O modelo de ondulação do geóide e da anomalia da altitude em Lisboa Ana Paula Falcão Instituto Superior Técnico Estrutura da Apresentação Considerações sobre os referenciais altimétricos Referência altimétrica em Portugal Continental A transformação das altitudes: método de predição Modelo local de ondulação do geóide em Lisboa Modelo local da anomalia da altitude IV Jornadas Engenharia Topográfica- Instituto Politécnico Guarda 23 e 24 de Maio de 2012 Referência altimétrica Definição de um datum altimétrico está tradicionalmente associada aos registos do nível do mar: Primeiros medições Marcas gravadas nas rochas nas entradas dos portos marítimos, cais fluviais ou margens de rios Réguas graduadas: Escalas de marés Primeiros registos das medições: França (1679) Observações e registos contínuos das marés apresentados pelos geodesistas Jean Piccard e Philippe de la Hire (Woppelmann, 2006) : 1ºs relativos a 10 dias em Brest. 2ºs relativos a 5 meses em 1692 O jornal francês Journal dês Sçavans, de 22 de Abril de 1675, faz referência a um artigo publicado num jornal italiano no qual estão descritos, de um modo muito completo, os procedimentos e os equipamentos que deveriam ser utilizados no registo das marés Journal dês Sçavans de 22 de Abril de 1675 Athanasius Kircherus, por volta de 1665, designando-o por Horologium Aestus Marini e descrevendo-o na sua obra Mundus subterraneus, quo universae denique naturae Quadrante de leitura Contrapeso Pedaço de madeira no interior do tubo divitiae . Nilómetros Estrabão (63 a.C. – c. 24 d.C.): geógrafo, historiador e filósofo grego Referenciou na sua Geographia a importância e o modo de medição das águas do Nilo para efeitos de cálculo de impostos Nilómetros. Poço de grande largura provido de uma escada que descia até ao nível do lençol freático . Permitindo a medição das flutuações do nível da água do rio Nilo Objectivo: determinar a intensidade da inundação anual e, em consequência, o valor dos impostos devidos nesse ano. Nilómetros localizados na Ilha de Elefantina (ilha no rio Nilo, no sul do Egipto, em frente à cidade de Assuão) e no Cairo Registos das marés Marégrafos: Surgiram na primeira metade do século XIX Associação Internacional de Geodesia (AIG), em 1864 durante a Convenção de Berlim, pressionou os países com costa marítima a fazer o maior número possível de registos: - Inglaterra (1831): Sheerness - França (1842): Toulon/Marselha - Holanda (1862): Amesterdão - Portugal (1892): Cascais - Espanha (1874): Alicante - Itália (xxx): Génova Geóide - nível médio das águas do mar: 2 m (salinidade, temperatura, pressão, correntes,…) Referência altimétrica em Portugal A primeira recomendação relativa às referências altimétricas: Programa para os Trabalhos da Carta Topográfica de Lisboa (artigos 4.º e 5.º) Referente aos trabalhos para a elaboração da carta topográfica da Cidade de Lisboa na escala 1/1 000. Redigido sob orientação do Conselheiro Filipe Folque, à data director dos Trabalhos Geodésicos e Topográficos do Reino, com data de 9 de Dezembro de 1854, e de cuja publicação em Diário do Governo se transcreveram os pontos mais importantes no que concerne à altimetria: 4.