Apontamentos de Permutadores de Calor – Equipamentos Térmicos 2005 – João Luís Toste Azevedo Permutadores de Calor 1 - Introdução Os permutadores de calor são equipamentos térmicos que têm como objectivo promover a transferência de calor entre duas ou mais correntes de fluidos. A classificação de permutadores de calor pode ser efectuada de diversas formas consoante o critério considerado. Como exemplos podemos apresentar as seguintes classificações consoante os critérios: 1) Processo de transferência de calor - - Contacto directo Neste sistema existe contacto entre os fluidos entre os quais se permuta calor. Em alguns casos trata-se da mesma substância sendo o processo uma mistura. Outro exemplo são torres de refrigeração nas quais ar e água se separam, existindo no entanto transferência de massa das gotas de água para o ar húmido. Contacto indirecto. Neste sistema podemos ainda ter a transferência directa ou através de um sistema intermédio de armazenamento/transporte. Na transferência directa os fluídos encontram-se em contacto com uma superfície sólida que os separa. Na transferência de calor com um meio intermédio é usado um fluído ou uma matriz sólida que transporta energia entrando em contacto alternativamente com os fluidos principais quente e frio. São exemplos deste tipo os permutadores utilizados em fornos e caldeiras para aquecer o ar para a combustão à custa dos produtos de combustão e os regeneradores nos ciclos de tubina de gás. 2) Tipo de construção Os permutadores de contacto directo não são classificados sob este aspecto, sendo a sua constituição a de uma câmara onde se misturam os fluidos que permutam calor. Nos permutadores de contacto indirecto a classificação faz-se em relação à forma da superfície sólida que separa os dois fluídos e através da qual se processa a transferência de calor. As superfícies de transferência são na maioria tubos ou placas sendo os permutadores classificados pela disposição destes elementos. - - Construção tubular: Nestes permutadores um dos fluidos circula no interior de tubos circulando o outro fluido no exterior em tubo concêntrico ou no exterior dos tubos, sendo favorecido o escoamento perpendicular ao tubo por permitir maiores coeficientes de convecção. Construção em placas: As placas podem separar os fluidos e serem montadas em paralelo ou em espiral. Superfícies alhetadas: Tanto os permutadores baseados em tubos como placas podem possuir superfícies alhetadas. Nos permutadores com uma matriz sólida intermédia de transporte de calor a construção pode ser de matriz fixa onde periodicamente se troca o fluido que passa nessa ou rotativa (tambor ou disco) sendo neste caso a matriz sólida transportada. 1 Apontamentos de Permutadores de Calor – Equipamentos Térmicos 2005 – João Luís Toste Azevedo 3) Arranjo (tipo de escoamento) A classificação quanto ao tipo de escoamento relativo entre os fluidos que trocam calor é importante pois permite formular modelos que descrevem a distribuição de temperatura. Nesta classificação distinguem-se os arranjos com passagens simples e múltiplas: Passagens Simples: Neste tipo de permutadores cada fluido tem escoamento uniforme apenas numa direcção e sentido podendo serem classificados pela orientação relativa entre as correntes. - Equicorrente, contra-corrente. Nestes casos ambos os fluidos deslocam-se na mesma direcção, respectivamente no mesmo sentido ou em sentidos opostos. - Correntes cruzadas onde os fluidos têm direcção do escoamento perpendicular. Passagens Múltiplas: Nestes permutadores um dos fluidos tem mais de um sentido de escoamento em relação ao outro ou diversas correntes. São exemplos. - Configuração 2x1 em que a corrente de um dos fluidos tem duas passagens em sentidos opostos, uma em equicorrente e outra em contracorrente, em relação ao outro fluído que tem apenas uma passagem. - Em permutadores com correntes cruzadas é usual existirem diversas passagens em série para um dos fluídos (em sentidos alternados) enquanto o outro fluído mantém sempre um escoamento perpendicular. 4) Mecanismo de transferência de calor Em relação ao mecanismo de transferencia de ca1or os permutadores podem-se distinguir pela importância da convecção em relação à radiação. A convecção pode ainda dar-se com ou sem mudança de fase. O mecanismo de transferencia de ca1or para cada um dos fluidos no permutador pode ser diferente. 5) Grau de compactação Esta classificação permite distinguir os permutadores quanto a sua área especifica designando-se como compactos os permutadores com valores superiores a 700 m2/m3. Este valor não é rigido mas dá a indicação que se consideram como compactos permutadores em que a dimensão característica é da ordem de mm. 6) Aplicações As aplicações dos permutadores são muito numerosas podendo no entanto efectuar-se uma classificação tendo em conta o objectivo da sua utilização. São apresentados alguns exemplos: Grandes instalações: Caldeiras de aquecimento e de geração de vapor Com mudança de fase: Geradores de vapor, Evaporadores, Condensadores. Permuta de calor sem mudança de fase: Aquecedores, arrefecedores Recuperação de calor: Recuperadores quando o calor aproveitado é para outra aplicação e regeneradores quando o calor é aproveitado no próprio ciclo térmico. Dissipadores: Radiadores, torres de arrefecimento. Nestes pretende-se apenas efectuar um arrefecimento não sendo utilizada a energia transferida para o outro fluido. 2 Apontamentos de Permutadores de Calor – Equipamentos Térmicos 2005 – João Luís Toste Azevedo 2 - Equações gerais para permutadores de calor Neste capitulo vamos analisar a distribuição de temperatura nos permutadores de calor e apresentar os métodos principais para a sua análise. Para analisar um permutador de calor é necessário analisar os balanços de energia aos fluídos e as equações de transferência de calor, conforme indicado de seguida. Equações de balanço de energia Para a análise de permutadores de calor de uma forma simplificada considera-se que os fluidos são caracterizados por um calor específico constante. Com esta hipótese simplificativa podem-se desenvolver equações para o balanço de energia, diferença média de temperatura e eficiência do permutador de uma forma simples. Neste caso o calor perdido pelo fluído quente e ganho pelo fluído frio podem ser escritos como: Q& q = (m& c p )q (Tqe − Tqs ) Q& f = (m& c p ) f (T fs − T fe ) O fluido com mudança de fase pode ser considerado como um caso particular da análise apresentada anteriormente. Para este caso admitindo que a mudança de fase se dá a pressão constante (desprezando as perdas de carga) considera-se que a temperatura não varia e então cp=∞. Em muitas aplicações pretende-se que o calor seja integralmente transferido do fluído quente para o frio e assim considera-se que o permutador tem um funcionamento adiabático, isto é sem perdas de calor para o exterior. Neste caso verifica-se uma igualdade entre a taxa de transferência de calor e a potência trocada por cada fluído. No caso de se considerar uma forma mais complexa para a variação da entalpia com a temperatura, obviamente que se podem efectuar cálculos numéricos. No caso do permutador não ser adiabático o calor realmente permutado através da superfície de transferência pode ser calculado da potência trocada por um dos fluídos se este estiver confinado no interior do outro que então terá trocas com o ambiente. Num caso geral ambos podem ter trocas com o ambiente requerendo uma análise específica detalhada. Coeficiente global de transferência de calor Nos permutadores de calor de contacto indirecto e transferência directa os fluidos que permutam energia encontram-se separados por uma superfície de transferência de calor. A troca de calor entre cada fluído e a superfície pode ser descrita por um coeficiente de convecção, podendo incluir um rendimento no caso de existirem superfícies alhetadas. Q& = (Abase + A finη f )h(T fluido − TSupExp ) A transferência de calor pode também ser reduzida devido à existência de resistências localizadas. No caso das superfícies alhetadas podem existir resistências térmicas de contacto e de uma forma geral existem resistências térmicas devido à formação de depósitos nas superfícies e que designaremos por resistências de sujamento. Estas resistências podem ter denominações específicas de acordo com o processo de formação dos depósitos (scaling, fouling, slagging, ...). No caso de se considerar resistências localizadas a taxa de transferência de calor pode ser relacionada com as diferenças de temperatura entre a superfície exposta e a superfície sólida do meio que separa os fluídos. Q& = A(TSupExp − TSupSol ) RSuj 3 Apontamentos de Permutadores de Calor – Equipamentos Térmicos 2005 – João Luís Toste Azevedo Através da superfície sólida que separa os fluídos existe uma resistência térmica devido à condução de calor. No caso de um tubo circular pode-se escrever: Q& = 2πLk p (TSupSolExt − TSupSolInt ) ln(D Di ) A área sujeita à convecção para cada um fluidos em geral não é igual, especialmente no caso de se utilizarem superfícies alhetadas (ou pinos). A transferência de calor num permutador é caracterizada por um coeficiente global de permuta de calor U [W/m2K] que pode ser escrito de diversas formas dependendo da configuração do permutador. Para cada tipo de permutador selecciona-se uma determinada área de referência. No caso de superfícies compactas alhetadas considera-se a área total incluindo a das alhetas e calcula-se o valor de AU por exemplo na forma: −1 1 1 t AU = + RSuj ,1 + + RSuj ,2 + Ab k h2 ( Ab + ηa 2 Aa 2 ) h1 ( Ab + ηa1 Aa1 ) para o caso de superfícies alhetadas separadas por parede plana. Devido ao aparecimento de diversas áreas, para os permutadores compactos como se irá ver definem-se