O ENSINO DE GEOGRAFIA NA PERSPECTIVA DA COMUNIDADE SURDA Carlos Augusto Barros da Silva¹, Diego leite Alexandre², Marciel Fideles³ RESUMO Ao longo da história os surdos vêm batalhando para conseguir sua cidadania, seus direitos garantidos. A falta de assistência em diversos setores da sociedade para a comunidade Surda faz diagnosticar que a maioria da população desconhece a existência da segunda língua oficial brasileira: A LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais). Entre estes setores, temos a educação, ao qual corresponde a parcela mais importante da formação do cidadão, e que se verifica uma enorme carência no atendimento adequado a comunidade surda. A inclusão é um direito de todos e a comunidade surda deve ser inserida nela. Lutar por uma sociedade mais justa é também dever do professor de geografia, a construção de materiais didáticos e de novas metodologias pode servir de apoio para o professor de Geografia durante suas aulas, na perspectiva de atender a diversidade de seus alunos. Devemos refletir criticamente sobre o modelo das políticas educacionais as quais deveriam investir mais na formação dos profissionais da educação, oferecendo-lhes suporte necessário na instrumentalização dos diversos saberes, a diferentes grupos. Pensar o ensino da geografia como uma possibilidade de mostrar a comunidade surda os processos que configuram o espaço, não somente com finalidade descritiva, mas desvendando os conflitos e desigualdades existentes neste meio, é uma forma de aplicar de fato, uma educação inclusiva no ensino geográfico. A escola se torna inclusiva à medida que reconhece à diversidade presente na sociedade e busca se adequar e oferecer um ensino de qualidade que possa atender as carências e potencialidades de todos, desde que sejam dadas condições apropriadas. Respeitar o surdo como cidadão é garantir a ele os direitos na constituição, e através do ensino geográfico, possibilitar a comunidade surda entender a espacialidade em múltiplas dimensões refletida e presente na realidade que os cerca. Palavras-Chaves: Ensino; Geografia; Comunidade Surda. 1 INTRODUÇÃO – O CONTEXTO A história de conquista da cidadania dos surdos não é recente, desde (ou na própria) a idade média o desequilíbrio humano de encarar as diferenças já se manifestava. Perseguidos por serem tidos como anormais, amaldiçoados e não humanos, os surdos se viam vítimas de uma sociedade completamente preconceituosa e desinformada. Muitos foram mortos sem ao menos uma vez exercerem no ato de defesa a comunicação com os ouvintes “normais”, eram desprovidos de direitos e tratados como estranhos. Contudo passando-se os anos e devido às ideias iluminadas de alguns homens que pensavam um pouco a frente daquela (s) sociedade (s), foi-se vendo aos poucos que aquelas pessoas tidas como “anormais”, já nasciam com aquela “condição” que os faziam diferentes das demais, mais que estes não representavam aberrações espirituais, típicas do imaginário do século. Tratar as pessoas portadoras de algum tipo de deficiência como “anormal” é algo que vem lá desde os primórdios da humanidade. As ideias da própria sociedade já pregavam a discriminação, a injustiça, o tratamento desigual com tais pessoas tidas como incompleta, diferentes e até mesmo “enfermas” como no caso da Idade Média proveniente de alguma ação sobrenatural. As concepções da Igreja sobre essa enfermidade advinham de algum castigo divino, criando a marginalização e o preconceito perante essas pessoas. É fato constatar aqui que desde esta época até os dias atuais privilegia-se mais a forma, aparência, a condição estética em detrimento do conteúdo como se essas pessoas (deficientes) fossem inaptas a realizar determinadas atividades e até mesmo viver em/na sociedade. A literatura clássica e a história do homem refletem esse pensar discriminatório, pois é mais fácil prestar atenção aos impedimentos e as aparências do que aos potenciais e capacidades de tais pessoas. (MACIEL, 2000, p. 51). Nos últimos anos tem se promovido ações que buscam tornar-se os espaços públicos/privados aptos a receber e oferecer os bens e serviços a toda a diversidade presente na sociedade, “[...], visando resgatar o respeito humano e a dignidade, no sentido de possibilitar o pleno desenvolvimento e o acesso a todos os recursos da sociedade por parte desse segmento.” (MACIEL, 2000, p. 51). 