º - Proceder-se-á a um rigoroso nivelamento em todas as ruas, travessas, becos, praças, largos e nas porções das estradas que entrarem na carta. O plano de referência será a superfície da base da estátua equestre no Terreiro do Paço; esta superfície tem de altura sobre as águas médias do Oceano 5,011 metros. Em cada uma das esquinas em que as ruas e travessas se cruzem ou terminam nos largos e praças, se marcará em altura conveniente um traço horizontal por cima do qual se escreverá o valor da cota de nível, que lhe pertencer: (depois o Governo mandará por neste lugar uma chapa de ferro fundido em que se veja o traço e os algarismos da cota, tudo em relevo). Carta14- Penha de França Carta topográfica da cidade de Lisboa 1910 (Carta de Silva Pinto): Utilizada a mesma referência altimétrica embora à altitude de 5,59 m valor que resultou da ligação por nivelamento geométrico entre o marégrafo de Cascais e o referido monumento [CML, 2005]. Marégrafo de Cascais 1ª Instalação em 1881 Novo marégrafo:1883 Edifício de abrigo ao marégrafo acústico 2003 Tambor de registo Poço de acesso ao nível do mar Crisóstomo et al, 2005 – CNCG; IGP, 2009; Vasco Antunes, 2010 Nível médio das águas do mar A determinação do valor médio das águas do mar em Cascais resultou das seguintes considerações (Lemos, 1957): - Média aritmética das variações diárias; - Média mensal corrigindo as flutuações, no nível médio, da revolução sinódica da Lua; - Média anual corrigindo as variações derivadas da variação da distância da Terra ao Sol; - Média de um intervalo de 19 anos, corrigindo as variações provocadas pela variação em longitude da linha dos nodos da Lua – ciclo metónico; - Média de séries de 19 anos. 1º cálculo: registos entre 1882-1938. 2º cálculo: registos entre 1882-1950 (nova referência está indexada à época 1950,5) Marégrafo MNP NIM NMAM 0m Nível médio das águas do mar Localidade Diferença (cm) Vila Real de Santo António + 16 Vila Verde de Ficalho + 33 Elvas + 15 AHD (83 ) (-13 ) (-47 ) NAP (-48 ) Segura + 24 (-45 ) (-82 ) (-83 ) Genova Cascais Trieste Vilar Formoso + 22 Marselha Barca d’Alva + 39 Miranda do Douro + 32 Chaves + 48 Valença + 48 Diferenças altimétricas em alguns pontos na fronteira entre a altimetria de Portugal Continental e a altimetria de Espanha. (Casaca et al., 2008) Alicante (-244 ) Oostend Valores das translações (em cm) dos data verticais locais em relação à superfície equipotencial W 0 = 62636856,0 m2s-2 (Bursa et al., 2001). ENQUADRAMENTO P ALTITUDES GEOMÉTRICAS ◦Altitude elipsoidal (h) AH(P) ALTITUDE GRAVÍTICA ◦Altitude ortométrica (H) ◦Altitude normal (HN) RELACÇÕES sup. terrestre h(P) teluróide H(P) HN(P) quasi-geóide ALTIMÉTRICAS ◦h (P)=H(P)+N(P) ◦h (P)=HN(P)+AH(P) ◦H(P)=HN(P)+AH(P)-N(P) N(P) geóide elipsóide Tipos de Altitudes Altitudes gravíticas geopotencial Altitudes normais (Mikhail Molodensky 1960, contornar a incerteza da distribuição das massas no interior da Terra) P H G (P ) = W0 − W(P ) = ∫ gdH H N (P ) = 0 dinâmica ortométrica H (P ) H (P ) = G g Gravidade normal média: Modelo de Molodensky; Modelo de Vignal Modelo de Bomford;Modelo de Hirvonen Gravidade média: Modelo de Prey-Poincaré Modelo de Helmert Modelo de Niethammer Modelo de Mader Modelo de Mueller Modelos de Ramsayer Modelo de Ledersteger Modelo de Baranov W (P ) − U 0 γ (Q ) Altitude normal Altitude normal-ortométrica Altitude ortométrica Sem informação ALTITUDES NORMAIS GRAVIDADE γ 0 (ϕ) = NORMAL a γ a Cos2 ϕ + b γ b Sen2 ϕ a 2 Cos2 ϕ + b 2 Sen2 ϕ 2 ω2 a 2 b 3 2 h γ(ϕ, h) ≈ γ 0 (ϕ) 1 − 1 + f + − 2fsen2 ϕh + GM a2 a GRAVIDADE NORMAL MÉDIA Modelo de Molodensky Modelo de Vignal Modelo de Bomford Modelo de Hirvonen 2 H ω2 a 2 b H γ(ϕ, h) = γ(ϕ) × 1 − 1 + f + − 2fsen2 ϕ N + N a GM a 0.40 0.20 0.00 -0.20 1 2 3 ALTITUDE NORMAL m -0.40 -0.60 -0.80 -1.00 g (P) × H(P) + U 0 − W0 HN (P) = γ(Q) -1.20 -1.40 -1.60 Molodensky - Vigna (x 0.00001)l Molodensky - Bomford Molodensky- Hirvonen (x 0.00001) 4 5 6 7 8 300 0.5060 275 250 0.5040 225 200 0.5020 175 0.5000 150 125 (m ) (m) COMPARAÇÃO ENTRE AS ALTITUDES LINHA DE NIVELAMENTO GEOMÉTRICO MALVEIRA--BUCELAS MALVEIRA BUCELAS--V.F.XIRA 100 75 0.4980 0.4960 50 25 0.4940 0.4920 0 N1 N2 N3 N4 N5 N6 N7 N8 N9 N10 N11 N12 N13 N14 