mencionar, que a 96 capacidade disponível ao livre acesso a terceiros, depende da existência de capacidade ociosa na infra-estrutura, que também não apresenta grande margem de manobra. Dessa maneira, comportamentos de arbitragem somente se verificam em pequenas escalas nas quais o transporte rodoviário do derivado permite ganho econômico. O comportamento dos preços de gasolina neste período revela a interferência de fatores extra-econômicos na política de preços da empresa. Na verdade, a possibilidade de intervenção governamental sobre a política de preços de gasolina está baseada na própria posição dominante da empresa que restringe a arbitragem de mercados. Na ausência de barreiras a entrada, tal estratégia poderia prejudicar financeiramente a empresa. Por outro lado, é importante ressaltar que a análise do mercado de gasolina brasileiro em questão se dá com base no mercado brasileiro visto como um todo. Todavia, é mostrado por Santos (2000) e corroborado por Martins (2003) que existe um desequilíbrio regional entre oferta e demanda por combustíveis no mercado brasileiro. A concentração do parque de refino na região sudeste do país leva a uma situação de superávit na oferta de gasolina desta região e déficit em outras, como por exemplo, no Nordeste. Dessa maneira, apesar do excesso total de oferta, haveria espaço para entradas via importações em mercados regionais específicos. O comportamento dos preços do combustível no período considerado indica, contudo, que estas possibilidades foram muito reduzidas senão nulas. Assim, mesmo no caso da gasolina em que já se verificam condições desfavoráveis a entrada de novos ofertantes pela posição de exportador líquido, a política de preços tendeu a reforçar a posição da Petrobras na oferta doméstica. 4.5.2 - Diesel e GLP No caso do Diesel e do GLP, os dados da tabela 6 (seção 4.3) revelam a condição de importador líquido do mercado brasileiro para ambos os combustíveis. Nestas condições, a prática de preços da empresa dominante seria determinada de modo a acomodar oferta marginal, até o ponto em que, o acréscimo de oferta não implicasse em redução do nível de utilização da sua capacidade de produção. Os preços do diesel e do GLP deveriam ser determinados em patamares iguais ou superiores à paridade de importação. A política de preços de diesel e GLP na maior parte do período considerado seria coerente com esta orientação econômica. Porém, é importante perceber que nos períodos mencionados na análise dos preços, mais precisamente no período pré-eleitoral (segundo semestre de 2002) e no período da guerra no Iraque (primeiro semestre de 2003), os preços de ambos os combustíveis permaneceram, por semanas, abaixo do preço internacional. Tal 97 comportamento indica a existência de interferência política nos preços destes dois combustíveis, o que, por seu turno tem implicações sobre a estrutura de oferta. De maneira esquemática pode-se dizer que a entrada via importações no mercado brasileiro demanda dois momentos. No primeiro momento, se dá a decisão de importar por parte de um agente, que se baseia no cálculo econômico em relação aos benefícios da transação. No segundo período, ocorre o aumento da oferta com a chegada do carregamento do derivado. Entre o primeiro e o segundo momento, decorre um tempo, no qual existe o risco de mudança das condições vigentes no momento da transação. O risco inerentemente econômico de mudança nas condições de preço e câmbio, com o qual os agentes devem estar aptos a lidar, alia-se o risco político. O risco político desta transação está na utilização discricionária da política de preços da empresa dominante para fins de amortecimento de preços, e/ou outros fins macroeconômicos. Nesse ambiente, os agentes tendem a requerer um “prêmio” mais elevado a fim de efetivar a entrada, face aos riscos envolvidos. O aumento da instabilidade ocasionado por interferências discricionárias na política de preços, se soma, às barreiras à entrada, decorrente do domínio sobre a infraestrutura de transporte e armazenagem, e da própria posição dominante da empresa na oferta. Silva & Iootty (2002), mostram que as grandes empresas distribuidoras presentes no mercado brasileiro (Esso, Shell, Texaco e Ipiranga), embora possuam autorização da ANP para efetuar importações e disponham de condições favorecidas pela rede de distribuição já instalada e conhecimento da marca por parte dos consumidores teriam baixa inclinação a importar. A ameaça de retaliação por parte da Petrobras, bem como as relações de longa data já estabelecidas com a empresa restringem a adoção de estratégias mistas do tipo regional competição em alguns mercados regionais via importações e cooperação em outros mercados; ou do tipo temporal – compra da Petrobras em períodos de preços abaixo do internacional e importações em outros momentos. Por outro lado, nos períodos de “controle” de preços, a Petrobras assume a responsabilidade de suprimento do mercado doméstico de combustíveis. Dado que não conta com capacidade de produção suficiente de abastecimento do mercado, é necessário efetuar, ela própria, as importações. Nestas situações, o custo da oferta marginal é superior a receita marginal obtida pela venda no mercado interno. A busca por compensação das perdas incorridas explica porquê, nos períodos subseqüentes à contenção de preços, houve aumento da volatilidade no mercado doméstico. A existência de barreiras permite que a empresa possa praticar preços que lhe permitam recompor as perdas ocorridas no período de interferência se com isso, estimular a entrada. 98 Conclui-se então, que o instrumento de amortecimento através da política de preços da empresa dominante ao mesmo tempo em que se beneficia da posição dominante da empresa, tende a reforçar esta posição, ao interferir no cálculo econômico dos agentes e no risco político percebido pelos agentes na indústria de petróleo. Este instrumento discricionário assume um caráter não-neutro frente a estrutura industrial, cujo efeito vai de encontro às reformas institucionais com vistas à promoção da competição na oferta de derivados. No caso do diesel e do GLP, pode ainda ter efeitos colaterais de ampliar os impactos da volatilidade sobre os consumidores. 