154 – Microeconomia | Unidade 03 UNIDADE 3 – ANÁLISE DOS MERCADOS MÓDULO 1 – ANÁLISE DA FUNÇÃO DEMANDA 01 1 - INTRODUÇÃO – COETERIS PARIBUS Para analisar determinado mercado isoladamente, supõe-se que todos os demais são constantes; ou seja, o mercado estudado não afeta nem é afetado pelos demais. O mesmo vale para o estudo de variáveis isoladas e seus efeitos. Dessa forma, pode-se saber o efeito isolado de uma variável. Exemplo. A demanda (ou a procura) representa o máximo que o consumidor deseja, dada a sua renda e os preços de mercado – é um plano. Nesse sentido, a demanda não representa a compra efetiva, mas a intenção de comprar a determinados preços. Observando a reação das pessoas, pode ser verificado que existe uma relação de causalidade, inversamente proporcional, entre a quantidade demandada e o preço. Quando o preço cai (causa), a quantidade comprada se eleva (efeito), e quando o preço sobe (causa), a quantidade comprada se reduz (efeito). A essa relação, mantidos os demais fatores constantes (coeteris paribus), é chamada Lei geral da demanda. A expressão coeteris paribus tem origem latina, significa “tudo o mais constante” e representa condição fundamental para o estudo da microeconomia, que é parcial. O preço sobe com a procura de determinado bem, independente de outras variáveis que afetam a procura: a renda do consumidor, gostos, preferências etc. A demanda é a quantidade de determinado bem ou serviço que os consumidores desejam adquirir em determinado período de tempo (semana, ano, mês), por isso, representa o fluxo. 02 © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 1 154 – Microeconomia | Unidade 03 2 - RELAÇÃO ENTRE A QUANTIDADE DEMANDADA DO BEM QXD E O PREÇO DO PRÓPRIO BEM (PX) A quantidade procurada de um bem é influenciada por seu preço. Normalmente, presume-se que o consumidor desejará adquirir quantidade maior de determinado bem quanto menor for o seu preço e vice-versa. Representação matemática A primeira derivada da função demanda de um bem em relação ao seu preço ( 0 ou (dQxd/dPx) < 0) é negativa, o que demonstra a Lei geral da demanda. < Representação gráfica Gráfico nº 1 (dQxd/dPx) < 0. Mas por que ocorre essa relação inversa entre o preço e a quantidade demandada dos bens normais? Porque quando o preço aumenta (positivo), a quantidade consumida diminui (negativo) e vice-versa. Assim, um número positivo dividido por um número negativo resulta num número negativo, ou seja, <0. © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 2 154 – Microeconomia | Unidade 03 Não pode ser esquecido que: Q0 = quantidade inicial consumida. Q1 = quantidade final consumida. Bens normais são os que respeitam a lei geral da demanda. 03 A curva de demanda tem relação inversa entre a quantidade demandada do bem X (Qxd) e o seu preço (Px), o que determina a inclinação negativa da curva de demanda, devido ao efeito conjunto do aumento do preço de um bem e da queda da quantidade demandada. O chamado efeito preço total subdivide-se em dois outros efeitos: • O efeito substituição: se um bem possui substituto – outro bem similar que satisfaça a mesma necessidade –, quando seu preço aumenta, coeteris paribus, o consumidor passa a adquirir o bem substituto, reduzindo assim a demanda pela mercadoria mais cara. • O efeito renda: quando aumenta o preço de um bem, coeteris paribus, o consumidor perde poder aquisitivo (pois sua renda, como os demais fatores, está fixa) e a demanda por esse produto diminui. Quando o salário monetário não muda, esse salário, deduzido o aumento de preços ocorrido, foi reduzido em termos de poder de compra. Cabe ressaltar as ineficiências associadas à tributação no que tange aos efeitos renda e substituição. O propósito de um imposto é obter receita para que o governo possa adquirir bens; ele representa uma transferência de poder de compra das famílias para o governo. Se o governo tem de obter mais receita, as famílias têm de consumir menos. Assim, qualquer imposto traz um efeito renda. © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 3 154 – Microeconomia | Unidade 03 No entanto, além disso, os impostos com frequência distorcem a atividade econômica. A distorção causada pelos tributos está associada ao efeito substituição. Nesse caso, de forma muito sutil, são geradas as distorções mais sérias: se o efeito substituição é pequeno, a distorção é pequena; se é grande, a distorção também é grande. Reduzir o consumo de produtos que são contra os interesses da sociedade pode ser um fim legítimo da tributação. Mas o governo, na busca de receita, gera redução de consumo de bens e serviços, mesmo não sendo produtos ou serviços ruins (passagens aéreas, alimentos essenciais, ligações telefônicas etc.). O efeito preço total é o efeito resultante da soma do efeito renda e do efeito substituição. 04 No Brasil, no ano de 2002, houve grande escassez de energia e risco de “apagão”. As principais empresas fornecedoras de eletricidade do Estado tinham de adquirir a energia no mercado aberto, enquanto a vendiam aos consumidores a preço pré-fixado (foi criada uma bolsa de negócios para compra e venda de energia). Com o grande aumento dos custos no atacado, as empresas viram-se obrigadas a vender a energia muito abaixo do custo. A demanda superava a oferta. Nessas situações, há duas soluções possíveis: © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 4 154 – Microeconomia | Unidade 03 aumentar a oferta, o que não seria viável no curtíssimo prazo, ou reduzir a demanda. Num sistema de mercado desregulamentado, o preço da eletricidade teria aumentado e os preços mais elevados proporcionariam aos consumidores incentivos para poupar energia. O preço mais alto reduz a demanda por dois caminhos. Quando os preços da eletricidade aumentam em relação aos preços de outros bens que as famílias compram, cada família tem incentivo para economizar eletricidade. É o efeito substituição. No entanto, há também o efeito renda. Como a eletricidade se tornou mais cara, a renda real da família se reduz, porque tem de gastar mais para obter a mesma quantidade de bens (incluindo a eletricidade) que consumia. Com renda real menor, a família corta despesas com todos os tipos de bens, incluindo a eletricidade. É o efeito renda. Devido aos custos de energia mais altos poderem ter impacto desproporcional sobre as famílias de baixa renda, os políticos, muitas vezes, relutam em permitir aumento nos preços de energia. Contudo, a solução não é impedir o aumento (pois preços baixos reduzem os incentivos) para que todas as famílias poupem um recurso escasso. Exemplo. A demanda por bens e serviços não é influenciada apenas pelo preço, também é afetada pelo preço dos bens substitutos (ou concorrentes), pelo preço dos bens complementares, pela renda dos consumidores e por preferências ou hábitos. O mercado aberto é caracterizado pelos mercados em que não existe pregão, ou seja, um lugar físico, fechado, onde compradores e vendedores se encontram para firmar um negócio a um preço ajustado. No mercado desregulamentado, não existem regras, normas que assegurem os interesses dos produtores e consumidores de forma equânime, tenham eles maior ou menor poder no mercado. © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 5 154 – Microeconomia | Unidade 03 Supondo-se que um acréscimo nos custos de energia represente, em média, 50 reais por família, o efeito renda pode ser eliminado. Isso permite, contudo, ao efeito substituição cumprir seu papel de reduzir a demanda. Se for concedido a cada família reembolso do mesmo valor em média, a renda das famílias não se reduzirá, pois o impacto foi compensado pelo reembolso de 50 reais. Mas o efeito substituição ainda estará em operação. Ao gastar sua renda, a família se depara com o preço relativo mais elevado, para a eletricidade. Assim, terá incentivo para economizar eletricidade. Dessa forma, o governo compensou as famílias de renda mais baixa, compensando o efeito renda. 05 3 - RELAÇÃO ENTRE QXD E O PREÇO DOS OUTROS BENS (PS E PC) A quantidade demandada de um produto pode ser afetada pela variação nos preços de outros bens, os quais são classificados em substitutos e complementares. Bens substitutos (ou concorrentes) São aqueles em que o consumo de um bem substitui o consumo do outro. Exemplo. Sendo: Ps preço dos bens substitutos. Px preço do próprio bem x. Pc preço dos bens complementares. R renda do consumidor. G gosto ou preferência. © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 6 154 – Microeconomia | Unidade 03 O aumento no preço do bem substituto desloca a curva de demanda para a direita. Ou seja, para determinado nível do preço de X, as quantidades demandadas do bem X serão maiores quando o preço do bem substituto aumentar. Em outras palavras, essa alteração da condição coeteris paribus, resultante de aumento no preço do bem substituto, provoca deslocamento da curva de demanda para a direita. Exemplo: Ocorreu no mercado o aumento do preço do guaraná (bem s), conseguentemente aumentou a demanda por Coca-cola (bem x - Gráfico 04). © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 7 154 – Microeconomia | Unidade 03 Atenção: o preço da Coca-cola P0 não aumentou. Por exemplo: Seja, Qxd = 10 – 2Px + Ps. Trace a curva de demanda Qxd = aumento no preço desse bem de 20%. Qxd = 10 – 2Px + Ps Se P = 0 Qxd = 20 Se Qxd = 0 P = 10 Qxd = 10 – 2Px + 10 , considerando Ps = 10 e Qxd = 20 – 2Px Verifica-se no Gráfico 05 a curva de demanda D, antes do aumento do bem substituto. Procedendo o aumento de 20% no bem substituto (10 x 20% = 12), tem-se: Qxd = 10 – 2Px + Ps Se P = 0 Qxd = 22 Se Qxd = 0 P = 11 Qxd = 10 – 2Px + 12 Qxd = 22 – 2Px Verifica-se no Gráfico 05 a curva de demanda D' deslocada para a direita em virtude do aumento de 20% no preço do bem substituto (Ps) © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 8 154 – Microeconomia | Unidade 03 Observa-se que o gráfico 5 refere-se unicamente ao bem x, ou produto x, que teve a sua curva de demanda deslocada para a direita, ou seja, aumentou o seu consumo em função de ter ocorrido um aumento no preço de outro bem. Verifica-se que o preço do bem x não foi alterado. Como exemplo, pode se dizer que ocorre um aumento do consumo de coca-cola, haja vista ter ocorrido um aumento no preço do guaraná, mostrado no Gráfico 04. Bem coca-cola: o preço Po da Coca-cola não aumentou, mas a sua demanda aumentou de D para D'. Manteiga e margarina (a levação/diminuição no preço da manteiga deverá aumentar/reduzir a demanda de margarina). No mesmo exemplo, cabem: Pepsi e Coca-Cola; carne de vaca, de frango e peixe; Brahma e Antárctica etc. 06 4 - BENS COMPLEMENTARES São bens consumidos conjuntamente: açúcar e café, automóveis e gasolina, camisa social e gravata, pão e manteiga, sapato e meia. Qxd = e supondo Px, Ps, R e G constantes < 0, ou seja, (dQxd/dPc) < 0 © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 9 154 – Microeconomia | Unidade 03 O aumento no preço do bem complementar desloca ou modifica a condição coeteris paribus e provoca deslocamento da curva de demanda para a esquerda. Bem inferior (aumento da renda leva à queda da demanda do bem) Exemplo: carne de 2ª. Isto porque se a renda aumenta, o consumidor vai demandar mais carne de 1ª, diminuindo o consumo de carne de 2ª; Bem normal (aumento da renda leva a aumento da demanda do bem) Exemplo: carne de 1ª. Isto porque a carnde de 1ª é melhor e mais cara. 07 Exemplo: Aumentou o preço do bem automóvel (Bem C), consequentemente, diminui a demanda por gasolina (Bem X), pois menos pessoas irão comprar automóveis. © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 10 154 – Microeconomia | Unidade 03 Atenção: o preço da gasolina P0 não aumentou. Por exemplo: Seja Qxd = 10 - 2Px - Pc. Trace a curva de demanda Qxd = aumento no preço desse bem de 20%. Qxd = 10 - 2Px - Pc Se P = 0 Qxd = 5 Se Qxd = 0 P = 2,5 Qxd = 10 - 2Px - 5 , considerando Pc = 5 e o Qxd = 5 – 2Px Verifica-se no Gráfico 08 a curva de demanda antes do aumento do preço do bem complementar. Procedendo o aumento de 20% do bem complementar (5 X 20% = 6), tem-se: Qxd = 10 – 2Px – Pc Se P = 0 Qxd = 4 Se Qxd = 0 P = 2 Qxd = 10 – 2Px – 6 Qxd = 4 – 2Px Verifica-se no Gráfico 8 a curva de demanda D' deslocada para a esquerda, em função do aumento de 20% no preço do bem complementar (Pc) © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 11 154 – Microeconomia | Unidade 03 08 Relação entre Qxd e a renda do consumidor (R) Qxd = f(R) supondo Px, Ps, Pc, G constantes Supondo um deslocamento da curva de demanda decorrente de um aumento da renda, o que ocorre? © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 12 154 – Microeconomia | Unidade 03 Exemplo: Seja Qxd = 10 – 2Px + 0,004R. Trace a curva de demanda Qxd = f (R), considerando R = 5.000 e o aumento na renda de 20%. Qxd = 10 – 2Px + 0,004R Se P = 0 Se Qxd = 0 Qxd = 30 P = 15 Qxd = 10 – 2Px + Ps Se P = 0 Se Qxd = 0 Qxd = 34 P = 17 Qxd = 10 – 2Px + 0,004 . 