Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ANAIS DA IV SEMANA DE GEOGRAFIA DE IRATI UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO-OESTE CAMPUS DE IRATI Irati, PR 2008 1 ISSN 1983-4667 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 ANAIS DA IV SEMANA DE GEOGRAFIA DE IRATI UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO-OESTE CAMPUS DE IRATI Volume 1 -ANO 2008 Irati, PR 2008 2 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 ANAIS DA IV SEMANA DE GEOGRAFIA DE IRATI UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO-OESTE CAMPUS DE IRATI Volume 1 -ANO 2008 UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO-OESTE CAMPUS DE IRATI 1º A 06 de setembro de 2008 TIRAGEM 200 Unidades (DVD) Organizadores Prof. Msc. Aparecido Ribeiro de Andrade Prof. Msc. Wilson Flávio Feltrim Roseghini A exatidão das informações, os conceitos e opiniões emitidos nos resumos são de exclusiva responsabilidade dos autores. É permitida a reprodução parcial ou total dessa obra, desde que citada à fonte. Diagramação, Impressão e Reprodução Copiadora Copycenter, Rua Carlos Thoms, 59, Centro, CEP 84500-000, Irati, PR. Fone 42-3422-2424 3 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO-OESTE - UNICENTRO Campus Universitário de Irati – Centro de Ciências Agrárias e Ambientais Departamento de Geografia - DEGEO - Fone (42) 3421-3017 PR 153 – KM 7 – Bairro Riozinho. CEP 84500-000 – Irati - PR. 4 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ CAMPUS REGIONAL DE UMUARAMA Reitor: Vitor Hugo Zanette o Pró-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação: Prof. Dr . Marco Aurélio Romano Diretor Campus de Irati: Prof. Dr. Mário Umberto Menon Coordenação Prof. Aparecido Ribeiro de Andrade Prof. Roberto França Silva Jr Comissão Científica Prof. Almir Nabozny Profª. Karla Rosário Brumes Prof. Wilson Flávio Feltrim Roseghini Prof. Sergio Gonçalves Prof. Valdemir Antoneli Profª Wanda Terezinha Pacheco dos Santos Comissão Organizadora Prof. Almir Nabozny Profª. Karla Rosário Brumes Prof. Luiz Carlos Basso Prof. Wilson Flávio Feltrim Roseghini Marlon Fabio A. Carvalho (acadêmico de Geografia) Maycon Luiz Tchmolo (estagiário) Equipe de Apoio Cassiano Lara de Lima (acadêmico de Geografia) Dalton Renan Fleischer (acadêmico de Geografia) Elizeu Eduardo Czekalski (acadêmico de Geografia) Giovanna de Souza (acadêmica de Geografia) João Anesio Bednarz (acadêmico de Geografia) Katya Elise Cicorum (acadêmico de Geografia) Luciano Almeida de Souza (acadêmico de Geografia) Miguel Lubaczeuski (acadêmico de Geografia) Patrick Fernando de Oliveira (acadêmico de Geografia) Regiane Barteko (acadêmica de Geografia) Viviane Regina Caliskevstz (acadêmica de Geografia) Vinicius João Vienc (acadêmico de Geografia) Zaqueu Luiz Bobato (acadêmico de Geografia) 5 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 SUMÁRIO APRESENTAÇÃO DO EVENTO..................................................................................................8 PROGRAMAÇÃO DO EVENTO ..................................................................................................10 MESA REDONDA 1: O Método e a Ideologia na Análise do Espaço Geográfico ...................11 MESA REDONDA 2: A evolução da ciência geográfica a partir de semanas acadêmicas”: Avaliação das atividades da Semana e debate científico ...........................................................21 MINI-CURSO 1: A Geotecnologia como Ferramenta para Representação do Espaço Geográfico ......................................................................................................................................23 MINI-CURSO 2: Processos Hidrodinâmmicos em Bacias Hidrográficas: Uso da Modelagem para Análise do Espaço............................................................................................24 PALESTRA FINAL PARTE 1: Diversidade e Conflitos Ambientais no Brasil ..............................................35 PARTE 2: Os Geófrafos Frente às Dinâmicas Sócio-ambientais no Brasil ..................42 TRABALHO DE CAMPO: A contribuição da Geografia nas Pesquisas Sócio-Ambientais ...48 RESUMOS EXPANDIDOS - COMUNICAÇÕES ORAIS: ..........................................................50 AQUECIMENTO GLOBAL E POSSIVEIS MUDANÇAS CLIMÁTICAS LOCAIS: O CASO DE IRATI ............................................................................................................................ 51 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE AQUECIMENTO GLOBAL ...................................... 53 MUDANÇAS NO SISTEMA VIÁRIO DA CIDADE DE IRATI-PR: PROLEGÔMENOS À CIRCULAÇÃO (URBANA) E À VELOCIDADE......................................................................... 55 ALGUMAS IMPRESSÕES A RESPEITO DA FRONTEIRA E DO TERRITÓRIO A PARTIR DE TRABALHO DE CAMPO REALIZADO EM FOZ DO IGUAÇU (BRASIL), PUERTO IGUAZÚ (ARGENTINA) E CIUDAD DEL LESTE (PARAGUAI) ............................ 57 A MUSICIDADE E A GEOGRAFIA: O ESPAÇO GEOGRÁFICO POR MEIO DE SONS & LETRAS .......................................................................................................................................... 59 REPERCUSSÃO DO AQUECIMENTO GLOBAL EM MEIO À SOCIEDADE, UM PARALELO ENTRE A VOZ DA MÍDIA E DA CIÊNCIA .......................................................... 61 ENTRE AS PRÁTICAS AGRÍCOLAS AGROECOLÓGICAS E AS CONVENCIONAIS NO MUNICÍPIO DE SÃO MATEUS DO SUL-PR: DA PRODUÇÃO A PROMOÇÃO DA VIDA.. 63 RECICLANDO MATERIAIS E IDÉIAS: UMA PROXIMAÇÃO POSSÍVEL NO ENSINO DE GEOGRAFIA............................................................................................................................ 65 O ESTUDO DO CLIMA URBANO NO BRASIL ......................................................................... 67 INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA CLIMATOLOGIA NO ENSINO FUNDAMENTAL ........... 69 CIDADES MÉDIAS: ANÁLISE DA ESTRUTURA ECONÔMICA E SÓCIO-ESPACIAL DE MARINGÁ-PR ......................................................................................................................... 71 CAPITALISMO E A DIVISÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO....................................... 73 6 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 SISTEMAS DE INFORMAÇÕES GEOGRÁFICAS, UM OLHAR PARA O CEMITÉRIO MUNICIPAL SÃO JOSÉ................................................................................................................ 75 A QUESTÃO DO LIXO E A PRÁXIS EDUCATIVA NO CONTEXTO URBANO: O CASO DA CIDADE DE IRATI-PR ........................................................................................................... 77 FAZENDO ARTE COM AS MÃOS (ARTESANATO) INOVANDO ATITUDES – NOTAS SOBRE UMA EXPERIÊNCIA EDUCACIONAL HOLÍSTICA ................................................... 79 AS MULTITERRITORIALIDADES: UMA BREVE DISCUSSÃO SOBRE O TERRITÓRIO .. 81 A GLOBALIZAÇÃO E A COMPETITIVIDADE ENDÓGENA DO SETOR DE MALHAS DE IMBITUVA-PR......................................................................................................................... 83 CARTOGRAFIA NO ENSINO: TEORIA E PRÁTICA ................................................................ 85 DIVISÕES REGIONAIS DO BRASIL .......................................................................................... 87 RESUMOS EXPANDIDOS - TRABALHOS EM PAINÉIS ......................................................... 89 UMA APROXIMAÇÃO GEOGRÁFICA AS ÁGUAS MINERAIS SULFUROSAS DO MUNICÍPIO DE MALLET-PR ...................................................................................................... 90 DINÂMICA ECONÔMICA E MOVIMENTOS MIGRATÓRIOS: COMPREENDENDO A VILA ZEZO EM IMBITUVA-PR .................................................................................................. 92 ARROIO DOS PEREIRAS EM IRATI: O RIO COMO INSTRUMENTO DIDÁTICO AO ENSINO DE GEOGRAFIA ............................................................................................................ 94 AGRICULTURA FAMILIAR E TRANSFORMAÇÕES SOCIOECONÔMICAS: O CASO DA FUMICULTURA EM ÁGUA QUENTE DOS LUZ, REBOUÇAS-PR.................................. 96 PROJETO CAVERNA – EDUCAÇÃO TURISTICA E ROTEIROS PEDAGÓGICOS............... 98 OS FLUXOS ADUANEIROS ENTRE BRASIL, ARGENTINA E PARAGUAI NA TRÍPLICE FRONTEIRA: ORGANIZANDO O PENSAMENTO EM TORNO DA OBSERVAÇÃO DE CAMPO ........................................................................................................ 100 LUZ, CÂMERA E AÇÃO PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA: A PRÁTICA CONSERVADORA DO ENSINO REELABORADA POR MEIO DOS FILMES ....................... 102 A IMPORTÂNCIA DAS ÁREAS VERDES URBANAS, UM ESTUDO DE CASO NO MUNICÍPIO DE REBOUÇAS-PR ................................................................................................. 104 REPRESENTANDO O GEOGRÁFICO EM FOTOGRAFIAS: UMA APROXIMAÇÃO A EDUCAÇÃO AMBIENTAL .......................................................................................................... 106 CIRCUITO ESPACIAL PRODUTIVO DO LEITE E SEUS CÍRCULOS DE COOPERAÇÃO NO ESPAÇO A PARTIR DE IRATI-PR........................................................................................ 108 AÇÃO SUSTENTÁVEL................................................................................................................. 110 TRABALHANDO OS TEMAS TRANSVERSAIS NO ENSINO DA GEOGRAFIA: A ÉTICA NA EDUCAÇÃO ESCOLAR ............................................................................................ 112 O COMPORTAMENTO EROSIVO E SUA RELAÇÃO COM A VEGETAÇÃO RIPÁRIA: UM ESTUDO DE CASO ................................................................................................................ 114 SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL EM IRATI-PR: A VILA RAQUEL EM QUESTÃO ....... 116 7 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 IV Semana de Geografia de Irati “OCUPAÇÃO DO ESPAÇO: ISSO É O (UM) MÉTODO DE ANÁLISE GEOGRÁFICA” A IV Semana de Geografia, evento de alcance regional para divulgação das pesquisas e reflexões concernentes a temas atuais de suma relevância, principalmente para os estudantes, pretendeu propiciar o contato com especialistas de diferentes visões e de outras instituições de ensino superior do Paraná e do Brasil. Este evento abordou a discussão da questão do método e da ideologia no estudo da ciência geográfica. Tal reflexão, que pode parecer simples, não se configura como tal, pois a discussão da apropriação da metodologia científica para fins pessoais e, muitas vezes, imorais, remonta ao início das primeiras descobertas científicas da sociedade. Os limites ambientais definidos pelo espaço geográfico, enquanto local de acontecimento das mais diversas experiências da relação do homem com o meio, são colocados como impedimento ao desenvolvimento social. Os recursos se escasseiam e a sociedade está em estado de alerta. A mídia aventa todos os dias os problemas referentes, principalmente ao “aquecimento global”, e, diante da grande difusão por parte dos meios de comunicação, faz-se necessário cada vez mais munir estudantes e pesquisadores de substratos teóricos e empíricos para melhor se posicionarem frente aos discursos, tanto científicos quanto não científicos, ou seja, com o atual nível de divulgação dos problemas ambientais globais e com as mudanças sociais profundas advindas da atual fase do capitalismo, se torna premente uma visão crítica diante dos atuais processos. Pretendeu-se que os participantes, principalmente os acadêmicos de Geografia, ampliassem a visão integrada das diferentes áreas da ciência geográfica, sob a perspectiva da atual questão sociedade-natureza, na sua relação mais estreita com a pesquisa e com o ensino de Geografia. Tanto acadêmicos quanto professores buscaram uma integração com a discussão elaborada por professores de outras instituições que divulgaram as recentes pesquisas de diferentes instituições de ensino e pesquisa. Tais objetivos, uma vez alcançados, deverão enriquecer o conhecimento dos acadêmicos, através de conteúdos práticos, realizados através de mini-cursos e teóricos, ministrados sobretudo nas palestras. Os quase 150 participantes do evento tiveram a oportunidade de identificar, discutir e analisar os principais problemas relacionados à Geografia contemporânea. Estes participantes não se restringiram à comunidade acadêmica da Unicentro, pois 8 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 professores e alunos do ensino fundamental e médio de escolas da região também participaram, inclusive com apresentação de trabalhos, fato que só fez crescer a qualidade do evento. A divulgação foi feita através dos meios de comunicação disponíveis na instituição (UNICENTRO), tais como: Imprensa Universitária, rádio, internet, bem como a Assessoria de Comunicação Social. Também foram confeccionados cartazes e folders. Procedimento que só foi possível graças ao apoio e patrocínio de algumas instituições públicas e privadas. Dentre as instituições públicas, merece destaque a Fundação Araucária, que prontamente concedeu apoio financeiro para a realização do presente evento, mas a contribuição dos outros patrocinadores também foram importantes, principalmente na parte de divulgação do evento e de aquisição de materiais como as bolsas para acondicionamento dos materiais a serem distribuídos a cada um dos participantes. Enfim, é com grande satisfação que apresentamos os resultados do evento em forma de anais e convidamos o leitor a testemunhar a divulgação, através desta mídia, das atividades realizadas no período de 1º a 6 de setembro de 2008 no campus universitário de Irati. Qualquer dúvida, sugestão ou crítica poderá ser encaminhado aos coordenadores do evento. Saudações geográficas.... Prof. Aparecido Ribeiro de Andrade e-mail: [email protected] Coordenador Geral Prof. Roberto França da Silva Júnior e-mail: [email protected] Vice-coordenador 9 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 PROGRAMAÇÃO DO EVENTO Data 01/09 Horário Início Término 18:50h 19:30h Atividade Credenciamento Solenidade de Abertura Prof. Msc. Vitor Hugo Zanette – Magnífico Reitor Prof. Msc. Aldo Nelson Bona – Ilmo. Vice-Reitor 01/09 19:30h 20h Prof. Dr. Mario Humberto Menon – Ilmo. Diretor do Campus de Irati Prof. Dr. Mario Takao Inoue – Ilmo. Diretor Setor de Ciências Agrárias e Ambientais Prof. Msc. Luiz Carlos Basso – Chefe do Departamento de Geografia Palestra de Abertura: “OCUPAÇÃO DO ESPAÇO: ISSO É O (UM) MÉTODO DE 01/09 20h 23h ANÁLISE GEOGRÁFICA?” Prof. Dr. Douglas Santos (PUC-SP) Profª. Msc. Karla Rosário Brumes (UNICENTRO/Irati) Mini-curso 01: “A Geotecnologia como Ferramenta para Representação do 02/09 14h – 18h 19h – 23h 02/09 14h – 18h 19h – 23h Espaço Geográfico” Ministrante: Prof. Dr. Luiz Gilberto Bertotti (UNICENTRO – Guarapuava) Mini-curso 02: “Geomorfologia: métodos e técnicas Ministrante: Prof. Dr. Leonardo José Cordeiro Santos (UFPR - Curitiba) Mini-Curso 03: “Processos hidrodinâmicos em bacias hidrográficas: uso da 02/09 14h – 18h 19h – 23h modelagem para análise do espaço” Ministrante: Prof. Dr. Leandro Redin Vestena (UNICENTRO – Guarapuava) Mesa Redonda 01 : “O Método e a Ideologia na Análise do Espaço Geográfico” Prof. Dr. Luis Lopes Diniz Filho (UFPR - Curitiba) 03/09 Profª Dr. Sérgio Fajardo (UNICENTRO - Guarapuava) 19h 23h Prof. Ms. Roberto França da Silva Júnior (UNICENTRO - Irati) Palestra de Encerramento: “A contribuição da Geografia nas Pesquisas Sócio04/09 19h 23h Ambientais” Prof. Dr. Roberto Verdun (UFRGS – Porto Alegre) Prof. Ms. Wilson Flávio Feltrim Roseghini (UNICENTRO – Irati) Mesa Redonda 02: “A evolução da ciência geográfica a partir de semanas acadêmicas”: Avaliação das atividades da Semana e debate científico Prof. Ms. Aparecido Ribeiro de Andrade (UNICENTRO – IRATI) 05/09 19h 23h Prof. Ms. Roberto França da Silva Júnior (UNICENTRO – IRATI) Profª Ms. Karla Rosário Brumes (UNICENTRO – IRATI) Confraternização - GEOFESTA Saída 06/09 14h 18h de Campo: “Aspectos Geoambientais dos Municípios Prudentópolis” Prof. Ms. Valdemir Antonelli (UNICENTRO - Irati) A apresentação de trabalhos foi realizada no período da tarde, das 18:00h às 19:00h nos dias 04 e 05/09. 10 de Irati e Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 Mesa Redonda 1: “O Método e a Ideologia na Análise do Espaço Geográfico” POR UMA CRÍTICA DA GEOGRAFIA CRÍTICA LUIS LOPES DINIZ FILHO Professor Adjunto Doutor do Departamento de Geografia da UFPR. 1. Características da teoria social crítica 1.1. A inversão do princípio da neutralidade científica 1.2. As duas vertentes principais da teoria crítica: o marxismo e o pós-modernismo 2. A teoria social crítica na Geografia 2.1. Identidade e unidade da Geografia Crítica: seus pressupostos fundamentais 2.2. A hegemonia da abordagem crítica na Geografia contemporânea 3. A crise da teoria social crítica e sua manifestação na Geografia brasileira 3.1. Do marxismo ao ecletismo pós-modernista: a Geografia Crítica mudou para continuar a mesma CONSIDERAÇÕES BANAIS SOBRE O MÉTODO E A IDEOLOGIA NA ANÁLISE DO ESPAÇO GEOGRÁFICO. ASPECTOS FORMATIVOS. ROBERTO FRANÇA DA SILVA JÚNIOR Professor Assistente mestre do DEGEO/I da Unicentro. Irati – Paraná. e-mail: [email protected] O tema é bastante desafiador. Discutir um tema dessa envergadura ao lado pessoas competentes, paralelo à discussão que estamos fazendo em uma tese sobre a relação da circulação e o espaço geográfico, causa certa preocupação. Diante disso, a proposta aqui é expor algumas angústias com base em questões bastante pontuais e banais. Primeiramente, o método é seqüência de fatos e decisões de forma ordenada para alcançar determinado objetivo. Não somos “contra o método”, por entendermos que o ordenamento das idéias e a coerência são dois dos pressupostos básicos, para se atingir um conhecimento que contribua efetivamente para a ciência. Entendemos método ‘geográfico’ como o desenvolvimento congruente e não apriorístico de uma pesquisa, com base no confronto de concepções divergentes e convergentes. Esse desenvolvimento deverá constituir um sistema com base em conceitos e categorias de análise, que permitam a compreensão de determinada realidade. O tempo e o espaço são as principais dimensões da vida humana. O espaço geográfico é a categoria central, híbrido de técnicas e normas. Esta categoria viabiliza o entendimento de outros recortes espaciais como recursos: territoriais (territorialidades), regionais (regionalidades), redeonais (territórios-redes), área, zona. Quanto à ideologia, falemos das concepções consagradas. No século XVIII surgiram os ideólogos, pessoas que elaboravam teorias especulativas, abstratas e metafísicas a respeito do mundo das idéias e sua repercussão sobre o mundo dito concreto. Como os ideólogos tratavam basicamente do pensamento hegemônico burguês, isso levou Marx a conceituar ideologia como sendo o pensamento 11 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 dominante transcendido para toda a sociedade. Um tempo depois outros pensadores, inclusive marxistas como Lênin, passaram a compreender a ideologia como sendo “visão de mundo”, todavia estratificado em classes. Hoje, por meio de todo o pensamento ocidental que perpassou todo o século XX, vemos uma gama de ideologias científicas e não-científicas, filosóficas e não-filosóficas. Apresentadas as concepções centrais do tema proposto, a questão mais intricada é: qual é a relação do método com a ideologia? A ciência é própria das classes hegemônicas da civilização, portanto, visto na concepção marxiana, os métodos que servem (ou serviram) para aperfeiçoar a ciência, contém em si, a ideologia dominante. Visões de mundo e de ciência, contrárias à dominação de classe, como foi o caso da proposta do próprio Marx, também surgiram da ideologia. É a contradição, a dialética. Esse é o caso do contexto do iluminismo, a partir da fé na ciência para “libertar o homem da opressão”, revelou pensadores como Rousseau que criou a teoria do “bom selvagem”. As próprias obras de Marx também serviram para “aperfeiçoar o capitalismo”. Por muito tempo, o marxismo foi a única referência metodológica frente ao mundo do “desenvolvimento desigual e combinado”, levando mesmo àqueles que nunca leram sequer uma vírgula na obra de qualquer autor marxista clássico, a se intitularem marxistas. Surgiram partidos, movimentos sindicais e outras formas de organização, que levantaram (e ainda existem aqueles que levantam) a bandeira de oposição à “opressão dos trabalhadores”, “das minorias”, “dos estudantes pobres” etc. Nas ciências humanas, o problema foi ainda mais grave, pois fórmulas de preparação de monografias, dissertações e teses já estavam prontas diante do ortodoxismo do materialismo dialético, como único método verdadeiro. Nesse contexto, a ortodoxia marxista levou à construção de um sistema metodológico mecanicista, beirando ao positivismo lógico, que passou a não contribuir mais para as explicações geográficas recentes. No Brasil, essa contradição se colocava primeiramente como uma forma de responder à ideologia dominante das forças armadas no governo, “representando os interesses estadunidenses”, depois, como tentativa de demonstrar que o “sonho de uma construção de uma sociedade mais justa”, ainda não tinha acabado, acentuada pela provocação do ideólogo Francis Fukuyama, com a sua proposta de “Fim da História”. Para o autor, este momento é o do fim das ideologias. No entanto, a título de crítica, parafraseando Bobbio “(...) não há nada mais ideológico do que a afirmação de que as ideologias estão em crise. E depois, esquerda e direita não indicam apenas ideologias” (2001, p.51) 1. Cabe estabelecer também, uma diferenciação importante, ou seja, entendemos que existe uma ideologia própria de cada um, por meio da visão de mundo constituída ao longo das existências, pari passu à produção de ideologia. Cabe também, um esforço de método para não se produzir ideologia, pois, ideologia não é ciência, embora toda ciência porte uma ideologia. Isto é, não existe neutralidade científica. O desenvolvimento das forças produtivas com o “aperfeiçoamento” (permanente) das formas de reprodução do capital e o fim da União Soviética levaram muitos a pensarem no “fim da história”. A 1 BOBBIO, Norberto. Direita e Esquerda. São Paulo: Unesp, 2001. 12 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 globalização emergiu definitivamente com mais força, tanto no plano “concreto” (formas de produção, TIC etc.), quanto no plano da ideologia. Como diria Galbraith, “Globalização não é um conceito sério. Nós, americanos, o inventamos para dissimular nossa política de entrada nos outros países.” 2 Novas teorias e conceitos foram forjados para explicar “a novidade” (A novidade veio dar à praia; Na qualidade rara de sereia; Metade, o busto de uma deusa maia; Metade, um grande rabo de baleia) 3. Globalização e Neoliberalismo, nas mais diversas vertentes, foram os mais aventados. Um pela a “esquerda” e outro pela “direita”. O “desenvolvimento” era explicado pela globalização e os “problemas sociais” pelo neoliberalismo. Para a “esquerda”, a culpa pela miséria passou a ser do “neoliberalismo globalizado”. Na América Latina seus representantes seriam Fujimori, Menem e “FHC”. A “esquerda” entoava os gritos “Fora já, fora já daqui, o FHC e o FMI”. Antes a culpa era apenas do capitalismo, que passou a ter “sobrenomes”. Com o governo Lula, não se fala em Neoliberalismo, embora mantenha a política privatista do antecessor, com certo “sucateamento novo estilo” do ensino de todos os níveis. A dívida externa foi paga, permanecendo uma grande política interna, mas foi paga. A professora Benedita4 se espantaria se ainda estivesse viva. Os partidos que eram de esquerda nos anos 1980, bem como os que se ramificaram destes, ou se tornaram ainda mais idealistas ou se “endireitaram” 5. Atualmente, alguém que se auto-intitule de esquerda, é considerado pueril, infelizmente. Daí o momento em que vivemos ser cada vez mais gadocéfalo. As pessoas cada vez estão se retirando do embate político, seja ele acadêmico ou não. O individualismo está se exacerbando e a coisa pública está cada vez mais desvalorizada e/ou privatizada. A sensação é a de que não existem alternativas ao atual status quo, possibilitando a existência de novas formas de alienação e fetichização. Existe o predomínio do imediatismo: trabalhar, ganhar bastante dinheiro, se aperfeiçoar “a toque de caixa”, construir casa, comprar carro, casar, ter filhos (dois), netos, bisnetos, tataranetos e morrer 6. A construção 2 Economista norte-americano, em entrevista a Enio Carreto, no Il Corrieri della Sera. Reproduzido na Folha de S. Paulo de 2 de novembro de 1997, p.13, Caderno “Dinheiro”. 3 “A novidade era o máximo/ Do paradoxo estendido na areia/ Alguns a desejar seus beijos de deusa/ Outros a desejar seu rabo pra ceia/ Ó, mundo tão desigual/ Tudo é tão desigual/ Ó, de um lado este carnaval/ Do outro a fome total/ E a novidade que seria um sonho/ O milagre risonho da sereia/ Virava um pesadelo tão medonho/ Ali naquela praia, ali na areia/ A novidade era a guerra/ Entre o feliz poeta e o esfomeado/ Estraçalhando uma sereia bonita/ Despedaçando o sonho pra cada lado/ Ó, mundo tão desigual/ Tudo é tão desigual/ Ó, de um lado este carnaval/ Do outro a fome total”. “A novidade”, letra de Gilberto Gil e música de Bi Ribeiro, Herbert Vianna, João Barone (1986). © Gege Edições Musicais ltda (Brasil e América do Sul) / Preta Music (Resto do mundo) / Edições Musicais Tapajós LTDA. 4 A professora Benedita foi minha professora na quinta série do antigo primeiro grau. Era uma excelente professora, muito séria e tradicional. Todos os professores de Geografia que vieram depois eu nomeio de Benedita, para referenciar a visão e o período em questão, a década de 1980, quando os alunos dentro e apesar de um modo tradicional, aprendiam muito mais a ser cidadãos e compreender o espaço. A culpa não é da Geografia nem dos geógrafos, mas das políticas educacionais. 5 As denominações “esquerda” e “direita” não explicam mais as ideologias políticas de nosso tempo, todavia, é uma forma ilustrativa do problema em que se apresenta. 6 Isto lembra a música Panis et Circenses de Os Mutantes, composta por Caetano Veloso e Gilberto Gil. A letra diz o seguinte: Eu quis cantar/ Minha canção iluminada de sol/ Soltei os panos sobre os mastros no ar/ Soltei os tigres e os leões nos quintais/ Mas as pessoas na sala de jantar/ São ocupadas em nascer e morrer/ Mandei fazer/ De puro aço luminoso um punhal/ Para matar o meu amor e matei/ Às cinco horas na avenida central/ Mas as pessoas na sala de jantar/ São ocupadas em nascer e morrer/ Mandei plantar/ Folhas de sonho no jardim do solar/ As folhas 13 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 da “grande obra” é mais uma reprodução do sistema. Comprar uma bicicleta nem pensar: É coisa de “gente doida”. O discurso da esquerda esvaziou-se com o método. Nesse sentido, parte da culpa é a subversão dos métodos oficiais, principalmente o marxismo. Usaram tão vulgarmente a dialética, que ela se tornou mais um positivismo, com quase todos os princípios filosóficos. O discurso da direita se tornou cada vez mais ideológico, mais a cara da revista Veja, mais a acrítico como o Fantástico, o Jornal Hoje e o Jornal Nacional juntos. O pragmatismo se tornou a meta, onde não cabe ingenuidade tampouco questionamentos. O pragmatismo também se tornou justificativa para a corrupção e outros males. No Brasil, no atual governo, direita e esquerda se fundiram para criar um monstro ainda pior. Um monstro capaz de solapar a crítica e torná-la lugar comum. Qualquer crítica tem sido em vão diante dos “resultados” (números) da economia. A esmola institucionalizada se diferiu de um verdadeiro programa de transferência de renda, tornando-se uma peita de votos “novo estilo”. Os falsos resultados da educação serviram como um “cala a boca”. Enquanto isso, os bancos ampliam seus lucros e os impostos extravasam para patamares jamais atingidos no país, mesmo com o fim da CPMF. No plano social, isso representou o aumento do peleguismo sindical e o arrocho salarial na escala nacional, mas, como a inflação, por enquanto, está sob controle, a população se cala. As prioridades mudaram e a própria diversificação da economia contribuiu para a elevação do que chamamos de “hedonismo às avessas”, aquela falsa busca pelo prazer, diante do cotidiano cada vez mais claustrofóbico das cidades. O lazer associado ao prazer é cada vez mais mercantilizado e cada vez mais inatingível. No plano sexual, ocorreram mudanças significativas, porém enganosas. Na realidade o conservadorismo mudou de cara, pois mercantilizou ainda mais o sexo e o prazer, tornando as pessoas cada vez mais alienadas. Isso favoreceu novas formas de repressão sexual, mas principalmente ideológicas, no sentido do discurso único. Voltando um pouco, até a década anterior, na Geografia, quem não utilizasse o método marxista era tachado de “direitoso”. Mas ainda existem focos de resistência desse mecanicismo metodológico. Por outro lado, muitos geógrafos partiram para a Geografia Física para fugir do debate político, como se estivessem negando a Geografia como ciência social. Isso empobreceu demais o debate em torno do pensamento geográfico, que virou coisa de “gente maluca, que viaja na maionese”. Outra pergunta que fazemos é: qual é o propósito da ciência e da geografia? A ciência tem o propósito “ontológico” de melhorar a vida da humanidade, ou mesmo de melhorar a humanidade. Contudo, essa ontologia sempre foi subvertida e, em muitos casos, para fins escusos. Na Geografia não foi diferente, como foi o caso do emblemático “período” do imperialismo. Outro propósito “ontológico” da ciência é a busca da verdade. Mas o que é verdade? Você fala a verdade na medida em que esta é a sua verdade. sabem procurar pelo sol/ E as raízes procurar, procurar/ Mas as pessoas na sala de jantar/ Essas pessoas na sala de jantar/ São as pessoas da sala de jantar/ Mas as pessoas na sala de jantar/ São ocupadas em nascer e morrer (grifos nossos). 14 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 Essas “prerrogativas” fazem, no caso da ciência geográfica, uma apropriadora dos dados da realidade com o intuito de construir um discurso próprio, para adquirir status científico. Isso não é negativo, mas pode fazer desta ciência, mais uma produtora de ideologia, se as coisas não forem dosadas. Vejamos o exemplo de Michel Foucault. No livro Microfísica do poder ele reproduziu uma entrevista intitulada Sobre a Geografia concedida à revista Herodote. Nesta entrevista o entrevistador perguntou por que o Foucault não tinha tratado da Geografia em sua Arqueologia do Saber. A todo o momento, Foucault respondia pensando que o entrevistador reivindicava um espaço para a Geografia entre as ciências sociais, mas com uma argumentação, o entrevistador disse que muito do discurso de Foucault era “geográfico”, mas ele nem sabia disso. Espantado o autor entrevistado respondeu: Cada vez mais me parece que a formação dos discursos e a genealogia do saber devem ser analisadas a partir não dos tipos de consciência, das modalidades de percepção ou das formas de ideologia, mas das táticas e estratégias de poder. Táticas e estratégias que se desdobram através das implantações, das distribuições, dos recortes, dos controles de territórios, das organizações de domínios que poderiam constituir uma espécie de geopolítica, por onde minhas preocupações encontrariam os métodos de vocês. Há um tema que gostaria de estudar nos próximos anos: o exército como matriz de organização e de saber − a necessidade de estudar a fortaleza, a "campanha", o "movimento", a colônia, o território. A geografia deve estar bem no centro das coisas de que me ocupo.7 Quando estávamos na graduação, tivemos uma palestra com Dermeval Saviani, um dos principais “pensadores” da educação brasileira. Em 1999, fazia um ano que a SEESP (Secretaria de Estado da Educação de São Paulo) tinha diminuído a carga horária da disciplina Geografia nas escolas de ensino fundamental e médio. Na ocasião questionamos Saviani a respeito com a seguinte pergunta: Qual foi o objetivo da diminuição das disciplinas de História e Geografia, além da extinção da Sociologia e Filosofia em função do aumento da carga horária da Matemática, Português e demais ciências? Tinha a finalidade de esgotar a criticidade dos estudantes? Sua resposta foi lacônica: “A Geografia nunca foi uma disciplina crítica...”. Para não concluir, pois o tempo se esgotou, entendemos que uma das grandes dificuldades em desenvolver o método em ciências humanas reside nas alterações de base política do mundo, que colocaram a sociedade em uma dimensão vazia de sentido político e ideológico. Daí reside o problema do método em seu aspecto pedagógico... IDEOLOGIA, MÉTODO E ESPAÇO GEOGRÁFICO: PONTOS PARA DISCUSSÃO Prof. Dr. Sergio Fajardo Professor Adjunto do Departamento de Geografia – UNICENTRO (Guarapuava-PR) Doutor em Geografia pela FCT/UNESP e-mail: [email protected] Introdução É fato que a ideologia, em suas várias formas, está presente em todos os campos da sociedade. Nas ciências humanas e/ou sociais nota-se com freqüência a reprodução de discursos ideológicos nas teorias e nos métodos. Proponho aqui, brevemente, apresentar algumas reflexões em torno das diversas possibilidades de manifestações ideológicas quando se analisa ou se conceitua o espaço geográfico. 7 FOUCAULT, Michel. Sobre a Geografia. Em: Microfísica do Poder. pp. 86-95. Graal. 