Conselho Editorial Av Carlos Salles Block, 658 Ed. Altos do Anhangabaú, 2º Andar, Sala 21 Anhangabaú – Jundiaí-SP – 13208-100 11 4521-6315 | 2449-0740 [email protected] Profa. Dra. Andrea Domingues Prof. Dr. Antonio Cesar Galhardi Profa. Dra. Benedita Cássia Sant’anna Prof. Dr. Carlos Bauer Profa. Dra. Cristianne Famer Rocha Prof. Dr. Fábio Régio Bento Prof. Dr. José Ricardo Caetano Costa Prof. Dr. Luiz Fernando Gomes Profa. Dra. Milena Fernandes Oliveira Prof. Dr. Ricardo André Ferreira Martins Prof. Dr. Romualdo Dias Profa. Dra. Thelma Lessa Prof. Dr. Victor Hugo Veppo Burgardt ©2014 Maria Izaura Cação; Suely Amaral Mello; Vandeí Pinto da Silva Direitos desta edição adquiridos pela Paco Editorial. Nenhuma parte desta obra pode ser apropriada e estocada em sistema de banco de dados ou processo similar, em qualquer forma ou meio, seja eletrônico, de fotocópia, gravação, etc., sem a permissão da editora e/ou autor. C1697 Cação, Maria Izaura; Mello, Suely Amaral; Silva, Vandeí Pinto da. Educação e Desenvolvimento Humano: contribuições da abordagem histórico-cultural para a educação escolar/Maria Izaura Cação; Suely Amaral Mello; Vandeí Pinto da Silva (orgs.). Jundiaí, Paco Editorial: 2014. 264 p. Inclui bibliografia. ISBN: 978-85-8148-497-6 1. Teoria Histórico-Cultural 2. Formação de professores 3. Educação escolar 4. Pedagogia I. Cação, Maria Izaura. II. Mello, Suely Amaral. III. Silva, Vandeí Pinto da. Índices para catálogo sistemático: Teoria da Educação Métodos de ensino Educação e Estado IMPRESSO NO BRASIL PRINTED IN BRAZIL Foi feito Depósito Legal 370.1 371 379 Sumário Apresentação 5 Maria Izaura Cação; Suely Amaral Mello; Vandeí Pinto da Silva Prefácio 17 PRIMEIRA PARTE EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO HUMANO Capítulo 1 – Fundamentos teóricos de la psicología histórico cultural 27 Diego Jorge González Serra Capítulo 2 – Escolarización y desarrollo: Algunos desafíos para los Enfoques Socioculturales 41 Ricardo Jorge Baquero Capítulo 3 – Conceitos vigotskianos e práticas pedagógicas – aproximações 61 João Batista Martins Capítulo 4 – Humanização como processo contínuo: o papel das Jornadas do Núcleo de Ensino de Marília 79 Stela Miller; Sueli Guadelupe de Lima Mendonça SEGUNDA PARTE FORMAÇÃO DO PROFESSOR COMO UM PROCESSO CONTÍNUO: a perspectiva histórico-cultural Capítulo 5 – Considerações sobre a formação e atuação de professores na perspectiva histórico-cultural Maria Isabel Batista Serrão 101 Capítulo 6 – Formação contínua e práticas educativas: possibilidades humanizadoras 119 Marta Chaves Capítulo 7 – A psicologização da educação e a perspectiva Histórico-Cultural: contribuições para a formação e atuação de professores Cláudia Aparecida Valderramas Gomes 141 TERCEIRA PARTE IMPLICAÇÕES PEDAGÓGICAS DA ABORDAGEM HISTÓRICO-CULTURAL PARA A EDUCAÇÃO ESCOLAR Capítulo 8 – Contribuições da Teoria da Atividade para educação escolar 159 Andréa Maturano Longarezi Capítulo 9 – O vivido, o aprendido-problematizado e o ensinado: em busca da compreensão da atividade de estudo 183 Cyntia Graziella Guizelim Simões Girotto Capítulo 10 – Implicações pedagógicas da teoria da formação das ações mentais formulada por Galperin 199 Alexandre Luiz Gonçalves de Rezende Capítulo 11 – O ensino de história na perspectiva histórico-cultural 221 Olavo Pereira Soares Capítulo 12 – Unidades e funções em linguagem: implicações pedagógicas da Teoria Histórico-Cultural 239 Dagoberto Buim Arena Organizadores e Autores 259 Apresentação Maria Izaura Cação Suely Amaral Mello Vandeí Pinto da Silva Compõem o livro Educação e desenvolvimento humano: contribuições da abordagem histórico-cultural para a educação escolar textos resultantes de conferências e palestras proferidas durante as Jornadas do Núcleo de Ensino da Faculdade de Filosofia e Ciências – Unesp – campus de Marília, realizadas em 2009, 2010 e 2011 e durante o I Congresso Internacional sobre a Teoria Histórico-Cultural e 11ª Jornada do Núcleo de Ensino de Marília, ocorridos em 2012. Esses eventos tiveram como temas, respectivamente: “Escola, subjetividade e humanização”, “Ensino e aprendizagem como processos humanizadores: propostas da Teoria Histórico-Cultural para a Educação Básica”, “A Teoria Histórico-Cultural e a educação escolar: dos fundamentos à práxis” e “Teoria Histórico-Cultural em foco: perspectivas (inter)nacionais”. A publicação desta coletânea representa, no entanto, o percurso de onze jornadas que possibilitaram a realização do I Congresso Internacional sobre a Teoria Histórico-Cultural, num processo de amadurecimento teórico e de práticas humanizadoras, em decorrência de pesquisas realizadas no âmbito do Núcleo de Ensino de Marília e dos estudos vinculados ao Grupo de Pesquisa “Implicações Pedagógicas da Teoria Histórico-Cultural”. Em jornadas anteriores às aqui enfocadas, foram debatidos temas relacionados à fundamentação marxista do pensamento de Vigotski1, autor seminal da Teoria Histórico-Cultural, e ao pensamento daqueles que o sucederam: Leontiev, Luria, Davidov, Galperin, responsáveis pela consolidação dos pressupostos de base da teoria, bem como de sua efetividade no contexto da educação escolar. As discussões realizadas nesses eventos estão registradas nos livros Vygotski e a escola atual: fundamentos teóricos e implicações pedagógicas, organizado por Sueli Guadelupe de Lima Mendonça e Stela Miller, e Marx, Gramsci e Vygotski: aproximações, organizado por Sueli Guadelupe de Lima Mendonça, Stela Miller e Vandeí Pinto da Silva, ambos já publicados em segunda edição. 5 Maria Izaura Cação – Suely Amaral Mello – Vandeí Pinto da Silva (orgs.) As temáticas que compõem este livro retomam e aprofundam concepções de educação e desenvolvimento humano, na perspectiva da Teoria Histórico-Cultural, contemplando os seus reflexos para a educação escolar, a formação de professores e as implicações metodológicas que a teoria possibilita. Para a edição deste material que se completa com a publicação, também por esta editora, do livro Educação e humanização na perspectiva da Teoria Histórico-Cultural organizado por Stela Miller, Maria Valéria Barbosa e Sueli Guadelupe de Lima Mendonça, contamos com estudiosos e especialistas de diferentes regiões e universidades brasileiras, bem como com pesquisadores estrangeiros. Consideramos um privilégio e um desafio reunir tão ampla gama de pesquisadores em torno de uma teoria e suas implicações pedagógicas, como o conjunto de autores aqui presentes. Este livro está organizado em três partes. A PRIMEIRA PARTE, denominada “Educação e desenvolvimento humano”, apresenta os debates que tematizam de forma mais intensa a relação entre educação e desenvolvimento humano. Dentro dessa temática, o texto “Fundamentos Teóricos de la Psicología Histórico Cultural” do professor Diego Jorge González Serra, da Universidade de Havana, discute os fundamentos filosóficos marxistas-leninistas do enfoque histórico cultural que, conforme denuncia o autor, as leituras materialistas mecanicistas insistem em ignorar promovendo interpretações empobrecidas e pasteurizadas dos estudos de Vygotski e seus colaboradores. Para essa discussão, sustenta que os fundamentos teóricos da psicologia histórico-cultural podem ser resumidos nos seguintes aspectos que orientam também sua linha de argumentação: a unidade de teoria e prática, o método dialético materialista e a unidade dialética do objetivo e do subjetivo – princípios teóricos que se dirigem todos para a formação de um ser humano (individual e coletivo) espiritualmente superior em altruísmo, vida coletiva e criatividade. Para o autor, o estudo e o aprofundamento da filosofia marxista leninista são essenciais aos estudiosos da Teoria Histórico-Cultural e para suas implicações para o trabalho do psicólogo. Para nós, tais 6 Educação e Desenvolvimento Humano: contribuições da abordagem histórico-cultural para a educação escolar questões são igualmente essenciais para a formação do pedagogo e dos profissionais da educação de um modo geral, uma vez que a superação do entendimento do desenvolvimento humano como produto essencialmente da biologia