ENSINO DE ARTE: CONTRIBUIÇÕES PARA UMA APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA Vanderléia Santos de Jesus Nascimento 1 RESUMO: Este trabalho vem para o meio acadêmico com o objetivo de provocar discussões sobre o papel da Arte nas escolas e promover reflexões sobre a integração das atividades artísticas no currículo escolar enquanto área específica como mecanismo para promoção de uma aprendizagem significativa, área que por muito tempo vem sendo trabalhada na sala de aula como mera auxiliadora das demais disciplinas. Palavras-chave: Ensino de Artes; Aprendizagem Significativa. 1 INTRODUÇÃO O século XXI demanda das sociedades contemporâneas, competências específicas para que estas possam acompanhar a constante evolução ocorrida nos mais diversos setores: tecnológico, educacional e artístico, entre outros, o que exige dos indivíduos, enquanto atores sociais, a necessidade do desenvolvimento de habilidades, e dentre elas as artísticas. Observa-se que a Arte vem sendo tratada, na maioria das escolas brasileiras, como suporte para as demais disciplinas que compõe o quadro curricular, fato que acaba negando o seu caráter específico enquanto área do conhecimento humano. Fusari (1992, p. 16) suscita o seguinte questionamento: “que importância é esta que se está dando à Arte e faz com que ela tenha um espaço também na Educação em geral e escolar?” e 1 Professora na Rede Municipal de Santo Estevão – Ba. Atualmente desenvolvendo atividades no Departamento de Cultura do mesmo município. Email: [email protected] propõe que “o fundamental é entender que a arte se constitui de modos específicos da atividade criativa dos seres humanos”. Depreende-se que a capacidade de criar é intrínseca ao homem, porém, ao longo da história da educação, esta área do conhecimento humano não vem sendo reconhecida como tal. Assim, faz-se necessário que o Ensino de Arte seja discutido dentro das especificidades inerentes à sua área. Através deste trabalho, que tem como título Ensino de Artes: contribuições para uma aprendizagem significativa, pretende-se propor uma reflexão sobre a promoção de uma recíproca integração das atividades artísticas às demais atividades escolares, nas séries iniciais do ensino fundamental. Ao fazer referência a tal integração, tem-se o intuito de chamar a atenção para o entendimento de que a Arte não deve auxiliar apenas as outras áreas curriculares como Língua Portuguesa, Matemática, Geografia, Ciências ou História, por muito tempo assim entendida e desenvolvida nas escolas, mas como uma área específica. Há uma série de aspectos relevantes que nos leva a identificar a Arte na educação como uma questão a ser mais discutida no meio acadêmico. Duarte Júnior (1991) classifica a Arte através de três dimensões: a sociocultural, que aponta o pensamento artístico como causa da preservação da cultura de um determinado grupo social num determinado tempo; a dimensão currículo-escolar, na qual a arte como área específica leva o aluno a estabelecer conexões com outras disciplinas do currículo - a Geografia e a História, por exemplo; e a dimensão psicológica, que observa a educação em arte como promotora de um pensamento capaz de fazer com que o indivíduo possa relacionar-se com outros levando em conta uma maior afetividade, além do desenvolvimento da criatividade. Durante muitos anos se reproduziu um ensino pautado no modelo de uma sociedade capitalista, onde o objetivo principal é o consumo em série e o lucro por parte de um grupo bem reduzido da sociedade, e nesse contexto, a escola serviu de reprodutora deste sistema, onde a formação do ser só tem ênfase no âmbito profissional, deixando de lado a formação pessoal, artística e, enquanto cidadão, a sua integridade. Verifica-se ainda, que temos traços cada vez mais fortes deste ensino, e que este está gerando certa “crise de identidade cultural2”. No Brasil, a Lei de Diretrizes e Bases para a Educação Nacional - LDB nº 9.394/96 no Artigo 26, inciso 2º, estabelece a obrigatoriedade do Ensino de Arte na 2 Inexistência de características próprias de um indivíduo em relação a um determinado