15 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 O significado de ideologia Em um sentido comum a definição de ideologia aponta para um conjunto ou sistema de idéias de um indivíduo ou grupo. A partir dessa consideração resta saber como esse conjunto de idéias funcionaria ao efetivar uma espécie assimilação de princípios que podem ser compreendidos como consciência ou falsa consciência. Karl Mannhein (1972) coloca que apesar do marxismo ter contribuído em muito para a discussão do problema ideologia, o termo surgiu e emergiu muito antes e independente do mesmo. Para o referido autor a ideologia tem dois significados distintos: 1-particular; 2- total. No Sentido particular, o termo denotaria o ceticismo relativo às idéias e representações apresentadas pelo nosso opositor: estas são encaradas como “disfarces mais ou menos conscientes da real natureza de uma situação, cujo reconhecimento não estaria de acordo com seus interesses”. As distorções vão desde as mentiras conscientes até disfarces semiconscientes e dissimulados. Por sua vez, o sentido total é mais inclusivo, abrange ideologia de uma época, de um grupo histórico-social concreto, por exemplo, de uma classe. Em suma, significa a estrutura total da mente ou mentalidade de uma época ou de um grupo. Um elemento comum dos dois sentidos é que ambos se voltam ao sujeito (indivíduo ou grupo) – idéias expressadas pelo indivíduo ou grupo são encaradas como funções da sua existência; (FUNCIONALIDADE DAS IDÉIAS). Opiniões, declarações, proposições não são tomados por seu valor aparente, mas à luz da situação de vida de quem os expressa. (PESSOALIDADE DAS IDÉIAS). Enquanto a concepção particular designa ideologias apenas uma parte do enunciado do opositor e referente ao seu conteúdo, a concepção total põe em questão a visão total do opositor e todo seu aparato conceitual. A concepção particular realiza análises ao nível puramente psicológico e a concepção total opera ao nível teórico. Por exemplo, se acusamos o outro de mentir, admitimos que há critérios comuns em relação ao que é a verdade. E por outro lado, se atribuímos o ponto de vista do outro a submissão do mesmo a períodos históricos ou estratos sociais de um outro “mundo intelectual”, o que descarta a existência do “caso isolado”, estamos lidando com modos de experiência e interpretação totalmente distintos, sistemas de pensamento opostos (Mannhein, 1972). Na ciência isso se realizaria epistemologicamente na formulação de métodos de abordagem que tem como fundamento correntes de pensamento. A origem histórica da ideologia Pode-se dizer que a discordância, que é própria da natureza humana e sua diversidade/complexidade, e a desconfiança que se tem em relação aos adversários são precursoras da noção de ideologia. Quando essas divergências tornam-se explícitas e materializadas em conceitos sistematizados e reconhecidos metodicamente é que se começa a falar sobre uma “coloração ideológica” nos argumentos e afirmações dos outros (MANNHEIN, 1972, p. 87). Curiosamente a ideologia é evocada, pejorativamente, ao se referir ao adversário, ou ao pensamento contrário. A ideologia ficaria entre os dois pólos: de um lado o erro, de outro a mentira, esse “meio termo” seria ideológico. Se o engano não advém de mentira explícita ou da insegurança, esse pode ser ideológico. Portanto, haveria uma estreita relação entre ideologia, ceticismo e hipocrisia. Mannhein (1972), nesse sentido, cita Maquiavel e Hume. Para Maquiavel as variações das opiniões humanas ocorrem de acordo com os interesses envolvidos (elementos ideológicos nos pronunciamentos). Já Maquiavel sugere que naturalmente os homens sejam dados a mentir. Se é possível imaginar que exista um ser humano falso diante de interesses relativos ou pontuais, o que dizer de uma força muito maior, que absorve e sustenta muitas ideologias como o dinheiro é apresentado por Marx: O que eu sou e o que eu posso não são determinados de modo algum por minha individualidade. Sou feio, mas posso comprar a mais bela mulher. Portanto, não sou feio, pois o efeito da feiúra, sua força afugentadora, é aniquilado pelo dinheiro. Segundo minha individualidade sou inválido, mas o dinheiro me proporciona vinte e quatro pés, portanto não sou inválido; sou um homem mau, sem honra, sem caráter e sem espírito, mas o dinheiro é honrado e, portanto, também o seu possuidor. O dinheiro é o bem supremo, logo, é bom o seu possuidor; o dinheiro poupa-me além disso o trabalho de ser desonesto, logo, presume-se que sou honesto; sou estúpido, mas o dinheiro é o espírito real de todas as coisas, como poderia seu possuidor ser estúpido? Além disso, seu possuidor pode comprar as pessoas inteligentes e quem tem o poder sobre os inteligentes não é mais inteligente do que o inteligente? Eu, que mediante o dinheiro 16 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 posso tudo a que o coração humano aspira, não possuo todas as capacidades humanas? Não transforma meu dinheiro, então, todas as minhas incapacidades em seu contrário? (MARX, 1987, p. 196) Jon Elster (2007) chama de “força civilizadora da hipocrisia” a suposta “boa vontade” em comportamentos ou atitudes políticas mediante o constrangimento da exposição pública. Nesse sentido, um determinado indivíduo, que poderia ser um político ou empresário (ou qualquer outra pessoa pública que não traga reais preocupações coletivistas, públicas e éticas), a fim de atender seus interesses pessoais, que são ideológicos, empregam iniciativas positivas. Podemos imaginar o caso hipotético, por exemplo, de um empresário que demonstre publicamente uma preocupação ambiental sem realmente se preocupar com isso, mas essa atitude traz benefícios a sua imagem, do mesmo modo um político que também não tenha a verdadeira preocupação com alguma causa social, mas por ter sua imagem em jogo toma iniciativas positivas. Esta seria a hipocrisia civilizadora apontada por Elster. “Mesmo se as pessoas estão motivadas apenas pelos seus interesses individuais, as regras e mecanismos do debate público vão forçálas a justificar suas posições em termos de interesse público. Isso limita o interesse particular, em alguma medida” (ELSTER, 2008). Aqui a visão de Maquiavel parece nítida. Esse conteúdo ideológico, porém, está mais relacionado ainda a uma ideologia de caráter particular. Por essa razão, obviamente, a hipocrisia ideológica não deve ser tomada, de modo algum, como regra, por constituir situações isoladas, exceções. A passagem dessa concepção particular para a concepção total de ideologia se realiza quando a consciência em si é substituída por uma consciência de classe. Enquanto na ideologia particular um adversário pode ser acusado de falsificação, tanto consciente como inconsciente, numa concepção mais geral toda sua estrutura de sua consciência está comprometida, ela não pode mais “pensar corretamente”. No passado a base da ideologia poderia ser definida por critérios religiosos (como por meio das doutrinas e dogmas), Mas o próprio pensamento evolui com o aprimoramento do conhecimento humano, evolui também a ideologia. As escalas de valores que definem o que é verdade ou falsidade, real ou irreal. A ciência como busca de aproximação da realidade, faz uso de métodos. Os métodos não podem caracterizar uma ciência, pois são comuns a várias ciências (FERREIRA; SIMÕES, 1992). Esses métodos, por sua vez podem estar carregados de elementos ideológicos derivados da corrente de pensamento que orientam os mesmos. A ideologia pode ser tida como “falsa consciência”. Essa falsa consciência antes era derivada da constatação de fatos (das observações mais corriqueiras, do senso comum, dos preconceitos), depois passou a trabalhar com métodos analíticos claramente definidos (procedimentos metódicos baseados em demonstração científica). A palavra ideologia tem uso histórico segundo Mannhein (1972, p. 97-98), ideólogos eram “[...] os membros de um grupo filosófico na França que, seguindo a tradição de Condillac, rejeitavam a metafísica e buscavam basear as Ciências Culturais em fundamentos antropológicos e psicológicos. [...] A concepção moderna de ideologia nasceu quando Napoleão achando que este grupo de filósofos se opunha a suas ambições imperialistas, os rotulou desdenhosamente de ‘ideólogos’. A partir daí a palavra tomou um sentido pejorativo, que assim como a palavra ‘doutrinário’ reteve até o dia de hoje”. Esse sentido do termo, passa a ser aceito a partir do século XIX). Na ideologia, o que se deprecia é a validade do pensamento do adversário, considerado irreal. Mas o que seria verdadeiramente real? Eis um problema implícito da ideologia. Não é possível taxar o pensamento de alguém de ser ideológico sem sofrer a mesma acusação. O primeiro problema para se conceituar ideologia é que a própria conceituação/definição de Ideologia pode estar impregnada de ideologia. É possível se abster de uma literatura ideológica ao definir ideologia? Muitos pensadores definiram Ideologia orientando-se em ideologias diversas, desde filosóficas, jurídicas, históricas, econômicas, políticas... Guhur (1993) usa o exemplo de Marx e Engels que empreenderam uma luta ideológica contra a ideologia dominante.). No prefácio do livro “A ideologia alemã”, que constitui uma crítica aos hegelianos, e ao idealismo alemão de modo geral, a ingenuidade nas representações humanas, os sonhos inocentes e pueris, típicos dos “jovens hegelianos” são desmascarados, assim como as “ovelhas que se julgam lobos”, expressão utilizada pelos autores (MARX; ENGELS, 2001). A teoria marxista fundiu as duas noções de ideologia (particular e total) enfatizando o papel da posição e dos interesses de classe no pensamento (MANNHEIN, 1970). Considerando que “Ideologia é um sistema teórico-prático de justificação política das posições sociais” (DEMO, 1987, p.67), poderia se cogitar que a ideologia advém do poder (?). Entretanto, como o fenômeno do poder é estrutural na 17 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 sociedade: se sempre haverá poder como traço invariante na sociedade, sempre haverá ideologia dominante. Seria a ideologia é justificadora ou argumentativa? Simpson (1993) aponta para a linguagem como principal elemento da ideologia. Mas ideologia seria apenas representação (literária) de um ponto de vista? Pedro Demo (1987, p. 68-69) apresenta a ideologia como tendo várias faces, segundo os vários pontos de vista: • Ponto de vista do conhecimento objetivado: Ideologia seria deturpação da realidade em nível excessivo. No conhecimento ideológico predomina a parte justificadora sobre a argumentativa. No caso extremo pode-se chegar à mentira e à falsificação consciente e premeditada da realidade. • Ponto de vista da prática: Ideologia seria uma falsa consciência no sentido de escamotear os reais conflitos, o caráter impositivo do grupo dominante e sua exploração dos dominados, as mudanças históricas necessárias, etc. • Ponto de vista dos movimentos sociais: Ideologia constitui um instrumento de coesão dos grupos e das classes, à medida que elabora idéias-força” que fundamentem uma crença comum, um compromisso mútuo e o entusiasmo do movimento. • Ponto de vista dos desiguais: Ideologia vista em duas direções: vinda de cima aparece como convencimento da legitimidade das atuais estruturas do poder. Vinda de baixo pode ser a formulação teórica e prática da contraideologia, com vistas a subverter as relações de poder. Ainda segundo Demo (1985; 1987), os objetivos da ideologia justificadora seriam: -Institucionalizar posições sociais vantajosas (esse um pressuposto para as afirmações ideológicas que buscam atender interesses do indivíduo ou grupo). - Justificação busca caracterizar a legitimidade da situação vigente recorrendo a disfarces de supostas imposições, evitando contestações. Um exemplo desse fato seria o apelo a pretensa ordem natural com raças superiores. Ciência, método, geografia e ideologia Atualmente poderíamos pensar como as ciências lidam com temas como questões ambientais e recursos naturais. Ou ainda em relação a idéias que aparentemente prometem liberdade, mas somente realiza àqueles que possuem condições econômicas para tal. Podemos pensar em muitas outras questões (presentes quando se analisa o espaço geográfico) como democracia, desenvolvimento sustentável, ética, globalização... Na Geografia, os pensamentos dominantes, os paradigmas, foram construídos sobre ideologias. O exemplo da Geografia Tradicional – Determinismo versus Possibilismo é um dos mais conhecidos. Se a ideologia estava presente desde o nascimento da ciência moderna com o advento do pensamento racionalista há alguns séculos (na nossa versão ocidental de ciência), a sistematização da Geografia nos moldes positivistas como as demais ciências é tida como essencialmente ideológica pela maioria dos teóricos da Geografia. O discurso ideológico é predominantemente partidário e significa sempre um posicionamento político em favor de uma visão de mundo, corrente filosófica, interesses de classe... (DEMO, 1985). Como a Geografia científica surge para atender propósitos políticos claros, explicitamente definidos, como a unificação alemã (também o imperialismo), é óbvio que os contrapontos políticos (nacionalizados ou não) também impõem as suas ideologias à prática acadêmico-científica (MORAES, 1996). O caráter justificador da ideologia busca a convicção, a adesão, a defesa do problema com sua arma: envolvimento com a ciência (DEMO, 1982). Assim: é mais convincente se souber se vender como ciência objetiva. Foram o que realizaram Ratzel, La Blache, neo-positivistas, marxistas, humanistas, etc (CHRISTOFOLETTI, 1980). A justificação do posicionamento de um método, que tem necessariamente alicerces ideológicos como o materialismo histórico ou a fenomenologia, por exemplo, acaba por reproduzir os sistemas de pensamento teórico nas práticas analíticas dos métodos. Muitas vezes se toma o método como única forma possível de se enxergar a realidade. Eeis o perigo dessa forma “ideologizada” de pensar. Outro aspecto da ideologia que preocupa a atividade de pesquisa e o ambiente acadêmico é o uso da ideologia enquanto pessoalidade. Ao tentar justificar sua própria condição, o cientista corre o risco de ser um ideólogo extremamente individualista. A respeito disso, Demo (1985, p. 15) afirma: “A maior 18 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 virtude do intelectual não é a de fazer ciência, mas de se justificar, na perspectiva de defesa de seus interesses sócio-econômicos (prestígio, salário, poder etc).” Esse seria o equívoco ou erro da separação entre teoria e prática. Pode ser muito útil ao cientista social apresentar uma imagem de revolucionário, de contestador, de avançado, porquanto isto lhe dá aplausos, lhe confere o atestado de atualização, lhe oferece maior mercado de venda de livros etc., desde que não lhe seja exigida a prática correspondente. Se isso for feito, a maioria desiste da teoria, porque não se dispõe a arriscar seus privilégios (DEMO, 1987, p. 84). Seria o caso de se pensar: a ideologia é necessária? Segundo Demo (1987) a ideologia é necessária por ser “transpiração do fenômeno do poder”: se o poder é inevitável a ideologia é inevitável. Desejar acabar com a ideologia é ideologia (barata). Mas existiriam ideologias atraentes? Sim, se forem menos deturpadoras e voltadas a projetos humanitários. Demo lembra que os ideólogos em geral não provém das classes humildes (como os intelectuais em gera l) mas podem assumir as dores dos oprimidos. (ex.:.Marx e Engels). – esse o charme da ideologia marxista. Outra questão que se coloca: a ideologia é falsa consciência ou visão de mundo? Não há ciência sem ideologia, as Ciências Humanas e Sociais são inevitavelmente ideológicas. Se posicionamento político é ideologia o cientista é um ideólogo. Ideologia é dogmatismo? Se não é, se aproxima muito disso, pois como o dogma é um sistema fechado (de idéias). Como então se pode imaginar que na prática científica, um método se imponha como dogma? Os embates entre as diversas correntes teóricas da Geografia forjam uma espécie de “disputa ideológica” na qual, ao nível das idéias, epistemologicamente os conceitos são definidos, redefinidos e questionados. Os chamados critérios de cientificidade (coerência, consistência, originalidade, objetivação, comparação crítica, reconhecimento generalizado) podem abstrair ideologia? Obvio que não totalmente. Sempre haverá um resquício ideológico em algum conceito utilizado, forma de raciocínio, técnica utilizada. A sugestão de Demo, é que a Ciência deve conviver com a ideologia reduzindo seus níveis ao mínimo – consciência crítica da sua presença e constante cuidado com ela. (papel da metodologia: fazer com que o científico predomine sobre o ideológico).Mas por que? Ideologia pode induzir ao juízo de valor, ao pré-conceito, assim como o senso comum? Ideologia atrapalha o intento científico? Método acompanharia ideologia? Em muitos casos sim, como exemplo do método dialético. Qualquer método subsiste como tal se possuir um esquema formal baseado em definições, classificações, distinções, comparações. Ideologia se comportaria como dentro de um método? Os métodos são ideológicos? Contrapondo Estruturalismo e Dialética: será que a dialética também não sistematiza a realidade? (ex. concepção do econômico como determinante, supõe uma invariante explicativa: realidade complexa, mas no fundo ordenada. Sistemismo/Funcionalismo: não respondem conflitos “não-solucionáveis”: posição ideológica? Seria o próprio método “ideológico” ou o uso do mesmo? (interesses, ligações com o poder...). “A ciência e, sobretudo, seu uso técnico-industrial pode tanto estar a serviço da melhoria das condições ambientais e conseqüentemente sociais, como ser utilizada para fins não tão nobres.” (SILVA; SCHRAMM, 1997, p.359 ). Ideologia e espaço geográfico Na Geografia, Método e Ideologia podem se comportar de modo diverso, de acordo com a área, o campo e especialidade. Para Spósito (2004) o método serve como “porta de entrada” para a leitura da realidade. Mas essa leitura, justamente devido ao fundamento de cada método, que se constitui também um olhar específico, é carregada de doutrina e ideologia, segundo a corrente adotada. O espaço geográfico como produto social, teria uma visão ideologizada? Se afirmarmos que o espaço equivale à sociedade, expomos uma controvérsia em relação ao objeto principal da Geografia. Controvérsia essa presente na dicotomia Geografia Física x Humana (MENDONÇA, 1998). A Geografia Crítica assumiu a postura política militante, contestadora, com base, sobretudo, marxista, as noções de espaço geográfico atribuídas a essa corrente resultaram ideológicas. Como a orientação dos geógrafos físicos não adota, em geral, o materialismo histórico como método explicativo o entendimento do que seria espaço geográfico por estes, vai ser direcionado segundo a acepção de seus respectivos métodos. Essa observação é interessante quando considerados os métodos mais utilizados na Geografia (SPOSITO, 2004). 19 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 Resta pensar se é inevitável no fazer científico em geral, e em especial nas análises geográficas, haverá sempre um uso ideológico. A ideologia existirá como componente consciente das fundamentações, argumentações, posicionamentos dentro do pensamento geográfico? Não temos a resposta, mas podemos sinalizar a partir da produção geográfica brasileira recente (CARLOS, 2002), que a ideologização da Geografia parece distante de terminar. A principal dúvida que se apresenta é que, apesar de inegável que o conteúdo geográfico (social, político, econômico, cultural e ambiental) possua uma carga ideológica, será que as análises científicas também, necessariamente, devem possuir ideologia? Referências: CARLOS, Ana Fani Alessandri. A geografia brasileira: algumas reflexões. Terra Livre. São Paulo, ano 18, v. 1, nº 18, jan./jun. 2002. CHRISTOFOLETTI, Antonio. Perspectivas da geografia. São Paulo: Difel, 1980. DEMO, Pedro. Ciência e ideologia. In: ______. Introdução à metodologia da ciência. São Paulo: Atlas, 1987, p. 66-76. ______. Demarcação científica. In: _____. Metodologia científica em ciências sociais. São Paulo: Atlas, 1985, p. 13-28. ELSTER, Jon. Alternância no poder define democracia (entrevistado por Cláudia Antunes). Folha de São Paulo. São Paulo, 17 jun. 2007 (Caderno Mundo). FERREIRA, Conceição Coelho; SIMÕES, Natércia Neves. A evolução do pensamento geográfico. 7ª ed. Lisboa: Gradiva, 1992. GUHUR, Jean Vincent Marie. Ciência e ideologia. Apontamentos. Maringá, mar. 1993, p.1-57. MANNHEIN, Karl. Ideologia e utopia. 2ª ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1972. MARX, Karl. ENGELS, Friedrich. A Ideologia Alemã. Ed. Martins Fontes, São Paulo, 2001. MARX, Karl. Manuscritos econômico-filosóficos (terceiro manuscrito). São Paulo: Martins Fontes, 1987. MORAES, Antonio C. R. Ideologias geográficas. São Paulo: Hucitec, 1996. SILVA, Elmo Rodrigues da; SCHRAMM, Fermin Roland. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 13, n. 3, p. 355-382, jul-set, 1997. SIMPSON, Paul. Language, Ideology and Point of View. Londres: Routledge, 1993. SPOSITO, Eliseu Savério. Geografia e filosofia: contribuição para o ensino do pensamento geográfico. São Paulo: Editora UNESP, 2004. 20 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 Mesa Redonda 2: “A evolução da ciência geográfica a partir de semanas acadêmicas”: Avaliação das atividades da Semana e debate científico” Em 2007 foi realizada a III Semana de Geografia de Irati, onde vários palestrantes e ministrantes de mini-cursos foram convidados pelo corpo docente do Degeo/i para colaborarem com as atividades do evento. Naquela oportunidade, os organizadores do evento fizeram uma avaliação bastante positiva e ressaltaram que a contribuição dos convidados e o empenho da equipe organizadora, principalmente a equipe de apoio composta por vários discentes, propiciou um salto qualitativo sem precedentes no curso de Geografia de Irati. Em 2008 praticamente a mesma equipe organizadora, com a adesão de novos voluntários, tanto discentes como docentes, se propôs a realizar um evento da mesma magnitude, senão mais relevante ainda. Neste sentido, vários professores de outras instituições foram convidados a participar como palestrantes e ministrantes de mini-cursos, e aceitaram o convite. A semana de estudos se realizou com enorme êxito e no último dia de debates e palestras foi realizada uma mesa redonda, onde os coordenadores do evento e mais a Profª Ms. Karla Rosário Brumes (docente do Degeo/i), fizeram uma avaliação de eventos dessa magnitude em suas experiências. Os três professores da mesa ressaltaram experiências pessoais na participação e organização de eventos acadêmicos e concluíram que são momentos importantes na consolidação de conteúdos teóricos vislumbrados em sala de aula, além de ser a ocasião única na vida acadêmica para se debater os aspectos mais relevantes do ensino, da pesquisa e da extensão universitária. Para isso, normalmente se conta com visões ampliadas, que não aquelas dos mestres de salas de aula. A plenária final da IV Semana de Geografia de Irati contou com uma expressiva participação dos discentes, os quais fizeram elogios e teceram críticas ao evento, que foram plenamente aceitas pela organização do evento. Deve se ressaltar que algumas justificativas de encaminhamentos foram feitas, pois alguns participantes questionaram a forma com que foram distribuídas as atividades da semana. De forma geral, a grande contribuição do debate realizado foi o reconhecimento da importância de eventos deste porte, na qualificação e melhoria dos conhecimentos geográficos, mas a iniciativa do corpo discente em participar mais ativamente da organização do evento, se configurou no grande salto qualitativo pretendido pela comissão organizadora. Após algumas discussões da importância de semanas de estudos na formação acadêmica, vários alunos se prontificaram a organizar a próxima semana de estudos, a ser realizada em 2009. Esta iniciativa foi totalmente aceita pela plenária e os professores sugeriram que seja formada uma comissão organizadora que deverá procurar os docentes responsáveis pela realização da V Semana de Geografia de Irati, com o objetivo de começar a discutir temas e nomes para o evento. 21 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 O curso de Geografia de Irati é relativamente novo (8 anos), mas se encontra em plena condições de se igualar a cursos mais antigos, tanto quantitativamente quanto qualitativamente, e a organização de eventos deste porte com a participação conjunta de alunos e professores, só vem a contribuir para o sucesso e crescimento do conhecimento geográfico universitário, buscando aprimorar as técnicas, conhecer teorias e formar profissionais competentes para atuarem no mercado de trabalho. Prof. Ms. Aparecido Ribeiro de Andrade Prof. Assistente Mestre do Degeo/I da Unicentro – Irati – Paraná Durante a última semana da Geografia realizada pelo DEGEO/I, tivemos a oportunidade de no último dia fazer uma plenária final. A mesma teve como objetivo discorrer a cerca de alguns assuntos como: levantamento dos pontos positivos e negativos do evento; avaliação das apresentações orais bem como dos posters, avaliação das mesas redondas e mini cursos, participação discente; expectativas futuras quanto a próxima semana da Geografia. As falas dos membros componentes da banca da plenária, professores Aparecido Ribeiro de Andrade; Karla Rosário Brumes e Roberto França da Silva Jr. foram feitas num sentido de qualificar e pontuar elementos que podem ser considerados na realização da semana seguinte. Por este motivo, foi possível entender que a participação discente se deu a contemplar as expectativas esperadas pelos organizadores. Também foi debatida a importância em se qualificar cada vez mais o evento, fazendo investimentos tanto nas palestras e mesas redondas compostas por estudiosos da Geografia, que tragam contribuições significativas, para os debates que se pretendem realizar durante a semana científica. Com relação a participação discente, está foi destacada, pois auxiliou em várias etapas do evento. Os discentes na oportunidade foram cobrados a participar cada vez mais tanto como participantes, como organizadores, que nos parece que será atendido de forma bastante própria. Por fim, a plenária serviu para que tanto docentes como discentes pudessem expor seus anseios quando a organizações de semanas científicas que tenham como elemento principal a inserção a temas relevantes que possam trazer à tona a discussão em alto nível da ciência geográfica. Profª Ms. Karla Rosário Brumes Prof. Assistente Mestre do Degeo/I da Unicentro – Irati – Paraná 22 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 Mini-curso 1: A GEOTECNOLOGIA COMO FERRAMENTA PARA REPRESENTAÇÃO DO ESPAÇO GEOGRÁFICO Luiz Gilberto Bertotti 8 Resumo: O presente nini-curso pautou-se na proposta de apresentar de forma sucinta, por meio do emprego da geotecnologia como ferramenta para espacialização de todo e qualquer tipo de informação geográfica. Dessa forma, a utilização de microcomputadores tem sido um fator modificador da forma de condução dos trabalhos científicos, principalmente na área de Geografia, aonde o uso intensivo dessas ferramentas que, pelo seu potencial de integração, facilidade de manuseio e velocidade de operação, vem revolucionado métodos e técnicas de abordagem de problemas específicos, proporcionando, na maioria das vezes, avanços significativos na qualidade e precisão dos resultados para representação espacial. Na contemporaneidade constata-se um avanço expressivo no que se refere ao desenvolvimento de softwares específicos para o tratamento de informação, baseado no uso de microcomputadores. Tais sistemas, denominados de “informação geográfica” ou mais simplesmente SIG’s que vêm se aprimorando cada vez mais procurando incorporar conceitos clássicos e contemporâneos, nomeadamente na relação sociedade natureza, ganhando cada vez mais espaço no meio científico, principalmente por focalizar o relacionamento de determinado fenômeno da realidade com a sua localização espacial. Assim, a geotecnologia como ferramenta na elaboração de mapas temáticos tem ocorrido de forma gradual e crescente nos últimos anos, destacando-se os Sistemas de Informação Geográfica que procuram automatizar os procedimentos e rotinas de coleta, armazenamento, tratamento e recuperação de dados, agilizando e aprimorando os estudos referentes à representação do espaço geográfico. É nesses sistemas de interações complexas que compreendem os diversos recortes espaciais, analisados isoladamente ou em conjunto, de forma integrada, fornecem informações valiosas, no poder de decisão nos diversos estudos de pesquisa científica. Outro ponto importante que mereceu ser mencionado foi quanto aos aspectos da geotecnologia na Web, interatividade e visualização científica e suas aplicações face aos processos e métodos da comunicação. Nesse contexto tem-se como objetivo principal analisar como se configura essa representação espacial buscando suas especificidades em relação ao seu processo de estruturação. Palavras-chave: Sistema de Informação Geográfica, representação espacial, mapas temáticos. 8 Professor Adjunto do Departamento de Geografia/UNICENTRO. Pesquisador do Núcleo de Pesquisas Ambientais. E-Mail: [email protected] 23 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 Mini-curso 2: PROCESSOS HIDRODINÂMICOS EM BACIAS HIDROGRÁFICAS: USO DA MODELAGEM PARA ANÁLISE DO ESPAÇO LENADRO REDIN VESTENA Docente do Departamento de Geografia da UNICENTRO Mestre em Análise e Gestão Ambiental pela UFPR Doutorando em Hidrologia e Hidráulica Aplicada pela UFSC E-mail: [email protected] Introdução A água é um dos principais elementos do sistema ambiental, essencial à existência humana e grande modeladora das paisagens tropicais e subtropicais. Os processos de desagregação das rochas e o transporte de materiais pela água são influenciados por atividades bióticas e antrópicas, que podem aumentar ou diminuir a quantidade desses processos e os materiais na água, bem como o regime do fluxo de água que afeta diversos habitats. A água pode ser considerada o elemento mais dinâmico da paisagem e que permeia os demais elementos do meio natural, de modo que regula o ritmo dos processos no sistema ambiental. A intervenção humana, através da agricultura em áreas com grande declividade e o desmatamento de encostas e margens de rios, propicia a redução da infiltração de água no solo e, por conseguinte, o aumento do fluxo superficial, desencadeando fluxo torrencial sob fortes chuvas. Esses fatores acabam favorecendo a instalação de processos de erosão do solo, que desestabilizam encostas e confere uma maior carga sedimentar ao fluxo de água no canal. A água escoada acaba tornando-se um dos principais agentes responsáveis pelos processos de erosão do solo (erosão hídrica); de transporte, por trazer consigo substâncias e organismos de onde passou; e de deposição dos materiais transportados. O homem a partir da complexidade dos sistemas ambientais acaba por abstraír um quadro simplificado e inteligível dos mesmos. As afirmações simplificadas desta interdependência estrutural foram denominadas ‘modelos’. Um modelo é, assim, uma estruturação simplificada da realidade, uma aproximação, que apresenta supostamente características ou relações sob forma generalizada. Um modelo pode ser uma teoria, uma lei, uma hipótese ou uma idéia estruturada. Pode ser uma função, uma relação ou uma equação. Pode ser uma síntese de dados (SKILLING, 1964). Modelo é uma combinação de expressões lógicas, procedimentos analíticos e critérios que são aplicados a um conjunto de dados, com o propósito de simular um processo, predizir um evento ou caracterizar um fenômeno. Os modelos, ao passo que se constituem em ponte entre os níveis de observação e os conceitos teóricos, possibilitam precisamente o processo de se usar a experiência anterior como base para a previsão e compreensão do sistema ambiental. Apesar de todos os modelos necessitarem de alguma forma de ajuste nos parâmetros, mesmo medidos no campo, a modelagem torna-se uma ferramenta fundamental e de extrema importância. Ela permite avaliar de forma mais precisa os efeitos das alterações antrópicas nos 24 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 processos e, conseqüentemente, seus reflexos nos demais elementos físicos e nos bióticos, além de possibilitar a predição de impactos diante de possíveis ações no ambiente. A partir do exposto, o presente trabalho destaca de forma resumida os principais processos hidrológicos e apresenta os conceitos básicos da modelagem, modelos e suas características, assim como mostra estudos aplicados do uso da modelagem na análise do espaço. Processos hidrológicos Os processos hidrológicos referem-se ao movimento da água sobre a superfície da Terra e abaixo dela. Eles são mantidos pela energia radiante de origem solar e pela atração da força da gravidade. O ciclo hidrológico pode ser definido como a seqüência fechada de fenômeno global pelos qual a água circula entre a superfície terrestre e a atmosfera, impulsionada essencialmente pela energia solar associada à gravidade e à rotação terrestre. A bacia hidrográfica, além de ser a unidade territorial básica para o planejamento e o gerenciamento dos recursos hídricos, definida pela Lei Federal N.º 9.433, de 8 de janeiro de 1997, que instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos (BRASIL, 1997), é uma unidade hidrossedimentológica. Isto é, um sistema aberto onde ocorrem os processos hidrodinâmicos, tornando-se o recorte espacial ideal para estudos ambientais, evidenciam entre outros, Silveira (2000), e Coelho Netto (1995). A bacia hidrográfica é definida como uma região sobre a Terra na qual o escoamento superficial converge para um único ponto fixo chamado exutória. O fluxo de matéria (nutrientes e poluentes) e energia, na unidade bacia hidrográfica, são coordenados principalmente pela dinâmica da água. Esta dinâmica depende da combinação, no tempo e no espaço, de vários fatores que interagem no sistema bacia hidrográfica, como rochas, solos, relevo, clima, flora, fauna, uso do solo, entre outros. Os principais processos hidrológicos em uma bacia hidrográfica são: precipitação, evapotranspiração (evaporação + transpiração), interceptação, infiltração, deflúvio, percolação e o armazenamento de água no solo e subsolo (Figura 1). 25 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 Precipitação total Precipitação no curso d’água Intensidade da chuva Evapotranspiração Evaporação d’água interceptada pelas copas Armazenamento de água nas copas Escoamento pelo tronco e gotejamento Escoamento pelo litter Evaporação d’água interceptada pelo litter Armazenamento d’água no litter Evaporação Armazenamento nas depressões Armazenamento temporário Infiltração P Pc i et ec I s l el L e Rp Rt f ISSN 1983-4667 Escoamento hortoniano (superficial) Escoamento superficial por saturação Escoamento de retorno Pipe flow Pipe storage qh qs qr t T Escoamento sub-superficial não saturado Escoamento sub-superficial saturado Armazenamento de água no solo Percolação para a camada rochosa Fluxo na camada rochosa Zona de aeração Percolação profunda Escoamento de base Armazenamento subterrâneo mu ms M sb a A d b B Figura 1 – Componentes do ciclo hidrológico (CHORLEY, 1978) A evapotranspiração é um dos principais processos hidrológicos. A transferência de água para a atmosfera, no estado de vapor, seja pela evaporação de superfícies líquidas, pela evaporação da água do solo, pela transpiração vegetal ou pela respiração animal, constitui importante elo do ciclo hidrológico. Esta mudança de fase da água na forma líquida para vapor ou vice-versa consome ou libera energia, constituindo-se em um mecanismo de redistribuição de energia em todo mundo. A evapotranspiração é controlada pela disponibilidade de energia, pela demanda atmosférica, e pelo suprimento de água do solo e das plantas. A quantidade de energia depende da latitude (ângulo de incidência dos raios solares) e da topografia (altitude e orientação da vertente) (PEREIRA et al., 1997). A evapotranspiração pode ser classificada em dois tipos: a evapotranspiração real (ETR) e a evapotranspiração potencial (ETP). A primeira é a quantidade de água transferida para a atmosfera por evaporação, nas condições reais de fatores atmosféricos e umidade do solo (TUCCI e BELTRAME, 2000). Enquanto, a segunda é a quantidade de água transferida à atmosfera por evaporação e transpiração, na unidade de tempo de uma superfície extensa e completamente coberta por vegetação de porte baixo e bem suprida de água, ou seja, considerando condições idéias para a mesma (PENMAN, 1956). Porém informações confiáveis sobre a ETR são escassas e de difícil obtenção, expõem dentre vários autores, como Pereira et al. (1997) e Tucci e Beltrame (2000), pois a medida direta desta é extremamente onerosa e exige um longo tempo de observação. Enquanto, a ETP pode ser obtida por modelos fundamentados em leis físicas e relações empíricas de forma rápida e suficientemente precisas. Dentre os métodos indiretos para estimar a ETP, o método de Penman (1948) foi o primeiro que combinou os efeitos do balanço de energia com o poder evaporante do ar e, é considerado, por muitos, como modelo padrão, ou seja, é a melhor opção para estimar a ETP (TUCCI e BELTRAME, 2000). O vapor de água é transportado pela circulação atmosférica e condensa-se. A água condensada dá lugar à formação de nevoeiros e nuvens e à precipitação (SILVEIRA, 2000). A precipitação pode ocorrer na fase líquida (chuva ou chuvisco) ou na fase sólida (neve, granizo ou saraiva), assim como a 26 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 água que passa da atmosfera para o globo terrestre por condensação do vapor de água (orvalho) ou por congelação daquele vapor (geada) e por intercepção das gotas de água dos nevoeiros (nuvens que tocam no solo ou mar) (AYOADE, 1991). De acordo com Bertoni e Tucci (2000) a precipitação na hidrologia é entendida como toda a água proveniente do meio atmosférico que atinge a superfície terrestre, sendo a mais comum a chuva. Ela varia localmente e temporalmente e suas características são: quantidade, intensidade, duração, e distribuição espacial e temporal. Ward e Trimble (1995) destacam que existem três principais tipos de chuvas: 1) convectivas (ascensão vertical do ar); 2) ciclônicas ou frontais (encontro de uma massa de ar frio com uma de ar quente); e 3) orográficas ou de relevo (deslocamento horizontal do ar, que, ao entrar em contato com regiões elevadas, serras e montanhas, sofre condensação e conseqüente precipitação). A cobertura vegetal intercepta parte da precipitação pelo armazenamento de água nas copas arbóreas e/ou arbustivas, de onde é perdida para a atmosfera por evaporação durante e após as chuvas. Excedendo a capacidade de armazenar água na superfície dos vegetais, ou por ação dos ventos, a água interceptada pode precipitar sobre o solo (SILVEIRA, 2000; COELHO NETTO, 1995). “A natureza da cobertura vegetal (tipo, forma, densidade e declividade da superfície), assim como as características físicas das chuvas, constitui importante variável-controle do processo de intercepção” salienta Coelho Netto (1995). A infiltração “é a passagem de água da superfície para o interior do solo. Portanto, é um processo que depende fundamentalmente da água disponível para infiltrar, da natureza do solo, do estado da sua superfície e das quantidades de água e ar, inicialmente presentes no seu interior” (SILVEIRA, 2000). Segundo Hornberger et al. (1998), o escoamento de uma bacia hidrográfica pode resultar de quatro caminhos de fluxos diferentes: 1) precipitação direta sobre canais de escoamento; 2) escoamento superficial; 3) escoamento subsuperficial; e 4) escoamento subterrâneo. O escoamento superficial definido como a água excedente do processo de infiltração, foi introduzido por Horton (1933). Este mecanismo de geração de escoamento superficial ocorre em todas as partes da bacia hidrográfica e é atualmente denominado de escoamento hortoniano. Porém, novos estudos observaram que em regiões florestadas e de clima úmido, principalmente, o escoamento superficial está relacionado ao acumulo de água, pela saturação do solo até a superfície. O escoamento por saturação do solo é designado também de escoamento dunniano (HEWLETT e HIBBERT, 1967; DUNNE, 1978; 1983). Hornberger et al. (1998) afirmam que o escoamento hortoniano predomina em sistemas onde o perfil do solo ou a superfície da terra foram radicalmente alterados. Este é o caso de regiões áridas ou semi-áridas, onde a densidade de vegetação é baixa, e em áreas urbanas onde a superfície do solo é pouco permeável. Enquanto, o escoamento por saturação é mais significativo em áreas úmidas com vegetação densa, em determinadas condições topográficas que favorecem o posicionamento do lençol freático relativamente próximo da superfície. 27 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 O escoamento por saturação do solo, de acordo Hewlett e Hibbert (1967), não é produzido ao longo de toda a superfície da bacia hidrográfica, mas sim sob a influência de uma área de origem dinâmica, uma vez que sofre expansões e contrações de saturação. Nas vertentes os processos de escoamento são diversos e dependem da natureza multivariada dos fenômenos físicos, químicos, biológicos e antrópicos. De acordo com Mendiondo e Tucci (1997), os processos de escoamento numa bacia vertente são: 1) Escoamento superficial excedente da infiltração; 2) escoamentos internos; 3) escoamento superficial por saturação do solo; e 4) escoamento pela integração de processos. Kobiyama et al. (1998) referenciam aprofundamentos na localização das áreas saturadas e nos mecanismos ‘internos’ das vertentes, evidenciando os seguintes mecanismos internos: 1) fluxo através de macroporos; 2) macroporos longitudinais interligados ou ‘piping’; 3) escoamento de retorno ou ‘efeito pistão’; e 4) intumescência da camada saturada. Um esquema geral desses fluxos é esboçado por Atkinson (1978). O movimento vertical da água sob a superfície terrestre, após a mesma se infiltrar está condicionada à condutividade hidráulica e ao gradiente de potencial formado pela gravidade e pela tensão de umidade, e este movimento é denominado de percolação. De acordo com Heath (1983) toda a água sob a superfície da terra é referida como água do subsolo (ou água subsuperficial) e ocorre em duas zonas diferentes: a zona insaturada ou de aeração e a saturada. zona insaturada ocorre na maioria das áreas imediatamente sob a superfície terrestre e contém água e ar (ou vapor de água). Esta zona é dividida em três partes: a zona do solo, a zona intermediária e a parte superior da franja capilar. Na zona saturada todos os espaços vazios encontram-se completamente ocupados pela água. As fontes, os poços e as correntes efluentes têm origem na zona saturada. A água presente na zona saturada é designada de água subterrânea. A recarga da zona saturada ocorre por percolação da água de superfície através da zona insaturada. Desta forma, o ciclo hidrológico "embora possa parecer um mecanismo contínuo, com a água se movendo de uma forma permanente e com uma taxa constante, é na realidade bastante diferente, pois o movimento da água em cada uma das fases do ciclo é feito de um modo bastante aleatório, variando tanto no espaço como no tempo" (VILLELA e MATTOS, 1975). É um agente modelador da crosta terrestre, condiciona a cobertura vegetal e, de modo mais genérico, a vida na Terra por meio da erosão, transporte e deposição de sedimentos por via hidráulica. Os aspectos evidenciados restringiram-se aos principais processos hidrológicos. Destaca-se que os mesmos são dinâmicos e complexos e que maiores detalhes podem ser obtidos principalmente nos trabalhos de Chorley (1978), Hewlett (1982), Ward e Trimble (1995), Mendiondo e Tucci (1997), Silveira (2000), e Anderson e Burt (1990). Modelos e a modelagem hidrodinâmica Um modelo pode ser definido como “uma estruturação simplificada da realidade que supostamente apresenta, de forma generalizada, características ou relações importantes” (HAGGETT e CHORLEY, 1975). 