4.6 – Impactos Distributivos: características da cadeia de distribuição e revenda Conforme visto no capítulo 2, dois elementos têm papéis importantes e não excludentes na redução da volatilidade de preços internacionais aos consumidores: as características de competição ao longo da cadeia de distribuição e revenda e instrumentos de amortecimento via arrecadação fiscal. No tocante ao primeiro fator, o estudo do mercado americano de gasolina mostrou que uma estrutura mais desconcentrada se constitui num elemento de redução das variações de preços ao longo da cadeia. Em estruturas verticalmente integradas, como no caso australiano, as assimetrias de posição entre grandes empresas e pequenas entrantes resultou no aumento da volatilidade de preços ao consumidor. Por outro lado, em estruturas menos concorrenciais, os distintos elos da cadeia tendem a apresentar padrão assimétrico de repasse de preços, através do reajuste apenas face a aumentos de preços, o que foi percebido na Argentina. No caso brasileiro, efetuou-se um exercício estatístico com o fim de identificar a presença de comportamentos assimétricos no comportamento da cadeia de distribuição e revenda. O objeto deste exercício foi o mercado de gasolina no estado de São Paulo. Analisouse o comportamento dos preços praticados nos três diferentes elos da cadeia: produtor, distribuidor e revendedor, com base nos preços médios semanais divulgados pela ANP. Como preço ao produtor no mercado paulista, adotou-se o preço médio do produtor da Região Sudeste, uma vez que somente são divulgadas as médias regionais e do Brasil. O período de análise foi o mesmo da análise anterior, entre a primeira semana de janeiro de 2002 e a última de junho de 2003. A metodologia seguiu uma análise de partição, na qual são separados os períodos em que se verificam aumentos no preço ao produtor e períodos em que se verificam quedas de preços no nível do produtor [EIA (1999)]. Feita a divisão dos períodos, observa-se o comportamento dos preços nos outros elos da cadeia. Para isso, calculou-se o coeficiente de correlação entre os preços nos três segmentos da cadeia, dois a dois, para identificar as 99 relações existentes entre os preços nos distintos segmentos18. O resultado deste exercício é apresentado na tabela 7. Tabela 7 Resultado da análise de partição: coeficientes de correlação entre os preços nos diferentes elos da cadeia de produção, distribuição e revenda de gasolina no estado de São Paulo Produção/distribuição Distribuição/Revenda Produção/Revenda Semanas em que o preço do produtor aumentou 0,9742 0,9852 0,9881 Semanas em que o preço do produtor caiu 0,9717 Fonte: Elaboração Própria 0,9934 0,9775 Os dados da tabela 7 apresentam a forte correlação entre os preços nos diversos segmentos da cadeia, uma vez que todos os coeficientes estão bastante próximos da unidade. Porém, convém reparar que existe uma distinção nos coeficientes em função do movimento de preços ao produtor. Nas semanas em que se registraram aumentos de preços, a correlação mais forte de preços se dá entre os preços ao produtor e o preço da revenda. Nas semanas em que se verificaram quedas nos preços ao produtor, ao contrário, a correlação de preços mais forte se dá entre os elos da distribuição e da revenda. Isso revela indícios de um comportamento assimétrico da revenda de gasolina no mercado paulista: os preços na revenda apresentam movimentos mais próximos dos preços ao produtor, quando este sobe, e preços mais próximos aos preços ao distribuidor, quando ocorre queda de preços ao produtor. Uma análise mais rigorosa do comportamento dos preços ao longo da cadeia deveria contemplar outros elementos, tais como: o ritmo de repasse de preços ao longo da cadeia, o papel da estrutura tributária e o papel do preço do álcool, que está incluído no preço da gasolina da distribuição e revenda. Apesar destas considerações, para efeitos desta dissertação e como exercício inicial para o caso brasileiro, estes resultados reforçam a percepção de que em momentos de elevação de preços, os revendedores tendem a reajustar preços antes mesmo que esta alta se reflita em elevação dos preços no nível da distribuição (e, portanto em seus custos). Ao contrário, em períodos de redução de preços, a revenda aguarda até o momento que este ajuste se verifique na distribuição, para em seguida repassa-los aos consumidores. A 18 O coeficiente de correlação serve para indicar a relação entre os dados de duas matrizes. A partir da relação apresentada por este coeficiente não se pode tirar conclusões precisas sobre as relações de causalidade entre duas variáveis, apenas que existe um movimento conjunto entre estes dois elementos. A equação para o coeficiente de correlação é: ρxy = Cov (xy) / σx σy onde: -1 [ ρxy [ 1. Quanto mais próximo de 1 ou –1, maior a correlação, sendo que quando ρxy = 1, indica que as variáveis têm perfeita relação e apresentam variações no mesmo sentido; no caso em que : ρxy = -1, indica que as variáveis têm perfeita relação mais se movimentam em sentido contrário. 100 análise do gráfico 12, que apresenta o comportamento dos preços no mercado paulista contribui para reforçar estas conclusões. Gráfico 12 Comportamento dos preços da gasolina no mercado paulista nos diferentes elos da cadeia. Produtor Distribuição 2,5 2,25 3 Revenda 2 2 1 1,75 1,5 1,25 1 77 73 69 65 61 57 53 49 45 41 37 33 29 25 21 17 9 13 0,5 5 1 0,75 0,25 0 Fonte: Elaboração Própria No Gráfico 12, três momentos foram ressaltados. Os momentos 1 e 2 foram marcados para exemplificar a forma como a distribuição e a revenda respondem de maneiras distintas a elevações nos preços do produtor. Nos dois momentos a distribuição reajuste seus preços em mais de um estágio, seguindo os aumentos ao produtor. A revenda, por seu turno, reajusta seus preços em degraus, que se adiantam às respostas no segmento da distribuição. No momento 3, em que ocorre queda de preços na produção, os preços na revenda acompanham de maneira suave, à queda de preços na distribuição. A partir deste exercício, ainda que restrito, pode-se inferir os potenciais efeitos negativos de preços voláteis sobre a distribuição dos excedentes ao longo da cadeia. Ressaltase que esta análise foi específica para o mercado de gasolina em São Paulo. Caberia assim, analisar o comportamento dos preços ao longo das cadeias de diesel e GLP, nos diferentes mercados brasileiros. No tocante ao GLP, existem dois fatores que tendem ampliar o espaço para assimetrias de preços: a alta concentração no segmento de distribuição de GLP, o alto peso do bem no orçamento dos consumidores e o baixo poder de barganha dos mesmos (em sua maioria de baixa renda). Nesse sentido, políticas de reforço à competição nos diferentes segmentos da cadeia de distribuição e revenda de gasolina, diesel e do GLP, são importantes e complementares ao amortecimento de preços ao consumidor. Todavia, na presença de barreiras a entrada de 101 novos agentes, a estrutura industrial pode levar tempo a se alterar. Dessa maneira, a implementação de um mecanismo fiscal de amortecimento de preços é fundamental para reduzir distorções distributivas 19 nos mercados de combustíveis. 