5000 Qxd = 30 – 2Px Verifica-se no Gráfico 10 a curva de demanda D antes do aumento da renda. Qxd = 10 – 2Px + 0,004 . 6000 Qxd = 34 – 2Px Verifica-se no Gráfico 10 a curva de demanda D' deslocada para a direita em função do aumento de 20% na renda do consumidor. © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 13 154 – Microeconomia | Unidade 03 Quando aumenta a renda do consumidor, ocorre a diminuição do consumo de bens mais simples, ou mais baratos, como por exemplo, a carne de 2ª, ou roupas mais modestas, sendo estes denominados bens inferiores. © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 14 154 – Microeconomia | Unidade 03 Bem de consumo saciado (a demanda não é influenciada pela renda). Exemplo: sal. 09 A situação de consumo saciado ocorre não apenas no caso de bens de consumo saciado, mas também em qualquer outro tipo de bem ou serviço no qual a renda não tenha grande influência em seu consumo. Ou seja, a variável renda não é importante para explicar o comportamento da demanda nesse mercado. São exemplos: sal, arroz, açúcar. Como no dito popular “toda regra tem sua exceção”, a Lei da Demanda tem no bem de Giffen, ou Paradoxo de Giffen, um caso de bem inferior especial (efeito renda mais forte que o efeito substituição), a única exceção à regra. Tal situação, improvável na prática, ocorre no aumento do poder aquisitivo, as pessoas, em vez de gastarem mais no consumo, reduzem-no, por estarem saturadas, demandando outros bens. Exemplo. Portanto, há uma relação de causalidade direta entre preço e quantidade, e sua curva de demanda é positivamente inclinada (a quantidade demandada cresce ao subir o preço da mercadoria e vice-versa). É o caso especial de bem inferior que possui relação negativa com o preço. Outro fato relevante é que essa classificação de bens depende da renda do consumidor em análise. Para consumidores de baixa renda, praticamente, não existem bens inferiores. Quanto mais elevada a renda, © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 15 154 – Microeconomia | Unidade 03 maior o número de produtos classificados como bens inferiores, passa-se, então, a consumir produtos de melhor qualidade, classificados como bens normais, em detrimento dos de pior qualidade. Giffen é o economista que observou o fenômeno dos bens ditos inferiores, no século XVIII, numa comunidade inglesa muito pobre e que consumia basicamente batatas. Supondo-se dois bens, mingau e leite, com a redução do preço do mingau, o consumidor reduz o consumo deste, um bem de Giffen, em vez de aumentá-lo. Com a liberação de mais dinheiro, o consumidor pode optar por gastar com outras coisas, no caso, mais leite. 10 5 - RELAÇÃO ENTRE QXD E HÁBITOS DO CONSUMIDOR (G) constantes Os hábitos são “manipulados” por propagandas e campanhas promocionais para aumentar o consumo (leite) ou para diminuí-lo o consumo de bens (cigarro). 11 RESUMO Coeteris paribus representa a expressão em latim ‘tudo o mais constante’. Sob essa suposição, uma análise será isolada, ou seja, o objeto estudado não afeta nem é afetado pelos demais, possibilitando estudar o efeito sobre ele, de forma independente. © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 16 154 – Microeconomia | Unidade 03 Demanda representa a quantidade de determinado bem ou serviço que os consumidores desejam adquirir em determinado período de tempo (semana, ano, mês). Por isso, representa um fluxo. Observando a demanda, verificou-se uma relação inversa, de causa e efeito, entre o preço e a quantidade demandada, tida como lei geral da demanda: quando o preço cai (causa), a quantidade comprada se eleva (efeito) e, quando o preço sobe (causa), a quantidade comprada se reduz (efeito), mantidos os demais fatores constantes (coeteris paribus). A representação matemática é dada por coeteris paribus Qxd = sendo <0. A primeira derivada é negativa, mostrando uma relação inversa entre as variáveis (declividade negativa da curva de demanda) e confirmando a lei geral da demanda. O efeito conjunto das variações no preço do bem e da quantidade demandada é chamado efeito preço total. O efeito preço total se subdivide em efeito renda proveniente do aumento (queda no preço) ou redução (aumento do preço) do poder de compra do consumidor e efeito substituição, que é sempre negativo, pois resulta da substituição, pelo consumidor, dos bens relativamente mais caros pelos relativamente mais baratos, mesmo que estes não tenham mudado de preço. A quantidade demandada de um produto também é afetada pelo preço de outros bens: os concorrentes ou substitutos e também pelos bens complementares. Os substitutos são descritos matematicamente por: Qxd = (Ps), supondo coeteris paribus, sendo ’(Ps)> 0. A primeira derivada é positiva, a relação entre as variáveis é direta. Ao variar o preço de um bem substituto do bem X, a quantidade demandada de X varia no mesmo sentido. Os complementares são descritos matematicamente por: Qxd = (Pc), supondo tudo o mais constante e sendo ’(Pc) <0. A primeira derivada é negativa, a relação entre as variáveis é inversa. Portanto, as variações no preço de um bem complementar de X geram variações da quantidade demandada do bem X em sentido contrário. A renda também afeta a quantidade demandada pelo consumidor. Sua relação matemática é: Qxd = (R), supondo tudo mais constante, sendo ’(R)> 0. A primeira derivada é positiva, a relação entre as variáveis é direta; portanto, variações na renda gera variações da quantidade demandada do bem X no mesmo sentido. Isto para bens que respeitam a lei geral da demanda, ou seja, bens normais. Quando a primeira derivada de Qxd = (R) – supondo tudo o mais constante – for negativa, ou seja, ’(R) <0, esse bem será chamado de inferior, pois, ao variar a renda do consumidor, a quantidade demandada do bem varia no sentido contrário. Um tipo especial de bem inferior é o bem de Giffen, que © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 17 154 – Microeconomia | Unidade 03 possui relação de preço direta e de renda inversa, tem efeito substituição menor que o efeito renda. Os hábitos do consumidor também afetam as quantidades demandadas. No caso, podem ser relações diretas ou inversas com a demanda, pois têm por base a cultura dos consumidores e a influência de propagandas e campanhas promocionais sobre eles. UNIDADE 3 – ANÁLISE DOS MERCADOS MÓDULO 2 – ABORDAGEM TEÓRICA DA DECISÃO DE CONSUMIR 01 1 - BUSCA DA ESCOLHA ÓTIMA Os seres humanos têm desejos ilimitados, porém, seus recursos, ao contrário, têm limites. Desta forma, o homem, como consumidor, enfrenta uma série de dificuldades, como: orçamento disponível insuficiente, poucas informações sobre os bens de consumo e influências diversas que alteram seu padrão de preferência etc. O consumidor deverá, então, buscar a maximização de seu bem-estar, da melhor forma possível (por meio de escolhas racionais), ou seja, escolhendo um plano de consumo que deve ir ao mais alto nível de bem-estar ou de satisfação (ou utilidade), de forma compatível com sua renda. © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 18 154 – Microeconomia | Unidade 03 A teoria microeconômica explica, de forma sistemática, de que maneira o consumidor racional executa o seu plano de consumo. Para tal, utiliza-se da Teoria Ordinal do Comportamento do Consumidor e de conceitos como Curva de Indiferença, Taxa Marginal de Substituição e Restrição Orçamentária. A Teoria Ordinal do Comportamento do Consumidor, com base na construção teórica de Vilfredo Pareto (1906), ao contrário da Teoria Cardinal, que busca mensurar a utilidade, segue na ordem de preferência, estruturada com base na comparação das utilidades dos bens declaradas pelo consumidor. 02 Utilidade e escalas de preferência Os economistas se referem aos benefícios provenientes do consumo como a utilidade que os indivíduos obtêm da combinação de bens que consomem. Dessa forma, supõe-se que uma pessoa racional seja capaz de informar se preferiu ou não certa combinação de bens a outra. Com base na preferência declarada, os indivíduos escolhem um conjunto de bens que maximizará a sua utilidade, dados os limites do seu orçamento. É importante observar que a pesquisa sobre as preferências dos indivíduos indica o quanto eles estão dispostos a pagar; isso é diferente do que são obrigados a pagar. O que os indivíduos têm de pagar irá depender do preço de mercado; o que ele está disposto a pagar reflete as suas preferências. Exemplo. O objetivo do consumidor, se racional, será o de obter o máximo de satisfação possível com as suas escolhas. Denomina-se utilidade totalà medida da satisfação total do consumidor. A disposição que a pessoa tem de pagar a mais por cada camiseta reflete o fato de uma © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 19 154 – Microeconomia | Unidade 03 camiseta adicional ainda lhe proporcionar utilidade adicional. A essa utilidade extra da camiseta adicional, medida em unidades monetárias adicionais que ela está disposta a pagar, denominase utilidade marginal. A tabela a seguir mostra as utilidades dessa pessoa em análise. Suponhamos que determinada pessoa estaria disposta a pagar – com base em suas informações, padrão de consumo, hábitos e renda – o valor de 40 unidades monetárias por cinco camisetas. Perguntada sobre quanto pagaria por seis camisetas disse: 45 unidades monetárias e, por sete camisetas, 50 unidades monetárias. Cabe ressaltar que esses montantes podem estar elevados ou baixos se comparados aos preços de mercado. Leva-se em conta, apenas, que eles refletem a medida da utilidade que a pessoa acredita que as camisetas possuem para ela. Utilidade total representa a satisfação total derivada do consumo de bens e serviços. Representa o aumento na utilidade total do consumo, decorrente de mais uma unidade do bem. 03 À medida que o conjunto de bens de um indivíduo inclui mais de um bem, cada incremento sucessivo aumenta menos a sua utilidade. Essa é a Lei da Utilidade Marginal Decrescente. A primeira camiseta é muito desejável e uma adicional é atraente também. Mas outra camiseta não aumenta a utilidade, tanto © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 20 154 – Microeconomia | Unidade 03 quanto a anterior; em algum