28 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 Um modelo hidrológico é uma representação matemática ou física, simplificada de um sistema físico, geralmente bastante simplificado que permite previsões. O sistema é uma parte de uma realidade física complexa representando fundamentalmente relações de causa-efeito entre o conjunto de elementos e seus atributos, diante de entradas (causa ou estímulo) e saídas (efeito ou resposta). O sistema compõe uma dada região no espaço, por exemplo, uma bacia hidrográfica, que quando acionado por entradas, de água da precipitação e outros constituintes variáveis no tempo e no espaço, os transformam e devolvem ao meio externo na forma de saídas, vazão, transpiração, evaporação e outros, distribuídas temporalmente e espacialmente. A estrutura do sistema depende de características tais como: solo, vegetação, topografia, entre outros. Os modelos visam analisar o comportamento do sistema ambiental em determinadas situações específicas, com a finalidade de se fazer simulações e previsões que orientem a tomada de decisão, destacam Teixeira e Christofoletti (1997). Os modelos hidrológicos são de dois tipos: (1) modelo físico – representa o sistema por meio de um protótipo que utiliza materiais físicos em pequena escala. Por exemplo, o escoamento simulado em laboratório pode ser realizado como sendo redução escalar de 1:10 em relação a natureza; (2) modelo matemático – baseiam-se em enunciados matemáticos para representar o sistema. De acordo com More (1975, p. 107) “os modelos são usados em Hidrologia com três objetivos: (1) simplificar e generalizar uma realidade complexa; (2) prever a ocorrência de eventos hidrológicos; e (3) planejar o uso futuro dos recursos d’água.” A modelagem possui várias vantagens, como: facilidade de execução, baixo custo, rápida obtenção dos resultados. Ele permite realizar a simulação de experimentos praticamente inviáveis na prática, entre outros destacam Kobiyama e Manfroi (1999). A simulação é a execução do modelo. Nesta execução, a calibração do modelo é indispensável. A calibração do modelo é sempre feita com dados obtidos pelo monitoramento. Então fica claro que o sucesso do modelo, da modelagem e da simulação depende da qualidade do monitoramento e que não há nenhum bom modelo sem o uso de dados obtidos do fenômeno monitorado. Assim, a modelagem e o monitoramento não se confrontam, passando a serem métodos científicos mutuamente complementares, efetuados sempre paralelamente (KOBIYAMA e MANFROI, 1999). Tucci (1998, p. 14) afirma que as “limitações básicas dos modelos hidrológicos são a qualidade e a quantidade dos dados hidrológicos, além da dificuldade de formular matematicamente alguns processos e a simplificação do comportamento espacial de variáveis e fenômenos”. A utilização de modelos hidrológicos envolve a escolha do modelo, a seleção e análise dos dados necessários, ajuste e verificação dos parâmetros, definição de cenários de aplicação, prognóstico e a estimativa das incertezas dos resultados. A escolha de um modelo deve levar em conta os objetivos do estudo, as características da bacia e do rio, a disponibilidade de dados, e a familiaridade com o modelo (TUCCI, 1998). Na Tabela 1 apresentam-se alguns modelos hidrológicos disponíveis e suas características básicas. 29 Tabela 1 – Classificação de alguns modelos hidrológicos Modelo Escala ANSWERS Distribuído – pequenas bacias Semi-distribuído – pequenas bacias TOPMODEL Exigência dos dados de entrada Alto Principais dados de saída Referência(s) Escoamento, sedimentos e nutrientes. BEASLEY et al. (1980) Médio Escoamento e áreas saturadas BEVEN & KIRKBY (1979) MODELO DE TANQUE Concentrado Baixo Escoamento SUGAWARA (1961); SUGAWARA et al. (1983) HIDROGRAMA UNITÁRIO Concentrado Baixo Vazão total do rio SHERMAN (1932) HYCYMODEL Concentrado – pequenas bacias Baixo Escoamento MÉTODO RACIONAL Concentrado - pequenas bacias Baixo AGNPS Distribuído – bacias de até 20 mil hectares Alta Vazão máxima de uma bacia Erosão, escoamento, vazão de pico, concentrações de sólidos suspensos, fósforo, nitrogênio, demanda química de oxigênio. IHACRES Bacia Baixa CHDM USLE WEPP CREAMS LISEN EUROSEM SWAT FONTE: VESTENA (2008a). Distribuído – parcela experimental a bacia Distribuído – encosta Distribuído – encosta (vertente), malha (célula) ou bacia Bacias entre 40 e 400 hectares Distribuído - bacias entre 10 e 300 hectares Distribuído – ‘plots’ de solo Distribuído – bacias médias e grandes Alta Baixa Escoamento, sedimento e nutrientes. Escoamento, transporte de sedimentos e contaminastes. Erosão hídrica FUKUSHIMA & SUZUKI (1986); FUKUSHIMA (1988) VILLELA & MATTOS (1975) YOUNG et al. (1987) JAKEMAN et al. (1990) (1994a) (1994b) LOPES (1995) Alta Erosão, escoamento e as características dos sedimentos. Alta Erosão e deposição. WISCHMEIER & SNITH (1978) FLANAGAN & NEARING (1995); SRINIVASAN & GALVÃO (1995) KNISEL (1991) Alta Escoamento, produção de sedimentos. JETTEN & DE ROO (2001) Alta Erosão hídrica e transporte de sedimentos Alta Escoamento, produção de sedimentos e qualidade da água. MORGAN et al. (1998a) (1998b) ARNOLD et al. (1993) SRINIVASAN & ARNOLD (1994) Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 Para explicitar apresentam-se resultados que pode ser obtido a partir da modelagem dos processos hidrológicos. A Figura 2 mostra a dinâmica (expansão e retração), em intervalos horários das áreas saturadas num ciclo do deflúvio na bacia hidrográfica do Caeté, região serrana de Santa Catarina, estimada utilizandose do modelo TOPMODEL (TOPography-based hydrological MODEL). Área Saturada – Mínima – 4,25 % Área Saturada – Máxima – 13,63 Figura 2 – Áreas saturadas mínina e máxima na bacia do Rio Caeté, estimadas pelo TOPMODEL durante o período de 14/10/2007 – 20:00 horas a 21/10/2007 – 13:00 horas (VESTENA, 2008b) A Figura 3 apresenta a pluviosidade, a vazão observada e a vazão calculada com o modelo Tank Model para a bacia hidrográfica do Rio do Peixe, localizada no meio-oeste catarinense. Nesta verifica-se o elevado grau de ajuste entre a vazão observada em campo e a calculada/simulada pelo modelo, ou seja, o 40 0 35 10 30 20 25 30 P 20 Qobs Qcal 40 15 50 10 60 5 70 0 1/1/87 P (mm.d-1) Qobs, Qcal (mm.d-1) modelo calibrado apresentou bom índice de eficiência. 80 1/2/87 1/3/87 1/4/87 1/5/87 1/6/87 1/7/87 1/8/87 1/9/87 1/10/87 1/11/87 1/12/87 Figura 3 – Hidrograma e hietograma, ano de 1987, bacia Rio do Peixe (LINDNER, 2007) 31 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 O uso da modelagem hidrodinâmica subsidia ações de gestão, nos casos apresentados destaca-se: 1) a delimitação espacial da área máxima de saturação fundamenta ações de manejo que busquem a preservação destas áreas de qualquer tipo de ocupação e/ou uso. As áreas saturadas em determinadas áreas da bacia hidrográfica extrapolam as Áreas de Preservação Permanente prescritas na legislação ambiental brasileira, e 2) a estimativa da vazão que permite inferir a cota de inundação, e consequentemente as áreas inundáveis, diante de um determinado volume pluviométrico. A previsão das áreas possíveis de inundações pode compor sistemas de alertas a população ribeirinha ou possivelmente afetada, que podem reduzir os danos e/ou prevenir dos riscos. Considerações finais No Brasil o entendimento da dinâmica dos processos hidrológico em seus diferentes sistemas ambientais está longe de ser satisfatório, apesar de sua importância, devido à extensão e heterogeneidade dos ambientes. Apesar da diversidade de modelos hidrológicos, estes apresentam especificidades, que devem ser levadas em conta na hora da escolha do modelo a ser empregado. A modelagem hidrológica assume vital importância no planejamento ambiental, à medida que fornece subsídios à tomada de decisão, para um manejo mais racional dos recursos naturais. Referências Bibliográficas ANDERSON, M. G.; BURT, T. P. Subsurface Runoff. In: ANDERSON, M. G.; BURT, T. P. Process Studies in Hillslope Hydrology. New York: Anderson & Burt (Eds). John Willey & Sons, 1990. p. 365-400. ATKINSON, C. Techniques for Measuring Subsurface Flow in Hillslopes. In: Kirkby, M. (Ed.). Hillslope Hydrology, New York: John Wiley & Sons, 1978. p. 73-120. AYOADE. J. O. Introdução à Climatologia para os Trópicos. 3ª. ed. Rio de Janeiro: Editora Bertrand Brasil S.A., 1991. 332 p. BERTONI, J. C.; TUCCI, C. E. M. Precipitação. In: TUCCI, C. E. M. (Org.) Hidrologia: Ciência e Aplicação. 2ª ed. Porto Alegre: Editora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (ABRH), 2000. p. 177-241. BRASIL. Lei Federal N.º 9.433, de 8 de Janeiro de 1997. 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New York: Lewis Publishers, 1995. 475 p. 34 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 Palestra Final: Parte 1 DIVERSIDADE E CONFLITOS AMBIENTAIS NO BRASIL Roberto Verdum9 Introdução A localização do território do Brasil, que tem uma superfície de 8.511.965 km2 e onde 93% desta superfície está em zona tropical, pode ser considerada como fundamental para caracterizar o papel do tropicalismo na formação sócio-territorial do país. No entanto, no que se refere a essa formação deve-se levar em consideração as características da expansão do capitalismo colonial europeu do século XVI, com o enquadramento desse território de dominação portuguesa num modelo capitalista mercantil. Assim, para referenciar a questão ambiental no Brasil é necessário resgatar as grandes estratégias econômicas adotadas historicamente, desde o período colonial de dominação portuguesa, entre os séculos XVI e XIX, até os dias de hoje. Inicialmente, deve-se referenciar a extração do pau-brasil na face leste da antiga colônia, especificamente na floresta Atlântica. Neste mesmo ecossistema florestal, na sua porção nordeste, desenvolvem-se as plantations de cana-de-açúcar, no século XVI, e que estão presentes até hoje, como a segunda área produtiva do país. As plantations de café caracterizariam o próximo ciclo de produção agrícola que atenderiam as demandas do mercado mundial. Foram, desenvolvidas, essencialmente, nos ecossistemas da floresta Atlântica e das Araucárias, assim como nos ecossistemas dos campos meridionais, na porção sudeste da antiga colônia. Já não pertencendo mais, do ponto de vista administrativo, ao domínio de Portugal, é a partir dos anos de 1930 que se vislumbra no país um modelo de desenvolvimento que buscará romper esses ciclos econômicos baseados na exportação de produtos agrícolas, conforme as demandas dos impérios coloniais. As elites brasileiras adotam a política de industrialização e da abertura aos investimentos internacionais, como sendo a possibilidade do país ingressar num modelo desenvolvimentista. A concentração dos recursos financeiros no Estado caracteriza-o como o grande empreendedor, sobretudo no que se refere à construção de infra-estrutura para impulsionar o processo produtivo industrial, assim como reforçar o papel agroexportador, reconhecido desde o período colonial português. Identifica-se a construção das rodovias que ligam as regiões sul, sudeste e nordeste, assim como, o sistema de produção de energia por hidroelétricas. Dinâmica sócio-espacial no Brasil e a questão ambiental brasileira Salienta-se, freqüentemente, que é a partir dos anos de 1970 que emerge no país a discussão sobre a problemática ambiental, sendo esta o resultado da mobilização social, especificamente, do movimento ambientalista brasileiro, que elabora os primeiros paradigmas frente às degradações ambientais que afetam a sociedade e os ecossistemas do país. No entanto, pode-se considerar que a questão ambiental brasileira tem suas raízes profundas, a partir dos anos de 1930. Neste período estabelece-se uma abertura crescente aos 9 Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Brasil, Professor Doutor do Departamento de Geografia – Instituto de Geociências, [email protected] 35 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 investimentos internacionais que buscam consolidar uma política para tornar o país num grande exportador de produtos agrícolas de interesse ao mercado consumidor externo. Associado a esta perspectiva aplica-se uma política de investimentos industriais que incorpora o ideal da modernidade, este forjado nos referenciais dos denominados “países desenvolvidos”. Como estratégica para desenvolver este modelo de desenvolvimento no país, nota-se a concentração dos recursos financeiros na estrutura de Estado, principalmente na esfera do governo federal, em detrimento dos estados e municípios. Neste sentido, o grande empreendedor e financiador para o estabelecimento das obras de infra-estrutura é o governo federal. Como exemplo desta estratégia de elaboração de um modelo de desenvolvimento para o país, cita-se a política de ampliação da rede rodoviária, essencialmente, a construção das rodovias Rio-Bahia e as redes sudoeste e sul; ampliação da matriz energética, a partir da construção de usinas hidroelétricas nestas mesmas regiões do país. Concomitante, ao aumento de recursos financeiros disponíveis, da ampliação do modelo de concentração de terras para a produção agro-exportadora e do crescimento da matriz produtiva industrial, nota-se o enorme fluxo migratório, sobretudo para a região sudeste (Estados do Espírito Santo, Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro). Reconhece-se hoje, pelos números do censo demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que, entre os anos de 1960 e 1980, ocorreu um fluxo migratório para esta região em torno de 30 milhões de pessoas, grande parte delas oriundas do nordeste do país. Reforçando esta dinâmica iniciada nos anos de 1930, os dados atuais de concentração industrial no Brasil mostram a seguinte distribuição: 73% na região sudeste, 16% na região sul e 8% na região nordeste. Esse modelo de desenvolvimento, elaborado na perspectiva da concentração industrial e da reestruturação das atividades agro-pecuárias em direção ao atendimento das demandas do mercado mundial, produzem entre os anos de 1970–1980 o que se reconhece hoje como sendo o período do “milagre brasileiro”. Esse modelo encontra sua justificativa ao se verificar que nesse período a economia brasileira encontra-se como sendo a oitava do mundo, mesmo que se desconsidere qualquer tipo de preocupação ambiental, assim como em relação à exclusão social crescente. Nos ideais das elites brasileiras, em consonância com os interesses das empresas multinacionais elabora-se o argumento de que a “pior das poluições é a miséria”, afirmando que a proteção ambiental seria contrária ao progresso econômico que estava sendo proposto ao país. Na busca de ampliação da base material para atender esse modelo de desenvolvimento, identifica-se a necessidade de se concretizar a lógica da “integração nacional”, que incorpora as regiões norte (floresta amazônica) e centro-oeste (cerrado e o Pantanal) do país. Ecossistemas brasileiros e seus conflitos ambientais Inicialmente, para se avaliar os conflitos ambientais no território brasileiro procura-se dividi-los em dois recortes espaciais: meio rural e urbano. Quando se trata de identificar esses conflitos no meio rural é fundamental associá-los a dois aspectos: a diversidade dos ecossistemas e a sucessão de modelos baseados no extrativismo e na monocultura desenvolvidos historicamente no país. 36 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 No que se refere à produção agrícola e os principais conflitos ambientais no país, pode-se propor uma associação entre os diferentes ecossistemas e os sistemas extrativos e agro-industriais desenvolvidos. Essencialmente, existem os seguintes sistemas produtivos: • Extrativo Amazônico (látex, mineral e da madeira); • Pastoril do Nordeste, Sudeste, Sul, e Centro-oeste; • Agro-industrial da Zona da Mata no Nordeste (cana-de-açúcar, algodão e cacau); • Agro-industrial do Sudeste (café e cana-de-açúcar); • Agro-industrial do Sul, Centro-oeste e Norte (arroz e soja); • Florestal do Nordeste, Sudeste e Sul (madeira exótica: pinos, eucalipto e acácia). Na Amazônia, que representa 47% do território nacional, em torno de quatro milhões de km², o processo de degradação da floresta já vem sendo identificado desde a década de 1970, com os estudos de geógrafos como: Aziz Ab’Saber e Orlando Valverde. Estes identificam, já naquele período, o processo de savanização, que significa a substituição da floresta por pastagens que, posteriormente, podem ou não ser abandonadas pela inviabilidade de sustentação de um sistema de exploração pastoril em solo florestal. Atualmente, o desmatamento da área coberta por florestas representa uma superfície em torno de 400.000 km², Becker & outros, (2002). Identificam-se como os principais problemas ambientais no ecossistema amazônico, a exposição das terras aos processos erosivos devido aos desmatamentos contínuos e, como conseqüência o assoreamento dos cursos de água; o processo de formação de áreas arenosas (arenização) improdutivas e propícias à ação dos agentes erosivos; a degradação da fauna e da flora e as mudanças nas relações sociais, principalmente em relação às comunidades indígenas da região. O Nordeste que representa 1,5 milhões de km², em torno de 18% do território nacional, é onde se localizam essencialmente os ecossistemas da Caatinga, do Agreste e da Zona da Mata, identifica-se com a presença histórica das plantations, como já salientado anteriormente. Dá-se destaque ao cultivo da cana-deaçúcar, historicamente desenvolvido, sendo atualmente produzido numa área de aproximadamente de 4.000.000 ha. de solos que, anteriormente, sustentavam a Floresta Tropical Atlântica. Em termos geográficos esse cultivo se distribui na proporção de 25% na região Nordeste e 60% na região Sudeste (sendo 49% produzido no Estado de São Paulo), com rendimento médio em torno de 63 ton/ha. Mesmo com a presença de uma quantidade expressiva de grandes e pequenas propriedades rurais improdutivas, ocorre uma pressão agrícola, tanto pela criação extensiva de ovinos e de caprinos como pela intensificação do agrobusiness, sendo uma alternativa de competitividade no mercado externo com a implantação de sistemas de irrigação para a produção da soja e frutas. Esta região apresenta como sérios problemas ambientais o processo de desertificação, caracterizado pelos períodos de seca na porção do semi-árido nordestino, degradação das terras e desestruturação social que provoca, ainda, um fluxo migratório histórico pelo êxodo rural. Identificase, também nesta região do país uma constante degradação da fauna e flora locais. A região Sul, que representa 580.000 km², 6,8% do território brasileiro, é essencialmente caracterizada pela presença de ecossistemas florestais subtropicais e campos, onde o agrobusiness está consolidado desde os anos de 1960, com os cultivos de arroz, trigo, soja, milho e aveia, assim como pela 37 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 criação de bovinos, ovinos e eqüinos. Identifica-se um desmatamento histórico dessas florestas subtropicais, restando atualmente 4% da floresta original, o que induz a uma pressão social na preservação desses remanescentes florestais. Por ser uma região caracterizada pela intensificação dos sistemas agrícolas, identifica-se além dos problemas relativos à degradação das terras, ao assoreamento dos cursos d’água e a contaminação pelos produtos agro-químicos, um processo de desestruturação das pequenas (abaixo de 25 ha.) e médias (entre 100 e 300 ha.) propriedades familiares. Especificamente, em relação à porção campestre, no Pampa, identifica-se o processo de formação de manchas arenosas (areais), oriundas da intensificação de processos naturais de ravinamento e voçorocamento em solos arenosos, pela introdução de sistemas agrícolas intensivos em áreas de pastoreio, essencialmente, os cultivos de trigo, soja e milho. A região Centro-oeste, com uma superfície em torno de 1,6 milhões de km², que representa 19% do território nacional, contém como principal ecossistema o Cerrado. Este é considerado como sendo o segundo bioma brasileiro em termos de diversidade depois da Amazônia, tendo sido catalogados em torno de 700 espécies vegetais, 935 pássaros, 298 mamíferos e 268 répteis. Após a integração dessa região o processo produtivo agro-industrial, vários são os cultivos que se expandem e se intensificam: soja (36% da produção nacional), arroz (21% da produção nacional), milho, feijão, café e mandioca. Dentre os problemas ambientais que são identificados nessa região destacam-se a degradação da fauna e da flora, inclusive com algumas espécies ameaçadas de extinção; a degradação dos solos e da água, tanto por ravinamento, voçorocamento e conseqüente assoreamento dos cursos d’água como, também, no que se refere a contaminação por pesticidas. Nessa região, receptora de grande fluxo migratório, desde os anos de 1970, caracteriza-se, também, como outras regiões brasileiras, por mudanças das relações sociais entre os produtores e a apropriação da natureza, no que se refere e concentração das terras, das técnicas adotadas e dos modos de vida. A região Sudeste, com uma superfície em torno de 927. 000 km², que representa 11% do território nacional possuía como principal ecossistema a floresta tropical Atlântica, sendo que hoje apenas 8% desta floresta existe como remanescente. A introdução da cana-de-açúcar, ainda no período colonial, no século XVI, e o café, no século XIX representam, ainda hoje, os principais cultivos desenvolvidos nessa região. Atualmente, a região sudeste produz 60% da cana-de-açúcar da produção brasileira, ultrapassando assim, a produção histórica da região nordeste, que representa em torno de 25%. Para este cultivo foram ocupados, aproximadamente 4.000.000 ha. de solos da floresta tropical, com um rendimento atual de 63 ton/ha. Para a produção do café, foram ocupados, aproximadamente, 3.000.000 ha. de solos de florestas tropicais, sendo a região sudeste responsável por 79% da produção brasileira, com um rendimento médio de 1,2 ton/ha. Como problemas ambientais relacionados ao desenvolvimento histórico destes dois sistemas de cultivos, destacam-se principalmente a fragmentação dos ecossistemas florestais. Neste sentido, são identificadas a redução da complexidade florestal, a redução do número de espécies, a erosão da diversidade genética, a penetração de espécies oportunistas e o aumento do acesso à exploração humana, sobretudo em função da proximidade, também, dos grandes centros urbanos nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro. 38 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 Ruptura de um país rural à urbanização: geração de desequilíbrios sócio-ambientais Ao se resgatar as mudanças históricas que ocorreram em relação à população rural e urbana no Brasil, nota-se a ruptura de um país essencialmente rural, para um país que se insere no modelo de produção industrial. Inicialmente, com capital industrial concentrado na região sudeste, estados de São Paulo e Rio de Janeiro, gerou-se um rápido processo de crescimento populacional e de urbanização. Nos anos de 1960 (IBGE), segundo dados do censo demográfico, a população total no país era de 60 milhões de habitantes, sendo que 28 milhões destes, 46%, viviam nas áreas urbanas. No censo demográfico do ano 2000 (IBGE) a população brasileira era de 170 milhões de habitantes, sendo que 137 milhões de pessoas viviam nas cidades, o que representa 81% da população do país. Atualmente, em termos de concentração urbana e de capital industrial, além daqueles dois estados da federação que caracterizam a maior região metropolitana do país, pode-se citar as regiões de Belém, Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre, Recife e Salvador. Com este rápido crescimento populacional, concentração do capital industrial e acelerada urbanização alguns desequilíbrios graves são característicos destes processos. Em 2003 (IBGE) o número de domicílios era de 49.195.925, sendo que 85,7% urbanos e 14,3 rurais. No que se refere ao déficit habitacional no Brasil estima-se que, atualmente, este chega a 10 milhões de habitações. Associados a esta precarização das condições de habitação pode-se associar as seguintes carências de infra-estrutura: nos transportes coletivos, nos sistemas de tratamento de esgotos e na disposição dos resíduos sólidos. Além disso, nas áreas urbanas, se intensificam os conflitos entre a localização das atividades diversas, entre elas a industrial, residencial, comercial e artesanal. Em relação à água, mesmo que o Brasil detenha 13,8% da água doce disponível no mundo, que 73% desta água está na Amazônia, onde vive 4% da população brasileira e que a disponibilidade de água por habitante é de 35 milhões de litros, em torno de 40 milhões de brasileiros ainda têm problemas quanto ao acesso de água tratada. Em 2003 (IBGE), 82,5% dos domicílios brasileiros possuíam abastecimento de água. Como principais efeitos dessas características do processo de urbanização e da precarização da infraestrutura destacam-se: a poluição industrial e doméstica por matérias orgânicas e inorgânicas. Mesmo que os dados de 2003 (IBGE) mostrem que 69% dos domicílios possuíam esgotamento sanitário, ainda é grave a situação quanto à degradação da água, já que somente 20% dos esgotos nas áreas urbanas são tratados. Em relação à qualidade do ar destacam-se: a poluição por emissões gasosas de monóxido de carbono e dióxido de enxofre, associados às atividades industriais e às emissões dos veículos de transporte. Finalmente, ainda considerado como um dos sérios problemas que geram a contaminação dos solos e das águas salienta-se à disposição dos resíduos sólidos industriais e domésticos em meios não apropriados. No meio urbano, os dados oficiais de coleta apontam para um atendimento de 85,6% da população no ano de 2003 (IBGE), no entanto ainda há sérios problemas relativos à coleta informal desses resíduos que se amplia nas cidades brasileiras. Destaca-se ainda que, no meio rural as condições de coleta ainda são muito precárias, sobretudo em relação aos vasilhames de produtos químicos utilizados nas propriedades e aos resíduos da produção agrícola. 39 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 Considerações finais Analisando-se a formação do território brasileiro e os conflitos ambientais, conclui-se que são fundamentais nesta relação as dinâmicas de uma natureza tropical e a incorporação do país à expansão do capitalismo, desde o período colonial europeu do século XVI até os dias de hoje. O resgate históricogeográfico desta incorporação revela que os conflitos ambientais não se limitam ao que se observa atualmente. Esses conflitos são o produto da seqüência de modelos exploratórios adotados nos diversos ecossistemas brasileiros, das demandas do mercado interno e mundial, dos planos de desenvolvimento elaborados na perspectiva da concentração industrial e da reestruturação das atividades agro-pecuárias na primeira metade do século XX. Mesmo com a mobilização social, que questiona e se opõe às degradações ambientais identificadas em todo o território brasileiro a partir dos anos de 1970, e da implantação da Política Nacional do Meio Ambiente a partir dos anos de 1980, essas degradações ainda se revelam graves. Esta gravidade é acrescida pela precariedade do poder civil e do estado em interferir no seu controle e na aplicação das políticas ambientais. Cada vez mais, revela-se concretamente a relação existente entre as disparidades socioeconômicas dos brasileiros e as diferenciações espaciais do país em termos de degradações ambientais. Além do crescimento dos conflitos sociais no país, verifica-se uma tendência que aponta para um acréscimo deste acirramento frente às diferenciações espaciais no território, entre aquelas já degradadas e outras reservadas à conservação. Assim, associados a esta precarização das condições ambientais esta a precarização de uma parcela importante de população brasileira, tanto no meio urbano como rural. Entre os grupos de brasileiros que possuem maior e menor renda, avalia-se preliminarmente que, na relação entre a distribuição da renda e a degradação ambiental, os 10% de maior renda têm uma tendência, no seu conjunto, de degradar mais em relação aos 50% de menor renda. No que se refere ao consumo em geral, este é fracamente controlado, principalmente daqueles com maior poder aquisitivo, no entanto os brasileiros de menor renda estão mais submetidos aos impactos das degradações ambientais. REFERÊNCIAS BECKER, B. K. & outros (org.) Geografia e meio ambiente no Brasil. 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Porto Alegre: Centro Estadual de Sensoriamento e Meteorologia do Estado do Rio Grande do Sul, Secretaria da Coordenação e Planejamento do Estado do Rio Grande do Sul e Secretaria da Ciência e Tecnologia do Estado do Rio Grande do Sul. 2001. VERDUM, R. & MEDEIROS, R. M. V. RIMA – Relatório de Impacto Ambiental: legislação, elaboração e resultados. Porto Alegre: Editora da Universidade/UFRGS, 2002. 41 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 PALESTRA FINAL: PARTE 2 OS GEÓGRAFOS FRENTE ÀS DINÂMICAS SÓCIO-AMBIENTAIS NO BRASIL ROBERTO VERDUM10 RESUMO Para identificar o olhar dos geógrafos frente às transformações no país e suas relações no que se refere às implicações ambientais, inicialmente tratar-se-á da base conceitual utilizada por esses para abordar a relação sociedade-natureza. Em seguida, expor como os geógrafos abordam esta relação e, finalmente, dos destaques dados por eles na pesquisa frente às degradações ambientais, que são o resultado concreto das opções adotadas no que se refere ao modelo de desenvolvimento no país. Palavras-chaves: Brasil, geografia, questão ambiental, degradação ambiental e paisagem. RESUMÉ Pour identifier le regard des géographes vis-à-vis les transformations dans le pays et ses rapports avec les dégradations environnementaux, on propose récupérer la base conceptuelle élaborée pour analyser le rapport société-nature. Ensuite, on expose comment les géographes développent des méthodes pour travailler ce rapport et, finalement, les remarques de la dégradation environnementale faites pour les géographes comme étant le résultat concret des options adoptées dans le modèle de développement du pays. Mots-clefs : Brésil, géographie, question environnementale, dégradation environnementale et paysage. CONSTRUÇÃO DOS GEÓGRAFOS FRENTE À NATUREZA E A SOCIEDADE A base conceitual que os geógrafos operam para tratar da relação sociedade-natureza tem se alterado no transcorrer da produção científica. Inicialmente, pode-se considerar que a preocupação dos geógrafos era a de tratar a relação homem- natureza. Esta perspectiva de análise diferenciava a Geografia de outras áreas do conhecimento, de um lado aquelas que analisavam as dinâmicas da natureza e, de outro lado as que se preocupavam com as dinâmicas sociais. No entanto, nesta abordagem da Geografia, baseada nos pressupostos de Descartes, era fundamental diferenciar o homem da natureza. A natureza era considerada como externa ao homem, analisada como sendo o conjunto dos elementos formadores da Terra (água, solo, ar, ...). Por outro lado, o homem era visto como um ser biológico na relação com a natureza, podendo-se considerar como sendo uma forma de 10 Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Professor Doutor do Departamento de Geografia-Instituto de Geociências, [email protected] 42 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 naturalização do homem, GONÇALVES, 2001. Assim, os geógrafos tinham dificuldades em construir um método que propunha analisar a unidade sociedade-natureza. Posteriormente, os geógrafos ao se aproximarem das abordagens desenvolvidas pelas ciências sociais (Antropologia, Ciência Política, Economia e a Sociologia) começam a elaborar noções que enfatizam as relações sociais que se estabelecem entre os homens, tais como, a categoria comunidade. Nesta, associa-se a identidade social de um determinado grupo com os conceitos de lugar, território e região. A Geografia passa a ser aquela ciência que não necessariamente estudaria a relação entre os homens, mas sim, os lugares, como referenciaria Vidal de la Blache. Essa aproximação com os referenciais construídos pelas ciências sociais criam a possibilidade dos geógrafos alterarem suas bases metodológicas para compreender a relação entre os homens e a natureza. O conceito de espaço geográfico é elaborado como sendo o resultado das formas de como os homens organizam sua vida e suas formas de produção. Nesta perspectiva, a natureza passa a ser vista como recurso à produção, o que aponta para uma limitação quanto a possibilidade analítica em relação às dinâmicas da natureza. Assim, analisando os referenciais teóricos-metodológicos e as práticas de pesquisa dos geógrafos, desse momento da produção científica, frente a relação sociedade-natureza, observa-se duas abordagens diferentes, uma que considera a natureza como recurso e outra que, considera a dinâmica da natureza como suporte da vida humana, com suas dinâmicas próprias, SANTOS, 1998. É na busca da ruptura desta dicotomia que os geógrafos experimentam criar novos suportes para estudar a relação sociedade-natureza, CASSETI, 1991. Neste sentido, algumas rupturas epistemológicas podem ser destacadas como referências para o desenvolvimento das práticas científicas dos geógrafos: - romper com a compreensão que considera o homem, exclusivamente, como um ser natural; - reconhecer que a cultura humana é cada vez mais vasta e diversificada, sendo carregada de elementos técnicos que permitem a esse homem modificar e, até mesmo (re)criar a natureza. A partir dessas rupturas pode-se reconhecer novas práticas do fazer geográfico que abordam as intervenções humanas na natureza como referenciadas nas diversas formas de organização social, ROSS, 1990 e MENDONÇA, 2001. Aos geógrafos não seria mais suficiente abordar, por exemplo, os impactos ambientais meramente como impactos antrópicos, situados numa esfera genérica de análise em relação aos detentores do poder e dos modos de produção na(s) sociedade(s) humana(s). Para desenvolver seus estudos na busca dessa relação sociedade-natureza são diversas as categorias de análise utilizadas pelos geógrafos, entre elas pode-se citar: meio ambiente, paisagem, ecossistema e recurso natural. Atualmente, na perspectiva de estudar as dinâmicas que se estabelecem na relação sociedadenatureza os geógrafos são confrontados a certos desafios, tais como: - reconhecer que a degradação ambiental no meio rural e urbano traz a marca de nossas opções no passado, tanto do desconhecimento que se tinha das dinâmicas da natureza e dos desdobramentos 43 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 das intervenções sociais nessas dinâmicas, como no que se refere ao cinismo e a ganância produtiva; - reconhecer o grau de estabilidade e o potencial geo-ecológico dos ambientes, isto é, os limites de tolerância que, quando ultrapassados alteram sua dinâmica, tornando a degradação gerada irreversível, isto é, nos próximos 25 anos, considerando-se o período de surgimento de uma nova geração; - planejar o espaço de tal forma que, os ecossistemas artificiais produzidos pelas diversas formas de modernizações da agricultura e, que fornecem os recursos para a sociedade, sejam capazes de funcionar sem degradações ambientais e, assim, permitam a continuidade do desenvolvimento dos processos produtivos. A TRAJETÓRIA DOS GEÓGRAFOS NO RECONHECIMENTO DAS DEGRADAÇÕES AMBIENTAIS Pode-se afirmar que, o reconhecimento pelos geógrafos dos desastres ambientais ocorre no pósguerra, na intensificação do processo de colonização européia na África, quando foram adotadas práticas agrícolas de matrizes culturais produtivas dos países colonizadores. Já na década de 1940, por exemplo, a desertificação era reconhecida como um processo de degradação das terras pelas práticas agrícolas que guardavam na sua essência, as práticas realizadas em terras européias com características completamente distintas daquelas ocupadas no continente africano, SUERTEGARAY, GUASSELLI, & VERDUM, 2001. Posteriormente a este período, geógrafos franceses como George Bertrand, Jean Tricart, André Cailleux, Jean Dresch e Pierre Gourou passaram a reconhecer, a partir de uma abordagem sistêmica, as mais variadas degradações, pela continuidade da adoção de modelos de produção agrícola incompatíveis com as dinâmicas da natureza local. Dinâmicas estas em grande parte desconhecidas pelos planejadores, que desconsideravam, tanto o grau de estabilidade e o potencial geo-ecológico dos ecossistemas como o limite de resiliência (resistência à mudança) de um determinado ecossistema para suportar determinadas alterações, TRICART, 1994. No Brasil, geógrafos como Léo Waibel, Emanuel de Martonne, Orlando Valverde, Aziz Ab’Saber e Manoel Correa de Andrade podem ser considerados os precursores em relação as transformações do espaço geográfico pelas diferentes modernizações por que passou a agricultura. Através da abordagem considerada como sendo a da paisagem cultural esses geógrafos são, na sua maioria, testemunhas vivas das opções de desenvolvimento rural brasileiro e das degradações ambientais, do Rio Grande do Sul à Amazônia. Apontam, até hoje, os malefícios das políticas agrícolas adotadas por nós brasileiros e as degradações que marginalizam as áreas de potencial produtivo, assim como, aquelas que se caracterizam como de identidade única no universo dos ecossistemas tropicais, PNMA, 1996 e BECKER & outros, 2002. Além disso, apontam a ignorância/desconhecimento de nós brasileiros, em relação ao potencial geoecológico desses ecossistemas e dos seus limites. Desta forma, há a necessidade de intensificar o debate sobre modelos produtivos e a preservação/conservação ambiental, VERDUM, R. & MEDEIROS, 2002. 