4.7 - Alternativas de políticas para amortecimento de preços internacionais O amortecimento das variações de preços internacionais é um objetivo público legítimo face aos impactos negativos sobre o bem estar dos consumidores. No caso brasileiro e de países em desenvolvimento com regime de taxas de câmbio flutuantes, de um modo geral, o problema não está restrito à volatilidade de preços no mercado internacional, mas soma-se à variação do câmbio, o que potencializa os efeitos. A partir das experiências internacionais, pode-se propor mecanismos adaptáveis à realidade brasileira e compatíveis com os objetivos preconizados pelas reformas. Para tanto, já existe um instrumento presente na estrutura de preços de combustíveis e revestido da legalidade necessária para o fim desejado: a CIDE. Sua definição consta no próprio nome: a CIDE é uma contribuição, não um imposto. Pelo Código Tributário Nacional, uma contribuição seria um tipo de tributo específico, cuja arrecadação seria alocada a um fundo pré-determinado, associado a um objetivo específico, como por exemplo, as contribuições sindicais e sociais [Cechi e Dutra (1998)]. Por esse motivo, tendo em vista as destinações previstas para os recursos (ver seção 4.2), é possível e desejável a utilização da CIDE como mecanismo de amortecimento de preços de combustíveis. Observadas as experiências internacionais, pode-se pensar em duas formas para utilização do tributo. Na primeira, seria criado um fundo de estabilização de preços de derivados nos molde chileno, complementado por uma regra de média móvel para o ajuste do preço focal. As variações de preços internacionais fora da banda de oscilação seriam compensadas através da tributação ou restituição dos valores às empresas em percentuais definidos, com o fim de preservar os recursos do fundo. A experiência brasileira da contapetróleo poderia, inclusive, ser interpretada como uma experiência deste tipo. A desvantagem desta opção está no risco fiscal associado à má definição do preço focal, cujas conseqüências foram vistas nos casos chileno e brasileiro, com o acúmulo de saldos negativos na contapetróleo. No Chile, optou-se pela reformulação do instrumento com vistas a maior proteção da situação fiscal. No Brasil, poder-se-ia adaptar o modelo chileno já reformulado. 19 O conceito de eficiência distributiva refere-se a apropriação dos excedentes gerados pelos agentes envolvidos: produtor, distribuidor, revenda e consumidor. A análise indica que há uma maior parcela do excedente do consumidor sendo apropriada pelo segmento da revenda pelo seu comportamento assimétrico. 102 A segunda opção, vista como mais vantajosa, seria a definição de uma fórmula, inspirada nas experiências francesa e boliviana, através da qual a CIDE teria sua alíquota variando em função de variações nos preços internacionais. Seria uma regra de gatilho aplicada ao imposto sobre os combustíveis. No caso francês, de fato, a taxa excedente (excise tax) varia de modo a compensar o aumento na arrecadação fiscal a título de imposto sobre valor agregado, uma vez que, assim como no Brasil, o imposto sobre valor agregado incide sobre o preço da refinaria, já adicionado da TIPP. Quando o preço na refinaria aumenta, como o IVA é um imposto ad valorem, o montante de arrecadação também cresce. Com o fim de evitar este aumento, toda a vez que o preço internacional aumenta em mais de 10%, a TIPP, se reduz e mantém o preço fixo. É verdade que a aplicação à risca desta regra seria bastante complicada no caso brasileiro, uma vez que o ICMS (análogo ao valor agregado) é um tributo de competência estadual, enquanto a Cide é arrecada pela Federação. No caso boliviano, no qual, ambos são arrecadados no nível federal, o imposto variava de modo a deixar fixos os preços da gasolina e do diesel. Acredita-se que a fixação (congelamento) de preços não deve ser o objetivo de política, pois esta deve permitir oscilações necessárias a adaptação das decisões na economia. Dessa forma, haveria que se encontrar uma situação intermediária, através da construção de uma fórmula que ativasse variações na CIDE, como forma de amortecer as variações internacionais. Ao proteger a economia de grandes choques, mas permitir pequenas oscilações de preços domésticos, esta regra seria neutra do ponto de vista da estrutura industrial, uma vez que garantiria transparência e horizontalidade à política de preços. Do ponto de vista fiscal, pode-se alegar que tal regra poderia comprometer o nível de arrecadação, uma vez que esta passa a depender das variações dos preços internacionais. Porém, conforme visto anteriormente, contribuições não devem ser a base de arrecadação fiscal, pois se prestam, por definição, a objetivos específicos. Evidentemente existe um problema a resolver, pois a Constituição Brasileira determina que todos os gastos estejam previstos em Lei Orçamentária, mesmos os vinculados à arrecadação de contribuições. Como solução, poder-se ia estipular em lei, que os recursos destinados aos dois outros fins previstos para a CIDE – meio ambiente e infra-estrutura – sejam excedentes fiscais gerados no ano anterior com a contribuição. Esse seria um modo de não comprometer a utilização da CIDE ao objetivo básico de amortecimento da volatilidade internacional. As considerações finais deste capítulo são deixadas a conclusão geral do trabalho, a seguir. 