ponto, a pessoa em análise não terá nenhum prazer em acrescentar mais uma camiseta ao seu guarda-roupa. Supondo-se que a mesma pessoa tenha de escolher entre dois bens, por exemplo, uma camiseta, que custa o dobro de uma pizza. Enquanto a utilidade marginal de uma camiseta continuar sendo superior ao dobro da utilidade da pizza, vale a pena a pessoa transferir compras para as camisetas. Para adquirir uma camiseta adicional, ela precisa abrir mão de duas pizzas. Dessa forma ela ajustará seu consumo até o ponto em que as utilidades marginais dos dois bens, por unidade de dinheiro gasto, sejam iguais. Essa é a regra geral independente de os preços serem iguais ou não. É definida como Lei dos Benefícios Marginais Equiproporcionais. Ao escolher entre dois bens, um consumidor ajustará suas escolhas até que as utilidades marginais sejam proporcionais aos preços. Assim, a última unidade comprada de um bem que custa o dobro de outro deve proporcionar o dobro da utilidade marginal da última unidade comprada do outro bem; a última unidade de um bem que custa o triplo de outro deve gerar três vezes mais utilidade marginal que a última unidade comprada do outro bem e assim por diante. A expressão pode ser escrita da seguinte forma: Pode-se concluir, portanto, que os consumidores alocam sua renda entre bens diferentes de tal modo que a utilidade marginal associada à última unidade comprada, por unidade de dinheiro gasto, seja a mesma para todos os bens. A Lei da Utilidade Marginal Decrescente demonstra que, enquanto as pessoas consomem mais de um bem num determinado período, a utilidade marginal do bem declina. A Lei dos Benefícios Marginais Equiproporcionais demonstra que a mais alta utilidade é alcançada quando a última unidade monetária, gasta em cada bem, possui a mesma utilidade marginal. © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 21 154 – Microeconomia | Unidade 03 04 2 - EXCEDENTE DO CONSUMIDOR / PRODUTO 2.1 - Excedente do consumidor Suponha que você entre numa mercearia e compre uma lata de refrigerante. A mercearia cobra 0,75 unidades monetárias. Se você está com muita sede, poderá estar disposto a pagar até 1,25 unidades monetárias por uma lata de refrigerante. A diferença entre o que você paga e o que estaria disposto a pagar é chamada excedente do consumidor. Ela é a medida de quanto se ganha com o comércio. Nesse exemplo você só teve de pagar 0,75 u.m. por algo que se dispunha a pagar 1,25 u.m.; a diferença, 0,50 u.m., é o seu excedente do consumidor. O excedente do consumidor é a diferença entre o montante que o consumidor estaria disposto a gastar para comprar certa quantidade de um bem e quanto ele teve de gastar. É medido pela área abaixo da curva de demanda, mas acima do preço. 05 Então, o excedente do consumidor, ou seja, a disposição de pagar mais por um produto depende das preferências individuais dos consumidores. Outro exemplo para dada mercadoria: © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 22 154 – Microeconomia | Unidade 03 Consumidor A B C D Disposição a pagar R$100,00 R$80,00 R$70,00 R$60,00 O excedente do consumidor pode ser calculado pela curva de demanda: No exemplo: Escala de demanda por Preço Acima de R$100,00 De R$80,00 a R$100,00 De R$70,00 a R$80,00 De R$60,00 a R$70,00 R$60,00 ou menos Nº de compradores 0 Quantidade demandada 0 1 1 2 2 3 3 4 4 © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 23 154 – Microeconomia | Unidade 03 © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 24 154 – Microeconomia | Unidade 03 06 2.2 - Excedente do Produtor O excedente do produtor pode ser definido como a diferença entre o preço que o produtor estaria disposto a vender (preço de reserva) e o preço de venda (preço de mercado). O excedente do produtor representa o benefício que o produtor obtém por vender seu produto a um preço superior ao que estaria disposto a vender. Quanto maior o excedente do produtor, maior o seu bem-estar, conforme será visto mais adiante na análise da Teoria da Produção. © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 25 154 – Microeconomia | Unidade 03 O excedente do produtor pode ser calculado tomando-se a área abaixo da linha que passa pelo preço de equilíbrio e acima da curva de oferta O excedente do consumidor é a diferença entre o montante que o consumidor estaria disposto a gastar para comprar certa quantidade de um bem e quanto ele teve de gastar. É medido pela área abaixo da curva de demanda, mas acima do preço. © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 26 154 – Microeconomia | Unidade 03 07 3 - CURVAS DE INDIFERENÇA Observa-se, com base na Lei de Benefícios Marginais Equiproporcionais, que o consumidor racional só trocaria bens e serviços que oferecessem a mesma utilidade marginal, dados os preços de mercado dos bens em análise (constantes), ou seja, existe uma relação estável entre as utilidades e preços para que o consumidor possa realizar sua escolha. Para facilitar a análise mais rigorosa das escolhas e das consequências da mudança de preços, os economistas desenvolveram um instrumento muito útil chamado curvas de indiferença. Curvas de indiferença informam a combinação de bens em relação às quais o indivíduo é indiferente (daí o nome) ou que lhe proporcionam o mesmo nível de utilidade; às vezes, são chamadas Curvas de Utilidade. Podem ser usadas para gerar a curva de demanda, bem como para separar as mudanças no consumo devidas ao efeito-renda decorrente do efeito substituição. As quantidades e as combinações dos bens X e Y estão dispostas pelo consumidor, de tal forma que ele não manifesta preferência por nenhuma delas; todas são igualmente desejáveis e qualquer das combinações é satisfatória. Apesar de indiferentes ao consumidor, a participação de X e Y em cada combinação é diferente; seu nível de satisfação não muda, apesar de seu patrimônio se modificar em termos de quantidades possuídas de cada um dos bens. Quando colocadas em um gráfico, surgem as curvas de indiferença. Elas são como curvas de nível ou altitude em um mapa. Quanto mais altas as linhas, maiores os níveis de satisfação obtidos pelo consumidor. Ao mover-se descendentemente ao longo da curva de indiferença Ia, o consumidor está disposto a aceitar mais de X em troca de menos de Y. Contudo, se o consumidor conseguir obter a mesma quantidade de X e mais de Y, ou mesmo mais de ambos os bens, ele obviamente obteria mais satisfação; mas isso só ocorreria numa curva de indiferença mais afastada da origem ou mais alta (Ib ou Ic). © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 27 154 – Microeconomia | Unidade 03 Curvas de indiferença são a representação gráfica de uma Tabela de Indiferença. Ou seja, o lugar geométrico dos pontos das infinitas combinações possíveis entre dois bens, igualmente desejáveis ao consumidor. Todas propiciam a mesma satisfação, de forma que, para o consumidor, é indiferente a escolha de qualquer uma. 08 Por definição, podem traçar-se curvas de indiferença para qualquer espaço de um diagrama pertinente. Para cada nível de utilidade, há uma curva de indiferença separada e distinta, porque o plano de consumo do consumidor é representado por diversas curvas de indiferença. Ou seja, identifica as várias escalas de preferência do consumidor, e tal conjunto de curvas de indiferença chama-se mapa de indiferença. Também, por definição, as curvas de indiferença não se cruzam nem se tocam. Por representarem níveis de satisfação de um consumidor racional, é inadmissível atingir satisfações mais altas e mais baixas ao mesmo tempo. As curvas de indiferença têm declividade negativa. Na combinação A, existem 10 unidades de Y e nenhuma de X: na B, há 7 de Y e 1 de X. Se o consumidor é indiferente a essas combinações, pode-se concluir que, para o consumidor, a perda de 3 unidades de Y é perfeitamente compensada em termos subjetivos de bem-estar pelo ganho de 1 unidade de X. Então, só é possível manter o nível de bem-estar constante quando houver perfeita compensação entre a quantidade do bem que se reduz e a do bem que é aumentado na nova combinação. A necessidade de compensação de perdas e ganhos subjetivos de satisfação, quando as combinações entre os bens se modificam, remete a outro conceito importante, o de Taxa marginal de substituição. © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 28 154 – Microeconomia | Unidade 03 Mapa de indiferença é o conjunto de curvas de indiferença, representando cada nível de bem-estar ou de utilidade usufruído pelo consumidor. Taxa marginal de substituição é o princípio que diz o quanto de um bem o indivíduo está disposto a deixar de ter em troca de mais uma unidade de outro, mantendo constante o nível de satisfação. 09 Taxa marginal de substituição A Taxa Marginal de Substituição (TMS) irá sempre relacionar duas variações: a primeira, representando a redução da participação de um dos bens, e a segunda, representando o aumento da participação do outro bem. Sendo opostos os sentidos das variações, os sinais serão diferentes entre o numerador e o denominador da expressão – um positivo e outro negativo – de forma que toda a relação passa a ter sinal negativo e ser decrescente (indicativo de serem convexas em relação à origem). Isso significa que a TMS é decrescente e a inclinação da curva de indiferença vai, à medida que se move, tornando-se achatada ao longo da curva, da esquerda para a direita. © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 29 154 – Microeconomia | Unidade 03 10 4 -ORÇAMENTOS E PREÇOS: RESTRIÇÃO ORÇAMENTÁRIA Representa a parte objetiva da análise de decisão do consumo; isto é, os preços das mercadorias e o orçamento que o consumidor dispõe para os gastos. O instrumento que permite sintetizar o orçamento do consumidor e os preços dos bens relacionados é denominado Linha de Preços, Linha de Orçamento ou ainda restrição orçamentária. A restrição orçamentária mostra as combinações de bens que o consumidor pode comprar com a sua renda atual – o gasto é tido como constante nesse tempo. Supondo-se o preço do bem Q1 igual a 10,00 unidades monetárias, de um bem Q2 de 20,00 unidades monetárias e a renda disponível de 1.000,00 unidades monetárias, é possível dispô-las como na tabela nº 5. É representada por uma linha reta. É dada pela relação entre os preços constantes dos bens (ao menos durante o período da análise) e tem declividade negativa também constante (conforme demonstração abaixo). Isso, pelo fato de serem substitutos entre si: para adquirir mais de um bem, o consumidor obrigatoriamente deverá abrir mão do outro bem. © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 30 154 – Microeconomia | Unidade 03 A restrição orçamentária representa as quantidades dos bens que o consumidor pode comprar, combinadamente, gastando toda a sua renda, dados os preços dos bens e a renda disponível para consumo em determinado momento. 