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©2014 Maria Izaura Cação; Suely Amaral Mello; Vandeí Pinto da Silva
Direitos desta edição adquiridos pela Paco Editorial. Nenhuma parte desta obra pode
ser apropriada e estocada em sistema de banco de dados ou processo similar, em
qualquer forma ou meio, seja eletrônico, de fotocópia, gravação, etc., sem a permissão
da editora e/ou autor.
C1697 Cação, Maria Izaura; Mello, Suely Amaral; Silva, Vandeí Pinto da.
Educação e Desenvolvimento Humano: contribuições da abordagem histórico-cultural para a educação escolar/Maria Izaura Cação; Suely Amaral
Mello; Vandeí Pinto da Silva (orgs.). Jundiaí, Paco Editorial: 2014.
264 p. Inclui bibliografia.
ISBN: 978-85-8148-497-6
1. Teoria Histórico-Cultural 2. Formação de professores 3. Educação escolar
4. Pedagogia I. Cação, Maria Izaura. II. Mello, Suely Amaral. III. Silva, Vandeí
Pinto da.
Índices para catálogo sistemático:
Teoria da Educação
Métodos de ensino
Educação e Estado
IMPRESSO NO BRASIL
PRINTED IN BRAZIL
Foi feito Depósito Legal
370.1
371
379
Sumário
Apresentação
5
Maria Izaura Cação; Suely Amaral Mello; Vandeí Pinto da Silva
Prefácio
17
PRIMEIRA PARTE
EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO HUMANO
Capítulo 1 – Fundamentos teóricos de la psicología histórico cultural 27
Diego Jorge González Serra
Capítulo 2 – Escolarización y desarrollo:
Algunos desafíos para los Enfoques Socioculturales
41
Ricardo Jorge Baquero
Capítulo 3 – Conceitos vigotskianos
e práticas pedagógicas – aproximações
61
João Batista Martins
Capítulo 4 – Humanização como processo contínuo:
o papel das Jornadas do Núcleo de Ensino de Marília
79
Stela Miller; Sueli Guadelupe de Lima Mendonça
SEGUNDA PARTE
FORMAÇÃO DO PROFESSOR COMO UM PROCESSO
CONTÍNUO: a perspectiva histórico-cultural
Capítulo 5 – Considerações sobre a formação
e atuação de professores na perspectiva histórico-cultural
Maria Isabel Batista Serrão
101
Capítulo 6 – Formação contínua e práticas educativas:
possibilidades humanizadoras
119
Marta Chaves
Capítulo 7 – A psicologização da educação e a
perspectiva Histórico-Cultural: contribuições
para a formação e atuação de professores
Cláudia Aparecida Valderramas Gomes
141
TERCEIRA PARTE
IMPLICAÇÕES PEDAGÓGICAS DA ABORDAGEM
HISTÓRICO-CULTURAL PARA A EDUCAÇÃO ESCOLAR
Capítulo 8 – Contribuições da Teoria
da Atividade para educação escolar
159
Andréa Maturano Longarezi
Capítulo 9 – O vivido, o aprendido-problematizado e o
ensinado: em busca da compreensão da atividade de estudo
183
Cyntia Graziella Guizelim Simões Girotto
Capítulo 10 – Implicações pedagógicas da teoria
da formação das ações mentais formulada por Galperin
199
Alexandre Luiz Gonçalves de Rezende
Capítulo 11 – O ensino de história na perspectiva histórico-cultural 221
Olavo Pereira Soares
Capítulo 12 – Unidades e funções em linguagem:
implicações pedagógicas da Teoria Histórico-Cultural
239
Dagoberto Buim Arena
Organizadores e Autores
259
Apresentação
Maria Izaura Cação
Suely Amaral Mello
Vandeí Pinto da Silva
Compõem o livro Educação e desenvolvimento humano: contribuições
da abordagem histórico-cultural para a educação escolar textos resultantes de
conferências e palestras proferidas durante as Jornadas do Núcleo de
Ensino da Faculdade de Filosofia e Ciências – Unesp – campus de Marília, realizadas em 2009, 2010 e 2011 e durante o I Congresso Internacional sobre a Teoria Histórico-Cultural e 11ª Jornada do Núcleo de
Ensino de Marília, ocorridos em 2012. Esses eventos tiveram como
temas, respectivamente: “Escola, subjetividade e humanização”, “Ensino e aprendizagem como processos humanizadores: propostas da
Teoria Histórico-Cultural para a Educação Básica”, “A Teoria Histórico-Cultural e a educação escolar: dos fundamentos à práxis” e “Teoria
Histórico-Cultural em foco: perspectivas (inter)nacionais”.