constitui ainda hoje – apesar das quase cinco décadas de discussão do enfoque histórico-cultural no ocidente – um desafio crucial ao avanço da educação numa perspectiva desenvolvente. Por isso, o domínio desses fundamentos permitirá não apenas defender o enfoque das interpretações epistemológicas mal formuladas que enfrenta, mas também possibilitará a liberdade que advém do domínio teórico e que promove a autonomia e a criatividade, essenciais ao exercício profissional docente responsável pela formação da personalidade humana na escola desde os primeiros meses de vida dos seres humanos. Ao concluir a discussão, o autor nos convoca a todos à compreensão radical dos fundamentos marxistas da Teoria Histórico-Cultural ao perguntar afirmando: “Que fizeram Vygotski e os psicólogos histórico-culturais? Aplicar o marxismo à psicologia! Pois, é isso o que temos que fazer!” Continuando o tratamento da temática, Ricardo Jorge Baquero, professor da Universidade de Buenos Aires, apresenta alguns desafios que os modelos de origem vigotskiana enfrentam ao abordar problemas educativos e psicoeducativos no texto “Escolarización y desarrollo. Algunos desafíos para los enfoques socio culturales”. Inicialmente, o autor apresenta algumas ideias sugestivas formuladas há alguns anos por Eugene Matusov (2008) e que encontram, a seu ver, certa sintonia com importantes discussões protagonizadas no seio dos trabalhos psicoeducativos. Em seguida, ilustra as consequências das formulações a propósito de duas questões: a discussão em torno das unidades de análise na explicação psicológica, envolvendo a figura do indivíduo e sua persistência possível nos modelos vigotskianos, e os sentidos que a busca de significatividade nas aprendizagens escolares pode alcançar. Por fim, aponta os limites que ambos os problemas podem enfrentar se não forem explicitamente analisados. João Batista Martins, professor da Universidade Estadual de Londrina, no debate intitulado “Conceitos vigotskianos e práticas pedagógicas – aproximações”, aponta a especificidade e o necessá7 Maria Izaura Cação – Suely Amaral Mello – Vandeí Pinto da Silva (orgs.) rio comprometimento da educação para o fortalecimento das lutas populares, considerando que o conhecimento explicativo da realidade é central e orientador do potencial humanizador da escola que pratica uma educação desenvolvente. Para tanto, discute que a prática pedagógica deve considerar conceitos vertebradores da Teoria Histórico-Cultural como a gênese social das funções psicológicas superiores, o próprio conceito de desenvolvimento, a situação social de desenvolvimento e a zona de desenvolvimento próximo ou iminente. Na perspectiva de construir o que o autor denomina uma estratégia de instrução, discute a relação entre conceitos científicos e conceitos cotidianos, cuja articulação constitui a tarefa essencial da escola numa perspectiva desenvolvente e humanizadora. Nessa mesma perspectiva, discute a necessidade e as condições para o estabelecimento de uma estratégia de avaliação que assegure o caráter diagnóstico e prognóstico do processo de desenvolvimento da criança, articulando os conceitos cotidianos, os conceitos científicos e a zona de desenvolvimento próximo. O debate assinado por Stela Miller e Sueli Guadelupe de Lima Mendonça, ambas docentes da Universidade Estadual Paulista – campus de Marília, intitulado “Humanização como processo contínuo: o papel das Jornadas do Núcleo de Ensino de Marília” encerra esse módulo de discussão. Nesse debate, as autoras analisam o papel das Jornadas do Núcleo de Ensino de Marília no processo de humanização dos sujeitos envolvidos com o processo educativo na educação básica e no ensino superior que têm participado das Jornadas. Em suas onze edições, as Jornadas têm tomado o processo de humanização como foco de suas discussões e, a partir de sua segunda edição, adotou a Teoria Histórico-Cultural como fundamento para compreender os processos de educação numa perspectiva desenvolvente. As autoras revelam o fio condutor que tem orientado a organização