CENTRO UNIVERSITÁRIO MOURA LACERDA
CURSO DE AGRONOMIA
Nível de dano de Helicoverpa armigera (Hübner)
(Lepidoptera: Noctuidae) em plântulas de feijão
(Phaseolus vulgaris L.) cv. BRS-Estilo
LUCAS ANDRÉ GENARI
Ribeirão Preto, SP
2014
CENTRO UNIVERSITÁRIO MOURA LACERDA
CURSO DE AGRONOMIA
Nível de dano de Helicoverpa armigera (Hübner)
(Lepidoptera: Noctuidae) em plântulas de feijão
(Phaseolus vulgaris L.) cv. BRS-Estilo
LUCAS ANDRÉ GENARI
Orientador: Prof. Dr. Alexandre de Sene Pinto
Trabalho apresentado ao Centro
Universitário
Moura
Lacerda,
como exigência para obtenção do
título de Engenheiro Agrônomo.
Ribeirão Preto, SP
2014
ii
„‟A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios.
Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente,
antes que a cortina se feche e a peça termine sem
aplausos‟‟.( Charles Chaplin)
„‟O sucesso só é alcançado por aqueles que não
desistem de tentar.‟‟
À minha família, principalmente à minha mãe Rosa Aparecida
de Castro Genari, ao meu pai Marino Genari, ao meu irmão
Marino Henrique Genari, aos meus avós Osvaldo, Vera, Onofre
e Maria Amélia,e também aos meus tios, primos, amigos e
todas as pessoas que me apoiaram ao longo do curso,
mostrando que na vida temos que ser persistentes, buscar
nossos sonhos e nunca desistir.
A Gabrielle Freitas que compartilha mais um momento especial
em minha vida.
Aos meus amigos de sala, em especial Walter Mendes,
Rodrigo Dine, Filipe Aurélio, Douglas Moraes, Gustavo Barbieri,
João Roberto Berchan, que estiveram presentes nos momentos
bons e nos difíceis que passamos nestes quatro anos e meio
de curso.
Ao meu orientador Alexandre, que com sua dedicação não
mediu esforços para me orientar e apoiar e, com sua alegria
contagiante, honestidade, simplicidade e grande sabedoria,
soube auxiliar-me na realização deste trabalho.
DEDICO
iii
AGRADECIMENTOS
Agradeço, primeiramente, a Deus, por guiar-me, dar-me força e
coragem para enfrentar todos os obstáculos que surgiram em minha jornada.
À minha mãe, ao meu pai e a toda minha família, pelo apoio nestes
anos de faculdade.
Ao meu orientador, Prof. Dr. Alexandre de Sene Pinto, por ter-me
ajudado e orientando para que este trabalho obtivesse sucesso e coerência.
Aos meus amigos, Walter Mendes, Rodrigo Dine, Filipe Aurélio,
Douglas Moraes, João Roberto Berchan e Murilo Gaspar Litholdo que sempre
incentivavam a realização deste trabalho.
Aos membros da banca, que contribuíram com carinho, honestidade e
transparência para a conclusão deste trabalho.
Aos funcionários e professores do Centro Universitário Moura Lacerda,
que estiveram presentes diretamente e indiretamente durante todo o curso de
Agronomia.
À Coordenadora do curso, Profa. Dra. Marta Maria Rossi, pelo
constante incentivo e colaboração.
Assim, “que Deus nos ajude‟‟.
SUMÁRIO
PÁGINA
RESUMO .........................................................................................
v
SUMMARY ......................................................................................
vi
1 INTRODUÇÃO ................................................................................
1
2 REVISÃO DE LITERATURA ..........................................................
3
3 MATERIAL E MÉTODOS ................................................................
9
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO .......................................................
12
5 CONCLUSÕES ...............................................................................
16
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...............................................