grupo ao qual este faz parte. Educação Básica, que compreende a Educação Infantil, o Ensino Fundamental e o Ensino Médio, legitimando a Arte enquanto Área Curricular. Os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN, para as séries iniciais do Ensino Fundamental, volume 06, relativo à área Curricular Arte, apontam a educação em Arte como forma de propiciar o desenvolvimento do pensamento artístico, além de proporcionar, a muitos indivíduos, uma relação afetiva com o meio em que vivem. Os PCN também apresentam a Arte como uma das possibilidades de valorização do ser humano através de suas diferentes formas de manifestação, porém, percebemos que no contexto atual do ensino, uma série de elementos compromete o desenvolvimento efetivo do que está previsto nos textos oficiais. A Arte é uma das possibilidades que tem o educando de relacionar-se com o meio social de forma mais prazerosa. Isso já foi constatado por projetos sociais que visam a integração do indivíduo à sociedade, como os projetos Axé e Ilê-aiê em Salvador e o Afro-reggae no Rio de Janeiro, dentre outros, que têm conseguido sucesso inclusive afastando muitas crianças e adolescentes do mundo da criminalidade. Por outro lado, observa-se que é através das diferentes manifestações artísticas que se pode valorizar e resgatar elementos da cultura no meio em que o indivíduo está inserido. Diante disso, o presente trabalho faz uma análise conceitual acerca da temática, utilizando como referências as ideias de educadores/pesquisadores como Ana Mae Barbosa, César Coll, Louis Porcher, João Francisco Duarte Júnior, Maria Fusari, Sílvio Zamboni e outros, além dos Parâmetros Curriculares Nacionais, que serviram de base teórica para a concepção sobre o tema focalizado, na busca da compreensão do mesmo. Deste modo percebe-se que a Arte deve ser uma conexão entre as crianças das séries iniciais do Ensino Fundamental e a aprendizagem tão almejada nos processos pedagógicos, seja no espaço acadêmico, seja dentro da sala de aula. 2 O ENSINO DE ARTE NO BRASIL: BREVE HISTÓRICO O termo “arte” em muitos momentos da história da humanidade foi usado para designar tanto trabalhos de intenção histórica, como trabalhos que se referia a determinados ofícios e ocupações. Segundo Mello (1987, p. 422), “a própria arte era vista como um setor ou domínio pouco significativo para os estudos etnográficos”, ou seja, havia assuntos que inquietavam muito as sociedades, como os ligados à economia e à religião dentre outros, e por este motivo se colocavam num degrau de prioridade superior. Só a partir do século XIX é que a palavra Arte passou a significar exclusivamente a criação estética e as “belas-artes”, momento em que o tema passa a ter mais ênfase a nível educacional. Sabe-se que é difícil conceituar Arte, mas como é descrita na Enciclopédia Britânica (2002, p. 81), é imprescindível destacar três aspectos que a caracteriza: a arte é o produto de um ato criativo; a cada momento, ela corresponde às concepções ideológicas da sociedade em que aparece. Isso se torna perceptível já que a Arte surge de acordo com os anseios históricos pelos quais passam cada sociedade. Além disso, as transformações observadas, sejam no âmbito social, sejam no econômico ou no cultural, acham-se ligadas ao domínio artístico. A Arte é universal e intrínseca ao ser humano. Por mais isolada e primitiva que seja uma sociedade, ela apresenta gostos estéticos ligados à beleza e, apesar dos gostos diferirem de povo para povo, isso não nega a veracidade da universalização da Arte. A Arte é concebida de acordo com os principais períodos da humanidade, já que é tratada de forma distinta em cada época, designando estilos próprios que correspondem a diferentes momentos históricos. Desde a Pré-História o homem já produzia Arte, porém, pelo fato de só termos registros a partir do surgimento da escrita, muitas civilizações foram desconsideradas em suas produções artísticas, que só foram reveladas mais tarde através de descobertas arqueológicas. O período cristão-primitivo, por volta dos séculos III e IV, ocupa posição de destaque no que