O planejamento de grandes projetos de investimento : a experiência brasileira Ricardo Bielschowsky Curso SPI/ ILPES/CEPAL Brasilia, Maio de 2006 1 Organização da Exposição • Introdução : Dez causas para o baixo investimento atual no Brasil; • Primeira parte : histórico, e contexto atual – – • Breve histórico do planejamento governamental dos investimentos no Brasil; O PPA 2004-2007, a estratégia de consumo de massa e o problema do investimento Segunda parte : Políticas de apoio governamental à realização de grandes projetos de investimento (ênfase em setores geradores de divisas) 2 Dez causas para o baixo investimento no Brasil 1. Relativamente a 1950-1980 propensão a investir foi enfraquecida nos setores de bens transáveis por liberalização comercial: as taxas de rentabilidade tornaram-se muito menores e os riscos e as incertezas muito maiores; 2. Com a privatização, o investimento privado de empresas que antes eram estatais passou a ser ditado por regras de rentabilidade e riscos bem mais severas do que no passado (1950-1980) 3 Dez causas para o baixo investimento no Brasil 3. Baixo crescimento recente, alguma capacidade ociosa; 4. Últimos 25 anos contaminam negativamente decisão de investir hoje; 5. Ceticismo empresarial quanto a sustentação do crescimento ( cautela macro do governo, valorização cambial, etc); 4 Dez causas para o baixo investimento no Brasil 6. O acesso a recursos de longo prazo para investir em capital fixo é limitado e envolve altos custos financeiros ; custo de oportunidade é alto (rentabilidade e liquidez no mercado financeiro); 7. As taxas de juros para capital de giro são absurdamente elevadas (expandir requer mais capital de giro); 5 Dez causas para o baixo investimento no Brasil 8. O investimento público e privado em infraestrutura está muito baixo, devido à cautela fiscal do governo, e às dificuldades em atrair capital privado e em operacionalizar parcerias público-privadas; 9. O fato de que o investimento em infra-estrutura tem sido muito baixo reduz o investimento privado em geral, porque não se criam externalidades incentivadoras do investimento privado e outros estímulos cruzados; 6 Décima causa (tema da segunda parte da exposição) • Há pouca articulação entre governo e agentes investidores, e isto é responsável pela perda de importantes oportunidades de ampliação dos investimentos em uma serie de setores, além de perda de eficiencia nos investimentos 7 Primeira parte • Breve histórico do planejamento governamental dos investimentos no Brasil • O PPA 2004-2007 e o modelo de consumo de massa 8 A era desenvolvimentista : primeira fase (1930-1964) • Primeiros passos (1930-1950) - Diagnosticos ( Missao Cooke, relatorio Abbink), Plano Salte • A questão do reaparelhamento econômico, e as criações institucionais de Vargas (1950-1964) • O Plano de Metas : 1956-1961 • Plano Trienal : ênfase na estabilidade e nas reformas de base 9 A era desenvolvimentista : segunda fase (1964-1980) • PAEG (1964): gradualismo, profissão de “fé” no planejamento, introdução às reformas; • Decenal (1966): perspectiva de médio/longo prazos, expansão por S.I e promoção de X, ênfase nos investimentos governamentais, menção a seus “linkages” (efeitos de encadeamento) • PED (1967): Aceleração do crescimento por blocos de investimentos em setores prioritários, proteção ao capital nacional e auto-suficiência em termos de poupança 10 A era desenvolvimentista : segunda fase (1964-1980) • Metas e Bases (1970): agenda de investimentos em infraestrutura, setores industriais prioritários e agricultura, novo destaque para desenvolvimento de C&T • PND I (1972): plano de aceleração do crescimento, “modelo econômico de mercado” : aquele em que destaca-se “a influencia crescente do Governo na gestão do sistema econômico, com expansão de seus investimentos e da capacidade de regulamentar” • PND II (1974): novidades são ousadia na continuidade do crescimento acelerado (em meio à crise externa), e deslocamento de investimentos de transportes a energia (e bens intermediários) 11 Planejamento setorial da expansão da infra-estrutura e mineração (estatais e governo, extra-planos de governo) • Hierarquia tentativa, em termos de preservação de capacidade de planejamento depois da era desenvolvimetista 1. 