parâmetros característicos da superfície como a área das alhetas em relação à total, a área de permuta de um lado em relação ao outro e a área de permuta de referência por unidade de volume, facilitando os cálculos. No caso de permutadores de placas considera-se a área projectada e no caso de permutadores tubulares considera-se a área exterior dos tubos, conduzindo a: −1 1 D ln(D Di ) D 1 + RSuj ,i + U = + RSuj ,e + kP Di hi he A taxa de transferência de calor pode então ser definida pelo produto da capacidade de transferência de calor (AU) pela diferença média de temperatura entre os fluidos. Q& = AU (Tq − T f ) = AU ∆T A diferença média de temperatura entre os fluídos depende da configuração do permutador e é analisada de seguida para alguns casos. Diferença média de temperatura num permutador Ao longo de um permutador a temperatura do fluído e da superfície variam surgindo assim a necessidade de analisar os perfís de temperatura em configurações típicas e definir a diferença média de temperatura entre os fluídos. A análise para o caso de equi-corrente ou contracorrente é simples, enquanto para outras configurações o cálculo é mais complexo, sendo apresentados apenas os resultados finais desses casos. Para o caso de um permutador de correntes paralelas, podem-se considerar dois sentidos para as correntes conduzindo a quatro possibilidades ilustradas na tabela seguinte. Para cada um dos casos o balanço de energia aos fluidos em forma diferencial apresenta uma forma diferente como indicado. Temperatura Temperatura Equicorrente 0.6 0.4 0.8 0.6 0.4 0.2 0.2 0 1 dQ& q = −(m& c p )q dTq 0 Distância 0.45 Axial 0.9 dQ& f = (m& c p )f dT f 2 dQ& q = (m& c p )q dTq 0.1 Distância Axial 0.55 0 1 dQ& f = −(m& c p )f dT f 1 1 Contra-corrente 0.8 0.2 0.2 0.6 0.6 0.4 0.4 0 3 dQ& q = −(m& c p )q dTq 0 Distância 0.45 Axial 0.9 dQ& f = −(m& c p )f dT f 4 Contra-corrente 0.8 Temperatura 1 Equicorrente Temperatura 1 0.8 0 4 dQ& q = (m& c p )q dTq 1 Distância 0.55 Axial 0.1 dQ& f = (m& c p )f dT f Apontamentos de Permutadores de Calor – Equipamentos Térmicos 2005 – João Luís Toste Azevedo Para determinar a distribuição de temperatura usam-se estas equações em conjunto com a equação de transferência de calor indicada a seguir: dQ& = PU (Tq − T f )dx Definindo a variável θ =Tq-Tf pode-se formular uma equação diferencial para essa variável, atendendo à igualdade entre o calor trocado pelos dois fluídos. Para o caso equicorrente podem-se escrever os dois conjuntos de expressões que conduzem às equações indicadas a seguir. dTq − PU dTq PU dx = (m& c ) (Tq − T f ) dx = (m& c ) (Tq − T f ) p q p q dT f = PU (T − T ) dT f = − PU (T − T ) q f f dx (m& c p ) dx (m& c p ) q f f 1 1 dθ 1 dθ 1 = − PU + θ = − BECθ = PU + θ = BECθ (m& c p ) (m& c p ) (m& c p ) (m& c p ) dx dx q f q f Sendo a única diferença entre as duas expressões o sinal. Integrando as equações obtidas obtém-se uma evolução exponencial em ambos os casos sendo aplicado em ambos os casos como condição fronteira a diferença de temperatura na extremidade para x=0 do permutador. Substituindo em ambos os casos para x=L podemos verificar que as duas expressões são equivalentes, como seria de esperar. θ = θ0e − BEC x θ = θ 0e BEC x θ L Tqe − T fe = = e− B θ 0 Tqs − T fs θ L Tqs − T fs = = eB θ 0 Tqe − T fe EC x EC x A partir daqui sem perda de generalidade utiliza-se a primeira expressão. O parâmetro BEC é um parâmetro característico das condições de funcionamento do permutador e pode também ser escrito em termos dos valores da temperatura nas extremidades: T −T T − T fe (Tqe − T fe ) − (Tqs − T fs ) θ 0 − θ L 1 1 BEC = + = qe qs + fs = = & (m& c p )q (m& c p )f Qq Q& f Q& Q& Podemos então escrever uma equação para as diferenças de temperatura nas extremidades substituindo o parâmetro BEC na expressão de θ(x) para x=L: (θ − θ ) θ L = θ 0e− BEC L = θ 0 exp− 0 & L PUL Q A diferença média de temperatura entre os dois fluídos pode ser definida como o valor do calor permutado Q& a dividir pelo valor de AU. Para o permutador considerado a área de transferência A é igual ao produto do perímetro P pelo comprimento L. Assim: Q& θ −θ ∆T = = 0 L AU ln(θ 0 θ L ) Esta diferença média de temperatura é denominada de diferença média de temperatura logarítmica. No caso considerado (equicorrente) este valor pode ser escrito como: (T − T fe ) − (Tqs − T fs ) ∆TLnEC = qe ln (Tqe − T fe ) (Tqs − T fs ) Para o caso do escoamento em contra-corrente pode-se repetir a análise apresentada para o caso equi-corrente. Neste caso as equações para θ são as seguintes: [ ] 5 Apontamentos de Permutadores de Calor – Equipamentos Térmicos 2005 – João Luís Toste Azevedo 1 1 dθ 1 dθ 1 = PU − θ = BCCθ = − PU − θ = − BCCθ (m& c p ) (m& c p ) (m& c p ) (m& c p ) dx dx q f q f que se podem verificar ser equivalentes tal como anteriormente. Integrando obtêm-se: θ = θ 0e − BCC x θ = θ 0e BCC x θ L Tqe − T fs = = e− B θ0 Tqs − T fe θ L Tqs − T fe = = eB θ 0 Tqe − T fs CC x CC x No caso contra-corrente o parâmetro BCC toma o valor: T −T T − T fe (Tqe − T fs ) − (Tqs − T fe ) θ 0 − θ L 1 1 − = qe qs − fs = = BCC = (m& c p )q (m& c p )f Q& q Q& f Q& Q& Podemos então verificar que a diferença média de temperatura toma a mesma forma que no caso equi-corrente. As diferenças de temperatura nas extremidades do permutador no entanto não são as mesmas e em termos das temperaturas de entrada e saída dos fluídos pode-se escrever: (T − T fs ) − (Tqs − T fe ) = ∆T ∆T CC = ∆TLnCC = qe Ln ln (Tqe − T fs ) (Tqs − T fe ) [ ] sendo utilizado o simbolo ∆TLn sem índice pois esta expressão é mais utilizada como se irá ver a seguir. Na aplicação desta equação é indiferente trocar as diferenças de temperatura entre as extremidades, mas deve-se notar que a diferença deve ser sempre entre o valor maior e o menor, caso contrário conduz a valores negativos. Convém também aqui chamar a atenção para o caso em que os valores das capacidades térmicas m& c p de ambos os fluídos são iguais, pois neste caso BCC=0 indicando que a diferença de temperatura entre os dois fluídos é constante. Para além dos casos de equicorrente e contracorrente existem outros casos de permutadores com correntes paralelas que permitem determinar a distribuição de temperatura a partir de modelos unidimensionais. Uma configuração aproximada que surge em muitas aplicações é o caso do permutador 2x1 que consiste em ter um fluído com uma única passagem trocando calor com o outro fluído que tem duas passagens, uma em equicorrente e outra em contracorrente como indicado na figura. Existem duas alternativas para este tipo de arranjo O sentido das correntes inicialmente tem influência na distribuição de temperatura mas não influi a potência térmica trocada. No caso da capacidade de transferência (AU) ser elevada quando o segundo fluído entra primeiro em contracorrente pode inclusivamente conduzir a um cruzamento de temperatura, isto é a temperatura do fluído frio pode ultrapassar a do quente à saída quando o escoamento é em equicorrente (situação ilustrada a tracejado na figura). 1 1 0.8 Temperatura 2x1 EC - CC 0.8 Temperatura 2x1 CC - EC 2x1 EC - CC 0.6 0 0 00 0 Distância 0.45 Axial 0.4 0.2 0 0 0.4 0.2 0.2 0 0.2 0.2 0.6 0 0.9 0 Distância 0.45 Axial 6 0.9 2x1 CC - EC Apontamentos de Permutadores de Calor – Equipamentos Térmicos 2005 – João Luís Toste Azevedo A diferença de temperatura entre os fluídos pode ser calculada para o primeiro caso com base em balanços de energia aos fluídos e na equação de transferência de calor. A diferença de temperatura média entre os fluídos é dada por: Aux1 = Tqe − T fs + Tqs − T fe Aux1 onde ∆T2 x1 = 2 2 Aux 2 + Aux1 Aux 2 = (Tqe − Tqs ) + (T fs − T fe ) ln Aux 2 − Aux1 Distribuição de temperatura dos fluídos Para além da diferença média de temperatura entre os dois fluídos, pode-se determinar também o perfil de temperatura para cada uma das correntes. Este resultado é obtido considerando o calor trocado entre a posição x=0 e uma posição x qualquer: x UPθ 0 Q& 0 − x = ∫ UPθ 0e− Bx dx = 1 − e− Bx 0 B válido para qualquer das configurações (EC ou CC) desde que se use os parâmetros θ0 B específico. Para cada caso, tendo em conta o sentido do escoamento pode-se efectuar o balanço de energia aos fluídos quente e frio conduzindo a: Q& 0 − x = (m& c p )q (Tqe − Tq (x )) 1 EquiQ& 0 − x = (m& c p )q (Tqe − Tq ( x )) 3 Contra corrente corrente & & Q0 − x = (m& c p )f (T f ( x ) − T fe ) Q0 − x = (m& c p )f (T fs − T f (x )) A partir da igualdade entre cada uma destas expressões e o calor trocado, pode-se determinar as distribuições de temperatura conduzindo às expressões: Equicorrente Tqe − Tq ( x ) 1 − e− BEC x T f ( x ) − T fe 1 − e− BEC x = = Tqe − T fe 1 + Rq Tqe − T fe 1+ Rf ( ( Tqe − Tq (x ) Tqe − T fe ) 1 − e− BCC x = 1 − Rq e− BCC L ) ( ) Tqe − T f ( x ) 1 − Rq e − BCC x = Tqe − T fe 1 − Rq e − BCC L Contracorrente onde se introduziram as variáveis Rq = (m& c p )q (m& c p )f e R f = (m& c p )f (m& c ) p q que representam a relação entre as capacidades térmicas de ambos os fluídos. No caso das capacidades térmicas serem iguais, Rq=1 e para o caso contracorrente o perfil de temperatura é linear, sendo o perfil dado por: Tqe (m& c p )q + UP(L − x ) + T feUPx T fe (m& c p )f + UPx + TqeUP(L − x ) Tq ( x ) = Tf (x ) = (m& c p )q + UPL (m& c p )f + UPL [ ] [ ] A partir destas equações pode-se facilmente determinar expressões para a temperatura média de cada fluído no permutador mas normalmente para cálculos utiliza-se uma média aritmética para o fluído com maior capacidade térmica (maior m& c p ) e estima-se a temperatura do outro fluído com a diferença média de temperatura. Método θ e F-∆TLn Como se viu anteriormente a diferença média de temperatura num permutador pode ser expressa em função das temperaturas de entrada e saída de ambos