temática das Jornadas, partindo do pressuposto de que, na relação dialética formada por professor, cultura e aluno, cabe ao professor dirigir o trabalho pedagógico de organização e de desenvolvimento do acesso dos alunos aos conhecimentos fundamentais ao processo de humanização. Nessa perspectiva, discutem como as 8 Educação e Desenvolvimento Humano: contribuições da abordagem histórico-cultural para a educação escolar Jornadas têm buscado o aprofundamento teórico dos processos de ensinar e de aprender e suas implicações para as práticas escolares. A SEGUNDA PARTE do livro focaliza a formação docente como processo contínuo, no âmbito da Teoria Histórico-Cultural, sob a denominação de “Formação do professor como um processo contínuo: a perspectiva histórico-cultural”. O debate “Considerações sobre a formação e atuação de professores na perspectiva histórico-cultural”, desenvolvido por Maria Isabel Batista Serrão, professora da Universidade Federal de Santa Catarina, parte do contexto atual de atuação docente inserida no movimento contraditório, amplo e complexo do “metabolismo do capital” que impõe limites para o desenvolvimento humano e questiona “o quê fazer”. Constrói sua argumentação sobre a tese de que, na perspectiva da Teoria Histórico-Cultural, a ação revolucionária é o horizonte para “a (re) conquista da condição de ser humano em um continuum de humanização” e aborda aspectos referentes à cognição e à emoção na formação de professores, analisando a aprendizagem e a atividade de ensino no âmbito dessa formação. A autora constrói sua argumentação a partir de três fatores inerentes também ao processo educativo na atualidade: “a degradação das relações entre o homem e a natureza; o movimento de intensificação do trabalho na educação, desencadeado por inúmeras medidas relacionadas à política de financiamento vinculada à produtividade acadêmica e aos atos populistas dos programas do governo federal dirigidos à educação básica; o refluxo da atuação dos movimentos sociais”. Analisa, a seguir a importância do desenvolvimento da cognição e da emoção como pressupostos para a formação de professores, enfocando as contribuições de Teoria Histórico-Cultural, mediante as formulações de Vigotski e dos demais construtores, no sentido de oferecer instrumentos teórico-metodológicos referentes ao exercício docente na perspectiva humanizadora e desenvolvente. Num texto impregnado de lirismo e sensibilidade estética, a autora conclui com um desafio: “Que campo de estrelas, nós trabalhadores da educação, poderíamos semear!” “Quais sentidos e significados seriam atribuídos em nossa atividade de ensino?”. 9 Maria Izaura Cação – Suely Amaral Mello – Vandeí Pinto da Silva (orgs.) Ainda problematizando a formação de professores como um processo contínuo, a docente Marta Chaves, da Universidade Estadual de Maringá, discute a formação de professoras para a educação infantil no texto “Formação contínua e práticas educativas: possibilidades humanizadoras”. A autora aponta os inúmeros problemas enfrentados na formação continuada e que dizem respeito tanto às políticas públicas como às concepções que dirigem o pensar e o agir na cultura escolar. Tais problemas aparentemente de menor significado, quando somados, obstaculizam a necessária formação contínua que promova as condições para o trabalho humanizador do professor da pequena infância, responsável pela formação da personalidade e pelo desejo de conhecer que será fundamental ao longo não só da vida escolar, mas da vida inteira do ser humano. Denuncia, além disso, as condições materiais que compõem o entorno cultural nas escolas frequentadas pelos filhos da classe trabalhadora nas pequenas e grandes cidades – em especial na escola para crianças de zero a três anos. Nesse universo, no entanto, aponta experiências de formação que orientadas para uma educação humanizadora e desenvolvente promovem a esperança por dias melhores. O texto de Cláudia Aparecida Valderramas Gomes, professora da Universidade Estadual Paulista – campus de Assis, “A psicologização da