11 Equilíbrio do consumidor A curva de indiferença mostra o que o consumidor deseja: quanto mais elevada, melhor para ele. As restrições orçamentárias mostram o que o consumidor pode obter, dadas as limitações de renda disponível para o consumo. Graficamente, se o mapa de indiferença do consumidor representar a sua restrição orçamentária, pode-se afirmar que o ponto de equilíbrio do consumidor – ou do ponto em que o consumidor maximiza o seu bem-estar dentro das limitações de sua renda – é o ponto em que a reta de restrição orçamentária tangencia a curva de indiferença mais elevada do mapa (no caso, o ponto E no gráfico nº 4). É evidente que o consumidor desejaria se usufruir de um nível de bem-estar mais elevado – representado por uma curva de indiferença mais distante da origem –, mas essa possibilidade não é possível devido ao seu orçamento insuficiente para permitir o nível de bem-estar desejado. © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 31 154 – Microeconomia | Unidade 03 12 RESUMO A restrição dos recursos, frente a desejos ilimitados, faz o consumidor enfrentar dificuldades na decisão de consumir (orçamento disponível insuficiente, poucas informações sobre os bens de consumo e influências diversas podem alterar seu padrão de preferência etc.) A teoria microeconômica estuda o comportamento do consumidor racional (busca maximizar seu bemestar) e explica, de forma sistemática, como a unidade consumidora define seu plano de consumo pela teoria ordinal do comportamento do consumidor. Os benefícios vindos do consumo são chamados de utilidade. Supõe-se que um indivíduo racional seja capaz de informar, em uma pesquisa, se os benefícios provenientes de certa combinação de produtos são preferíveis em detrimento de outros. As restrições orçamentárias informam quanto os consumidores estariam dispostos a dispender, no máximo, ao consumir cada cesta de bens (utilidade total). Torna-se possível, assim, ordenar as preferências do consumidor e mensurar o quanto aumentaria sua utilidade total, ao acrescentar mais um item à sua cesta de bens (utilidade marginal). Com base nesse experimento, observa-se que cada incremento sucessivo reduz a sua utilidade; portanto, a utilidade marginal declina (Lei dos rendimentos decrescentes). Caso o consumidor prefira trocar um bem por outro, mesmo que de preços diferentes, ajustará suas escolhas até que as utilidades marginais sejam proporcionais aos preços. As utilidades marginais por © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 32 154 – Microeconomia | Unidade 03 valor gasto serão iguais (Lei dos benefícios marginais equiproporcionais). A diferença entre o que efetivamente se paga e o que se estaria disposto a pagar é chamada excedente do consumidor e fornece medida dos benefícios de troca no mercado daquele bem para o consumidor. Buscando analisar a relação entre as escolhas e as mudanças de preços, os economistas desenvolveram as curvas de indiferença. Nelas, são dispostas as combinações de bens a que o consumidor é indiferente ou que lhe proporcionam a mesma satisfação. Colocadas em gráfico, as curvas de indiferença se assemelham a curvas de nível: quanto mais elevadas as linhas, maior a satisfação obtida pelo consumidor. O conjunto de curvas de indiferença chama-se mapa de indiferença. Por definição, as curvas de indiferença não se cruzam; são negativamente inclinadas e convexas em relação à origem. A convexidade em relação à origem deve-se ao fato de que se o consumidor quiser aumentar a quantidade de um bem mantendo a satisfação (mesma curva de indiferença), apenas será possível reduzindo a quantidade de outro. As quantidades variam sempre em sentidos opostos – portanto, com sinais contrários. Resulta na relação com sinal negativo e decrescente. A mensuração dessa relação, quando as combinações entre os bens se modificam, remete ao conceito de Taxa Marginal de Substituição. O orçamento do consumidor e os preços dos bens relacionados são denominados Linha de Preços, Linha de Orçamento ou ainda Restrição Orçamentária. Representa objetivamente a decisão do consumo e mostra, dados os preços das mercadorias, o orçamento que o consumidor dispõe para os gastos. É indicada por uma linha reta (relação de preços dos bens constante no período analisado) e tem declividade negativa. Ao ser interpretado o mapa de indiferença do consumidor e a sua restrição orçamentária, define-se o ponto de equilíbrio do consumidor, o lugar onde o consumidor maximiza o seu bem-estar dentro das limitações de sua renda. Este é o ponto em que a reta de restrição orçamentária tangencia a curva de indiferença mais elevada do mapa de indiferença. © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 33 154 – Microeconomia | Unidade 03 UNIDADE 3 – ANÁLISE DOS MERCADOS MÓDULO 3 – ANÁLISE DA FUNÇÃO OFERTA 01 1 - LEI GERAL DA OFERTA E SUA FUNÇÃO Oferta é a quantidade de determinado bem ou serviço que os produtores desejam vender em determinado período de tempo. Exemplo. A Lei geral da oferta busca definir o comportamento “geral” do conjunto de ofertantes racionais. Busca os pontos que maximizam os lucros e minimizam os custos nos negócios quando a oferta de um produto qualquer varia na razão direta da variação do seu preço, mantidas constantes as demais influências porventura existentes em cada momento. A quantidade de determinado bem que o produtor irá ofertar no mercado depende de vários fatores, dentre os quais: preço do próprio bem x (Px); preço do bem substituto (Ps); preço do bem complementar (Pc); preço dos fatores de produção (Pf) e tecnologia (T). A expressão matemática da função geral da oferta do bem X é apresentada da seguinte forma: Qx0 = ƒ (Px, Ps, Pc, Pf, T) Há ofertas de vários bens ou serviços, na maioria das vezes, de forma desencontrada e influenciada por diversos fatores, como na apresentação da curva de oferta. O objetivo é viabilizar análise científica minuciosa em que a variação da quantidade ofertada varia de preço. Também a análise da oferta representa plano ou intenção dos produtores e vendedores, não a venda efetiva; mas, utiliza-se, outrossim, o conceito teórico do coeteris paribus, tudo o mais é mantido constante. © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 34 154 – Microeconomia | Unidade 03 02 2 - RELAÇÃO ENTRE FUNÇÃO E OFERTA • Relação entre Qx0 e o preço do próprio bem (Px) A quantidade ofertada de um bem (geralmente) varia diretamente com seu preço, presumindo-se que todos os demais fatores influentes na oferta permaneçam inalterados. Qx0 = ƒ(Px) = a quantidade ofertada do bem X é função do preço do bem X, supõe constantes Ps, Pc, Pf, T e todas as demais variáveis que possam influenciar a oferta. A oferta do bem X é uma curva ascendente da esquerda para a direita, mostrando que quanto maior o preço, maior será a quantidade que os produtores desejarão oferecer no mercado. É, portanto, uma função direta e crescente do preço. 03 • • Relação entre Qx0 e o preço dos outros bens (Ps e Pc) Bens substitutos ou concorrentes © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 35 154 – Microeconomia | Unidade 03 Este é o caso da soja e do milho, os quais concorrem entre si quanto à utilização dos recursos produtivos. Um aumento no preço da soja poderá tornar essa cultura mais lucrativa e, portanto, mais atraente que o cultivo do milho. Qx0 = f (Ps) supondo Px, Pc, Pf, T constantes e ƒ’(Ps) < 0, ou seja, (dQx0/dPs) < 0 Ex.: Se diminui o preço do guaraná (bem S), aumenta-se a quantidade produzida de coca-cola (bem x). © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 36 154 – Microeconomia | Unidade 03 Por exemplo, seja: Qx0 = 10 + 2Px– 2Ps. Traça-se a curva de oferta Qx0 = ƒ (Ps), considerando Ps=10 e o aumento no preço do bem substituto (Ps) de 20%. Verifica-se no Gráfico 4 a curva de oferta 0, antes do aumento do preço do bem substituto. Verifica-se no Gráfico 4 a curva de oferta 0', deslocada para a esquerda, em função do aumento de 20% no preço do bem substituto (s). Então, será diminuída a quantidade ofertada do bem x, pois o produtor vai aumentar a produção do bem s. © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 37 154 – Microeconomia | Unidade 03 04 • Bens complementares Este é o caso em que o aumento da oferta de um bem vem acompanhado de um aumento na produção de outro bem. Esses bens possuem a característica de serem produtos consumidos em conjunto: café com leite, pão com manteiga, carro e gasolina etc. Qx0 = ƒ (Pc) supondo Px, Ps, Pf, T constantes e ƒ’(Pc) > 0, ou seja, (dQx0/dPc) > 0 © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 38 154 – Microeconomia | Unidade 03 Por exemplo, seja: Qx0 = 10 + 2Px + 2Pc. Traça-se a curva de oferta Qx0 = f (Pc), considerando-se Pc=10 e o aumento no preço do bem complementar Pc de 20%. © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 39 154 – Microeconomia | Unidade 03 05 • Relação entre Qx0 e o preço dos fatores de produção e (Pf) Os custos de produção dependem dos preços dos fatores de produção e da intensidade em que tais fatores são utilizados. Assim, aumentos nos preços dos fatores produtivos utilizados na fabricação de um produto qualquer acarretarão aumentos de custos, fazendo que o produtor ofereça quantidade menor a cada preço. Tem-se, neste caso, diminuição da oferta. Qx0 = ƒ (Pf) supondo Px, Ps, Pc, T constantes e ƒ’(Pf) < 0, ou seja, (dQx0/dPf) < 0 © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 40 154 – Microeconomia | Unidade 03 06 • Relação entre a função de oferta de um bem e a tecnologia As inovações tecnológicas determinam, quase sempre, elevação nos índices de produção. Se a inovação possibilitar a obtenção de maior volume de produção a custos menores, os produtores do produto beneficiado pela inovação poderão produzir quantidade maior a cada preço. Qx0 = ƒ (PT) supondo constantes Px, Ps, Pc, Pf e ƒ’ (PT)> 0, ou seja, (dQx0/dPT) >0 © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 41 154 – Microeconomia | Unidade 03 07 3 - OBSERVAÇÕES SOBRE AS FUNÇÕES OFERTA E DEMANDA Tanto as funções de demanda quanto as de oferta podem ser calculadas com base em dados da realidade, utilizando-se metodologia específica dos cursos de estatística econômica ou econometria, são estimadas empiricamente as funções. Dependendo de como os dados numéricos coletados se apresentarem, as curvas de demanda ou da oferta podem ter formato linear, potência, hiperbólica etc. Exemplo, nas curvas de demanda. O sinal dos coeficientes indica a relação, se direta (positivo) ou inversamente proporcional (negativo), entre as quantidades e as variáveis analisadas. Na função demanda, a variável “gostos” não aparece nas estatísticas devido ao fato de não ser observada empiricamente. Entretanto, é possível medir-se o efeito dos gastos com a propaganda e a publicidade nas curvas de demanda. © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 42 154 – Microeconomia | Unidade 03 Na função oferta, a variável “objetivos da Empresa” também não é expressa por meio de números e o uso é basicamente na análise teórica da função. Nos estudos empíricos, observa-se que a oferta depende mais do preço no período anterior do que no próprio período da análise. As decisões para alterar a produção não são tomadas de imediato, considerando-se a necessidade de as empresas precisarem adequar suas plantas de produção aos novos preços. Em função do exposto, os economistas demonstram que as curvas de demanda movem-se mais rapidamente a estímulos de preços do que as curvas de oferta. Econometria é a disciplina que utiliza o ferramental estatístico na solução (medição) de problemas econômicos. Linear: Qxd = 3 – 0,5px + 0,2ps– 0,1pc + 0,9R ou ainda Potência Qxd = 5px-0,2.ps0,3.pc-0,1.R1,2 08 • Variações das curvas ou sobre as curvas Distinguir entre os movimentos ao longo da curva e os deslocamentos da curva é tão importante tanto no caso da oferta como no caso da demanda. As variações das curvas dizem respeito a deslocamentos para direita ou para esquerda, provenientes de mudanças nas condições coeteris paribus, © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 43 154 – Microeconomia | Unidade 03 diferentes da variação do próprio preço do bem ou serviço que está sendo analisado. As variações das quantidades demandadas ou ofertadas referem-se a movimentos ao longo das próprias curvas em virtude da variação do preço do bem ou serviço que está sendo analisado, mantendo as demais condiçõescoeteris paribus, ou seja, com as demais variáveis constantes. © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 44 154 – Microeconomia | Unidade 03 Portanto, a oferta ou a demanda, no que tange a deslocamentos, enquanto mudanças na quantidade ofertada ou demandada, considerando as variações da própria curva, refere-se a pontos específicos das curvas. 