2 Desde o século XIX a condição humana vem sendo tratada de uma maneira diferente, as lutas sociais tiveram uma grande importância para o desenvolvimento de leis, projetos, conferencias para tratar sobre o tema em questão. Podemos citar aqui a Conferencia Mundial de Educação Especial que aconteceu em Salamanca na Espanha em junho de 1994, contando com a participação de 88 países e 25 organizações internacionais. Tendo como objetivos levantar questões e ações práticas na tentativa de desenvolver projetos de acesso a inclusão, principalmente do âmbito escola/educação. Este evento declara alguns pontos importantes para serem analisados e refletidos a fim de mudar essa realidade, assim descrevemos aqui alguns pontos importantes referentes a educação. Conforme a página oficial do evento, eis os pontos: Acreditamos e proclamamos que: - toda criança tem direito fundamental à educação e deve ser dada a oportunidade de atingir e manter o nível adequado de aprendizagem; - sistemas educacionais deveriam ser designados e programas educacionais deveriam ser implementados no sentido de se levar em conta a vasta diversidade de tais características e necessidades; - aqueles com necessidades educacionais especiais devem ter acesso à escola regular, que deveria acomodá-los dentro de uma Pedagogia centrada na criança, capaz de satisfazer tais necessidades; - garantam que, no contexto de uma mudança sistêmica, programas de treinamento de professores, tanto em serviço como durante a formação, incluam a provisão de educação especial dentro das escolas inclusivas. [...]. (Declaração de Salamanca. 2010 http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.pdf). Sabemos que o processo de exclusão não é resolvido por total no ambiente escolar, pois esta tem sua origem bem antes ao período de escolarização, pois podemos aqui afirmar que esse processo tem suas origens dentro do próprio ambiente familiar, pois a partir do momento que o indivíduo nasce com algum tipo de “deficiência” este já tende a sofrer indiferenças dos pais, dos irmãos e da própria sociedade em si, ele próprio se excluindo-o do seu meio social, sendo este “ser” vítimas de inúmeros preconceitos. 3 Tendo em vista o ambiente familiar percebe-se a origem e o desenvolvimento de um “Choque de Consciência”, tal qual podemos defini-lo a partir de duas perspectivas, a primeira refere-se a questão “idealizada” pelos pais do “filho perfeito”, em que eles criam todo um imaginário de que seu filho nasça saudável sem nenhum problema físico e mental. A segunda concepção refere-se ao (re)conhecimento do próprio indivíduo portador de alguma deficiência frente as suas potencialidades e ou capacidades, sendo este o momento de auto aceitação (tipo: sou desse jeito e pronto) ao qual perdurará por toda sua vida. Sobre o reconhecer a si próprio, podemos fazer menção aqui de uma breve passagem do Livro 1 “As Crônicas de Gelo e Fogo - A Guerra Dos Tronos”, em que o personagem Tyrion Lannister fala para o personagem “bastardo” Jon Snow: “- Deixe-me lhe dar um conselho, bastardo - disse Lannister. - Nunca se esqueça de quem é, porque é certo que o mundo não se lembrará. Faça disso sua força. Assim, não poderá ser nunca a sua fraqueza. Arme-se com esta lembrança, e ela nunca poderá ser usada para magoá-lo.” (MARTIN, 2010, p.77). Seguindo este ponto de vista, a partir do momento de “auto aceitação” em que o indivíduo supera as suas dificuldades ele poderá estar apto a sair do que podemos chamar aqui de “ambiente de conforto”. No entanto é fato ressaltar que este ambiente prioriza tanto a proteção como o confinamento no sentido de se isolar, de ficar restrito a sociedade-mundo. O nascimento de um bebê com deficiência ou o aparecimento de qualquer necessidade especial em algum membro da família altera consideravelmente a rotina no lar. Os pais logo se perguntam: por quê? De quem é a culpa? Como agirei daqui para frente? Como será o futuro de meu filho?” O imaginário, então, toma conta das atitudes desses pais ou responsáveis e a dinâmica familiar fica fragilizada. Imediatamente instalam-se a insegurança, o complexo de culpa, o medo do futuro, a rejeição e a revolta, uma vez que esses pais percebem que, a partir da deficiência instalada, terão um longo e tortuoso caminho de combate à discriminação e ao isolamento. (MACIEL, 2000, P. 53). Mas um questionamento é feito, e quando o indivíduo não sai do seu ambiente de conforto? Seja porque ele não quer? Ou porque foi condicionado por sua família? A partir desta indagação citamos a estrutura familiar no que diz respeito ao 4 condicionamento e orientação para este individuo, “Na verdade, são eles (família) que intermediarão a integração ou inclusão de seus filhos junto à comunidade.” (MACIEL, 2000, p. 53). Muito se é falado