103 Conclusões Até os anos 90, a condução estratégica da Petrobrás principalmente com relação às dimensões preços de derivados, política de compras de bens e serviços e desenvolvimento tecnológico, era determinada num ambiente no qual os objetivos setoriais estavam em consonância com os objetivos macroeconômicos. A conformação da indústria de petróleo nacional em um regime de monopólio estatal viabilizava esta coerência de ações. Esta, por sua vez, promoveu todo o desenvolvimento da indústria de petróleo e segmentos relacionados, como a indústria parapetrolífera e a petroquímica. Este modelo, no entanto, apresentava sinais de esgotamento da capacidade de investimento pública e ineficiências. Em particular no ponto abordado por esta dissertação, o sistema de preços vigentes no início da década dos 90, era o de controle em todos os segmentos e a presença de subsídios cruzados. As reformas institucionais realizadas na indústria de petróleo - cujo marco foi flexibilização do regime de monopólio - visavam a implantação de um regime industrial que promovesse os investimentos necessários ao seu contínuo desenvolvimento e a eliminação das ineficiências via atração de novas empresas e aumento da competição nos diversos segmentos. No downstream, a introdução de pressões competitivas podem ocorrer de duas formas: via importações e via produção local de outros agentes, a qual pode ser pela construção de uma nova refinaria, produção em Centrais Petroquímicas ou formulação. Mediante estes objetivos, a liberalização dos preços dos combustíveis – processo gradual de curso anterior – tornou-se condição sine qua non para a completa abertura do setor. Apesar destas transformações, o controle estatal da Petrobras é um dos itens definidos pela Lei 9478/97 e tem sua importância baseada em fatores estratégicos, principalmente relacionados a apropriação nacional dos frutos do desenvolvimento tecnológico acumulado pela empresa em toda a sua trajetória. Pela posição dominante da empresa na oferta de derivados e pela sua atuação pregressa, a interferência política na estratégia da empresa é bastante tentadora do ponto de vista do controlador. Todavia, o espaço para utilização das ações da empresa em função de objetivos políticos reduziu-se face as transformações ocorridas na indústria de petróleo nacional. No tocante aos preços de derivados a interferência política nos preços praticados pela empresa tem impactos industriais que vão de encontro aos objetivos preconizados pelas reformas instituídas pela mesma lei. Conforme apresentado no decorrer desta dissertação, pelo fato de existir um mercado internacional organizado para as transações de petróleo e derivados, os preços definidos no mercado internacional se tornam a referência aos preços praticados no mercado doméstico. Por um lado, o custo da oferta de uma possível entrante inclui o custo de aquisição dos 104 combustíveis neste mercado, por outro, esses preços também servem como parâmetro ao cálculo do custo de oportunidade da produção e venda no mercado interno. Características técnico-econômicas e geopolíticas específicas da indústria de petróleo e derivados levam ao comportamento volátil dos preços, mais notadamente a partir da década de 80. Ademais, instrumentos desenvolvidos com o fim de redução de riscos (transações no mercado futuro e manutenção de estoques) podem inclusive reforçar o potencial de volatilidade de preços. Embora haja grande correlação de preços de petróleo e derivados, condicionantes específicos dos segmentos de refino e distribuição, bem como características dos mercados locais contribuem para ampliar ou amortecer as variações de preços ocorridas a jusante da cadeia. Em especial, ressaltou-se o papel de estruturas concorrenciais no amortecimento de variações ao consumidor, a partir do exemplo americano. A volatilidade de preços exerce efeitos negativos sobre a alocação de recursos no setor (nível de investimento, estoques e produção) e sobre o bem-estar do consumidor, que são ampliados pelas imperfeições no mercado de proteção ao risco e na presença de estruturas pouco concorrenciais na comercialização. Em função destes efeitos, a ação governamental no intuito de proteger os preços domésticos das variações de preços de derivados no mercado internacional, são políticas legítimas que podem contribuir para a melhoria do bem estar de seus cidadãos, bem como evitar impactos em nível macroeconômico. As ações políticas com este fim devem ser pautadas por princípios básicos de neutralidade econômica, promoção do bem-estar e de preservação das contas públicas, bem como se constituir em um mecanismo complementar às estratégias privadas de proteção e adaptação ao risco. Sua relevância é ainda maior na presença de estruturas de oferta (produção e comercialização) pouco competitivas, uma vez que estas não são capazes de cumprir o papel de amortecimento e, ao contrário, podem ainda beneficiar-se da volatilidade, gerando distorções distributivas. O amplo panorama das experiências internacionais serviu para exemplificar a implementação destes instrumentos em países desenvolvidos e em desenvolvimento. Nos países desenvolvidos, embora menos disseminados, pôde-se verificar exemplos de intervenção pública, ou ao menos o debate acerca de sua necessidade. Isto se evidenciou tanto em países de inclinação mais liberal como os EUA, quanto em países saídos de reformas liberalizantes, como a França, cuja experiência pode ser um referencial ao caso brasileiro, pelas vantagens do instrumento implementado. Nos países em desenvolvimento, a necessidade de mecanismos deste tipo, se combina às maiores dificuldades fiscais , o que reforça a preocupação com este princípio. Nesse sentido, a experiência chilena mostra os riscos advindos, não da implementação de mecanismos de amortecimento em si, mas da 105 dificuldade em construir mecanismos que não onerem as contas públicas. No caso chileno, a reforma do mecanismo visou a preservação dos recursos. A análise do comportamento dos preços dos principais derivados no Brasil - gasolina, diesel e GLP - revelou a interferência de fatores extra-econômicos na definição dos preços da Petrobras. Esta análise se baseou no arcabouço teórico construído no primeiro capítulo e mostrou que esta intervenção reforça as barreiras a entrada no mercado de combustíveis. Ao se considerar a possibilidade de entrada via importações, a barreira rela tiva à escala seria amenizada, mas, o restrito acesso à infra-estrutura controlada pela empresa se mostra um grande obstáculo à entrada por esta via. Os preços dos combustíveis podem permanecer durante semanas abaixo da paridade de exportação e depois ser compensado por períodos acima da paridade de importação, sem que isto estimule comportamento de arbitragem em grande escala. Ou seja, a intervenção política nos preços só é possível na escala em que ocorre pela presença de barreiras