09 • Preços relativos X preços absolutos Na Microeconomia, são relevantes os preços relativos ou a relação entre os preços dos vários bens mais do que os preços absolutos (específicos do bem ou serviço) das mercadorias. Exemplo. Se o preço da margarina cair 10%, mas o preço da manteiga também cair 10%, nada deve acontecer com a demanda dos dois bens, apesar de serem substitutos. Supõe-se também uma queda na renda de 10%, para que os compradores não tenham a sensação de ambos os bens estarem mais baratos e as demandas de ambos aumentarem. Nesse caso, apesar de ambos os preços, em termos absolutos, terem variado, em termos relativos (um em relação ao outro), não houve mudança. Agora, se apenas o preço da margarina cai, o preço da manteiga permanecendo o mesmo, provavelmente ocorrerá aumento da quantidade demandada de margarina e cairá a demanda de manteiga. Isso, sem que se altere o preço absoluto da manteiga. 10 RESUMO A Oferta representa a quantidade de determinado bem ou serviço que os produtores desejam vender em determinado período de tempo (semana, ano, mês). Por isso, representa um fluxo. No estudo, pressupõe-se um plano ou intenção dos produtores e vendedores. Utiliza-se também o conceito teórico do coeteris paribus, ou tudo o mais é mantido constante. Observando-se a oferta, verifica-se uma relação direta de causa e efeito entre o preço e a quantidade demandada. Isso possibilita definir um comportamento “geral” do conjunto de ofertantes racionais na busca de pontos que maximizem os lucros e minimizem os custos nos seus negócios, tidos como Lei geral da oferta. Quando o preço cai (causa), a quantidade vendida se reduz (efeito); quando o preço sobe (causa), a quantidade vendida se eleva (efeito), mantidos os demais fatores constantes (coeteris paribus). A representação matemática é dada por coeteris paribus Qx0 = ƒ(Px), sendo ƒ’(Px) > 0, ou seja, a primeira derivada é positiva, mostrando relação direta entre as variáveis (declividade positiva da curva de oferta) e confirmando a Lei Geral da Oferta. © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 45 154 – Microeconomia | Unidade 03 A quantidade ofertada de um produto também é afetada pelo preço de outros bens – os concorrentes ou substitutos –, pelo preço dos bens complementares e pelos fatores de produção e a intensidade em que tais fatores são utilizados. Os substitutos são descritos matematicamente por: Qx0 = ƒ(Ps) supondo coeteris paribus, sendo ƒ’(Ps)<0. Ou seja, a primeira derivada é negativa, a relação entre as variáveis é inversa; portanto, ao variar o preço de um bem substituto do bem X, a quantidade ofertada de Xvaria no sentido oposto; concorrem, em termos de recursos de produção. A estimular X, automaticamente, seu substituto torna-se menos atraente. Os complementares são descritos matematicamente por: Qx0 = ƒ(Pc), supondo-se tudo o mais constante e sendo ƒ’(Pc)> 0; ou seja, a primeira derivada é positiva, a relação entre as variáveis é direta; portanto, variações no preço de um bem complementar de X geram variações da quantidade ofertada do bem X no mesmo sentido, pois são produtos ‘conjuntos’ em seus recursos de produção. Os fatores de produção também afetam a quantidade ofertada pelo produtor. Sua relação matemática é: Qx0 = ƒ(Pf), supondo tudo o mais constante. Sendo ƒ’(Pf)< 0, a primeira derivada é negativa, a relação entre as variáveis é inversa; portanto, aumentos nos preços dos fatores produtivos, utilizados na fabricação de um produto qualquer, acarretarão aumentos de custos, fazendo com que o produtor ofereça quantidade menor a cada preço. Tem-se, nesse caso, diminuição da oferta. As inovações tecnológicas também afetam a quantidade ofertada pelo produtor. Sua relação matemática é: Qx0 = ƒ(PT), supondo-se tudo o mais constante, sendo ƒ’(PT)> 0, ou seja, a primeira derivada é positiva, a relação entre as variáveis é direta. Se a inovação possibilitar a obtenção de maior volume de produção, a custos menores, os produtores do bem beneficiado pela inovação poderão produzir quantidade maior a cada preço. As variações das quantidades demandadas ou ofertadas referem-se a movimentos ao longo das próprias curvas. Isso, em virtude da variação do preço do próprio bem ou serviço que está sendo analisado, mantendo as demais variáveis constantes. As variações das curvas dizem respeito a deslocamentos para a direita ou para a esquerda, provenientes de mudanças nas condições coeteris paribus. Na Microeconomia, são relevantes os preços relativos ou relação entre os preços dos vários bens, mais do que os preços absolutos(específicos do bem ou serviço) das mercadorias. Caso os preços dos bens analisados variem na mesma proporção, diz-se que, em termos absolutos, variaram; mas, em termos relativos, não houve mudança. Portanto, não gerou efeitos sobre as curvas. © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 46 154 – Microeconomia | Unidade 03 UNIDADE 3 – ANÁLISE DOS MERCADOS MÓDULO 4 – TEORIA DA PRODUÇÃO E ANÁLISE DE CURTO PRAZO 01 1 - TEORIA DA PRODUÇÃO A teoria da produção preocupa-se com a relação técnica ou tecnológica entre a quantidade física de produtos (outputs) e de fatores de produção (inputs); ou seja, trata apenas das relações físicas, isto é, não monetárias. O primeiro conceito a ser definindo é o de produção, que é o processo de transformação dos fatores adquiridos pela empresa em produtos para a venda no mercado. A organização na qual há empregador ou empresário, e um ou mais empregados, é apenas intermediária. É importante ressaltar que o conceito de produção não se refere apenas aos bens físicos e materiais, mas também a serviços, como transportes, atividades financeiras, comércio e outras atividades. No processo de produção, diferentes insumos ou fatores de produção são combinados, de forma a produzir o bem ou serviço final. As formas como os insumos são combinados constituem os chamados métodos de produção, que podem ser intensivos em mão de obra (utilizam mais mão de obra em relação a outros insumos), intensivos em capital ou intensivos em terrenos etc. Se, a partir da combinação de fatores, for possível produzir um único produto ou output, tem-se o processo de produção simples; se for possível produzir mais de um produto, tem-se o processo de produção múltiplo ou produção múltipla. É o organizador que toma a si os riscos de negócio em geral não recebe salário © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 47 154 – Microeconomia | Unidade 03 contratual na qualidade empresário. Em vez disso, retém o que resta da receita, se houver, depois que todos os pagamentos são efetuados. Em contabilidade, "o que resta" da receita de cada ano é denominado lucro ou renda líquida. Já os economistas o denominam receita líquida ou residual. Método de produção é a escolha particular de combinação de fatores com a tecnologia conhecida e disponível. 02 A escolha do método ou processo de produção depende de sua eficiência. Considere a situação na qual um novo processo foi descoberto. Suponha que os mesmos tipos de insumos foram utilizados para produzir o mesmo tipo de produto do processo anterior. Entretanto, o novo processo usa menos ou mais dos mesmos insumos e não um insumo a mais para produzir a mesma quantidade do produto. Alternativamente, pode-se produzir mais do produto com as mesmas quantidades de cada insumo. Numa situação como essa, o velho processo tornou-se, agora, tecnicamente ineficiente. É evidente que nenhum produtor para a maximização dos lucros usaria mais insumos do que o necessário para determinado nível de produto. Portanto, é razoável a suposição de que uma vez que o processo se torne tecnicamente ineficiente, não mais será utilizado. A eficiência técnica requer que se utilize um processo de produção que não use mais insumos do que o necessário para determinado produto. Eficiência é a relação entre os recursos que deveriam ser consumidos e os que © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 48 154 – Microeconomia | Unidade 03 realmente são utilizados do ponto de vista técnico, tecnológico ou econômico. 03 A alteração tecnológica, em que é descoberto um novo processo, utilizando os mesmos insumos para gerar o mesmo processo anterior, pode empregar menos de alguns insumos e mais de outros para produzir certa quantidade de produto. Não se pode dizer que o velho processo é tecnicamente ineficiente. De fato, o antigo processo pode continuar a ser usado em algumas situações e o novo, em outras. A escolha do processo a ser utilizado em cada caso dependerá do preço dos insumos. Atualmente, tem-se um processo "novo" para a construção de estradas, utilizam-se trabalhadores e maquinaria sofisticada. No processo antigo, utilizavam-se trabalhadores, picaretas e pás, ou seja, o processo antigo usava mais mão de obra e menos máquinas sofisticadas. Em uma sociedade na qual haja muita mão de obra, o processo antigo continuará a ser utilizado, apesar do fato de as empresas nela atuantes conhecerem a existência de novos métodos. A escolha do processo passa a ser opção econômica, em vez de puramente técnica. O engenheiro deve ficar à parte; o economista entra em cena. A noção de eficiência econômica implícita se assenta na comparação entre o valor do produto e o valor dos insumos. A eficiência econômica requer que o valor em unidades monetárias do produto, na relação com unidades monetárias do recurso insumo, seja maximizado. O uso do recurso é economicamente eficiente quando o produto resultante maximiza a satisfação total, e agrega os desejos de todos os indivíduos da sociedade. O método é tecnicamente eficiente (eficiência técnica ou tecnológica) quando, comparado com outros métodos, utiliza menor quantidade de insumos, para produzir quantidade equivalente do produto. A eficiência econômica está associada ao método de produção mais barato (os custos de produção menores) relativamente a outros métodos. Ele permite produzir a mesma quantidade de um produto com menor custo de produção. 