III Encontro Sul Brasileiro de Saúde Bucal Histórico e Organização do Trabalho das Profissões Auxiliares da Odontologia Prof. Silvia Queiroz Mestre em Odontologia - Saúde Coletiva Prof. dos cursos ASB/TSB do Instituto Federal do Paraná Conta-se que... Os primeiros integrantes da equipe odontológica além dos “tiradentes“ que trabalhavam nas praças dos mercados, foram pessoas que auxiliavam na imobilização do paciente e em alguns casos eram contratados para tocar algum instrumento que chamasse a atenção dos clientes e abafasse os gritos. • Mais tarde nos “gabinetes dentários” fechados, as filhas ou esposas dos dentistas permaneciam na sala clínica, auxiliando na organização e limpeza e durante o atendimento das senhoras, por respeito à moral e aos bons costumes. EUA - Início do Século XX Enfermeiras dentais Higienistas dentais • Atuavam em atividades educativas e preventivas em escolas. • Primeiro curso em 1910 Faculdade de Odontologia de Ohio. • Em 1907 foi criada a profissão de higienista dental por uma lei estadual em Connecticut. • Realizavam instrução de higiene, exame, raspagem e polimento. (ZANETTI; OLIVEIRA; MENDONÇA,2012) Nova Zelândia - 1921 • Enfermeiras dentais – hoje terapeuta dental • Atenção ao escolar • Realização de diagnóstico e tratamento restaurador simples (ZANETTI; OLIVEIRA; MENDONÇA,2012) Foto: V. Pinto Ilustração: RING, 1998 Industrialização e divisão do trabalho • Industrialização da sociedade introdução da divisão técnica do trabalho em todos os setores da sociedade; • aumento do consumo alimentos refinados; de • Deterioração da condição de saúde bucal da população infantil e adulta. Primeiros profissionais com perfil técnico • 1947 nos EUA • Dois anos de formação e cinco de produção experimental • Realizavam restaurações em cavidades abertas pelo CD • A ADA reagiu fortemente e proibiu o curso • Em 1968 apesar da oposição da ADA foram treinados, na Universidade do Alabama, auxiliares em dentística restauradora (ZANETTI; OLIVEIRA; MENDONÇA,2012) Brasil - Incorporação pessoal auxiliar Foto cedida pelo Prof. Jorge Cordón - Fundação SESP - décadas de 1950-80 - Atendimento ao escolar - Trabalho a 4 e 6 mãos - Odontologia Simplificada: racionalização do trabalho, de equipamentos e insumos; aumento da produtividade e cobertura. Incorporação de pessoal auxiliar em saúde bucal • Motivada pela cobrança da população por atendimento nos serviços públicos e número de auxiliares já inseridos no mercado de trabalho; • Parecer 460/75, do Conselho Federal de Educação (CFE), autorizando e estabelecendo as exigências para a formação de dois tipos de pessoal auxiliar odontológico: o atendente de consultório dentário (ACD) e o técnico em higiene dental (THD). • CFO - decisão 26/84 disciplina o exercício destas profissões (incorporada e complementada pelas Resoluções 155/84, 157/87 e 153/93) • SESA/PR (84) - “1º curso autorizado pelos órgãos de educação do país” - THD (CFRHCMR) proposta pedagógica inovadora/audaciosa, integração ensinoserviço e teoria-prática êxito da proposta Projeto Larga Escala (acordo ministerial + OPAS) – repercussão em todo país motivação para iniciativas em outros estados (PEZZATO, 1999; MOYSES, et al, 2002) • ...Mas esse avanço na formação profissional do ACD/THD não recebeu o apoio de toda a classe odontológica Vale a pena conhecer mais um pouco dessa história tumultuada... • discussões acaloradas “... além de prostituírem a odontologia, daria ensejo ao serviço público diminuir cada vez mais o mercado de trabalho de CD (...) e a formação de falsos profissionais (THD), colidindo frontalmente com a dignidade de nossa profissão...” (Associação Odontológica da Prefeitura de SP/ CROSP/ APCD, 1988) • Por outro lado... muitos coordenadores de SB, professores, entidades como ABOPREV, FIO e ABSBC lutavam para a regulamentação! Quais as objeções ao THD/TSB predominantes? “rouba o