no mercado nacional. Este instrumento de política discricionária, por seu turno, tende a ratificar a estrutura industrial, assumindo um caráter não- neutro. No mercado de gasolina, as condições econômicas desfavoráveis à entrada de novos ofertantes são reforçadas pelos preços praticados no período, que restringem a possibilidade de entrada em nichos de mercado específicos. No caso do diesel e do GLP, do ponto de vista de uma empresa sem capacidade suficiente para abastecimento total do mercado, a estratégia ótima seria a de acomodação de entrantes até o ponto em que isto não implicasse em redução do nível de produção. Entretanto, como a efetivação da entrada não é imediata, mas decorre um tempo entre a tomada de decisão e a sua efetivação, intervenções políticas imprevistas nos preços da dominante introduzem mais um nível de risco a ser considerado pelos agentes, que passam então, a demandar um maior “prêmio” para efetivar as transações. Além disso, dado o papel da Petrobras na oferta de combustíveis, e suas relações de longa data como fornecedora das grandes distribuidoras, a possibilidade de retaliação por parte da dominante desestimula qualquer comportamento neste sentido por parte destas empresas. Do ponto de vista da volatilidade do mercado doméstico, o uso deste instrumento pode inclusive ampliá- la. Em especial nos mercados de diesel e GLP, nos períodos em que os preços domésticos permanecem abaixo da paridade de importação, dada a insuficiente capacidade produtiva, a própria empresa assume a responsabilidade pelo abastecimento do mercado via importações. Como a receita marginal obtida é inferior ao custo marginal da oferta, a empresa busca compensar as perdas incorridas no período posterior. Esta recomposição de preços pode implicar em repasses abruptos que aumentam a volatilidade de preços no mercado doméstico. 106 Tendo em vista o exposto, duas alternativas de políticas não excludentes se apresentam ao governo: reforço da competição nos segmentos a montante da cadeia e instrumento fiscal de amortecimento de preços. No tocante ao primeiro elemento, mostrou-se, através de um exercício preliminar aplicado ao mercado paulista de gasolina, que o segmento de revenda apresenta um comportamento assimétrico ao adiantar aumentos de preços e retardar repasses de quedas nos preços. Este seria um indicativo de que os elos a montante podem contribuir para aumentar a ineficiência distributiva no mercado brasileiro. Este assunto específico merece análises mais detalhadas e aplicadas a outros mercados, particularmente o de GLP, no qual se combinam estrutura concentrada, elevado peso do bem no orçamento do consumidor e baixo poder de barganha do mesmo. Visto que a estrutura industrial demora um tempo para se alterar face às barreiras à entrada presentes nos segmentos a montante da cadeia (distribuição e revenda), a implementação de políticas fiscais com fim de amortecimento de preços é fundamental para a melhoria de bem-estar. Assim, observadas as experiências internacionais, pode-se pensar em duas formas para utilização da CIDE, tributo presente na estrutura de preços de combustíveis no Brasil revestido da legalidade necessária para o fim desejado. Na primeira, seria criado um fundo de estabilização de preços de derivados nos molde chileno, complementado por uma regra de média móvel para o ajuste do preço focal. As variações de preços internacionais fora da banda de oscilação seriam compensadas através da tributação ou restituição dos valores às empresas em percentuais definidos com o fim de preservar os recursos do fundo. A experiência brasileira da conta-petróleo poderia, inclusive, ser interpretada como uma experiência deste tipo. A desvantagem desta opção está no risco fiscal associado a má definição do preço focal, cujas conseqüências foram vistas nos casos chileno e brasileiro (acúmulo de saldos negativos na conta-petróleo). No Chile, optou-se pela reformulação do instrumento com vistas a maior proteção da situação fiscal. No Brasil, poder-se-ia adaptar o modelo chileno já reformulado. A segunda opção, vista como mais vantajosa, seria a definição de uma fórmula, inspirada nas experiências francesa e boliviana, através da qual, a CIDE teria sua alíquota variando em função de variações nos preços internacionais. Seria uma regra de gatilho aplicada ao imposto sobre os combustíveis. No caso francês, a taxa excedente (excise tax) varia de modo a compensar o aumento na arrecadação fiscal a título de imposto sobre valor agregado, uma vez que, assim como no Brasil, o imposto sobre valor agregado incide sobre o preço da refinaria, já adicionado da TIPP. Quando o preço na refinaria aumenta, como o IVA é um imposto ad valorem, o montante de arrecadação também cresce. Com o fim de evitar 107 este aumento, toda a vez que o preço internacional aumenta em mais de 10%, a TIPP, se reduz e mantém o preço fixo. A aplicação à risca desta regra seria bastante complicada no caso brasileiro, pelo fato de ser o ICMS (análogo ao valor agregado) de competência estadual, enquanto a CIDE é arrecada pela Federação. No caso boliviano, o imposto variava de modo a deixar fixos os preços da gasolina e do diesel. Acredita-se que a fixação (congelamento) de preços não deve ser o objetivo de política, pois esta deve permitir oscilações necessárias a adaptação das decisões na economia. Dessa forma, haveria que se encontrar uma situação intermediária, através da construção de uma fórmula que ativasse variações na CIDE, como forma de amortecer as variações internacionais. Ao proteger a economia de grandes choques, mas permitir pequenas oscilações de preços domésticos, esta regra seria neutra do ponto de vista da estrutura industrial, uma vez que garantiria transparência e horizontalidade à política de preços. Embora estas alternativas de políticas sejam desejáveis e tenham respaldo instrumental na CIDE e na experiência internacional, a situação das contas públicas nacionais é outro sério obstáculo a sua implementação. Do ponto de vista fiscal, tal regra poderia comprometer o nível de arrecadação, uma vez que esta passa a depender das variações dos preços internacionais. Strito Sensus, contribuições não devem ser a base de arrecadação fiscal, pois se prestam, por definição, a objetivos específicos. Além disso, conforme evidenciado pelo caso boliviano, dependendo da regra adotada, o mecanismo pode inclusive contribuir para o incremento