educação e a perspectiva histórico-cultural: contribuições para a formação e atuação de professores” encerra essa segunda parte. A autora problematiza a produção de queixas escolares definidas em termos de problemas emocionais, vivenciados pelas crianças e suas famílias, e conclama profissionais da Psicologia e da Educação a refletirem sobre aquilo que se tem denominado de psicologização da educação, no interior da qual se encontra frequentemente a concepção de que as emoções prejudicam a aprendizagem escolar. Para a autora, essa ideia, advinda da tradição idealista e subjetivista em Psicologia, dá sustentação à separação entre funções cognitivas e afetivas na consciência humana resultando na defesa de que a prática pedagógica diz respeito, tão somente, aos processos cognitivos. A discussão desenvolvida contrapõe a esta afirmativa a Psicologia Histórico-Cultural que propõe a impossibilidade de pensar o psi10 Educação e Desenvolvimento Humano: contribuições da abordagem histórico-cultural para a educação escolar quismo humano separando afeto e cognição e, para tanto, enfatiza a materialidade, a historicidade e o caráter interfuncional dos processos psicológicos humanos. O texto defende a importância de se analisar, teórica e criticamente, as práticas presentes no cotidiano escolar, o papel dos mediadores sociais e das condições concretas de vida e de educação quando se trata de instrumentalizar a formação e o trabalho docente, apresentando à Psicologia e à Educação o compromisso com um processo educativo desenvolvente. A TERCEIRA PARTE está organizada em cinco artigos e é dedicada ao debate acerca das possibilidades pedagógicas oferecidas para a educação escolar pela Teoria Histórico-Cultural, sob a denominação “Implicações pedagógicas da abordagem histórico-cultural para a educação escolar”. Andréa Maturano Longarezi, professora da Universidade Federal de Uberlândia, inicia a discussão da temática com o debate “Contribuições da teoria da atividade para a educação escolar” considerando a teoria da atividade como fundamento para a educação escolar e as atividades de ensino e de estudo como condição essencial para a formação e o desenvolvimento do pensamento teórico dos estudantes. Para a autora, tal formação e desenvolvimento constituem o objetivo central de uma educação escolar desenvolvente em que teoria e prática se tornam expressões do mesmo movimento de produção do ato pedagógico. Para sua argumentação, a autora elege dois campos de reflexão: o da teoria da atividade e o da educação escolar, buscando esclarecer o processo em que a atividade de ensino do professor medeia a atividade psíquica do estudante. A constituição da atividade envolve um conjunto de condições discutidas pela autora, entre as quais, a questão de que atividades de ensino e estudo devem originar-se de uma necessidade coletiva, precisam constituir-se mediante um conjunto de ações articuladas por um objetivo comum, de modo que o motivo da atividade de ensino coincida com o objeto da ação do professor. Tal situação não será fruto de uma ação espontânea, mas resultado da atitude intencional e consciente do professor e do coletivo escolar. Em outras palavras, defende a autora, a concretização da teoria da atividade na 11 Maria Izaura Cação – Suely Amaral Mello – Vandeí Pinto da Silva (orgs.) escola precisa ser objeto de um projeto de educação humanizadora no qual a educação realizada na escola tem papel fundamental. Cyntia Graziella Guizelim Simões Girotto, professora da Universidade Estadual Paulista – campus de Marília, discute “O vivido, o aprendido-problematizado e o ensinado: em busca da compreensão da atividade de estudo”. O texto problematiza a definição de uma genuína atividade de estudo pautada no enfoque histórico-cultural. Tendo presente o objetivo de propiciar uma educação humanizadora e desenvolvente, revisita pressupostos teóricos fundamentadores da atividade de estudo condizentes com a formação de sujeitos aprendizes. Observa que, na perspectiva histórico-cultural, a atividade de estudo é a atividade