os fluídos. Adicionalmente a temperatura de saída de ambos os fluídos também pode ser expressa em função das temperaturas de entrada, pelo que a diferença média de temperatura também pode ser expressa em função da diferença entre os valores das temperaturas de entrada. As equações obtidas para a diferença média de temperatura podem ser complexas como se viu para o caso 7 Apontamentos de Permutadores de Calor – Equipamentos Térmicos 2005 – João Luís Toste Azevedo do permutador 2x1 sendo ainda mais no caso de outras configurações. Torna-se assim interessante definir coeficientes que permitam relacionar a diferença média de temperatura com diferenças fáceis de calcular. A diferença média de temperatura entre os fluídos é sempre inferior à diferença entre as temperaturas de entrada podendo essa razão ser expressa pelo factor θ. ∆T θ= (Tqe − Tfe ) Este factor pode ser calculado de forma fácil para os casos de duas correntes paralelas. Para o caso do permutador contra corrente este factor é definido por: (Tqe − T fs ) − (Tqs − T fe ) θ= (Tqe − T fe )ln (Tqe − T fs ) (Tqs − T fe ) No argumento do logaritmico pode-se isolar a diferença entre as temperaturas das entradas conduzindo a: (Tqe − T fs ) = 1 − (T fs − T fe ) / (Tqe − T fe ) (Tqs − T fe ) 1 − (Tqe − Tqs ) / (Tqe − T fe ) onde surgem dois factores que representam a variação de temperatura de cada uma das correntes em relação ao máximo que poderiam variar na configuração de contra-corrente. Definindo os parâmetros P como estes valores para as duas correntes: (T − Tfe ) e P = (Tqe − Tqs ) Pf = fs (Tqe − Tfe ) q (Tqe − T fe ) Estes dois factores encontram-se relacionados pela relação entre as capacidades caloríficas que também pode ser definida como já indicado de duas formas: (m& c p )f (Tqe − Tqs ) Pq (m& c p )q (T fs − Tfe ) Pf Rf = = = e Rq = (m& c p )q (Tfs − T fe ) Pf (m& c p )f = (Tqe − Tqs ) = Pq [ ] O cociente entre as diferenças de temperatura pode-se também escrever como: (Tqe − Tfs ) − (Tqs − T fe ) = P − P = P (1 − R ) = P (R − 1) q f q q f f (Tqe − T fe ) em função dos parâmetros definidos para um ou outro fluído. Assim o factor θ pode ser expresso em função dos parâmetros de qualquer dos fluídos e pode-se facilmente verificar que o resultado é equivalente, pelo que se pode omitir o índice do fluído. Pq (1 − Rq ) Pf (R f − 1) P(R − 1) θCC = = = ln (1 − Pq Rq ) (1 − Pq ) ln (1 − Pf ) (1 − Pf R f ) ln[(1 − P ) (1 − PR )] A função θ pode também ser representada graficamente sendo no entanto necessário calcular (ou assumir) uma temperatura de saída para o cálculo do factor P. Para R=1 a expressão anterior conduz a uma indeterminação que levantada conduz a θCC=1-P. Para o caso do permutador equicorrente pode-se definir o factor θ a partir da diferença média de temperatura logarítmica para este caso conduzindo a: (Tqe − T fe ) − (Tqs − T fs ) ∆TLn EC = θ EC = Tqe − T fe (Tqe − T fe )ln (Tqe − T fe ) (Tqs − T fs ) Substituindo as diferenças de temeratura em função da diferença de temperatura entre as entradas pode-se definir de igual modo o parâmetro θ em função de P e de R: − P(R + 1) θ EC = ln[1 − P(R + 1)] [ ] [ [ ] ] 8 Apontamentos de Permutadores de Calor – Equipamentos Térmicos 2005 – João Luís Toste Azevedo Tal como no caso anterior este parâmetro adimensional é inferior à unidade e pode ser representado gráficamente. Pode-se observar que os valores resultantes desta função são sempre inferiores aos produzidos para o caso contracorrente. A configuração contracorrente para parâmetros fixos P e R indicam uma maior diferença média de temperatura entre os fluídos. Assim o mesmo calor permutado (traduzido pelo valor de P igual) pode-se verificar que a configuração contra-corrente é aquela que apresenta a maior capacidade de transferência (AU). Por outro lado para o mesmo valor da capacidade de transferência a configuração contra-corrente é a que permite maximizar a transferência de calor. Por este facto desenvolveu-se o método F-∆TLn em que se exprime a diferença média de temperatura para um permutador qualquer como o produto do factor F pela diferença média de temperatura logarítmica (definida como no caso da configuração contracorrente). Para o permutador equicorrente pode-se definir o factor F a partir da razão entre os valores de definidos anteriormente: ∆T EC θ 1 + R ln[(1 − P ) (1 − PR )] FEC = Ln = EC = ∆TLn θCC 1 − R ln[1 − P(1 + R )] Os parâmetros P e R como se tinha visto anteriormente podem ser definidos escolhendo um dos fluídos mas deve-se manter a coerência entre os valores. Para o caso R=1 a expressão anterior dá uma indeterminação que levantada conduz a: − 2 /(1 − P) FEC = (neste caso P<0,5) ln[1 − 2 P ] Para o permutador 2x1 a partir da expressão para a diferença média de temperatura podem-se também definir os parâmetros θ e F, conduzindo a: P 1 + R2 θ 2 x1 = 1 + R − 2 P − 1 + R 2 ln 1 + R − 2 P + 1 + R 2 ln((1 − P ) (1 − P ⋅ R )) 2 P (1 − P ) F= que no caso R=1 resulta em: F = 2 2 − P R +1− R +1 1− P 1−1 2 ln ln 2 − P R + 1 + R2 + 1 1 − P 1 + 1 2 Estas funções encontram-se representadas graficamente com um esquema que indica os parâmetros P e R definidos para o fluído que efectua apenas uma passagem: T −T T −T P = 2 s 2 e ; R = 1e 1s T1e − T2e T2 s − T2 e Como se referiu anteriormente podem-se considerar também os valores definidos para o outro fluído, tal como indicado junto da representação gráfica. A diferença média de temperatura e o factor F para este permutador pode ser utilizada sem grande erro para a situação de 4*1 e 8*1. Para outras configurações de escoamento a obtenção dos factores θ e F de forma explícita é complexa ou mesmo impossível, pelo que nestes casos se dispõe apenas de valores representados em forma gráfica ou em tabelas, existindo no entanto expressões que aproximam aqueles resultados. Para utilizar qualquer dos factores necessários apesar de no caso de θ se multiplicar este valor pela diferença entre as temperaturas de entrada dos dois fluídos é necessário pelo menos um valor da temperatura de saída para calcular o factor P. Para calcular a potência térmica trocada a partir das temperaturas de entrada e dos parâmetros de funcionamento do permutador é necessário considerar a equação de transferência de calor que é utilizada na formulação do método ε - NTU descrito a seguir. ( ( ) ) ( ( 9 ) ) Apontamentos de Permutadores de Calor – Equipamentos Térmicos 2005 – João Luís Toste Azevedo Método ε-NTU Como acabado de referir este método permite determinar a potência transferida no permutador a partir do conhecimento das temperaturas de entrada e das características de operação do permutador e que são as capacidades térmicas de ambos os fluídos e a capacidade de transferência de calor: (m& c p )f ; (m& c p )q ; AU A eficiência do permutador é definida como o valor do calor permutado em relação ao máximo que se pode permutar entre duas correntes de fluídos com temperatura de entrada conhecidas. Como a configuração de contra-corrente é a que permite a maior transferência de calor é com base nesta que se vai considerar a situação idealizada. A variação de temperatura de cada fluído no permutador é inversamente proporcional à sua capacidade térmica devido à igualdade entre as potências. Com base na distribuição de temperatura para o permutador de contra-corrente, pode-se observar que a temperatura de saída do fluído com menor capacidade térmica pode atingir a temperatura de entrada do outro fluído (No caso ilustrado anteriormente o fluído com menor capacidade térmica é o frio). Assim define-se a máxima quantidade de calor transferida como o produto da menor capacidade térmica do fluido pela diferença entre as temperaturas de entrada dos dois fluídos. Q& Máx = (m& c p )min (Tqe − T fe ) Como a definição de eficiência depende do fluído que tem menor capacidade térmica m& c p utiliza-se como nomenclatura letras minúsculas para a temperatura deste fluído e maiúsculas para o outro fluído. Assim sem perda de generalidade pode-se escrever: (m& c p )min (ts − te ) (ts − te ) Q& = ε= & = QMáx (m& c p )min (Te − te ) (Te − te ) Pode-se facilmente verificar que esta expressão conduz sempre a valores positivos, apesar de poderem ser ambas os factores negativos. O valor da potência no entanto deverá ser sempre tomada em valor absoluto. A definição da eficiência é sempre coincidente com a definição do factor P para o fluído de menor capacidade térmica. Como vimos anteriormente a razão entre as capacidades térmicas é outro parâmetro com interesse para a análise definindo-se aqui com um r minúsculo a razão entre a capacidade térmica menor e a maior, que pode também ser expressa a partir de diferenças de temperatura. (m& c p )menor (Ts − Te ) r= (m& c p )Maior = (te − ts ) A partir das definições anteriores pode-se representar a variação da temperatura em cada uma das correntes em função da diferença das temperaturas de entrada dos dois fluidos por: (ts − te ) = ε (Te − te ) (Te − Ts ) = εr (Te − te ) Estas equações são gerais e permitem calcular as temperaturas de saída para qualquer tipo de permutador desde que seja conhecida a sua eficiência. A eficiência permite calcular a potência térmica a partir de: Q& = (m& c p )min ε Te − te A potência térmica pode também ser calculada a partir da diferença entre as temperaturas de entrada e do parâmetro θ. Q& = AUθ Te − te 10 Apontamentos de Permutadores de Calor – Equipamentos Térmicos 2005 – João Luís Toste Azevedo permitindo observar que se pode definir um grupo adimensional como a razão entre a capacidade de transferência de calor e a capacidade térmica mínima dos fluídos a que se dá o nome de Número de Unidades de Transferência (Number of Transfer Units). AU ε NTU = = (m& c p )min θ Como o parâmetro θ pode ser expresso em termos dos factores P e R e como