A publicação desta coletânea representa, no entanto, o percurso de onze jornadas que possibilitaram a realização do I Congresso
Internacional sobre a Teoria Histórico-Cultural, num processo de
amadurecimento teórico e de práticas humanizadoras, em decorrência de pesquisas realizadas no âmbito do Núcleo de Ensino de
Marília e dos estudos vinculados ao Grupo de Pesquisa “Implicações Pedagógicas da Teoria Histórico-Cultural”.
Em jornadas anteriores às aqui enfocadas, foram debatidos
temas relacionados à fundamentação marxista do pensamento de
Vigotski1, autor seminal da Teoria Histórico-Cultural, e ao pensamento daqueles que o sucederam: Leontiev, Luria, Davidov, Galperin, responsáveis pela consolidação dos pressupostos de base
da teoria, bem como de sua efetividade no contexto da educação
escolar. As discussões realizadas nesses eventos estão registradas
nos livros Vygotski e a escola atual: fundamentos teóricos e implicações pedagógicas, organizado por Sueli Guadelupe de Lima Mendonça e Stela
Miller, e Marx, Gramsci e Vygotski: aproximações, organizado por Sueli
Guadelupe de Lima Mendonça, Stela Miller e Vandeí Pinto da Silva,
ambos já publicados em segunda edição.
5
Maria Izaura Cação – Suely Amaral Mello – Vandeí Pinto da Silva
(orgs.)
As temáticas que compõem este livro retomam e aprofundam
concepções de educação e desenvolvimento humano, na perspectiva da Teoria Histórico-Cultural, contemplando os seus reflexos
para a educação escolar, a formação de professores e as implicações
metodológicas que a teoria possibilita.
Para a edição deste material que se completa com a publicação,
também por esta editora, do livro Educação e humanização na perspectiva da Teoria Histórico-Cultural organizado por Stela Miller, Maria Valéria Barbosa e Sueli Guadelupe de Lima Mendonça, contamos com
estudiosos e especialistas de diferentes regiões e universidades brasileiras, bem como com pesquisadores estrangeiros. Consideramos
um privilégio e um desafio reunir tão ampla gama de pesquisadores
em torno de uma teoria e suas implicações pedagógicas, como o
conjunto de autores aqui presentes.
Este livro está organizado em três partes. A PRIMEIRA PARTE, denominada “Educação e desenvolvimento humano”,
apresenta os debates que tematizam de forma mais intensa a relação
entre educação e desenvolvimento humano.
Dentro dessa temática, o texto “Fundamentos Teóricos de
la Psicología Histórico Cultural” do professor Diego Jorge González Serra, da Universidade de Havana, discute os fundamentos
filosóficos marxistas-leninistas do enfoque histórico cultural que,
conforme denuncia o autor, as leituras materialistas mecanicistas
insistem em ignorar promovendo interpretações empobrecidas e
pasteurizadas dos estudos de Vygotski e seus colaboradores. Para
essa discussão, sustenta que os fundamentos teóricos da psicologia
histórico-cultural podem ser resumidos nos seguintes aspectos que
orientam também sua linha de argumentação: a unidade de teoria
e prática, o método dialético materialista e a unidade dialética do
objetivo e do subjetivo – princípios teóricos que se dirigem todos
para a formação de um ser humano (individual e coletivo) espiritualmente superior em altruísmo, vida coletiva e criatividade.