17
v
RESUMO
A lagarta Helicoverpa armigera (Hübner) (Lepidoptera: Noctuidae) chegou ao
Brasil em 2012 e vem causando prejuízos severos aos agricultores,
especialmente nas culturas do algodão, feijão, milho, soja e tomate da regiões
Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Pouco se conhece sobre seus danos às
culturas no país e o feijoeiro é uma das culturas menos estudadas dentre as
citadas. Portanto, esse trabalho teve por objetivos avaliar o nível de dano
causado pela lagarta H. armigera de 3º ínstar em plântulas de feijão cv. BRSEstilo. O ensaio foi semeado em 10/04/2014, em Ribeirão Preto, SP, com
espaçamento de 0,5 m e 12 plantas por metro. Em um delineamento em blocos
casualizados, as infestações (18/04) de 0 (testemunha), 0,1, 0,2, 0,5 e 1 lagarta
por planta foram repetidas quatro vezes, em parcelas de 0,5 m2 cercadas por
barreias de PVC de 20 cm de altura e com bordadura de 1 m. Após 1, 3, 7 e 14
dias após a infestação foi anotada a porcentagem de desfolha. A porcentagem
média de desfolha foi proporcional à densidade de lagartas. O nível de dano de
lagartas de 3º ínstar de H. armigera é de 1,4 lagartas por planta e, dessa
forma, o nível de controle deve ser de 0,7 lagartas por planta de feijoeiro.
Palavras-chave: praga agrícola, entomologia econômica, biologia.
vi
SUMMARY
Economic injury level of Helicoverpa armigera (Hübner) (Lepidoptera:
Noctuidae) on bean (Phaseolus vulgaris L.) seedlings cv. “BRS-Estilo”.
Helicoverpa armigera (Hübner) (Lepidoptera: Noctuidae) arrived in Brazil in
2012 and has caused severe losses to farmers, especially in cotton, beans,
corn, soybean and tomato, in North, Northeast and Midwest regions. Little is
known about their damage to crops in the country and the bean is one of the
least studied among the crops mentioned. Therefore, this study aimed to
assess the economic injury level of 3rd instar H. armigera larva to bean
seedlings cv. “BRS-Estilo”. The trial was sown on April 10, 2014, in Ribeirão
Preto, São Paulo, Brazil, at spacing of 0.5 m and 12 plants per meter. In a
randomized block design, infestations (April 18) of 0 (control), 0.1, 0.2, 0.5 and
1 larvae per plant were repeated four times in plots of 0.5 m 2 surrounded by
plastic barriers of 20 cm and 1 m boundary. After 1, 3, 7 and 14 days after
infestation were evaluable percent defoliations. The average percentage of
defoliation was proportional to the density of caterpillars. The economic injury
level of 3rd instar larva of H. armigera for common bean is 1.4 larvae per plant
and thus the economic threshold should be 0.7 larvae for bean plant.
Key words: crop pest, economic entomology, biology.
1 INTRODUÇÃO
As culturas do algodão, feijão, milho, soja e tomate têm sofrido muito
esses últimos anos com os danos causados por lagartas da subfamília
Heliothinae, especialmente nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste do
país e, como comentado por Czepak, Vivan e Albernaz (2013), independente
dessas plantas cultivadas serem transgênicas ou convencionais. Três espécies
de lagartas da subfamília Heliothinae têm sido observadas causando danos
nessas culturas, sendo elas: Heliothis virescens (Fabricius), Helicoverpa zea
(Boddie) e Helicoverpa armigera (Hübner) (Lepidoptera: Noctuidae).
H. armigera é uma espécie que até pouco tempo era considerada
praga quarentenária A1 no Brasil, mas que foi recentemente detectada nos
estados de Goiás, Bahia e Mato Grosso, associada principalmente às culturas
do algodão e da soja (CZEPAK et al., 2013), não sendo registrada no restante
do continente americano.
É uma espécie extremamente polífaga, cujas larvas foram registradas
em mais de 60 espécies de plantas cultivadas e silvestres e em mais de 60
famílias hospedeiras, incluindo Asteraceae, Fabaceae, Malvaceae, Poaceae e
Solanaceae (PAWAR; BHATNAGAR; JADHAV, 1986; FITT, 1989; POGUE,
2004), podendo causar danos a diferentes culturas de importância econômica,
como o algodão, leguminosas em geral, sorgo, milho, feijão, tomate, plantas
ornamentais e fruteiras (REED, 1965; FITT, 1989; MORAL GARCIA, 2006).
Essa praga, além de muito polífaga e voraz (CZEPAK et al., 2013), se
desenvolve muito rápido, completando seu ciclo de vida em quatro a seis
semanas, atingindo várias gerações em um ano (FITT, 1989), os adultos
2
conseguem voar a mais de 1.000 Km (PEDGLEY, 1985), conferindo à espécie
uma grande capacidade de dispersão. Além disso, é uma praga com vários
registros de resistência a inseticidas (MABBETT; DAREEPAT; NACHAPONG,
1980; MAELZER; ZALUCKI, 2000).