guia – e como tal deveria ser dominante – na faixa etária dos estudantes do Ensino Fundamental. Observa, ainda, que o êxito na resolução de tarefas depende do sentido que a atividade desenvolvida tem para o aluno, sujeito da atividade de estudo; depende de como a atividade proposta pode responder a um problema real do sujeito aprendiz. Por isso, a elaboração da proposta de ensino de modo consciente por parte do professor é essencial na criação das condições para a atividade de estudo também consciente por parte do estudante. A autora conclui retomando o desafio de superar a dicotomia entre a ênfase nos conteúdos e a ênfase no desenvolvimento da capacidade pensar, uma vez que ambos os elementos são essenciais à constituição do sujeito que aprende e se apropria das máximas potencialidades humanas. Alexandre Luiz Gonçalves de Rezende, professor da Universidade de Brasília, debate as “Implicações pedagógicas da teoria da formação das ações mentais formulada por Galperin”. Toma por base os estudos de Piotr Yakovlevich Galperin, célebre autor da teoria da formação por etapa das ações mentais, publicados nos periódicos Soviet Psychology e Soviet Education e no livro Psicologia de la enseñanza, de Nina F. Talízina, e reflete acerca dos objetivos da educação a partir de uma nova compreensão dos processos de ensinar e de aprender. Nessa perspectiva, a compreensão do papel da atividade no desenvolvimento do pensamento conduz a uma nova organização da prática educativa e essas alterações metodológicas 12 Educação e Desenvolvimento Humano: contribuições da abordagem histórico-cultural para a educação escolar repercutem na educação como um todo. Adotando como exemplo as transformações necessárias a um novo modelo de ensino do futebol, e pautado na teoria de Galperin sobre a formação da ação mental por estágios, o autor defende que, na organização da prática educativa, a seleção do conteúdo a ser ensinado deve considerar o princípio de unidade de análise proposto por Vigotski. Assim, aplicar a Teoria Histórico-Cultural para ensinar a jogar futebol requer a transformação da maneira de jogar e de compreender o jogo de futebol. A partir dessa nova perspectiva, o autor afirma a necessidade de desenvolver nos jogadores a capacidade de utilizar determinados conceitos sobre o futebol que permitam identificar e solucionar os problemas do jogo: ocupação de espaços, atuação em equipe, etc. Para isso, às habilidades individuais é preciso integrar a aprendizagem de como e quando seu uso pode ser inteligente e criativo. Conclui a discussão afirmando que a proposta formativo-conceitual de Galperin não se restringe ao ensino de determinados conhecimentos e habilidades, mas, sobretudo, ao desenvolvimento do pensamento e à sua utilização para aperfeiçoar as habilidades dos aprendizes nos diversos domínios do conhecimento humano. Olavo Pereira Soares, professor da Universidade Federal de Alfenas, no texto “O ensino de história na perspectiva histórico-cultural”, parte do pressuposto de que ensinar história é humanizar. Essa humanização, no entanto, exige que esse ensino possibilite aos alunos a compreensão de que as formas de sociabilidade atuais assim como as formas de produção da existência são frutos de um contexto histórico socialmente produzido e, por isso, passíveis de transformação. Nessa perspectiva de superação da naturalização dos fatos sociais e históricos, defende que o ensino de história deve apontar a produção de formas mais humanas de trabalho, lazer e também de educação escolar. Para o desenvolvimento da discussão, adota duas abordagens: a metodologia de ensino e o currículo escolar. Do ponto de vista da metodologia, defende a criação de necessidades de produção do conhecimento histórico nos alunos, superando por negação o senso-comum presente no interior da escola e a cultura midiática que propaga um presentismo que se impõe 13 Maria Izaura Cação – Suely Amaral Mello – Vandeí Pinto da Silva (orgs.) ao conhecimento da história humana, produzindo o que o autor chama de silenciamento das análises