Para o autor, o estudo e o aprofundamento da filosofia marxista
leninista são essenciais aos estudiosos da Teoria Histórico-Cultural
e para suas implicações para o trabalho do psicólogo. Para nós, tais
6
Educação e Desenvolvimento Humano:
contribuições da abordagem histórico-cultural para a educação escolar
questões são igualmente essenciais para a formação do pedagogo
e dos profissionais da educação de um modo geral, uma vez que
a superação do entendimento do desenvolvimento humano como
produto essencialmente da biologia constitui ainda hoje – apesar das
quase cinco décadas de discussão do enfoque histórico-cultural no
ocidente – um desafio crucial ao avanço da educação numa perspectiva desenvolvente. Por isso, o domínio desses fundamentos permitirá
não apenas defender o enfoque das interpretações epistemológicas
mal formuladas que enfrenta, mas também possibilitará a liberdade que advém do domínio teórico e que promove a autonomia e a
criatividade, essenciais ao exercício profissional docente responsável
pela formação da personalidade humana na escola desde os primeiros meses de vida dos seres humanos. Ao concluir a discussão, o
autor nos convoca a todos à compreensão radical dos fundamentos marxistas da Teoria Histórico-Cultural ao perguntar afirmando:
“Que fizeram Vygotski e os psicólogos histórico-culturais? Aplicar o
marxismo à psicologia! Pois, é isso o que temos que fazer!”
Continuando o tratamento da temática, Ricardo Jorge Baquero,
professor da Universidade de Buenos Aires, apresenta alguns desafios que os modelos de origem vigotskiana enfrentam ao abordar
problemas educativos e psicoeducativos no texto “Escolarización y
desarrollo. Algunos desafíos para los enfoques socio culturales”. Inicialmente, o autor apresenta algumas ideias sugestivas formuladas há
alguns anos por Eugene Matusov (2008) e que encontram, a seu ver,
certa sintonia com importantes discussões protagonizadas no seio
dos trabalhos psicoeducativos. Em seguida, ilustra as consequências
das formulações a propósito de duas questões: a discussão em torno
das unidades de análise na explicação psicológica, envolvendo a figura do indivíduo e sua persistência possível nos modelos vigotskianos, e os sentidos que a busca de significatividade nas aprendizagens
escolares pode alcançar. Por fim, aponta os limites que ambos os
problemas podem enfrentar se não forem explicitamente analisados.
João Batista Martins, professor da Universidade Estadual de
Londrina, no debate intitulado “Conceitos vigotskianos e práticas
pedagógicas – aproximações”, aponta a especificidade e o necessá7
Maria Izaura Cação – Suely Amaral Mello – Vandeí Pinto da Silva
(orgs.)
rio comprometimento da educação para o fortalecimento das lutas
populares, considerando que o conhecimento explicativo da realidade é central e orientador do potencial humanizador da escola que
pratica uma educação desenvolvente. Para tanto, discute que a prática pedagógica deve considerar conceitos vertebradores da Teoria
Histórico-Cultural como a gênese social das funções psicológicas
superiores, o próprio conceito de desenvolvimento, a situação social de desenvolvimento e a zona de desenvolvimento próximo ou
iminente. Na perspectiva de construir o que o autor denomina uma
estratégia de instrução, discute a relação entre conceitos científicos
e conceitos cotidianos, cuja articulação constitui a tarefa essencial
da escola numa perspectiva desenvolvente e humanizadora. Nessa mesma perspectiva, discute a necessidade e as condições para
o estabelecimento de uma estratégia de avaliação que assegure o
caráter diagnóstico e prognóstico do processo de desenvolvimento
da criança, articulando os conceitos cotidianos, os conceitos científicos e a zona de desenvolvimento próximo.