04 2 - FUNÇÃO DE PRODUÇÃO O empresário, ao decidir o que, como e quanto produzir, com base nas respostas do mercado consumidor, procura variar a quantidade utilizada dos fatores para, com isso, variar a quantidade produzida do produto. Função produção é a relação que mostra a quantidade física obtida do produto a partir da quantidade física utilizada dos fatores de © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 49 154 – Microeconomia | Unidade 03 produção em determinado período de tempo. É o conceito mais “físico” ou “tecnológico” e não deve ser confundido com o de função oferta, que é de caráter “econômico”, relacionando a produção com os preços. A função produção, assim definida, admite sempre que o empresário esteja utilizando a maneira mais eficiente de combinar os fatores e, consequentemente, obter a maior quantidade do bem produzido, supondo-se que a questão da melhor tecnologia de produção já esteja resolvida pela área de Engenharia. É possível representar a função produção, analiticamente, da seguinte maneira: Onde: é a quantidade produzida do bem ou serviço num determinado período de tempo; identificam as quantidades utilizadas nas combinações dos diversos fatores de produção; dependente, ou seja, função da quantidade de insumos utilizados. Para efeitos didáticos, tornando a função genérica operacional, é adotada uma simplificação que a reduz a uma função de apenas duas variáveis: Onde: a quantidade utilizada de mão de obra (do inglês labor); a quantidade utilizada de capital físico. Supõe-se que todas as variáveis (Q, L, K) são expressas num fluxo no tempo; isto é, consideradas ao longo de um dado período de tempo (produção mensal, produção anual etc.). Supõe-se também que o nível tecnológico é dado ou determinado, tendo em vista ser questão pertinente à área de engenharia, que interessa à eficiência econômica. Como exemplo, há possíveis formas específicas de funções de produção, como: © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 50 154 – Microeconomia | Unidade 03 Cabe ressaltar que essas formulações da função de produção buscam medir a contribuição dos fatores de produção provenientes do estágio que estiver sendo analisado. Calcula-se o valor “acrescentado” ou “agregado” de produção criada nesse processo (Q). Portanto, não são contabilizadas as produções provenientes de estágios produtivos anteriores. Nível tecnológico é o “estado da arte”; representa o conhecimento tecnológico global. 05 Distinção entre os fatores de produção fixos e variáveis – curto e longo prazo Na teoria microeconômica, a questão do elemento “tempo” é fundamental para a interpretação das relações entre quantidade produzida e quantidade de fatores de produção. Quanto mais tempo o empresário dispuser para planejar, supõe-se que melhor será a combinação dos insumos. Para se examinar o tempo, convém dividi-lo em dois extremos: curto prazo longo prazo Os fatores de produção também recebem classificação, em razão da sua relação com a produção e sua variabilidade. Isso, posteriormente, facilitará a análise da teoria dos custos da produção. Dividem-se em dois tipos: fatores de produção variáveis, ou aqueles cujas quantidades utilizadas variam quando o volume de produção varia. Por exemplo: quando aumenta a produção, são necessários mais trabalhadores e maior quantidade de matérias-primas; fatores de produção fixos são aqueles cujas quantidades não variam quando o produto varia. As instalações da empresa e a tecnologia são fatores que são alterados apenas no longo prazo. Exemplo. Numa distinção arbitrária entre o curto e o longo prazo aplicados a fatores de produção fixos e variáveis, diz-se que o fator fixo de produção é aquele cuja quantidade não pode ser expandida em © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 51 154 – Microeconomia | Unidade 03 período curto de tempo, sem aumento substancial do custo, por unidade, do fator fixo. Mas a quantidade pode ser alterada no longo prazo, sem que haja aumento no custo por unidade. Longo prazo é o período de tempo em que todos os fatores podem ser alterados sem que isso gere aumento no custo por unidade. O longo prazo é um esquema de decisões de investimento. Curto prazo é o período de tempo no qual as firmas aumentam alguns insumos, não todos, para elevar a produção. Ou diminuem alguns, não todos, para produzir menos. Geralmente, a empresa atende a aumento temporário na demanda de produção, pagando horas extras a seus trabalhadores. Mas, com maior frequência, deixa o tamanho da fábrica e os equipamentos inalterados. É o período de tempo no qual a firma ou empresa aumenta todos os insumos, da maneira mais eficiente possível, para produzir mais. Mão de obra, materiais, tamanho e número de fábricas, equipamento, propaganda, treinamento, pessoal e gerentes, tudo pode alterar-se no longo prazo. Geralmente, um fator fixo de produção não pode ser alterado em curto prazo, somente em longo prazo. Mas, o que significa dizer "não pode ser alterado"? Para exemplificar, um gerador de energia, já colocado, precisa ser classificado como fator fixo de produção no curto prazo, porque, nesse, é difícil expandir a quantidade de geradores de energia. Entretanto, essa é uma observação incompleta da realidade. A custo suficientemente alto, uma empresa fornecedora de eletricidade pode instalar um gerador de energia em período relativamente curto de tempo. Ou, a preço alto, pode-se comprar um gerador de energia adicional e tê-lo entregue rapidamente. 06 Análise de curto prazo O comportamento da produção no período de curto prazo requer que se caracterize a função de produção nesse período de oferta. Assim, é preciso considerá-lo, pelo menos, um fator fixo. Considerando uma função de produção de dois fatores, teremos então: Onde, Q é a quantidade produzida, x1 ou L é o fator variável e x2 ou K é o fator fixo. A função só pode ser definida para níveis positivos dos fatores de produção e do produto; ou seja, Q> 0, x1> 0 ou N> 0, x2> 0 ou K> 0. Outra consideração importante é que a função de produção se modifica com o nível de tecnologia. Portanto, para realizar a análise, estuda-se o fator variável mantendo-se não apenas todos os demais fatores constantes, mas também todas a condições (coeteris paribus). © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 52 154 – Microeconomia | Unidade 03 07 3 - PRODUTO TOTAL E SUAS DERIVAÇÕES Produto total do fator (variável) – PT – é a quantidade do produto que se obtém da utilização do fator variável (L), mantendo-se fixa a quantidade dos demais fatores (K). Portanto, o fator fixo representa um parâmetro para a função (limitador), de forma que a variação da produção dependerá da variação do fator variável “L” para cada valor fixo de “K”. Ou seja, existe certa proporção de combinação que deverá ser respeitada. Pode ser representada pela expressão: PT = Q. Produtividade média do fator (Pme) representa o resultado do quociente da quantidade total produzida pela quantidade utilizada desse fator. Temos então: 08 Produtividade marginal do fator (Pmg) representa a relação entre as variações do produto total e as variações da quantidade utilizada do fator. Ou seja, é a variação do produto total quando ocorre uma variação no fator de produção. • Produtividade marginal da mão de obra: Quando a função de produção é contínua e diferencial, ou seja, podem ocorrer variações infinitesimais e não apenas variações discretas (de uma em uma unidade de fator), utilizam-se as derivadas do produto em relação aos insumos (onde se encontram os símbolos de variações discretas: substitui-se por d). Considere-se 10 alqueires de terra (fator fixo) utilizados para produzir arroz. Variando a mão de obra utilizada na lavoura (fator variável) – de maneira que os aumentos de produção dependerão do aumento de mão de obra, já que quantidade de alqueires que disponho para plantio se mantém constante –, como se comportará a produção, alterando-se as proporções dos fatores fixos e variáveis? Veja na tabela nº 01. © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 53 154 – Microeconomia | Unidade 03 Tabela nº 01 Terra (fator fixo em alqueires) 10 10 10 10 10 Mão de obra (fator variável em milhares de trabalhadores) 1 2 3 4 5 Produto total (em toneladas) 6 14 24 32 38 Produtividade média da mão de obra (em toneladas) 6,0 7,0 8,0 8,0 7,6 Produtividade marginal da mão de obra (em toneladas) 6,0 8,0 10,0 8,0 6,0 10 10 10 10 6 7 8 9 42 44 44 42 7,0 6,3 5,5 4,7 4,0 2,0 0,0 -2,0 Nesse caso, a produção de arroz aumentará até certo ponto e depois decrescerá. A maior quantidade de homens para trabalhar, associada à área constante de terra, permitirá que a produção cresça até um máximo e, depois, passe a decrescer. Isso ocorre devido à Lei das proporções variáveis, ou ainda, como é mais conhecida Lei dos rendimentos decrescentes. 09 4 - LEI DOS RENDIMENTOS DECRESCENTES A Lei ou princípio dos rendimentos decrescentes pode ter a seguinte enunciação: elevando-se a quantidade do fator variável, permanecendo fixa a quantidade dos demais fatores, a produção inicialmente aumentará a taxas crescentes; a seguir, depois de certa quantidade utilizada do fator variável, continuará a crescer, a taxas decrescentes (ou seja, com acréscimos cada vez menores). Continuando o incremento da utilização do fator variável, a produção total chegará a um máximo para depois decrescer. Verifica-se que, de início, podem ocorrer rendimentos crescentes, isto é, os acréscimos de utilização do fator variável provocam incrementos na produção. A partir da quarta unidade de mão de obra incluída no processo produtivo, começam a surgir os rendimentos decrescentes. A oitava unidade, associada a 10 unidades do fator fixo terra, maximiza o produto (44 unidades). A produtividade marginal dessa oitava unidade é nula. Daí por diante, cada unidade do fator variável mão de obra, associada às 10 unidades do fator fixo terra, passará a ser ineficiente; ou seja, sua produtividade marginal torna-se negativa. © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 54 154 – Microeconomia | Unidade 03 10 A Lei dos rendimentos decrescentes é fenômeno de curto prazo com, pelo menos, um insumo fixo. Se, no exemplo anterior, a quantidade de terra também fosse variável (por exemplo, passasse de 10 para 15 alqueires), o produto total teria comportamento completamente diferente. Se isso ocorrer, sairemos de uma análise de curto prazo e entraremos na análise de longo prazo, pois também o fator capital variará. © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 55 154 – Microeconomia | Unidade 03 Como pode ser observada, a curva do produto (físico) total inicialmente sobe a taxas crescentes, depois a taxas decrescentes, até atingir seu máximo; em seguida, decresce. As curvas de produtividade média e marginal são construídas a partir da curva do produto total. 11 Ao relacionar-se a produção total (produto físico total) com o comportamento das respectivas produtividades média (produto físico médio) e marginal (produto físico marginal), podem ser identificados três estágios distintos da produção (representados no gráfico): O estágio I, representado pela distância OB, é caracterizado pelo crescimento do produto, na maior parte de sua extensão, a taxas crescentes. A produtividade média é crescente em todo o trecho e a produtividade marginal é crescente até o ponto em que atinge o seu máximo (A’), e o produto atinge seu ponto de inflexão (A). Desse ponto em diante, passa a crescer a taxas decrescentes, ou seja, quando a produtividade marginal torna-se decrescente. Ao final do primeiro estágio (B), a produtividade média atinge seu máximo (B’), tornando-se, nesse ponto, igual à produtividade marginal. O estágio II, representado pela distância BC, é caracterizado pelo crescimento do produto a taxas decrescentes em toda a sua extensão. Esse estágio termina quando o produto total atinge o seu máximo e, consequentemente, a produtividade marginal se torna nula (C’). Nesse estágio, ambas as produtividades, média e marginal, são decrescentes. O estágio III, existente do ponto C em diante, caracteriza-se pelo fato de o produto total e a produtividade média serem decrescentes e a produtividade marginal ser negativa. A fronteira entre os estágios II e III determina o limite das decisões racionais dos empresários e é denominada região econômica de produção. Se produzir no estágio I, sua produção é lucrativa, mas poderá produzir mais; isso porque maiores quantidades do fator variável aumentam o produto mais que proporcionalmente; dessa forma, a empresa sempre tem um incentivo para ultrapassar esse estágio. © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 56 154 – Microeconomia | Unidade 03 Certamente, não irá operar no estágio III, pois, ao nível de uma firma individual, não é fácil imaginar que um empresário racional permita que a situação chegue a ponto de o produto marginal ser negativo, ou seja, optar pelo prejuízo. Antes que isso ocorra, ele, por certo, procurará investir em novas instalações, ou comprar mais máquinas. No nível agregado, existe exemplo clássico na literatura econômica, denominado desemprego disfarçado. 