da arrecadação fiscal. Além disso, cabe ressaltar que os recursos arrecadados com a CIDE têm duas outras destinações previstas em lei, além do pagamento de subsídios aos preços: meio ambiente e infra-estrutura. Existe um problema a resolver, pois a Constituição Brasileira determina que todos os gastos estejam previstos em Lei Orçamentária, mesmos os vinculados a arrecadação de contribuições. Como solução, poder-se ia estipular em lei, que os recursos destinados aos dois outros fins sejam excedentes fiscais gerados no ano anterior. Esta definição serviria para não comprometer o objetivo básico de amortecimento da volatilidade internacional. Pode-se alegar que a interferência política nos preços praticados pela empresa é fruto do período particular tomado para análise: os primeiros semestres de abertura. Após um longo período de controle de preços, seria utópico esperar que os preços se comportassem estritamente conforme as forças do mercado internacional. Adiciona-se a isso, o fato do primeiro ano de abertura ser coincidente com um período de grande incerteza macroeconômica. Estas alegações são bastantes pertinentes. No entanto, a análise realizada serve a exemplificar os dilemas entre objetivos macroeconômicos e setoriais que permeiam a 108 indústria de petróleo desde a implementação da reforma institucional e revelam ainda elementos faltantes à finalização de um novo regime da indústria. No caso estudado, fica patente a ausência de regras claras de preços na indústria de petróleo. Dada a presença de uma empresa dominante de controle estatal, tais regras permitiriam a entrada de novas opções de oferta de combustíveis, bem como a proteção dos preços domésticos da volatilidade dos preços de petróleo e derivados no mercado internacional, a qual, no caso brasileiro ainda é adicionada do fator cambial. Na ausência destas regras, devida a situação fiscal do Estado brasileiro, a “tentação” pelo caminho mais fácil da interferência nos preços da empresa tende a se tornar a regra. 109 Referências Bibliográficas ACCC. Reducing Price Variability – Discussion Paper (14/06/2001). Australian Competition and Consumer Commission (2001). Disponível em http://www.accc.gov.au/fspetrol.htm. Acesso em 30/06/2003 ACCC, Reducing Fuel Price Variability – Complete Report (2003). Australian Competition and Consumer Commission (2003). Disponível em : http://www.accc.gov.au/fspetrl.htm. Acesso em 30/06/03 ANP, Anuário Estatístico, 2003. Disponível em: http://www.anp.gov.br ALMEIDA, Edmar. SILVA, Carla. Entendendo o novo modelo do Downstream no Brasil. Boletim Infopetro, Dezembro de 2001. Disponível em http://www.ie.ufrj.br/infopetro APERC (Asian Pacific Energy Research Center). APEC Energy Pricing Policies: Implications for Energy Eficiency, Environment and Supply Infraestructure. Tóquio, Março de 2000. Disponível em http://www.aperc.org. Acesso em 15/04/2003 ARAÚJO, Ticiana. Preços de Derivados de Petróleo, mimmeo. BAIN, Joe S. Barriers to new competition: their character and consequences in manufacturing industries A. M. Kelley: Fairfield, N.J, 1956. BILWILLER, Bernardo. A Evolução da Precificação de Derivados no Brasil. Monografia de Graduação. Rio de Janeiro, IE-UFRJ : 2001. BRITISH PETROLEUM. Energy Statistical http://www.bp.com. Acesso em 10/07/2003 Review, 2003. Disponível em: BURDETTE, Michael. ZYREN, John. Gasoline Price Pass-through In: http://www.eia.doe.gov/pub/oil_gas/petroleum/feature_articles/2003/gasolinepass/gas olinepass.htm (2001) CEPAL – Seminario Internacional: Politicas de Precios de Combustibles em America Latina: Impactos sobre la Economia y el medio ambiente. CEPAL, Santiago do Chile, Dezembro de 2002. CHENNELLS, Lucy. The Windfall Tax. Institute of Fiscal Studies. Vol 18. n. 3. Londres, 1997.Disponível em http://www.ifs.org.uk/publications/fiscalstudies/fslucy.pdf CLARKE, Roger. Industrial Economics. Blackwell Publishers. Oxford, 1985 CLO, Alberto. Oil Economics and Policy. Kluwer Academic Publishers, Londres, 2000. CNE, Real Decreto-Ley 15/1999, de 1 de octubre, por el que se aprueban medidas de liberalización, reforma estructural e incremento de la competencia en el sector de hidrocarburos. Boletin Oficial del Estado núm. 236 de 2 de Outubro de 1999. Disponível em http://www.cne.es COOK, John. Factors impacting Gasoline Prices and Áreas for further Study. FTC Public Conference. Agosto de 2001 IN: http://www.eia.doe.gov/pub/oil_gas/petroleum/presentations/2001/factors_gasoline_pr ices.htm DUTRA, Luís Eduardo Duque. CECCHI, José Cesário Petróleo, preços e tributos: experiência internacional e política energética nacional. Suma Econômica. Rio de Janeiro, 1998 EIA - ENERGY INFORMATION ADMINISTRATION. Gasoline Type Proliferation and Price Volatility. In: http://www.eia.doe.gov 2002 b EIA ENERGY INFORMATION ADMINISTRATION. Prices Changes in the gasoline market: Are Midwestern price downward sticky? (1999) Disponível em: http://www.eia.doe.gov. Acesso em 03/06/03 EIA ENERGY INFORMATION ADMINISTRATION, Country Brief analysis: Australia (2003)d Disponível em: http://www.eia.doe.gov/emeu/cabs/australi.html). Acesso em 18/05/2003. EIA, ENERGY INFORMATION ADMINISTRATION (2002.a), Derivatives and Risk Management in the Petroleum, Natural Gas and Electricity Industries. Disponível em http://www.eia.doe.gov/oil_gas/petroleum/analysis_publications/pet_analysis_publicat ions.html. Acesso em 22/07/2003 EIA, ENERGY INFORMATION ADMINISTRATION. California Gasoline Price Study(2003c): preliminary findings. http://www.eia.doe.gov/oil_gas . Acesso em 30/072003 EIA, ENERGY INFORMATION ADMINISTRATION. Oil Basics - Prices. Disponível em: <http://www.eia.doe.gov>, acesso em 12/03/2003 (a) EIA, ENERGY INFORMATION ADMINISTRATION. Oil Basics - Refining. Disponível em: <http://www.eia.doe.gov>, acesso em 12/03/2003 (b) EIA, Energy Information Association. http://www.eia.doe.gov/emeu/cabs/chile.html EIA, A Primer on Gasoline Prices, In: http://www.eia.doe.go v/pub/oil_gas/petroleum/analysis_publications/primer_on_gasol ine_prices/html. FERNANDES, Eliana. PINTO JR, Helder. O Mercado Internacional do Petróleo e Comportamento dos Preços . Notas Técnicas da ANP- Volume I Regulação. ANP, Rio de Janeiro: 2000. FREDERICO, Giulio, DANIEL, James, BINGHAN, Benedict. Domestic Petroleum Price Smoothing in Developing and Transition Countries. International Monetray Fund (IMF), Working Paper (WP/01/75) in www.imf.org, Maio, 2001 FRITSH, Winston. Apresentação. In: SMITH, Adam. A Riqueza das Nações Vol. I. Coleção Os Economistas. São Paulo, Abril Cultural, 1983 111 GILBERT, R. Mobility Barrier and the value of Incumbency. In; SCHMALENSEE, Richard. WILIG, Robert.