A Z E I TO N A S Azeitonas de mesa Há mais de 5.000 anos, as oliveiras surgiram no Oriente Médio e se estenderam por toda bacia mediterrânea. Seu fruto, as azeitonas, é o ingrediente principal do azeite. Diferentemente do que muitos pensam, as azeitonas não se diferem apenas em verdes e pretas, ou seja, não é só em seu ponto de maturação que elas variam. Existem milhares de cultivares de oliva, distribuídos ao longo do Mediterrâneo, e também no resto do mundo. Alguns deles encontrados basicamente em uma só região, em seu terroir nativo. Só na Itália existem mais de 700 tipos diferentes e cada um transfere para o óleo um caráter único. Existem diversos sabores e aspectos. Essas características variam de região para região e no processo de maturação, que é de verde para preta. Umas podem ter mais polpa, outras menos polpa, formas diferentes e caroços de tamanhos diferentes. Os cultivares utilizados para azeitonas de mesa não são os mesmos que aqueles destinados à produção 34 PIZZAS&MASSAS Nº 13 - 2014 de azeite, possuem uma polpa mais suculenta, mas não produzem muito óleo. A azeitona não pode ser consumida diretamente da árvore. É necessário um processo e um tratamento especial para reduzir o amargor natural do fruto. Algumas azeitonas são colhidas ainda verdes, enquanto outras amadurecem plenamente na árvore até atingirem uma cor escura. As azeitonas A azeitona é uma drupa que contém um princípio amargo, a oleuropeina, un baixo teor de açúcar (2,6% a 6%) - em contraste com outras drupas que podem alcançar 12% ou mais -, e um elevado conteúdo de azeite, de 12% a 30%, dependendo da variedade e do ponto de maturidade. Estas características fazem com que seja um fruto que não pode ser consumido na forma como ele se encontra na árvore, devendo para tal ser submetido a alguns processos que variam consideravelmente, não somente de uma região de produção para outra, mas também em função da variedade. Não obstante, algumas são exceções a regra porque a medida que o processo de maturação avança elas se convertem em frutos doces na própria árvore, geralmente devido a um processo de fermentação. Uma das variedades mais conhecida que ilustra esse caso é aquela chamada Thrubolea, crescendo na Grécia, principalmente na ilha de Thassos, como também na Creta e em várias ilhas do mar Egeu. A oleuropeina, composto próprio da azeitona e também do óleo de argano e da folha do troeno, deve ser eliminada por seu forte sabor amargo, embora não seja em nada prejudicial à saúde. Em geral, os frutos são submetidos a tratamento com hidróxido de sódio ou de potássio, salmoura e lavagens sucessivos com água, segundo os sistemas e hábitos locais. ALGUNS REQUISITOS PARA BOAS AZEITONAS DE MESA Tamanho No consumo de azeitona in natura, i.e. azeitonas de mesa, o tamanho é um fator importante porque, obviamente, influi diretamente na apresentação. As azeitonas médias pesam entre 3g e 5g e, as grandes, mais de 5g. Forma As azeitonas mais esféricas são melhor aceitas pelo mercado, embora certas azeitonas mais alongadas gozem também de um certo crédito. Caroço Deve se separar facilmente da polpa. A relação entre o peso da polpa e do caroço é, geralmente, de 5 para 1.0; o valor comercial cresce a medida que essa relação aumenta. Epiderme A epiderme da azeitona deve ser fina, elástica e resistente a batidas e machucados, bem como a ação dos alcalinos e da salmoura. Teor em açúcar Um forte teor em açúcar da polpa é favorável, admitindo-se como limite inferior um valor de 4%, principalmente em azeitonas submetidas a fermentação. Teor em óleo Ao contrário das azeitonas para produção de óleo (azeite), nas azeitonas de mesa é desejável um teor de óleo o mais baixo possível, porque pode prejudicar a conservação do produto e a consistência do fruto elaborado. É somente em certos tipos de azeitonas pretas que um teor em óleo médio ou até elevado é aceitável. Azeitonas semi-maduras São obtidas a partir de frutos em fase de maturação, ou seja, com cor em fase de mudança. Assim, por serem colhidas antes da plena