mas pouco se é feito, referimo-nos aqui as políticas/educacionais. É notório observar a grande defasagem desde a formação do professor até a visível e decadente estrutura escolar que não dispõem de uma acessibilidade arquitetônica favorável para os portadores de necessidades especiais. Segundo Maciel (2000, p. 53), Nos estados e municípios, não existe uma política efetiva de inclusão que viabilize planos integrados de urbanização, de acessibilidade, de saúde, educação, esporte, cultura, com metas e ações convergindo para a obtenção de um mesmo objetivo: resguardar o direito dos portadores de deficiência. Para que haja a integração da inclusão é necessário o compromisso de todo o ambiente escolar, que na concepção de Paulo Freire vai desde o faxineiro até a coordenação escolar, núcleo gestor, etc. e os professores como agentes principais na mediação da aprendizagem escolar, ele precisa passar por uma formação acadêmica que privilegie a inclusão social tendo no mínimo no âmbito da grade curricular a disciplina de Libras, a qual se fará essencial no trajeto cotidiano em sala de aula, pois vemos aqui que diante a deficiência do aluno, a maior deficiência se faz presente nas políticas públicas as quais refletem no espaço escolar e na formação do profissional docente. Então perante tantos estorvos, urge a necessidade de mudar essa realidade, que segundo Maciel (2000, p. 55), [...] é necessário analisar se o ambiente de aprendizagem é favorecedor, se existe oferta de recursos audiovisuais, se ocorreu a eliminação de barreiras arquitetônicas, sonoras e visuais de todo o próprio escolar, se existem salas de apoio pedagógico para estimulação e acompanhamento suplementar, se os currículos e estratégias de ensino estão adequados à realidade dos alunos e se todos os que compõem a comunidade escolar estão sensibilizados para atender o portador de deficiência com respeito e consideração. Ainda de acordo com Maciel (2000) a verdadeira integração entre o professor e o aluno só é possível a partir do momento que ele (professor) e os demais agentes que fazem parte do ambiente escolar tenham um conhecimento mais apurado sobre 5 deficiência, suas causas, características e as diversas necessidades educativas que fazem parte de tal processo, pois é necessário que o docente passe por uma formação que o contemple sua visão sobre esta área. A ESCOLA COMO ESPAÇO DA DIVERSIDADE Assume aqui, fazermos uma breve análise a respeito da escola e mais especificamente do seu papel dentro da sociedade. É fato observarmos no dia-a-dia que esta instância vem sendo deslegitimada, sucateada, face a um caráter anacrônico, e que neste mundo tecnificado a escola tem-se tornado “quase” incapaz de exercer o seu verdadeiro papel socializador, de inclusão social, de formar cidadãos, de instruir/compartilhar conhecimentos, etc. Sendo a escola um espaço de conhecimento, de socialização, de produção do saber, ela também é um espaço heterogêneo permeado por contradições devido as muitas realidades que se instalam internamente e que faz da escola um espaço de resistência, pois ela se encontra inserida em meio a um jogo de poder que institui novos padrões de comportamento aos agentes que se fazem presentes nesta instância. Na realidade escolar é frequente os casos de exclusão, estas das mais variadas formas e nas mais diversas circunstâncias, ou seja, muitas vezes o aluno é excluído das rodas de brincadeiras por outros alunos; as vezes por tirar notas ruins, acaba sendo (no melhor sentido da frase) “crucificado” pelo professor e demais colegas; outras vezes o aluno por ser portador de algum tipo de deficiência física, seja visual, auditiva, cognitiva etc., tornando-se um sujeito passivo na sala de aula, na escola e até fora desta não recebendo a devida atenção dos pais, familiares, amigos etc. Mediante o descrito, é fato perceber que estes sujeitos (excluídos) acaba por serem vistos como desprovidos, incapacitados, como se não pudessem viver, de atuar no meio social assim igual a outros tantos vistos como “normais”. De acordo com Magnoni Jr. (2000) a globalização e o neoliberalismo agravam de forma profunda as desigualdades e a exclusão social. São muitos os estorvos que dificultam a permanência na escola, além de tantos processos, que sucateiam o ensino e a escola. A escola é indispensável na sociedade, na vida e formação do sujeito, ela é uma construção social coletiva acoplada de sentidos, valores, significados que dão a ela e aos seus agentes uma identidade, pois de acordo com Pinto (2013, p.180) “[...]