12 Desemprego disfarçado Pode ser verificado em agriculturas de subsistência, não voltadas ao mercado (por exemplo, a de roça) em famílias muito numerosas, onde os filhos dos agricultores permanecem na região, ajudando no plantio, sem que isso represente aumento no produto agrícola. De forma que a retirada de parte dessa população do campo não provocaria queda do produto agrícola (ou seja, a produtividade marginal na mão de obra é nula). A transferência desse tipo de mão de obra para as regiões urbanas, embora em atividades de pouca qualificação, pode ser um dos primeiros requisitos para que um país inicie um processo de industrialização e de crescimento econômico. 13 RESUMO A teoria da produção preocupa-se com a relação técnica ou tecnológica entre a quantidade física de produtos (outputs) e de fatores de produção (inputs), tratando apenas das relações físicas. Produção é o processo de transformação dos fatores adquiridos pela empresa, uma intermediária em produtos ou serviços para a venda no mercado. Métodos de produção representam as formas como esses insumos são combinados em função da tecnologia conhecida disponível. Podem ser intensivos, por utilizar mais de um determinado insumo em relação a outros insumos. O processo de produção será simples, se da combinação de fatores de produção se produzir um único bem ou serviço. Pode, também, ser múltiplo ou de produção múltipla, se produzir mais de um produto ou serviço. A eficiência técnica inerente a um processo diz respeito à sua capacidade de produzir utilizando certa quantidade de insumos. Uma tecnologia é mais eficiente quando produz a uma quantia de bens ou serviços utilizando menos insumos. Sob a ótica econômica, será eficiente aquela que permite produzir a mesma quantidade de um produto com o menor custo de produção. A função produção é a relação que mostra a quantidade física obtida do produto a partir da quantidade © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 57 154 – Microeconomia | Unidade 03 física utilizada dos fatores de produção em determinado período de tempo; é conceito mais “físico” ou “tecnológico”, diferentemente da função oferta, que também relaciona preços com quantidades físicas. Por simplificação, a função é representada ou ainda, a quantidade utilizada de mão de obra e K é a quantidade utilizada de capital físico. onde, L é No estudo econômico, o “tempo” é fundamental para interpretação das relações entre as variáveis. O curto prazo representa o período de tempo em que a empresa aumenta alguns insumos, mas não todos. Existe pelo menos um fator fixo, pois, se expandida num período curto de tempo, aumenta substancialmente seu custo por unidade. É representado pela expressão ou ainda, onde, Q é a quantidade produzida, x1 ou L é o fator variável e x2 ou K é o fator fixo, mantidas as condições coeteris paribus. O longo prazo se caracteriza por todos fatores serem variáveis, pois, ao aumentarem, não oneram seus custos por unidade. A partir do produto total, ou seja, a quantidade de produto obtida para dada combinação de fatores fixos e variáveis, mede-se a produtividade do fator variável. A produtividade média se obtém do quociente da quantidade total produzida pela quantidade utilizada do fator em análise. Já a produtividade marginal é a relação entre as variações do produto total e as variações da quantidade utilizada do fator; ou seja, do acréscimo do produto, ao variar uma unidade do fator analisado. A lei dos rendimentos decrescentes demonstra que, ao acrescentar um fator mantendo os demais constantes, a produção crescerá inicialmente as taxas crescentes; depois as taxas decrescentes e, por fim, novas unidades do fator reduzem a produção total. Isso pode ser observado por meio da produtividade marginal do fator variável. O produtor racional deverá optar por alguns dos pontos do trecho da curva em que o produto cresce a taxas decrescentes antes do ponto de produtividade marginal zero, pois representaria prejuízo. UNIDADE 3 – ANÁLISE DOS MERCADOS MÓDULO 5 – TEORIA DA PRODUÇÃO E ANÁLISE DE LONGO PRAZO 01 1 - INTRODUÇÃO A hipótese de que todos os fatores são variáveis (mão de obra, capital, instalações, matérias-primas etc.) caracteriza a análise de longo prazo, enquanto no curto prazo existe pelo menos um fator fixo. Supondo-se a função de produção simplificada, considerando a participação de apenas dois fatores de produção, a mão de obra (x1 ou L) e o capital (x2 ou K) é representada da seguinte forma: Q = ƒ (x1, x2) ou, ainda, Q = ƒ (L, K) Ambos os fatores variando, para certas combinações de capital e mão de obra, há geração de certos níveis de produto. Pode-se utilizar o esquema geométrico da Teoria de produção, semelhante ao © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 58 154 – Microeconomia | Unidade 03 esquema geométrico utilizado na Teoria da demanda do consumidor. Nesse esquema, a curva de indiferença deu a combinação das duas mercadorias que rendiam nível constante de satisfação. Ao tratar-se de um nível constante de produto, tem-se o esquema geométrico (demonstração gráfica) mostrando as várias combinações de mão de obra e capital que promovem produto constante. 02 2 - ISOQUANTAS Os modos alternativos de produzir determinada quantidade de bens podem ser representados por esquema geométrico tecnicamente chamado de Curva de indiferença de produção, Curva de igual produção e, ainda, Isoproduto; ou, como é mais comumente conhecida nos livros de economia, Isoquanta da produção. Apresenta-se uma isoquanta hipotética conforme o Gráfico nº 01. O eixo horizontal mede a mão de obra expressa em fluxo de serviços por período de tempo; o capital expresso em fluxo de unidades do fator capital por período de tempo é representado no eixo vertical. A isoquanta é traçada para determinada taxa de produção Q1. Portanto, qualquer combinação de mão de obra e capital dada por um ponto da isoquanta renderá exatamente Q1 de produto. Conforme se movem ao longo de Q1, variam simultaneamente as quantidades e as proporções, nas quais o capital e a mão de obra são utilizados. As combinações ou pontos mais próximos do eixo vertical (K) são mais intensivos em capital e menos em mão de obra, e os mais próximos do eixo horizontal (L) são mais intensivos em mão de obra e menos em capital. É evidente que se as quantidades produzidas são as mesmas sob a isoquanta, mantidas as condições de produção (coeteris paribus), para que se aumente a quantidade de um fator de produção, necessariamente a quantidade do outro fator deve ser reduzida, donde a isoquanta se obriga a ter declividade negativa. Isoquanta ou Curva de indiferença de produção ou Curva de igual produção ou Isoproduto pode ser definida como uma curva no espaço dos insumos (lugar © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 59 154 – Microeconomia | Unidade 03 geométrico das coordenadas dos pontos) que mostra todas as combinações possíveis de dois insumos (capital e mão de obra em nosso exemplo) fisicamente capazes de gerar uma mesma quantidade de produto. A primeira parte da palavra isoquanta vem do grego “iso” que significa “o mesmo”, enquanto a segunda parte é apenas abreviação para quantidade. 03 Pode-se, ainda, representá-la por família de isoquantas, mapa de isoquantas ou mapa de produção, representando o conjunto de isoquantas, como no Gráfico nº 02, correspondente aos diferentes níveis de produção, possíveis de se alcançar com a tecnologia. Os níveis mais baixos de produto são representados pelas isoquantas mais próximas da origem (Q1) e, quanto mais afastado da origem, maiores os níveis de produção (Q2, Q3 etc.). Nesse mapa, o formato das isoquantas identifica o grau de substitutibilidade, que é tecnicamente possível entre os fatores. Nas curvas mostradas até o momento, trata-se implícita ou explicitamente de funções de produção de proporção variável; ou seja, qualquer combinação de capital e mão de obra pode ser utilizada na produção. No caso de uma linha convexa em relação à origem, os fatores serãosubstitutos, porém não perfeitos. Entretanto, é possível que dois insumos – tais como carros e volantes, ou um par de sapatos – possam ser utilizados em proporções fixas. É possível demonstrar como deve ser a aparência das isoquantas numa função de produção de proporções fixas. A proporção do capital com a mão de obra é fixada física e imutavelmente. © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 60 154 – Microeconomia | Unidade 03 A proporção é dada pela inclinação do raio ON. As isoquantas são necessariamente ângulos retos. Para a produção Q1 é necessário usar o capital e o trabalho na proporção L1K1. Dada a quantidade de mão de obra L1, não importa se é utilizado mais capital do que K1. De fato, superior a K1, seria tecnicamente ineficiente. O único produto disponível é Q1. Inversamente, dada a quantidade de capital K1, não importa s e é usada mais mão de obra do que L1. Mais do que L1, seria tecnicamente ineficiente e o próximo nível de produção é Q2. Aí, a quantidade necessária de mão de obra é L2 e a quantidade de capital, K2. A proporção L2: K2 é igual à proporção L1: K1. Esta é a natureza das funções de produção de proporção fixa. Nesse caso, os fatores não serão substitutos. O mundo real não exibe grande número de funções de produção de proporção fixa. Quando as isoquantas são perpendiculares, como noGráfico nº 03, dizemos que os insumos são perfeitamente complementares; isto é, devem ser utilizados em proporções fixas. Nesses casos, é útil falar da demanda de pacotes de dois insumos em sua proporção fixa. 04 Quando a isoquanta tiver formatos de linha reta, os fatores serão substitutos perfeitos entre si, como no gráfico que segue. © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 61 154 – Microeconomia | Unidade 03 Assim como as curvas de indiferença do consumidor, as isoquantas apresentam algumas propriedades que devem ser conhecidas e compreendidas. 05 As isoquantas são convexas em relação à origem dos eixos, mostrando que na função de produção os fatores de produção são substitutos entre si, porém, não perfeitos. As isoquantas não se cruzam. Se, por toda a extensão de uma isoquanta, ocorre uma só quantidade constante do produto, um ponto de contato entre elas identificaria hipótese absurda; isto é, naquele ponto duas isoquantas diferentes representariam a mesma quantidade de produto 06 3 - TAXA MARGINAL DE SUBSTITUIÇÃO TÉCNICA Taxa marginal de substituição técnica (TMST) indica a declividade da isoquanta em cada ponto. Como já foi mostrado anteriormente, é dada pela variação do fator capital dividido pela variação do fator mão de © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 62 154 – Microeconomia | Unidade 03 obra , de forma que o produto permaneça constante para qualquer combinação dos fatores. Dessa forma, a TMST revela a perda de produção devido ao pequeno decréscimo de participação de um fator (capital), exatamente igual ao ganho de produção, devido ao pequeno acréscimo de participação do outro fator (mão de obra). 