tange a conciliação das formas clássicas em seus ideais. A arte carolíngia dos séculos VIII e IX, durante o império de Carlos Magno, dá vida a formas antigas e tardias, puramente abstratas. E é considerado um estilo internacional. A Arte Otoniana que predominou nos séculos XI e XII, caracteriza-se por um estilo rígido e monumental de origem expressionista. O estilo Romântico predominante nesses séculos representou um rompimento quase que completo com os modelos antigos. O estilo Gótico que se estabeleceu entre os séculos XII e XV, era dotado de maior dinamismo, conferia maior importância à percepção do espaço. Logo após têm-se no estilo Renascentista a experiência que o artista trazia do mundo exterior. A Arte Barroca dos séculos XVII e XVIII substitui o equilíbrio renascentista e o Renascimento Neoclássico, verificado por volta de 1800, teve todo o aspecto de um movimento natimorto, pois durante esse período a arquitetura original deixou de ser praticada. Observa-se que o homem da era industrial não alcança um estilo próprio, tendo apenas na pintura avanços significativos. No que diz respeito à esfera educacional, os avanços não foram notórios. Só a partir do século XIX, inicia-se a formação do profissional em arte através de instituições de ensino, tendo como marco principal no Brasil a criação da Academia de Belas-Artes no Rio de Janeiro, a partir daí, a educação escolar em arte vem sendo marcada pelas várias tendências pedagógicas que permeiam o ensino no Brasil, dentre as quais ressaltamos: a Pedagogia Tradicional, a Pedagogia da Escola Nova e a Pedagogia Tecnicista. Na escola tradicional valorizam-se principalmente as habilidades manuais, os “dons”. O ensino de Arte era voltado essencialmente para o domínio técnico que visava uma formação prática destinada à qualificação para o mercado de trabalho, isso para aquelas pessoas das classes desfavorecidas, pois as pessoas com maior poder aquisitivo eram educadas para desenvolver o gosto apreciativo pelas obras de arte, além de manter a divisão das classes sociais. A Arte tinha aspecto utilitário e visava a “preparação do estudante para a vida profissional e para as atividades que desenvolviam tanto em fábricas quanto em serviços artesanais” (Ferraz & Fusari, 1993, p. 30), e o principal conteúdo estudado era o desenho, devido ao caráter técnico deste para o mercado de trabalho. Durante certo período, o ensino de Arte foi fortemente influenciado pelo movimento da Escola Nova, que surgiu na Europa e nos Estados Unidos no século XIX, e foi difundido no Brasil a partir de 1930, no qual as atividades voltam-se para o desenvolvimento natural da criança e as práticas pedagógicas são redimensionadas, dirigindo toda atenção do processo ensino-aprendizagem, que era centrado no professor, para o desenvolvimento do aluno. Houve uma mudança brusca da Pedagogia Tradicional para a Pedagogia Nova, onde o aluno passa a ser responsável pela busca do seu próprio conhecimento através de experimentos. O ideal da liberdade de expressão, difundida pelo movimento escolanovista, contribuiu para que o momento das aulas de Arte fosse visto como um espaço onde tudo era permitido. Um fato marcante para o desenvolvimento das atividades artísticas no Brasil foi a “Semana de Arte Moderna de São Paulo” realizada em 1922, importante para a caracterização do movimento modernista. Vale salientar que até este momento o trabalho com Arte enfocava muito mais o ensino do desenho, como referido anteriormente, ignorando praticamente as demais modalidades artísticas. De acordo com Marques (2001, p. 32) somente no final da década de 1990, entidades, associações e órgãos governamentais preocuparam-se em incluir outras linguagens artísticas nas discussões acerca do ensino de Arte. Entre os anos de 1960 e 1970 surge uma nova tendência pedagógica, a Pedagogia Tecnicista, época em que o Brasil viveu um momento político conturbado diante da ditadura militar. Nesse contexto o ensino de Arte passa a ser centrado no mercado de trabalho, priorizando o ensino de técnicas voltadas para a formação de mão de obra barata destinada a um mercado tecnológico em expansão. Só a partir da década de 1980 é que se percebe uma mobilização profissional em torno do ensino de Arte de forma institucional no Brasil. Dentre as propostas mais difundidas no final do século XX, destaca-se a de Ana Mae Barbosa, que propõe uma “Metodologia Triangular” para o ensino de Arte. A referida proposta tem por base o “fazer artístico”, a “análise de obras artísticas” e a “história da arte”, e destaca a Arte como conhecimento que pode ser desenvolvido na escola, refutando o antigo conceito de Arte como espontaneísmo. 