O ENSINO DE GEOGRAFIA NA PERSPECTIVA DA COMUNIDADE
SURDA
Carlos Augusto Barros da Silva¹, Diego leite Alexandre², Marciel Fideles³
RESUMO
Ao longo da história os surdos vêm batalhando para conseguir sua cidadania, seus
direitos garantidos. A falta de assistência em diversos setores da sociedade para a
comunidade Surda faz diagnosticar que a maioria da população desconhece a existência
da segunda língua oficial brasileira: A LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais). Entre
estes setores, temos a educação, ao qual corresponde a parcela mais importante da
formação do cidadão, e que se verifica uma enorme carência no atendimento adequado
a comunidade surda. A inclusão é um direito de todos e a comunidade surda deve ser
inserida nela. Lutar por uma sociedade mais justa é também dever do professor de
geografia, a construção de materiais didáticos e de novas metodologias pode servir de
apoio para o professor de Geografia durante suas aulas, na perspectiva de atender a
diversidade de seus alunos. Devemos refletir criticamente sobre o modelo das políticas
educacionais as quais deveriam investir mais na formação dos profissionais da
educação, oferecendo-lhes suporte necessário na instrumentalização dos diversos
saberes, a diferentes grupos. Pensar o ensino da geografia como uma possibilidade de
mostrar a comunidade surda os processos que configuram o espaço, não somente com
finalidade descritiva, mas desvendando os conflitos e desigualdades existentes neste
meio, é uma forma de aplicar de fato, uma educação inclusiva no ensino geográfico. A
escola se torna inclusiva à medida que reconhece à diversidade presente na sociedade e
busca se adequar e oferecer um ensino de qualidade que possa atender as carências e
potencialidades de todos, desde que sejam dadas condições apropriadas. Respeitar o
surdo como cidadão é garantir a ele os direitos na constituição, e através do ensino
geográfico, possibilitar a comunidade surda entender a espacialidade em múltiplas
dimensões refletida e presente na realidade que os cerca.
Palavras-Chaves: Ensino; Geografia; Comunidade Surda.
1
INTRODUÇÃO – O CONTEXTO
A história de conquista da cidadania dos surdos não é recente, desde (ou na
própria) a idade média o desequilíbrio humano de encarar as diferenças já se
manifestava. Perseguidos por serem tidos como anormais, amaldiçoados e não
humanos, os surdos se viam vítimas de uma sociedade completamente preconceituosa e
desinformada. Muitos foram mortos sem ao menos uma vez exercerem no ato de defesa
a comunicação com os ouvintes “normais”, eram desprovidos de direitos e tratados
como estranhos.
Contudo passando-se os anos e devido às ideias iluminadas de alguns homens
que pensavam um pouco a frente daquela (s) sociedade (s), foi-se vendo aos poucos que
aquelas pessoas tidas como “anormais”, já nasciam com aquela “condição” que os
faziam diferentes das demais, mais que estes não representavam aberrações espirituais,
típicas do imaginário do século.
Tratar as pessoas portadoras de algum tipo de deficiência como “anormal” é
algo que vem lá desde os primórdios da humanidade. As ideias da própria sociedade já
pregavam a discriminação, a injustiça, o tratamento desigual com tais pessoas tidas
como incompleta, diferentes e até mesmo “enfermas” como no caso da Idade Média
proveniente de alguma ação sobrenatural. As concepções da Igreja sobre essa
enfermidade advinham de algum castigo divino, criando a marginalização e o
preconceito perante essas pessoas. É fato constatar aqui que desde esta época até os dias
atuais privilegia-se mais a forma, aparência, a condição estética em detrimento do
conteúdo como se essas pessoas (deficientes) fossem inaptas a realizar determinadas
atividades e até mesmo viver em/na sociedade.
A literatura clássica e a história do homem refletem esse pensar
discriminatório, pois é mais fácil prestar atenção aos impedimentos e
as aparências do que aos potenciais e capacidades de tais pessoas.
(MACIEL, 2000, p. 51).
Nos últimos anos tem se promovido ações que buscam tornar-se os espaços
públicos/privados aptos a receber e oferecer os bens e serviços a toda a diversidade
presente na sociedade, “[...], visando resgatar o respeito humano e a dignidade, no
sentido de possibilitar o pleno desenvolvimento e o acesso a todos os recursos da
sociedade por parte desse segmento.” (MACIEL, 2000, p. 51).