2. 3. 4. 5. Petróleo; Energia elétrica; Mineração; Telecomunicações; Transportes 12 A era da instabilidade macroeconômica inibidora : 1980-2006 • Anos 1980 : – Timidez do PND III (1980, proposta de sobrevivencia à crise), – 1983-1988 : Tentativas de recuperação do planejamento de investimentos : CPPG (Consolidação Plurianual de Programas de governo, 1983 1986), PND I da Nova Republica e Programa de Ação Governamental; – Constituinte de 1988 e em seguida tres leis : De Diretrizes Orçamentárias, do Orçamento Anual e do Plano Plurianual. 13 A era da instabilidade macroeconômica inibidora : 1980-2006 • Anos 1990 :Os planos plurianuais – 1992-1995 : Cumprimento de obrigação formal – 1996-1999 : Brasil em Ação (e posterior carteira de 41 projetos prioritários) – 2000-2003 : O Avança Brasil e os eixos de integração – 2004-2007 : O modelo de consumo de massa 14 O PPA 2004-2007 e o modelo de consumo de massa Os candidatos a paradigma novo-desenvolvimentista; • Eixos de integração • Politica industrial e tecnológica, sociedade da informação, etc • Consumo de massa Antecedentes conceituais do projeto (Furtado, Conceição-Serra, trabalhos empíricos, Castro, PT, campanha de 2002) 15 O Círculo Virtuoso na Lógica do Consumo de Massa Aumento de Rendimentos das Famílias Trabalhadoras Ampliação do Consumo Popular Aumento de Produtividade Investimentos Produtivos 16 Investimentos Produtivos e o Círculo Virtuoso no Consumo de Massa Aumento de Rendimentos das Famílias Trabalhadoras Ampliação do Consumo Popular Aumento de Produtividade Investimentos Produtivos ? ? 17 Segunda parte A questão da articulação de grandes programas e projetos de investimento (ênfase em setores geradores de divisas) 18 Pesquisa CEPAL/IPEA, coordenada por Cézar Maoel de Medeiros Objetivos : Oferecer subsídios ao governo para ações junto a grandes grupos visando expandir e acelerar investimentos capazes de aumentar o volume e o valor adicionado da produção em bens transáveis. Abrangência: entrevistas com altos dirigentes de 20 grupos, que reúnem 53 empresas, distribuídas em 16 setores. Composição do relatório de pesquisa • Primeira parte : Coordenação de investimentos por setores • Segunda parte : Inovações institucionais (não tratada nesta 19 aula) SUBSÍDIOS À COORDENAÇAO DE INVESTIMENTOS, POR SETORES Mineração Reflorestamento Siderurgia Petróleo Petroquímica Construção Naval Industria Aeroespacial Exportação de serviços de engenharia Outros setores 20 MINERAÇÃO – FERROSOS E NÃO-FERROSOS Coordenação para ampliação do acesso à riqueza mineral no Brasil para fins econômicos (inexistencia de mapeamento geológico, problemas com licenças ambientais, legislaçao inadequada) • Formação de uma empresa de venture- capital associada a empresas de mineração; • Mapeamento e articulação de investimentos público-privados em energia e logística; • Fomento à indústria de construção naval. 21 Reflorestamento Extensionismo agrícola em pequenas propriedades nas áreas produtoras de madeira tradicionais e vizinhas no Sul e Sudeste ( para aumento de produtividade e adição de valor na cadeia produtiva) Inclusão de áreas de plantio em pequenas propriedades e na região Sul-sudeste, com extensionismo; Atração de grandes investimentos florestais em áreas de fronteira (planejamento territorial); Estímulos ao uso intensivo de carvão vegetal na siderurgia e em outros setores em que o Brasil pode aumentar suas vantagens 22 competitivas; Siderurgia Articular BNDES, CVRD e Previ e demais fundos de pensão para garantir que os projetos de investimento em aços planos permitam futuros avanços para além da etapa de semi-acabados; Criar um Fundo de Investimento para alocar capital de risco em projetos e empresas siderúrgicas; Coordenar os agentes do setor para a eventual criação de um grande grupo nacional; Coordenar a posição de acionistas brasileiros nas negociações da nova holding que deverá ser criada pela Arcelor, com vistas a afirmar uma estratégia para a