3 A ARTE NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA PARA EDUCAÇÃO A escola é o espaço destinado ao planejamento, produção e execução de trabalhos voltados para o desenvolvimento satisfatório das atividades educacionais. Quando se fala em escola, não se restringe apenas a denominação do espaço físico que ela possui, mas todo um aparato técnico e pedagógico proporcionado por sua comunidade, que é composta de professores, coordenador pedagógico, diretor, alunos e pessoal de apoio, todos os atores que a fazem funcionar. Para pontuar, ao final de um período de trabalho constante, as atividades desenvolvidas pelo professor e demais “astros” que integram a escola, uma série de fatores precisam ser levados em consideração. A escola estabelece suas metas e sua concepção através de uma proposta pedagógica, visando o sucesso escolar dos alunos. Para tanto, há a necessidade de se observar nos alunos o que eles têm de mais diferente. Os fatores que os levarão a uma possível aprendizagem: são as habilidades e as competências. Dentre as habilidades e competências que devem ser observadas pelos professores nos alunos, estão as de cunho artístico. Segundo Aurélio Buarque de Holanda, Arte “é a capacidade ou atividade humana de criação plástica ou musical; habilidade de representação; produção; engenho”. Diante disso, os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997, p. 15), logo na apresentação da proposta do volume 6, das séries iniciais do Ensino Fundamental, destinado à Área Curricular Arte, diz que: A educação em arte propicia o desenvolvimento do pensamento artístico, que caracteriza um modo particular de dar sentido às experiências das pessoas: por meio dele, o aluno amplia a sensibilidade, a percepção, a reflexão e a imaginação. Pensar numa educação com Arte3, é antes de tudo, pensar numa educação que dê ao aluno a chance de poder desenvolver seu potencial de criação, de produção, de execução de suas atividades. Neste momento, a escola entra como uma espécie de elo entre o que a sociedade propaga e o desejo do aluno em poder desenvolver atividades que suas vontades e seus sonhos, representem suas fantasias. A escola é o espaço das discussões sobre direitos e deveres, e de reflexão da realidade. É também a dimensão social das manifestações artísticas, que constitui uma das funções importantes do ensino da Arte, como propagado nos PCN. Ele aprende com isso, que existem povos, costumes, religiões, modos de produção e criação diferentes dos dele, elementos que o ajuda a compreender melhor o outro para uma convivência com as diferenças. Parte daí, uma consciência tanto de preservação dos patrimônios culturais, ambientais e o respeito pela diversidade. O século XX foi o período em que as pessoas, destaque para o Brasil, puderam falar e produzir da forma que realmente achavam interessante, muitos dados puderam ser trazidos para a área pedagógica, que de posse das análises realizadas, chegasse a conclusões de que o ensino da Arte é de fundamental importância para o desenvolvimento da criança. No tocante às áreas que as Artes podem diretamente influenciar, estão a antropologia, a filosofia, a psicologia, a psicopedagogia e as tendências modernas de crítica da Arte, partindo de princípios que valorizam o ensino das artes plásticas, da dança, da música e do teatro, denominado “Movimento da Educação através da Arte”, fundamentado nas ideias do filósofo inglês Herbert Read, movimento que teve como manifestação mais conhecida a tendência da “livre expressão”. 