44 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 Estas devem considerar a natureza e o patrimônio cultural, assim como na criação/adaptação de modelos de produção agrícola no mundo tropical. Sendo que o patrimônio cultural se insere numa história de ocupação e conformação do território brasileiro. A PAISAGEM COMO CATEGORIA DE ANÁLISE DAS TRANSFORMAÇÕES SÓCIOAMBIENTAIS A proposta de caracterizar as transformações sócio-ambientais a partir da categoria de análise espacial – paisagem, pressupõe definir as diferenciações entre as unidades de paisagem (UP’s), essencialmente, referenciadas em quadro critérios: a forma, a função, a estrutura e a dinâmica, ROUGERIE & BEROUTCHACHILI, 1991 e ROGER, 1995. A forma é o aspecto visível de uma determinada paisagem, sendo que esta se compõem por elementos que podem ser facilmente reconhecidos em campo, assim como, pelo uso dos produtos do sensoriamento remoto (fotos aéreas e imagens de satélite): o morfológico, a presença d’água, a cobertura vegetal e a ocupação das terras. Cada forma possui diferenças, tanto do ponto de vista de suas dinâmicas como, também, da possibilidade de apropriação e uso social, isto é a sua função, SILVEIRA, 2005. Sendo assim, a função pode ser compreendida pelas atividades que, de certa maneira, foram ou estão sendo desenvolvidas e que estão materializadas nas formas criadas socialmente (espaço construído, atividades agrícolas, atividades mineradoras...) e, que também, são reconhecidas em campo e pelos produtos do sensoriamento remoto pelas diferenciações que apresentam em relação aos aspectos das unidades da paisagem, onde não ocorrem as diversas formas criadas socialmente, WINTER, 2004. A estrutura é outro critério que não pode ser dissociado da forma e da função, sendo esta reconhecida como a que revela os valores e as funções dos diversos objetos que foram concebidos em determinado momento histórico. Sendo assim, a estrutura revela a natureza social e econômica dos espaços construídos e, que de certa maneira, interfere nas dinâmicas da paisagem anteriores a essas intervenções sociais. A dinâmica é a ação contínua que se desenvolve gerando diferenças entre as UP’s no que se refere aos resultados dessa dinâmicas, no tempo, na sua continuidade e na sua mudança. O tempo (geológico e histórico) revela o movimento do passado ao presente, e este em direção ao futuro. Neste caso, as dinâmicas de cada UP’s revelam para a sociedade significados que podem ser reconhecidos pelas formas e podem ser pensados em termos de intervenções que já foram realizadas, assim como aquelas que serão propostas: o zoneamento, a efetivação e os usos, SANCHIS, 2005. Neste sentido, é fundamental o reconhecimento das diversas dinâmicas em cada uma das UP’s, assim como, de que estas estão diretamente conectadas. Sendo estabelecidos esses critérios para diferenciar as UP’s, cabe destacar que é fundamental reconhecer que a utilização da categoria paisagem na perspectiva conservacionista/preservacionista gera e gerará uma marca que altera as relações que se estabelecem na ocupação das terras no seu entorno, VIEIRA, 2004. Sendo assim, há a necessidade de que este seja reconhecido socialmente pelas suas formas, funções, 45 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 estruturas e dinâmicas, atribuindo-o uma multiplicidade de funções e usos, englobando-o como importante na dimensão histórica e cultural do lugar e da área de entorno, HEIDRICH e outros, 2005. CONSIDERAÇÕES FINAIS Como propostas para o presente e o futuro é fundamental reafirmar o debate sobre o combate a fome e as doenças associadas, a partir de um projeto de desenvolvimento que considere como essencial as potencialidades produtivas e a preservação/conservação ambiental. É importante afirmar a necessidade de sistematizar, na escala do território nacional e regional, o conhecimento do potencial produtivo e de seus limites para, inclusive definir políticas públicas e privadas relativas ao desenvolvimento rural. Considera-se relevante também, definir esses potenciais e os limites da produção referenciados na análise das capacidades tecnológicas, técnicas e de métodos atuais, que se modificam ao longo do tempo. Analisando a produção geográfica atual, percebe-se a elaboração de estudos que consideram diferentes abordagens construídas pelos próprios geógrafos, no que se refere a relação natureza-sociedade, tais como: paisagem, domínios morfoclimáticos, os geossistemas, a ecodinâmica, etc. O fundamental nestes estudos é que contribuem gradativamente para se reconhecer, a partir dos elementos herdados e das relíquias, as diferentes formas de propor medidas de proteção ambiental, quando reconhecidamente úteis, a fim de prolongar suas existências. Acredita-se que essa parcela de contribuição gerada pelos geógrafos deva servir como referencial nos questionamentos e nas decisões em relação a adoção de modelos de modernização, tanto em relação ao meio rural como urbano, principalmente aquelas que levam exclusivamente em consideração os mecanismos econômicos e políticos, em detrimento das dinâmicas ambientais. Neste sentido, deve-se levar em conta que ao desconhecer a importância dessas dinâmicas, não só estaremos gerando fontes de degradação da natureza, mas certamente, dos fatores socioeconômicos que sustentam as relações humanas. REFERÊNCIAS BECKER, B. K. & outros (org.) Geografia e meio ambiente no Brasil. São Paulo: Editora Hucitec, 2002. CASSETI, W. Ambiente e apropriação do relevo. São Paulo: Contexto, 1991. GONÇALVES, C. W. P. Geo-grafías. Mexico: Syglo veintiuno editors, 2001. HEIDRICH, A. L. & outros Diagnóstico socioeconômico e ambiental da Unidade de Conservação do Parque Estadual de Itapeva. Relatório Técnico. Porto Alegre: Departamento de Geografia/IG/UFRGS, 2005. MENDONÇA, F. de A. Geografia e meio ambiente. São Paulo: Contexto, 2001. ROGER, Alain (org.). La théorie du paysage en France. Seyssel: Éditions Champ Vallon, 1995. PROGRAMA NACIONAL DE MEIO AMBIENTE (PNMA) Os ecossistemas brasileiros e os principais macrovetores de desenvolvimento. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal, 1996. ROSS, J. Geomorfologia – ambiente e planejamento. São Paulo: Contexto, 1990. 46 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 ROUGERIE, Gabriel & BEROUTCHACHILI, Nicolas. Géosystèmes et paysages: bilan et méthodes. Paris: Armand Colin Éditeur, 1991. SANCHIS, M. A. Z. A instalação do bosques de pinus e suas conseqüencias nas dunas do Pontal de Tapes – RS. Dissertação de Mestrado. Porto Alegre: Programa de Pós-graduação em Geografia/IG/UFRGS, 2005. SANTOS , M. Técnica Espaço Tempo – globalização e meio técnico-científico informacional. São Paulo : Editora Hucitec, 1998. SILVEIRA, C. T. da Paisagem do Vale Três Forquilhas. Trabalho de Graduação. Porto Alegre: Departamento de Geografia/IG/UFRGS, 2005. SUERTEGARAY, D. M. A. ; GUASSELLI, L. & VERDUM, R. Atlas da arenização – sudoeste do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Centro Estadual de Sensoriamento e Meteorologia do Estado do Rio Grande do Sul, Secretaria da Coordenação e Planejamento do Estado do Rio Grande do Sul e Secretaria da Ciência e Tecnologia do Estado do Rio Grande do Sul. 2001. VERDUM, R. & MEDEIROS, R. M. V. RIMA – Relatório de Impacto Ambiental: legislação, elaboração e resultados. Porto Alegre: Editora da Universidade/UFRGS, 2002. VIEIRA, L. M. dos S. Paisagem da Reserva Biológica Estadual Mata Paludosa como um recurso de educação ambiental. Trabalho de Graduação. Porto Alegre: Departamento de Geografia/IG/UFRGS, 2004. WINTER, J. E. Caracterização da mineralização de ametista da região do Alto Uruguai: impactos ambientais e avaliação dos rejeitos. Trabalho de Graduação. Porto Alegre: Curso de Geologia/IG/UFRGS, 2004. TRICART, J. Écogeographie des espaces ruraux. Paris : Editions Nathan, 1994. 47 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 TRABALHO DE CAMPO: A contribuição da Geografia nas Pesquisas Sócio-Ambientais. (Responsável: Prof. Ms. Valdemir Antoneli) Dentre as diversas atividades propostas para a IV Semana de Geografia, elaborada pelo departamento de Geografia da Universidade Estadual do Centro Oeste - Campus de Irati- DEGEO/i, foi realizada uma atividade de campo enfocando os aspectos geoambientais entre os municípios de Irati e Prudentópolis, ambos localizados na Região Centro Sul do estado do Paraná, atividade coordenada pelo Professor Ms. Valdemir Antonelli. O trabalho de campo constitui-se como instrumento fundamental para uma "leitura", por meio da qual se desvenda o entorno e se estabelece a mediação entre o registro, o conhecimento já sistematizado e informado e o seu significado, auferido através de um processo dinâmico e dialético para o entendimento da realidade. Daí decorre a necessidade de discernir-se sobre o real papel que o trabalho de campo desempenha nos processos de construção do conhecimento e de aquisição de atitudes de comprometimento. Neste sentido a proposta da atividade de campo acabou instigando os participantes do evento para interpretação das variáveis que compõem uma unidade de paisagem, bem como sua inter relação. Partindo deste principio, o trabalho de campo entre as cidades de Irati e Prudentópolis propiciou uma investigação das características sociais e ambientais, bem como suas inter relações. Dentre as características físicas, a área em estudo apresenta formação geológica, de depósitos sedimentares paleozóicos, correspondentes à grande feição de sedimentação marinha e litorânea, conhecida como Bacia Sedimentar do Paraná. Nas áreas de estudo há uma predominância da Formação Terezina, a qual é composta por siltitos acinzentados oriunda de planície de maré e plataforma epinerítica, além de afloramentos da Formação Serra Alta, Formação Palermo e formação Rio do Rastro, sendo estes componentes do grupo Passa Dois. Em áreas de topo, é possível encontrar camadas residuais de diabásio, oriundos de “diques ou sills” Juro-Cretácio da Formação Serra Geral. Estas características, associadas aos processos de intemperismo, permitem o surgimento de vertentes côncavas/convexas. Devido às características morfopedológicas, o uso do solo desta região é predominantemente de agricultura familiar e em alguns casos pratica-se ainda sistema de roça que já vinha sendo desenvolvida desde a colonização. A tração animal e o trabalho familiar são as bases para o desenvolvimento desta atividade onde se cultiva milho, feijão, arroz e trigo. Entre as diversas particularidades, do uso do solo, há de se levar em consideração o sistema de Faxinais, ou criadouro comum, uma forma de organização camponesa que combina policultura com criatório animal e extrativismo vegetal. Ao longo do itinerário, foram realizadas algumas paradas nas margens da BR 376. A primeira delas foi realizada no limite entre os municípios de Irati e Prudentópolis, neste ponto as características físicas apresentam algumas particularidades como um relevo com vertentes alongadas e suaves, e um solo bem drenado devido a rica drenagem que compõe a região. A morfologia do relevo propicia a mecanização da 48 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 agricultura desta área, ocorrendo um predomínio de solos podzólicos influenciados pela estrutura geológica sedimentar da formação Serra Alta. O segundo ponto, para a avaliação dos condicionantes da paisagem, ocorreu próximo a Escarpa da Serra da Esperança (Serra Geral), neste local foi possível enfocar algumas particularidades. Como por exemplo, a ocorrência de alguns diques de diabásio oriundos da formação Serra Geral. Estes diques contribuem para a predominância de um relevo dissecado, com declividades >45%, impróprio, portanto para a prática agrícola. Mas o que se observou, foi um grande número de áreas onde foi efetuada a prática da queimada para fazer a limpeza do terreno e efetuar a agricultura de subsistência. Com relação aos tipos de solos, há um predomínio de cambissolos e litossolos, sendo na maioria rasos e pouco desenvolvidos, influenciados pela estrutura geológica cristalina e pelo predomínio de um regime climático subtropical, fatores que propiciam um lento processo de intemperização e formação de solos. O terceiro ponto para a investigação foi a Escarpa da Serra da Esperança, sendo possível evidenciar algumas características peculiares da área, principalmente por esta marcar o limite entre o Segundo Planalto e o Terceiro Planalto Paranaense. Ao longo da Escarpa foram identificadas as deposições da formação Botucatu sobreposta à formação Pirambóia, sendo estas recobertas pelos derrames basálticos da Formação Serra Geral. Ocorrem também algumas formações isoladas, constituídas por mesetas e morros testemunhos das camadas Gondwanicas, como o Morro do Chapéu. Foram colocados em pauta para discussão in loco alguns aspectos da APA (Área de Proteção Ambiental) da Serra da Esperança que foi criada através da Lei Estadual nº 9.905, de 27 de janeiro de 1992. Esta área abrange os municípios de Guarapuava, Prudentópolis. Inácio Martins, Cruz Machado. União da Vitória, Mallet, Rio Azul, Paula Freitas, Paulo Frontin e Irati, possuindo uma área total de 206.555,82 ha. Neste ponto também foram discutidas questões referentes à rede de drenagem que por apresentar um declive acentuado seguem em direção a Noroeste, para desaguar na Bacia do Ivaí, formando vales que cortam a paisagem com escarpas e cuestas em formas de “boqueirão” resultantes dos processos exógenos que se verificam ao longo dos anos. Nesta região são encontradas inúmeras cachoeiras, o que propicia o turismo de aventura. As explanações também enfocaram alguns condicionantes do uso e ocupação do solo deste local, como por exemplo, as atividades agrícolas são condicionadas pelas características morfopedológicas, o que significa uma agricultura de subsistência com emprego de grande quantidade de mão-de-obra, justificando assim um certo atraso econômico da região. Para encerrar as atividades de campo, fez-se uma visita ao Salto Barão do Rio Branco no Rio dos Patos, sendo discutido o potencial turístico e a beleza cênica do local. Neste sentido, a atividade de campo se tornou compensatória e produtiva devido às diversidades paisagísticas desta região, sendo possível constatar que as características físicas são condicionantes para o uso e ocupação do solo. 49 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 COMUNICAÇÕES ORAIS 50 ISSN 1983-4667 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 AQUECIMENTO GLOBAL E POSSIVEIS MUDANÇAS CLIMÁTICAS LOCAIS: O CASO DE IRATI Andréia Tisato11 Aparecido Ribeiro de Andrade12 Resumo: O fenômeno aquecimento global é comentado desde 1850, mas somente em 1950 foi que cientistas iniciaram um monitoramento constante dos níveis de carbono na atmosfera, e desde então os estudos sobre esse fenômeno climático têm se intensificado. O aquecimento global é um problema ambiental que preocupa cientistas do mundo inteiro, pois esse aquecimento é provocado pelo aumento dos gases estufa como: o metano, o vapor d’água e principalmente o dióxido de carbono, o qual vem se intensificando desde a revolução industrial, de forma que a sociedade é considerada como principal agente modificador neste processo. Com o aumento da camada de gases na atmosfera, a quantidade de calor aprisionado na Terra é maior do que o necessário, sendo assim o efeito estufa deixa de ser natural e benéfico, para tornar-se uma preocupação ambiental. As indústrias e a queima de combustíveis fósseis são consideradas as principais formas de produção de gás carbônico, além da pecuária que produz o metano em grandes quantidades, retendo 20 vezes mais calor na atmosfera que o gás carbônico, embora sua concentração seja menor. O crescimento demográfico e das cidades, também são fatores contribuintes para o aquecimento, pois para a construção das cidades é necessária a retirada da vegetação de forma rápida e agressiva, causando fortes impactos ambientais, principalmente pela modificação da estrutura do terreno, como a pavimentação, que além de deixar o solo impermeável, retém mais energia e calor. É nas cidades que se concentra a maioria das atividades humanas, como a grande circulação de automóveis. Desta forma as cidades podem ser consideradas grandes modificadoras do clima, sendo que o processo de urbanização se intensificou no século XX. Atualmente as cidades são mais atrativas, assim a maioria da população deixa a vida rural para habitar os grandes centros urbanos, provocando uma ocupação acelerada e desenfreada, a qual ultrapassa a capacidade administrativa e de planejamento, ocupando os solos urbanos de forma inconseqüente, danificando o espaço ecológico da cidade. As áreas verdes estão cada vez menores no ambiente urbano, o que não é benéfico, pois além de colaborar na estética das cidades, essas áreas contribuem para o conforto térmico e ajudam no escoamento das águas das chuvas. O aumento da temperatura terrestre trás consigo conseqüências ambientais, onde alguns países mais vulneráveis a essas variabilidades climáticas já estão sofrendo com as graves conseqüências, como variações das chuvas, derretimento das geleiras, aumento do nível do mar, extinção de espécies animais e vegetais, furacões, etc., além da grande preocupação com as reservas de água potável. Embora atualmente existam órgãos como o IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change), responsável em fornecer relatórios e informações sobre impactos ambientais causados por ações humanas, convenções como a ECO-92 onde se discutiu o meio ambiente e desenvolvimento, além de conferências como a de Kyoto, a qual visava e propunha a redução dos níveis de carbono, os progressos na mitigação do aquecimento global ainda são incipientes. Sabe-se que apesar de toda essa política ambientalista, ainda está longe a solução do problema, já que para o desenvolvimento econômico é necessário a produção de dióxido de carbono (alegam alguns países) e sabe-se que os países desenvolvidos são os principais poluidores, pois indústrias lançam diariamente 11 Acadêmica do Curso de Geografia da Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO, Campus de IRATI-PR. E-mail: [email protected] 12 Professor Assistente do Departamento de Geografia da Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO, Campus de IRATI-PR. E-mail: [email protected] 51 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 grandes quantidades de gás carbônico na atmosfera. Alguns autores criticam o modo de produção capitalista, o qual induz a população ao consumismo, de forma que os recursos naturais são devastados, buscando suprir o consumo humano excessivo da sociedade moderna. Contudo, o principal enfoque desta pesquisa é descobrir através da concepção da população urbana de Irati, se nessa cidade também ocorre uma possível alteração na temperatura nos últimos anos, já que a cidade teve um crescimento considerável, mesmo sendo uma cidade de pequeno porte. Atualmente Irati conta com aproximadamente 54.151 habitantes, sendo que cerca de 75% dessa população residem na área urbana. Tal realidade tende a contribuir para o aumento do efeito estufa. Entretanto, em virtude de falta de dados meteorológicos sistematizados, que propiciem uma avaliação mais concreta sobre um possível aquecimento ocorrido em Irati, se tentará descobrir através de entrevistas com alguns moradores mais antigos da cidade, se os mesmos detectaram alguma alteração climática nos últimos anos, e é através da concepção da população que se buscará uma explicação sobre tal questionamento. A pesquisa ainda se encontra em fase de coleta de dados de campo, mas os primeiros resultados obtidos apontam, que apesar do tema ser muito comentado na mídia, o morador possui um conhecimento mínimo sobre o assunto, e algumas pessoas não tem idéia do que se trata. Palavras-chave: clima urbano, aquecimento global, percepção ambiental BIBLIOGRAFIA IBGE; Instituto Brasileiro de Geografia Estatística; (2007) http://www.ibge.gov.br/cidadesat/default.php; acessado dia 27/07/2008; disponível em: MONTEIRO; Carlos Augusto de Figueiredo. MENDONÇA; FRANCISCO; Clima urbano. Ed. Contexto São paulo, 2003. DOW, Kirstin; DOWNING, Thomas E.; O Atlas da Mudança Climática; O Mapeamento Completo do maior Desafio do Planeta; ed Publifolha, São paulo, 2007. SEGRÉ, Gino; Uma Questão de Graus: o que a temperatura revela sobre o passado e o futuro de nossa espécie, nosso planeta e nosso universo, tradução de Vera Ribeiro – ed; Rocco LTDA; Rio de Janeiro, 2005. 52 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE AQUECIMENTO GLOBAL Bruno Gonçalves da Silva13 Emerson Rigoni14 Resumo: Esse trabalho faz parte de um projeto da disciplina de Geografia onde se busca trazer à tona uma breve discussão sobre o aquecimento global e suas conseqüências para a humanidade, esse desenvolvimento pretende colaborar com a formação dos alunos, pois esse debate é recente e de interesse universal. “O fenômeno que hoje tanto desperta preocupação da sociedade é a intensificação do aquecimento da baixa atmosfera, particularmente da troposfera, a camada sobre a qual se voltam os estudos da climatologia” (MENDONÇA, 2003, P. 207). O aquecimento global é um fenômeno real e danoso para o desenvolvimento da vida no planeta. Os inúmeros indícios colaboram com o que diz os cientistas, apesar disso, mesmo com várias informações a respeito ainda existe muito a ser comentado e analisado. Mas, quando se estuda as mudanças climáticas e suas conseqüências, nossa percepção se aprofunda sobre as causas e efeitos pelos quais nós humanos somos responsáveis. Dessa forma cabe explorar também qual é a parcela de culpa do homem para o avanço do aquecimento global e por isso especula-se que uma das causas desse evento é a poluição descontrolada, ou seja, devido à expansão industrial, dos transportes modernos que usam combustíveis fósseis, da devastação das florestas pela grande exploração madeireira, do uso inadequado dos solos agricultáveis que leva à erosão ou a esterilização de extensas áreas, do aumento populacional em proporções gigantescas, das montanhas de lixo, (resultado em grande parte do desperdício imposto por nossa cultura consumista) poluindo os rios e mares do planeta, o lençol freático e o próprio solo e do crescimento exagerado e desordenado das áreas urbanas (explosão demográfica), principalmente nas grandes cidades dos países em desenvolvimento, é que o meio natural vem se modificando gradativamente. Um exemplo que colabora com essas afirmações é “o desmatamento de grandes áreas florestadas que também é um dos grandes problemas que afetam enormemente o aquecimento global” (ANTONIO FILHO, 2007, p. 11). Só no Brasil, entre 2002 e 2003, cerca de 20 mil quilômetros quadrados de florestas foram queimados. A elevação das temperaturas do planeta Terra nos traz muitas questões quanto às suas causas e conseqüências. Dessa forma, o aquecimento global constitui-se numa das principais problemas da sociedade atual tanto pelo desafio de se entender melhor esse desenvolvimento quanto pelo de conhecer quais serão as suas causas. Pelo fato de tratar-se de uma problemática que envolve ao mesmo tempo a estrutura natural do planeta e a sociedade humana, a abordagem do aquecimento global demanda uma busca para sua melhor compreensão. Assim sendo, é que a ciência geográfica revela amplas possibilidades para um tratamento abrangente desta questão, pois permite aproximar a dinâmica natural da dinâmica social nessa problemática. Dessa forma o objetivo desse estudo é buscar algumas reflexões sobre algumas repercussões que as mudanças climáticas globais podem desencadear sobre o meio natural e a sociedade. Esta e várias outras questões colocam-se como desafios aos cientistas do clima e da sociedade atual. Por se tratar de uma análise sobre uma situação futura, a busca aqui desenvolvida avança para uma discussão acerca dos possíveis problemas de um aquecimento global, ou seja, aquela segundo a qual o clima, enquanto elemento do meio exerce considerável influência sobre a sociedade, dessa forma, a questão das mudanças climáticas precisa, 13 14 Aluno da 8ª série do Colégio João Negrão Júnior. E-mail: [email protected] Professor orientador . E-mail: [email protected] 53 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 portanto, passar por uma apreciação mais refinada a fim de que se possa determinar, com maior consistência, o papel da natureza e o da ação humana no processo, mesmo porque as duas esferas podem atuar de forma solidária e simbiótica. Os cenários de catástrofes, freqüentemente apresentados na mídia de forma simplista, sem o necessário questionamento, devem ser descartados, pois, seguramente, o planeta não está caminhando para o colapso, em curto prazo, mas sim em longo prazo e ainda não dispomos de informações seguras para previsões futuras. Palavras-chave: aquecimento global, ação humana, catástrofes. Referências Bibliográficas ANTONIO FILHO, Fadel David. O aquecimento global e a teoria de Gaia: subsídios para um debate sobre as causas e conseqüências. In Climatologia e Estudos da Paisagem. Rio Claro - Vol.2 - n.1 - janeiro/junho/2007. Disponível em <http://cecemca.rc.unesp.br/ojs/index.php/climatologia/article/viewFile/720/633>. Acesso em 20/07/2008 CONTI, José Bueno. Considerações sobre as mudanças climáticas globais. In Revista do Departamento de Geografia, 2005. P. 70-75. Disponível em: < http://www.geografia.fflch.usp.br/publicacoes/RDG/RDG_16/Jos%C3%A9_Bueno_C onti.pdf>. Acesso em 20/07/2008. MENDONÇA, Francisco. Aquecimento global e saúde: uma perspectiva geográfica – notas introdutórias. Artigo. Ano 19, vol. 1, n. 20. São Paulo: Terra Livre p. 205 – 221. Jan/jul. 2003. Disponível em <http://www.unit.br/mestrado/saudeambiente/leitura/Aquecimento%20global%20e% 20saude%20.......pdf>. Acesso em: 20/07/2008. 54 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 MUDANÇAS NO SISTEMA VIÁRIO DA CIDADE DE IRATI-PR: PROLEGÔMENOS À CIRCULAÇÃO (URBANA) E À VELOCIDADE Roberto França da Silva Júnior15 [email protected] Fábio César Ferreira16 [email protected] Resumo: Um dos principais “fenômenos” das grandes cidades é o trânsito congestionado, principalmente relacionado ao aumento no número de veículos. Se por um lado o automóvel foi um dos motores do desenvolvimento capitalista, permitindo o encurtamento das distâncias-tempo, por outro, se constitui como um “problema”, em função do crescimento exponencial do número de veículos e a baixa capacidade das cidades de serem “planejadas” para acompanhar esse ritmo ou mesmo de organizar melhor o sistema de circulação. No período atual, a globalização, a velocidade comparece não somente como objetivo do ato de circular, mas também como uma ideologia, que se corporifica no trabalho morto e na proposição de fluidez. A velocidade é uma veleidade do homem e é um desígnio constituído historicamente a partir de dois elementos imbricados e indissociáveis: as técnicas e as normas. Lewis Mumford compara as metrópoles a um “recipiente superlotado”. Para Mumford (2004) entre os limites está o custo dos transportes “tanto em tempo quanto em dinheiro”. O autor afirma ainda que os custos provenientes dos congestionamentos obstruem as atividades econômicas da metrópole e os métodos “puramente mecânicos” para vencer esse problema elevam ainda mais esses custos. Essa situação demarca a crise de um modelo, pois, a metrópole de hoje, sobretudo em países periféricos como o Brasil, é uma aglomeração ainda muito voltada para o automóvel. Nesse cenário, vivem-se o paradigma da engenharia civil e obras, como soluções técnicas para os congestionamentos de veículos automotores, através da construção de vias elevadas e de vias expressas que talvez minimizem um pouco o problema dos congestionamentos, mas que não são suficientes. A velocidade é paradigmática por se tratar do elemento perseguido pelo capital no sentido de uma reprodução maior. A busca é por instantaneidade e simultaneidade (já alcançada por grandes corporações). Sempre se buscou com os transportes velocidade e mobilidade. Estes “pressupostos” foram personificados, primeiramente, nas ferrovias e navios, posteriormente nos automóveis, caminhões e aviões. Seguidas inovações tecnológicas ocorreram nos meios de transportes, que os tornaram cada vez mais velozes, proporcionando profundas alterações nas cidades e na cultura, por traduzirem em velocidade os anseios por mobilidade. Nesse sentido, os automóveis alteram o uso do território, sendo um elemento do desejo que serve a estratégias hegemônicas para multiplicar capital e o domínio sobre o território. É uma questão também geopolítica, já que a mobilidade e sua velocidade são elementos essenciais no controle de determinadas situações. Fica implícita a questão das desigualdades no uso dos automóveis e do território. A velocidade obtida desde a motorização dos transportes do século XIX é resultado, portanto, da técnica, sendo assim um elemento sociotécnico. Sendo um dado da técnica, isto é, da produção, a velocidade também é um produto, uma mercadoria, um bem. Não obstante, Milton Santos (2000) salienta que a velocidade “não é um bem que permita uma distribuição generalizada, e as disparidades no seu uso garantem a exacerbação das desigualdades”. Assim, a aceleração contemporânea, marcada pelo culto à velocidade, se revela em crise. Uma crise do período atual, mas não do capital, 15 16 Professor Assistente Mestre do Departamento de Geografia de Irati - Unicentro Acadêmico do 4º ano do curso de Geografia de Irati - Unicentro 55 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 que por sua vez, cria novos estratagemas. Na aceleração mais contundente da história não há mobilidade em todos. A “socialização” da mobilidade fica no plano da ideologia. Já a cidade de Irati é uma cidade relativamente pequena, cerca de 40 mil habitantes e não possui congestionamentos. Todavia, nos últimos dois anos a atual gestão municipal (Sérgio Stocklos) fez mudanças consideráveis nas vias da cidade, sobretudo na área central, onde foram construídas rotatórias, postos novos semáforos, pavimentando ruas e avenidas (as esburacadas e as com paralelepípedos), alterando o sentido de vias (tornando-as de mão única, para obtenção de “mais espaço”), enfim, mudanças estruturais. É público e é notório, que entre as prioridades do poder executivo, é a importância dispensada ao sistema viário da cidade. Tendo em vista esta situação, o objetivo deste trabalho é fazer uma discussão teórica, face às mudanças realizadas no sistema viário de Irati, com o intuito de entender o porquê das mudanças do ponto de vista apontado na problematização supra. A título de informação, também realizamos uma entrevista junto ao responsável pelas mudanças ocorridas no período, que explica a necessidade de um planejamento (a longo prazo). 56 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 ALGUMAS IMPRESSÕES A RESPEITO DA FRONTEIRA E DO TERRITÓRIO A PARTIR DE TRABALHO DE CAMPO REALIZADO EM FOZ DO IGUAÇU (BRASIL), PUERTO IGUAZÚ (ARGENTINA) E CIUDAD DEL LESTE (PARAGUAI) Rosiléia Alves dos Santos 17 Silnea Van Der Waal 18 Roberto França da Silva Júnior 19 Resumo: No mês de maio de 2008 foi realizado um trabalho de campo na tríplice fronteira Brasil –Argentina – Paraguai, sob a orientação do professor Roberto França da Silva Junior e da professora Marisa Emmer, com base na disciplina de Organização do Espaço Mundial (3º ano) e Geografia Política (2º ano). O trabalho de campo foi realizado a partir de quatro eixos centrais: 1) A fronteira (aspecto teórico); 2) O comércio, o câmbio e a questão aduaneira; 3) A paisagem urbana; 4) A presença muçulmana em Foz de Iguaçu. Para este trabalho verticalizamos sobre o primeiro aspecto para compreender melhor a fronteira a partir da observação de campo. Um dos sentidos da discussão se deu em função das seguintes questões: As fronteiras acabaram diante a grande mobilidade dos fluxos de capitais e de informação? Seria o fim da geografia? Tentaremos responder a essas questões com base no entendimento da globalização, enquanto período histórico ou o estágio supremo do processo de internacionalização do capital. A globalização, por meio da unicidade técnica e da convergência dos momentos, bem como por possibilitar uma consciência planetária (SANTOS, 2001), faz com que sejam “evocadas” uma série de ideologias, como as que estão sendo questionadas. Existe toda uma discussão epistemológica acerca da noção de fronteira, mas, para discutirmos este trabalho, adotamos a noção de que “as fronteiras políticas são formas assumidas pelos limites que, cristalizadas no território, são a expressão da relação que o homem mantém com os outros homens por meio do território. A fronteira política é um dos tipos de limites impostos às atividades humanas” (CATAIA, 2007). Foz do Iguaçu, Puerto Iguazu e Ciudad del Este são cidades que circunscrevem-se como uma zona fronteiriça que expõe profundas diferenças do ponto de vista da “paisagem econômica”. Entendemos que esta, é “a manifestação das formas de produção, como agricultura, pecuária, extração, indústria, serviços. Por isso, a paisagem econômica é uma estrutura de relações de posições econômicas” (SILVA, 1986). Essa paisagem tem, portanto, um valor que concretiza o trabalho morto, onde se dará o movimento das coisas (como mercadorias e como não-mercadorias) pelo espaço. Os movimentos cada vez mais rápidos expressam uma forma de racionalidade econômica e política. A paisagem também se constitui como uma “materialidade, formada por objetos materiais e não-materiais”, sendo fonte de relações sociais, mas também é constatável pelos sentidos humanos (SANTOS, 1991). Existe nos Estados em questão, um conflito histórico que não se evidencia mais através de guerras, como as que estiveram envolvidos no passado, mas, através de negociações tensas com base nos recursos territoriais. Essas negociações, atualmente, são realizadas sob a “sombra” do Mercosul, que se manifesta mais como um “espaço político” do que 17 Aluna do 3º ano do curso de Geografia. Iniciação científica voluntária sob a orientação do Prof. Ms. Roberto França da Silva Junior. Bolsista extensão. E-mail: [email protected] 18 Aluna do 3º ano do curso de Geografia. E-mail: [email protected] 19 Professor do Departamento de Geografia campus de Irati. Doutorando em Geografia pela Unesp campus de Presidente Prudente. E-mail: [email protected] 57 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 propriamente como um mercado comum integrado. Na prática, a construção de uma experiência política de matriz estratégica, muitas vezes ofusca as “questões econômicas propriamente ditas”. Desse modo, observamos que as fronteiras, se por um lado não são militarizadas, por outro são “policiadas”, no sentido de que existem “concertos” de interesses em função de uma pseudo-fiscalização aduaneira, mas que expressa um dos sentidos do poder, próprio da existência de fronteiras políticas, para fins políticoeconômicos. A tensão também é relativa à desigualdade existente entre os três Estados, pois, nunca houve o objetivo de equalização das condições econômicas entre os países do Mercosul. Isso fica apenas no discurso. Nesse contexto, empiricamente, visualizamos que a cidade brasileira reserva uma infra-estrutura mais bem dotada, em termos de serviços e equipamentos, já a cidade paraguaia evidencia um movimento “aparentemente” caótico em função de seu comércio pujante. O espaço existente é disputado por carros, moto táxis, barracas de camelôs, esgoto, lixo, além da enorme aglomeração de pessoas circulando pelas ruas. O poder reservado à zona fronteiriça expõe permanentemente os conflitos entre os que vão e os que vêm. Conflitos visíveis pela ação de diversos agentes: transportadores, sacoleiros, policiais, fiscais, traficantes de drogas etc. Apesar de tudo isso, não notamos policiamento nas ruas, ao contrário da cidade argentina que é policiada, porém com um comércio pífio, baseado em produtos artesanais e alimentícios. No caminho da cidade argentina, antes da alfândega, existe um Duty Free onde se comercializa produtos importados isentos de impostos ou com redução destes. Por sinal, as alfândegas são um dos exemplos de in formação que demonstra que as fronteiras permanecem fortes no período da globalização. A informação é a de que as passagens de um lado a outro, não são tão livres como expõe os ideólogos. Portanto, entendemos a partir de alguns elementos apresentados e com base em leitura teórica dessa realidade, que as fronteiras estão entre os principais fundamentos da existência dos Estados, inclusive no período histórico atual. Palavras-chaves: Fronteira; Território; Globalização 58 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 A MUSICIDADE E A GEOGRAFIA: O ESPAÇO GEOGRÁFICO POR MEIO DE SONS & LETRAS Emerson Vieira dos Santos20 Karla Rosário Brumes21 Resumo: A música se torna fruto do saber e fazer humano para o ensino ao trazer em seu contexto mensagens, específicas como, por exemplo, aquelas que envolvem o saber geográfico, por isto, ela pode fazer de um artista assim, testemunha da realidade social ao fazê-lo relatar em suas poesias musicais o espaço que se pressente. Logo a música na sala de aula invoca outros aspectos que fogem às práticas pedagógicas tradicionais, como a ludicidade, a alegria e o prazer, verificando, por fim, que o uso da música em aulas de Geografia pode fazer com que o aluno seja remetido a uma postura crítica, que culmina com a formação plena do cidadão. Porém, para que isto alcance os melhores desempenhos se faz necessário trabalhar o conhecimento de vários modelos, onde o educador deve estar munido de muita clareza, com relação ao método, objetivo, temas e seus conteúdos, aonde para cada conteúdo abordado, os recursos e métodos a serem utilizados devem ser diferenciados. Acreditamos que os recursos que permitem melhores níveis de conhecimentos, são aqueles que despertam maior interesse e curiosidade dos alunos, sem sombra de dúvidas estes são os melhores. Diante desta explanação o presente trabalho tem por objetivo fazer uma análise sobre o ensino da Geografia por meio do uso da música, caracterizando-a como um recurso metodológico eficaz no processo de ensino/aprendizagem, uma vez que é um meio disponível e acessível a todos, independendo de lugar que se possa estar e uma vez que também podemos crer que adolescentes e jovens, sejam as pessoas que mais ouvem músicas nos dias atuais, pois não é raro encontrarmos vários em posses dos chamados MP3 e demais aparelhos portáteis de som, mesmo em sala de aula, portanto, nada mais sábio que nos apoderarmos do gosto que os estudantes têm pela música e trabalharmos com seus diversos gêneros nas aulas de Geografia. De início busca-se fazer um resgate histórico do ensino de Geografia como disciplina escolar no Brasil para se entender ao que se propunha este ensino no início, ou seja, busca-se, entender se de fato eram dadas ênfases no real sentido de sua relação com o mundo e de que maneira os mesmos eram repassados aos alunos a fim de que apreendessem os conceitos geográficos, ou se somente se ensinava àquilo que os governantes da época queriam que fossem repassados para os alunos, por exemplo. Posteriormente busca-se também abordar quais as inovações tecnológicas de comunicação podem ser usadas como auxílio metodológico, no caso em especial, a música. A idéia é mostrar que ao explorar um recurso como a música que apresenta texto, som e contexto, pode-se fazer a articulação com os conceitos de lugar, região, território e uma enormidade de conteúdos geográficos. Juntamente a isto, a pesquisa pretende fazer uma abordagem sobre o ensino de Geografia na atualidade, buscando para tanto entender seus objetivos, lembrando que a Geografia escolar de hoje, não pode repetir o seu passado, aonde se preocupava apenas com um estudo regional, em que suas respostas sempre eram objetivas, somente se pretendia que os alunos aprendessem a decorar as cidades, capitais, rios, afluentes, clima e relevo, mas na atualidade a visão geográfica esta diferente, pois se ensina, ou pretende-se ensinar uma Geografia Crítica que leve os alunos a questionarem o que 20 Discente da Universidade Estadual do Centro-Oeste - Unicentro - [email protected] Docente da Universidade Estadual do Centro-Oeste - Unicentro - [email protected] 21 59 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 acontece nos espaços geográficos e na política mundial. E também nos propomos a trabalhar a responsabilidade e o papel do professor na sala de aula, partindo da idéia, de que é ele o maior responsável pelo dinamismo nas aulas, através da busca de alternativas para um melhor desenvolvimento das temáticas de ensino, sendo que, um professor para fazer a diferença entre os demais profissionais em Geografia, o mesmo deve se qualificar, ou seja, estar mais atualizado através de fontes seguras de informações e demais conhecimentos, que surgem no âmbito da educação. Algumas letras de músicas estão sendo usadas para relacionar uma letra ao um contexto geográfico, a saber, as usadas como formas de protesto contra a Ditadura Militar; as que abordam o meio ambiente; a música no território das migrações etc.. Para dar mais visibilidade e praticidade à relação entre música e Geografia, faz-se exposição de três experiências realizadas no estágio, onde também nos detemos a descrever todos os acontecimentos, os prós e os contras. Esperamos com isto acima de tudo referir-nos a uma arte na educação e como deve ser usada com a finalidade de demonstrar o quanto é útil o uso deste recurso no ensino de Geografia e seus contextos geográficos. Palavras chave: ensino de Geografia; música; recurso auxiliar. 