maturação, possuem uma polpa bastante consistente e com formação do azeite inacabada. - Tratamento das azeitonas semi-maduras: as azeitonas são colocadas em grandes recipientes, normalmente de concreto, em uma solução aquosa com 2% de hipoclorito de sódio. Na hora de iniciar o processo para colocação no mercado, são retiradas e colocadas em recipientes com mais baixa concentração de hipoclorito de sódio. Em seguida, são lavadas com água, na qual se injeta ar comprimido. Esse processo é repetido diversas vezes, sempre com aeração, facilitando a penetração até o caroço. Finalmente, passam por uma última lavagem para eliminar restos de NaClO e baixar o pH até o nível de neutralidade (pH=7) Frequentemente, são mergulhadas em solução com gluconato ou lactato ferroso a 0,1% para escurecer mais os frutos. As azeitonas sao depois colocadas em salmoura durante vários dias, antes de serem acondicionadas em vidros ou latas para, em seguida, passarem por tratamento térmico de esterilização, com temperatura e pressão controladas. Azeitonas verdes São obtidas a partir da colheita de frutos em fase precoce de maturação, porém já tendo atingido um tamanho normal. As azeitonas são normalmente colhidas manualmente, no momento no qual ocorre uma ligeira mudança de coloração, de um verde folha para um verde ligeiramente amarelado, e quando a polpa começa a mudar de consistência, porém antes de seu amolecimento. A maturação da azeitona não deve ter sido iniciada ainda. Em alguns casos, a colheita de azeitonas de mesa é realizada por meios mecânicos, porém devido a taxa elevada de frutos apresentando machucados, é necessário proceder no campo mesmo, ao pé das árvores, a imersão dos frutos em uma solução alcalina diluída. As azeitonas recém colhidas devem ser levadas, se possível no mesmo dia, para a planta de tratamento e processo. Os principais tratamentos das azeitonas verdes são os seguintes: com fermentação (estilo espanhol) e sem fermentação ( estilo Picholino e estilo americano). - Estilo espanhol ou sevilhano: as azeitonas são tratadas com uma solução diluída de hidróxido de sódio para eliminar e transformar a oleuropeina e os açúcares, formar ácidos orgânicos que favorecem a fermentação posterior, e aumentar a permeabilidade do fruto. As concentrações em hidróxido de sódio variam entre 2% e 4%, dependendo do grau de maturidade das azeitonas, da temperatura, da variedade e da qualidade da água. O tratamento é realizado em recipientes de capacidade variável, sendo importante a solução cobrir perfeitamente os frutos, os quais ficarão nesse estado até que ocorra uma penetração da solução até 2/3 da polpa. As azeitonas serão, então, lavadas para completa retirada de todos os resíduos, e o mesmo processo será repetido várias vezes. As lavagens prolongadas eliminam bem as partículas de sódio, mas também arrastam os açúcares solúveis necessários à fermentação posterior. A fermentação é realizada em recipientes apropriados, sendo as azeitonas recobertas com salmoura. Tradicionalmente, usavam-se tonéis de madeira; hoje, utiliza-se grandes recipientes com superfície interna inalterável (bombonas plásticas). A salmoura provoca a saída do suco celular dos frutos e forma-se um caldo de cultura adequado para a fermentação. Inicia-se com concentrações de 9% a 10%, as quais são rapidamente reduzidas a 5%, devido ao forte teor em água intercambiável que possuem as azeitonas. Em um primeiro momento as bactérias gram-negativas não esporuladas se multiplicam ativamente, porém desaparecem em cerca de uma semana e meia. Esses bacilos são consequência das contaminações pro duzidas nas instalações, ambiente, e salmoura; para evitá-las recorre-se a medidas higiênicas básicas. 