O debate assinado por Stela Miller e Sueli Guadelupe de Lima
Mendonça, ambas docentes da Universidade Estadual Paulista –
campus de Marília, intitulado “Humanização como processo contínuo: o papel das Jornadas do Núcleo de Ensino de Marília” encerra
esse módulo de discussão. Nesse debate, as autoras analisam o papel das Jornadas do Núcleo de Ensino de Marília no processo de
humanização dos sujeitos envolvidos com o processo educativo na
educação básica e no ensino superior que têm participado das Jornadas. Em suas onze edições, as Jornadas têm tomado o processo
de humanização como foco de suas discussões e, a partir de sua segunda edição, adotou a Teoria Histórico-Cultural como fundamento para compreender os processos de educação numa perspectiva
desenvolvente. As autoras revelam o fio condutor que tem orientado
a organização temática das Jornadas, partindo do pressuposto de que,
na relação dialética formada por professor, cultura e aluno, cabe ao
professor dirigir o trabalho pedagógico de organização e de desenvolvimento do acesso dos alunos aos conhecimentos fundamentais
ao processo de humanização. Nessa perspectiva, discutem como as
8
Educação e Desenvolvimento Humano:
contribuições da abordagem histórico-cultural para a educação escolar
Jornadas têm buscado o aprofundamento teórico dos processos de
ensinar e de aprender e suas implicações para as práticas escolares.
A SEGUNDA PARTE do livro focaliza a formação docente
como processo contínuo, no âmbito da Teoria Histórico-Cultural,
sob a denominação de “Formação do professor como um processo contínuo: a perspectiva histórico-cultural”.
O debate “Considerações sobre a formação e atuação de professores na perspectiva histórico-cultural”, desenvolvido por Maria
Isabel Batista Serrão, professora da Universidade Federal de Santa
Catarina, parte do contexto atual de atuação docente inserida no
movimento contraditório, amplo e complexo do “metabolismo do
capital” que impõe limites para o desenvolvimento humano e questiona “o quê fazer”. Constrói sua argumentação sobre a tese de que,
na perspectiva da Teoria Histórico-Cultural, a ação revolucionária é
o horizonte para “a (re) conquista da condição de ser humano em
um continuum de humanização” e aborda aspectos referentes à cognição e à emoção na formação de professores, analisando a aprendizagem e a atividade de ensino no âmbito dessa formação.
A autora constrói sua argumentação a partir de três fatores inerentes também ao processo educativo na atualidade: “a degradação
das relações entre o homem e a natureza; o movimento de intensificação do trabalho na educação, desencadeado por inúmeras medidas
relacionadas à política de financiamento vinculada à produtividade
acadêmica e aos atos populistas dos programas do governo federal
dirigidos à educação básica; o refluxo da atuação dos movimentos sociais”. Analisa, a seguir a importância do desenvolvimento da
cognição e da emoção como pressupostos para a formação de professores, enfocando as contribuições de Teoria Histórico-Cultural,
mediante as formulações de Vigotski e dos demais construtores, no
sentido de oferecer instrumentos teórico-metodológicos referentes
ao exercício docente na perspectiva humanizadora e desenvolvente.
Num texto impregnado de lirismo e sensibilidade estética, a autora
conclui com um desafio: “Que campo de estrelas, nós trabalhadores da educação, poderíamos semear!” “Quais sentidos e significados seriam atribuídos em nossa atividade de ensino?”.
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Maria Izaura Cação – Suely Amaral Mello – Vandeí Pinto da Silva
(orgs.)
Ainda problematizando a formação de professores como um
processo contínuo, a docente Marta Chaves, da Universidade Estadual de Maringá, discute a formação de professoras para a educação
infantil no texto “Formação contínua e práticas educativas: possibilidades humanizadoras”. A autora aponta os inúmeros problemas
enfrentados na formação continuada e que dizem respeito tanto
às políticas públicas como às concepções que dirigem o pensar e
o agir na cultura escolar. Tais problemas aparentemente de menor
significado, quando somados, obstaculizam a necessária formação
contínua que promova as condições para o trabalho humanizador
do professor da pequena infância, responsável pela formação da
personalidade e pelo desejo de conhecer que será fundamental ao
longo não só da vida escolar, mas da vida inteira do ser humano.
Denuncia, além disso, as condições materiais que compõem o entorno cultural nas escolas frequentadas pelos filhos da classe trabalhadora nas pequenas e grandes cidades – em especial na escola
para crianças de zero a três anos. Nesse universo, no entanto, aponta
experiências de formação que orientadas para uma educação humanizadora e desenvolvente promovem a esperança por dias melhores.