históricas numa perspectiva materialista e a discussão de uma história miúda que promovem – ambos – um ativismo no ambiente escolar, mas não contribuem para a compreensão e transformação da realidade, nem para a percepção de cada um como um sujeito histórico no movimento maior de produção da existência humana, produzida pelos seres humanos e por eles possível de ser transformada. A partir dessa discussão e da análise crítica dos documentos oficiais de orientação curricular, o autor defende que o currículo escolar de história deve valorizar o conhecimento histórico que coloque os alunos em atividade, motivados pelo querer saber mais. Encerrando esta terceira parte – e também o livro – com o texto intitulado “Unidades e Funções em Linguagem: Implicações Pedagógicas da Teoria Histórico-Cultural”, Dagoberto Buim Arena, professor da Universidade Estadual Paulista – campus de Marília, discute pressupostos da Teoria Histórico-Cultural que podem colaborar para a formação dos professores impactando os aspectos pedagógicos na organização da aula de ensino de linguagem em sua modalidade escrita, isto é, em atos de escrever e de ler. Os conceitos de unidade, de função e de estrutura são centrais na argumentação que desenvolve. Com eles, discute as implicações pedagógicas de se ensinar o grafema e o fonema como unidades, e não apenas como simples elementos técnicos reduzidos a letra e som, o que, segundo o autor, retira deles a propriedade e o dinamismo que os constituem, uma vez que são unidades de um todo significativo. Ao longo de uma densa argumentação, denuncia que na escola não se tem ensinado o ato de ler e de escrever, mas apenas o mecanismo de funcionamento da língua e, desse modo, os alunos não se apropriam da cultura escrita pois, a atribuição de sentido ao aspecto técnico de como se lê e se escreve exige a compreensão do papel social da escrita. Este é apropriado em atos de ler o desejo de expressão dos outros e de escrever o próprio desejo de expressão. O conjunto de reflexões que compõe este livro Educação e desenvolvimento humano: contribuições da abordagem histórico-cultural para a 14 Educação e Desenvolvimento Humano: contribuições da abordagem histórico-cultural para a educação escolar educação escolar tal como indica o título, busca de modo aprofundado oferecer possibilidades para o desenvolvimento humano na perspectiva de uma educação escolar humanizadora e desenvolvente. Numa escola como a brasileira na qual, segundo Longarezi e Puentes (2013, p. 10), “aprende-se pouco, aprende-se mal, aquilo que se aprende é esquecido com facilidade e interfere minimamente no desenvolvimento integral da personalidade dos estudantes”, consideramos relevante a contribuição da Teoria Histórico-Cultural no sentido de desvendar as condições materiais e subjetivas subjacentes à construção de um projeto humanizador de sociedade e à constituição de uma escola que contribua decisivamente para o desenvolvimento das máximas qualidades humanas de crianças e jovens. Avaliamos que os debates aqui apresentados trazem ricas contribuições para a reflexão e ação docentes necessárias à organização dessa escola pretendida e que pressupõe, dentre muitas outras condições, a formação inicial e continuada de professores na perspectiva histórico-cultural. Para além dessas contribuições é preciso aceitar o desafio de avançar na construção coletiva de novas políticas educacionais, pautadas na Teoria Histórico-Cultural, e, assim, fazer frente aos sérios problemas inerentes à escola atual. Marília, inverno de 2013... e que inverno! Nota 1. Optamos pelo uso da grafia Vigotski, versão mais corrente na língua portuguesa, porém, respeitamos as formas de uso nas diferentes procedências e edições do autor. Desse modo, quando houver citação de obra referenciada, a forma como o nome do autor figura será mantida. Referências LONGAREZI, A. M. e PUENTES, R. V. Apresentação. In: LONGAREZI, A. M. e PUENTES, R. V. (orgs.) Ensino desenvolvimental: vida, pensamento e obras dos principais representantes russos. Uberlândia: Edufu, 2013. 15