. No século XVIII, transformações sociais e políticas apresentam a escola como uma 6 necessidade. Nos séculos seguintes a necessidade da escola se faz indispensável na participação da vida social e, posteriormente, na melhoria da qualidade de vida da população.” Fazendo um breve retrospecto histórico, vemos que os surdos desde o ambiente escolar eram tidos como inferiores desde a capacidade de aprendizado, até o próprio convívio social. De início os primeiros educadores que trabalhavam com a questão inclusiva dos surdos, acreditavam que era necessário desenvolver a oralidade destes, devido acreditarem que a língua de sinais podia de alguma forma atrapalhar o desenvolvimento social e cognitivo. Ou seja, a língua, a cultura e a identidade surda eram totalmente desprezadas. A aprovação e institucionalização da LIBRAS pouco tempo depois, significou muito mais que valorizar e reconhecer a cultura surda, mais de oferecer oportunidades que se tornaram presentes no cotidiano dos surdos. Isso devido estas mudanças irem muito mais além do ambiente escolar mais se fazendo presente na organização da sociedade. A respeito de cultura surda, Strobel (2008, p. 22) explica que: Cultura surda é o jeito de o sujeito surdo entender o mundo e de modificá-lo a fim de se torná-lo acessível e habitável ajustando-os com as suas percepções visuais, que contribuem para a definição das identidades surdas e das ‘almas’ das comunidades surdas. Isto significa que abrange a língua, as idéias, as crenças, os costumes e os hábitos de povo surdo. Temos que reconhecer que nosso atual sistema educacional não está preparado para garantir a inclusão do surdo no ambiente escolar desde as questões estruturais até na própria falta de investimento e qualificação dos professores. Como a escola se faz o espaço da diversidade (por mais que às vezes busque a padronização tradicional: Filas, fardas e Hinos), seus profissionais devem estar instigados a buscar entender a diversidade, neste caso sobre a comunidade surda e suas especificidades. É preciso não se acostumar com o discurso fatalista do governo. Ainda é necessário rever as políticas públicas em relação à educação inclusiva, desde o ambiente escolar, perpassando pela democratização ao acesso do ensino, até o próprio governo que tem por obrigação e responsabilidade investir no social e consequentemente nesta área, formando e qualificando os profissionais e instâncias envolvidas. 7 Se negarmos de praticar a inclusão desde o ambiente escolar, desde a oferta do ensino de qualidade, dificilmente tenderemos a criar cidadãos pensantes a respeito do direito de acesso igual a todos. O surdo não é um estranho, pelo contrário, é justamente o contato entre essas culturas bilíngues que desmistificará todos os preconceitos que reproduzem à exclusão em nossa sociedade. Nisto a escola assume relevante papel, como espaço do pensar e do saber, haverá os multiplicadores da inclusão, tornando os espaços mais justos, humanos e respeitando principalmente a diversidade. Assim o espaço escolar, esta como instancia social construída socialmente deve estar aberta e apta para todos, ela é e deve ser universal, como comunidade do saber ela deve proporcionar condições reais de aprendizagem, dá suporte ao aluno independente da sua cor, classe ou provido de alguma(s) deficiência(s), como espaço heterogêneo ela deve saber lidar com as muitas realidades ali presentes. A escola deve ser o espaço da diversidade. POR UMA GEOGRAFIA MAIS DINÂMICA E INCLUSIVA O Conhecimento geográfico é imprescindível para a formação de uma consciência crítico-reflexiva, que acompanhará as pessoas ao longo de suas vidas, seja enquanto ciência ou disciplina escolar. E nisto de “grosso modo” o espaço geográfico é percebido através dos sentidos humanos, refletindo justamente na percepção espaço-temporal de cada um, a partir disso a premissa da excelente utilização dos sentidos olfativos, táteis e principalmente visual dos surdos. É de realço enfatizar que o aluno já possui um certo conhecimento geográfico (não sistematizado) do seu espaço (lugar vivido), através do trabalho ele (re)produz espaço modificando assim a natureza que o circunda, o aluno é sujeito ativo das transformações que modelam sua realidade. É a partir da vivencia do aluno que o professor deve ministrar o conteúdo (geográfico) relacionando-o, sistematizando aquele saber ainda “empírico” do aluno afim de que este possa não só ser agente transformador do espaço, mas também que possa ser consciente, crítico deste mesmo espaço de vivencia o qual são muitas as contradições/conflitos que se tornam