Pouco se conhece sobre os danos de H. armigera no feijoeiro, mas
sabe-se, de uma forma geral, que essa espécie causa desfolha e ataca flores,
vagens e grãos das leguminosas em geral (REED, 1965; WANG; LI, 1984).
As plântulas de feijoeiro (estádio V2) suportam até 50% de desfolha
causada por pragas, tais como lagartas, vaquinhas etc., sem sofrer perdas na
produção (QUINTELA; BARRIGOSSI, 2001), mas Fazolin e Estrela (2003)
verificaram que desfolhas de 33% já são prejudiciais a plantas no estádio V 3 de
desenvolvimento. Aos 24 dias da germinação, desfolha de 25% podem causar
cerca de 20% de queda na produtividade (SILVA et al., 2003), mas mais
desenvolvido, o feijoeiro suporta 30% no estádio vegetativo (V3-4) e 15% no
estádio reprodutivo (R6-8) (QUINTELA; BARRIGOSSI, 2001), com perdas na
produção com desfolhas superiores a 50%, sendo o estádio o que mais sofre
com a desfolha crescente (SCHIMLDT et al., 2010).
Desta forma, este trabalho teve por objetivo estudar o nível de dano
causado por lagartas de 3º ínstar de H. armigera em plântulas de feijão cultivar
BRS-Estilo, em Ribeirão Preto, SP.
2 REVISÃO DE LITERATURA
Helicoverpa armigera é uma praga altamente polífaga de importantes
culturas em partes da África, Ásia, Austrália (incluindo Oceania) e Europa
(KING, 1994). Nas Américas, essa praga não havia sido detectada até 2013,
quando sua ocorrência foi registrada em várias regiões agrícolas do Brasil
(CZEPAK et al., 2013). Devido ao número de culturas que esta praga afeta,
tem muitos nomes comuns (ZHANG, 1994; BEGEMANN; SCHOEMAN, 1999).
Os ovos de H. armigera são de coloração branco-amarelada com
aspecto brilhante logo após a sua deposição no substrato, tornando-se
marrom-escuro próximo do momento de eclosão da larva. A porção apical do
ovo é lisa, porém o restante da sua superfície é esculpida em forma de
nervuras longitudinais. O período de incubação dos ovos é, em média, de 3,3
dias, podendo variar de 3 a 14 dias (KING, 1994; FOWLER; LAKIN, 2001), com
o seu comprimento variando de 0,4 mm a 0,6 mm e a largura de 0,4 mm a 0,5
mm (ALI; CHOUDHURY, 2009).
As fêmeas realizam a oviposição normalmente durante o período
noturno e colocam seus ovos de forma isolada ou em pequenos agrupamentos
preferencialmente na face adaxial das folhas ou sobre os talos, flores, frutos e
brotações terminais com superfícies pubescentes (MENSAH, 1996).
O período larval de H. armigera é completado com o desenvolvimento
de seis a sete distintos ínstares (TWINE, 1978; KING, 1994; FOWLER; LAKIN,
2001). Os primeiros ínstares larvais, que apresentam coloração variando de
branco-amarelada a marrom-avermelhada e cápsula cefálica entre marromescuro a preto, alimentam-se inicialmente das partes mais tenras das plantas,
4
onde podem produzir um tipo de teia ou até mesmo formar um pequeno casulo
(Figura 1). Completa essa fase em 12 a 36 dias (KIRKPATRICK, 1962; BHATT;
PATEL, 2001; FOWLER; LAKIN, 2001).
Figura 1. Lagarta de Helicoverpa armigera em maçã do algodoeiro (Foto:
Negri).
A medida que as larvas crescem, adquirem diferentes colorações,
variando do amarelo-palha ao verde, apresentando listras de coloração marrom
lateralmente no tórax, abdômen e na cabeça, podendo o tipo de alimentação
utilizado pela lagarta influenciar na sua coloração (ALI; CHOUDHURY, 2009). A
partir do quarto ínstar, as lagartas apresentam tubérculos abdominais escuros
e bem visíveis na região dorsal do primeiro esta característica determinante
para a identificação de lagartas de H. armigera (MATTHEWS, 1999) (Figura 2).