O texto de Cláudia Aparecida Valderramas Gomes, professora
da Universidade Estadual Paulista – campus de Assis, “A psicologização da educação e a perspectiva histórico-cultural: contribuições
para a formação e atuação de professores” encerra essa segunda
parte. A autora problematiza a produção de queixas escolares definidas em termos de problemas emocionais, vivenciados pelas crianças e
suas famílias, e conclama profissionais da Psicologia e da Educação
a refletirem sobre aquilo que se tem denominado de psicologização da
educação, no interior da qual se encontra frequentemente a concepção de que as emoções prejudicam a aprendizagem escolar. Para
a autora, essa ideia, advinda da tradição idealista e subjetivista em
Psicologia, dá sustentação à separação entre funções cognitivas e
afetivas na consciência humana resultando na defesa de que a prática pedagógica diz respeito, tão somente, aos processos cognitivos.
A discussão desenvolvida contrapõe a esta afirmativa a Psicologia
Histórico-Cultural que propõe a impossibilidade de pensar o psi10
Educação e Desenvolvimento Humano:
contribuições da abordagem histórico-cultural para a educação escolar
quismo humano separando afeto e cognição e, para tanto, enfatiza
a materialidade, a historicidade e o caráter interfuncional dos processos psicológicos humanos. O texto defende a importância de se
analisar, teórica e criticamente, as práticas presentes no cotidiano
escolar, o papel dos mediadores sociais e das condições concretas
de vida e de educação quando se trata de instrumentalizar a formação e o trabalho docente, apresentando à Psicologia e à Educação o
compromisso com um processo educativo desenvolvente.
A TERCEIRA PARTE está organizada em cinco artigos e é
dedicada ao debate acerca das possibilidades pedagógicas oferecidas para a educação escolar pela Teoria Histórico-Cultural, sob a
denominação “Implicações pedagógicas da abordagem histórico-cultural para a educação escolar”.
Andréa Maturano Longarezi, professora da Universidade Federal de Uberlândia, inicia a discussão da temática com o debate
“Contribuições da teoria da atividade para a educação escolar” considerando a teoria da atividade como fundamento para a educação
escolar e as atividades de ensino e de estudo como condição essencial para a formação e o desenvolvimento do pensamento teórico dos estudantes. Para a autora, tal formação e desenvolvimento
constituem o objetivo central de uma educação escolar desenvolvente em que teoria e prática se tornam expressões do mesmo movimento de produção do ato pedagógico. Para sua argumentação, a
autora elege dois campos de reflexão: o da teoria da atividade e o da
educação escolar, buscando esclarecer o processo em que a atividade de ensino do professor medeia a atividade psíquica do estudante. A constituição da atividade envolve um conjunto de condições
discutidas pela autora, entre as quais, a questão de que atividades
de ensino e estudo devem originar-se de uma necessidade coletiva,
precisam constituir-se mediante um conjunto de ações articuladas
por um objetivo comum, de modo que o motivo da atividade de ensino coincida com o objeto da ação do professor. Tal situação não
será fruto de uma ação espontânea, mas resultado da atitude intencional e consciente do professor e do coletivo escolar. Em outras
palavras, defende a autora, a concretização da teoria da atividade na
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Maria Izaura Cação – Suely Amaral Mello – Vandeí Pinto da Silva
(orgs.)
escola precisa ser objeto de um projeto de educação humanizadora
no qual a educação realizada na escola tem papel fundamental.
Cyntia Graziella Guizelim Simões Girotto, professora da Universidade Estadual Paulista – campus de Marília, discute “O vivido, o
aprendido-problematizado e o ensinado: em busca da compreensão
da atividade de estudo”. O texto problematiza a definição de uma
genuína atividade de estudo pautada no enfoque histórico-cultural.