2014 - Nº 13 PIZZAS&MASSAS 35 A Z E I TO N A S A partir de um pH 6, os lactobacilos desenvolvem-se massissamente até a disparição dos gram-negativos e a redução da salmoura para um pH 4,5. Predomina o Lactobacillus plantarum, o qual somente produz ácido láctico a partir da glicose. Quando os produtos fermentescíveis se esgotam, cessa a formação de ácido. As leveduras aparecem junto com os lactobacilos; aquelas do tipo fermentativo não ocasionam alterações, mas as leveduras oxidativas consomem o ácido láctico e aumentam o pH e podem, por isso, ser perigosas para o processo. da manhã, por isso mesmo ela é conhecida na Andaluzia como azeitona lucentina. Sua área de influência se entende pela Andaluzia, mais especificamente na região de Sevilha, ao Sul de Córdoba e todo o Norte de Málaga. Cerca de 16% das oliveiras da Andaluzia são Hojiblanca. É usada tanto para azeitona de mesa (por sua polpa de firme textura), como também para a produção de azeite. Ainda que com muitas variações, é comum ser de tamanho grande, alcançando em média 4,8 gramas. Sua forma é a de uma esfera quase perfeita, com a relação polpa/caroço em tor- Andaluzia, também pode ser encontrada em Portugal, Estados Unidos, Argentina, Austrália e Israel. O fruto tem forma elíptica e tamanho médio, com peso que oscila entre 2,1 e 4,9 gramas e uma relação polpa/caroço entre 5,1 e 7,6. - Estilo Picholino: esse modo de preparo é particularmente utilizado com as azeitonas das variedades Picholine du Languedoc e Lucques, ambas do Sul da França, e com outras da Algéria e do Marroquos (Picholine marroquí). A amargura é retirada por um tratamento com hidróxido de sódio de 3° a 3,5° Baumé*, durante 8 a 12 horas, até chegar a uma penetração de ¾ da polpa. Lava-se depois as azeitonas várias vezes durante um dia ou dois antes de colocá-las em salmoura a 5/6% durante dois dias. Prepara-se, então, uma segunda salmoura a 7%, corrigindo a acidez com ácido cítrico (pH 4,5). Após 8 a 10 dias, as azeitonas estão prontas para o consumo e conservam uma cor verde intenso. As vezes, é necessário postergar a expedição e conservá-las, o que é fácil se a condição da temperatura ambiente não aumentar. Assim, podem durar até a primavera em concentrações de salmoura de 8%, mas, depois, é necessário usar salmoura a 10%. Em instalações industriais isotérmicas, costuma-se usar concentração de salmoura a 3%, mantendo a temperatura entre 5°C e 7°C. Antes de serem acondicionadas e temperadas, as azeitonas são lavadas repetidamente. Azeitonas pretas ou... maduras As azeitonas fermentadas corretamente conservam-se durante muito tempo. Se estão em tonéis é preciso manter o nível de salmoura. No momento da expedição, efetuase - caso não tenha sido feito anteriormente uma calibragem ou classificação dos frutos, coloca-se nova salmoura ou um tempero diferente, e o produto pode ser enlatado, ou colocado em recipientes de vidro, ou em pequenos baris. As vezes, efetua-se o descaroçamento e até ao enchimento com anchova, pimentão ou amêndoa, principalmente. Três tipos de azeitonas de mesa se destacam particularmente neste caso: Hojiblanca, Gordal, e Manzanilla. A Hojiblanca é a terceira variedade mais importante da Espanha. O nome dessa variedade vem da cor de sua folha, que confere uma claridade à planta, um aspecto prateado a distância, principalmente ao raios 36 PIZZAS&MASSAS Nº 13 - 2014 no de 8. A azeitona da variedade Hojiblanca produz um baixo rendimento graxo (17%), contudo o seu azeite é excelente e o fruto negro é muito aprecido pelo seu grande tamanho e pelo sabor bem agradável e a polpa de textuta firme. As Gordal cultivam-se principalmente na Andaluzia (Gordal de Sevilla) e também na província de Granada (Gordal de Granada). Hoje, existem também cultivares na Argentina, Estados Unidos e Israel. São frutos grandes, normalmente com menor teor de óleo, e com relação polpa/caroço média a alta. A Manzanilla é a variedade de azeitona mais difundida no mundo. Oriunda da São obtidas a partir de frutos colhidos em estado de quase total maturidade, uma vez adquirida a cor peculiar a cada variedade e o teor em óleo correspondente. Os tratamentos aplicados a diferentes categorias de azeitonas são numerosos e somente mencionaremos aqui os dois principais. - azeitonas pretas em salmoura: são típicas dos países do Mediterrâneo oriental, como na Grécia, que cultiva a