A INTERFACE SINTAXE E
DISCURSO NA GRAMÁTICA
FUNCIONAL
ROBERTO GOMES CAMACHO
Mestranda: Gabriela Maria de Oliveira
Disciplina: Teoria da Linguagem
30 de abril de 2009
Objetivo do texto
Mostrar como o modelo teórico da
Gramática Funcional se encaixa na
relação entre sistema e uso, explorando a
linguagem a partir do caráter heteróclito
de seus fenômenos. (p. 39)
Estruturalismo e definição do objeto de
estudo da linguística
 O estruturalismo consagrou a língua como o objeto de
estudo da linguística.
 Mudança: a partir dos anos 60, busca-se resgatar
justamente o que era obstáculo para Saussure
 Tendências não-formalistas (AD, Análise da
Conversação, Sociolinguística, Funcionalismo)
 Há, então, a aproximação entre o homem (um sujeito
social, étnico, pragmático, ideológico, retórico e
argumentativo) e a linguagem.
Modelos de gramática funcional
Teoria da Gramática Funcional de Dik
(1997)
Gramática Funcional do Discurso de
Hengeveld (2004) (Gramática discursivofuncional de Hegeveld e Mackenzie, 2008)
Teoria da Gramática Funcional (DIK, 1997)
GF: enfoca não só as regras que
governam a constituição das expressões
linguísticas, mas sobretudo as que
governam padrões de interação verbal
nos quais essas expressões são usadas
(linguagem do ponto de vista
interpessoal).
Representação em camadas
Arquitetura da GF:
 Representação subjacente (RS) – base semântica.
 A RS é constituída por:
1) Predicado e seus argumentos
2) Informação modificadora, que é expressa por
meio de operadores (π) e satélites (σ) - (exercem
função semântica adicional)
Arquitetura da GF
 (01) Provavelmente ele deve estar chegando logo.
Estrutura em camadas

Representação
(01) Provavelmente ele deve estar chegando logo.
(02) DECL E1 [PROV X1 [PRES e1 (PROG F1: chegarv
(ele)AgSujTop] (logo)tempo] (provável (e1))Aval]

Último nível: oração ou ato de fala – rede
intrincada de relações semânticas, sintáticas e
pragmáticas.
Níveis da predicação
 Nível da predicação nuclear (nuclear
predication): consiste no predicado e seus
argumentos.
 Nível da predicação central (core predication):
consiste na predicação nuclear estendida pelos
operadores de predicado e satélite de nível 1.
 Nível da predicação estendida (extended
predication): consiste na predicação central
estendida por operadores de predicado e por
satélites de nível 2 (p. 45)
Níveis da predicação
 Exemplos:
a)
Predicação central:
(03) comer (eu) (verdura)
b) Predicação central:
(04) Imper [[comer (eu) (verdura)] (avidamente)]
c) Predicação estendida:
(05) [Pres [Imper [[comer (eu) (verdura)] avidamente]
(todos os dias)]
(PEZATTI, 2004, p. 207-208)
“Esse enfoque funcional da gramática
caracteriza a oração como um objeto
essencialmente semântico cujas relações
de escopo entre cada componente são
representadas mediante esse tipo de
organização em camadas. Outro objetivo
central da GF é atingir adequação
pragmática, de um modo tal que o
componente pragmático se sobreponha
ao semântico e ao sintático”. (p. 45)
“De uma gramática da sentença para
uma gramática do discurso”
 Início dos anos 90 – a pesquisa em GF é
dirigida para a expansão do modelo de uma
gramática da sentença para uma gramática do
discurso.
 Primeira resposta à demanda: Dik (1997)
 Hengeveld (1997): o discurso é visto como um
nível adicional (ou um conjunto de níveis) acima
da oração – organização em camadas
ascendentes (upward layering)
 A camada adicional, chamada também de
Retórica, é composta por Moves (atos de fala).
 Muitos pesquisadores assumem que há uma
separação mais forte entre discurso e gramática
do que a representada em Hengeveld – Kroon
(1997): Módulo do discurso em oposição a
Módulo da sentença
Nova organização para a GF
Hengeveld (2004) afirma que são várias
as razões para a GF se expandir da
sentença para o discurso.
Modelo top-down de organização
Modelo top-down
Níveis de Organização
Nível Interpessoal
Nível Representacional
Nível Morfossintático
Nível Fonológico
Todos os níveis têm natureza puramente
linguística no sentido em que descrevem a
linguagem em termos das funções que ela
permite exercer.
 Tanto as regras de formulação quanto as regras
de codificação são fenômenos próprios de cada
língua particular e, portanto, não podem ser
descritas universalmente. Ex: em algumas
línguas, como a Tukáno, há diferença entre a
forma do imperativo e a do admonitivo, o que
não acontece no português.
 Os níveis mantêm uma natureza hierárquica,
apesar de serem relativamente independentes
entre si.
Nível Interpessoal
 O nível interpessoal dá conta dos aspectos
formais que refletem o papel de uma unidade
linguística na interação entre falante e ouvinte.
 Organização das unidades do discurso no
nível interpessoal:
(06) (M1: [A1: [(F1) (P1)S (P2)A (C1:[(T1) (R1)] (C1))
(F1))] (A1))] (M1))
(p. 53)
Nível Interpessoal
 Moves e Atos discursivos
(07) A – Ganhei dois convites para o show do Toquinho. A1
Você ‘tá interessada? A2 - Move1
B – Claro! Move2
 Move – unidade discursiva mínima que representa um turno na
interação, na medida em que expressa uma ação comunicativa por
parte do falante.