60 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 REPERCUSSÃO DO AQUECIMENTO GLOBAL EM MEIO À SOCIEDADE, UM PARALELO ENTRE A VOZ DA MÍDIA E DA CIÊNCIA Patrick Fernando de Oliveira 22 Wilson Flávio Feltrim Roseghini 23 Resumo: Ao longo de sua existência, o planeta Terra enfrentou vários períodos de mudanças climáticas, mas recentemente o tema Aquecimento Global conduz a um dos maiores paradigmas científicos da atualidade. Mudanças no clima, quase sempre de ordem natural, têm recebido contemporaneamente a influência antrópica, por meio da emissão excessiva de gases de efeito estufa, ganhando um novo sentido nas discussões de ordem científica e também por parte da mídia. Tais discussões procuram apontar não apenas as conseqüências trazidas pelas mudanças no clima, como também as causas que o alteram, bem como a necessidade de encontrar soluções para combater tal fenômeno. Grande parte da mídia apresenta o ser humano como responsável por dois terços da culpa pelo aumento da temperatura, e faz grandes alertas a humanidade ao falar das prováveis conseqüências. Já os relatórios do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática), são mais modestos, porém não tiram a parte da culpa que cabe ao homem e, ao mesmo tempo alertam para as conseqüências futuras. Assim, o presente estudo tem como objetivo relatar a repercussão do tema em meio à sociedade, tratando de apresentar um paralelo entre a força exercida pela voz da mídia e da ciência na formação da consciência das pessoas. Para isso, o estudo foi realizado por meio de embasamento teórico e pesquisas realizadas através de questionários, com intenção de evidenciar as diferenças existentes entre diferentes esferas da população. Foram formuladas 10 perguntas e aplicadas de forma aleatória a 30 pessoas na Rua Dr. Munhoz da Rocha, centro, na cidade de Irati. O mesmo questionário foi aplicado a 30 alunos da 3ª série do ensino médio e a 30 acadêmicos do 3º e 4º anos de curso universitário que já havia trabalhado esse conteúdo na disciplina, totalizando 90 entrevistados. Os resultados obtidos pelas entrevistas são debatidos no crivo do embasamento teórico-científico, com intenção de mostrar por que meios a informação chegou à percepção da sociedade e a base referencial de tal informação. Constatou-se, com base nos dados obtidos, que a mídia, principalmente através da TV e do rádio, os quais são meios de comunicação de massa, foi a que mais repercutiu o tema em meio à sociedade, atingindo 91% dos entrevistados, já os livros de ordem científica, ficaram com 36% do total de entrevistados. Entre os opinantes, 17% na rua e 23% no ensino médio, buscam embasamento nos livros, números que aumentam apenas na universidade chegando a 67%, ou seja, a mídia é muito superior na divulgação do tema. Para os entrevistados na rua e na escola, o ser humano é o responsável direto pelas mudanças climáticas, resultado que muda apenas na universidade, onde 63% dos entrevistados direcionam a responsabilidade para o homem, em conjunto com os ciclos naturais. Ao perguntar sobre itens relacionados à temática ambiental, comprovou-se que além da mídia, também os leitores dão maior atenção às notícias catastróficas, onde a maior parte destes, cerca de 71%, saberia falar sobre o derretimento das geleiras ou conseqüências do efeito estufa. Já ao falar do Protocolo de Quioto o número caiu para 26% e, apenas 5% saberiam expor o que significam os relatórios divulgados pelo IPCC, sendo que esses dois últimos alcançariam média ainda menor se não contassem com as respostas dos universitários entrevistados. 22 23 Acadêmico do curso de Geografia – Unicentro/Irati – [email protected] Mestre em Geografia, Professor Colaborador DEGEO – Unicentro/Irati – [email protected] 61 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 Outra resposta surpreendente foi a respeito do maior emissor de gás carbônico no Brasil, ou seja, desmatamento, queimadas e mudanças no uso do solo, seguido da queima de combustíveis fósseis, produção industrial e extração de carvão, petróleo e gás natural. Nessa questão, os 30 entrevistados nas ruas - dentre eles nenhum com 3º grau completo - superaram com 47% de acerto os universitários e os alunos do ensino médio, respectivamente com 30% e 27%. Dos mesmos entrevistados 56% vêem a mídia como sensacionalista, 37% como realista e 7% não tem opinião formada a respeito. A sociedade vê a mídia como um meio que usa de sensacionalismo ao apresentar os fatos, mas que isso se faz necessário para conscientização humana. O número de 33% dos entrevistados afirma estar fazendo algo para desacelerar o Aquecimento Global, enquanto o restante nada faz ou não sabe o que fazer. Por fim, conclui-se que se a mídia usasse uma apresentação mais próxima daquilo que a ciência coloca, e ambas investissem com maior empenho no combate as causas do Aquecimento Global, provocariam grandes mudanças de conscientização e hábitos em meio à sociedade. REFERÊNCIAS: SANT’ANNA NETO, J. L; ZAVATINI, J. A. Variabilidade e Mudanças Climáticas: Implicações Ambientais e Sócio Econômicas. Ed. EDUEM, Maringá, 2000. PEARCE, F. O Aquecimento Global: Causas e efeitos de um mundo mais quente. 2ª ed. São Paulo: Publifolha, 2002. BERNA, V. Como fazer Educação Ambiental. São Paulo: Paulus, 2001. FRANCO, E., "Aquecimento Global", Galileu, Ed. 179, pg. 30-41, 2006. ARINI, Juliana. "Como o Aquecimento Global vai afetar o Brasil", Época, Nº 463, pg. 6269, 2007. BLANC, Cláudio. "Aquecimento Global", Aquecimento Global, Nº 1, pg. 50-55, 2007. http://educar.sc.usp.br/licenciatura/2003/ee/Aquecimentol1.html, acessado no dia 21 de julho de 2008, às 19,55 horas. http://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/meio_ambiente_brasil/clima/mudancas_climatic as/index.cfm, acessado no dia 21 de julho de 2008, às 19,57 horas. http://www.ecolatina.com.br/pdf/relatorio-IPCC-3.pdf, acessado no dia 21 de julho de 2008, às 19,45 horas. http://www.redesergipe.se.gov.br/reserv/noticias.php?cd_noticias=0e654kTM705, acessado no dia 21 de julho de 2008, às 19,40 horas. http://www.conpet.gov.br/quioto/noticia.php?segmento=corporativo&id_noticia=244, acessado no dia 21 de julho de 2008, às 19,37 horas. http://www.unb.br/temas/desenvolvimento_sust/eco_92.php , acessado no dia 19 de julho de 2008, às 21,39 horas. 62 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 ENTRE AS PRÁTICAS AGRÍCOLAS AGROECOLÓGICAS E AS CONVENCIONAIS NO MUNICÍPIO DE SÃO MATEUS DO SUL-PR: DA PRODUÇÃO A PROMOÇÃO DA VIDA Thales Ravel Hetka Okonoski24 Almir Nabozny25 Resumo: Esse trabalho tem por objetivo comparar as vantagens e desvantagens da Agricultura Convencional com a prática Agroecológica de produtores rurais do município da São Mateus do Sul-PR, considerando como indicadores comparativos à perspectiva econômica, social e ambiental. Tendo como referencial a proposta teórica de Santos (1996) em que a relação entre sociedade e natureza figurou no avanço de um meio natural ao um meio técnico e, posteriormente ao meio técnico cientifico e informacional. Para esse trabalho um referencial temporal importante constitui-se nos anos 70 intensificado após a chamada “Revolução Verde”, quando se iniciou a inserção de uma nova perspectiva de cultivo agrícola, baseado no uso de agrotóxicos e fertilizantes químicos que, apesar de aumentarem a produção, são muito nocivos ao ambiente e a saúde humana, configurando a base técnica da Agricultura Convencional. Atualmente, a busca de formas sustentáveis de produção em todas as áreas, inclusive na agricultura torna-se imprescindível, bem como a divulgação e a conscientização da sociedade frente às viabilidades das chamadas práticas sustentáveis. Neste contexto, surge a Agroecologia, que aparece como uma proposta de mudança nas práticas agrícolas, que desde os anos 1980 tem se difundindo rapidamente por todo o mundo. Baseado em trabalhos de autores como Gliessman (2001), Sevilla Guzmán e Gonzáles de Molina (1996) e pesquisas realizadas pelo INCRA/FAO (2000) Projeto de Cooperação Técnica e Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER), nos propomos a desenvolver este projeto. Dentro do processo operacional realizamos entrevistas qualitativas com agricultores agroecológicos e convencionais, trabalhos de campo com observação sistemática e análise de documentos oficiais a respeito da temática proposta. Desde o estudo bibliográfico foi possível observar que os dois processos agrícolas possuem diversos aspectos diferenciadores. Se por um lado a Agricultura Convencional se apresenta baseada nos padrões de produção e venda estipulados pelo mercado agrícola atual, cultivando grãos como o soja e o milho no processo de “monoculturas” destinadas ao mercado externo, utilizando agrotóxicos, fertilizantes químicos, sementes industrializadas e trabalho mecanizado, por outro, os agricultores agroecológicos buscam inúmeras alternativas de produção que venham a se adaptar aos ambientes característicos das propriedades onde se instalam, buscando reciclar nutrientes do mesmo local sem a inserção de adubos externos, cultivando o feijão, milho e o soja que são espécies tradicionais de cultivo em nossa região de forma orgânica, juntamente com uma grande diversidade de hortaliças, espécies medicinais e frutas que ajudam a aumentar a renda da propriedade e fornecem a maioria dos alimentos necessários para o consumo da famíli. O trabalho da família é mais dinâmico devido à diversidade de produções e o desenvolvimento de técnicas alternativas devido à liberdade de experimentar diferentes formas de cultivo sem necessariamente estar obrigado a seguir o padrão de produção requisitado pelo mercado. A venda da produção é destinada ao mercado interno principalmente através de feiras populares, onde os produtos são 24 25 Discente da Universidade Estadual do Centro-Oeste – Unicentro. [email protected] Docente da Universidade Estadual do Centro-Oeste – Unicentro. [email protected] 63 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 vendidos diretamente ao consumidor, evitando atravessadores. Todo o processo de transição de agricultores familiares de um sistema convencional para o agroecológico é acompanhado por vários órgãos de assistência, tal como Sindicato Rural de São Mateus do Sul e a Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa – AS-PTA que fornecem o suporte técnico permanente a essas famílias, bem como organizando encontros, congressos e palestras fornecendo a oportunidade aos agricultores de trocarem experiências de cultivo. Assim, mesmo sem a análise dos dados econômicos estar concluída podemos perceber que a Agroecológica pode vir a oferecer inúmeras vantagens para os agricultores familiares frente à agricultura convencional, entre elas o uso racional dos recursos naturais e a elevação da qualidade de vida das famílias envolvidas na produção agroecológica. Palavras-chave: sociedade, natureza, agricultura, agroecologia. 64 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 RECICLANDO MATERIAIS E IDÉIAS: UMA PROXIMAÇÃO POSSÍVEL NO ENSINO DE GEOGRAFIA Valter Klosowski26 Almir Nabozny27 Resumo: Esse trabalho tem por objetivo refletir sobre a educação sócio-ambiental referendado na coleta seletiva de resíduos sólidos e reciclagem de materiais. Evidenciando-o como uma possibilidade para a práxis do docente de Geografia na escola. O interesse pela temática em tela esta pautado no entendimento da ciência geográfica como um campo do saber que operacionaliza-se numa interface entre sociedade e natureza, compondo a produção do espaço geográfico em sua totalidade. Nessa conexão sócio-ambiental aludimos que um dos graves problemas atuais tem sido a questão da gestão dos resíduos sólidos, em especial no espaço urbano das cidades, em que a produção desses materiais cada vez mais se intensifica e se diversifica no advento da chamada “sociedade de consumo”. Onde as interações sociedade-natureza ultrapassaram a questão da simples sobrevivência, neste contexto o homem explora e destrói mais do que necessita para a sua sobrevivência, produzindo com isto uma grande quantidade de resíduos. Vale ressaltar que, embora a elevação da produção desses resíduos de maneira geral seja um fenômeno da sociedade pós-revolução industrial, a quantidade de geração desses resíduos não pode ser generalizada assimetricamente ao contingente populacional de uma determinada espacialidade social. Já que muitas vezes a produção desses resíduos inscreve-se numa composição geográfica que envolve padrões econômicos, sociais, legislação, hábitos alimentares, cultura e questões educacionais, além de outros fatores. Buscamos trabalhar com questões relativas à Educação Ambiental e a reciclagem na escola, pois é neste espaço que o ensino se operacionaliza em uma interface com o ensino de Geografia. Pensando nisso que escolhemos trabalhar com a educação sócio-ambiental na escola, com enfoque voltado a fomentação da coleta seletiva de lixo e a reciclagem de materiais. A pesquisa-ação se desenvolve no Colégio Estadual Trajano Grácia ensino fundamental e médio, situado no bairro de Engenheiro Gutierrez, localizado no espaço urbano de IRATI-PR. Primeiramente analisados o Projeto Político Pedagógico da escola (PPP), afim e desenvolvermos a prática arraigada na escala e na problemática da comunidade envolvida, além disso, observamos como o livro didático vem trabalhando a questão dos resíduos sólidos e a coleta seletiva na escola. Em um segundo momento, realizamos intervenções, em duas turmas distintas, buscando partir do conhecimento dos alunos, referendando a realidade dos mesmos. Também realizamos intervenções com filmes, “TV Pen-drive”, saída de campo à Cooperativa de Coleta de Recicláveis, além do desenvolvimento de materiais didáticos com a utilização de lixo reciclável. Dos resultados que temos aferido destacamos uma maior sensibilização dos alunos com relação às questões sócioambientais de suas comunidades, e promoção de uma aprendizagem significativa. Ressaltamos que há um grande interesse dos alunos quando se trata da questão de se confeccionar artesanatos com materiais recicláveis, materiais estes provindos da própria realidade dos alunos. Podemos citar como exemplo, a confecção de um painel solar, confeccionado a partir de materiais recicláveis como garrafas de refrigerante, caixas de leite longa vida, e restos de cano de PVC. Aferimos que o trabalho prático na escola propicia aos alunos uma melhor assimilação dos conteúdos abordados. Ainda 26 27 Acadêmico de Geografia – Unicentro campus Irati. [email protected] Prof. Msc. do DEGEO - Unicentro campus Irati. [email protected] 65 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 observamos o comprometimento dos alunos em relação as suas atividades realizadas tanto no âmbito escolar quanto em suas casas, já que a questão da coleta seletiva de resíduos sólidos, não esta somente inserida em escala de município, ou dependente de políticas publicas do mesmo, mas na sua própria casa já que o mesmo pode se utilizar do seu próprio lixo para produzir algo útil para a sua vida. As políticas voltadas à reciclagem de materiais, podem e devem ocorrer a partir da educação e da formação dos alunos no âmbito de reivindicarem uma melhora nestas políticas a fim de implantá-las futuramente com mais eficácia. Destacamos que os alunos são os próprios agentes de transformação da sociedade, da realidade sócio-espacial e do ensino-aprendizagem de Geografia. Palavras-chave. Geografia, Ensino, Reciclagem de Resíduos Sólidos. 66 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 O ESTUDO DO CLIMA URBANO NO BRASIL Fernando Fernandes 28 Thales Ravel Hetka Okonoski 29 Patrick Fernando de Oliveira 30 Wilson Flávio Feltrim Roseghini 31 Resumo: O inicio dos estudos de Clima Urbano no Brasil se dá principalmente pela presença de Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro, pois com a sua ajuda foi criado o primeiro curso de Climatologia Urbana na Pós-Graduação no Departamento de Geografia da USP em 1971. Mesmo naquele momento já era evidente que a qualidade ambiental das cidades estava ligada aos componentes climáticos e de que a ação do homem estava presente nesse processo, porém, não havia estudos que mensurassem e de certa forma provassem esse fato. A partir do trabalho realizado por MONTEIRO (1976) apresentado no livro TEORIA E CLIMA URBANO, começou a surgir métodos, formas, fornecendo toda a base teórica para pesquisas sobre o tema Clima Urbano. Assim, esse trabalho tem como objetivos comentar o histórico da evolução do estudo do Clima Urbano no Brasil e compreender a forma de análise climática urbana através de fatores de apoio, tendo como base o referencial teórico dos primeiros estudos de Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro. O Brasil, desde a metade do século XX, apresentou uma rápida urbanização. Esse processo, caracterizado especialmente pela formação de metrópoles, deu-se de forma intensa e descontrolada resultando em modificações na natureza, constatando-se que o ambiente urbano dessas cidades foi alterado pelos elevados índices de ocupação do espaço, dentre outras modificações. Devido a esse fato, observando todos esses fatores modificados e comparando com os próprios efeitos naturais existentes dentro de um meio urbano MONTEIRO (1976) criou métodos para se analisar espaços em uma ótica climática local, compreendendo que o Clima Urbano deve ser analisado por geógrafos e não por meteorologistas, pois estes não possuem a percepção de todo os aspectos que constituem o clima diferenciado das cidades. No sentido das análises, na prática alguns fatores citados pelo autor são importantes tais como: criar um roteiro estratégico para os experimentos de coleta de dados, onde deve conter no mínimo dois eventos de analises opostos, e as medidas encontradas no experimento devem ser referenciadas á observação meteorológica padrão da cidade. De fato o ponto mais crucial do experimento é definir os pontos dentro da cidade a ser analisada que apresentem fatores que tornem possível a sua extrapolação para todo aquele espaço, fatores que tornem esses pontos expressivos frentes a todo o ambiente analisado, através disso afirma-se que cada ponto de observação deve estar inserido no nível micro-climático onde a capacidade de alteração do homem está em seu auge e surgindo assim alguns métodos de amostragem seguindo esse conceito. Outro fato que MONTEIRO (1976) cita que para uma analise do Clima Urbano é necessário conhecer os aspectos físicos do local estudado, como a topografia, o clima em um sentido macro, entre outros fatores. Esse conhecimento faz-se necessário para que se possam realizar comparações entre esses ambientes para daí sim encontrar em quais pontos a influência do homem no clima ocorrem e com qual intensidade, essas comparações podem ocorrer até mesmo entre 28 29 30 31 Acadêmico do curso de Geografia – Unicentro/Irati – [email protected] Acadêmico do curso de Geografia – Unicentro/Irati – [email protected] Acadêmico do curso de Geografia – Unicentro/Irati – [email protected] Mestre em Geografia, Professor Colaborador DEGEO – Unicentro/Irati – [email protected] 67 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 cidades diferentes, porém estas devem apresentar aspectos físicos muito parecidos para que a análise tenha confiabilidade. Atualmente, devido a evolução tecnológica e também do aperfeiçoamento das técnicas é possível realizar análises mais detalhadas do Clima Urbano, observando a atmosfera urbana de forma mais completa e comparando alguns fenômenos ocorrentes na cidade com os que já acontecem na natureza dentro do aspecto climático, como por exemplo, os chamados Canyons Urbanos, que são formados por corredores edificados apresentando um micro-clima, com correntes de ar, efeitos de incidência de luz parecidos com os canyons naturais. Atualmente o estudo de Clima Urbano já possui várias outras ferramentas como a tecnologia, a troca de informações sobre o tema, uma base teórica bem estruturada e até mesmo o interesse maior de órgãos governamentais nesses estudos, sendo que estes, estão diretamente relacionados com o planejamento urbano das cidades, o que motiva cada vez mais o crescimento desse campo de estudo. Portanto foi através dos estudos realizados por MONTEIRO que se forneceu a primeira base para a análise climática urbana brasileira, além de outros autores que se destacam também com suas pesquisas como Magda Lombardo, Francisco Mendonça, Margarete Amorim, que além das análises dos métodos adotados e das pesquisas realizadas, já transpõem e inter-relacionam os estudos de Clima Urbano com vários outros fatores importantes, como os problemas ambientais, qualidade de vida, crescimento urbano, o que tornam as análises mais amplas e complexas, porém em espaços cada vez mais restritos, pois abordam muitos temas que estão inter-relacionados e que funcionam em um dinamismo espantoso. Palavras-chave: clima urbano, Geografia, Brasil. REFERÊNCIAS: Monteiro, C. A. F., Por UM Suporte Teórico e Prático para Estimular Estudos Geográficos do Clima Urbano do Brasil, Geosul, Revista do Departamento de Geociências-cch, n° 9, ano V, Primeiro Semestre de 1990. Monteiro, C. A. F., Adentrar a Cidade Para Tomar-lhe a Temperatura, Geosul, Revista do Departamento de Geociências-cch, n° 9, ano V, Primeiro Semestre de 1990. Monteiro, C. A. F., A Cidade Como Processo Derivador ambiental e Estrutura Geradora de um “Clima Urbano”, Geosul, Revista do Departamento de Geociências-cch, n° 9, ano V, Primeiro Semestre de 1990. 68 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA CLIMATOLOGIA NO ENSINO FUNDAMENTAL Fernando Fernandes32 Thales Ravel Hetka Okonoski33 Patrick Fernando de Oliveira34 Wilson Flávio Feltrim Roseghini35 Resumo: Nos dias 20 e 21 de setembro de 2007 foi desenvolvido um projeto intitulado “Esclarecimentos Sobre Clima, Microclima e Meteorologia” na Escola Estadual Gil Stein Ferreira, no Município de Ivaí-PR. A escolha dessa Escola se deu devido à facilidade de acesso entre as dependências da mesma e a estação meteorológica, que seria visitada para cumprir os objetivos propostos no projeto. O tema trabalhado é pouco debatido, apesar de ser veiculado cotidianamente na mídia, muitos conceitos são tratados de forma distorcida, dificultando o entendimento dos alunos. Assim, a explanação de como funciona o processo de uma análise climatológica no Ensino Fundamental se torna importante para uma melhor formação educacional dos mesmos. Objetiva-se com este trabalho fornecer aos alunos uma primeira idéia sobre o que é Climatologia dando ênfase nas explicações microclimáticas. Foram elaboradas aulas teóricas expositivas para o entendimento de alguns conceitos básicos utilizados na climatologia, tais como, dados meteorológicos, microclimas, entre outros. Após essa explanação básica realizamos duas saídas de campo com os alunos, uma com destino à estação meteorológica para que estes observassem como são coletados os dados meteorológicos e outra com destino a uma propriedade rural onde havia sido instalado um termômetro para que os alunos pudessem observar a diferença do clima na cidade e no campo dentro da perspectiva de microclima, visto que outro termômetro foi colocado ao mesmo tempo no pátio do colégio em que foi realizado o projeto. No primeiro momento, após as devidas apresentações (dos estagiários e do tema) através de conversa com os alunos foi possível perceber que eles já haviam ouvido falar sobre clima, tempo, meteorologia, entre outros termos utilizados na climatologia, porém sem entender o significado correto dos conceitos. Assim foi necessário definir os conceitos que seriam utilizados durante o projeto, para que fosse possível dar continuidade com melhor aproveitamento. Explicamos que a Estação Meteorológica é um local cercado onde ficam vários equipamentos que medem as variações da atmosfera, como a umidade do ar, a temperatura, a velocidade e a direção dos ventos, etc. Essas variações estabelecem como o tempo está hoje, lembrando que o ponto em que a Estação Meteorológica fica instalada deve ser seguro (por isso cercado), e sofrer o mínimo possível de interferência pela ação humana para que os dados registrados sejam os mais confiáveis. Em relação ao clima de uma região, faz-se necessária a medição do comportamento do tempo por um período de pelo menos 30 anos. Essa é uma regra geral adotada pelos cientistas. Ao término das explicações teóricas iniciamos a parte prática do projeto, sendo a primeira saída de campo com destino à Estação Meteorológica Convencional localizada na cidade onde fomos recebidos pela funcionária responsável, explicando como são coletados os dados meteorológicos. Para melhor aproveitamento da visita os alunos foram divididos em 32 33 34 35 Graduando em Geografia Da Unicentro, Irati – [email protected] Graduando em Geografia Da Unicentro,Irati – geo_ravel@yahoo,com.br Graduando em Geografia Da Unicentro,Irati – [email protected] Mestre em Geografia, Prof. Colaborador do DEGEO – Unicentro/Irati – [email protected] 69 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 quatro grupos. No outro dia, antes do início da aula foi instalado um termômetro em uma propriedade rural localizada a cerca de 5 Km de distância da Escola. O termômetro foi colocado há mais ou menos 2 metros de altura, fixado numa Araucaria angustifolia (pinheiro do Paraná). A sua volta havia poucas árvores de grande porte, porém o chão era recoberto com grama. O segundo termômetro foi colocado num espaço não coberto, dentro do pátio da Escola. Este ficou há mais ou menos 2,5 metros do chão, preso com um barbante. Ao iniciarmos a aula, desligamos os ventiladores do teto e fechamos a porta propositalmente e logo os alunos perceberam a diferença no conforto térmico no local, utilizamos esse fator de exemplo para iniciarmos as explicações sobre microclimas. Em seguida, saímos a campo e com a turma reunida na área rural, diante do termômetro visualizamos a temperatura de 210 C. Nossas explanações foram no sentido de justificar aquela situação, considerando todos os fatores que imaginamos presentes, como a sombra das árvores que dava uma sensação agradável, a umidade do ar era aumentada pela evaporação da água do tanque de água próximo ao local e do orvalho que ainda havia na grama. Próximo às 10h quando chegamos de volta na Escola e observamos a temperatura do segundo termômetro (que estava na escola), que marcava 230 C. Em seguida, encerramos o projeto enfatizando os motivos dessas diferenças microclimáticas e pedimos aos alunos a elaboração de um relatório, com a proposta de avaliar o entendimento deles sobre todos os assuntos trabalhados. Ao analisarmos os relatórios e a participação dos alunos durante o projeto, foi possível perceber que os objetivos foram alcançados, pois eles obtiveram uma breve noção de como ocorre uma análise climatológica, seguindo de análise de dados meteorológicos, percepção ambiental e a associação desses fatores com a influência da sociedade. Palavras chaves: Climatologia, ensino, geografia. REFERÊNCIAS: MONTEIRO, C. A. F. Por um suporte teórico e prático para estimular estudos geográficos do clima urbano do Brasil. Geosul - Revista do Departamento de Geociências-CCH. UFSC, Florianópolis. n. 9. ano V. 1990 MONTEIRO, C. A. F., Adentrar a Cidade Para Tomar-lhe a Temperatura, Geosul, Revista do Departamento de Geociências- CCH. UFSC, Florianópolis. n. 9. ano V. 1990. 70 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 CIDADES MÉDIAS: ANÁLISE DA ESTRUTURA ECONÔMICA E SÓCIOESPACIAL DE MARINGÁ-PR Marisa Emmer36 Karla Rosário Brumes37 Resumo: A existência de base físico-territorial mais ou menos abrangente, dotada de articulações econômicas e sociais notáveis, é uma situação disponível em poucos países na atualidade como o Brasil. Cidades, vias, indústrias e complexos produtivos em geral podem constituir-se em alternativas bastante caras aos formuladores de políticas públicas de corte regional. A compreensão dos papéis das cidades médias, por meio do estudo das redes urbanas/sociais, se coloca em virtude de que suas extensões e fisicalidades podem constituir um recurso estratégico para um planejamento territorial dirigido a ampliação da equidade e redução das desigualdades. Da abertura a percepção das diferentes formas de poder e do princípio de diferenciação inerente ao conceito de espaço social, Haesbaert (2004) constrói o conceito de território ressaltando que diferentes formas de apropriação do espaço são responsáveis pela construção de territórios de diferentes características e dimensões. Distingue inicialmente “três dimensões do território: cultural, econômica e política” (p. 91-92), ressaltando que diferentes abordagens podem privilegiar a análise de uma ou outra destas dimensões. Nos entremeios de sua explicação concluímos que não se trata de construir uma visão hierarquizada destas diferentes dimensões de apropriação, mas destacar a coexistência destas no “contemporâneo de forma articulada/conectada (p. 113-114)”. A partir dos anos 1970 no Brasil, um processo de desconcentração do território começa a ganhar espaço orientado pela busca de maior equidade regional, quando da elaboração de políticas e programas que visavam à difusão do processo de desenvolvimento, com base nos nós da rede urbana, com destaque para cidades médias. Desde então multiplicaram-se os centros urbanos intermediários, que cooperam na redução da polarização das grandes metrópoles. A necessidade de compreender o papel das cidades médias e o nivel de atração que elas exercem na em suas região se coloca para compreensão da própria reorganização territorial e as mudanças que vem sofrendo ao longo do tempo no país. A definição em si de cidades médias não tem sido ao longo do tempo muito fácil. No entanto, é preciso estabelecer alguns fatores para o estudo das mesmas. Neste sentido, a capacidade de estrutração em redes, a especialização econômica ou estruturação de serviços, a complementariedade com grandes aglomerações e a estratégia de implantação de centros universitários são fatores importantes para considerar não apenas na caracterização, mas na estruturação das cidades médias. Desta forma, o objetivo desta pesquisa é analisar a estruturação econômica e sócio-espacial de Maringá destacando sua importância regional e a atração com relação ao fenômeno migratório, colaborarando com a análise e a formulação de políticas para o desenvolvimento. No caso de Maringá, é possivel observar o interesse de diversos grupos sociais que se esforçam para tornar a região e, particularmente, a cidade modelo de desenvolvimento e “qualidade de vida”. Assim, ao longo do tempo percebe-se um alinhamento entre crescimento populacional e forte processo de urbanização, sendo importante destacar que, da mesma forma que outras cidades do interior do país que se tornaram importantes centros urbanos, a sua formação e o seu dinamismo econômico tem sido vinculado às 36 37 Docente da Universidade Estadual do Centro-Oeste – Unicentro - [email protected] Docente da Universidade Estadual do Centro-Oeste – Unicentro - [email protected] 71 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 atividades agropecuárias. No presente caso observa-se que desde a década de 1950 Maringá alia crescimento populacional e intenso ritmo de urbanização, acontecendo um aumento significativo da população urbana. Ainda que neste período não houvesse uma inversão desta situação, é preciso destacar o forte crescimento da população urbana em detrimento da rural. Como foi criada pela Companhia Melhoramentos do Norte do Paraná, Maringá foi um dos principais núcleos de povoamento da região, ou seja, era exatamente este o plano da companhia colonizadora. Quando a cafeicultura deixa de ser a principal função econômica, toda estrutura fundiária da região começa a mudar, pois a falta de incentivo faz com que muitos pequenos agricultores sejam forçados a deixar suas terras, vendê-las para outros produtores e migrar para as cidades. É desta forma que se completa a inversão, havendo maioria de população nas áreas urbanas. Ainda assim, este fator é parte de uma reestruturação das atividades econômicas e de trabalho. É possivel ver que a agropecuária e agroindustria (regional) estão estreitamente ligadas ao comércio e serviços (local). Sendo assim, o foco da análise está no crescimento destas atividades, considerando a situação dos empregos e a atração exercida por Maringá na região, bem como as formas espaciais resultantes deste processo. Neste sentido serão utilizados dados do CAGED (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), considerando a microregião de Maringá em que aparecem ainda Marialva, Mandaguari, Paiçandú e Sarandi. Como há uma lista grande de atividades, foram utilizadas as dez principais categorias de trabalho que geraram desligamentos e contratações em cada uma das cidades que compoem a microrregião. Com isso acredita-se compreender a realidade da região e do papel exercido por Maringá, sendo necessário este entendimento para a construção de politicas de desenvolvimento local e regional. Palavras-chave: Desenvolvimento regional, cidades médias, estrutura econômica. 