invisíveis aos olhos de muitos. Frente a isso os avanços simultâneos e instantâneos do desenvolvimento tecnológico nos permitem neste século, pensar no uso da tecnologia como forma de intensificar ainda mais a inclusão. Diante disto estamos passando por diversas mudanças culturais, econômicas e políticas nos diversos setores e espaços 8 institucionais, como por exemplo, a escola – que a partir da universalização do direito a educação, torna-se necessário ampliar e reestruturar o sistema de ensino. Como explica Almeida (2008, p.15): [...] verifica-se que o processo de universalização do direito à educação, aos poucos, torna-se uma realidade no Brasil. Vários são os desdobramentos engendrados no campo das políticas públicas educacionais, na média em que novas demandas surgem, exigindo novas posturas tanto dos educadores quanto do sistema educacional, ou seja, requerendo uma reestruturação do sistema de ensino. O processo de ensino-aprendizagem tem seu elo fundamental na relação professor-aluno e se materializa negativa ou positivamente através de como se dá a comunicação entre estes, tendo ainda um como elemento mediador que é fundamental no processamento dessas informações: O recurso didático, que auxilia tanto o professor na sua função pedagógica como também ajuda os alunos a visualizarem de forma mais clara os conteúdos apresentados. Mas para um uso adequado de seja qual for o recurso professor deve-se conhecer os conteúdos e tentar superar as dificuldades de aprendizagem dos alunos. Na LIBRAS há uma infinidade de configurações de mãos que juntas com a própria expressão do indivíduo, buscam representar toda forma de realidade (Objetos, ações, coisas). Neste aspecto podemos perceber que como o espaço geográfico recebe na maioria das vezes através do campo visual maior atenção, este tende a ser representado como a forma do meio (espaço) materializada em códigos. Se tendermos a explorar mais a complexidade destes sinais em relação à representatividade dos conteúdos geográficos, poderemos perceber um arranjo de ideias embutidas no sinal. Por exemplo, temos o sinal de mão que representa um rio (e mais além seu percurso). (Ver imagem 1 em anexo). De início é feito o sinal da água (recurso hídrico), ao qual já tem um símbolo próprio, e depois se procede juntamente com este uma espécie de curvatura, indicando os arqueamentos do rio ao longo de seu leito. Se formos mais além, explicar esse sinal para o surdo, passando que essas curvidades ao longo de seu leito resultam dos processos geomorfológicos que consequentemente modelam a paisagem e o percurso do rio, vemos a representação da erosão fluvial embutida no próprio sinal. 9 O sinal que representa pobreza, por exemplo, seguindo essa ideia, reflete a caracterização de um pedinte. (Ver imagem 2 em anexo). Para os surdos desenvolverem esse sinal, nos justifica lembrar que estes à medida que identificaram este problema social nos seus espaços urbanos (e ou rurais), relacionaram o indivíduo desprovido de bens, ao qual mendigava moedas, como característica do ser pobre, caracterizando o ato do “pedir” com o elemento dominante principal do sinal em libras. Podemos visualizar nestes simples exemplos a relação com a representação de certos contextos e conteúdos através da percepção do espaço ao redor dos surdos. O que de fato pode variar a partir do regionalismo, característica fundamental de diferenciação dos códigos na LIBRAS. Esse é o desafio, aproximar ainda mais os processos de produção do espaço e organização deste para a comunidade surda. O espaço é dinâmico, logo as aulas têm que ser dinâmicas. Representar o espaço é também associar a produção dos sinais e códigos para com o conteúdo. Utilizar único e exclusivamente o livro didático empobrece e muito a riqueza de informações e logo a representatividade deste conteúdo (se não correlacionado com a realidade do aluno). A partir destas reflexões pedagógicas temos Moreira (2004, p. 9): [...] a maneira mais convencional de ensinar geografia – aula expositiva e livro didático -, descrevendo e explicando um fenômeno natural ou humano de forma descontextualizada e estática, [...] torna-se insuficiente para apreender a complexidade do espaço. Práticas de ensino desse tipo estão ultrapassadas em relação à qualidade da informação (e à quantidade) a que o aluno está submetido neste início de século. A geografia se faz inclusiva na medida em que esta tende a ser visualizada e inserida na realidade do aluno. Sobretudo aqui o aluno com surdez. Se a geografia durante muito tempo foi estereotipada como