2 Arte aqui escrita com “A” maiúsculo, já que se trata de área curricular. O século XX foi também o período em que se pôde refletir sobre qual o lugar das artes na educação. Depois de muita discussão, chega-se a conclusão de que a educação em arte é importante na formação do indivíduo. Em 1971, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, LDB nº 5.692, que institui o ensino profissionalizante, a Arte é incluída como Educação Artística no currículo escolar. A Arte neste momento é vista como uma atividade educativa e não como uma matéria. Mesmo assim, é percebido um avanço considerável, pois parte de pressupostos inovadores e, principalmente no que tange à formação do indivíduo, ela ocupa papel importantíssimo. Contudo, o desenvolvimento efetivo da Educação Artística nas escolas, deixou muito a desejar, visto que a falta de professores com formação específica em Artes Plásticas, Educação Musical e Artes Cênicas não era suficiente para atender as necessidades da época, o que pode ser observado ainda nos nossos dias. Em 1988, com as discussões sobre a promulgação da Constituição Federal do Brasil, a Lei de Diretrizes e Bases para a Educação Nacional, que seria sancionada apenas em 20 de dezembro de 1996, traria, mais uma vez o ensino de Arte como alvo de críticas e manifestações. Uma das versões do novo documento legal, apresentava a proposta da não obrigatoriedade da Arte nos currículos escolares. Com a Lei nº 9.394/96, a Arte passa a ser considerada área obrigatória na Educação Básica4. O Artigo 26, § 2º é claro ao afirmar: “O ensino da arte constituirá componente curricular obrigatório, nos diversos níveis da educação básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos”. O supracitado artigo da LDB, em vigência desde 1996, torna obrigatório o ensino da Arte na Educação Básica, contudo a situação, em termos de condições mínimas para que a legislação seja de fato cumprida, ainda se constitui num grande obstáculo na maioria das unidades escolares do país. 3.1 - Arte nos PCN Os Parâmetros Curriculares Nacionais, relativos aos ciclos 1 e 2 da Educação Básica, no volume 06, apresenta discussões pedagógicas para o campo das Artes. Afinal qual é o lugar das Artes nas escolas? Existe este lugar? Sabe-se que as atividades artísticas geralmente aparecem no desenvolvimento das atividades escolares, como 4 Aquela oferecida desde o ensino pré-escolar até o ensino médio. apoio às demais disciplinas no processo ensino aprendizagem, mas pouca relevância é dada às várias modalidades e formas com as quais cada uma dessas manifestações se apresenta no campo escolar. Os Parâmetros Curriculares Nacionais sugerem que o estudo da Área Curricular Arte se divida em: Música, Artes Visuais, Teatro e Dança. E propõem que as atividades desenvolvidas possam possibilitar aos alunos, a percepção de que mesmo ao realizarem uma dramatização ao final de um projeto pedagógico trabalhado num certo período, esta atividade tem relações com a música, por exemplo, que tem também suas especificidades, além do que é próprio na prática de dramatizar – os elementos do teatro. Vale ressaltar que o documento oficial deixa claro que, devido ao fato de o professor das séries iniciais não ter uma formação específica na área, não se faz diferenciação dos conteúdos por ciclo, ou série, cabendo ao professor promover uma variação nas modalidades artísticas que serão trabalhadas. Fusari (1992, p. 69) ao tratar sobre a seleção de conteúdos em Arte e, principalmente da postura do professor, evidencia que “para desenvolver um bom trabalho de Arte o professor precisa descobrir quais são os interesses, vivências, linguagens, modos de conhecimento de arte e práticas de vida de seus alunos”. Esses conhecimentos imprescindíveis para a prática pedagógica, serão a base na construção dos pilares para uma educação em Arte. 4 APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA: UMA CONCEPÇÃO DE ENSINO E APRENDIZAGEM De acordo com a teoria desenvolvida por David Ausubel, a aprendizagem será muito mais significativa na medida em que novo material for incorporado às estruturas de conhecimento de um