 Ato discursivo – menor unidade identificável do comportamento
comunicativo. Os Atos não necessariamente impulsionam a
comunicação.
 Nível interpessoal – nível acional
Nível Representacional
Explica os aspectos formais de uma
unidade linguística que refletem seu papel
no estabelecimento de uma relação com o
mundo que ela descreve.
Nível da denotação
(08) No zoológico eu vi um leão. (p. 57)
Nível Representacional
 Camadas:
Conteúdo proposicional (p)
Estado de Coisas (e)
Propriedade (f)
Indivíduo (x)
Lugar (l)
Tempo (t)
 Episódio (ep), Modo (m), Quantidade (q) e
Razão (r)
Conteúdo proposicional (p)
Episódio (ep)
Estado-de-coisas (e)
Propriedade (configuracional e lexical) (f)
Indivíduo (x)
Locação (l)
Tempo (t)
Modo (m)
Quantidade (q)
Razão (r)
Nível Morfossintático
Abrange as propriedades lineares de uma
unidade linguística, seja com respeito à
estrutura de sentenças, orações e
sintagmas, seja com respeito à estrutura
interna das palavras.
Expressão Linguística, Oração, Sintagma
e Palavra
A multifuncionalidade do conectivo “e”
nos níveis de representação:
coordenação e equipolência
Ilustração de como a multifuncionalidade
do conectivo e depende da camada em
que opera e como o modo de atuação
desse conectivo permite comprovar a
expansão do modelo de GF para o de
GDF.
Dependência (< ou >): é encontrada em
Atos para os quais o falante atribui
estatuto desigual.
(09) (...) levanta que hoje não tem aula
podemos brincar (p. 64)
Equipolência (< >): é encontrada entre
dois Atos para os quais o falante atribui
um estatuto comunicativo equivalente.
(10) A: O que aconteceu domingo no
Campeonato Paulista?
B: O Corinthians ganhou e o Santos
perdeu.
Há um forte vínculo entre a relação de
equipolência e a coordenação.
Relatores X Conectores
Atuação do conectivo no nível
interpessoal
 e: conector ou Marcador Discursivo (MD)
(11) então, [faz esse refogado] e [põe tomate], [um ou dois
tomates não mais do que isso] [pra não ficar(r) ácido] e
[agora saíram uns, uns temperos mais, mais novos]
[digamos assim], [porque têm dois anos mais ou
menos], [que é esse Puru purê,] então, [de uma a duas
colheres de Puru purê] ou [senão de Ketchup
(Quetchââ)] também, [uma ou duas colheres], [um ou o
outro], aí [põe o camarão naquele refogado,
rapidamente,] [só mexe o camarão depois dele limpo]
(...) (p. 67
(12) quando é que o aluno evidencia
conhecimento? e também quando é que o
professor solicita respostas do aluno que
exigem apenas, [e eu digo apenas porque
é o processo mental mais simples, nem
mesmo é considerado processo mental, é
simplesmente convocação, memória] (p.
67)
 A atuação mais recorrente de e no nível interpessoal é de viabilizar
um processo interacional.
 “A diferença em relação à função de expansão textual, na
constituição de estruturas representacionais, é que, nesse caso, e
atua principalmente na construção e na organização do conteúdo
informacional do texto, enquanto, no uso discursivo, e atua na
orientação da interação verbal, funções que Dik (1997b) atribui
também à classe dos conectores. De qualquer forma, esse caso,
que é de imbricamento entre texto e interação, difere
consideravelmente do e relator, sobretudo quanto ao uso discursivo,
momento em que o conectivo mais se afasta de seu comportamento
de relator coordenador. Trata-se, na verdade, de duas diferentes
funções dos conectores ou MDs, aqui identificados como função
textual (nível representacional) e como função discursiva (nível
intepessoal)”. (p. 71
Atuação do conectivo no nível
representacional
(13)a. então sucede que você vendo as estatísticas de
tráfego de distribuição de carga e peso
b. o indivíduo tem que ter conhecimento, compreensão,
análise e síntese
(14) L2: a sua família é grande?
L1: nós somos:: seis filhos
L2: e a do marido?
L1: e a do marido... Eram doze agora são onze...
(p. 73)
 Lakoff (1971): conjunção simétrica e conjunção
assimétrica
(15) agora, uma escola se compõe de um... um...
local em que haja condições do estudante ter
aula e do professor dar a sua aula
(16) Cheguei em casa, vi televisão e depois vim
pra cá pra pra conversar
(p. 74)
Na coordenação simétrica, o conjunto é,
de certa forma, maior que a soma das
partes
O exemplo (16) tem a característica da
irreversibilidade – conceito de iconicidade
(Haiman, 1980)
Referências Bibliográficas
 CAMACHO, R. G. A interface sintaxe e discurso na
gramática funcional. In: Os fatos da linguagem. Esse
conjunto heteróclito. Araraquara: FCL-Unesp Laboratório
Editorial; São Paulo: Cultura Acadêmica, 2006. p. 39-79.
 HENGEVELD, K.; MACKENZIE, J.L. Functional
Discourse Grammar. A typologically-based theory of
language struture. New York: Oxford University Press,
2008.
 PEZATTI, E.G. O funcionalismo em linguística. In:
MUSSALIM, F.; BENTES, A.C. Introdução à linguística.
Domínios e Fronteiras. V. 3. São Paulo: Cortez, 2004, p.
165-218.
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