Outra característica detectável nas lagartas desta espécie diz respeito
à textura do seu tegumento, que se apresenta com aspecto levemente
coriáceo, diferindo das demais espécies de Heliothinae que ocorrem no Brasil
5
(CZEPAK; VIVAN; ALBERNAZ, 2013). Esta característica no tegumento da
lagarta pode estar relacionada à capacidade de resistência que o inseto
apresenta aos inseticidas químicos, especialmente para os produtos que têm
ação de contato, como piretroides, organofosforados e carbamatos. Em adição,
a lagarta de H. armigera, quando é tocada, apresenta o comportamento de
encurvar a cápsula cefálica em direção à região ventral do primeiro par de
falsas pernas, provavelmente exibindo comportamento de defesa (ÁVILA;
VIVAN; TOMQUELSKI, 2013).
Figura 2. Desenho esquemático ilustrando a presença de tubérculos escuros
no primeiro e segundo segmento abdominal de Helicoverpa
armigera, caracterizando o formato de uma cela (ÁVILA; VIVAN;
TOMQUELSKI, 2013).
A fase de pré-pupa, período sem alimentação que antecede a fase de
pupa, dura de 1 a 4 dias (KING, 1994). A pupa de H. armigera é do tipo
obtecta; apresenta coloração marrom escura e superfície arredondada nas
partes terminais. Esta fase dura entre 10 e 14 dias (ALI; CHOUDHURY, 2009).
O desenvolvimento pupal ocorre no solo e, dependendo das condições
climáticas, pode entrar em diapausa (KARIM, 2000).
6
As fêmeas de H. armigera apresentam as asas dianteiras amareladas,
enquanto as dos machos são cinza-esverdeadas com uma banda ligeiramente
mais escura no terço distal e uma pequena mancha escurecida no centro da
asa, em formato de rim. As asas posteriores são mais claras, apresentando
uma borda marrom na sua extremidade apical. As fêmeas apresentam
longevidade média de 11,7 dias e os machos de 9,2 dias (ALI; CHOUDHURY,
2009). As fêmeas começam a liberar o feromônio sexual após 2 a 5 dias da
emergência, durante as primeiras horas da manhã. A cópula ocorre após 1 a 4
dias após a emergência dos adultos e é feita nos períodos mais frescos e
úmidos e cessa nos períodos mais quentes e secos (KING, 1994).
Os adultos de H. armigera são fortemente atraídos por flores que
produzem néctar, sendo esse recurso importante na seleção do hospedeiro, o
qual também influencia a sua capacidade de oviposição (CUNNINGHAM;
ZALUCKI; WEST, 1999).
Outros compostos secundários (semioquímicos) que são produzidos
pelas
plantas
hospedeiras
também
influenciam
o
comportamento
de
colonização de H. armigera (FIREMPONG; ZALUCKI, 1991). Cada fêmea,
durante o período de oviposição, que é de cerca de 5,3 dias, pode colocar de
730 a 3.000 ovos sobre as plantas hospedeiras (KING, 1994; FOWLER; LAKIN,
2001; NASERI et al., 2011; REED, 1965), podendo chegar ao máximo de 4.394
ovos por fêmea (KING, 1994), o que caracteriza o elevado potencial
reprodutivo desta espécie.
A grande capacidade de dispersão de H. armigera está estreitamente
relacionada à habilidade com que os adultos desta espécie apresentam de se
dispersar em condições de campo, podendo-se nesta fase migrar a uma
distância de até 1.000 km (PEDGLEY, 1985).
Associado a isso, esta espécie também apresenta alta capacidade de
sobrevivência em ambientes adversos, tais como excesso de calor, frio ou
seca, sendo possível ter várias gerações ao longo do ano, uma vez que o ciclo
de ovo a adulto pode ser completado dentro de quatro a cinco semanas (FITT,
7
1989). Na Austrália, pode chegar a sete gerações ao ano (KIRKPATRICK,
1962).
H. armigera é considerada uma espécie altamente polífaga, ou seja,
que apresenta a capacidade de se desenvolver em ampla gama de plantas
hospedeiras. Suas larvas têm sido registradas se alimentando e/ou causando
danos em mais de 100 espécies de plantas, sejam elas cultivadas ou não,
compreendendo cerca de 45 famílias, incluindo Asteraceae, Fabaceae,
Malvaceae, Poaceae e Solanaceae (ALI; CHOUDHURY, 2009; FITT, 1989;
PAWAR; BHATNAGAR; JADHAV, 1986; POGUE, 2004; REED; POWAR,
1982).