variedade Conservolea (a mais conhecida e difundida variedade greca), que produz 200 frutos por quilo, e na Turquia com a variedade Gemlik. A colheita ocorre no estado de completa maturação, porém antes de chegar a sobrematuração e da formação de rugas provenientes de baixas tempera- *Graus de Baumé é uma escala para densidade de soluções criada pelo químico francês Antoine Baumé (1728-1804). É uma medida de densidade, não de concentração de soluções. Entretanto, se o outro componente tem densidade diferente da água, existe uma correspondência entre as duas medidas. Por isso, foi usada por indústrias de vinhos, cervejas, ácidos, etc. para, indiretamente, especificar ou controlar concentrações (observar também que a relação depende da solução. Não há uma relação genérica). sobremaduros. Lavadas energicamente, são colocadas em cestos, com camadas alternadas de sal (em quantidade de cerca de 15% do peso das azeitonas). O produto resultante é pouco amargo, salgado, com um aspecto de uva passa e destinado principalmente ao mercado local. Finalmente, convém frizar que existem inúmeros modos diferentes de preparo das azeitonas de mesa nas diferentes regiões turas (gelo). Essas azeitonas devem ser transportadas para o ponto de processamento o mais rapidamente possível, onde serão selecionadas, lavadas e mergulhadas em um banho de salmoura de 8% a 10%. As grandes processadoras utilizam recipientes de grandes dimensões, de 10 a 20 toneladas, enquanto que na produção artesanal ainda se usa tonéis de madeira. No início da fermentação evita-se o contato das azeitonas com o ar, fechando os recipientes e vedando-os bem, para tornarem-se estanques. Com a salmoura estimula-se a ação microbiana para a fermentação, e o amargor da oleuropeina é reduzido. A salmoura baizando até 6% torna-se necessário aumentar a sua concentração para 8% e, até mesmo, 10%, homogeneizando a solução pela ação de uma bomba que ativa a sua circulação. Quando o amargor tiver baixado o suficiente, o que ocorre em um lapso de tempo bastante variável, as azeitonas podem ser comercializadas. Para corrigir a perda de intensidade de cor que ocorreu durante o processo, as azeitonas são aeradas durante dois ou três dias; também podem ser tratadas com gluconato ou lactato ferroso a 0,1% para enegrecê-las mais intensamente. Finalmente, são acondicionadas em latas ou outros recipientes, com salmoura fresca a 8%. Também podem ser acondicionadas com vinagre (25% sobre o volume da salmoura) e passar por tratamento térmico. Adiciona-se algumas gotas de azeite em cada lata para formar uma capa superficial. Esse modo de preparo é típico para as azeitonas gregas de Kalamata - localidade no Sul do Peloponese - consideradas as melhores da Grécia. O tamanho desta azeitona varia de 1cm a 2cm até uma polegada. As azeitonas de Kalamata têm cor berinjela escura, excelente sabor de fruto e são deliciosas. Este tipo de azeitona se encontra exclusivamente na Grécia. - Azeitonas pretas ao sal seco: também de origem grega, são preparadas com azeitonas da variedade Megaritiki, com frutos oleícolas. São frequentemente consumidas após serem aromatizadas com ervas, pedaços de casca de laranja, de limão, páprica, alho, etc. Antigamente, o mercado de azeitonas de mesa era exclusivamente local; depois estendeu-se às regiões não produtoras, onde o produto foi bem aceito, principalmente os tipos espanhol, grego e... californiano! Dados de mercado A produção mundial de azeitonas de mesa está em torno de 2.500.000 toneladas. A Espanha é o principal país produtor, representando mais de 20% da produção mundial, com cerca de 550.000 toneladas. Em seguida, vem a Turquia com 430.000 toneladas, e o Egito com cerca de 400.000 toneladas. Argélia, Argentina, Síria e Marrocos possuem, cada um, uma produção anual superior a 100.000 toneladas. A Grécia, que costumava figurar nesse grupo, teve forte redução de sua produção devido a problemas climáticos. Portugal, que todos acham ser grande produtor, não chega a 15.000 toneladas! 2014 - Nº 13 PIZZAS&MASSAS 37