estes podem ser equivalentes respectivamente a ε e r pode-se então concluir que existe uma relação entre ε, NTU e r que constituí o método ε−NTU. O factor NTU relaciona-se também com a diferença média de temperatura logarítmica e com o factor F por: ε ε T − t ε (1 − εr ) − (1 − ε ) NTU = = e e = F∆TLn F ln[(1 − εr ) (1 − ε )] θ Assim para todos os casos em que exista uma equação para θ ou F em função de P e R, podese obter equações entre NTU, ε e r. Os valores de ε e r coincidem com os de P e R no caso do fluído considerado na definição ser o de menor capacidade térmica, caso contrário verifica-se que ε=PR ou P=εr e r=1/R. Relações ε-NTU para diversas configurações Para o caso contra-corrente em que F=1 obtem-se os resultados seguintes: ln((1 − ε * r ) (1 − ε )) 1 − exp(− NTU (1 − r )) NTU = ε= 1− r 1 − r * exp(− NTU (1 − r )) Para r=1 a expressão para ε e NTU dá uma indeterminação que eliminada conduz a: ε = NTU (1 + NTU ) NTU = ε (1 − ε ) Para r=0 as expressões acima reduzem-se a: ε = 1 − exp( − NTU ) NTU = − ln( 1 − ε ) Estas expressões são válidas para qualquer arranjo de escoamento com r=0 pois o fluido com capacidade térmica menor está sempre em contacto com o outro fluído a temperatura constante. Para o permutador de equicorrente, pode-se obter o valor de NTU a partir da definição da diferença média logarítmica deste caso ou de θ conduzindo a: 1 − exp(− NTU (1 + r )) − ln(1 − ε (1 + r )) NTU = ε= 1+ r 1+ r Para o permutador 2x1 obtém-se ( ( ) ) −1 1 + r − 2 ε − 1 + r 2 1 + exp − NTU 1 + r 2 2 ε = 2 ∗ 1 + r + 1 + r 2 NTU = ln 1+ r 2 2 1 + r − 2 ε + 1 + r 1 − exp − NTU 1 + r Para além destes casos para os quais se apresentou a diferença média de temperatura e o factor θ, existem outras configurações para as quais se estabeleceu a relação entre a eficiência e o número de unidades de transferência. Foram desenvolvidas expressões para o caso da configuração de correntes cruzadas. Para cada fluído considera-se que não existe mistura transversal (na direcção do escoamento do outro fluído) ou que essa mistura é perfeita. A hipótese de não se considerar mistura transversal é realista no caso do escoamento ocorrer de forma confinada em tubos ou em canais formados por exemplos em superfícies alhetadas. No caso de ambos os fluídos serem separados as distribuições de temperatura são bidimensionais e a eficiência é expressa por: 11 Apontamentos de Permutadores de Calor – Equipamentos Térmicos 2005 – João Luís Toste Azevedo n (r ⋅ NTU )m NTU m ( ) − − r ⋅ NTU 1 exp ∑ m! m! n = 0 m =0 m=0 ε= r ⋅ NTU Como esta formula é muito complexa e pouco prática para cálculos pode-se utilizar uma expressão aproximada dada por: ∞ n ∑ 1 − exp(− NTU )∑ ε = 1 − exp{(exp[− r ⋅ NTU 0.78 ] − 1) ⋅ NTU 0.22 r} No caso de existir mistura transversal do fluído a temperatura na direcção do escoamento do outro fluído tende a ser uniforme, sendo esta hipótese considerada para derivar a distribuição de temperatura que passa assim a ser unidimensional. Se ambos os fluídos se encontram misturados na direcção transversal de cada os resultados conduzem a: −1 1 1 r + − ε = (1 − exp( − NTU )) (1 − exp( − NTU * r )) NTU No caso de um dos escoamentos ter mistura transversal e o outro ser separado a solução depende de qual tem a menor capacidade térmica. No caso do fluido com menor capacidade térmica se encontrar misturado a solução é dada por: ε = 1 − exp[− (1 − exp(− NTU * r )) r ] NTU = − [ln{1 + r ⋅ ln(1 − ε )}] r Enquanto para o caso em que o fluido misturado é o que tem maior capacidade térmica a solução é: ε = [1 − exp(− r * [(1 − exp(− NTU ))])] r NTU = − ln{1 + [ln(1 − εr )] r} Um caso particular deste tipo de configuração ocorre quando um fluído circula em tubos em paralelo e outro fluído escoa-se perpendicularmente aos tubos com mistura transversal. No caso do número de tubos ser muito elevado podem-se usar as expressões anteriores enquanto se o número de tubos for muito pequeno devem-se usar valores representados graficamente calculados para esses casos. No caso do escoamento nos tubos não ocorrer em paralelo mas sim em série a distribuição de temperatura é diferente e existem também resultados representados graficamente. O tratamento dos arranjos com tubos podem ser tratados considerando as configurações como combinações de permutadores constituídos apenas por um tubo imersos numa corrente perpendicular em que o escoamento se verifica em paralelo ou em série enquanto o escoamento do fluído perpendicular aos tubos se verifica sempre em série. Este tipo de tratamento vai ser analisado no capítulo seguinte e é aplicável sempre que se considere que a temperatura do fluído entre permutadores em série se encontra a uma temperatura uniforme, ou seja aplica-se aos casos em que se assume mistura transversal. Em casos em que não existe mistura transversal do fluído e existem ligações em série ou em paralelo entre permutadores, não se pode aplicar a teoria desenvolvida no capítulo seguinte e devem-se usar resultados apresentados na literatura, por exemplo em forma gráfica para a variação da eficiência com NTU e r. 12 Apontamentos de Permutadores de Calor – Equipamentos Térmicos 2005 – João Luís Toste Azevedo 3 – ASSOCIAÇÕES DE PERMUTADORES Relações entre temperaturas de entrada e saída No caso de se associarem permutadores pode-se calcular a eficiência do conjunto de permutadores tendo em conta que a temperatura de saída de cada permutador pode-se exprimir em função dos valores de entrada utilizando a eficiência (ε) e a razão de capacidades térmicas (r) como vimos antes. Com efeito podemos exprimir a partir de: t −t T −T ε = s e e r = e s as seguintes equações para a temperatura de saída: Te − t e t s − te Ts = (1 − εr )Te + εrt e ou sob forma matricial t s = εTe + (1 − ε )t e Ts 1 − εr εr Te × t = ε 1-ε t e s De igual modo invertendo a matriz podemos exprimir também as temperaturas de entrada em função das de saída por: Te 1 − ε - εr Ts 1 t = × e 1 − ε (1 + r ) - ε 1 - εr t s As equações acima podem também ser resolvidas de modo a exprimir a temperatura de entrada de um dos fluidos e a de saída do outro em função das outras temperaturas: Ts 1 1 − ε (1 + r ) t = e 1− ε -ε εr Te - εr Ts Te 1 1 × ou = × 1 t s t s 1 − εr ε 1 - ε (1 + r ) t e Para além destas equações podem ainda exprimir-se as temperaturas de um dos fluídos em função das temperaturas do outro fluído conduzindo às matrizes seguintes: - (1 − εr ) Ts - (1 − ε ) t s t e 1 1 Te 1 1 t = (1 - ε ) - (1-ε (1 + r )) × T ou T = 1 − εr - (1 - ε (1 + r )) × t e e s εr s ε A tabela seguinte apresenta um resumo de todas as equações indicando-se na linha qual a temperatura que é representada em função de outras duas quando não se conhece o valor da temperatura indicada na coluna. Ts=? ts=? Ts= --------------- (1 − εr )Te + εrte Te=? (1 − εr )t s − (1 − ε (1 + r ))t e ε ts= εTe + (1 − ε )t e ----------------- εTs + (1 − ε (1 + r ))te 1 − εr te=? εrt s + (1 − ε (1 + r ))Te 1− ε (1 − ε )Ts − (1 − ε (1 + r ))Te εr Te= t s − (1 − ε )t e ε Ts − εrt e 1 − εr -------------------------- (1 − ε )Ts − εrt s 1 − ε(1 + r ) te= t s − εTe 1− ε Ts − (1 − εr )Te εr (1 − εr )t s − εTs 1 − ε(1 + r ) --------------------------- Estas equações são gerais e podem-se aplicar para qualquer tipo de permutador utilizando a eficiência para a configuração a que dizem respeito e a razão de capacidades térmicas. Estas equações são utilizadas a seguir para o estudo de arranjos de permutadores. 13 Apontamentos de Permutadores de Calor – Equipamentos Térmicos 2005 – João Luís Toste Azevedo Exemplo de eficiência de associação de permutadores Consideram-se associações quando existam diversos permutadores que utilizam os mesmos fluídos que podem circular em série ou paralelo. Como vimos acima existem relações entre as temperaturas de entrada e saída de cada unidade pelo que se pode definir também uma relação entre as temperaturas de entrada e saída de conjuntos de permutadores. Pode-se assim igualmente definir a eficiência de conjuntos de permutadores. Apresenta-se de seguida um exemplo ilustrativo com três permutadores que apresentam eficiências conhecidas. Como todas as ligações são em série a razão entre as capacidades térmicas r é igual para todos os permutadores e para o seu conjunto. t0 T0 ε1 t1 t2 ε2 T3 T2 ε3 t3 T1 Para o caso apresentado podem-se escrever as equações seguintes relacionando as temperaturas de saída de cada permutador com as respectivas temperaturas de entrada: T = (1 − ε 2 r )T2 + ε 2 rt1 T1 = (1 − ε 1r )T0 + ε 1rt0 T2 = (1 − ε 3r )T1 + ε 3rt2 ; 2) 3 ; 3) 1) t2 = ε 2T2 + (1 − ε 2 )t1 t1 = ε 1T0 + (1 − ε 1 )t0 t3 = ε 3T1 + (1 − ε 3 )t2 Para agrupar os permutadores 2 e 3 que se encontram em contra-corrente temos de eliminar as temperaturas intermédias T2 e t2 que se podem exprimir como: (1 − ε 3r )T1 + ε 3r (1 − ε 2 )t1 e t = ε 2 (1 − ε 3r )T1 + (1 − ε 2 )t1 T2 = 2 1 − ε 2ε 3r 1 − ε 2ε 3r Substituindo estes valores podemos exprimir as temperaturas de saída T3 e t3 em função das temperaturas de entrada T1 e t1 como: (1 − ε 2 r )(1 − ε 3r )T1 + (ε 2 + ε 3 − ε 2ε 3 (1 + r ))rt1 T3 = 1 − ε 2ε 3r t3 = (ε 2 + ε 3 − ε 2ε 3 (1 + r ))T1 + (1 − ε 2 )(1 − ε 3 )t1 1 − ε 2ε 3r Estas equações podem ser comparadas com as que se obtêm considerando a associação dos permutadores 2 e 3 (indicado a tracejado) que tomam a forma: T3 = (1 − ε 23r )T1 + ε 23rt1 t2 = ε 23T1 + (1 − ε 23 )t1 A partir de qualquer dos factores pode-se verificar que a eficiência da associação de dois permutadores em contra-corrente ε23 é expresso em função dos valores para cada ε2 e ε3 por: ε + ε − ε ε (1 + r ) ε 23 = 2 3 2 3 1 − ε 2ε 3r Depois de identificar o permutador equivalente 23 podemos considerar a associação deste em equicorrente com o permutador 1 e expressar as temperaturas intermédias T1 e t1 em função das de entrada