2
Desde o século XIX a condição humana vem sendo tratada de uma maneira
diferente, as lutas sociais tiveram uma grande importância para o desenvolvimento de
leis, projetos, conferencias para tratar sobre o tema em questão.
Podemos citar aqui a Conferencia Mundial de Educação Especial que aconteceu
em Salamanca na Espanha em junho de 1994, contando com a participação de 88 países
e 25 organizações internacionais. Tendo como objetivos levantar questões e ações
práticas na tentativa de desenvolver projetos de acesso a inclusão, principalmente do
âmbito escola/educação. Este evento declara alguns pontos importantes para serem
analisados e refletidos a fim de mudar essa realidade, assim descrevemos aqui alguns
pontos importantes referentes a educação. Conforme a página oficial do evento, eis os
pontos:
Acreditamos e proclamamos que:
- toda criança tem direito fundamental à educação e deve ser dada a
oportunidade de atingir e manter o nível adequado de aprendizagem;
- sistemas educacionais deveriam ser designados e programas
educacionais deveriam ser implementados no sentido de se levar em
conta a vasta diversidade de tais características e necessidades;
- aqueles com necessidades educacionais especiais devem ter acesso à
escola regular, que deveria acomodá-los dentro de uma Pedagogia
centrada na criança, capaz de satisfazer tais necessidades;
- garantam que, no contexto de uma mudança sistêmica, programas de
treinamento de professores, tanto em serviço como durante a
formação, incluam a provisão de educação especial dentro das escolas
inclusivas.
[...].
(Declaração
de
Salamanca.
2010
http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.pdf).
Sabemos que o processo de exclusão não é resolvido por total no ambiente
escolar, pois esta tem sua origem bem antes ao período de escolarização, pois podemos
aqui afirmar que esse processo tem suas origens dentro do próprio ambiente familiar,
pois a partir do momento que o indivíduo nasce com algum tipo de “deficiência” este já
tende a sofrer indiferenças dos pais, dos irmãos e da própria sociedade em si, ele
próprio se excluindo-o do seu meio social, sendo este “ser” vítimas de inúmeros
preconceitos.
3
Tendo em vista o ambiente familiar percebe-se a origem e o desenvolvimento de
um “Choque de Consciência”, tal qual podemos defini-lo a partir de duas perspectivas,
a primeira refere-se a questão “idealizada” pelos pais do “filho perfeito”, em que eles
criam todo um imaginário de que seu filho nasça saudável sem nenhum problema físico
e mental. A segunda concepção refere-se ao (re)conhecimento do próprio indivíduo
portador de alguma deficiência frente as suas potencialidades e ou capacidades, sendo
este o momento de auto aceitação (tipo: sou desse jeito e pronto) ao qual perdurará por
toda sua vida. Sobre o reconhecer a si próprio, podemos fazer menção aqui de uma
breve passagem do Livro 1 “As Crônicas de Gelo e Fogo - A Guerra Dos Tronos”, em
que o personagem Tyrion Lannister fala para o personagem “bastardo” Jon Snow:
“- Deixe-me lhe dar um conselho, bastardo - disse Lannister. - Nunca
se esqueça de quem é, porque é certo que o mundo não se lembrará.
Faça disso sua força. Assim, não poderá ser nunca a sua fraqueza.
Arme-se com esta lembrança, e ela nunca poderá ser usada para
magoá-lo.” (MARTIN, 2010, p.77).
Seguindo este ponto de vista, a partir do momento de “auto aceitação” em que o
indivíduo supera as suas dificuldades ele poderá estar apto a sair do que podemos
chamar aqui de “ambiente de conforto”. No entanto é fato ressaltar que este ambiente
prioriza tanto a proteção como o confinamento no sentido de se isolar, de ficar restrito a
sociedade-mundo.
O nascimento de um bebê com deficiência ou o aparecimento de
qualquer necessidade especial em algum membro da família altera
consideravelmente a rotina no lar. Os pais logo se perguntam: por quê?
De quem é a culpa? Como agirei daqui para frente? Como será o
futuro de meu filho?”
O imaginário, então, toma conta das atitudes desses pais ou
responsáveis e a dinâmica familiar fica fragilizada. Imediatamente
instalam-se a insegurança, o complexo de culpa, o medo do futuro, a
rejeição e a revolta, uma vez que esses pais percebem que, a partir da
deficiência instalada, terão um longo e tortuoso caminho de combate à
discriminação e ao isolamento. (MACIEL, 2000, P. 53).