mercado de trabalho que é por direito do CD” (AOPSP 1988a, 1988b); evidências que TSB tem contribuído os postos de trabalho de CD/ atenção em SB/ mudança das ações programáticas em SB. ( SANTOS, 1995) Vai se transformar (“prático”); em falso dentista Não é capaz de realizar trabalhos com a mesma qualidade que o CD; Põe o CD em risco perante a justiça, pois este é responsável pelo trabalho que aquele realiza. ( SANTOS, 1995) Grau de retenção por operador, após 6 meses de aplicação. Aceitável clinicamente Não aceitável clinicamente BASTING, 1999 Quais as vantagens da incorporação de pessoal auxiliar? • A maior eficiência e otimização do processo de trabalho; • o aumento da qualidade técnica e da produtividade, o conforto e segurança agregados ao atendimento dos pacientes; • a redução do desgaste físico, estresse e fadiga do CirurgiãoDentista – CD; • a minimização do custo operacional, a abertura ao acesso da população aos cuidados de saúde bucal, entre outras. (FRAZÃO, 1999; PEZZATO e COCCO, 2004). • De acordo com dados da literatura científica, a delegação de tarefas ao auxiliar leva o CD a uma redução de 46% na prática das funções clínicas, enquanto a inserção de uma segunda auxiliar eleva esse percentual para aproximadamente 62%, ficando concernentes ao CD cerca de 38% do total das funções clínicas, sem computar as atividades administrativas e de gestão e organização do serviço. (BIAZEVIC, 2000). Odontologia a 4 mãos Figura: Chasteen, 1978 grande impacto social e importância dos atores téc/aux - fundamentais para promoção, prevenção e recuperação da SB / sistema público ou privado / nível individual ou coletivo potencial atuação preventiva maior reconhecimento e defesa atividades de atenção a saúde – intra e extra setor saúde/ assistência individual + grupos populacionais determinantes da saúde-doença acdthd.blogspot.com TRAJETÓRIA E TENDÊNCIAS DE PESSOAL AUXILIAR EM ODONTOLOGIA NO BRASIL E NO MUNDO DÉCADA TIPO DE AUXILIAR ODONTOLÓGICO PAÍS DE ORIGEM PARADIGMA DO TRABALHO Anos 1910 Higienista Dental EUA Preventivismo Anos 1920 Enfermeira Dental Nova Zelândia Assistência restauradora Anos 1940 Instrumentadora EUA Assistência restauradora Anos 1950 AHD Brasil Peventivismo Anos 1960 MIX AHD + Instrumentadora Brasil Preventivismo e Assistência restauradora Anos 1970 THD Brasil Preventivismo e Assistência restauradora Anos 1980 -1990 THD Brasil Preventivismo, Assistência restauradora e Promoção da Saúde Anos 2000 TSB Brasil Promoção da Saúde com tendência a eliminar as atividades de Assistência restauradora (OLIVEIRA, 2007) Mudanças no perfil profissional do TSB • Nos últimos anos as correntes resistentes à idéia da atuação dos TSB nas atividades restauradoras e de periodontia, acabaram por convergir com as correntes que defendem a atuação desse profissional principalmente na prevenção e promoção em nível individual e coletivo. (ZANETTI; OLIVEIRA; MENDONÇA,2012) • Isso pode ter influenciado na definição das competências previstas na lei 11.889/08 Mudanças e lutas... • O perfil profissional foi mudando devido a alguns fatores: • Mudanças no perfil epidemiológico; • Mudanças nos modelos de atenção. Paralelamente ocorria a luta pela regulamentação das profissões! Projetos de lei e lei 11.889/08 • 1ª iniciativas - associações estaduais criação da ANATO – apresentação de PL (objetivando regulamentar as duas profissões) • Dep. Robson Marinho – 1ª proposta a tramitar na Câmara dos Deputados (PL n.° 2.244/89) aprovado nas Comissões de Trabalho e de Constituição e Justiça arquivado em 1990 Mobilização pela aprovação do primeiro projeto • 1991 – ANATO/FIO – dep. Augusto Carvalho – novo PL (PL n.° 284/91) aprovado Câmara e Senado vetado pelo pres. Itamar Franco (inconstitucionalidade) • Veto ocorreu pelo frágil argumento de que a regulamentação “restringe o mercado de trabalho, delimita o campo de ação, desmotiva o aperfeiçoamento profissional e impede a liberdade contratual” ( PEZZATO ;COCCO,2004) frustração • 2000 – dep. Agnelo Queiroz (PL 2.487/00) arquivado • 2003 (ANATO/FIO) - PL 1.140/03 - origem à Lei n.