No Brasil, as lagartas de H. armigera já foram constatadas se
alimentando de várias culturas de importância econômica, tais como algodão,
soja, milho, tomate, feijão, sorgo, milheto, guandu, trigo e crotalária, bem como
em algumas espécies de plantas daninhas (ÁVILA; VIVAN; TOMQUELSKI,
2013).
Pelo fato de ser uma espécie polífaga, além das plantas hospedeiras
preferenciais nas quais as fêmeas, normalmente, realizam as posturas, outros
hospedeiros alternativos presentes nos arredores das lavouras assumem papel
decisivo na sobrevivência e dinâmica sazonal da praga, uma vez que dão
suporte à manutenção de suas populações em determinada região (FITT,
1989).
No Brasil, as maiores intensidades de danos econômicos causados por
lagartas de H. armigera têm-se verificado, até então, nas culturas de algodão,
milho, soja, feijão, tomate e sorgo. Na safra 2011/2012 foi registrado um grande
surto de lagartas de H. armigera na região oeste da Bahia, especialmente no
algodoeiro, quando foram constatadas perdas de até 80% da produção desta
cultura, segundo relatos dos produtores. Outras culturas como a soja e o milho,
sejam estas transgênicas (Bt) ou não, também foram atacadas por essa praga
na ocasião. Na safra 2012/2013 foram verificadas novamente incidências de H.
armigera nos cultivos da Bahia, em especial nas lavouras de soja irrigada,
8
algodão e feijão, quando os produtores tiveram que realizar várias aplicações
de inseticidas para o seu controle (ÁVILA; VIVAN; TOMQUELSKI, 2013).
Na safra de 2012/2013 foram constatados ataques de lagartas de H.
armigera em cultivos de soja dos estados do Maranhão e Piauí. Em Mato
Grosso, essa praga foi também observada atacando lavouras de algodão, soja
e milho, enquanto em Goiás os danos foram mais acentuados nas lavouras de
tomate e soja (ÁVILA; VIVAN; TOMQUELSKI, 2013).
As plântulas de feijoeiro (estádio V2) suportam até 50% de desfolha
causada por pragas, tais como lagartas, vaquinhas etc., sem sofrer perdas na
produção. Mais desenvolvido, o feijoeiro suporta 30% no estádio vegetativo (V 34)
e 15% no estádio reprodutivo (R6-8) (QUINTELA; BARRIGOSSI, 2001).
Schimldt et al. (2010), realizando desfolha artificial de feijão cultivar
Xamego, concluíram que a redução na produtividade é proporcional à desfolha
e que o estádio que mais teve diminuída a produção, com 100% de desfolha,
foi o R9.
Silva et al. (2003) estudaram a desfolha artificial e causada por
Diabrotica speciosa em plantas de feijoeiro de diferentes idades, verificando
que desfolhas superiores a 50% causam redução na produtividade,
independente da idade da planta, e que desfolha de 25% aos 24 dias após a
germinação, causa redução de 21,7% na produtividade.
Oliveira e Ramos (2012) estudaram a desfolha artificial de feijoeiro
cultivar Carioca e constataram que desfolhas de 75% reduziram em quase 70%
a peso de vagens.
Fazolin e Estrela (2003) avaliaram o efeito da desfolha artificial em
feijoeiro cultivar Pérola e concluíram que desfolhas a partir de 33% causaram
redução no número de vagens por planta nos estádios de desenvolvimento V3,
V4 e R7, sendo a fase R6 (florescimento) a mais prejudicada com a desfolha
crescente.
3 MATERIAL E MÉTODOS
Os trabalhos foram realizados no Campus do Centro Universitário
Moura Lacerda, localizado na cidade de Ribeirão Preto, SP, situado a 620
metros de altitude, e localizado a 21º12‟43” de latitude Sul e 47º46‟23‟‟ de
longitude Oeste.
As lagartas de Helicoverpa armigera utilizadas no ensaio, para
infestações artificiais, foram fornecidas pela Bug agentes biológicos S/A, de
Piracicaba, SP. As lagartas foram criadas em dieta artificial adequada à
espécie.