Mas um questionamento é feito, e quando o indivíduo não sai do seu ambiente
de conforto? Seja porque ele não quer? Ou porque foi condicionado por sua família? A
partir desta indagação citamos a estrutura familiar no que diz respeito ao
4
condicionamento e orientação para este individuo, “Na verdade, são eles (família) que
intermediarão a integração ou inclusão de seus filhos junto à comunidade.” (MACIEL,
2000, p. 53).
Muito
se
é
falado
mas
pouco
se
é feito,
referimo-nos aqui as
políticas/educacionais. É notório observar a grande defasagem desde a formação do
professor até a visível e decadente estrutura escolar que não dispõem de uma
acessibilidade arquitetônica favorável para os portadores de necessidades especiais.
Segundo Maciel (2000, p. 53),
Nos estados e municípios, não existe uma política efetiva de inclusão
que viabilize planos integrados de urbanização, de acessibilidade, de
saúde, educação, esporte, cultura, com metas e ações convergindo para
a obtenção de um mesmo objetivo: resguardar o direito dos portadores
de deficiência.
Para que haja a integração da inclusão é necessário o compromisso de
todo o ambiente escolar, que na concepção de Paulo Freire vai desde o faxineiro até a
coordenação escolar, núcleo gestor, etc. e os professores como agentes principais na
mediação da aprendizagem escolar, ele precisa passar por uma formação acadêmica que
privilegie a inclusão social tendo no mínimo no âmbito da grade curricular a disciplina
de Libras, a qual se fará essencial no trajeto cotidiano em sala de aula, pois vemos aqui
que diante a deficiência do aluno, a maior deficiência se faz presente nas políticas
públicas as quais refletem no espaço escolar e na formação do profissional docente.
Então perante tantos estorvos, urge a necessidade de mudar essa realidade, que
segundo Maciel (2000, p. 55),
[...] é necessário analisar se o ambiente de aprendizagem é
favorecedor, se existe oferta de recursos audiovisuais, se ocorreu a
eliminação de barreiras arquitetônicas, sonoras e visuais de todo o
próprio escolar, se existem salas de apoio pedagógico para estimulação
e acompanhamento suplementar, se os currículos e estratégias de
ensino estão adequados à realidade dos alunos e se todos os que
compõem a comunidade escolar estão sensibilizados para atender o
portador de deficiência com respeito e consideração.
Ainda de acordo com Maciel (2000) a verdadeira integração entre o professor e
o aluno só é possível a partir do momento que ele (professor) e os demais agentes que
fazem parte do ambiente escolar tenham um conhecimento mais apurado sobre
5
deficiência, suas causas, características e as diversas necessidades educativas que fazem
parte de tal processo, pois é necessário que o docente passe por uma formação que o
contemple sua visão sobre esta área.
A ESCOLA COMO ESPAÇO DA DIVERSIDADE
Assume aqui, fazermos uma breve análise a respeito da escola e mais
especificamente do seu papel dentro da sociedade. É fato observarmos no dia-a-dia que
esta instância vem sendo deslegitimada, sucateada, face a um caráter anacrônico, e que
neste mundo tecnificado a escola tem-se tornado “quase” incapaz de exercer o seu
verdadeiro papel socializador, de inclusão social, de formar cidadãos, de
instruir/compartilhar conhecimentos, etc.
Sendo a escola um espaço de conhecimento, de socialização, de produção do
saber, ela também é um espaço heterogêneo permeado por contradições devido as
muitas realidades que se instalam internamente e que faz da escola um espaço de
resistência, pois ela se encontra inserida em meio a um jogo de poder que institui novos
padrões de comportamento aos agentes que se fazem presentes nesta instância.
Na realidade escolar é frequente os casos de exclusão, estas das mais variadas
formas e nas mais diversas circunstâncias, ou seja, muitas vezes o aluno é excluído das
rodas de brincadeiras por outros alunos; as vezes por tirar notas ruins, acaba sendo (no
melhor sentido da frase) “crucificado” pelo professor e demais colegas; outras vezes o
aluno por ser portador de algum tipo de deficiência física, seja visual, auditiva,
cognitiva etc., tornando-se um sujeito passivo na sala de aula, na escola e até fora desta
não recebendo a devida atenção dos pais, familiares, amigos etc. Mediante o descrito, é
fato perceber que estes sujeitos (excluídos) acaba por serem vistos como desprovidos,
incapacitados, como se não pudessem viver, de atuar no meio social assim igual a
outros tantos vistos como “normais”.