° 11.889 (dep.Rubens Otoni) THD e ACD – TSB e ASB • Durante tramitação do PL na Câmara dos Deputados muitos obstáculos precisaram ser superados intervenções firmes foram necessárias para se preservar a essência da proposta inicial Audiência das entidades nacionais e de representantes das profissões auxiliares no Ministério do Trabalho • êxito parcial nas duas Casas do Congresso /ANATO, FIO, alguns CRO e ABO -conseguiram sensibilizar o presidente Lula sancionou o PL no fim de 2008 • atual Lei 11.889/2008 abre perspectivas para a definitiva consolidação profissional do TSB e ASB • Após 20 anos a regulamentação das profissões se tornou realidade 24 de dezembro de 2008, por meio da Lei n.° 11.889, o presidente Lula encerrou com vitória uma longa jornada de luta, marcada pela coragem e persistência sindiodon.com.br Papel do Ministério da Saúde na valorização e justificativa da incorporação dos auxiliares • Portaria nº 267 de 06/03/2001 do Ministério da Saúde que instituiu as normas e diretrizes de inclusão da saúde bucal na estratégia do PSF, como forma de reorganização desta área no âmbito da atenção básica, estruturando o cuidado odontológico como produto de atuação de uma equipe que pode ser formada pelo CD e ASB ou pelo CD, ASB e TSB; • Legislação regulamentadora do SUS – “formar recursos humanos” . PEZZATO, 2009 Documentos que ratificam a importância das profissões ASB/TSB • Perfil de competências profissionais ACD/THD (BRASIL 2004) • Diretrizes da Política Nacional de Saúde Bucal (BRASIL, 2004) • Política Nacional de Atenção Básica (BRASIL, 2012) Atuação de ASB e TSB no SUS • Atenção básica – UBS e ESF • Atenção secundária – CEO (Centro de Especialidades Odontológicas. Ex: Endo, Pério, Prótese, Estomato) • Atenção Terciária - Hospitais Atuação do TSB na ESF • Atualmente – 20 mil ESBs – 48% CDs / 48% ASBs e 4% TSBs (BRASIL, 2011). • CDs realizando serviços não exclusivos e que há muito já deveriam ter sido repassados para profissões auxiliares. • O TSB foi admitido com variável na ESF. A ESB na modalidade I - para garantir a universalização tem que reduzir a cobertura. • Custo do TC - de R$ 48,27 vai para 77,24 pela falta do TSB. (ZANETTI, 2010) • A aprovação da lei representa um marco regulatório muito importante e abre perspectivas promissoras quanto a organização dessas categorias profissionais ( FRAZÃO E CAPEL, 2011). Ela dá recursos e garantias maiores, inclusive no Poder Judiciário, para eventuais disputas interprofissionais (ZANETTI; OLIVEIRA; MENDONÇA,2012. • Mas ela não significa o fim da luta... • ... e sim o início de uma nova etapa de debates e avanços na formação e atuação dos ASB e TSB. Os espinhos da lei... • O legislador não definiu com clareza e objetividade as competências do TSB nos procedimentos restauradores e periodontais intrabucais. • Permanecem dúvidas que precisam ser esclarecidas: pelos conselhos, já que o CD ficou responsável pela definição de materiais e técnicas a serem delegadas ao TSB? no âmbito do SUS pelas coordenações municipais, estaduais e federal de saúde bucal? NÚMERO ATUAL DE PROFISSIONAIS INSCRITOS NO CFO (ATUALIZAÇÃO EM (06/11/2013) BRASIL ESTADO DO PARANÁ CIDADE DE CURITIBA CD 254214 16400 5781 TSB 17115 1475 347 ASB 96531 5831 2045 Fonte: www.cfo.org.br / www.ibge.gov.br Essa nova luta tem como desafios: • esforço de integração dos profissionais auxiliares e técnicos em saúde bucal (associações, sindicatos); • ocupação de espaços de representação pelos ASB/TSB nos conselhos de saúde e nos profissionais (CROs); • proposição de ajustes e regulamentações das atribuições previstas na lei e outros avanços para essas categorias profissionais. acdthd.blogspot.com