O ensaio foi semeado em 10/04/2014, sendo a semeadura realizada
com o auxílio de uma matraca. Foi utilizado feijão convencional não
transgênico do tipo Carioca, cultivar BRS-Estilo, com espaçamento de 50 cm
entre linhas e mantendo 12 plantas por metro, sendo realizado desbaste para
isso.
O delineamento experimental foi o de blocos casualizados, onde cada
parcela experimental constou de uma linha de 1 m, com 12 plantas, sendo a
bordadura de 1,0 m mantida no limpo. Ao redor de cada parcela foi montada
uma barreira com placas de PVC de 20 cm de altura (Figura 3).
Após a instalação das barreiras e quando as plântulas estavam com
três dias após a emergência (18/04), as parcelas foram infestadas
artificialmente com diferentes quantidades de lagartas (tratamentos), com
quatro repetições, sendo elas: 0, 1, 2, 6 e 12 lagartas de 3º ínstar por 12
10
plantas (0, 0,1, 0,2, 0,5 e 1 lagarta por planta). A adubação foi baseada na
análise de solo e irrigação por aspersão.
Figura 3. Barreiras instaladas ao redor de cada parcela experimental para
contenção das lagartas infestadas artificialmente no feijão. Ribeirão
Preto, SP, 2014.
Após a infestação com as lagartas, foram realizadas avaliações aos 1,
3, 7 e 14 dias, onde foi anotada a porcentagem de desfolha de cada planta.
Todos os dados obtidos foram submetidos a análise de variância
(ANOVA). Quando o teste F da ANOVA indicou significância de 5% de
probabilidade de erro, procederam-se as análises complementares por meio do
teste de Tukey a 5% de probabilidade, onde as médias foram comparadas.
11
Foram realizadas correlações entre a densidade de lagartas e a porcentagem
média de desfolha, sendo confeccionados gráficos e obtidos os coeficientes de
determinação (R2). As médias calculadas também foram submetidas à análise
de regressão, ao nível de 5%, para a verificação de correlações.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Nas parcelas experimentais, apesar das barreiras colocadas para se
evitar a fuga das lagartas inoculadas ou entrada de lagartas nas unidades,
houve
ocorrência
natural
de
outras
espécies,
que
desfolharam
as
plântulas/plantas de feijão, e depois do 3º dia, houve migração de lagartas de
Helicoverpa armigera de uma barreira à outra. Mesmo assim, pode-se discutir
os resultados, especialmente até o 3º dia da infestação, quando ainda não
haviam sido encontradas lagartas migrando.
Após um dia da infestação pôde-se observar maior porcentagem média
de desfolha no tratamento uma lagarta por planta, diferindo significativamente
da testemunha e da infestação de 0,1 lagartas planta-1 (Figura 4). Na
testemunha,
houve desfolha
de
2,50 ±
1,06%
causada por outros
desfolhadores naturais da localidade, mas a desfolha na maior densidade de
lagartas por planta atingiu 7,00 ± 1,27%.
Após três dias, o tratamento de maior densidade de lagartas por planta
diferiu estatisticamente de todos os demais tratamentos, apresentando
porcentagem média de desfolha de 21,50 ± 2,72%. A testemunha apresentou o
menor valor de desfolha (2,88 ± 1,01%), diferindo dos demais tratamentos, que
não diferiram entre si (Figura 4).
Aos sete dias da infestação, houve diferenças significativas entre os
tratamentos, semelhante a avaliação anterior. Mas aos 14 dias da infestação,
talvez pela migração de lagartas de uma parcela a outra, a testemunha não
diferiu dos tratamentos com 0,1 a 0,5 lagartas planta -1, que por sua vez não
13
diferiram do tratamento de maior densidade, quanto à porcentagem média de
desfolha (Figura 4).
40
Lagarta planta-1
0
35
0,1
0,2
0,5
a
1
Desfolha (%)
30
a
a
25
ab ab
ab
20
a
b
15
a
a
b
10
b
b
a
b
ab ab
5
b
b
c
0
1
3
7
Dias após a infestação
14
Figura 4. Porcentagem média de desfolha em plântulas/plantas de feijão
infestadas artificialmente na fase de plântula com diferentes
quantidades de lagartas de Helicoverpa armigera de 3º ínstar.
Ribeirão Preto, SP, 2014. Colunas seguidas pelas mesmas letras, em cada
data, não diferem entre si pelo teste de Tukey (P≤0,05).