De acordo com Magnoni Jr. (2000) a globalização e o neoliberalismo agravam
de forma profunda as desigualdades e a exclusão social. São muitos os estorvos que
dificultam a permanência na escola, além de tantos processos, que sucateiam o ensino e
a escola.
A escola é indispensável na sociedade, na vida e formação do sujeito, ela é uma
construção social coletiva acoplada de sentidos, valores, significados que dão a ela e
aos seus agentes uma identidade, pois de acordo com Pinto (2013, p.180) “[...]. No
século XVIII, transformações sociais e políticas apresentam a escola como uma
6
necessidade. Nos séculos seguintes a necessidade da escola se faz indispensável na
participação da vida social e, posteriormente, na melhoria da qualidade de vida da
população.”
Fazendo um breve retrospecto histórico, vemos que os surdos desde o ambiente
escolar eram tidos como inferiores desde a capacidade de aprendizado, até o próprio
convívio social. De início os primeiros educadores que trabalhavam com a questão
inclusiva dos surdos, acreditavam que era necessário desenvolver a oralidade destes,
devido acreditarem que a língua de sinais podia de alguma forma atrapalhar o
desenvolvimento social e cognitivo. Ou seja, a língua, a cultura e a identidade surda
eram totalmente desprezadas.
A aprovação e institucionalização da LIBRAS pouco tempo depois, significou
muito mais que valorizar e reconhecer a cultura surda, mais de oferecer oportunidades
que se tornaram presentes no cotidiano dos surdos. Isso devido estas mudanças irem
muito mais além do ambiente escolar mais se fazendo presente na organização da
sociedade. A respeito de cultura surda, Strobel (2008, p. 22) explica que:
Cultura surda é o jeito de o sujeito surdo entender o mundo e de
modificá-lo a fim de se torná-lo acessível e habitável ajustando-os com
as suas percepções visuais, que contribuem para a definição das
identidades surdas e das ‘almas’ das comunidades surdas. Isto significa
que abrange a língua, as idéias, as crenças, os costumes e os hábitos de
povo surdo.
Temos que reconhecer que nosso atual sistema educacional não está preparado
para garantir a inclusão do surdo no ambiente escolar desde as questões estruturais até
na própria falta de investimento e qualificação dos professores. Como a escola se faz o
espaço da diversidade (por mais que às vezes busque a padronização tradicional: Filas,
fardas e Hinos), seus profissionais devem estar instigados a buscar entender a
diversidade, neste caso sobre a comunidade surda e suas especificidades.
É preciso não se acostumar com o discurso fatalista do governo. Ainda é
necessário rever as políticas públicas em relação à educação inclusiva, desde o
ambiente escolar, perpassando pela democratização ao acesso do ensino, até o próprio
governo que tem
por obrigação e
responsabilidade
investir
no social
e
consequentemente nesta área, formando e qualificando os profissionais e instâncias
envolvidas.
7
Se negarmos de praticar a inclusão desde o ambiente escolar, desde a oferta do
ensino de qualidade, dificilmente tenderemos a criar cidadãos pensantes a respeito do
direito de acesso igual a todos. O surdo não é um estranho, pelo contrário, é justamente
o contato entre essas culturas bilíngues que desmistificará todos os preconceitos que
reproduzem à exclusão em nossa sociedade. Nisto a escola assume relevante papel,
como espaço do pensar e do saber, haverá os multiplicadores da inclusão, tornando os
espaços mais justos, humanos e respeitando principalmente a diversidade.
Assim o espaço escolar, esta como instancia social construída socialmente deve
estar aberta e apta para todos, ela é e deve ser universal, como comunidade do saber ela
deve proporcionar condições reais de aprendizagem, dá suporte ao aluno independente
da sua cor, classe ou provido de alguma(s) deficiência(s), como espaço heterogêneo ela
deve saber lidar com as muitas realidades ali presentes. A escola deve ser o espaço da
diversidade.