Tendo presente o objetivo de propiciar uma educação humanizadora e desenvolvente, revisita pressupostos teóricos fundamentadores da atividade de estudo condizentes com a formação de sujeitos aprendizes. Observa que, na perspectiva histórico-cultural, a
atividade de estudo é a atividade guia – e como tal deveria ser dominante – na faixa etária dos estudantes do Ensino Fundamental.
Observa, ainda, que o êxito na resolução de tarefas depende do
sentido que a atividade desenvolvida tem para o aluno, sujeito da
atividade de estudo; depende de como a atividade proposta pode
responder a um problema real do sujeito aprendiz. Por isso, a elaboração da proposta de ensino de modo consciente por parte do
professor é essencial na criação das condições para a atividade de
estudo também consciente por parte do estudante. A autora conclui
retomando o desafio de superar a dicotomia entre a ênfase nos conteúdos e a ênfase no desenvolvimento da capacidade pensar, uma
vez que ambos os elementos são essenciais à constituição do sujeito
que aprende e se apropria das máximas potencialidades humanas.
Alexandre Luiz Gonçalves de Rezende, professor da Universidade de Brasília, debate as “Implicações pedagógicas da teoria da
formação das ações mentais formulada por Galperin”. Toma por
base os estudos de Piotr Yakovlevich Galperin, célebre autor da
teoria da formação por etapa das ações mentais, publicados nos
periódicos Soviet Psychology e Soviet Education e no livro Psicologia de
la enseñanza, de Nina F. Talízina, e reflete acerca dos objetivos da
educação a partir de uma nova compreensão dos processos de ensinar e de aprender. Nessa perspectiva, a compreensão do papel da
atividade no desenvolvimento do pensamento conduz a uma nova
organização da prática educativa e essas alterações metodológicas
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Educação e Desenvolvimento Humano:
contribuições da abordagem histórico-cultural para a educação escolar
repercutem na educação como um todo. Adotando como exemplo as transformações necessárias a um novo modelo de ensino
do futebol, e pautado na teoria de Galperin sobre a formação da
ação mental por estágios, o autor defende que, na organização da
prática educativa, a seleção do conteúdo a ser ensinado deve considerar o princípio de unidade de análise proposto por Vigotski. Assim, aplicar a Teoria Histórico-Cultural para ensinar a jogar futebol
requer a transformação da maneira de jogar e de compreender o
jogo de futebol. A partir dessa nova perspectiva, o autor afirma a
necessidade de desenvolver nos jogadores a capacidade de utilizar
determinados conceitos sobre o futebol que permitam identificar e
solucionar os problemas do jogo: ocupação de espaços, atuação em
equipe, etc. Para isso, às habilidades individuais é preciso integrar
a aprendizagem de como e quando seu uso pode ser inteligente e
criativo. Conclui a discussão afirmando que a proposta formativo-conceitual de Galperin não se restringe ao ensino de determinados
conhecimentos e habilidades, mas, sobretudo, ao desenvolvimento
do pensamento e à sua utilização para aperfeiçoar as habilidades
dos aprendizes nos diversos domínios do conhecimento humano.
Olavo Pereira Soares, professor da Universidade Federal de
Alfenas, no texto “O ensino de história na perspectiva histórico-cultural”, parte do pressuposto de que ensinar história é humanizar. Essa humanização, no entanto, exige que esse ensino possibilite
aos alunos a compreensão de que as formas de sociabilidade atuais
assim como as formas de produção da existência são frutos de um
contexto histórico socialmente produzido e, por isso, passíveis de
transformação. Nessa perspectiva de superação da naturalização
dos fatos sociais e históricos, defende que o ensino de história deve
apontar a produção de formas mais humanas de trabalho, lazer e
também de educação escolar. Para o desenvolvimento da discussão, adota duas abordagens: a metodologia de ensino e o currículo
escolar. Do ponto de vista da metodologia, defende a criação de
necessidades de produção do conhecimento histórico nos alunos,
superando por negação o senso-comum presente no interior da escola e a cultura midiática que propaga um presentismo que se impõe
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Maria Izaura Cação – Suely Amaral Mello – Vandeí Pinto da Silva
(orgs.)
ao conhecimento da história humana, produzindo o que o autor
chama de silenciamento das análises históricas numa perspectiva materialista e a discussão de uma história miúda que promovem – ambos
– um ativismo no ambiente escolar, mas não contribuem para a
compreensão e transformação da realidade, nem para a percepção
de cada um como um sujeito histórico no movimento maior de
produção da existência humana, produzida pelos seres humanos
e por eles possível de ser transformada. A partir dessa discussão e
da análise crítica dos documentos oficiais de orientação curricular,
o autor defende que o currículo escolar de história deve valorizar o
conhecimento histórico que coloque os alunos em atividade, motivados pelo querer saber mais.