T0 e t0 permitindo escrever as temperaturas de saída em função destas: T3 = (1 − r (ε1 + ε 23 − ε1ε 23 (1 + r )))T0 + r (ε1 + ε 23 − ε1ε 23 (1 + r ))t0 t3 = (ε1 + ε 23 − ε1ε 23 (1 + r ))T0 + (1 − (ε1 + ε 23 − ε1ε 23 (1 + r )))t0 14 Apontamentos de Permutadores de Calor – Equipamentos Térmicos 2005 – João Luís Toste Azevedo Comparando estas equações com as que se obtêm definindo o conjunto dos três permutadores como um único: T3 = (1 − ε 123r )T0 + ε 123rt0 t2 = ε 123T0 + (1 − ε123 )t0 pode-se definir a eficiência da associação de dois permutadores em equicorrente ε123 em função dos valores para cada ε1 e ε23 por: ε123 = ε1 + ε 23 − ε1ε 23 (1 + r ) O resultado final desta análise é a obtenção da eficiência da associação dos permutadores em função da eficiência de cada. Note-se que não se introduz nenhuma restrição ao tipo de permutador considerado que pode ser qualquer. Convém no entanto chamar a atenção que este procedimento só é válido quando se definem as temperaturas de saída de todos os permutadores com um único valor, ou seja que esse fluído se encontra misturado. No caso de se considerar um fluído num permutador sem mistura que conduza a um valor da temperatura de saída não uniforme, só se pode utilizar a aproximação acima se o fluído for então misturado. No caso das saídas separadas serem ligadas a entradas de outro permutador também separadas (e com valores diferentes) a análise apresentada não é válida. De seguida apresenta-se uma análise generalizada para as situações mais frequentes e que são associações de permutadores em série (equicorrente ou contracorrente) e em paralelo ou série/paralelo. Arranjo de permutadores em série Para a associação de permutadores em série é conveniente exprimir a relação entre a diferença de temperatura nas extremidades dos permutadores. Para o caso de permutadores em equicorrente interessa relacionar a diferença entre as temperaturas de saída com a diferença entre as temperaturas de entrada. Subtraindo as expressões para as temperaturas de entrada apresentadas anteriormente obtemos então: Ts − t s = (1 − ε (1 + r ))* (Te − t e ) No caso do permutador em contracorrente interessa relacionar a diferença entre uma temperatura de entrada de um fluido com a temperatura de saída do outro fluido. Podemos então considerar uma das equações seguintes: Ts − t e = ((1 − εr ) (1 − ε ))* (Te − t s ) Te − t s = ((1 − ε ) (1 − εr ))* (Ts − t e ) ou Convém relembrar que as equações apresentadas são válidas para qualquer tipo de permutador, sendo apresentadas nas duas formas para se caracterizar o caso de associações de permutadores completamente em equicorrente ou em contracorrente. Te=T0 T1 T2 T3 = Tn-1 Tn=Ts te=t0 t1 t2 t3 = tn-1 tn=ts Para o caso equicorrente esquematizado acima podemos relacionar sucessivamente a diferença de temperatura na saída de uma unidade com a correspondente diferença na entrada permitindo obter sucessivamente: T1 − t1 = (1 − ε 1 (1 + r ))* (T0 − t 0 ) = (1 − ε 1 (1 + r ))* (Te − t e ) T2 − t 2 = (1 − ε 2 (1 + r ))* (T1 − t1 ) = (1 − ε 2 (1 + r ))* (1 − ε 1 (1 + r ))* (Te − t e ) 15 Apontamentos de Permutadores de Calor – Equipamentos Térmicos 2005 – João Luís Toste Azevedo … n Ts − t s = Tn − t n = (1 − ε n (1 + r ))* (Tn −1 − t n−1 ) = ∏ (1 − ε i (1 + r ))* (Te − t e ) i =1 Comparando a última expressão com a expressão correspondente para um permutador equivalente ao conjunto dos permutadores pode-se concluir que a eficiência global é dada por: n εG = 1 − ∏ (1 − ε i (1 + r )) i =1 (1 + r ) sendo no caso de permutadores iguais ε G = 1 − (1 − ε1 (1 + r ))n onde ε1 é a eficiência de cada (1 + r ) permutador. Para a associação de permutadores globalmente em contra-corrente a eficiência global (εG) pode ser obtida seguindo um procedimento semelhante com base na figura. Te=T0 ts=t0 T1 T2 t1 t2 T3 = T n-1 Tn=Ts t3 = tn -1 tn=te T1 − t1 = ((1 − ε1r ) (1 − ε1 )) * (T0 − t0 ) = ((1 − ε1r ) (1 − ε1 )) * (Te − ts ) T2 − t2 = ((1 − ε 2 r ) (1 − ε 2 )) * (T1 − t1 ) = ((1 − ε 2 r ) (1 − ε 2 )) * ((1 − ε1r ) (1 − ε1 )) * (Te − ts ) … n Ts − te = Tn − tn = ((1 − ε n r ) (1 − ε n )) * (Tn −1 − tn −1 ) = ∏ ((1 − ε i r ) (1 − ε i )) * (Te − t s ) i =1 Comparando esta expressão com a expressão equivalente considerando o conjunto de permutadores como um único pode-se concluir que a eficiência da associação é dada por: n 1 − ε r i ε G = 1 − ∏ − ε 1 i i =1 n 1 − ε r i r − ∏ − ε 1 i i =1 1 − ε r n 1 − ε r n 1 1 r − no caso de n permutadores com eficiência ε1 ou ε G = 1 − 1 − ε1 1 − ε1 Para o caso de r=1 as expressões anteriores conduzem a uma indeterminação que após ser eliminada conduz respectivamente a: n nε1 εi εG = 1 + ∑ 1 + (n − 1)ε1 i =1 1 − ε i No caso de se considerar um número elevado de unidades (n>5) em série as eficiências globais tendem para os valores de um permutador global em equicorrente ou contracorrente, independentemente do tipo de permutador individual. εi i =1 1 − ε i n ε G = ∑ 16 Apontamentos de Permutadores de Calor – Equipamentos Térmicos 2005 – João Luís Toste Azevedo Associação de permutadores em paralelo Enquanto nos casos anteriores em série a razão de capacidades caloríficas r mantinha-se constante para as unidades individuais e para o conjunto, no caso de se considerar permutadores em paralelo é necessário contabilizar a divisão de caudais pelas diversas unidades e assim determinar a razão de capacidades caloríficas r para cada uma das unidades. A temperatura média de saída tem de ser calculada como a média ponderada com as capacidades caloríficas de cada unidade. No caso de ambos os escoamentos se dividirem em paralelo e uniformemente a razão de capacidades caloríficas em cada unidade ri mantém-se constante e igual ao valor global r. O mesmo se passa em relação ao número de unidades de transferência no caso de se tratar de permutadores iguais, pois tanto a área como os caudais se dividem igualmente. Neste caso a eficiência do conjunto de permutadores é igual à eficiência dos permutadores individuais. Uma situação semelhante à associação em paralelo ocorre nos permutadores de placas que são constituidos por Nt placas de transferência de calor passando os fluidos que transferem calor nos Nt+1 canais. Não se trata propriamente de uma associação de permutadores pois nos (Nt-1) canais interiores cada fluído troca calor com dois canais vizinhos enquanto na associação de permutadores se consideram os permutadores separados. Nos dois canais formados entre as últimas placas de transferência de calor e as placas exteriores consideradas adiabáticas a área de transferência é reduzida para metade. O efeito das diferenças nos canais junto às extremidades afecta a distribuição de temperatura o que se traduz numa diminuição da capacidade de transferência de calor como ilustrado na figura seguinte a partir do factor F. Nt=1 Nt =2 Nt =3 Nt =4 No caso de se considerar apenas uma placa térmica obtêm-se o caso de um permutador contra-corrente. No caso de existirem duas placas térmicas, o fluído exterior divide-se e podese idealizar que o fluído no canal interior também está dividido, pelo que este caso corresponde apenas a duplicar a área de permuta para o mesmo caudal total ou dividir as correntes de forma uniforme por dois permutadores com comportamento idêntico. Cada metade funciona com metade da capacidade térmica e metade da área de permuta mantendo no entanto os parâmetros NTU e r. As extremidades não introduzem alterações na distribuição de temperatura pois dividindo o fluído interior obtemos uma situação simétrica. No caso do número de placas térmicas aumentar (Nt>3), considerando o caudal dos fluídos dividido de forma uniforme, o fluido que passa nos canais exteriores troca calor apenas numa das faces pelo que sofre uma variação de temperatura menor que afecta a distribuição de temperatura em todos os canais. Como se pode verificar pela figura este efeito é maior para um número impar de placas térmicas onde a assimetria na distribuição de temperatura é maior afectando ambas as correntes. Os efeitos dos extremos só desaparecem para um número elevado de placas térmicas. Para além do factor F, existem valores da eficiência de permutadores de placas calculados para diversos valores de placas térmicas. 17 Apontamentos de Permutadores de Calor – Equipamentos Térmicos 2005 – João Luís Toste Azevedo Associação de permutadores mistos (série-paralelo) No caso de se considerar um arranjo misto com o escoamento de um dos fluidos em série e o do outro fluido em paralelo pode-se relacionar a eficiência do conjunto de permutadores com a eficiência e a razão de capacidades caloríficas de cada unidade. A derivação das equações correspondentes é efectuada com base no esquema representado abaixo, no qual a temperatura dos dois fluidos é identificada com índices representando a corrente paralela e em série, sem identificar qual tem a menor capacidade térmica. TPe=TP0 TSe=TS0 T S1 ε1 T S2 ε2 TP 1 TS3= TSn-1 ε3 TP2 TSn=TSs εn TPn TP3 n TsP = ∑ C& i / C& * Ti P i =1 A temperatura do fluido que passa em paralelo é obtida como uma média ponderada da temperatura de saída de cada unidade. A temperatura de saída do fluido circulando em série (TSs) pode ser determinada em função da eficiência de cada permutador individual (εi), da razão de capacidades caloríficas (ri) e das temperaturas de entrada dos dois fluidos (TSe, TPe), dependendo de qual o fluído que tem a menor capacidade térmica, como indicado a seguir: Caso A) Em cada permutador o fluido em série tem maior capacidade térmica. T1S = (1 − ε1r1 )T0S + ε1r1T0P T S = (1 − ε 2 r2 )T S + ε 2 r2 T0P = (1 − ε 2 r2 )(1 − ε1r1 )T S + [(1 − ε 2 r2 )ε1r1 + ε 2 r2 ]T0P 2 1 0 ••• n n −1 n −1 TsS = TnS = ∏ (1 − ε i ri )T0S + ε n rn + ∑ ε i ri ∏ (1 − ε j r j ) T P 0 i =1 i =1 j = i +1 Caso B) Em cada permutador