aluno e este adquira significado para ele a partir da relação com o seu conhecimento prévio. Ao contrário disso, a aprendizagem será mais mecânica ou repetitiva, na medida em que produz menos essa incorporação e atribuição do significado, neste caso, o novo material será armazenado isoladamente ou por meio de associações arbitrárias na estrutura cognitiva. A aprendizagem significativa tem vantagens notáveis no desenvolvimento do aluno, tanto do ponto de vista da lembrança posterior e a utilização do enriquecimento da estrutura cognitiva do aluno como ponto de vista da lembrança posterior e a utilização para experimentar novas aprendizagens, fatores que a delimitam como a aprendizagem mais adequada para ser promovida entre os alunos, podendo deste modo, conseguir a aprendizagem significativa tanto por meio da descoberta como por meio da recepção. Na teoria da aprendizagem significativa há três vantagens essências em relação à aprendizagem memorística. Em primeiro lugar, o conhecimento que se adquire é retido e lembrado por mais tempo. Em segundo lugar, aumenta a capacidade de aprender outros materiais ou conteúdos relacionados de uma maneira mais fácil, mesmo se a informação original for esquecida. Em terceiro lugar, e uma vez esquecida a informação, facilita quando a aprendizagem seguinte, à “reaprendizagem”, para dizê-lo de outra maneira. A explicação dessas vantagens está nos processos específicos por meio dos quais se produz a aprendizagem significativa. A aprendizagem significativa implica, como um processo central, a interação entre a estrutura cognitiva prévia do aluno e o material ou conteúdo de aprendizagem. Cool (1996) afirma que a significativa da aprendizagem está muito ligada à funcionalidade, isto é, a possibilidade de utilizar efetivamente os conhecimentos aprendidos quando necessário, portanto, quanto maior for o grau de significatividade da aprendizagem, maior será também a sua funcionalidade. Ausubel aponta três condições básicas necessárias para que possa haver um processo de aprendizagem significativo: 1) A significatividade lógica do novo material que é preciso aprender, remete a estrutura interna deste, que não deve ser nem arbitrária, nem confusa para facilitar o estabelecimento de relações substanciais com os conhecimentos prévios do aluno; 2) A significatividade psicológica: para que a aprendizagem seja possível, o aluno deve dispor de uma estrutura cognitiva de conhecimentos prévios pertinentes e ativados que possa relacionar com o material que deve aprender; 3) Finalmente, e como uma terceira condição, o aluno deve ter uma determinada atitude ou disposição favorável para aprender de maneira significativa, isto é, para relacionar o que aprende com o que já sabe. Dessa forma, os Parâmetros Curriculares Nacionais, volume 06, apontam para a necessidade do uso de critérios de seleção dos conteúdos de Arte. É necessário que o professor saiba o que é mais inerente à realidade do seu aluno. Como afirma Cool (1996, p. 235), a última das condições comentadas para a aprendizagem significativa “é um toque de atenção sobre o papel decisivo dos aspectos motivacionais”. Embora o material de aprendizagem seja potencialmente significativo, lógico e psicológico, o aluno terá uma predisposição para memorizá-lo repetitivamente, pois demanda menos esforços e é mais simples fazê-lo dessa maneira. A aprendizagem significativa tão discutida nos círculos pedagógicos tem uma forte relação com a Arte, visto que, os PCN apresentam a Arte como propiciadora do desenvolvimento do pensamento artístico e da percepção estética, que caracterizam um modo próprio de dar sentido à experiência humana, levando o aluno a ampliar sua sensibilidade, percepção e imaginação, bem como favorece o relacionar-se criadoramente com as outras áreas do conhecimento. Um aluno que teve a sua competência artística bem trabalhada e/ou explorada, será capaz de perceber sua realidade cotidiana mais vivamente, podendo criar condições para conquistar uma finalidade de vida melhor, ou seja, dará funcionalidade ao que aprende. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Toda e qualquer área do conhecimento humano está impregnada de concepções ideológicas, históricas, sociais e políticas, que refletem e influenciam o momento em que cada indivíduo está vivendo. A Arte na educação, como as outras áreas curriculares, contém no que podemos chamar de currículo oculto5, vários fatores que exercem influência sobre a sua concepção. A história do ensino de Arte no Brasil está intrinsecamente ligada às tendências pedagógicas predominantes em cada época, as quais traduzem uma preocupação especial no que tange a formação profissional dos alunos, fortemente influenciado pelas demandas oriundas do mercado de trabalho, que define ao longo do tempo, que o desenvolvimento do aluno está intimamente ligado ao perfil estabelecido pela sociedade a que pertence. Assim, pode-se perceber que quando se refere ao Ensino Público, a oferta da disciplina ainda está restringida a uma ideia de que, o que deve ser ensinado é aquilo que é exigido para uma formação básica, pautada no que pode ser útil para aqueles alunos no futuro, enquanto mão de obra a serviço do capitalismo. 5 Caracteriza-se pelas ações implícitas no dia-a-dia da escola, nas quais fazem parte os valores, os costumes, as relações de poder que normalmente passam despercebidas. Porém a sociedade mudou e junto com ela mudaram os alunos e suas concepções sobre o ensino. A pedagogia histórico-crítica dos conteúdos aponta para a discussão da necessidade de o professor estar sempre acompanhando as mudanças pelas quais passa a sociedade, para que possa intervir nesta através do que é de praxe dele: o ensino. No entanto, acompanhar as mudanças não é ainda satisfatório, visto que o professor deve ter metas a serem alcançadas e estas estão ligadas à aprendizagem do aluno. As metas, segundo a mesma pedagogia, são observadas, de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais para todas as áreas curriculares, inclusive Artes: “aprender a conhecer, a fazer, a ser e a viver com os outros”. Diante disso, vale sugerir que a partir do exposto, se repense sobre o ensino de Artes e tudo o que ela pode proporcionar em termos de reparos e perdas na Educação Nacional, em especial na educação pública. Para promover a re-significação do Ensino de Arte é necessário antes, promover mudanças na forma através da qual o currículo é proposto dentro das escolas.Para tanto, deve-se buscar uma aprendizagem na qual o aluno considere o objeto de estudo como algo significativo e importante para a sua vida, pautada numa aprendizagem que traga significados para o mesmo.De modo que o discente possa intervir de forma crítica e consciente e possa fazer análises do que vê, do que sente, do que lhe é imposto - a educação tão sonhada pelos docentes. É uma tarefa árdua, repensar o currículo que atualmente é posto em prática. Sempre fez parte dos discursos de um sociólogo por natureza chamado Chorão, vocalista do grupo de rock nacional, Charlie Brown Júnior, o pensamento “pra que educação, saúde e dinheiro se um povo sem cultura, doente e pobre é mais fácil de ser manipulado?”. Por isso é imprescindível aos gestores escolares, professores, e coordenadores, que são os principais responsáveis por construir ambientes de integração social e cultural e que têm o poder de promover a formação dos novos músicos, atores, artistas plásticos e coreógrafos, através do que deve ser de conhecimento de todos estes profissionais da educação: a participação na construção da proposta pedagógica da sua escola. Se a Lei determina, cada escola pode fazer suas mudanças, visando a melhoria do ensino por parte do professor e da aprendizagem por parte do aluno. REFERÊNCIAS BARBOSA, Ana Mae. Arte-Educação: conflitos e acertos. São Paulo: Max Limonade, sd. BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n.º 5.692/71. Brasília, MEC, 1971. _______ Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9.394/96. Brasília: Editora do Brasil, 1996. _______ Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Arte. Volume 6 - Brasília: MEC/SEF, 1997. BOSI, Alfredo. 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