siderurgia brasileira que maximize a adição de valor e a melhoria da inserção internacional do Brasil,23 em aços planos comuns e especiais; Petróleo Coordenar o Programa Pronimp, da Petrobrás, com o eventual interesse da CVRD e de outros parceiros por compra de embarcações, de modo a aumentar a atratividade ao país a uma ou mais grandes empresas mundiais de construção naval; Criar uma trading, por meio de parceria entre a Petrobrás e outros agentes; Criar venture-capital para aproveitar pesquisas do CEMPES; Tornar a Petrobrás um agente impulsionador da petroquímica; (Novidade fundamental, pos- relatorio: Novo programa do 24 alcool) Petroquìmica Levar a Petrobrás a assumir um protagonismo que o próprio setor privado espera dela, devido a seu porte financeiro, seu acesso à nafta, e seu acesso aos mercados externos; Enfatizar a utilização do petróleo da Bacia de Campos para fins petroquímicos; Potencializar a capacidade de P&D em petroquímica da Petrobrás e dos dois principais grupos privados atuantes no setor; 25 Construção Naval Ampliar a coordenação da demanda potencial por embarcações, incorporando à demanda Petrobrás aquela oriunda de outros agentes, como a CVRD e a marinha; Atrair ao país grandes estaleiros estrangeiros, com base nessa demanda, inclusive em forma de parcerias com estaleiros nacionais; 26 Industria aeroespacial Transformar em questão nacional o problema do financiamento à exportação de aeronaves da Embraer, complementando o trabalho do BNDES por meio de maiores aportes do tesouro aos fundos de equalização e de garantia; Abrir linha de crédito de longo prazo para o investimento em P&D&E para projetos de novas famílias de aviões Ampliar o direcionamento da demanda da FAB á EMBRAER; Fortalecer o programa de expansão da indústria aeroespacial brasileira (PEIAB), com critérios que permitam conjugar substituição de importações com os rigores técnicos e econômicos da seleção de insumos para aviões; 27 Exportação de serviços de engenharia: Adotar o project finance nos critérios de garantia do BNDES; Flexibilizar as exigências pelo BNDES de coeficientes de exportação de bens associados às financiadas; Elevar alçadas do Banco do Brasil para compatibilizar prazos das cartas de intenção; Conceder financiamento PROEX para empresas de grande porte nos casos em que o importador seja o setor público; Criar uma trading, em associação com outros parceiros como a 28 Petrobrás e a CVRD; Outros setores Logística : • • • • planejar novas rodovias de acordo com requisitos de transporte de carga, coordenar interesses do setor privado em participar de PPPs, chamar a atenção dos Fundos de Pensão para as potencialidades das Plataformas Logísticas Integradas (portos secos e atividades conexas); extrair do planejamento em ferrovias as indicações para os requisitos de ampliação da oferta de vagões, locomotivas e contêineres; Automóveis, máquinas seriadas, telefonia, alimentos, texteis, fertilizantes : resultados da pesuisa foram menos precisos ou menos relevantes. 29 INOVAÇOES INSTITUCIONAIS Criação da BRPAR – Empresa Nacional de Ativos Flexibilizaçao seletiva de depósitos compulsórios Linhas de crédito com garantias reais e seguros especiais Criação de fundos de investimento de longo prazo Revisão de incentivos tributários a lançamento de títulos Criaçao de empresas de venture capital Criaçao de trading Apoio à Plataformas Logísticas Integradas 30 O PPA e o planejamento dos grandes investimentos 1) Elaboração : Fragilidade do planejamento em logística Falta de conhecimento governamental sobre expansão a médio/longo prazo de setores intensivos em capital (agenciados por grandes grupos e/ou empresas) Falta de articulação intra-governo federal entre MPOG, outros ministérios e empresas estatais 2) Execução Inexistência de instrumentos no PPA de geração de articulações entre agentes, de instrumentos de geração de atratividade a investimentos, etc 3) Avaliação e monitoramento: Falta de estímulos aos gerentes do PPA para apontar falhas de coordenação e insuficiências de instrumentos de intervenção, inexistencia de coordenação 31 desse tipo de trabalho