72 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 CAPITALISMO E A DIVISÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO Naudiele Costa38 Claudinei de Souza39 Resumo: O presente trabalho tem o intuito de demonstrar a evolução do sistema capitalista, analisando suas fases, sua história e sua aplicação no mundo globalizado. Dentre os vários modelos econômicos já implantados, o capitalismo é o que obteve maior destaque no cenário econômico mundial. Tendo sua origem na Europa, nos séculos XV e XVI, expandiu-se rapidamente para os demais continentes. Sua evolução se deu lentamente, acompanhando o crescimento tecnológico e os fatos históricos de cada época. O capitalismo é um sistema econômico, político e social no qual os agentes econômicos, os proprietários dos meios de produção permitem que ela seja comercializada em um mercado, onde as transações são de natureza monetária. O Capitalismo, segundo seus defensores, é o meio mais eficiente e eficaz de prosperidade, desenvolvimento e eliminação de pobreza nas sociedades, devido ao seguinte argumento central: cada indivíduo, por depender basicamente do seu próprio esforço, por ter direito a acumular e desfrutar dos produtos gerados por este esforço, por ter de assumir e colocar em risco seu próprio patrimônio é altamente motivado a utilizar seus recursos (materiais e intelectuais) da melhor forma possível. Para efeito de estudo, o capitalismo é dividido em três fases principais, entre elas: A primeira fase ou capitalismo comercial, é caracterizado pela primeira Divisão Internacional do Trabalho que impôs a relação de exclusivismo comercial entre metrópoles e colônias. A segunda fase, denominada capitalismo industrial, foi marcada pela Primeira e Segunda Revolução Industrial. Foi na transição da Primeira para a Segunda fase que o fordismo, conjunto de princípios desenvolvidos pelo empresário Henry Ford, foi introduzido na indústria. A Divisão Internacional do Trabalho dessa fase, pôs fim ao pacto colonial imposto na primeira fase capitalista. Por fim a Terceira fase, também chamada de capitalismo financeiro, à qual foram implantadas várias teorias econômicas, entre elas o liberalismo, o keynesianismo e o neoliberalismo. Após a Segunda Guerra Mundial, o fato mais marcante do capitalismo financeiro foi a expansão das empresas multinacionais, hoje chamadas de transnacionais. Essas empresas mantiveram sua sede em seu país de origem e abriram filiais em países subdesenvolvidos, em busca de incentivos fiscais e mão-de-obra barata. O neoliberalismo tem grande aceitação em todo o mundo, pois sem a direta intervenção do Estado as empresas tem uma maior autonomia para dirigirem seus negócios. Foi pensando em redução de custos e aumentar a produção que a empresa Yazaki Autoparts do Brasil Ltda, do Japão, abriu uma filial na cidade de Irati, Paraná. Especializada em chicotes elétricos (sistema de distribuição de energia veicular), utilizados na fabricação de automóveis. Porém a empresa não produz o produto final, apenas um de seus componentes. Esse novo conceito de fabricação é chamada fábrica global e já é muito difundido mundialmente, sendo de extrema importância para a industrialização dos países subdesenvolvidos. A Yasaki buscou no Brasil a isenção de impostos, mão-de-obra barata e um intenso mercado consumidor. O capitalismo em sua essência busca o acúmulo de capital, de riqueza. Ao contrário do socialismo não promove a igualdade entre as classes. Contudo, o sistema capitalista, assim como todos os sistemas econômicos, também tem suas falhas. Pois ao mesmo tempo que visa o lucro, gera intensas desigualdades sociais, deixando boa parte do capital na mão de uma pequena 38 39 Aluna do Ensino Médio do Colégio Estadual João Negrão Júnior Professor orientador, Claudinei de Souza. [email protected] 73 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 parcela da população. A mais rigorosa crítica ao capitalismo foi feita por Karl Marx, ideólogo alemão que propôs a alternativa socialista para substituir o Capitalismo. Segundo o marxismo, o capitalismo encerra uma contradição fundamental entre o caráter social da produção e o caráter privado da apropriação, que conduz a um antagonismo irredutível entre as duas classes principais da sociedade capitalista: a burguesia e o proletariado. Portanto, as desigualdades oriundas do capitalismo afetam diretamente a vida econômica da população, prejudicando os menos favorecidos e gerando a divisão de classes sociais. Diante do que prega o socialismo de Marx, vemos que quanto maior é o acumulo de capital, maior é a distinção entre as classes sociais. Palavras chaves: capitalismo, fases, desigualdade. Referências ADAS,Melhem.Geografia. O subdesenvolvimento e o desenvolvimento mundial e o estudo da América.3. ed. São Paulo: Moderna,1994. p. 38-42. http://mundoeducacao.uol.com.br/historiageral/capitalismo.htm 74 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 SISTEMAS DE INFORMAÇÕES GEOGRÁFICAS, UM OLHAR PARA O CEMITÉRIO MUNICIPAL SÃO JOSÉ Maristela Carneiro 40 Prof. Dr. Edson Armando Silva 41 Resumo: A utilização dos mortos em nossa sociedade, destacando o caráter homólogo ao outro mundo, permite a conciliação da rede de relações pessoais em torno dos mesmos e de sua memória. Com a finitude, os mortos imediatamente passam a ser concebidos como exemplos e orientadores de posições e relações sociais, servindo, portanto, como foco para os sobreviventes, vivificando e dando forma concreta aos elos identitários que ligam as pessoas de um grupo. E o espaço cemiterial, por conseguinte, é privilegiado para a concretização e demonstração das conexões entre a memória, as práticas identitárias e as representações sociais, dialeticamente construtoras de relações sociais, bem como construídas pelas mesmas. Entendemos que o culto dos mortos passa por um filtro de percepção, permitindo que somente os valores considerados essenciais pelos vivos, para a recomposição do sentido da vida, sejam expressos no espaço cemiterial, no qual este trabalho encontra-se circunscrito. Assim, a individualização das sepulturas demonstram o desejo de preservar a identidade e a memória dos mortos, servem à expressão e/ou transmissão dos valores culturais e à própria reconstituição do sentido existencial para os que ficam. Portanto, considerando-se tais filtros, buscou-se perceber de que maneira as relações sociais, religiosas e culturais, de um modo geral, são expressas na distribuição espacial e na simbologia presente nos túmulos do Cemitério Municipal São José, desde a sua instituição na cidade de Ponta Grossa, no ano de 1881, até os nossos dias. Para o desenvolvimento desta pesquisa foi realizado, túmulo a túmulo, um levantamento fotográfico e quantitativo dos dados cemiteriais, organizados em fichas catalográficas elaboradas com este fim. Tais dados foram em seguida processados em Sistemas de Informações Geográficas (SIGs SPRING 4.3 e KOSMOS 0.8.3), para a geração de cartogramas e gráficos a fim de instruir a análise qualitativa, contando com o apoio de outros programas específicos (Microsoft Office Excel 2003 e Inkscape). Este trabalho de campo foi essencial para o enriquecimento do trabalho, tendo em vista que o contato direto com as fontes propiciou a análise contínua das mesmas, ficando evidente a dinâmica presente neste espaço e as próprias representações sociais. De fato, nossa problemática não se restringe ao objeto concreto, aos muros do cemitério, mas também se estende à subjetividade dos vivos e suas relações com a sociedade, materializadas no espaço urbano. Muito embora constituído sob a lógica da pretensa civilidade, ressalta-se que o espaço do cemitério público é um campo de convívio e embates de múltiplas tradições e possibilidades culturais. No bojo das manifestações estéticas populares há também o universalismo das artes, a coincidência dos movimentos estéticos sofisticados da avant-garde com atributos e características já sedimentadas na amplitude da cultura de base. Ao olharmos para as representações edificadas, além dos muros e do concreto do Cemitério Municipal São José, abre-se a possibilidade de observarmos as formas através das quais diferentes informações transitam e se influenciam neste espaço. 40 Especialização em História Cultural pela Universidade do Centro-Oeste, Campus de Irati (em curso). Email: [email protected] . 41 Docente vinculado ao Departamento de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa (orientador). Email: [email protected] . 75 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 Ressaltamos que os SIGs são uma tecnologia do mundo contemporâneo, cuja característica principal é a capacidade de integração e transformação de dados espaciais, entendidos como a descrição quantitativa e qualitativa dos fenômenos ocorridos no “mundo real” e que têm como premissa a reprodutibilidade, no caso, das simbologias e da distribuição espacial observada no espaço cemiterial; desde que satisfeitas as mesmas condições de coleta. Com efeito, ao agregarmos valores intelectuais e subjetivos, os dados transformam-se em informações que, além de refletir o grau de reflexão do autor, constituem a base fundamental dos SIGs para a intervenção no meio social. Ao mesmo tempo em que a utilização dos SIGs revoluciona a análise das informações, também depende de forma umbilical da racionalidade da construção de um banco de dados, somente possibilitada com o auxilio de técnicas computacionais sofisticadas e de profissional especializado, pois a utilização dos mesmos não garante a segurança de que o produto final corresponda a alternativas corretas, em especial quando não há um controle de qualidade do banco de dados. Entretanto, ao partirmos da premissa de inerência entre técnica e teoria, este trabalho se propõe a demonstrar a utilização dos Sistemas de Informações Geográficas, ferramentas para a investigação científica, para a análise do espaço cemiterial e, indo além, como contribuição reflexiva para a análise e/ou ampliação do próprio campo do historiador, na era do gerenciamento disciplinado de informações. REFERÊNCIAS: ARAÚJO, T. N. de. Túmulos celebrativos de Porto Alegre: múltiplos olhares sobre o espaço cemiterial (1889-1930). Porto Alegre: PUCRS, dissertação de mestrado, 2006. CHARTIER, Roger. A história cultural: entre práticas e representações. Rio de Janeiro: Bertrand, 1990. CORRÊA, R. L. A dimensão cultural do espaço: alguns temas. Revista Espaço e Cultura. Rio de Janeiro: UERJ, vol.1, n°1, 1995. FERNANDES, S. M. C. Representações Sociais e Educação Especial: sentidos, identidade, silenciamentos. Revista Benjamim Constant. Rio de Janeiro, vol. 09, n°24, 2003. MATOS, M. I. S. de. Cotidiano e Cidade. In: Cotidiano e Cultura: história, cidade e trabalho. Bauru: Edusc, 2002. MENDES, J. M. de O. O desafio das identidades. In: A globalização em ciências sociais. São Paulo: Cortez, 2002. SILVA, A. de B. Sistemas de Informações Geo-Referenciadas: Conceitos e Fundamentos. Campinas: Unicamp, 2003. SILVA, E. A. Bancos de dados e pesquisa qualitativa em história: reflexões acerca de uma experiência. Revista de História Regional. Ponta Grossa: UEPG, vol. 3, n°2, 1998. 76 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 A QUESTÃO DO LIXO E A PRÁXIS EDUCATIVA NO CONTEXTO URBANO: O CASO DA CIDADE DE IRATI-PR Aldann Jonas Felix Cararo42 Roberto França da Silva Júnior43 Resumo: Podemos notar, nos dias atuais, um aumento considerável nas discussões sobre os problemas ambientais e o rápido esgotamento dos recursos energéticos. Muito se fala em aquecimento global e suas conseqüências, mas soluções concretas e possíveis no sentido de evitar, ou pelo menos minimizar o agravamento dos problemas ambientais, pouco se tem alcançado. Quando falamos sobre esses assuntos, temos uma tendência a pensar em grandes empresas com suas enormes chaminés lançando grandes quantidades de gases poluentes no ar, ou então, nos rios sendo sufocados pelo esgoto nas grandes cidades. Dificilmente pensamos nos impactos que causam nos indivíduos, a não ser quando chamados a isso através da leitura de textos de autores especializados nessas questões. A mídia bombardeia-nos diariamente com imagens, mensagens, apelos de todas as espécies, tentando convencer-nos da necessidade urgente de adotarmos hábitos “ambientalmente corretos”. Entendemos que o sistema educacional tem uma parcela significativa de responsabilidade na promoção da “educação ambiental”. Apesar disso, vemos ainda muitos problemas de degradação e poluição do meio ambiente. Isso nos levou a questionar se realmente o trabalho que vem sendo realizado pela mídia tem apresentado resultados relevantes, e mais ainda, se a escola vem realizando a obra que tem por responsabilidade. O trabalho foi dividido em quatro capítulos, sendo que o primeiro trata da relação sociedade-natureza, elaborando um breve histórico da produção de lixo, desde épocas pretéritas quando o homem ainda era nômade, passando pela idade média quando surgiram os primeiros problemas com a destinação dos resíduos, analisando o aumento do volume de lixo produzido com o advento do modo de produção capitalista e aumento do consumo. Neste capítulo apresentamos alguns dados sobre a produção de lixo em Irati e o destino dado a esse lixo. No segundo capítulo, discutimos as questões urbanas relacionadas ao acesso desigual aos bens e serviços coletivos. No caso específico deste trabalho, uma coleta de lixo de qualidade. Lançamos mão do uso dos conceitos de segregação socioespacial e exclusão social, estabelecendo relações com problemas encontrados em Irati. Fizemos a análise com base nos seguintes autores Manuel Castells, Flavio Villaça, Eliseu Saverio Sposito, Luciane de Oliveira Marisco entre outros. Juntamente a essa discussão procuramos enfatizar o papel do Estado que estabelece normas e contribui bastante na organização do espaço urbano, de modo que o aparato de leis tem contribuído e por que não, provocado “mais” segregação e fragmentação. Observamos que Irati, apesar de não ser grande, também sofre problemas semelhantes como a diferenciação social e a dominação exercida pelas classes hegemônicas. Pelo fato de ser uma cidade relativamente pequena se comparada a grandes centros como Curitiba, São Paulo entre outras, os processos relativos à segregação socioespacial são menos evidenciados. No terceiro capítulo, apresentamos os resultados obtidos através de um questionário com perguntas fechadas, aplicado durante a pesquisa de campo realizada nos bairros Rio Bonito, Fósforo, Canisianas, Alto da Glória, Jardim Califórnia e Centro, buscando compreender o nível de satisfação da população iratiense com relação à coleta de lixo. Apresentamos imagens de áreas utilizadas indevidamente para descarte de toda sorte de 42 43 Acadêmico do 4º ano do curso de Geografia da UNICENTRO/Irati. [email protected] Prof. Msc. do curso de Geografia. Unicentro/Irati. [email protected] 77 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 resíduos, mostrando as contradições entre os dados obtidos e a atitude de alguns concidadãos. Apresentamos, também nesse mesmo capitulo do trabalho, as experiências vividas nas escolas onde estagiamos, apresentando uma entrevista realizada com a professora de Geografia, que fala das dificuldades em prender a atenção dos alunos e também das barreiras encontradas nos momentos em que pretendia inovar, trazendo algo novo para promover a “educação ambiental”. Barreiras que muitas vezes foram criadas pela própria direção do estabelecimento educacional. Tratamos também da visita que fizemos à cooperativa de catadores, realizada juntamente com os alunos, e onde tivemos acesso a informações sobre a coleta seletiva e outras etapas da reciclagem. As experiências na escola, durante os estágios também permitiram chegar a algumas conclusões importantes. Constatamos que a “educação ambiental” vem sendo “trabalhada” nas escolas, mas não de forma contínua, ou seja, privilegiam-se datas importantes, como o dia da árvore por exemplo, o que tona mais difícil a ligação entre os conhecimentos científicos e o cotidiano dos alunos. Essa ligação é importante porque dá um sentido, um significado para as teorias propostas nas aulas, e isso aproxima os alunos da realidade. 78 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 FAZENDO ARTE COM AS MÃOS (ARTESANATO) INOVANDO ATITUDES – NOTAS SOBRE UMA EXPERIÊNCIA EDUCACIONAL HOLÍSTICA. Viviane Regina Caliskevstz44 Almir Nabozny45 Resumo: Esse trabalho é fruto de uma pesquisa-ação que teve como fio condutor caracterizar, juntamente com alunos do 1° ano do ensino médio, quais os principais problemas causados pelo lixo doméstico no município de Fernandes Pinheiro - PR, problematizando as deficiências e as possibilidades de mudanças positivas no cotidiano dos educandos, com o intuito de promover uma educação significativa em que o aluno posiciona-se enquanto um agente ativo em seu contexto sócio-espacial. As questões que envolvem os problemas sócio-ambientais começaram a ter espaço na mídia e no meio acadêmico na Primeira Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, no ano de 1972, em Estocolmo, com a criação da chamada Agenda 21, na qual constavam inúmeras leis e regras aos países participantes, os quais deveriam comprometer-se em criar políticas nacionais para diminuir seus impactos contra a natureza. Entretanto, pouco se avançou em termos de mudanças políticas nos países membros, pois as transformações diziam respeito não só as questões comportamentais da sociedade, mas principalmente da política, que implicava em diminuir a poluição do ar por gases produzidos pelas grandes indústrias, as quais geravam imensa riqueza para esses países, substituir o consumismo exacerbado da sociedade capitalista, por ações sustentáveis, retirando da natureza somente o necessário para a sobrevivência, conservando os recursos naturais para as gerações futuras. Todavia,a concepção da relação da sociedade com a natureza enquanto externalidade remete-se a própria expansão do cristianismo pelo mundo, em que o homem cristão branco rompe suas ligações com tudo que lhe parecia sobrenatural e ameaçador, o que incluía a natureza e a mulher. Já que para tradições antigas como a grega, Gaia era uma deusa em forma de natureza. Assim, os homens religiosos levam para todos os campos a lei do patriarcalismo, onde o masculino deve dominar. Infelizmente, essas ideologias invadiram as ciências, perdurando até meados da década de 1960 do século XX, as quais viam o homem como ser independente do meio que o envolvia. Esse pensamento advém do racionalismo Cartesiano de Descartes, onde só os que pensam racionalmente, é que existiam de fato. Essa concepção cartesiana da natureza foi, além disso, estendida aos organismos vivos, considerados máquinas constituídas de peças separadas”. Portanto, para a visão racionalista, o homem e a natureza são seres opostos, que travam uma luta onde o mais forte, deve dominar, e a natureza deve servi-lo como mero recurso ou instrumento de seu progresso. Inevitavelmente, a influência cartesiana e racionalista invadiu as disciplinas das escolas, tornando o conhecimento fragmentado, pouco crítico, e sem conexão com a realidade. É, portanto nesse modelo educacional tradicional e linear, que a educação ambiental tenta caminhar e atingir resultados, embora restrita a dias comemorativos e atividades utópicas, que além de trazerem poucos resultados, tornam a visão dos alunos parcial, pois, os fazem acreditar, numa espécie de adestramento que, fazendo desenhos de animais ou de árvores, geralmente excluindo o homem dessa 44 45 Acadêmica do Curso de Geografia – UNICENTRO/Campus de Irati. [email protected] Professor Msc. do DEGEO/I - UNICENTRO – Campus de Irati. [email protected] 79 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 paisagem, o seu papel de educador ambiental estará cumprido. No entanto, a falta de diálogo e questionamentos sobre a realidade vivida pelos alunos, como também seu papel nos problemas e soluções dessa realidade, são ações mais catastróficas do que a simples negação da existência dos problemas e a falta de ação, como professor. Dessa forma utilizamos a Filosofia Holística como forma de despertar o aluno para a realidade que o envolve em sua totalidade. A visão holística vê o universo e tudo que o compõem, não mais como uma grande máquina, imagem inspirada pelo paradigma Newtonianocartesiano, superado e mecanicista, mas sim como um grande sistema complexo integrado e em permanente evolução. Sabendo-se que a prática da educação ambiental não é uma disciplina e que, portanto não necessita de certo período para serem trabalhadas, realizamos nossa pesquisa-ação na turma de 1° ano do ensino Médio do Colégio Estadual Getúlio Vargas, durante os períodos de estágio de docência juntamente com o professor responsável pelo estágio, o qual expôs o conteúdo sobre a Formação das Rochas, assunto esse que é a base para a explicação da evolução e progresso da sociedade, feito esse, conseguido com o uso e exploração predatória desse recurso natural; além disso, foram trabalhadas atividades visuais como a exibição do documentário experimental Ilha das Flores, dirigido por Jorge Furtado (1989) como forma de mostrar aos alunos que sua existência, assim como suas ações cotidianas estão conectadas com inúmeros outros fatores e que depende de cada indivíduo a consciência e a tarefa de realizar mudanças no seu espaço de existência. Pensando na realidade, mais especificamente na produção de resíduos diárias de cada aluno, a atividade base para essa investigação, foi a realização de atividades artesanais com a re-utilização de filtros de papel usados para coar café, embalagens de produtos, como caixa de papelão, garrafas de vidros, latas, capas de cadernos, materiais esses presente em todas as casas dos alunos, realizando a reutilização do lixo, que nada mais é do que matérias-primas desorganizadas, como proposta para uma possível diminuição do aterro controlado do município, conscientizando os alunos sobre as vantagens da diminuição de consumo, da reutilização desses produtos, e de possíveis ações políticas que venham a amenizar os problemas causados pelo lixo da cidade de Fernandes Pinheiro. Buscou-se, portanto, despertar nos alunos um senso crítico sobre sua realidade, o papel desempenhado por eles nessa sociedade, como também um modo de desenvolver a criatividade com o artesanato, diminuindo o volume de lixo depositado no aterro. Palavras-chave: Reutilização de resíduos sólidos, educação ambiental, perspectiva holística. 80 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 AS MULTITERRITORIALIDADES: UMA BREVE DISCUSSÃO SOBRE O TERRITÓRIO Graziele Margarida Braz46 Emerson Rigoni47 Resumo: Estas reflexões sobre as diversas abordagens do conceito de território fazem parte de um trabalho na disciplina de Geografia. O estudo das diferentes acepções do território é fundamental para melhor se compreender a Geografia, pois o espaço, o território, a região e a paisagem são os conceitos-chave da ciência e foram adquirindo concepções variadas no decorrer da história do pensamento geográfico, sendo trabalhados de diferentes maneiras pelos principais autores que contribuíram para um enriquecimento maior dos principais conceitos da Geografia. A questão territorial não é uma discussão recente, o homem já debatia a importância de se compreender o território há muito anos. Um exemplo dessa colocação é na arte da guerra, ou seja, a perfeita leitura do terreno a ser percorrido é um fator determinante para obter êxito num conflito. (SUN TZU apud SOUZA, 2006, p. 77) Essa relevância é determinada pelo território ser fundamentalmente um espaço definido e delimitado por e a partir de relações de poder. O poder não é propriedade de um indivíduo, pois pertence ele a um grupo e o mesmo existe enquanto o grupo se mantiver unido. O ato de dizer que uma pessoa “está no poder”, faz referência ao fato de que um grupo de pessoas a escolheu para atuar em seu nome, “sem um povo ou um grupo não há poder” (ARENDT apud SOUZA, 2006, p. 80). Os territórios são relações sociais projetadas no espaço, sendo construídos e modificados dentro de escalas temporais, séculos, décadas, anos, meses ou dias, podendo ter um caráter permanente ou apenas periódico, pois são vistos como uma área pertence a alguém, a um grupo, um estado, um país, uma união de países, podendo ser visto também como uma rede de relações sociais que define ao mesmo tempo um limite, uma alteridade. A diferença entre as pessoas (o grupo e os estranhos), como unidade e diversidade, é uma questão central da história humana e de cada país. As grandes cidades, indiferente da escala global que elas se encontram, apresentam vários exemplos de territorialidades flexíveis, como as áreas de obsolescência, onde sua função é variavelmente determinada pela temporalidade. Outro exemplo é a territorialidade do tráfico de drogas que contrasta com a estrutura territorial característica de organizações mafiosas, a territorialidade de cada organização do tráfico de drogas é uma rede complexa que disputa a área de influência econômica, formando um espaço significativo podendo ser chamada de territorialidade de baixa definição e de alta definição que só ocorre quando uma das organizações elimina as rivais dentro da área de influência, ou se houver um pacto territorial entre as facções. Dessa forma se constituiu um conceito entre território (contigüidade espacial) e rede (não há contigüidade espacial), sendo chamado de território-rede ou territórios descontínuos que são articulados a dois ou mais territórios contínuos. As territorialidades significam os tipos gerais em que podem ser classificados os territórios, conforme suas propriedades, dinâmicas. A ocupação do território deriva de raízes e identidade, ou seja, um grupo é mais compreendido em seu território. Rogério Haesbaert (2006) analisa o território com diferentes enfoques, elaborando uma classificação em que se verificam três vertentes básicas: jurídica-política, segundo a qual o território é visto como um espaço delimitado e controlado sobre o qual se exerce um determinado poder, especialmente o de caráter estatal, cultural(ista), que prioriza dimensões simbólicas e mais subjetivas, o território visto fundamentalmente como produto 46 47 Aluna do 3º ano A do ensino médio - Colégio João Negrão Júnior. E-mail: [email protected] Professor Orientador. E-mail: [email protected] 81 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 da apropriação feita através do imaginário e/ou identidade social sobre o espaço e econômica, que destaca a desterritorialização em sua perspectiva material, como produto espacial do embate entre classes sociais e da relação capital-trabalho Outro bom exemplo são as comunidades homossexuais ou de prostitutas onde o indivíduo pertencente a qualquer classe social encontra certo apoio identificando-se com os demais. Outra forma evidenciada de territórios diversificados se apresenta quando a sociedade se submete ao capitalismo, mesmo sabendo que as diferenças econômicas estão cada vez mais presentes, dessa forma, uma mesma cidade se divide em diversos territórios, onde em alguns o luxo e a riqueza são demonstrados, enquanto em outros se formam espaços informais onde a pobreza e as misérias se encontram, segregando uma significativa parcela citadina. Palavras-chave: Obsolescência, poder, território. Referências: SOUZA, Marcelo Lopes de. O território: sobre espaço e poder, autonomia e desenvolvimento. In CASTRO, Iná. Elias de, GOMES, Paulo Cesar da Costa, CORRÊA, Roberto Lobato (org). Geografia: conceitos e temas. 8ª Ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006. HAESBAERT, Rogério. O mito da desterritorialização: do “fim dos territórios” à multiterritorialidade. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006. SANTOS, Milton. SILVEIRA, Maria Laura. O Brasil: território e sociedade no início do século XXI. 11ª Ed. Rio de Janeiro: Record, 2008. 82 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 A GLOBALIZAÇÃO E A COMPETITIVIDADE ENDÓGENA DO SETOR DE MALHAS DE IMBITUVA-PR Zaqueu Luiz Bobato48 Roberto França da Silva Júnior49 Resumo: O capitalismo passou da concorrência à competitividade. Pode-se dizer que a concorrência é própria do modo capitalista de produção, mas que a competitividade é característica da globalização. Com base em Milton Santos (2001) podemos dizer que entre os fatores que demarcam a globalização é a crescente inovação tecnológica, devido aos avanços da ciência e das tecnologias da informação (meio técnico-científicoinformacional). Além disso, a globalização, que também comparece como “fábula”, auxilia na disseminação da ideologia em que ser competitivo é necessário e benéfico, “onde os mais fortes sobrevivem” (darwinismo social). “A competitividade tem a guerra como norma. Há, a todo custo, que vencer o outro, esmagando-o, para tomar seu lugar” (SANTOS, 2001), e essa competitividade acaba impulsionando, ou melhor, aprofundando individualismos. É nesse contexto de competitividade e individualismo, propiciados pelo modo de produção capitalista e verticalizados no atual período histórico, que lançamos nosso olhar sobre um ponto de vista eminentemente geográfico, para podermos compreender as dinâmicas que perpassam o segmento de malhas de Imbituva. Segundo o Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), o circuito de malharias da cidade se configura como um Arranjo Produtivo Local (APL) que “pode ser definido como um aglomerado de agentes econômicos, políticos e sociais que operam em atividades correlatas, estão localizados em um mesmo território e apresentam vínculos de articulação, interação, cooperação e aprendizagem”. Imbituva em resposta a atual Divisão Territorial e Regional do Trabalho, vem se especializando na confecção de roupas em malhas. O surgimento das malharias na cidade remonta à década de 1980. Com o passar dos anos chegou a um número considerável de empresas, cerca de 50. Porém, nos últimos cinco anos, passa a portar uma paulatina queda desse número total, várias empresas fecharam, por conta de uma série de fatores. Dentre eles, achamos necessário elucidar no que concerne à cooperação (ou a falta de cooperação), pois, o setor abarca uma grande competição endógena e acirramento das diferenças entre as empresas, que não tem vínculos de cooperação e aprendizagem entre as mesmas. Isto está gerando problemas para o setor como num todo. Em pesquisa de campo, constatamos que a maioria das empresas do segmento não dispõe de condições para poderem aderir a novas tecnologias, e a inovação da produção. Um exemplo da falta de cooperação no setor é com relação a revistas que tratam das tendências da moda no Brasil e no mundo. Estas são muito caras, porém necessárias para que se possa produzir de maneira inovadora. No entanto, um pequeno número de empresas, aquelas dotadas de poder econômico, adquire estas revistas, porém, se recusam a passar modelos de peças em malhas contidas na revista para as demais que não possuem condições. Os empresários que compram essas revistas não acham justo pagarem caro, e depois repassarem para os demais. No entanto, entendemos que isto não é bom para o ramo, pois a comercialização das peças de roupas em malhas produzidas no setor se dá na própria cidade. Os lojistas de outras cidades e até de outros Estados visitam as malharias durante a Feira de Malhas de Imbituva (Femai), que é realizada anualmente. Todavia, como 48 Aluno do 3º ano de Geografia. ICV (Iniciação Científica Voluntária). E-mail: [email protected]. 49 Professor do Departamento de Geografia da Unicentro campus de Irati, orientador de IC, doutorando em Geografia pela Unesp (Universidade Estadual Paulista) campus de Presidente Prudente. E-mail: [email protected]. Líder do Gester (Grupo de estudos e pesquisas para a gestão territorial). 83 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 muitas empresas estão fechando o setor acaba sendo prejudicado. Isso porque, se o número de empresas diminui, diminui a oferta. Diminuindo a oferta, os lojistas ficam sem ter muita opção, pois as poucas empresas que restarem, ditarão os preços pela pouca concorrência. A hipótese é que os lojistas de outros lugares poderão deixar de visitar a cidade para adquirem malhas. Sintetizamos nossa discussão enfatizando a importância de se trabalhar no sentido de estabelecer uma rede cooperativa no setor em questão, pois, consideramos que existem formas de cooperação embrionárias. Nesse contexto de cooperação, Matushima (2005), em uma perspectiva propositiva, considera que o papel das instituições compreendidas como “organizações que coordenam as transformações” e que mediam “relações sociais, econômicas e culturais” no desenvolvimento de um melhor ambiente empresarial, explicaria o desenvolvimento econômico de “algumas regiões do mundo”, enquanto outras “não conseguem se articular” e melhorar sua estrutura produtiva. Nesse sentido enfatizamos o caso do ramo de confecções de Ibitinga-SP, que apesar de possuir suas especificidades históricas, geográficas e culturais diferentes de Imbituva, conseguiu conquistar escalas de comercialização além da local e um grande desenvolvimento, devido ao trabalho cooperativo que desempenharam. Portanto, para finalizar enfatizamos novamente que o ramo de malhas de Imbituva precisa trabalhar nesse sentido. Palavras chave: globalização, competitividade, cooperação. Referências Bibliográficas IPARDES. Identificação, caracterização, construção de tipologia e apoio na formulação de políticas para arranjos produtivos locais (APLS) do Estado do Paraná: Diretrizes para políticas de apoio aos arranjos produtivos locais / Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social, Secretaria de Estado do Planejamento e Coordenação Geral. - Curitiba: IPARDES, 2006. SANTOS, Milton. Por Uma Outra Globalização: do pensamento único à consciência universal. Rio de Janeiro. Record, 2001. MATUSHIMA, Marcos Kazuo. Especialização produtiva e aglomeração industrial: Uma análise da indústria de confecções de Ibitinga-SP. 2005. 183f. Tese (Doutorado em Geografia) - Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista, Rio Claro. 84 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 CARTOGRAFIA NO ENSINO: TEORIA E PRÁTICA Valdney Carlos de Andrade50 Aparecido Ribeiro de Andrade51 Resumo: A Cartografia tem suas origens antes da escrita, desde o período pré-histórico, onde era utilizada através de sinais, demarcando territórios de caça e pesca, ou caminhos utilizados. Foi a principal ferramenta usada pela humanidade para ampliar os espaços territoriais e organizar sua ocupação. Portanto, hoje ela está presente no cotidiano da sociedade, levando soluções para problemas urbanos, de segurança, saúde pública, turismo e auxiliando as navegações. A cartografia é uma atividade que dá suporte a diversas ciências e tecnologias e é através dela que se constroem os mapas, instrumento capaz de representar em escala, com o grau de exatidão requerido, as informações necessárias ao planejamento. Quando a temática estudada é voltada à Educação Cartográfica é importante se atentar para a construção e interpretação de mapas usando da linguagem visual, como cores e símbolos, sempre buscando a transmissão de informações coerentes e precisas. É no ensino fundamental, desde as séries iniciais, que esses conhecimentos devem ser desenvolvidos e aprofundados. A utilização dos recursos cartográficos deve despertar os alunos para a compreensão da realidade geográfica, pois a Cartografia busca essa interação com a Geografia como forma de aprimorar a percepção visual através dos símbolos cartográficos. Educação Cartográfica é um processo de construção de conhecimentos que favorecem a leitura e a interpretação de mapas, sendo que na maioria das vezes, o que ocorre nas escolas é o simples repasse de conteúdos desenvolvidos para serem trabalhados com adultos, e que são trabalhados da mesma forma para crianças, sem adequação e transposição à etapa do desenvolvimento infantil nas diversas faixas etárias, decorrendo essa dificuldade quanto à concepção didática, e simplificação desses conceitos científicos, ensinadas geralmente por meio de práticas repetitivas e pouco explicativas, não existindo uma preocupação em habilitar seus alunos no processo de educação cartográfica. Observa-se que todo esse processo pode gerar o analfabetismo cartográfico. Sabe-se então, que este entendimento é transmitido erroneamente ou na maioria das vezes deixados sem importância (de lado), pelos estabelecimentos de ensino, principalmente nas séries iniciais, onde a maioria dos professores não tem uma formação específica e ainda colocam como prioridade o “ler e escrever”, acaba se ensinando cartografia sem o uso de mapas, ficando mais por conta do imaginário que do real. Outro ponto a ser destacado também são as turmas com grande quantidade de alunos, o que dificulta um atendimento mais individualizado. Com esse conjunto de fatores o resultado é um aprendizado deficitário e que vem se repetindo nas séries posteriores. A linguagem gráfica é um fator indispensável no ensino dos conteúdos cartográficos, sendo que o professor deve estar atento para trabalhar de forma eficiente, métodos e momentos de utilização do mapa em sala de aula. Aprender a utilizar mapas é um processo lento, que ao ser desenvolvido nas escolas, deve seguir várias etapas do ensino. Esse trabalho pode ser feito pelo aluno, mesmo que de forma rudimentar, através da representação dos espaços vividos por ele, até a interpretação de 50 Discente da Universidade Estadual do Centro-Oeste - Unicentro E-mail: [email protected] 51 Docente da Universidade Estadual do Centro-Oeste - Unicentro E-mail: [email protected] 85 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 mapas que representem espaços e realidades não vivenciadas pelo aluno, o que demanda uma maior complexidade no processo, exigindo assim um maior esforço e concentração. Seguindo esse referencial conceitual, pretende-se desenvolver um trabalho de pesquisa no Colégio Estadual Parigot de Souza, na Cidade de Inácio Martins-PR, tendo como primeira abordagem a verificação de como está sendo trabalhado o ensino de cartografia, bem como, os recursos utilizados para o desenvolvimento do assunto, especialmente com os alunos de 5ª série, já que estes provém de várias escolas municipais, realidades diferentes e tendo estudado com várias professoras das séries iniciais. A partir da escolha do objeto de pesquisa, no caso os alunos e a escola mencionados, pretende-se levantar onde estão as principais deficiências e apontar algumas metodologias utilizadas que possam contribuir para o desenvolvimento no ensino da cartografia. A meta final do projeto é destacar que a Cartografia não deve ser ensinada de forma isolada e é através da interdisciplinaridade que se obtém um resultado mais gratificante, tanto para os alunos quanto para os professores. O que se espera deste trabalho desenvolvido é que ao levantar os pontos em que estão as deficiências no ensino da Cartografia, possamos desenvolver atividades através do uso de outros métodos e metodologias, utilizadas por professores de outras escolas, conseguindo assim despertar o interesse desses alunos pela cartografia, bem como a importância do uso dos recursos cartográficos para o nosso dia a dia. Dessa forma, pretende-se estimular o estudo da cartografia de forma mais atrativa e de fácil entendimento, contribuindo para que os alunos sejam alfabetizados cartograficamente e tenham um melhor desempenho nas aulas de geografia. Apesar da pesquisa ainda não estar concluídas, as observações preliminares nos leva a acreditar que tal intervenção é necessária e que os resultados provavelmente serão positivos para a melhoria na qualidade do ensino. Palavras-chaves: cartografia, ensino, metodologia Referências: PASSINI, Elza Yasuko Alfabetização Cartográfica e o Livro Didático: uma análise crítica. Minas Gerais: ed. Lê, 1994. ALMEIDA, Rosângela Doin de,(Organizadora), Cartografia Escolar, São Paulo: Contexto 2004. FRANCISCHETT, M. N., A Cartografia no Ensino da Geografia Construindo os Caminhos do Cotidiano Rio de Janeiro: Litteris, ed. Kro Art, 2002. FRANCISCHETT, M. N., A Cartografia no Ensino da Geografia Aprendizagem Mediada – Edunioeste – Cascavel – 2004. 