o fluido em série tem menor capacidade térmica. T S = (1 − ε1 )T0S + ε1T0P T S = (1 − ε 2 )T S + ε 2 T0P = (1 − ε 2 )(1 − ε1 )T S + [(1 − ε 2 )ε1 + ε 2 ]T0P 2 1 1 0 T S = (1 − ε 2 )T S + ε 2 T0P = (1 − ε 2 )(1 − ε1 )T S + [(1 − ε 2 )ε1 + ε 2 ]T0P 2 1 0 ••• n n −1 n −1 TsS = TnS = ∏ (1 − ε i )T0S + ε n + ∑ ε i ∏ (1 − ε j ) T P 0 i =1 j = i +1 i =1 Para a associação de permutadores pode-se também definir a temperatura de saída do fluido em série dependendo deste ser o de menor ou maior capacidade térmica. Caso 1) Na associação de permutadores o fluido em série tem maior capacidade térmica TsS = (1 − ε G rG )T S + ε G rG T P 0 0 Caso 2) Na associação de permutadores o fluido em série tem menor capacidade térmica TsS = (1 − ε G )T S + ε G T P 0 0 No caso 1 em que o fluido em série tem a maior capacidade térmica garante-se que em cada permutador continua também a ser o fluído em série com a maior capacidade térmica, 18 Apontamentos de Permutadores de Calor – Equipamentos Térmicos 2005 – João Luís Toste Azevedo conduzindo ao caso 1A. No caso 1 o fluído em paralelo que tem a menor capacidade térmica, quando dividido não pode ter maior capacidade térmica que o fluído em série pelo que o caso 1B não é possível. Para o caso 1A comparando as expressões obtém-se: n (1 − ε G rG ) = ∏(1 − ε i ri ) i =1 No caso de permutadores idênticos com caudais iguais: [ ] ε G = 1 − (1 − ε i ri )n / rG com ri = (rG n) No caso 2 em que o fluído em paralelo tem maior capacidade térmica quando dividido pode ter maior ou menor capacidade térmica que o fluído em série. Assim podem ocorrer os casos 2A e 2B. No caso de em todas as unidades ser o fluido em série o de menor capacidade térmica obtém-se a combinação 2-B, sendo para este caso: n (1 − ε G ) = ∏(1 − ε i ) i =1 No caso de permutadores idênticos com caudais iguais: ε G = 1 − (1 − ε i )n com ri = nrG que implica que rG <1/n Quando o caudal em série globalmente tem menor capacidade térmica, mas em todas as unidades tem maior capacidade térmica que o caudal em paralelo, obtém-se a combinação 2A, sendo para este caso: n (1 − ε G ) = ∏(1 − ε i ri ) i =1 No caso de permutadores idênticos com caudais iguais: ε G = 1 − (1 − ε i ri )n com ri = 1/ (nrG ) válido para rG > (1 n) As tabelas seguintes apresentam um resumo destes casos. Associação dos permutadores 1 m& c p Série máximo rG = ( ) Permutadores individuais B Impossível m& c p Série mínimo (m& c ) (m& c ) (m& c ) = (m& c ) ( ) (m& c ) p Paralelo 2 (m& c ) p Série rG mínimo n (1 − ε G rG ) = ∏(1 − ε i ri ) i =1 2B n (1 − ε G ) = ∏(1 − ε i ) A ri=rG/n p Série mínimo B ri=rG*n p Série máximo A ri= 1/(rG*n) (m& c ) (m& c ) p Série p Paralelo 1A máximo p Série p Série [ ] ε G = 1 − (1 − ε i rG n)n / rG ri = (rG n) ε G = 1 − (1 − ε i )n ri = rG n i =1 2A n (1 − ε G ) = ∏(1 − ε i ri ) ε G = 1 − (1 − ε i / nrG ) n i =1 19 rG <1/n ri = 1 (rG ⋅ n ) rG >1/n Apontamentos de Permutadores de Calor – Equipamentos Térmicos 2005 – João Luís Toste Azevedo Permutador com fluído de transporte de calor intermédio O permutador com fluido intermédio é um caso particular da associação de permutadores para as quais se podem desenvolver expressões para a sua eficiência. Na realidade esta situação consiste num conjunto de pelo menos dois permutadores em que se pretende efectuar a transferência de calor entre dois fluídos frio (f) e quente (q) utilizando um fluído intermédio (i). Na figura seguinte ilustra-se esta situação em que existem dois permutadores onde se promove a transferência de calor entre o fluido intermédio e respectivamente o fluido quente e o frio. Para o caso dos fluidos frio e quente identificam-se as temperaturas de entrada e saída, enquanto para o caso do fluido intermédio identificam-se as temperaturas intermédias quente e fria. Tqs εq Tif Cq CI AUq Tqe εf Tfe Tqs Cf CI AUf Tiq εG Tfe Cq,Cf, CI AUq, AUf Tfs Tqe Tfs O objectivo de derivar uma eficiência equivalente do sistema é o de permitir caracterizar o sistema como um único permutador como representado na figura. A eficiência de cada um dos permutadores quente e frio dependem da capacidade térmica do fluido quente ou frio e do fluido intermédio, pelo que a eficiência global irá igualmente depender desses parâmetros. Tendo em consideração que a eficiência das associações de permutadores dependem da razão entre as capacidades caloríficas dos fluidos é fácil reconhecer que se podem distinguir seis casos dependendo do valor relativo das capacidades caloríficas. Designam-se aqui as capacidades caloríficas pelo símbolo Ck = (m& c p )k . De seguida apresenta-se a análise para o caso em que Ci<Cf<Cq sendo a derivação para os restantes casos semelhante. Para o caso considerado pode-se expressar as duas temperaturas extremas do fluido intermédio por: Tif = ε f T fe + (1 − ε f )Tiq Tiq = ε qTqe + (1 − ε q )Tif formando um sistema de duas equações que pode ser resolvido permitindo obter: ε T + (1 − ε f )ε qTqe Tif = f fe ε f + εq − ε f εq Tiq = ε qTqe + (1 − ε q )ε f T fe ε f + εq − ε f εq Com base nestas temperaturas intermédias pode-se expressar a temperatura de saída de um dos fluidos (quente ou frio) em função das respectivas temperaturas de entrada. Neste caso para o fluido frio pode-se escrever: 2 εε C C C C C ε (1 − ε q ) Ci C f T fs = 1 − ε f i T fe + ε f i Tiq = 1 − ε f i + f T fe + f q i f Tqe C f Cf Cf ε f + ε q − ε f ε q ε f + εq − ε f εq Esta expressão quando comparada com a expressão para o permutador equivalente: 20 Apontamentos de Permutadores de Calor – Equipamentos Térmicos 2005 – João Luís Toste Azevedo T fs = (1 − ε G )T fe + ε GTqe permite facilmente identificar a eficiência global dos dois permutadores como: −1 1 + 1 − 1 válida para o caso Ci< Cf< Cq ε q εf Para os restantes casos possíveis apresentam-se apenas os resultados finais da análise: C εG = i Cf −1 C 1 1 ε G = i + − 1 válida para o caso Ci< Cq< Cf Cq ε q ε f −1 1 C C C ε G = + f q − f válida para o caso Cf< Cq< Ci ε εq Ci f 1 C C C εG = + q f − q ε εf Ci q −1 válida para o caso Cq< Cf< Ci −1 1 C 1 ε G = + q − 1 válida para o caso Cq< Ci< Cf ε q Ci ε f −1 1 C 1 ε G = + f − 1 válida para o caso Cf< Ci< Cq ε f Ci ε q As expressões anteriores obviamente apresentam alguma semelhança em grupos de dois casos cada. Notar que todas as equações apresentadas são independentes do arranjo do escoamento para cada um dos permutadores, sendo de favorecer o caso em que se aproxima mais de contracorrente. A temperatura de funcionamento do fluido intermédio pode ser calculada das expressões indicadas anteriormente. No caso extremo em que a capacidade térmica do fluído intermédio é muito pequeno a temperatura deste atinge os valores de entrada dos fluídos quente e frio, se os permutadores forem de contracorrente, e a transferência de calor é limitada pela capacidade de transporte de calor do fluído intermédio. No caso oposto em que a capacidade térmica do fluído intermédio é muito elevada a temperatura deste é aproximadamente constante no circuito. No caso da capacidade térmica do fluido quente e frio serem iguais identificam-se apenas os dois casos seguintes: −1 −1 C 1 + 1 − 1 para Cfq>Ci e ε G = 1 + 1 − fq para Cfq<Ci ε ε f ε q Ci f εq Neste caso particular, que se verifica em unidades associadas a turbinas a gás, recomenda-se que os parâmetros globais do permutador se encontrem dentro de alguns limites de modo a obter uma boa eficiência global: ( AU ) f C 0.75 < < 2 e 0.95 < i < 1.2 ( AU )q Cmin Ci εG = C fq 21 Apontamentos de Permutadores de Calor – Equipamentos Térmicos 2005 – João Luís Toste Azevedo Permutador com matriz sólida intermédia Este tipo de permutador é utilizado para regeneradores, sendo o seu funcionamento caracterizado pelo facto de se transferir calor do fluído quente para uma matriz sólida que posteriormente transfere o calor para o fluído frio. O funcionamento pode ser contínuo, caso em que a matriz sólida se encontra em movimento, normalmente formando uma roda que entra em contacto com ambos os fluídos podendo ser de escoamento a) axial ou b) radial. Os regeneradores podem também ter um funcionamento períodico fazendo passar o fluído quente e frio alternadamente através da matriz sólida durante um certo período de tempo. As principais vantagens deste tipo de permutador em relação aos de escoamento permanente verificam-se por a matriz de transferência de calor poder ser muito mais compacta e ser normalmente muito mais barata por unidade de área de permuta. Como principal desvantagem pode-se indicar o facto de nos regeneradores rotativos ser díficil a vedação entre as passagens dos dois caudais existindo normalmente mistura de caudal de um dos lados para o outro. Esta fuga de caudal de um dos lados para o outro é maior no caso de existirem maiores diferenças de pressão entre os dois lados e aumenta com a velocidade de rotação da matriz. Fluído quente Fluído frio a) b) c) A rotação da matriz de transferência de calor ‘transporta’ a energia do fluido quente para o fluido frio sendo esta uma situação semelhante à dos permutadores com fluido intermédio. O permutador de escoamento períodico utilizado nos regeneradores pode assim ser interpretado como um caso de utilização de um ‘fluido’ intermédio de transporte em que a sua capacidade térmica é dada pelo produto da massa (M) pela frequência (f) e pelo calor específico do sólido da matriz (cm) conduzindo a: Cm = fMcm Para o caso de regeneradores de funcionamento alternativo como indicado na figura c) a massa M representa a massa total dos dois lados e a velocidade angular é substituída pela frequência de operação de um ciclo completo. A distribuição da temperatura dos fluídos depende das capacidades caloríficas destes e da matriz mas podem-se analisar de uma forma simplificada casos limites que são ilustrados de seguida que permitem revelar a influência principal das condições de operação. Esta análise vai ser apresentada para o caso de um permutador funcionando com r=1 (Capacidades caloríficas das correntes quente e fria iguais). A figura seguinte ilustra a variação de temperatura da matriz sólida e dos fluídos quente e frio à saída da matriz para um caso geral. No caso r=1 a temperatura média da matriz sólida é igual à média entre as temperaturas de entrada de ambas as correntes quente e fria. A temperatura de saída dos fluídos varia ao longo do período de rotação, trocando mais calor quando entra em contacto com a matriz sólida, diminuindo depois quando a temperatura do sólido se aproxima da temperatura do fluído. 