POR UMA GEOGRAFIA MAIS DINÂMICA E INCLUSIVA
O Conhecimento geográfico é imprescindível para a formação de uma
consciência crítico-reflexiva, que acompanhará as pessoas ao longo de suas vidas, seja
enquanto ciência ou disciplina escolar. E nisto de “grosso modo” o espaço geográfico é
percebido através dos sentidos humanos, refletindo justamente na percepção
espaço-temporal de cada um, a partir disso a premissa da excelente utilização dos
sentidos olfativos, táteis e principalmente visual dos surdos.
É de realço enfatizar que o aluno já possui um certo conhecimento geográfico
(não sistematizado) do seu espaço (lugar vivido), através do trabalho ele (re)produz
espaço modificando assim a natureza que o circunda, o aluno é sujeito ativo das
transformações que modelam sua realidade. É a partir da vivencia do aluno que o
professor deve ministrar o conteúdo (geográfico) relacionando-o, sistematizando aquele
saber ainda “empírico” do aluno afim de que este possa não só ser agente transformador
do espaço, mas também que possa ser consciente, crítico deste mesmo espaço de
vivencia o qual são muitas as contradições/conflitos que se tornam invisíveis aos olhos
de muitos.
Frente a isso os avanços simultâneos e instantâneos do desenvolvimento
tecnológico nos permitem neste século, pensar no uso da tecnologia como forma de
intensificar ainda mais a inclusão. Diante disto estamos passando por diversas
mudanças culturais, econômicas e políticas nos diversos setores e espaços
8
institucionais, como por exemplo, a escola – que a partir da universalização do direito a
educação, torna-se necessário ampliar e reestruturar o sistema de ensino. Como explica
Almeida (2008, p.15):
[...] verifica-se que o processo de universalização do direito à educação,
aos poucos, torna-se uma realidade no Brasil. Vários são os
desdobramentos
engendrados
no
campo
das
políticas
públicas
educacionais, na média em que novas demandas surgem, exigindo novas
posturas tanto dos educadores quanto do sistema educacional, ou seja,
requerendo uma reestruturação do sistema de ensino.
O processo de ensino-aprendizagem tem seu elo fundamental na relação
professor-aluno e se materializa negativa ou positivamente através de como se dá a
comunicação entre estes, tendo ainda um como elemento mediador que é fundamental
no processamento dessas informações: O recurso didático, que auxilia tanto o professor
na sua função pedagógica como também ajuda os alunos a visualizarem de forma mais
clara os conteúdos apresentados. Mas para um uso adequado de seja qual for o recurso
professor deve-se conhecer os conteúdos e tentar superar as dificuldades de
aprendizagem dos alunos.
Na LIBRAS há uma infinidade de configurações de mãos que juntas com a
própria expressão do indivíduo, buscam representar toda forma de realidade (Objetos,
ações, coisas). Neste aspecto podemos perceber que como o espaço geográfico recebe
na maioria das vezes através do campo visual maior atenção, este tende a ser
representado como a forma do meio (espaço) materializada em códigos.
Se tendermos a explorar mais a complexidade destes sinais em relação à
representatividade dos conteúdos geográficos, poderemos perceber um arranjo de ideias
embutidas no sinal. Por exemplo, temos o sinal de mão que representa um rio (e mais
além
seu
percurso).
(Ver
imagem
1
em
anexo).
De início é feito o sinal da água (recurso hídrico), ao qual já tem um símbolo
próprio, e depois se procede juntamente com este uma espécie de curvatura, indicando
os arqueamentos do rio ao longo de seu leito. Se formos mais além, explicar esse sinal
para o surdo, passando que essas curvidades ao longo de seu leito resultam dos
processos geomorfológicos que consequentemente modelam a paisagem e o percurso do
rio, vemos a representação da erosão fluvial embutida no próprio sinal.
9
O sinal que representa pobreza, por exemplo, seguindo essa ideia, reflete a
caracterização
de
um
pedinte.
(Ver
imagem
2
em
anexo).
Para os surdos desenvolverem esse sinal, nos justifica lembrar que estes à
medida que identificaram este problema social nos seus espaços urbanos (e ou rurais),
relacionaram o indivíduo desprovido de bens, ao qual mendigava moedas, como
característica do ser pobre, caracterizando o ato do “pedir” com o elemento dominante
principal do sinal em libras.
Podemos visualizar nestes simples exemplos a relação com a representação de
certos contextos e conteúdos através da percepção do espaço ao redor dos surdos. O que
de fato pode variar a partir do regionalismo, característica fundamental de diferenciação
dos códigos na LIBRAS. Esse é o desafio, aproximar ainda mais os processos de
produção do espaço e organização deste para a comunidade surda.