Encerrando esta terceira parte – e também o livro – com o
texto intitulado “Unidades e Funções em Linguagem: Implicações
Pedagógicas da Teoria Histórico-Cultural”, Dagoberto Buim Arena, professor da Universidade Estadual Paulista – campus de Marília,
discute pressupostos da Teoria Histórico-Cultural que podem colaborar para a formação dos professores impactando os aspectos
pedagógicos na organização da aula de ensino de linguagem em sua
modalidade escrita, isto é, em atos de escrever e de ler. Os conceitos
de unidade, de função e de estrutura são centrais na argumentação
que desenvolve. Com eles, discute as implicações pedagógicas de se
ensinar o grafema e o fonema como unidades, e não apenas como
simples elementos técnicos reduzidos a letra e som, o que, segundo
o autor, retira deles a propriedade e o dinamismo que os constituem, uma vez que são unidades de um todo significativo. Ao longo
de uma densa argumentação, denuncia que na escola não se tem ensinado o ato de ler e de escrever, mas apenas o mecanismo de funcionamento da língua e, desse modo, os alunos não se apropriam
da cultura escrita pois, a atribuição de sentido ao aspecto técnico
de como se lê e se escreve exige a compreensão do papel social da
escrita. Este é apropriado em atos de ler o desejo de expressão dos
outros e de escrever o próprio desejo de expressão.
O conjunto de reflexões que compõe este livro Educação e desenvolvimento humano: contribuições da abordagem histórico-cultural para a
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Educação e Desenvolvimento Humano:
contribuições da abordagem histórico-cultural para a educação escolar
educação escolar tal como indica o título, busca de modo aprofundado
oferecer possibilidades para o desenvolvimento humano na perspectiva de uma educação escolar humanizadora e desenvolvente.
Numa escola como a brasileira na qual, segundo Longarezi e
Puentes (2013, p. 10), “aprende-se pouco, aprende-se mal, aquilo
que se aprende é esquecido com facilidade e interfere minimamente
no desenvolvimento integral da personalidade dos estudantes”, consideramos relevante a contribuição da Teoria Histórico-Cultural no
sentido de desvendar as condições materiais e subjetivas subjacentes
à construção de um projeto humanizador de sociedade e à constituição de uma escola que contribua decisivamente para o desenvolvimento das máximas qualidades humanas de crianças e jovens.
Avaliamos que os debates aqui apresentados trazem ricas contribuições para a reflexão e ação docentes necessárias à organização
dessa escola pretendida e que pressupõe, dentre muitas outras condições, a formação inicial e continuada de professores na perspectiva histórico-cultural. Para além dessas contribuições é preciso aceitar o desafio de avançar na construção coletiva de novas políticas
educacionais, pautadas na Teoria Histórico-Cultural, e, assim, fazer
frente aos sérios problemas inerentes à escola atual.
Marília, inverno de 2013... e que inverno!
Nota
1. Optamos pelo uso da grafia Vigotski, versão mais corrente na língua portuguesa, porém, respeitamos as formas de uso nas diferentes procedências e edições do
autor. Desse modo, quando houver citação de obra referenciada, a forma como o
nome do autor figura será mantida.
Referências
LONGAREZI, A. M. e PUENTES, R. V. Apresentação. In: LONGAREZI, A. M. e PUENTES, R. V. (orgs.) Ensino desenvolvimental: vida, pensamento e obras dos principais representantes russos.
Uberlândia: Edufu, 2013.
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Apresentação - Paco Editorial