Como podemos melhorar a qualidade da assistência ao paciente ventilado? Bruno do Valle Pinheiro Prof. Pneumologia e Semiologia – Faculdade de Medicina – UFJF UTI – Hospital Universitário - UFJF Como podemos melhorar a qualidade da assistência ao paciente ventilado? • Aplicando as melhores evidências científicas disponíveis nas tomadas de decisões Evidence-Based Medicine. BMJ, 1996 Recomendações do III Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica A B C D Total DPOC 0 0 0 11 11 Asma 0 8 5 5 18 SDRA 7 3 0 2 12 J Bras Pneumol 2007;33(supl2s) Implementação de estratégias reconhecidamente eficazes 1998 2004 p 29,6% 4,4% 7,5% 19,6% <0,001 <0,001 SDRA PEEP>10 cmH2O PEEP<5 cmH2O 28% 26% 40% 22% <0,001 0,42 Desmame SIMV isolado SIMV+PSV 11% 26% 1,6% 15% <0,001 <0,001 SDRA VT>10 mlkg VT<6 ml/kg Esteban. Am J Respir Crit Care Med 2008;177:170 Implementação de estratégias reconhecidamente eficazes no dia-a-dia Estudo de corte de prevalência (1 dia) • 454 UTIs, 310 hospitais – Alemanha • 3.877 pacientes – 415 sepse – 198 LPA/SDRA • Teoria: • 79,9% dos médicos disseram ser aderentes à estratégia de baixos VT • Prática: • 2,6% dos pacientes VT<6 ml/kg Brunkhorst. Crit Care Med 2008;36:2719. Como podemos melhorar a qualidade da assistência ao paciente ventilado? • Monitorar os resultados da UTI • Identificar os problemas • Adotar estratégias para resolvê-los: adesão a medidas comprovadamente eficazes Modelo de melhora de qualidade Escolha de objetivos Planejar Testar Medidas de avaliação Atuar Analisar Implantação de intervenções Associates in Process Improvement, 2008. O caso UTI-HU-UFJF Problemas identificados • Pneumonia associada à ventilação mecânica • Adequação dos parâmetros ventilatórios • Sedação Melhora da qualidade da assistência ao paciente ventilado UTI – Hospital Universitário - UFJF Escolha dos Medidas de Implantação de objetivos avaliação intervenções • Identificados pelas necessidade locais • Mensuráveis • Estabelecidos no tempo • Observações • Baseadas em seqüenciais (antes- evidências depois) científicas • Medidas já • Equilibradas entre validadas impacto-factível • Progressivas • Redução da • Incidência de PAV • Recomendações do incidência de PAV por 1.000 dias de CDC com melhores em 50% em 1 ano ventilação evidências mecânica Recomendações de higienização das mãos Desinfecção com álcool Lavagem das mãos • Antes e após contato direto • Visivelmente sujas com paciente • Antes e após colocação de luva estéril • Contaminadas com sangue ou fluidos • Após contato com fluidos, mucosas, pele não intacta, curativos • Cuidado ao paciente com C. difficile • Ao mudar de local de contato com paciente • Após contatos com objetos próximos ao paciente CDC – APIC – SHEA, 2006 Eficácia de programa para aumentar aderência à higienização das mãos Hospital Universitário – Genebra (Suíça) – 1994-1997 Pittet et al. Lancet 2000;356:1307-12 Higienização das mãos na UTI do HU-UFJF Conhecimento teórico, impressão pessoal e realidade Conhecimineto Impressão pessoal Real 100 83 80 69 66 60 % 40 31 34 17 20 0 Correto Errado Higienização das mãos na UTI do HU-UFJF Adesão às técnicas adequadas antes e após programa de educação 100% p<0,001 83% 80% 67% 60% SIM NÃO 40% 20% 33% 17% 0% ANTES DEPOIS PAV por 1.000 dias de VM Incidência de PAV na UTI-HU-UFJF 100 80 63 66 62 60 48 45 4 5 40 39 20 0 1 2 3 Momentos de medida 6 “Ventilator bundle” – “Pacote para ventilação mecânica” The 100.000 Lives Campaign • Elevação da cabeceira a 30-45o • Suspensão diária da sedação e avaliação sobre possibilidade de desmame • Profilaxia de lesão aguda de mucosa gastroduodenal • Profilaxia de trombose venosa profunda Berwick et al. JAMA 2006;295:324-327 PAV por 1.000 dias de VM Redução da incidência de PAV em uma UTI de trauma com a implantação de “ventilator bundles” Memorial Hermann Hospital – Houston 90th 50th 25th 1/02 2/02 3/02 4/02 5/02 6/02 7/02 8/02 9/02 10/02 11/02 12/02 1/03 2/03 