22 Apontamentos de Permutadores de Calor – Equipamentos Térmicos 2005 – João Luís Toste Azevedo T Tqe Tqs Tqe + T fe 2 Tfs Tfe Aquecimento Arrefecimento A transferência de calor entre o fluído e a matriz sólida pode ser caracterizada pelo produto da área de sólido em contacto com um fluído pelo coeficiente de convecção (Ah)f. A capacidade de transferência de calor dividida pela capacidade térmica do fluído pode ser definido como um número de unidades de transferência para um dos fluídos. Este parâmetro é denominado por comprimento reduzido e é definido como: ( Ah) f Λf = (m& c p )f Onde o índice f diz respeito a um dos fluídos (quente ou frio considerados aqui iguais). Outro parâmetro que se pode definir é o período reduzido como: Πf = ( Ah ) f C mf com C mf = M f cm L Pf − V Este valor adimensional é equivalente a um número de unidades de transferência para a matriz sólida onde a capacidade térmica da matriz Cmf é expressa com a massa do regenerador em contacto com o fluído frio Mf e com o período de contacto da matriz com o fluído frio f, sendo descontado o tempo em que o fluído f empurra o outro fluído (razão entre o comprimento que o fluído tem de atravessar e a sua velocidade). No caso do tempo de limpeza do material ser pequeno comparado com o período esta expressão é semelhante à indicada antes. No caso do regenerador ser dividido a meio os valores são iguais entre os fluidos e iguais ao valor definido antes com a massa global. A eficiência de permuta de calor para cada um dos fluídos pode ser definida como: T − T fe T −T ε f = fs e ε q = qe qs Tqe − T fe Tqe − T fe Esta eficiência pode ser expressa em função do comprimento e período reduzidos a partir da figura seguinte: 23 Apontamentos de Permutadores de Calor – Equipamentos Térmicos 2005 – João Luís Toste Azevedo Nos casos limite em que o período reduzido tende para zero ou infinito pode-se aproximar os resultados indicados neste gráfico, tendo em conta a distribuição de temperatura para estes casos que estão ilustrados na figura seguinte. T Tqe~Tqs T Tqe Tqs Tm = Tqe + T fe Tm Tm 2 Tfs Tfe Tm Tfe~Tfs Para o primeiro caso em que o período é muito reduzido o que pode resultar de uma elevada velocidade de rotação ou de uma matriz sólida com elevada capacidade térmica a temperatura da matriz sólida permanece aproximadamente constante ao longo de todo o período. Neste caso a partir do balanço de energia do lado frio por exemplo pode-se obter: Q& = ( Ah ) f (Tm − T f ) = (m& c p ) f (T fs − T fe ) Considerando como aproximação a média aritmética entre o valor de entrada e saída para a temperatura média do fluído e como temperatura média da matriz a média entre as temperaturas de entrada do fluído quente e frio pode-se obter (exercício): 2+Λ Λ ε f ,Π →0 = para >2 2+Λ Π Esta é a eficiência máxima que se pode obter num regenerador e por isso é também denominada de eficiência ideal. Para o caso em que o período tende para o valor infinito que ocorre quando o período é muito longo ou porque a capacidade térmica da matriz sólida é muito pequena, a temperatura do sólido atinge facilmente as temperaturas de entrada de ambos os fluídos e quando entram em contacto com o outro fluído a temperatura do sólido evolui para o outro valor de entrada. Deste modo o fluído troca uma quantidade de calor que é limitada pela energia transportada pela matriz sólida. Podemos exprimir a taxa de transferência de calor como: (Mc p )m (Tqe − T fe ) & Q& = (Pf − L / V ) = (mc p )f (T fs − T fe ) A partir desta igualdade pode-se concluir que a eficiência no caso limite considerado é: 2+Λ Λ para < 0,75 ε f ,Π → ∞ = Π Π e assim obtêm-se dois comportamentos assintóticos que servem para calcular a eficiência dos regeneradores para o caso em que r=1. Para valores do parâmetro (2+Λ)/∏ entre 0,75 e 2 deve-se utilizar a figura indicada. Os mesmos resultados são apresentados no anexo para r=1 e para outros valores deste parâmetro. No anexo em vez de se usar os parâmetros Λ e ∏, utiliza-se a razão entre capacidades caloríficas dos dois fluídos, um parâmetro adicional que é a razão entre a capacidade térmica da matriz e da capacidade do fluído mínima e do número de unidades de transferência definido com a capacidade de transferência de calor: AU = (1 Aq hq + 1 Af h f ) −1 Os coeficientes de convecção indicados na expressão anterior referem-se à transferência de calor entre o fluido e a matriz sólida. Deve-se notar que no caso de ambos os fluídos terem áreas de transferência e coeficientes de convecção iguais AU=Ajhj/2. 24 Apontamentos de Permutadores de Calor – Equipamentos Térmicos 2005 – João Luís Toste Azevedo Integração de processos Neste tópico pretende-se analisar uma metodologia para fazer a integração entre processos quando em algumas correntes existe a necessidade de retirar calor e noutras correntes a necessidade de fornecer calor. Claramente neste tipo de situação podem existir possibilidades de integração de modo a utilizar de uma forma útil calor que seria necessário dissipar de alguma corrente. A metodologia que se vai apresentar é a análise do ponto crítico (em Inglês pitch point) que permite identificar quais os permutadores a considerar para fazer o máximo aproveitamento de calor de uma corrente para outra e assim minimizar a necessidade de fornecer ou retirar calor por meios exteriores. A análise da distribuição da temperatura entre o fluído quente e frio pode também ser usado para dimensionar e analisar caldeiras em que os produtos de combustão fornecem calor a vários circuitos do ciclo térmico que funcionam a várias temperaturas e pressões. O método é apresentado considerando dois exemplos, sendo o primeiro muito simples para apresentar os parâmetros de análise. O segundo método apesar de um pouco mais complexo pode ainda ser analisado de uma forma manual, enquanto para casos mais complexos se devem utilizar programas computacionais. No primeiro exemplo considera-se então o problema da existência de duas correntes cujas capacidades caloríficas e temperaturas de entrada e saída são indicadas na tabela seguinte. m& c p [W/K] Te [ºC] Ts [ºC] 400 300 200 60 40 250 Q& [kW] - 64 + 57 No caso de não existir nenhuma integração seria necessário remover 64 kW da primeira corrente e fornecer 57 kW à segunda. Como sabemos o fluído de menor capacidade calorífica tem uma maior variação de temperatura num permutador pelo que a segunda corrente se passar num permutador ideal poderia atingir a temperatura de entrada do primeiro fluído. Podemos identificar o permutador P graficamente entre as duas correntes (1 e 2), permitindo trocar calor de modo a atingir as temperaturas identificadas. Para cada uma das correntes no entanto iremos necessitar de mais uma fonte de calor ou caldeira C e uma fonte de frio F que pode ser um dissipador de calor para o ambiente. Com a implementação do permutador indicado a necessidade de fornecer calor reduz-se para 15 kW (=0,4x(250-200)) e de frio reduz-se para 22 kW (=0,3x(95-40)). 1 1 200ºC 200ºC 2 60ºC P 200ºC C 250ºC 2 60ºC P 40ºC C 250ºC 102,5ºC 95ºC F 190ºC F a) Permutador ideal 40ºC b) Permutador real Como na realidade não se pode construir um permutador ideal (contra-corrente com área infinita) considera-se que existe uma diferença mínima de temperatura entre a saída do fluído de menor capacidade térmica e a temperatura de entrada do fluído com maior capacidade térmica. Quanto menor for esse valor maiores terão de ser os permutadores conduzindo a um 25 Apontamentos de Permutadores de Calor – Equipamentos Térmicos 2005 – João Luís Toste Azevedo maior custo inicial mas a um menor custo de operação (menores necessidades de calor e frio). O valor da diferença de temperatura deve no entanto ter em conta o tipo de permutador considerado pois para o caso de permutadores de placas é possível atingir valores de diferenças de temperatura da ordem de um grau centígrado enquanto para um permutador gáslíquido um valor da ordem das dezenas de graus é mais realista. A diferença de temperatura tem a ver com a ineficiência (1-ε) do permutador que como já vimos depende da sua configuração e das suas condições de operação. No exemplo anterior considerando uma diferença de 10ºC, podemos indicar as temperaturas esperadas à saída do permutador e concluir que nesse caso as necessidades de calor e frio são respectivamente de 18 kW e 25 kW. O exemplo apresentado com apenas duas correntes e um permutador pode ser analisada pelo esquema acima mas pode também ser analisado a partir de um gráfico em que se indique a temperatura em função do calor a trocar. Para elaborar esse gráfico vamos definir a entalpia do escoamento de um fluído como o produto da capacidade calorífica pela temperatura em relação a uma referência que podemos tomar como sendo 0ºC: H = m& c p (T − TRe f ) T (ºC) Assim podemos definir os valores para a 250 Corr. Quente entalpia das correntes fria e quente e Corr. Fria representar a temperatura em função 200 Corr. Fria Desl Diferença deste valor de forma gráfica como de 10ºC indicado. 