(orgs) Handbook of Industrial Organization. Volume I.. Elsevier Science Publishers: Amsterdam, 1989 GRANT, Robert. CIBIN, Renato. Strategy, Structure and Market Turbulence: The international Oil Majors, 1970-1991. Management Journal Vol. 12 N.2 pp. 165 -188, Elsevier Publishers, Oxford, 1996 GUIMARÃES, Eduardo. Acumulação e Crescimento da Firma: Um estudo de Organização Industrial. Zahar Editores. Rio de Janeiro, 1982 GUIMARÃES, Eduardo. Barreiras à Entrada. Texto Didático n. 19 Instituto de Economia IE/UFRJ: Rio de Janeiro, 1983 HOSSAIN, Shahabuddin. Taxations and Pricing of Petroleum Products in Developing Counstries: A framework for analisys with application to Nigeria. International Monetary Fund (IMF), Working Paper (WP/03/42) in www.imf.org, Fevereiro, 2003 HOTELLING, Harold. The Economics of Exhaustible Resources. Journal of Political Economy, volume 39, pages 137-175, 1931 IEA. Energy Policies of IEA Countries: France Review 2000 IEA, Paris, 2000. Disponível em http://www.iea.org/publications acesso em 02/05/2003 IEA, Energy Policies of IEA Countries: Spain Review 2001 IEA, Paris, 2001. Disponível em http://www.iea.org/publications acesso em 02/05/2003 IEA. Energy Prices and Taxes Quarterly Statistcs 1st Quarter. IEA, Paris: Abril de 2003a IPEADATA. Taxas de Câmbio :Médias diárias da cotação de venda do Banco Central do Brasil – janeiro de 2002 a julho de 2003. Disponível em http://www.ipeadata.gov.br. Acesso em 5/07/2003. KOUTSOYANNIS, A . Modern Microeconomics. Macmillan Education. Londres, 1975 KUPFER, David. Barreiras Estruturais à Entrada. In. KUPFER, David. HASENCLEVER, Lia (Eds) Economia Industrial - Fundamentos Teóricos e Práticas no Brasil. Editora Campus. Rio de Janeiro, 2002 MÁRQUEZ, Miguel. El Fondo de Estabilización de Precios del Petróleo y el mercado de los derivados en Chile. Projeto OLADE/CEPAL "Energía y desarrollo sustentable en América Latina y el Caribe". Santiago do Chile, dezembro, 2000. In: www.eclac.cl MARSHALL, Alfred. Princípios de Economia Vol. 1. (1890) Coleção Os Economistas. São Paulo, Abril Cultural, 1982 MARTINS, Cristiano.Introdução da Concorrência e Barreiras à Entrada a Atividade de Refino de Petróleo no Brasil. Dissertação de Mestrado em Economia. Instituto de Economia IE/UFRJ. Rio de Janeiro, 2003 MASSEL, Benton. Price Stabilization and Welfare. The Quarterly Journal of Economics, Volume 83, Número 2 Maio, 1969. 112 MINEFI – Ministère de l'Économie, des Finances et de l'Industrie. La hausse des prix des produits pétroliers en France pendant l'année 2000: Les répercussions en France et les mesures gouvernementales Relatório Anual. Disponível em: http://www.industrie.gouv.fr/cgibin/industrie/f_nrj023.pl?bandeau=/energie/petrole/be_petro.htm&gauche=/energie/pe trole/me_petr.htm&droite=/energie/petrole/textes/prixp et.htm. Acesso em 08/06/03 MODIGLIANI, Franco. New Developments on the Oligopoly Front. Journal of Political Economy Vol 66, No. 3, Junho de 1958. NEWBERY, David. STIGLITZ, Joseph. The Theory of Commodity Price Stabilization: A Study in the Economics of Risk. Clarendon Press, Oxford, 1981 PENROSE, Edith. Growth of firms, Middle East Oil, and other essays. First.Class: Londres,1971 PIRA. Shifting Trading Winds – Section II: Global Outlook. Abril, 2002 mimmeo. PIRA. World Oil Market Forecast 24/02/03 mimmeo POSSAS, Mario. Estruturas de Mercado em Oligopólio. Editora Hucitec. São Paulo, 1985 POSTALI, Fernando. Renda Mineral, Divisão de Riscos e Benefícios governamentais na exploração de petróleo no Brasil. Rio de Janeiro: BNDES, 2002. PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Lei n. 10.336 de 19 de Dezembro de 2001. Lei que Institui a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico. Disponível em http://www.anp.gov.br/legislação. PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Lei n. 10.453, DE 13.5.2002. Lei que Dispõe sobre subvenções ao preço e ao transporte do álcool combustível e subsídios ao preço do gás liqüefeito de petróleo - GLP, e dá outras providências. Disponível em http://www.anp.gov.br/legislação. PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Decreto n.4565 de 01/01/03. Reduz as alíquotas da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico Disponível em http://www.anp.gov.br/legislação. PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Lei n. 10.636, DE 30.12.2002 Dispõe sobre a aplicação dos recursos originários da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico – Cide, cria o Fundo Nacional de Infra-Estrutura de Transportes - FNIT e dá outras providências. Disponível em http://www.anp.gov.br/legislação. PYNDICK, Robert. The Dynamics of Spot and Futures Prices: a Primer. Energy Journal, Vol 22, n. 3. IAEE, 2001 RABINOVICH, Gerardo. RIAVITZ, Rui. CATTANEO, Fernando. Comportamiento de los precios de las naftas y del gas oil desde la desregulación petrolera (1992/1999). Instituto Argetino de la Energía "General Mosconi". Disponível em http://www.iae.org.ar., acesso em 07/06/2003. 113 REVISTA BRASIL ENERGIA. Rumo à desregulamentação do mercado de Combustíveis, nº277, outubro de 1999. RETZ, Patricia Florio Mercado de distribuição de combustíveis: Competição e Regulação. Dissertação de Mestrado. UFRJ/ COPPE. Rio de Janeiro, 2003 RICARDO, David. Princípios de Economia Política e Tributação (1821). Coleção Os Economistas. São Paulo, Abril Cultural, 1982 ROCHA, Frederico. Prevenção estratégica à entrada. In. KUPFER, David. HASENCLEVER, Lia (Eds) Economia Industrial - Fundamentos Teóricos e Práticas no Brasil. Editora Campus. Rio de Janeiro, 2002 RUIZ, José. Impactos e Desafios Asociados a las Reformas de las Subvenciones: Experiencia de Chile. Apresentação no Seminário Reforma a la Subveción energética y desarrollo sustentable: Retos para los políticos, Santiago, Março de 2001. Disponível em <http://www.cne.cl> SANTOS, Edmílson dos.Análise do Impacto da Abertura do Mercado Brasileiro de Derivados de Petróleo, São Paulo, USP Mimmeo, 2000 SATHLER, Márcio Werner Lima. Análise da evolução do sistema de formação de preços dos derivados de petróleo no Brasil. Dissertação de Mestrado. UFRJ/ COPPE. Rio de Janeiro, 2000. SCHECHTMAN, Rafael. Combustíveis no Brasil: políticas