Na última avaliação, a porcentagem média de desfolha variou de 10,43
± 1,78%, na testemunha, a 30,25 ± 4,32%, na densidade de uma lagarta por
planta, sendo esse valor considerado por Silva et al. (2003) prejudicial à cultura
do feijoeiro.
Analisando os gráficos da análise de regressão linear, onde em todas
as datas as correlações entre densidade de lagartas por planta e porcentagem
média de desfolha foram positivas e significativas (Figura 5), percebe-se que
para H. armigera de 3º ínstar ser prejudicial à cultura do feijoeiro após três dias
de infestação, bastariam ao redor de 1,2 lagartas por planta (y = 16,338x +
5,443) (Figura 5B), segundo Silva et al. (2003). Após 14 dias de infestação,
14
bastariam apenas 0,7 lagartas planta-1 para se atingir uma desfolha prejudicial
à cultura (Figura 5D).
35
35
Série1
30
A
y = 4,1296x + 2,7883
R² = 0,9067*
10
20
15
y = 16,338x + 5,4433
R² = 0,9257*
10
B
5
5
0
0
0
0,2
0,4
0,6
0,8
Lagartas por planta
1
0
1,2
35
0,2
0,4
0,6
0,8
Lagartas por planta
1
1,2
35
Série1
30
30
Linear (Série1)
20
y = 12,881x + 9,6428
R² = 0,8281*
15
10
C
25
Desfolha (%)
25
Desfolha (%)
Linear (Série1)
25
Desfolha (%)
Desfolha (%)
20
15
Série1
30
Linear (Série1)
25
y = 16,571x + 13,969
R² = 0,8485*
20
15
D
10
Série1
5
5
0
0
0
0,2
0,4
0,6
0,8
Lagartas por planta
1
1,2
Linear (Série1)
0
0,2
0,4
0,6
0,8
Lagartas por planta
1
1,2
Figura 5. Correlação entre a quantidade de lagartas de Helicoverpa armigera
de 3º ínstar por planta e a porcentagem média de desfolha em
plântulas/plantas de feijão após 1 (A), 3 (B), 7 (C) e 14 (D) dias da
infestação artificial na fase de plântula. Ribeirão Preto, SP, 2014.
Correlação significativa (*) (P≤0,05).
Entretanto, na média dos períodos permitidos à desfolha, tem-se que
1,4 lagartas de H. armigera de 3º ínstar plantas-1 (y = 12,48x + 7,9609) (Figura
6), ao redor dos 20 dias após a emergência, são suficientes para causar
prejuízos na produtividade do feijoeiro cultivar Carioca.
15
35
Série1
30
Linear (Série1)
Desfolha (%)
25
20
15
y = 12,48x + 7,9609
R² = 0,8816*
10
5
0
0
0,2
0,4
0,6
0,8
Lagartas por planta
1
1,2
Figura 6. Correlação entre a quantidade de lagartas de Helicoverpa armigera
de 3º ínstar por planta e a porcentagem média de desfolha em
plântulas/plantas de feijão na média de todos os dias após a
infestação artificial na fase de plântula. Ribeirão Preto, SP, 2014.
Correlação significativa (*) (P≤0,05).
Essa estimativa dos danos causados pela praga também concordam
com Quintela e Barrigossi (2001) e Fazolin e Estrela (2003), que verificaram
uma tolerância do feijoeiro no estádio V3-4 de até 30% de desfolha.
Novos estudos deverão ser planejados para definir melhor esses
níveis, incluindo diferentes ínstares da espécie, mas os fatores ambientais
deverão ser levados em consideração, assim como a ação de inimigos naturais
e o genótipo do feijoeiro.
Esse trabalho permite uma visão geral do potencial de danos de
lagartas de H. armigera para o feijoeiro, indicando a necessidade de assumir
alguma medida de controle antes da desfolha atingir 30%.
5 CONCLUSÕES
Baseado nas condições em que o experimento foi conduzido, pode-se
concluir que:
 as lagartas de 3º ínstar de Helicoverpa armigera causam danos à
cultura do feijoeiro (Phaseolus vulgaris L.) cultivar BRS-Estilo;
 o nível de dano de lagartas de 3º ínstar de H. armigera para plantas
novas de feijoeiro é de 1,4 lagartas planta-1;
 o nível de controle para H. armigera em feijoeiro no período
vegetativo deve ser de 0,7 lagartas planta-1.
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TCC Lucas Andre Genari