150 Para analisar a integração da troca de calor desloca-se a linha correspondente à 100 corrente fria de modo a ficar por baixo da linha correspondente à corrente 50 quente, com uma diferença de 10ºC no Permutador Calor Frio ponto crítico que neste caso é 0 considerado entre a temperatura de 0 20 40 60 80 100 120 entrada do fluído quente (200ºC) e a H (kW) temperatura de saída do fluído frio (190ºC) do permutador. Estes pontos têm o valor de entalpia de 80 kW (entalpia do quente). Deve-se notar que a entalpia é referida com base numa referência arbitrária e por isso podem-se deslocar as linhas horizontalmente desde que se mantenha a sua inclinação. Na figura pode-se então identificar a zona onde o permutador de calor vai permitir a troca de calor entre as correntes e as zonas onde é necessário fornecer e remover calor por outros meios. A aplicação para duas correntes serve de exemplo que é expandido no caso seguinte considerando seis correntes, três quentes e três frias ou seja que precisam respectivamente de arrefecer e aquecer conforme indicado na tabela seguinte: Corrente m& c p [W/K] Te [ºC] Ts [ºC] Quente 1 Quente 2 Quente 3 Fria 1 Fria 2 Fria 3 300 2000 700 1250 800 500 250 80 160 100 60 40 20 40 30 200 150 120 26 Q& [kW] - 69 - 80 - 91 +125 + 72 + 40 Apontamentos de Permutadores de Calor – Equipamentos Térmicos 2005 – João Luís Toste Azevedo 300 T (ºC) A análise da integração dos vários Q1 Q2 Q3 250 processos é efectuada pelo método F1 F2 F3 gráfico indicado antes em que se 200 representa a temperatura em função 150 da entalpia das correntes. A figura 100 seguinte representa as curvas referentes às correntes quentes e 50 frias. Deve-se fazer notar que todas 0 as linhas são rectas como resultado 0 50 100 150 200 250 300 do calor específico constante mas H (kW) podiam ser de diferentes formas. A partir da figura acima pode-se observar que existem vários intervalos de temperatura nos quais é necessário fornecer ou retirar calor de permutadores pelo que existem diversas possibilidades de aplicar permutadores entre as várias correntes. Para se comparar as necessidades de aquecimento e arrefecimento para as várias temperaturas cria-se a curva composta para o aquecimento e para o arrefecimento. Estas curvas são obtidas calculando para cada intervalo de temperatura o somatório das capacidades caloríficas das correntes que estão a ser aquecidas e arrefecidas e definindo a variação de entalpia total. Como a entalpia é uma grandeza relativa a uma referência arbitrária, considera-se esta apenas para fixar o primeiro valor e os seguintes são sempre calculados com base na variação de entalpia. Nas tabelas seguintes apresentam-se os intervalos de temperatura para o aquecimento e para o arrefecimento. As tabelas contêm para além do intervalo de temperatura quais as correntes, a soma das capacidades caloríficas e as entalpias iniciais e finais para esses intervalos. Gama de temperatura (ºC) 20-30 30-40 40-80 80-160 160-250 Correntes presentes Q1 Q1+Q3 Q1+Q2+Q3 Q1+Q3 Q1 ∑ m& c Gama de temperatura (ºC) 40-60 60-100 100-120 120-150 150-200 Correntes presentes F3 F2+F3 F1+F2+F3 F1+F2 F2 ∑ m& c p [W/K] 300 1000 3000 1000 300 p [W/K] 500 1300 2550 2050 1250 Hi [kW] Hf [kW] 6 9 19 139 219 9 19 139 219 246 Hi [kW] Hf [kW] 20 30 82 133 194,5 30 82 133 194,5 257 Deve-se chamar a atenção novamente que apenas o primeiro valor de H é calculado com base na referência dos 0ºC, sendo todos os outros valores calculados da variação de entalpia das correntes no intervalo de temperatura. A partir das tabelas anteriores pode-se construir as curvas compostas do aquecimento e do arrefecimento, sendo cada uma neste caso constituída por cinco segmentos de recta. Estas curvas encontram-se representadas no gráfico seguinte onde se encontra também a curva fria deslocada. A partir da figura pode-se identificar a temperatura das correntes quentes a 80ºC como o ponto crítico e assim a corrente fria deverá passar pelos 70ºC para o mesmo valor de H que é de 139 kW (ver tabelas anteriores). 27 Apontamentos de Permutadores de Calor – Equipamentos Térmicos 2005 – João Luís Toste Azevedo 300 Corr. Quente Corr. Fria 250 Corr. Fria Desl 200 T(ºC) 150 100 Diferença de 10ºC 50 Permutadores Frio Calor 0 0 100 200 300 400 H(kW) O ponto crítico também poderia ter sido identificado na curva do fluído frio e nesse caso identificava-se o ponto na curva quente correspondente. Para o caso acima como o ponto crítico nas correntes frias fica entre os 60 e 100ºC pode-se calcular o valor de H para os 60ºC a partir de: (139-HF60ºC)52= (70-60)/(100-60) de onde se pode obter HF60ºC=126 kW e posso assim verificar que o deslocamento a dar na curva fria é de 96 kW. A zona de sobreposição das curvas permite identificar que para este caso o máximo calor que se pode trocar entre as duas correntes (com a imposição de ∆Tmin=10ºC) é de 130 kW (246116). Na zona fria o calor que é preciso remover é de (116-6) 110 kW e na zona quente é necessário fornecer (353-246) 107 kW. O ponto crítico representa uma divisão entre duas zonas em que não deve ocorrer transferência de calor através dessa posição. Acima do ponto crítico, não se devem utilizar mecanismos exteriores de remoção de calor e abaixo do ponto crítico não se deve nunca fornecer calor, caso contrário qualquer contribuição numa das zonas teria de ser compensada na outra zona. Apesar da análise acima identificar quais as correntes em que se devem instalar permutadores, não permite identificar como os instalar. Considerando que não se deve efectuar transferência de calor através do ponto crítico, pode-se especificar os permutadores partindo do ponto crítico nos dois sentidos (zona quente e zona fria). Como as curvas se afastam uma da outra a partir do ponto crítico nos dois sentidos, pode-se concluir que para a zona fria a capacidade calorífica do fluído quente é superior à fria (m& c p )q 〉 (m& c p ) f e que na zona quente se verifica o contrário (m& c p )q 〈(m& c p ) f . Como as condições anteriores podem não se verificar para nenhum par de correntes dos lados frio e quente, consideram-se então que os caudais têm de ser divididos ou juntos de forma a verificar aquelas condições. A junção de caudais só é desejável se se tratar do mesmo tipo de fluído enquanto a divisão é sempre possível. Para analisar a escolha dos permutadores a representação das correntes em linhas ortogonais como efectuado antes é complexa pois não permite analisar as temperaturas, pelo que se adopta uma outra representação gráfica em que as correntes quentes e frias se encontram agrupadas e deslocam-se em sentidos opostos. A figura seguinte apresenta o esquema para a situação considerada anteriormente onde se identifica também as temperaturas referentes às entradas do fluído quente e a temperatura de saída do frio e a linha correspondente ao ponto crítico. 28 Apontamentos de Permutadores de Calor – Equipamentos Térmicos 2005 – João Luís Toste Azevedo Partindo do ponto crítico podemos observar que do lado frio as três correntes quentes podem fornecer calor (todos os fluídos têm temperatura igual ou superior a 80ºC) e duas correntes frias (2 e 3) podem receber calor. Analisando os valores relativos da capacidade calorífica pode-se concluir que neste caso apenas podemos considerar os pares Q2-F2 e Q3-F3. Se tal não fosse possível teria de se dividir eventualmente a corrente das correntes frias de modo a serem inferiores às das correntes quentes. No lado quente pode-se observar que pelo critério das capacidades caloríficas podem-se ligar os pares Q3-F2 e Q1-F3 ( (m& c p )q 〈 (m& c p ) f ). m& c p [W / K ] 300 F 40ºC 2000 700 80ºC 20ºC 30ºC F 76 80ºC 1 58,6 800 500 80 2 F2 F3 40ºC 70 3 2 5 6 8 18 Q1 160ºC 3 56 15 1 250ºC Q3 100ºC 8 60ºC 4 163,3 Q2 F 1250 80 70 25 140 4 6 F1 5 120 C 200ºC 150ºC 120ºC 70ºC Depois de se considerarem os permutadores perto do ponto crítico, podem-se calcular as temperaturas de entrada e saída dos fluídos de cada permutador por balanço energético e a potência destes. Por exemplo no permutador 2 entre Q3-F3 assumo que a corrente fria de menor capacidade atinge a temperatura crítica que é de 70ºC e assim o permutador transfere 0,5*(70-40)=15 kW e o fluído quente atinge 58,6ºC. Procedendo de forma idêntica posso calcular as potências e as temperaturas para os outros permutadores (valores indicados sem unidades). Na zona fria não disponho de mais capacidade de arrefecimento e por isso é necessário considerar meios de remover calor de todas as correntes quentes pois nenhuma destas atinge a temperatura mínima que se pretende em cada caso. Na zona quente a potência máxima disponível das correntes Q3 e Q1 são respectivamente 56 e 51 kW mas nas correntes frias F2 e F3 necessito de aquecer respectivamente 64 e 25 kW pelo que as potências dos permutadores correspondem aos valores mínimos ou seja 56 e 25 kW respectivamente. Assim enquanto o fluído quente Q3 arrefece desde a temperatura de entrada até 80ºC para o fluído quente Q1 basta-me que a temperatura de entrada no permutador 4 seja de 163,3ºC. Depois da especificação dos permutadores junto ao ponto crítico posso verificar que tenho possibilidade de extrair calor (26kW) da corrente Q1 que pode ser fornecido às correntes F1 (125kW) e F2 (8kW). Pode-se optar por instalar um permutador entre Q1 e F2 com 8 kW sobrando 18 kW para a corrente F1 e nesse caso instalo apenas uma instalação de aquecimento exterior para esta última corrente ou então pode-se instalar um permutador com 26 kW entre Q1 e F1 e nesse caso instalava aquecimento exterior para as correntes F1 e F2. Na figura ilustra-se a primeira hipótese, mas como se viu existem outras alternativas. Neste caso no entanto perto do ponto crítico não existiam alternativas mas num caso geral existem e a solução de integração de processos é realizada por programas computacionais. 29