de preços e estrutura tributária. Notas Técnicas ANP, n. 11 Rio de Janeiro, 2001 SEAE. Prováveis Impactos na Economia brasileira decorrentes da liberalização do mercado de derivados de petróleo e os possíveis entraves ao funcionamento competitivo deste mercado. Documento de Trabalho n. 15, Ministério da Fazenda, Brasília, 2002,. SILVA, Carla. IOOTTY, Mariana. Possíveis Estratégias de Competição no Downstream no Brasil Boletim Infopetro, Outubro de 2002. Disponível em http://www.ie.ufrj.br/infopetro SILVEIRA, Joyce. A Abertura do mercado de abastecimento de combustíveis: a nova estrutura tributária e a evolução da desregulamentação de preços. Notas Técnicas ANP, n. 14 Rio de Janeiro, 2002. SIRESE. Secretaria de Regulación Sectorial. In: http://www.sirese.gob.bo. Acesso em 04/07/03 SMITH, Adam. A Riqueza das Nações Vol. I. (1776) Coleção Os Economistas. São Paulo, Abril Cultural, 1983 SMITH, Zöe. The petrol tax debate. The Institute for Fiscal Studies (IFS) Briefing Note n. 8, Julho de 2000.. Disponível em http://www.ifs.org.uk. Acesso em 4/06/03 114 STIGLER, George J. Perfect Competition, Historically Contemplated. Journal of Political Economy n. 65. University of Chicago, 1957 pp. 1 - 17. Reprinted in: KUENNE, Robert (ed) Readings in Applied Microeconomic Theory: Market Forces and Solutions. Blackwell. Oxford, 2000. SYLOS-LABINI, Paolo. (1957) Oligopólio e Progresso Técnico, Turim, Coleção Os Economistas. São Paulo, Abril Cultural, 1984 TIROLE. Jean. The Theory of Industrial Organization. The MIT Press, Londres, 1988. TUSIANI, Michael. (1996) The Petroleum Shipping Industry Vol. 1. Penwell Non Technical series, Tulsa, Oklahoma. WILLIAMSON, Oliver. The Economic Institutions of Capitalism. The Free Press, Nova York, 1985. WORLD ENERGY OUTLOOK (WEO), Energy Price Volatility: Trends and consequences. Disponível em: <http://www.worldenergyoutlook.org> 115 Referências Bibliográficas ACCC. Reducing Price Variability – Discussion Paper (14/06/2001). Australian Competition and Consumer Commission (2001). Disponível em http://www.accc.gov.au/fspetrol.htm. Acesso em 30/06/2003 ACCC, Reducing Fuel Price Variability – Complete Report (2003). Australian Competition and Consumer Commission (2003). Disponível em : http://www.accc.gov.au/fspetrl.htm. Acesso em 30/06/03 ANP, Anuário Estatístico, 2003. Disponível em: http://www.anp.gov.br ALMEIDA, Edmar. SILVA, Carla. Entendendo o novo modelo do Downstream no Brasil. Boletim Infopetro, Dezembro de 2001. Disponível em http://www.ie.ufrj.br/infopetro APERC (Asian Pacific Energy Research Center). APEC Energy Pricing Policies: Implications for Energy Eficiency, Environment and Supply Infraestructure. Tóquio, Março de 2000. Disponível em http://www.aperc.org. Acesso em 15/04/2003 ARAÚJO, Ticiana. Preços de Derivados de Petróleo, mimmeo. BAIN, Joe S. Barriers to new competition: their character and consequences in manufacturing industries A. M. Kelley: Fairfield, N.J, 1956. BILWILLER, Bernardo. A Evolução da Precificação de Derivados no Brasil. Monografia de Graduação. Rio de Janeiro, IE-UFRJ : 2001. BRITISH PETROLEUM. Energy Statistical http://www.bp.com. Acesso em 10/07/2003 Review, 2003. Disponível em: BURDETTE, Michael. ZYREN, John. Gasoline Price Pass-through In: http://www.eia.doe.gov/pub/oil_gas/petroleum/feature_articles/2003/gasolinepass/gas olinepass.htm (2001) CEPAL – Seminario Internacional: Politicas de Precios de Combustibles em America Latina: Impactos sobre la Economia y el medio ambiente. CEPAL, Santiago do Chile, Dezembro de 2002. CHENNELLS, Lucy. The Windfall Tax. Institute of Fiscal Studies. Vol 18. n. 3. Londres, 1997.Disponível em http://www.ifs.org.uk/publications/fiscalstudies/fslucy.pdf CLARKE, Roger. Industrial Economics. Blackwell Publishers. Oxford, 1985 CLO, Alberto. Oil Economics and Policy. Kluwer Academic Publishers, Londres, 2000. CNE, Real Decreto-Ley 15/1999, de 1 de octubre, por el que se aprueban medidas de liberalización, reforma estructural e incremento de la competencia en el sector de hidrocarburos. Boletin Oficial del Estado núm. 236 de 2 de Outubro de 1999. Disponível em http://www.cne.es COOK, John. Factors impacting Gasoline Prices and Áreas for further Study. FTC Public Conference. Agosto de 2001 IN: http://www.eia.doe.gov/pub/oil_gas/petroleum/presentations/2001/factors_gasoline_pr ices.htm DUTRA, Luís Eduardo Duque. CECCHI, José Cesário Petróleo, preços e tributos: experiência internacional e política energética nacional. Suma Econômica. Rio de Janeiro, 1998 EIA - ENERGY INFORMATION ADMINISTRATION. Gasoline Type Proliferation and Price Volatility. In: http://www.eia.doe.gov 2002 b EIA ENERGY INFORMATION ADMINISTRATION. Prices Changes in the gasoline market: Are Midwestern price downward sticky? (1999) Disponível em: http://www.eia.doe.gov. Acesso em 03/06/03 EIA ENERGY INFORMATION ADMINISTRATION, Country Brief analysis: Australia (2003)d Disponível em: http://www.eia.doe.gov/emeu/cabs/australi.html). Acesso em 18/05/2003. EIA, ENERGY INFORMATION ADMINISTRATION (2002.a), Derivatives and Risk Management in the Petroleum, Natural Gas and Electricity Industries. Disponível em http://www.eia.doe.gov/oil_gas/petroleum/analysis_publications/pet_analysis_publicat ions.html. Acesso em 22/07/2003 EIA, ENERGY INFORMATION ADMINISTRATION. California Gasoline Price Study(2003c): preliminary findings. http://www.eia.doe.gov/oil_gas . Acesso em 30/072003 EIA, ENERGY INFORMATION ADMINISTRATION. Oil Basics - Prices. Disponível em: <http://www.eia.doe.gov>, acesso em 12/03/2003 (a) EIA, ENERGY INFORMATION ADMINISTRATION. Oil Basics - Refining. Disponível em: <http://www.eia.doe.gov>, acesso em 12/03/2003 (b) EIA, Energy Information Association. http://www.eia.doe.gov/emeu/cabs/chile.html EIA, A Primer on Gasoline Prices, In: http://www.eia.doe.gov/pub/oil_gas/petroleum/analysis_publications/primer_on_gasol ine_prices/html. FERNANDES, Eliana. PINTO JR, Helder. O Mercado Internacional do Petróleo e Comportamento dos Preços . Notas Técnicas da ANP- Volume I Regulação. ANP, Rio de Janeiro: 2000. FREDERICO, Giulio, DANIEL, James, BINGHAN, Benedict. Domestic Petroleum Price Smoothing in Developing and Transition Countries. International Monetray Fund (IMF), Working Paper (WP/01/75) in www.imf.org, Maio, 2001 FRITSH, Winston. Apresentação. In: SMITH, Adam. A Riqueza das Nações Vol. I. Coleção Os Economistas. São Paulo, Abril Cultural, 1983 110