3/03 4/03 5/03 6/03 Cocanour et al. J Trauma 2006;61:122-130 PAV por 1.000 dias de VM Redução da incidência de PAV em uma UTI clínica com a implantação de “ventilator bundles” St. Joseph’s Regional Medical Center – New Jersey Blamoun et al. Am J Infect Control 2008 “Pacote para ventilação mecânica” UTI – HU – UFJF • Elevação da cabeceira a 30-45º – II • Drenagem periódica do condensado, com destinação adequada do mesmo – IB • Retirada dos nebulizadores para limpeza e desinfecção após o uso – IB IB: fortemente recomendado, baseados em estudos clínicos ou epidemiológicos, ou forte fundamentação teórica II: sugerido para implementação, baseado em estudos clínicos ou epidemiológicos sugestivos, ou fundamentação teórica CDC, 2004 “Pacote para ventilação mecânica” UTI – HU – UFJF 100% 91% 81% 76% 80% 60% 40% 24% 20% 19% 9% 0% Cabeceira elevada Destinação do condensado Retirada do nebulizador Adequação dos parâmetros ventilatórios Aumentar a adesão às melhores evidências Discussões sistematizadas dos casos com equipe multidisciplinar • Planejamento diário (por escrito) • Objetivos claros • Definição das condutas • Monitoração da execução • Vantagens • Melhora • Melhora • Melhora • Melhora a documentação a comunicação entre os profissionais os cuidados ao paciente a comunicação com o paciente ou com a família Institute for Healthcare Improvement, 2008 Pressão de platô em pacientes com SDRA/LPA Registro e adesão à estratégia protetora 100% 98% 92% * 78% 80% ** 85% 60% *p<0,05 40% **p=0,07 20% 0% Semana Descrição Fim-de-semana Adesão a <35 cmH2O Heterogeneidade nos cuidados: dia vs. noite vs. fim-de-semana National Registry of Cardiopulmonary Resuscitation 507 hospitais – jan/2001 a fev/2007 86.748 eventos de PCR Peberdy et al. JAMA 2008;299:785-792 Sedação durante a ventilação mecânica • Necessidade • Reduzir ansiedade, agitação • Aceitar estratégias ventilatórias não fisiológicas • Auxiliar na interação com a ventilação mecânica • Facilitar os cuidados • Reduzir o consumo de oxigênio • Riscos • Prolongamento da ventilação mecânica • Prolongamento da internação na UTI • Confusão diagnóstica com alterações do SNC Interrupção diária da sedação Kress et al. NEJM 2000;342:1471-1477 Interrupção diária da sedação Girard et al. Lancet 2008;371:126-134 Interrupção diária da sedação G intervenção G controle p (n=167) (n=168) Dias fora VM 14,7 11,6 0,02 Dias de UTI 9,1 12,9 0,01 Dias de hospital 14,9 19,2 0,04 Mortalidade 28 d 28% 35% 0,21 Mortalidade 1 ano 44% 58% 0,01 Dias em coma 2 3 0,002 Dias em delirium 2 2 0,50 Auto-extubação 10% 4% 0,03 Traqueostomia 13% 20% 0,06 Girard et al. Lancet 2008;371:126-134 Interrupção diária Protocolo Dias VM Dias UTI D hospital Dias sem VM (28d) Algoritmo Interrupção diária p 3,9 8 12 23,1 6,7 15 23 16,1 0,0003 <0,0001 0,01 0,004 Critical Care, 2008 Proposta inicial de sedação Paciente apresentando desconforto Conversar, dar conforto e segurança Avaliar a presença de causas reversíveis (posicionamento,dobras de lençol, tração de sondas e cateres) e dissincronia com o ventilador Avaliar dor com escala (visual analógica, numérica ou verbal) Avaliar a agitação com escala para este fim (RASS) Se não há resolução, iniciar ou ajustar infusão contínua de sedativos para manter o paciente desperto, calmo e confortável (RASS 0 a -3) Corrigir posicionamento, sondas e cateteres Ajustar modo e parâmetros ventilatórios Tratar a dor: Fentanil 25-100g a cada 5-15 min até alívio Morfina 2-5mg a cada 5-15 min até alívio Midazolam 2-5 mg a cada 5-15 min até controle do evento Haloperidol 2,5-10mg a cada 20 min até controle do evento Melhora da qualidade em ventilação mecânica Conclusões • Monitorar desfechos Estratégias • Comparar com padrões de • Seguras qualidade • Implementadas em tempo • Identificar falhas hábil • Implementar soluções • Efetivas • Medir adesão • Eficientes • Avaliar resultados • Com eqüidade Continuamente...... • Centradas no paciente