86 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 DIVISÕES REGIONAIS DO BRASIL Juliane Andressa de Arruda52 Claudinei de Souza53 Resumo: Este artigo tem como finalidade tratar sobre as divisões regionais ocorridas no Brasil, assim como a definição mais apropriada, neste caso, para o termo regionalização, suas finalidades e critérios utilizados para serem realizadas as divisões. Antigamente o Brasil não era composto por 26 estados e um Distrito Federal, eram poucos estados e mais territórios do Brasil, porém surgiu a necessidade da divisão do país em porções menores, visando facilitar a administração e melhorar o planejamento governamental. Não há como definir o tamanho de uma região, pois ele varia de acordo com a área que seus elementos ocupam na superfície terrestre, por isso não existe extensão mínima ou máxima de uma região. No início da década de 1940,o IBGE(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), propôs a primeira divisão territorial nacional. A proposta era comparar dados estatísticos relacionados a agrupamentos estáveis,que seriam as regiões. Na época esta proposta foi criticada por estudiosos do assunto,pois, segundo eles, considerava mais os critérios de localização do que as características econômicas, físicas e sociais das áreas que agrupava. Onde este agrupamento, dividiu o território brasileiro em 05 regiões: Norte, Centro, Este, Nordeste e Sul. Em 1945, o IBGE fez uma nova proposta de divisão regional do Brasil, desta vez com base no quadro físico do território .Na época, foram denominadas regiões naturais. Esta data é marcada pela criação do território federal de Fernando de Noronha. Esta nova divisão,dividiu o Brasil em 07 regiões naturais:Norte, Nordeste Ocidental, Nordeste Oriental, Leste Setentrional, Leste Meridional,Centro Oeste e Sul. Em 1968 uma nova divisão foi feita com base na organização da produção , resultado do processo de transformação do espaço nacional em fundação do desenvolvimento industrial nova regionalização baseou-se não apenas nas semelhanças físicas das paisagens mas também nas características econômicas da região. Nessa divisão, a região leste deixou de existir, os estados da Bahia e do Sergipe foram agregados a região Nordeste,São Paulo passou a fazer parte da região Sudeste juntamente com Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo. Esta data é marcada pela elevação do território federal do Acre para a categoria de estado e a Mudança de denominação do território federal do Rio Branco para o território federal de Roraima. Esta divisão dividiu o Brasil em 05 regiões: Norte, Nordeste, Centro Oeste, Sudeste e Sul. A última divisão regional do Brasil foi estabelecida pelo IBGE em 1988 com a criação do estado de Tocantins, originalmente pertencente ao Norte do estado de Goiás. Os critérios adotados nessa divisão baseiam-se nos limites dos estados brasileiros, fatores econômicos, e histórico, que divide o país em cinco grandes regiões: Norte, Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste, e Sul. Atualmente temos uma outra regionalização, elaborada pelo geógrafo Pedro Pinhais em 1960. Nesta divisão regional, ao contrário da proposta oficial do IBGE, os limites das regiões não coincidem exatamente com o limite dos estados, pois os aspectos econômicos e os naturais, nem sempre coincidem exatamente com os limites político-administrativo. . Essa divisão regional expressa de maneira mais adequada as disparidades socioeconômicas existentes no território,entre as áreas mais industrializadas e modernizadas do Brasil,as áreas menos desenvolvidas econômica e tecnológicamente. Dividindo o território em 03 regiões: Nordeste, Norte ou Amazônia. Este artigo tem como conclusão, que as divisões ocorridas ao longo dos anos, foram de 52 53 Aluna do Colégio Estadual João Negrão Júnior Professor Orientador.Col. Est. João Negrão Júnior [email protected] 87 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 fundamental importância para o melhor conhecimento dos estados brasileiros, melhorando o planejamento e facilitando a administração. Palavras chaves: divisão, região, planejamento. Referências MOREIRA, Igor Antonio Gomes. Construindo Espaço. São Paulo: Ática, 2005. pg. 67 69. PIRES, Valquiria.BELLUCCI, Beluce. Construindo Consciencia: Geografia,1.ed. - São Paulo: Scipione, 2006. 88 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 TRABALHOS EM PAINÉIS 89 ISSN 1983-4667 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 UMA APROXIMAÇÃO GEOGRÁFICA AS ÁGUAS MINERAIS SULFUROSAS DO MUNICÍPIO DE MALLET-PR Edicléia Trojan54 Almir Nabozny55 Resumo: Esse trabalho tem por objetivo compreender como águas minerais sulfurosas do município de Mallet-PR podem ser veiculadas nos processos de desenvolvimento sócio-espacial. Apresentando um enfoque sobre as Fontes Hidrominerais Sulfurosas localizadas no referido município. Grandes quantidades de água subterrânea podem emergir a superfície terrestre extraída artificialmente mediante poços ou naturalmente, por descarga natural sob a forma de mananciais. As características físico-químicas de quaisquer águas subterrâneas estão associadas com a composição química das rochas, ou sedimentos, ou solo pelos quais flui. A água subterrânea, ao percolar zonas profundas na crosta, atingirá, inevitavelmente, zonas de temperaturas mais elevadas. Este tipo de ambiente costuma envolver ciclos convectivos onde as águas subsuperficiais per colam até determinadas profundidades, de temperaturas mais elevadas e voltam a ascender à superfície. A água doce tem se tornado um bem mineral cada vez mais escasso em nosso Planeta Consciente de sua importância para a sobrevivência das espécies e tendo em vista que se torna cada vez mais comum o uso para o consumo humano. A utilização crescente das águas subterrâneas é, sem dúvida, resultado dos esforços que tem sido empreendido para o conhecimento de suas condições de ocorrência e o desenvolvimento tecnológico em sua captação por meio de poços profundos. Essa crescente recorrência esta ancorada substancialmente a poluição de mananciais de superfície. Todavia, faz necessário proceder a um amplo estudo das águas subterrâneas, a fim de não recorrermos a velhos erros que tangem a exploração das águas superficiais. Assim, é interessante procurar conhecer, o trabalho das águas subterrâneas, embora imperceptível na maioria dos casos, em que é exercido pelo seu movimento e ao longo de seu percurso vai interagindo com as rochas que atravessa, dissolvendo determinadas substancia e precipitando outras, são especialmente enriquecidas em sais retirados das rochas e sedimentos por onde per colaram vagarosamente. As fontes hidrominerais de Mallet, são classificadas como sulfurosas alcalinas, possuem em sua composição principalmente o enxofre, o que dá à água sua característica principal que é o odor e sabor constituindo-se em características que afetam a qualidade das águas, sejam elas superficiais ou subterrâneas e influenciam na aceitabilidade e uso por seres humanos. Suas causas podem ser de origem natural ou artificial. São quatro fontes artesianas conhecidas no município: Dorizon, Iracema, Rio Claro, Lopacinski, destas quatro, apenas uma é explorada de modo mais abrangente no processo de desenvolvimento sócio-espacial - a de Dorizon, junto a qual está localizada a Estância Hidromineral Dorizon. Na operacionalização do trabalho juntamente com o estudo bibliográfico realizamos pesquisa de campo pautada no uso de GPS (Global Positioning System) para referendarmos as posicionalidades de nossos objetos de estudo, os quais são explorados por meio de fotografias e outros artifícios iconográficos, assim como análises laboratoriais das propriedades físico-químicas das águas. Já a exploração qualitativa se desenvolve por meio de entrevistas semi-estruturas dirigidas aos agentes envolvidos com as fontes hidrominerais (proprietários, visitantes, vizinhos, “consumidores” etc). Dentro dos resultados verificou-se que somente nas fontes Lopacinski e Dorizon são realizados 54 55 (Pq – UNICENTRO Campus de Irati). [email protected] (Or – UNICENTRO Campus de Irati). [email protected] 90 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 análises laboratoriais de controle de qualidade de água no reservatório, porém os consumidores das fontes Iracema e de Rio Claro provavelmente estão sujeitos a contaminações por agentes externos pondo em risco a saúde (análise desenvolvida). Essa obscuridade com relação às efetivas composições das águas em evidência são fatores que retardam uma inserção maior das fontes hidrominerais enquanto mecanismos propulsores de um possível desenvolvimento sócio-espacial com benefícios a sociedade local (projecção potencial). Cabe ainda análises da composição de agentes contaminadores, componentes contaminantes e potabilidade da água, bem como uma provável indicação terapêutica (ação medicinal). Que caracteriza esse trabalho como uma primeira aproximação geográfica a um objeto (análise projetada), todavia essencial no geografar de uma dada espacialidade do real. PALAVRAS CHAVE: águas desenvolvimento sócio-espacial. subterrâneas, fontes hidrominerais sulfurosas, REFERÊNCIAS GÓIS, José Roberto de; STASIAK, Luciano. Águas minerais Dorizon LTDA: Levantamento geológico-hidrogeológico para delimitação da área de proteção da fonte, Curitiba. 2000. LOPES, Renato Souza. Águas minerais do Brasil. 2. ed. Rio de Janeiro, 1956. SIEKLICKI, Mario Aleixo; GRENTESKI, Franciele Alessandra. Inventário Turístico de Mallet. 2002. VAITSMAN, Delmo Santiago; VAITSMAN Mauro Santiago. Água Mineral. Rio de Janeiro: Interciência, 2005. 91 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 DINÂMICA ECONÔMICA E MOVIMENTOS MIGRATÓRIOS: COMPREENDENDO A VILA ZEZO EM IMBITUVA-PR Elcimara Regina Raiman Stradler56 Karla Rosário Brumes57 Resumo: Durante o desenvolvimento do estágio no Colégio Estadual Alcides Munhoz, localizado em Imbituva-PR, foi observada uma realidade relacionada ao fato da necessidade de construção de mais salas de aula, oriunda no aumento do número de alunos nos últimos dez anos ocasionado, segundo a Pedagoga da escola, pela chegada de novos moradores e conseqüentemente novos alunos no município. Estes novos moradores ao fixarem nos bairros “têm escolhido” com mais contundência a Vila Zezo, bairro afastado, como local de moradia. Pesquisas realizadas na escola dão conta que houve neste intervalo de tempo um acréscimo de aproximadamente 50% no aumento da demanda de alunos no bairro. Partindo desta perspectiva, o estágio nos proporcionou observar que há relação entre a chegada dos novos moradores ao município e o aumento do número de alunos que buscam vagas no colégio. A cidade de Imbituva-PR tem origem num processo de colonização relacionado à chegada de migrantes alemães, italianos e poloneses, diante do papel exercido pelas Companhias de Imigração, responsáveis pela distribuição dos imigrantes europeus por determinadas colônias e regiões do Brasil, como a região Sul. Após desembarcarem no porto de Paranaguá-PR, alguns grupos de imigrantes alemães e italianos, respectivamente evangélicos e católicos, fundaram colônias entre os anos de 1870 e 1896 em Imbituva-PR. Já os poloneses, chegaram em grupo de famílias no porto do Rio de Janeiro e, posteriormente foram direcionados pelo governo do país, para trabalharem e viverem no Paraná. Através da Companhia de Imigração de Curitiba, parte foi para as cidades de Mallet e Irati para trabalhar na estrada de ferro, e parte, esta em menor número, para as cidades de Guarapuava e Imbituva, os quais muitos ao se estabelecerem, prosperaram, pois adquiriram terras e contribuíram com o desenvolvimento deste último município. Sendo assim foram responsáveis pelas primeiras atividades econômicas, derivadas da erva-mate e da madeira, vale ressaltar que hoje os descendentes continuam ligados a estse setores. Apesar da produção de ervamate não ter mais o prestígio econômico que outrora tinha, no município ela continua agregando elementos como o da geração de empregos, todavia, este papel vem se reduzindo. Com relação a indústria madeireira tem-se a primeira serraria se instalando, no povoado chamado Bela Vista (interior de Imbituva-PR), relacionada aos migrantes italianos, no ano de 1952. A partir deste momento, tem-se sua expansão o que deu origem às grandes indústrias madeireiras do município, as quais boa parte destas ainda são administradas pelos descendentes dos italianos. Atualmente a dinâmica econômica de Imbituva-PR está relacionada à estas indústrias madeireiras (78 indústrias), aliada ao setor têxtil (54 empresas), ou seja, é a confirmação do papel da indústria madeireira e têxtil, principais setores responsáveis pela geração de empregos. Diante desta realidade de destaque de setores que geram empregos, é normal nestes últimos dez anos o expressivo surgimento de novos bairros no município, com especial destaque para o crescimento populacional da Vila Zezo. Com este contexto, se faz necessária uma análise mais detalhada e minuciosa, da dinâmica migratória que envolve toda esta realidade. Por 56 57 Discente da Universidade Estadual do Centro-Oeste – Unicentro. [email protected] Docente da Universidade Estadual do Centro-Oeste – Unicentro. [email protected] 92 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 estes contextos o trabalho objetiva entender como a dinâmica econômica da cidade de Imbituva-PR, vem influenciando no processo migratório local, ou seja, buscar-se-á a compreensão tanto dos processos que contribuem para a formação da Vila Zezo, como também quais os motivos que fazem com que as pessoas “escolham” esta vila como local de moradia. Também buscar-se-á oportunizar aos alunos do Ensino Fundamental e Médio um maior conhecimento de alguns fatores ligados à migração. Os recursos metodológicos que proporcionaram um melhor desenvolvimento da pesquisa envolvem a pesquisa bibliográfica, que me fornecerá embasamento teórico; questionário misto para 5% dos moradores da Vila Zezo, que fornecerão informações a respeito de seu perfil socioeconômico e origem. O levantamento destas informações será usado na elaboração de material gráfico para posterior análise. Vale salientar que este estudo está sendo estruturado de maneira a priorizar os dados coletados em entrevistas realizadas com alguns moradores escolhidos aleatoriamente, diante da importância de informações coletadas ante a estes sujeitos da pesquisa. Também serão usadas as pesquisas em dados secundários da Prefeitura Municipal, do IBGE e do IPARDES. Por último pretendese demonstrar cartograficamente como estão espacialisadas as indústrias, os moradores, etc. Espera-se como resultado compreender a relação do econômico com a migração e bem como um município a partir destas relações, tem suas dinâmicas internas influenciadas como no caso da Vila Zezo. Palavras chaves: dinâmica urbana, migração, dinâmica econômica. 93 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 ARROIO DOS PEREIRAS EM IRATI: O RIO COMO INSTRUMENTO DIDÁTICO AO ENSINO DE GEOGRAFIA Silmar Siona 58 Wilson Flavio Feltrim Roseghini 59 Resumo: Nos últimos anos, a educação ambiental e a criação de uma consciência voltada para a preservação do meio ambiente vêm fazendo parte da vida da população. Sabe-se que o compromisso é de todos na luta para transformar esta realidade, pois fazse necessário revermos nossas estratégias e agir aos interesses alheios à plenitude, propondo soluções e unindo-se para construir um futuro melhor para todos. A Educação Ambiental é um processo de aprendizagem que está voltado para todas as idades, no entanto, esta deve ser adequado às diferentes faixas etárias, e deve-se começar na escola, pois é um lugar onde há possibilidades de construção de cidadãos participantes do processo de cidadania, de indivíduos que reconheçam seus direitos e deveres e que saibam valorizar a si mesmos, lutando com autonomia pelos princípios e valores nos quais acreditam, sendo que é no âmbito escolar que se inicia a verdadeira socialização dos indivíduos, onde também se defende o valor da formação ambiental e ética, porém toda a sociedade deve estar unida com o mesmo objetivo da escola. Este trabalho teve por finalidade obtermos dados, informações e materiais didáticos que nos fornecessem uma visão relacionada aos problemas ambientais que estão ocorrendo no Arroio dos Pereiras, onde foi construído uma proposta de ensino de Geografia voltada à uma Educação Ambiental, contextualizada do Arroio, propondo ainda estratégias que estimulem a participação ativa dos alunos na valorização e preservação do meio ambiente, além de sensibilizá-los para a importância do ecossistema que nos envolve. Durante o levantamento de dados foram feitas entrevistas com moradores ribeirinhos os quais relataram como o Arroio dos Pereiras era no passado e o estado em que se encontra atualmente. Também foi feito um levantamento fotográfico de toda extensão do Arroio, principalmente dos pontos mais críticos, abordando o processo evolutivo da degradação do rio ao longo de seu curso, onde encontramos vários agentes que contribuíram para tal degradação, dentre esses agentes temos o poder publico, que se quer se preocupou com a vasta destruição do arroio, pois a urbanização desordenada próximo ao leito prejudicou profundamente a vida do arroio, pois a especulação imobiliária e as construções irregulares, destruíram a vegetação nas margens do arroio deixando o solo desnudo, acabando com a mata ciliar e ocasionando com isto a erosão no arroio. Após o levantamento dos dados foram produzidas informações e materiais didáticos onde foi desenvolvida a proposta de Educação Ambiental no ensino de Geografia, junto aos alunos do ensino fundamental e médio da Escola Trajano Grácia, localizado no bairro Engenheiro Gutierrez em Irati, para que houvesse a sensibilização por parte dos mesmos quanto aos problemas ambientais existentes. Nessa intervenção, inicialmente foram trabalhadas aulas expositivas, abordando temas como mata ciliar, resíduos sólidos, a importância da qualidade da água e da recuperação e preservação de um rio, bem como da ação do homem no meio. Posteriormente foi apresentada a problemática do Arroio dos Pereiras, mostrando em forma de slides as fotos de vários pontos do mesmo, explicitando ao alunos problemas como o despejo de esgoto diretamente no rio, lixo, ocupações irregulares, assoreamento e a falta da mata ciliar. Notou-se que os alunos ficaram sensibilizados com a importância da Educação Ambiental, promovendo discussões e 58 59 Acadêmico do curso de Geografia – UNICENTRO/Irati. E-mail: [email protected] Prof. Msc. orientador do Departamento de Geografia – UNICENTRO/Irati. E-mail: [email protected] 94 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 debatendo sobre a importância do tema. Houve grande preocupação dos mesmos com a relação sociedade-natureza, relacionando o meio ambiente com o local onde vivem. Observamos na intervenção uma preocupação dos alunos com a preservação ambiental não só para o hoje, mas também para as gerações futuras. A Educação Ambiental é um elemento estratégico na ampliação da consciência crítica e cria possibilidades de atualização das potencialidades dos jovens em diferentes contextos sociais. Nessa perspectiva, os pressupostos da Educação Ambiental, conhecimento, habilidade, atitudes, sensibilização e ação vão de encontro a uma prática social construída e construtora que poderá dar sentido à vivência do dos alunos. REFERÊNCIAS: CUNHA, Sandra Batista da. Geomorfologia Fluvial. 2ª Edição. Ed. Bertrand, Rio de Janeiro – 2002. DIAS, Genebaldo Freire. Educação Ambiental: Princípios e Práticas. 2ª Edição, São Paulo, 1993. MAGOSSI, Luis Roberto B. A poluição das Águas. Ed. Moderna, São Paulo – 1990. 95 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 AGRICULTURA FAMILIAR E TRANSFORMAÇÕES SOCIOECONÔMICAS: O CASO DA FUMICULTURA EM ÁGUA QUENTE DOS LUZ, REBOUÇASPR Eli José Cabral da Silva60 Roberto França Silva Júnior61 Resumo: As transformações ocorridas na estrutura agrária e agrícola brasileira, desde a década de 1960, com a chamada “Revolução Verde” (“modernização da agricultura”), proporcionaram transformações profundas, principalmente no que tange à pauperização de milhares de famílias camponesas. Isso também se deu em função do processo de concentração fundiária e pela tecnificação da agricultura praticada pelas classes hegemônicas. O campo se urbanizou e se industrializou em um ritmo bastante grande, acompanhando as fases subseqüentes do desenvolvimento capitalista brasileiro. Esse processo contribuiu para a mudança de um país eminentemente rural para um país evidentemente urbano. Também contribuiu para aumentar o fosso entre uma agricultura exportadora, com grande poder político e econômico, de um lado, e uma débil agricultura familiar, com menor capacidade de decisão, apesar da existência de importantes movimentos sociais, de outro. Do ponto de vista espacial, isso se evidenciou na especialização dos lugares, pondo a competitividade em primeiro lugar. A agricultura familiar, muitas vezes “à margem” desse processo, não teve força política para garantir investimentos suficientes para garantir uma maior qualidade de vida. Em muitos casos, agricultores familiares tiveram que “competir” com a agricultura modernizada, conservando relações de trabalho do tipo familiar. Muitas famílias, para se manterem no campo, tiveram que alterar a forma de organização da produção, deixando de praticar a agricultura de subsistência e desenvolvendo atividades agrícolas especializadas, na maioria dos casos, sob a tutela de agentes econômicos agroindustriais com interesses na máxima exploração da mão-de-obra familiar. O principal destino dessa produção é o mercado externo. A forma de organização da produção e do trabalho é o “sistema de integração” (termo extremamente ideológico, tendo em vista a forma absurda de sujeição do trabalho ao capital). O município de Rebouças faz parte desse contexto tratado até aqui, onde sua base econômica está sustentada, majoritariamente, na agricultura composta por pequenas unidades de produção familiar, produzindo fumo enquanto matéria-prima. Para compreender melhor as relações de produção e as transformações socioeconômicas, delimitamos, como recorte territorial, a localidade de Água Quente dos Luz, comunidade que possui 73 famílias, das quais 64 trabalham no cultivo do fumo. Na pesquisa, estamos estudando 13 famílias (20% do universo de 64). Também foram coletados dados sobre a produção de fumo e sobre a estrutura fundiária da localidade de Água Quente dos Luz, junto à Emater e junto à Secretaria Municipal de Agricultura de Rebouças. Com esse levantamento pretendemos demonstrar as principais transformações socioeconômicas que ocorreram na comunidade de Água Quente dos Luz, a partir da produção do fumo. O tempo empiricizado remonta os contextos familiares à década de 1980 e à esteira dessa delimitação, verificaremos como as transformações nas relações de produção e trabalho entre os camponeses as empresas fumageiras. Foram observados e levantados os seguintes aspectos da realidade: tempo de plantio do fumo, tamanho das propriedades, escolaridade dos membros das famílias, outras atividades desenvolvidas e se fazem parte de organizações. A análise da localidade será 60 61 Discente da Universidade Estadual do Centro-Oeste – Unicentro. E-mail: [email protected] Docente da Universidade Estadual do Centro-Oeste – Unicentro. e-mail: [email protected] 96 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 feita tendo como referência a articulação com as escalas nacional e estadual. A indústria do tabaco mesmo com todas as campanhas em que se pese “contra” ela e mesmo com os altos impostos incidentes sobre a cadeia produtiva, se mantém lucrativa. Até mesmo por esses fatores, que vemos um aprofundamento da exploração da mão-de-obra familiar. A contradição é ter que tratar da “importância econômica” da produção do fumo enquanto matéria-prima. A renda pífia, ainda assim é renda, mas mal distribuída entre os agentes envolvidos (indústria, atravessadores, transportadores, distribuidores, contrabandistas, quadrilhas, famílias e Estado, que por sua vez, se apropria da renda do trabalho, na forma de altos tributos). Essa forma de exploração e apropriação do trabalho, por parte dos agentes corporativos, ligados em laços de cooperação produtiva e espacial, contraditoriamente é o que permite a reprodução familiar. Os resultados da pesquisa estão em fase de análise, mas acreditamos que além de contribuirmos para o levantamento do perfil socioeconômico dos fumicultores dessa localidade, também servirá para que, em consonância com futuros pesquisadores, sejam elaboradas políticas públicas que venham ao encontro dos interesses de fumicultores de Água Quente dos Luz, que vem sendo explorados pelas indústrias por falta de alternativas a curto e médio prazos e por falta de apoio do Estado e do município. Palavras-chave: Agricultura, Modernização, Integração, Fumicultura, Rebouças-Pr 97 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 PROJETO CAVERNA – EDUCAÇÃO TURISTICA E ROTEIROS PEDAGÓGICOS Edvanerson Ramalho dos Santos62 Márcia Alves Soares da Silva63 Orientador: João Paulo Camargo Resumo: Este trabalho visa divulgar ao ambiente acadêmico o projeto Caverna, desenvolvido na cidade de Ponta Grossa, pelo professor responsável João Paulo Camargo e grande equipe de alunos envolvidas no mesmo, projeto esse que se encontra em continuo andamento e procura dar alternativas a dura realidade a qual a sociedade passa atualmente, tentando trilhar um rumo alternativo e utópico rumo a uma sociedade com novos valores éticos e morais. O projeto que trata das relações entre Educação e Geografia mediadas pela pesquisa e pelo turismo como princípios educativos. Para a aplicação prática das bases conceituais, delimitamos um sítio natural conhecido como Caverna Olhos d’Água, localizada a 50 km de Ponta Grossa, Pr, no Distrito do Abapan, município de Castro, Pr. Tal local é intensamente visitado por estabelecimentos de ensino de toda a região e Estados vizinhos como São Paulo e Santa Catarina. Neste contexto os impactos socioambientais negativos são significativos à comunidade do entorno, pois, a área é desprovida de qualquer infra-estrutura e monitoramento para a visitação. A partir de saídas técnicas realizadas no mês de Março de 2006, com alunos do Ensino Médio e dos Cursos Técnicos em Agroindústria e Mecânica da Universidade Tecnológica Federal do Paraná- Campus Ponta Grossa, iniciou-se o desenvolvimento do Projeto Caverna – Educação Turística e Roteiros Pedagógicos que contempla ainda outros dois ambientes naturais, conhecidos como “Furnas Gêmeas” e “Buraco do Padre”, localizados no município de Ponta Grossa. A primeira atividade foi à formação da equipe interessada em desenvolver o projeto que atualmente totaliza em 20 alunos(as). Estabeleceu-se então data fixa para as reuniões onde são realizadas as capacitações dos participantes em relação aos conceitos de espeleologia (estudo das cavernas), turismo, meio ambiente, ecologia e primeiros socorros. Outra etapa é a realização das saídas técnicas de estudo do local desenvolvendo uma proposta de manejo para a área. Também são realizados monitoramentos de grupos para as visitações aos referidos ambientes. Durante as reuniões foi estabelecido como objetivo geral, conhecer os aspectos biogeográficos, o potencial turístico e educacional da Caverna Olhos D’água, Furnas Gêmeas e Buraco do Padre com o intuito de estabelecer um roteiro pedagógico para desenvolver os conceitos de Educação Turística, Ambiental e de Desenvolvimento Sustentável a fim de monitorar e adequar às visitações. Entre os objetivos específicos estão: pesquisa bibliográfica e referências sobre atividades educacionais e turísticas em ambientes cavernícolas; coleta e análise da água que percorre o interior da caverna; identificação da fauna existente na caverna; desenvolvimento de técnicas e metodologia para visitação de grupos para fins de educação ambiental; elaboração de material audiovisual sobre a Caverna Olhos d’água; desenvolver atividades interdisciplinares; aprimoramento da modalidade de espeleoturismo; levantamento socioeconômico da comunidade local; produzir material didático pedagógico para utilização em eventos científicos, palestras, apresentações e cursos; desenvolver o conceito de Educação Turística; aplicar o conceito de 62 Graduando do curso de Licenciatura em Geografia da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Email: [email protected], 63 Graduanda do curso de Licenciatura em Geografia da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Email:[email protected] 98 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 Desenvolvimento Sustentável; A avaliação é permanente e contínua e quantificada pela participação dos(as) alunos(as) nas reuniões semanais, participação nas saídas técnicas, nas atividades de monitoramento de visitantes, na elaboração de material didático pedagógico e nas palestras realizadas em outros estabelecimentos de ensino. O Projeto Caverna – Educação Turística e Roteiros Pedagógicos tem como planejamento estratégico, a continuidade para os próximos anos de 2008/2009, na Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Campus Ponta Grossa, Pr. Inclusive os(as) alunos(as) que estão concluindo o Ensino Médio, neste ano, já demonstraram interesse em continuar participando do projeto. Como objetivos a médio e longo prazo estabelecemos a meta de arrecadar fundos para a aquisição da área onde está a caverna e transforma-la numa RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural), caso o poder público não desaproprie e implante uma Unidade de Conservação. Outra meta para o início do ano de 2008 é envolver diretamente a comunidade local na atividade de conservação e utilização adequada da área para o desenvolvimento do ecoturismo, fomentando a geração de renda e melhoria da qualidade de vida. As atividades direcionadas as outras instituições de ensino e aos(as) professores(as) continuarão sendo realizados pelas palestras, oficinas, planejamento e monitoramento para as saídas técnicas e com a apresentação da “Caverna Móvel”. Ainda, pretendemos elaborar material didático impresso (panfletos, folders, cartilhas, apostilas) para subsidiar o trabalho dos(as) professores(as) em sala de aula, relacionando as disciplinas curriculares com o roteiro pedagógico. Palavras Chaves: Educação Turística, Caverna, roteiros pedagógicos Referências BRASIL. Ministério do Turismo. Programa de Regionalização do Turismo – Roteiros do Brasil – diretrizes operacionais. Brasília: Ministério do Turismo, 2004. 61 p. CAMARGO, J.P. Turismo Rural e suas Aplicações no Ensino Médio e Fundamental. In: O Turismo no Ensino Fundamental e Médio: Uma visão Multidisciplinar do Fenômeno Turístico. Ponta Grossa: Ed.UEPG, 2002. p.86. CASTROGIOVANNI, A. C. Por que geografia no turismo? In: Turismo: 9 propostas para um saber-fazer. 3. ed. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002. 150 p. FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia – Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Ed. Paz e Terra S/A, 2000. 165 p. 99 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 OS FLUXOS ADUANEIROS ENTRE BRASIL, ARGENTINA E PARAGUAI NA TRÍPLICE FRONTEIRA: ORGANIZANDO O PENSAMENTO EM TORNO DA OBSERVAÇÃO DE CAMPO Elaine Przybysz 64 Nathasha Michalak 65 Rafaela da Silva Ramos 66 Rarafale Tchmola 67 Roberto França da Silva Junior 68 Resumo: Realizamos em maio de 2008, um trabalho de campo em três cidades fronteiriças (Foz de Iguaçu, Puerto Iguazú e Ciudad del Este), sob a supervisão dos professores Roberto França e Marisa Emmer, com base nas disciplinas de Organização do Espaço Mundial (3º ano) e Geografia Política (2º ano). Foram quatro, os eixos de análise: 1) A fronteira; 2) O comércio, o câmbio e a questão aduaneira; 3) A paisagem urbana; 4) A presença muçulmana em Foz de Iguaçu. Nossa pretensão aqui é organizar o pensamente mediante a observação do comércio entre os três países, em especial, a questão aduaneira. Como pressuposto para a análise, tomamos o espaço geográfico como sendo um conjunto indissociável de sistemas de objetos e sistemas de ações (SANTOS, 2004), sob os quais orbitam fluxos materiais e imateriais. Com o desenvolvimento do capitalismo, os fluxos se tornam cada vez mais espessos e mais concentrados em alguns pontos do planeta. A aduana ou alfândega é uma “repartição governamental que fiscaliza a entrada e saída de mercadorias em cada país, para assegurar o pagamento das tarifas correspondentes e o cumprimento das normas locais de comércio internacional. Cumpre também à alfândega impedir a prática do contrabando e a entrada no país de mercadorias consideradas contrárias aos interesses da produção nacional” (SANDRONI, 2005). Esse caráter protecionista não existe na prática, ou existe conforme satisfação de grupos de interesse. Anualmente o Brasil deixa de arrecadar bilhões de reais por ano, com o contrabando realizado na fronteira com o Paraguai. A ONU estima em cerca de 60% a evasão fiscal no Paraguai, devido ao diminuto controle alfandegário e da ineficiente arrecadação de impostos. Todavia, a aduana tende a moldarse à dinâmica imposta pelo ambiente, no qual se coloca um território da oferta de mercadorias realizadas em transações muitas vezes escusas. Apesar do Mercosul ter sido criado para favorecer o comércio, no sentido de uma circulação “mais livre” e tornar mais salutar as transações entre os países criando um “mercado comum”, as aduanas representam uma forma um pouco mais “amena” de protecionismo principalmente do Brasil frente ao Paraguai e da Argentina frente ao Brasil. Com a objetivo maior de regulação de fluxos, o sistema aduaneiro também se coloca como norma, elemento próprio do espaço, híbrido de técnicas e normas que o produzem. No caso paraguaio, onde as normas são “menos rígidas”, as firmas locais especializadas na produção, se encarregam de engrossar o circuito inferior da economia, agregando-se ao mercado 64 Aluna do 3º ano de Geografia. E-mail: [email protected] Aluna do 3º ano de Geografia. E-mail: [email protected] 66 Aluna do 3º ano de Geografia. E-mail: [email protected] 67 Aluna do 3º ano de Geografia. E-mail: [email protected] 68 Professor do Departamento de Geografia campus de Irati. Doutorando em Geografia pela Unesp campus de Presidente Prudente. E-mail: [email protected] 65 100 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 informal. Produzir mercadorias com os níveis de sofisticação das mercadorias importadas é algo custoso, já que os impostos são baixos à importação de produtos, com isso o Paraguai perde em competitividade e reduz o potencial exportador do país. Por outro lado, a cidade argentina que foi visitada, fica em uma região periférica do país e, embora faça parte dessa zona fronteiriça de alta movimentação, fica em estado de “quase isolamento” e de letargia econômica, vivendo quase que exclusivamente do artesanato e de produtos alimentícios de baixo valor agregado. Em parte influenciado pelo movimento comercial existente na fronteira, partindo do Brasil em direção à cidade argentina, existe um Duty Free, uma espécie de shopping center no qual são comercializadas mercadorias importadas isentas de tarifas ou com redução destas. Mesmo assim, isso não viabiliza a intensificação dos fluxos comerciais naquele lugar, pois, a sofisticação dos produtos impõe preços incompatíveis com a realidade de quem busca preços baixos no Paraguai. Observando as “práticas” aduaneiras entre os três países, notamos que na ponte da Amizade, ponto de passagem na fronteira entre o Brasil e Paraguai, há uma fraca proteção e controle de mercadorias que vem do Paraguai. O alto fluxo de pessoas e a déficit de fiscais na ponte da Amizade, é um dos principais motivos para a facilidade do contrabando, bem como a especialização de trabalhadores informais na fronteira que auxiliam na ilegalidade. Os assaltos e roubos são freqüentes devido a falta de policiamento na fronteira, especialmente na Ponte da Amizade, onde estes ocorrem com maior freqüência. A proteção da fronteira entre o Brasil e Argentina é considerada mais tranqüila se comparado entre o Brasil e Paraguai, a fiscalização de mercadorias é quase inexistente devido o comércio Argentino não ter tanta relevância. A proteção fica somente na fiscalização de entrada de pessoas, onde a barreira fito-sanitária é considerada mais importante, pois qualquer cidadão brasileiro que deseja entrar na Argentina deve estar devidamente vacinado e deve apresentar identidade (recente). Entretanto, este fato gera alguns questionamentos, pois os argentinos não passam por ficalização para entrar no Brasil, podendo usufruir dos bens e serviços sem serem barrados. Enfim, essas são algumas das situações observadas, mas que foram fundamentais para a compreensão do funcionamento alfandegário e das normas da globalização. Palavras-chaves: Fluxos; Mercosul; Normas 101 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 LUZ, CÂMERA E AÇÃO PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA: A PRÁTICA CONSERVADORA DO ENSINO REELABORADA POR MEIO DOS FILMES Luciano Muzinoski69 Karla Rosário Brumes70 Resumo: Há algum tempo tem sido presente o uso do filme por parte de muitos professores de Geografia, como uma possível ferramenta de ensino em suas aulas, todavia, a forma como isto tem se apresentado é “errônea” uma vez que o filme é usado como recurso de distração ou como forma de ocupação do tempo de aulas, tornando-se recurso de distração e não de informação. Assim, é interessante procurar conhecer in loco, os por quês destes usos e também propor como um filme pode ser mais bem explorado, visto sua variabilidade de formas e formatos que em muito podem acrescentar ao ensino da Geografia. O estudo da utilização da produção fílmica como recurso didático importante para o processo de ensino-aprendizagem da disciplina de Geografia, tem como objetivo o inovar, o entusiasmar e o auxiliar todo o panorama que envolve a prática pedagógica do professor que leciona essa disciplina. Contudo, seu uso deve ser acompanhado por uma boa preparação e a motivação do professor para trabalhar com esse recurso, que aliado à teoria escrita contribuirá para analisar, comparar e observar diferentes cenários, permitindo-se fazer uma relação entre a sociedade e a natureza (espaço físico e ações). Muitas vezes tem-se a impressão de que o ensino, sobretudo, o de Geografia, diante das transformações tecnológicas, tem se tornado defasado em virtude de teorias de ensino “cansativas” não despertarem a atenção devida dos alunos. Cremos ser necessário diante desta situação que profissionais de ensino renovem suas metodologias de ensino buscando assim, meios auxiliares que tornem as aulas além de atrativas, mais eficientes. Entendemos que o professor precisa do uso de uma linguagemcódigo, que o auxilie na busca da atenção do aluno para um determinado assunto proposto. Uma das alternativas assim, seria o de levar até o núcleo dos estudantes outros elementos como o uso de produções fílmicas que inovam, entusiasma e auxiliar, sobretudo, no ensino de Geografia. O principal enfoque que essa pesquisa pretende dar está relacionado à utilização de um recurso didático que garanta uma eficácia metodológica ao ensino de geografia; mais precisamente a utilização do filme para auxiliar o ensino/aprendizagem da geografia. E se essa utilização ocorre de maneira adequada. Este uso de filmes além de aumentar a atenção dos estudantes, despertando-nos mesmos, senso crítico que podem ainda amenizar os obstáculos durante trabalhos e avaliações, pois, ao relembrarem as cenas observadas, seguida dos debates a cerca dos assuntos vistos em filmes, os alunos poderão associar quase que de imediato os conteúdos propostos. A pesquisa configura-se por um levantamento bibliográfico para a obtenção da base teórica em relação tanto ao uso do filme como umas das linguagens que auxilia no ensino de Geografia, como também de como tem se caracterizado e configurado o ensino de Geografia no Brasil, situando-se alguns momentos históricos pontuais que pode vir a possibilitar observação importante com relação a uma evidenciação do caráter tradicional do sistema educacional. Também tem - se trabalhado com aplicação de um questionário, qualitativo e quantitativo, junto aos docentes do Colégio Estadual Trajano Grácia em Irati-PR, e que atuam na disciplina de Geografia, que visam coletar dados sobre as suas experiências com a utilização de filmes nas suas aulas. Da mesma forma será feita com os alunos do ensino médio deste colégio, para 69 70 Discente da Universidade Estadual do Centro-Oeste – Unicentro e-mail [email protected] Docente da Universidade Estadual do Centro-Oeste – Unicentro e- mail [email protected] 102 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 saber suas opiniões e experiências com relação a esse ao uso deste recurso didático durante sua vivência como estudante e ator principal no processo de ensino. Posteriormente, será feito levantamento das condições técnicas, relacionados à existência, acessibilidade e a qualidade dos equipamentos de audiovisuais no Colégio Estadual Trajano Grácia. Por fim, esperasse-se mostrar com tudo isso a viabilidade em se utilizar o filme como um importante recurso didático que possa auxiliar o professor da disciplina de Geografia em suas aulas, fornecendo subsídios através de uma linguagemcódigo, por meio da análise da realidade de uma escola de Irati-PR. Palavras-chave: ensino; linguagem-código; Geografia; recurso auxiliar. 