0.4900 altitude ortométrica altitude elipsoidal altitude normal N1 N2 N3 N4 N5 N6 N7 N8 N9 N10 N11 N12 N13 N14 A transformação das altitudes Métodos Clássicos ◦Método de Stokes anomalia da gravidade ◦Método astrogeodésico desvios da vertical ◦Funções harmónicas esféricas potencial perturbador Método Proposto ◦Método de predição expedito pouco dispendioso probabilístico Método de Predição Campos Escalares Aleatórios (CEA): funções cujo dominio é o plano cartesiano e o contradominio é a familia de variáveis aleatórias gaussianas a=200 Φ ( x , y ) = Z ∈ N( µ , σ 2 ) (z − µ )2 1 exp − σ 2π 2σ 2 a=400 1 ◦ Isotropia ◦ Variograma (medida da correlação) ◦ Autocovariância modelo exponencial autocovariância FDP: f( z|µ , σ ) = a=300 0.8 0.6 0.4 0.2 0 0 50 100 150 200 250 300 350 400 450 500 dist (m) C(ρ) = σ 2 ϕ (ρ) 3ρ C (ρ ) = σ 2 exp − a ρ- distância entre pares de pontos a - alcance efectivo σ2 - variância na origem Método de Predição Campos Escalares Aleatórios Gaussianos Z* (x, y) = µ(x, y) + Z(x, y) Dada uma amostra (z1,….zn) do campo escalar, o objectivo é predizer o valor da variável Z(x,y) e da têndencia. Consideramos apenas preditores lineares. Tendência µ(x,y) Preditor linear da tendência n L T (x, y) = ∑ ωi Z (x i , y i ) i =1 CEA com autocorrelação intrínseca Z(x,y) Preditor linear da V.A. Z(x,y) n L 0 ( x, y) = ∑ λ i Z (x i , y i ) i =1 A tendência Funções polinomiais Polinómio bilinear Polinómio de 2º grau Polinómio de 3º grau PB : a44 + a43 xi + a34 yi + a33 xi yi P 2G : a44 + a43 xi + a34 yi + a33 xi yi + a42 xi2 + a24 P3G : a44 + a43 xi + a34 yi + a33 xi yi + a42 xi2 + a24 yi2 + + a32 xi2 yi + a23 xi yi2 Funções trigonométricas n ∑ (z − zˆ ) A tendência R2 = 1 − i =1 n 2 R 2a = 1 − ∑ (z − z ) 2 i =1 Sobreajustamento Critérios numéricos Coeficiente de determinação ajustado (R2a) Critério de comparação (CP) n 2 ∑ ( z − zˆ ) i =1 PA − (n − 2 × p ) CP = n PA 2 ˆ ( z − z ) ∑ i =1 n− p PR Critério Prediction Sum of Squares (PRESSP) n Critério de Akaike (AIC) PRESSp = ∑ d 2 , com d = z − zˆ i =1 Método de Jackknife n+p SQR AIC = ln + n n−p−2 ( n − 1) (n − p) R2 Preditor:: BLUP Preditor (Preditor linear cêntrico que minimiza a variância do erro de predição ) Método Dos Multiplicadores de Lagrange: Coeficientes do BLUP (B1,….Bn) definidos pelos pontos estacionários do Lagrangeano ϕ (ρ11 ) M ϕ (ρ n1 ) 1 L ϕ (ρ1n ) 1 β1 ϕ(ρ1 ) O M M M M = × L ϕ (ρ nn ) 1 β n ϕ(ρ n ) 1 0 β 0 1 L Aplicações B - Modelo local de ondulação do geóide A - Modelo local da anomalia da altitude 13 km Predição da ondulação do geóide em Lisboa (V.G.) Fonte: IGP Critério PB P2G P3G R2a 0,9593 0,9590 0,9664 CP PRESSp AIC 9,3401 0,0066 2,0 11,0863 0,0062 2,3 8,0000 0,0199 2,4 29 V.G. Predição da ondulação do geóide em Lisboa (V.G.) 0.0013 0.0011 0.0010 0.0008 0.0006 0.0005 0.0003 0.0002 12.60 10.09 8.76 7.61 6.78 6.17 5.62 4.98 4.37 3.90 3.34 2.64 1.79 0.00 0.0000 dist (km) Parâmetros empíricos PR (cm) Desvio-padrão (m) 1,1 Amplitude (m) 5,7 Análise: - variação da ondulação do geóide com uma amplitude de cerca de 45 cm; - as isolinhas estão orientadas segundo a direcção nordeste - sudoeste. PREDIÇÃO DA ANOMALIA DA ALTITUDE (M.N.) Critério ANA PAULA MARTINS FALCÃO FLÔR 29 DE JULHO DE 2010 PB P2G P3G R 2a 0,368 0,353 0,368 CP 4,009 6,357 8,000 PRESSp 2,68 3,629 - AIC 8,0 9,0 9,6 PREDIÇÃO DA ANOMALIA DA ALTITUDE (M.N.) 0.5 0.45 0.4 0.35 0.3 0.25 0.2 0.15 0.1 0.05 0 0 6.2 8.2 10.8 12.6 14.0 16.7 18.1 18.9 20.8 22.6 25.2 27.1 28.7 dist (m) Parâmetros empíricos PR (m) PRCTE (m) PU (m) PUCTE (m) Desvio-padrão (m) 0,27 0,21 0,26 0,21 Média (m) 0,02 0,06 -0,06 0,06 Amplitude (m) 0,64 0,47 0,64 0,47 Obrigada pela Vossa atenção Ana Paula Falcão Instituto Superior Técnico