O espaço é dinâmico, logo as aulas têm que ser dinâmicas. Representar o espaço
é também associar a produção dos sinais e códigos para com o conteúdo. Utilizar único
e exclusivamente o livro didático empobrece e muito a riqueza de informações e logo a
representatividade deste conteúdo (se não correlacionado com a realidade do aluno). A
partir destas reflexões pedagógicas temos Moreira (2004, p. 9):
[...] a maneira mais convencional de ensinar geografia – aula
expositiva e livro didático -, descrevendo e explicando um fenômeno
natural ou humano de forma descontextualizada e estática, [...] torna-se
insuficiente para apreender a complexidade do espaço. Práticas de
ensino desse tipo estão ultrapassadas em relação à qualidade da
informação (e à quantidade) a que o aluno está submetido neste início
de século.
A geografia se faz inclusiva na medida em que esta tende a ser visualizada e
inserida na realidade do aluno. Sobretudo aqui o aluno com surdez. Se a geografia
durante muito tempo foi estereotipada como medíocre, descritiva e da decoreba por
utilizar demais o livro didático, é preciso desacorrentar neste caso ainda mais o vínculo
do professor para com esta, reforça-se a ideia aqui. Utilizar e trabalhar ainda mais com
o campo e memória visual com diversos recursos desde figuras, vídeos, fotografias,
jornais, para que o entendimento seja reforçado e materializado através destes recursos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
10
Podemos perceber que há uma considerável produção acadêmica acerca do
processo de formação acadêmica, e de metodologia em sala de aula. Porém o mesmo
não acontece com a produção acadêmica (sobretudo geográfica) destinada a inclusão de
alunos com necessidades educacionais especiais e ou metodologias utilizadas para com
estes. Já é sabido que por lei, e devido os novos reajuste e reformas sofridas nos
currículos, é dever de toda instituição pública atender a todos, indistintamente.
O professor de geografia hoje, não comtempla durante seu processo de
qualificação profissional respaldo que garanta atender a diversidade presente na sala de
aula, no que se refere ao atendimento aos portadores de necessidades educacionais
especiais. Em relação ao interpretes em sala de aula em primeira instância é a solução
mais viável pra situação atual, porém, exatamente nesta área há um déficit muito grande
em relação à oferta de cursos de LIBRAS, é um mercado que vem crescendo
gradualmente.
A ‘LIBRAS’ deve ser a ponte que garanta aos alunos o saber geográfico. Se a
geografia estuda e prepara o homem, ele tem de levar em conta todos estes, não deve
haver separações, nem tão menos discriminação entre estes. As condições individuais
que dificultem o aprendizado devem ser superadas através da qualificação do professor
e de toda assistência ao qual possa se viabilizar no sistema de ensino.
O que nos torna acreditar no ensino de geografia a serviço da inclusão, é que
esta seja enquanto ciência ou disciplina escolar possui atrativos que permitem o
desenvolvimento de projetos científico-pedagógicos, trabalhos, maquetes, instalações
geográficas
aos
quais
podem
tornar
mais
consequentemente a visualização de conteúdo.
interessante
o
aprendizado
e
Utilizar a LIBRAS (em relação a
comunidade surda) neste processo, seja no domínio pedagógico do professor, ou no
auxílio de interpretes em sala de aula, é garantir a melhoria da qualidade da
aprendizagem e de vida para todo o público estudantil.
Tornar a Geografia uma ciência que abarque a diversidade e a insira no contexto
social, educacional e político, é uma missão gradativa. A geografia estuda o espaço, e a
ação do homem neste, diante disto não devemos tornar esses “espaços” exclusivos, mas
diversificados, heterogêneos e humanizados.
R
E
F
E
R
Ê
N
C
I
A
S
ALMEIDA, Diones Carlos de Souza. Geografia e educação especial / Inclusiva: o
11
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Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Federal de Santa Catarina,
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ANEXOS
12
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http://www.unifra.br/professores/14174/Livro%20de%20LIBRAS.pdf. Acesso dia 24/10/2014
Imagem 02: Disponível em:
http://www.faders.rs.gov.br/uploads/Dicionario_Libras_CAS_FADERS1.pdf Acesso
em: 24/10/2014
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