medíocre, descritiva e da decoreba por utilizar demais o livro didático, é preciso desacorrentar neste caso ainda mais o vínculo do professor para com esta, reforça-se a ideia aqui. Utilizar e trabalhar ainda mais com o campo e memória visual com diversos recursos desde figuras, vídeos, fotografias, jornais, para que o entendimento seja reforçado e materializado através destes recursos. CONSIDERAÇÕES FINAIS 10 Podemos perceber que há uma considerável produção acadêmica acerca do processo de formação acadêmica, e de metodologia em sala de aula. Porém o mesmo não acontece com a produção acadêmica (sobretudo geográfica) destinada a inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais e ou metodologias utilizadas para com estes. Já é sabido que por lei, e devido os novos reajuste e reformas sofridas nos currículos, é dever de toda instituição pública atender a todos, indistintamente. O professor de geografia hoje, não comtempla durante seu processo de qualificação profissional respaldo que garanta atender a diversidade presente na sala de aula, no que se refere ao atendimento aos portadores de necessidades educacionais especiais. Em relação ao interpretes em sala de aula em primeira instância é a solução mais viável pra situação atual, porém, exatamente nesta área há um déficit muito grande em relação à oferta de cursos de LIBRAS, é um mercado que vem crescendo gradualmente. A ‘LIBRAS’ deve ser a ponte que garanta aos alunos o saber geográfico. Se a geografia estuda e prepara o homem, ele tem de levar em conta todos estes, não deve haver separações, nem tão menos discriminação entre estes. As condições individuais que dificultem o aprendizado devem ser superadas através da qualificação do professor e de toda assistência ao qual possa se viabilizar no sistema de ensino. O que nos torna acreditar no ensino de geografia a serviço da inclusão, é que esta seja enquanto ciência ou disciplina escolar possui atrativos que permitem o desenvolvimento de projetos científico-pedagógicos, trabalhos, maquetes, instalações geográficas aos quais podem tornar mais consequentemente a visualização de conteúdo. interessante o aprendizado e Utilizar a LIBRAS (em relação a comunidade surda) neste processo, seja no domínio pedagógico do professor, ou no auxílio de interpretes em sala de aula, é garantir a melhoria da qualidade da aprendizagem e de vida para todo o público estudantil. Tornar a Geografia uma ciência que abarque a diversidade e a insira no contexto social, educacional e político, é uma missão gradativa. A geografia estuda o espaço, e a ação do homem neste, diante disto não devemos tornar esses “espaços” exclusivos, mas diversificados, heterogêneos e humanizados. R E F E R Ê N C I A S ALMEIDA, Diones Carlos de Souza. Geografia e educação especial / Inclusiva: o 11 caso dos deficientes visuais. 2008. 66f. Monografia – Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, Jan. 2008. MACIEL, Maria Regina Cazzaniga. Portadores de deficiência: a questão da inclusão social. São Paulo em perspectiva, 14 (2), 2000. MAGNONI JR, Lourenço. Globalização, neoliberalismo e exclusão calculada: reflexos sobre o ensino de Geografia. Marilia, 2000. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade estadual MARTIN, George R. R., 1948- A guerra dos tronos / George R. R. Martin; tradução: Jorge Candeias. - São Paulo: Leya, 2010. 592 p. : il. - (As crônicas de gelo e fogo; 1) MINI dicionário ilustrado de libras; fundação de articulação e desenvolvimento de políticas públicas para pessoas com deficiência e altas habilidades no rio grande do sul FADERS, porto alegre 2008. Disponível http://www.faders.rs.gov.br/uploads/Dicionario_Libras_CAS_FADERS1.pdf em: Acesso em: 24/10/2014 NAÇÕES UNIDAS. Declaração de Salamanca. Disponível em: <http://portal.mec. gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.pdf>. Acesso em: 24 out. 2014. Paulista. PINTO, Kinsey. Alinhavando Representações Sociais No Tecido Do (Sub) Espaço Geográfico Escola. Movimentos no Ensinar Geografia / Antonio Carlos Castrogiovanni, Ivaine Maria Tonini, Nestor André Kaercher (Organizadores). – Porto Alegre: Imprensa Livre: Compasso Lugar-Cultura, 2013. STROBEL, K. L. Surdos: Vestígios Culturais não Registrados na História. 2008. Tese (Doutorado em Educação) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2008. ANEXOS 12 Imagem 01: Disponível em: http://www.unifra.br/professores/14174/Livro%20de%20LIBRAS.pdf. Acesso dia 24/10/2014 Imagem 02: Disponível em: http://www.faders.rs.gov.br/uploads/Dicionario_Libras_CAS_FADERS1.pdf Acesso em: 24/10/2014