103 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 A IMPORTÂNCIA DAS ÁREAS VERDES URBANAS, UM ESTUDO DE CASO NO MUNICÍPIO DE REBOUÇAS-PR Márcio Muller Martini71 Wilson Flavio Feltrim Roseghini72 Resumo: Considera-se área verde urbana qualquer área, de propriedade pública ou privada que apresente algum tipo de vegetação (não somente árvores) com objetivos sociais, ecológicos, científicos ou culturais. No contexto das grandes cidades, as áreas verdes urbanas entram como um elemento essencial para o bem estar da população, oferecendo áreas de recreação, de paisagismo, de preservação tanto da fauna como da flora. Alguns efeitos causados pela vegetação no meio urbano estão relacionados com a melhoria da qualidade do ar e do conforto térmico, além de efeitos estéticos e psicológicos. Outro benefício proporcionado pela presença planejada das árvores na paisagem urbana está relacionado à proteção contra os ventos e a redução da poluição sonora. A percepção ambiental, tida como uma tomada de consciência do ambiente pelo homem, junto à sua conscientização em relação à valorização das áreas verdes no meio urbano, leva-o a uma reflexão crítica de interação entre o homem e o ambiente em que vive de forma a perceber melhor esse ambiente, aprendendo a proteger e cuidar dele da melhor forma possível. Desta forma a conscientização da população é o fator mais importante para que estas áreas possam ser criadas e utilizadas de maneira efetiva e integrada, podendo assim desenvolver suas funções. A arborização urbana caracterizada como área verde também, tem representado grande importância no meio urbano, considerando a árvore um elemento estruturador de espaços, responsável por qualidades estético-visuais e de bem-estar das pessoas. A arborização exerce um papel importante na vida do homem que vive nos centros urbanos, porém a questão do planejamento torna-se fundamental e indispensável para o desenvolvimento urbano, como forma de prevenir prejuízos para o meio ambiente. Considerando que a arborização é fator determinante da salubridade ambiental, por ter influência direta sobre o bem estar do homem, em virtude dos múltiplos benefícios que proporciona ao meio, em que além de contribuir à estabilização climática, embeleza pelo variado colorido que exibe, fornece abrigo e alimento à fauna e proporciona sombra e lazer nas praças, parques e jardins, ruas e avenidas das cidades. O uso correto das plantas é essencial, uma vez que o uso indevido de espécies acarretará em uma série de prejuízos tanto para o usuário, empresas prestadora de serviço de rede elétrica, telefonia e esgoto. Diante disso, os elementos naturais das cidades são representados em formas de áreas verdes urbanas, fazendo com que a sociedade tenha na sua percepção a valorização dessas áreas e seu papel no funcionamento e transformação da cidade. É preciso definir o quanto deve ser preservado, conservado, transformado ou reconstruído para se conseguir ambientes agradáveis e sadios que propiciem uma rica vida de interações sociais e gestão ambiental equilibrada. Dada a necessidade de se conhecer melhor as áreas verdes que compõe o município, o presente estudo se dará tendo como referência as praças públicas existentes na área urbana. Pretende-se com esse trabalho analisar e descrever a atual situação das mesmas dentro do espaço urbano de Rebouças-PR, bem como, avaliar a influência das áreas verdes e da arborização na percepção da população local, sua conscientização a respeito da preservação, utilização e a função destas áreas. Através da análise dos dados coletados em pesquisa de campo através de questionários respondidos por uma 71 72 Acadêmico do DEGEO/Irati – [email protected] Professor Colaborador e Mestre em Geografia do DEGEO/Irati – [email protected] 104 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 amostragem aleatória da população urbana do município; uma entrevista direcionada a um cidadão que fez de parte de sua propriedade um espaço público transformando-o numa área destinada ao lazer; e estágio desenvolvido na escola Estadual Profª Maria Ignácia abordando o tema para se avaliar a percepção de alunos do ensino fundamental em relação a importância das áreas verdes urbanas do município. Após concluir o levantamento dos dados, espera-se que o resultado alcançado indique o grau de consciência da população local em relação a preservação, conservação e utilização das áreas verdes urbanas, contribuindo para uma visão crítica e atuação responsável por parte dos habitantes locais. REFERÊNCIAS: ROMANIW, ROZENILDA: Análise, importância e distribuição das áreas verdes no quadro urbano urbano de Irati-PR – Monografia de Pós-Graduação, UNICENTRO. Irati, 1999 PAIVA, Haroldo Nogueira de: Florestas urbanas: planejamento para melhoria da qualidade de vida / Haroldo Nogueira de Paiva, Wantuelfer Gonçalves – Viçosa-MG: Aprenda Fácil, 2002 105 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 REPRESENTANDO O GEOGRÁFICO EM FOTOGRAFIAS: UMA APROXIMAÇÃO A EDUCAÇÃO AMBIENTAL Carla Regina Rodacki Klossowski73. Almir Nabozny74 Resumo: Hoje em dia, com o avanço da tecnologia e com o surgimento de inúmeras transformações científicas, o homem acabou por modificar o seu ambiente natural, visando à satisfação dos seus interesses, não levando em consideração os problemas resultantes de seus atos para as futuras gerações. Por isso, é necessário um trabalho contínuo com as crianças desde a pré-escola para que percebam a realidade do nosso planeta e vejam que as suas ações podem alterar para melhor ou pior a vida no ambiente que vivem. Então, é no ambiente escolar que o educador tem o papel de trabalhar valores, hábitos com as crianças através da Educação Ambiental, de maneira divertida e atraente, para que sintam vontade de debater as questões ambientais de maneira desafiadora e interdisciplinar. A Educação Ambiental é um ramo do conhecimento que visa problematizar com o educando atitudes e hábitos cotidianos no intuito conscientização da ação do indivíduo em sociedade. Sendo que este ramo do saber, muitas vezes, não é trabalhado de forma interdisciplinar com outras disciplinas. Já a Geografia é uma disciplina voltada ao ambiente, ao espaço geográfico, aos aspectos físicos e humanos do meio ambiente, e necessita da integração com outras ferramentas de trabalho, para promoção do conhecimento geográfico de maneira atrativa, clara e prática, para que os alunos deixem de lado, aquela visão da disciplina como desinteressante, não-atrativa e descontextualizada de seu espaço cotidiano. Para se inovar no ensino de Geografia, é interessante utilizar diferentes metodologias e trabalhar de forma interdisciplinar com outros ramos do conhecimento, como a Educação Ambiental, que faz parte dos Temas Transversais, denominada pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN's) de “Meio Ambiente”. Para trabalhar a interdisciplinaridade da Educação Ambiental e a Geografia, foi realizado uma pesquisa-ação com os alunos da 8ª série do Ensino Fundamental da Escola Estadual Pio XII da cidade de Irati-PR, tendo como objetivos trabalhar a Educação Ambiental e a Geografia através da análise de fotografias, identificar se os alunos percebem as questões ambientais inseridas na paisagem, ver se eles sabem alguns conceitos geográficos e propor alternativa diferente para o trabalho da Geografia com a Educação Ambiental. Este trabalho tem como metodologia o uso de fotografias que permitam a análise dos problemas ambientais inseridas no contexto da paisagem, trabalhando assim o conceito de paisagem e meio ambiente. A utilização de fotografias possibilita o professor de Geografia trabalhar o conceito de paisagem, meio ambiente, através de uma maneira prática, possibilitando uma melhor apreensão construtiva e contextualizada da teoria estudada pelos educandos. Desta forma, também tem o estudo das questões ambientais inseridas na paisagem, possibilitando os educandos refletirem acerca destes problemas e os mesmos repensarem a sua prática de vida como cidadãos conscientes e críticos no meio ambiente. Com isso, eles analisaram as questões ambientais inseridas no contexto das paisagens das fotografias, permitindo a discussão de aspectos relevantes e que estes 73 74 Acadêmica do curso de Geografia. UNICENTRO – Campus de Irati. Prof. Msc. de Geografia. UNICENTRO – Campus de Irati). [email protected] 106 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 discutiram principalmente a questão do próprio ser humano enquanto um componente e (composto) pela dinâmica da paisagem, enquanto um membro atuante na produção do espaço geográfico. Nos primeiros resultados deste trabalho já evidenciamos que a maioria dos educandos falam do Meio Ambiente enquanto árvores, florestas, rios, rochas, tendo a idéia voltada ao aspecto natural, como se o homem não fosse parte e não estivesse inserido dentro deste meio. Os educandos desenharam o “Meio Ambiente” e dos vinte e quatro alunos, somente quatro desenharam o homem neste meio. Já no conceito de paisagem vêem como tudo o que está em nosso redor, é a natureza e referiram ao aspecto natural ao paisagismo, assim percebeu-se que possuem dificuldade em conceituar temas geográficos e perceber os problemas ambientais inseridos no contexto da fotografia. Diante disso, verifica-se que é necessário um trabalho contínuo e interdisciplinar das questões ambientais com a Geografia, para que o aluno problematize as relações existentes entre esta disciplina, o Meio Ambiente e a Educação Ambiental. Palavras-chave: Educação Ambiental, Geografia, Meio Ambiente, Paisagem, Fotografias. 107 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 CIRCUITO ESPACIAL PRODUTIVO DO LEITE E SEUS CÍRCULOS DE COOPERAÇÃO NO ESPAÇO A PARTIR DE IRATI-PR Leila Homiak75 Roberto França Silva Júnior76 Resumo: Este trabalho versa sobre a territorialização da atividade leiteira em Irati, buscando compreender como esse processo se expressou nas duas últimas décadas, sobretudo a partir do desenvolvimento dos círculos de cooperação no espaço e dos circuitos espaciais produtivos. Os dois funcionam em consonância, todavia, os círculos de cooperação dizem respeito à noção de ligação de diversas unidades produtivas dispersas no espaço. Os circuitos espaciais, por sua vez, dão conta de explicar que a produção já não se realiza somente na unidade de produção stricto sensu, mas em uma territorialidade bem mais ampliada. Essas possibilidades foram aumentadas no período da globalização, dando maior complexidade às realidades, exigindo explicações mais coesas. No período da globalização, as regiões atendem a uma nova divisão do trabalho com um aprofundamento das especializações produtivas, fazendo com que os produtores organizem novas formas de produção e de circulação. A atividade leiteira do município de Irati, desde a década de 1990, vem mantendo um expressivo crescimento. A análise foi feita com base em dados e informações dos institutos de pesquisa, além de trabalho de campo (entrevista junto a representantes dos seis laticínios atuantes no município, junto a produtores – 10% desses - e junto a Emater/Irati). O círculo de cooperação se manifesta na relação produção-circulação entre os laticínios (como captadora do leite e como processadora do produto) e os produtores (em sua maior parte, agricultores familiares). A realização da reprodução do capital ficará por conta da comercialização (troca entre laticínio e distribuidores). Além do produtor e do laticínio, a atividade leiteira “atinge indiretamente” o comércio (varejista e atacadista), tanto à montante (compra de vacinas, medicamentos, alimentação para o gado, equipamentos agrícolas) quanto à jusante (supermercados, restaurantes, padarias e confeitarias, além de outras empresas do comércio varejista). Para a produção do leite enquanto matéria-prima, o produtor precisa estabelecer relações com fornecedores de alimentos e medicamento. O laticínio, por sua vez, precisa fazer a coleta, beneficiamento do produto e o encaminhá-lo para a comercialização, estabelecendo novas relações. Essa relação forma, em realidade, uma rede, muito mais do que um complexo agroindustrial, dado o tamanho das empresas envolvidas que, não se caracterizam como empresas multinacionais. Ademais, o ramo demonstra uma grande capilaridade pelo alto número de produtores envolvidos e uma grande concorrência entre os laticínios. A título de comparação, a região de Castro, a maior bacia leiteira do Paraná, tem um número relativamente menor de produtores envolvidos e um número ainda menor de empresas, pois duas dessas empresas são altamente concentradas. A rede é um conjunto indissociável de fixos e fluxos que dá suporte a determinada atividade, seja ela produtiva ou não. No caso da produção do leite, enquanto matéria-prima, para fins de comercialização e agregação de valor, é notória a relação de “dependência” entre produtor e os interesses agroindustrial, que se expressam territorial e espacialmente, constituindo vínculos de cooperação, para fins de circulação/distribuição, porém com aproveitamento desigual da renda do leite. Contudo, esses vínculos entre os agentes envolvidos, crescem permanentemente, fortalecendo a atividade e fazendo desta, uma atividade cada vez mais lucrativa para as empresas, que, 75 76 Discente da Universidade Estadual do Centro-Oeste – Unicentro. e-mail: [email protected] Docente da Universidade Estadual do Centro-Oeste – Unicentro. e-mail: [email protected] 108 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 a reboque e desigualmente, trazem os produtores familiares. Embora as empresas atuantes no município sejam de pequeno e médio porte, quando comparada a empresas como Danone, Batavo, Nestlé, Unilever, Parmalat e Castrolanda, as relações estabelecidas entre agroindústria e produtores rurais são bem parecidas às empresas citadas. O que é profundamente diferente é o nível de sofisticação tecnológica, inovação produtiva e, principalmente amplitude da rede de produção-circulação-distribuição, que se expressa em um território-rede bem mais amplo, praticamente na escala nacional, quiçá, internacional. O estudo realizado levou em consideração a produção leiteira no Brasil e no Estado do Paraná, sempre procurando estabelecer comparações, com base na produção, produtividade, rebanho, raças e sistemas de produção. A partir dessa comparação, procuramos compreender a relação entre esses elementos levantados com o município de Irati, com base no aprofundamento e análise de dois laticínios: São Miguel e LactoIrati, a fim de entender melhor o funcionamento do circuito espacial produtivo. A partir da instalação do laticínio São Miguel, a atividade leiteira progressivamente apresentou maior crescimento, atraindo novos produtores interessados em investir na atividade, fortalecendo o setor no município. Atualmente são distribuídos cerca de 30 mil litros de leite, o que demonstra um dinamismo nada desprezível, decorrente principalmente da produção-circulação-distribuição mais organizadas, com base em inovações, maior uso da tecnologia e uso mais racional do território. Palavras-chave: LATICINIOS. PECUARIA LEITEIRA, 109 CIRCUITO ESPACIAL PRODUTIVO, Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 AÇÃO SUSTENTÁVEL Beibi Bogo Grochovski77 Claudinei de Souza78 Resumo: O presente trabalho tem por objetivo demonstrar o projeto Açaí Marajoara desenvolvido pela empresa Muaná Alimentos, localizada no município de Muaná, na ilha de Marajó, região amazônica. A pequena cidade de seis mil habitantes é um lugarejo isolado no meio da floresta, que ficou famoso por ser sede de um projeto de extração de açai e palmito. Ambos produtos utilizados na alimentação humana, um por ser, matériaprima para um famoso e suculento suco, o suco de açaí, e outro por ser um vegetal bastante saudável, conservado em salmoura e consumido frio acompanhando saladas e cozidos em diversas receitas. O palmito mais procurado, é o extraído da palmeira juçara, (Enterpe endulis),devido a sua qualidade superior, mas, como para fazer a extração desse alimento é necessário retirar as touceiras, que são partes do tronco dessas árvores, de onde é retirado o seu miolo, que é nada mais nada menos, que o tão conhecido palmito, isso acaba com o decorrer do tempo, provocando a morte da planta, uma vez que seu meristema apical é eliminado o que ocasiona a entrada em extinção dessa espécie vegetativa. Dessa forma, a extração desse produto dos açaizeiros, ganhou força pois essa espécie ainda existia em abundância, mas na ânsia de aumentar a produtividade, os coletores fizeram com que a planta também começasse a sofrer ameaças de extinção. Em Muaná essa prática foi feita em grande quantidade, mas, sem instrução era praticada de maneira incorreta. Ao perceber que os camponeses que faziam esse trabalho estavam executando suas tarefas de modo errado, por se basearem em ensinamentos de seus ancestrais, e por não terem oportunidades de estudos, permaneciam sem instrução e apenas sua simplicidade, nada mais que isso, fazia com que agissem dessa forma e suas atitudes, provocavam grandes transtornos ao meio ambiente. Como o açaí cresce mais em locais ensolarados, os palmiteiros costumavam derrubar sem nenhum critério qualquer árvore que fizesse sombra sobre a planta e atrapalhasse seu desenvolvimento e sua produtividade, o resultado era o desmatamento de quase toda a vegetação nativa das várzeas, (pois é um vegetal que precisa de solo úmido para desenvolver-se melhor) além de contribuírem diretamente com a falta de alimento para os animais que desses frutos alimentavam-se. A empresa de Muaná implantou esse projeto ensinando a maneira correta de trabalhar, o que ajudou-os e incentivou-os cada vez mais, nele consiste principalmente, que parte dessas matas que são ao todo mais de 4000 hectares não devem ser tocadas pelo homem, é restrita à alimentação dos animais silvestres. Na área onde a exploração é permitida deve-se preservar pelo menos 10% das demais espécies de vegetação, além disso as coletores aprenderam fazer a extração correta do palmito, retirando apenas as touçeiras adultas, deixando as mais jovens para que produzam mais e em períodos alternados, gerando renda e trabalho por todo o ano. O projeto teve tanto sucesso que essa empresa foi a primeira do Brasil e a segunda do mundo a obter o selo FSC na sigla em inglês (Forest Stewardship Council) que garante que o produto de origem florestal foi retirado de maneira legal e não predatória, além de receber o Prêmio Super Ecologia 2002.O compromisso ambiental garantiu à empresa uma injeção de 1,5 milhão de dólares do fundo internacional Terra Capital, o primeiro no mundo destinado a capitalizar projetos 77 78 Aluna do Colégio João Negrão Júnior de Teixeira Soares-PR Professor do ensino fundamental e médio de Teixeira Soares-PR 110 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 empresariais para preservar a biodiversidade.``Como o açaí precisa da floresta, nosso futuro depende da preservação´´ diz o presidente da empresa Georges Schnyder. Sendo assim, esse é um exemplo nítido de que é possível fazer a exploração sustentável da Amazônia sem devastá-la e destruí-la, portanto, não faz sentido alegar que o corte de madeira ilegal, feito intensamente nessas matas é feito por ser a única forma de sobrevivência, isso é, em ato de vandalismo, ganância e egoísmo. Esse é um exemplo a ser seguido, no estado do Paraná, como a população ribeirinha sobrevive apenas da pesca, seria interessante observar as possibilidades que a floresta paranaense oferece e implantar um projeto desse porte aqui, oferecendo melhores estruturas e condições de vida às famílias desses pescadores. Cabe a nós parabenizarmos a empresa Muaná Alimentos e torcer para que seu exemplo seja seguido e acreditar que dessa forma todos juntos conseguiremos proteger nossas florestas e conseqüentemente o nosso planeta. Palavras chaves: sustentável, preservação e extração. Referências PIRES, Valquíria; BELLUCCI, Beluce. Construindo consciência: Geografia. 1.ed.-São Paulo: Scipione, 2006.pg. 186 – 187. http://www.superinteressante.com.br/superaquivo/2002/conteudo_241449.shtml http://www.geocities.com/rainforest/andes/1185/palmito 111 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 TRABALHANDO OS TEMAS TRANSVERSAIS NO ENSINO DA GEOGRAFIA: A ÉTICA NA EDUCAÇÃO ESCOLAR Paulo Gil79 Karla Rosário Brumes80 Resumo: A escola é uma instituição que está organizada dentro de determinadas normas que acabam dando forma específica às suas ações. Ela possui um cotidiano mesmo diante das normativas em muitos casos bastante agitado e, às vezes até tumultuado, o que traz dificuldade para que a “educação” das crianças seja plenamente desenvolvida. Para se ter uma idéia do papel educador da escola, em tempos passados, a escola tinha como principais objetivos apenas o repasse de conteúdo pedagógico e o cuidado das crianças para que mães pudessem trabalhar fora. Nos dias atuais a escola já tem assumido o papel de desenvolver plenamente o potencial das crianças e não mais simplesmente guardá-las, conforme é colocado no Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998, p. 28). Na escola os atributos como elementos constituintes de várias ciências, são muitas vezes apresentados como verdade absoluta, uma vez que ao apresentar uma série de resultados definitivos focados em determinados assuntos, acaba por desconsiderar outras nuances que compõem a formação de uma sociedade e seus constituintes. O conhecimento científico mesmo que possua grande importância social ao possibilitar que por meio dele aconteça transformação da vida do homem, além de fazer com ele possa melhor entender e desfrutar daquilo que tanto a natureza como a sociedade podem lhe oferecer, não deve ser encarado como o ponto crucial do desenvolvimento da estrutura do homem. Assim, ao se trabalhar, por exemplo, com aspectos como os dos valores morais que servem para orientar as pessoas no momento de escolhas adequadas, tem-se que este aspecto deve perpassar pelo papel que um professor teria na ajuda da construção de melhores “cidadãos”, ao fazer da prática das aulas um momento de reflexão e da construção da sociedade que se almeja. Por isso como não pensar no repasse dos valores justamente neste momento? Os PCNs (1998) vêm definindo que temas como os da ética sejam trabalhados como transversais, ou seja, devem ser trabalhados em vários conteúdos. Todavia, na escola tem sido questionável tanto a forma como este aspecto tem sido trabalhado e mesmo se este tem sido até trabalhado. Diante disso somos instigados a questionar? Como prerrogativa do PCN, será que professores de Geografia têm desenvolvido os temas transversais em suas aulas em especial os que envolvem a ética e valores morais? Como têm sido tratados estes temas? Isto é importante uma vez que a ética é um elemento vital na produção da realidade social. Todo homem possui um senso ético, que pode ser chamado de “consciência moral” que constantemente avalia e julga suas ações. Também pode ser colocado que a ética está relacionada à opção, ao desejo de manter relações de convívio, por exemplo, de formas mais justas e aceitáveis. A ética na educação é um tema que busca refletir os benefícios que envolvem a sua utilização no processo de aprendizagem. Quando a criança ingressa na escola é cercada por situações que envolvem estímulos e motivações e os incentivos dos professores atuam como um grande auxiliar nesses processos. O ensino de Geografia pode realizar diante disto, um trabalho que proporcione aos alunos uma maior reflexão sobre ética e valores morais com idéias de bem e virtude. 79 Discente da Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO [email protected] 80 Docente da Universidade Estadual do Centro-Oeste - UNICENTRO [email protected] 112 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 Entendemos que, através do ensino de Geografia, pode-se realizar um trabalho que proporcione aos alunos reflexão sobre a ética e os valores morais. O presente trabalho busca focalizar o emprego da ética nos ensinos disciplinares, a saber, a Geografia, como base no processo ensino-aprendizagem. Diante disso, o trabalho tem como objetivo analisar de que forma o tema “ética” está sendo aplicado na escola, com o propósito de verificar se os professores de Geografia trabalham este tema em sala de aula, uma vez que se trata de um tema transversal dos PCN’s. Por meio de pesquisa bibliográfica, que fornecerá um embasamento teórico; pesquisas nas escolas, com observações em sala de aula; aplicação de questionário direcionado aos professores de Geografia, com perguntas abertas e fechadas e construção de gráficos e tabelas, pretende-se caminhar na busca de se atingir os objetivos desta pesquisa. O trabalho espera contribuir de forma significativa no processo de formação dos alunos, ajudando na formação de cidadãos e que possa contribuir no dia a dia dos professores, além de buscar trazer à tona um tema tão discutido e pouco aplicado na prática. Palavras-chave: ética, educação, ensino de Geografia. 113 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 O COMPORTAMENTO EROSIVO E SUA RELAÇÃO COM A VEGETAÇÃO RIPÁRIA: UM ESTUDO DE CASO Fernando Fernandes81 Wilson Flavio Feltrim Roseghini82 Resumo: Geograficamente, a diferenciação e caracterização de áreas são resultantes das particularidades e evento próprio de cada espaço, dessa forma fatores modeladores e transformadores do ambiente geográfico atuam de maneira distinta em cada área. Por seguinte, para se compreender a dinâmica evolutiva de um espaço é necessária a delimitação de alguns fatores que podem interferir no ambiente (ROSS 2001). Sendo assim, no caso das formações ciliares, dentre outras, sabe-se evidentemente que a dinâmica erosiva esta relacionada basicamente com a precipitação atmosférica e a intensidade vegetativa da área de ocorrência do fenômeno. SILVA (2003) aborda que a tipologia pedológica também é outro fator significante na forma e magnitude de ocorrência da atividade erosiva, destacando ainda o clima e a cobertura vegetal. Baseado nessa premissa objetiva-se com esse trabalho analisar alguns mecanismos ocorrentes nas formações ciliares, através da relação da precipitação com a erosão para se compreender a interferência da variável meteorológica chuva dentro do processo geomorfológico, colocado por GUERRA (2007) como sendo o princípio da dinâmica erosiva. Conseqüentemente sabe-se que o principio erosivo é oriundo do processo de saltitação de partículas do solo devido ao choque das gotas de chuva, onde esse processo como descrito por GUERRA (2005) favorece para a formação de crostas que acabam por interferir na intensidade de infiltração, diminuindo assim a aeração e causando desta forma um escoamento superficial ao solo. TUCCI (1993) cita que a água fica retida na vegetação e em muitos casos retorna a atmosfera, não influenciando no princípio da dinâmica erosiva. Portanto a vegetação e a sua densidade além da tipologia, umidade e massa específica age interceptando a precipitação e dinamizando a erosão. Dessa forma para se comprovar o processo climático - geomorfológico faz-se na localidade Rural de Papanduva de Cima no Município de Prudentópolis PR um acompanhamento da atividade erosiva em uma área experimental de solo tipo Cambissolo, com inclinação em torno de 35º e relevo tipo ondulado. Esta área foi dividida em duas parcelas onde cada uma possui 300m², diferenciando-se uma da outra pela intensidade de vegetação e pela sua tipologia, destaca-se também que a parcela 1 caracteriza-se pela presença de vegetação rasteira e baixa densidade vegetacional, sendo ribeira a um córrego da região, enquanto que a parcela 2 faz divisa com a 1 e também é ciliar ao córrego.Em ambas como instrumento de pesquisa, introduziu-se no solo vergalhões de ferro tendo 0,8cm de diâmetro e 50 cm de comprimento em um total de 24 estacas, onde foram distribuídos de forma aleatória 12 desses em cada parcela. Estes por sua vez tiveram 50% de seu comprimento inserido no solo. Dessa forma para se medir o deslocamento de sedimentos confeccionou-se uma régua graduada de formato cilíndrico com interior vazio possuindo escala milimétrica, de tamanho 50 cm e 4 cm de diâmetro. Sendo assim os pinos foram freqüentemente medidos cerca de 15 dias de intervalo, onde foi através da postura da régua sobre as estacas que possuíam inicialmente metade de seu comprimento, 25 cm, acima da superfície, que se obteve os resultados requeridos. No entanto faz-se também a mensurações das precipitações que ocorrem e ocorrerão até o fim da pesquisa, onde será feita a correlação dos eventos chuvosos com a variação erosiva das parcelas, 81 82 Graduando em Geografia da UNICENTRO, IRATI – [email protected] Mestre em Geografia, Prof. Colaborador do Degeo – Unicentro/Irati – [email protected] 114 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 comparando ainda com dados da estação meteorológica de Ivaí, a mais próxima da área de estudo. As áreas amostrais estão localizadas próximas uma da outra cerca de 50m, dessa forma ambas possuem o mesmo tipo de topografia solo e formação geológica diferenciando-se apenas na tipologia vegetal. Por vez, o índice pluviométrico precipitado é considerado equivalente para as duas áreas. Entretanto o total precipitado varia devido a diferenciação da vegetação, assim a quantidade de água que acaba por atingir o solo é diferente nas parcelas, pois uma destas possuem vegetação exuberante e dossel bem fechado enquanto na outra observa-se a presença de herbáceas, gramíneas esparsas sobre o espaço analisado. Através de algumas analises e comparações de gráficos da evolução erosiva e do histórico pluviométrico do local pode-se afirmar que o processo erosivo ocorre nas duas parcelas tendo fases de deposição e erosão, entretanto na área de pouca vegetação há um grande desvio padrão da média erosiva, apresentando grandes extremos que coincidem com os eventos chuvosos; já na parcela vegetada o desvio padrão da média erosiva foi baixo, tendo valores mais estáveis com menor amplitude. Portanto, nota-se que a variável predominante na relação de erosão com a precipitação ficou caracterizada como sendo a vegetação, onde sua intensidade e tipologia fizeram surgir em cada parcela um índice erosivo único. Assim, nessa pesquisa a topografia e o tipo de solo não foram variáveis significantes para caracterizar ainda mais cada parcela. REFERÊNCIAS: GUERRA, A. J. T.; SILVA, A. S. da; BOTELHO, Rosangela G. M. (organizadores). Erosão e Conservação dos Solos: Conceitos, temas e aplicações. – 3ª edição – Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007. 340P. SILVA, A. M. da; SCHULZ, H. E; CAMARGO, Plínio B. de. Erosão e Hidrossedimentologia em Bacias Hidrográficas. São Carlos: RIMA, 2003. 140 P. TUCCI; C.E.M (org) Hidrologia: Ciência e Aplicação - Porto Alegre: Ed. Da Universidade: ABRH. Edusp, 1993. 943P. ROSS, Jurandyr Luciano Sanches. Geomorfologia:ambiente e planejamento. 6ª ed-São Paulo: contexto, 2001- (Repensando a Geografia). 115 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL EM IRATI-PR: A VILA RAQUEL EM QUESTÃO Giseli Andréa dos Santos83 Karla Rosário Brumes 84 Resumo: A palavra mais simples para definir segregação é separação. A segregação é um processo antigo que teve seu início, com o aparecimento das cidades, e que nos dias atuais tem ganhado diversas modalidades. Sobre a segregação Vasconcelos (2004) nos fornece uma importante contribuição. De acordo com este autor, o estudo da segregação surge inicialmente pelas formulações da Escola de Chicago (1910-1939) sendo relacionado à separação espacial de etnias, línguas e culturas. Só entre as décadas de 1940 e 1960 é que a concepção de segregação vai ser relacionada como produto de invasão, sucessão e diferenciação residencial nos quais o fator econômico se apresenta como um elemento relevante nesse processo. Nesta perspectiva, a contribuição de Vasconcelos (2004) se apresenta como um importante referencial para os estudiosos dos fenômenos de estruturação/reestruturação do espaço urbano. Foi, contudo com a análise das lutas de classe e seu reflexo na (re) produção do espaço urbano que a segregação adquire uma importância mais relevante. Neste contexto, as contribuições de Castells (2000), na explicação do fenômeno durante a década de 1970-1980, e de Villaça (2001), na explicação desse fenômeno na atualidade, se apresentam como importantes referenciais ao analisarem a segregação espacial como um reflexo da estruturação do espaço urbano. Em linhas gerais, estes autores associam o processo de segregação espacial como conseqüência da sobreposição dos fatores de ordem econômica – especialmente no que se refere ao acesso à moradia; político – no que se refere às decisões acerca da ocupação espacial; e ideológico – reflexo da dinâmica social. Nessa perspectiva, a segregação corresponderia a “um processo dialético, em que a segregação de uns provoca, ao mesmo tempo pelo mesmo processo, a segregação de outros” (Villaça, iden., p. 148). Este processo se apresenta como reflexo da luta de classes quanto à localização no espaço, ou seja, sua posição dentro da cidade o que faz com que se torne o principal elemento de dominação social, política e econômica por meio do espaço (Villaça, 2001, p. 150). Desta forma, se torna mais oportuno o uso do termo socioespacial como adjetivação do processo de segregação. Diante do quadro de referências apresentado, a segregação socioespacial reproduz a relação entre dominantes e dominados – relação fundamental para a estruturação/reestruturação do espaço urbano. Diante do apresentado, este trabalho tem como objetivos compreender as dinâmicas sócio-espaciais na Vila Raquel bairro de Irati-PR; caracterizar quais processos que contribuíram para a sua formação enquanto possível espaço segregado; além de propiciar aos alunos do ensino fundamental e médio conhecimentos referentes ao conceito de segregação sócio-espacial, como, onde, e por que ela acontece. Para isso estamos realizando pesquisa bibliográfica (que visa fazer um resgate histórico do processo de urbanização no Brasil, realizada a partir da década 1950, e que deixou o processo de segregação mais evidente); aplicação de questionários e entrevistas com moradores do bairro. Também analisar um estudo de caso, para se tentar entender melhor as dinâmicas de um bairro em uma cidade com aproximadamente 55.000 mil habitantes, onde, nos parece que a questão da segregação se faz presente diante da sua localização afastada, com componentes reais de moradores de classe baixa, com falta de infra-estrutura básica (como esgoto, o transporte urbano, a falta de pavimentação, e 83 84 Discente da Universidade Estadual do Centro-Oeste – Unicentro, [email protected] Docente da Universidade Estadual do Centro-Oeste – Unicentro, [email protected] 116 Anais da IV Semana de Geografia de Irati – 1º a 06 de setembro de 2008 ISSN 1983-4667 saúde inadequadas). O trabalho já demonstra por meio dos questionários aplicados a 10% da população que mora no bairro que os mesmos se sentem abandonados por parte do poder público devido à falta de assistência básica. Buscamos por meio da análise do conceito de segregação, compreender que mesmo em uma cidade pequena como IratiPR, podem ser encontradas dinâmicas com características de cidades maiores, ou seja, a segregação socioespacial é um fenômeno que também é recorrente às classes de menor poder aquisitivo, todavia, uma segregação não realizada por vontade própria. Palavras chave: segregação urbana, espaços urbanos, ensino de Geografia. 117