07 Rendimentos de escala Os rendimentos de escala ou economias de escala representam a resposta da quantidade produzida a uma variação da quantidade utilizada de todos os fatores de produção. Ou seja, quando, por suposição, a empresa varia todos os seus fatores de produção, incluindo o seu tamanho, ocorre no longo prazo. Os rendimentos de escala podem ser: • rendimentos crescentes de escala • rendimentos constantes de escala • rendimentos decrescentes de escala • Rendimentos crescentes de escala ou economias de escala: ocorrem quando a variação na quantidade do produto total é mais do que proporcional à variação da quantidade utilizada dos fatores de produção. Por exemplo. Pode apontar-se como causas geradoras dos rendimentos crescentes de escala: a) a maior especialização no trabalho quando a empresa cresce; b) a existência de indivisibilidades entre os fatores de produção. Por exemplo. Escala ou escala de produção representa a identificação de ritmo de variações da produção, respeitada a proporção de combinação entre os fatores. Economias escala ou rendimentos de escala representam o resultado obtido em termos de produto quando se varia a quantidade utilizada dos fatores, dada determinada escala de produção. Aumentando-se a utilização dos fatores em 10%, o produto cresce 20%. Equivale a dizer que a produtividade dos fatores aumentou. © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 63 154 – Microeconomia | Unidade 03 Numa siderúrgica, não existe "meio forno"; quando se adquire mais um forno, deve ocorrer um grande aumento na produção. 08 Na representação gráfica dos rendimentos de escala, pode se considerar a condição de que a distância entre as isoquantas representa a escala de produção e identifica o comportamento dos rendimentos marginais de escala (para que possamos compará-las), como representado no Gráfico n0 05. O produto aumenta na mesma proporção (100) para acréscimos cada vez menores dos fatores envolvidos no processo produtivo (as distâncias entre as isoquantas são cada vez menores), ou seja, os rendimentos dos fatores estão crescendo. 09 • Rendimentos constantes de escala. Ocorrem quando a variação do produto total é proporcional à variação da quantidade utilizada dos fatores de produção: aumentando-se a utilização dos fatores em 10%, o produto também aumenta em 10%. Os economistas costumam afirmar que os rendimentos constantes de escala representam a fase de pequena duração no desenvolvimento da produção. Embora algumas evidências empíricas revelem, a fase pode ser mais longa do que se imagina. Graficamente, respeitando-se a condição estabelecida, temos: © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 64 154 – Microeconomia | Unidade 03 O produto aumenta na mesma proporção (100) para acréscimos também proporcionalmente iguais dos fatores envolvidos no processo produtivo (as distâncias entre as isoquantas são as mesmas), ou seja, os rendimentos dos fatores são constantes. 10 • Rendimentos decrescentes de escala (ou deseconomias de escala) ocorrem quando a variação do produto é menos do que proporcional à variação na utilização dos fatores. Exemplo. Como principais causas geradoras dos rendimentos decrescentes de escala, podemos apontar: a) restrições da capacidade administrativa da empresa, na qual o poder de decisão e a capacidade gerencial e administrativa são "indivisíveis e incapazes de aumentar"; ou seja, pode ocorrer uma descentralização nas decisões que o aumento de produção obtido não compense o investimento feito na ampliação da empresa. b) dificuldades de coordenação e controle de variação da escala de Produção. Aumenta-se a utilização dos fatores em 10% e o produto cresce em 5%. Houve, nesse caso, uma queda na produtividade dos fatores. 11 Observa-se, no Gráfico nº 07, respeitando-se a condição previamente estabelecida: © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 65 154 – Microeconomia | Unidade 03 O produto aumenta na mesma proporção (100) para acréscimos cada vez maiores dos fatores envolvidos no processo produtivo (as distâncias entre as isoquantas são cada vez maiores), ou seja, os rendimentos dos fatores são decrescentes. É importante identificar as diferenças conceituais entre proporção e escala. Na primeira, não é necessário manter constante a proporção de combinação entre os fatores; ocorrem proporções variáveis na combinação entre os fatores. No Gráfico nº 08 que segue, são identificados pela linha AB denominada linha de proporção. Na escala, por definição, são mantidas as proporções de combinações entre os fatores envolvidos. No Gráfico nº 08, a escala é identificada pela linha CD, denominada linha de escala. © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 66 154 – Microeconomia | Unidade 03 12 RESUMO A hipótese de que todos os fatores são variáveis (mão de obra, capital, instalações, matérias-primas etc.) caracteriza-se na análise de longo prazo, que é representada pela função de produção: q = ƒ (x1, x2), ou, ainda, q = ƒ (L, K) em que (x1 ou L) é a mão de obra e(x2 ou K) o capital. Sendo ‘q’ um produto e supondo-se que podemos obter várias combinações de ‘L’ e ‘K’ – que geram nível de produção constante ‘q’, fazendo analogia ao esquema geométrico das curvas de indiferença –, temos a chamada Curva de indiferença de produção. É a Curva de igual produção, isoproduto ou isoquanta da produção. É curva no espaço dos insumos com todas as combinações possíveis de dois insumos (capital e mão de obra) fisicamente capazes de gerar mesma quantidade de produto. Num gráfico, os níveis mais baixos de produto são representados pelas isoquantas mais próximas da origem, enquanto os mais elevados, pelas mais afastadas da origem. As isoquantas são negativamente inclinadas. São convexas em relação à origem, quando os insumos podem ser substitutos entre si, de forma imperfeita ou fixa (curvas perpendiculares) ou em linha reta, quando forem substitutos perfeitos. Elas nunca se cruzam. Taxa marginal de substituição técnica (TMST) indica a declividade da isoquanta em cada ponto; mede a relação entre os acréscimos de um insumo em detrimento dos decréscimos de outro a fim de manter o mesmo produto. Este é também chamado produto físico marginal das unidades adicionais do fator e pode ser positivo (se cresce) ou negativo (se decresce), de forma que a TMST é sempre decrescente (negativa). Os rendimentos de escala ou economias de escala representam a resposta da quantidade produzida a uma variação da quantidade utilizada de todos os fatores de produção. Podem ser crescentes, quando a variação na quantidade do produto total é mais do que proporcional à variação da quantidade utilizada dos fatores de produção; decrescentes, quando a variação do produto é menos do que proporcional à variação na utilização dos fatores; constantes, quando a variação do produto total é proporcional à variação da quantidade utilizada dos fatores de produção. A linha de escala de produção representa a identificação de um ritmo de variações da produção ao variar os insumos, respeitada uma proporção de combinação. A linha de proporção de produção não respeita proporção de combinação. © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 67 154 – Microeconomia | Unidade 03 UNIDADE 3 – ANÁLISE DOS MERCADOS MÓDULO 6 – TEORIA DOS CUSTOS DE PRODUÇÃO 01 1 - OS CUSTOS DE PRODUÇÃO Para produzirem bens, as firmas necessitam reunir os fatores de produção e combiná-los de acordo com restrições técnicas definidas pela função de produção e escolher o processo produtivo mais eficiente tecnicamente. O empresário escolhe a melhor combinação dos fatores de produção, na geração do produto, com base nas despesas de produção, tendo em vista que insumos não são bens livres; ao contrário, são bens econômicos e, portanto, para poder utilizá-los é necessário pagar um preço. Sob a hipótese de racionalidade dos agentes envolvidos nas decisões econômicas, incluindo-se nesse grupo o produtor, a empresa deverá possuir uma conduta de otimização. Ou seja, para cada nível de produção, a empresa realiza sempre um nível ótimo de custos, que poderá ser obtido quando for possível alcançar um dos dois objetivos seguintes: a) maximizar a produção com determinado custo total ou b) minimizar o custo total para certo nível de produção. Em qualquer uma das situações, a firma estará maximizando ou otimizando seus resultados. Estará, pois, em situação em que na teoria econômica denomina-se equilíbrio da firma. 02 Na análise das curvas de custos em microeconomia, são considerados, também, os custos de oportunidade ou custos alternativos. Representam o sacrifício feito, em termos do que se deixa de produzir de um bem ou produto, ao optar-se por determinada produção de outro bem ou produto. São custos implícitos e não apenas custos contábeis, custos explícitos, pois envolvem desembolso monetário. Por exemplo, é considerada nas curvas de custos, no sentido econômico, uma estimativa do aluguel que a firma, possuidora de prédio próprio, eventualmente pagaria se precisasse alugá-lo. Dessa diferença do enfoque contábil para o econômico, resulta clara distinção da avaliação privada, que é financeira e específica da empresa, e avaliação social, que analisa custos e benefícios para toda a sociedade derivada da atividade produtiva; principalmente no que tange a projetos de investimento. São as chamadas externalidades ou economias externas. Por exemplo. As economias externas – por exemplo, as provenientes da pesquisa em tecnologias da informação baratearam os custos da Internet e geraram redução dos custos de informação. Isso talvez explique a expansão on-line dos serviços bancários e dos negócios com ações, que podem representar externalidades positivas. Entretanto, a Internet também torna barata a desinformação, pois © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 68 154 – Microeconomia | Unidade 03 nem toda informação é valiosa. Outro efeito é o fato de que essas tecnologias são poupadoras de mão de obra, o que tem gerado, por exemplo, muitas demissões no setor bancário, caso em que foram geradas externalidades negativas com o uso das modernas tecnologias da informação. Custos implícitos são custos de oportunidade. No caso da produção, o tempo e investimento do proprietário na firma. O custo do tempo é medido pelo que ele deveria ter ganho trabalhando em outro lugar. O custo de investimento é o que o proprietário poderia ter recebido em outro lugar, em juros, por exemplo, sobre um investimento de risco equivalente. Custos contábeis envolvem apenas os dispêndios monetários. É o custo explícito, considerado na contabilidade privada, que representa o gasto explícito realizado pela empresa, para aquisição dos recursos necessários à produção, também é conhecido como custo histórico. Custos explícitos são aqueles pagos por insumos, como salários dos funcionários, custos de materiais, depreciação e manutenção de instalações e equipamentos. Externalidades ou economias externas são as alterações de custos e benefícios para a sociedade, derivadas da produção da empresa, ou ainda, as alterações de custos e receitas da empresa, devido a fatores externos à empresa e que não se refletem nos preços. Ao expandir a produção de automóveis, deve-se também considerar os custos sociais, derivados do aumento de poluição sonora e ambiental, além do desgaste das ruas e estradas. Externalidades positivas constituem o fenômeno que ocorre quando o indivíduo ou firma desempenham ação cujos benefícios não desfruta integralmente; ou, ainda, quando o benefício social (da sociedade) supera o benefício privado (dos que pagaram pelo bem). Ex.: plantio de maçãs beneficiado pela apicultura próxima ao pomar; o apicultor não se beneficia sozinho nem integralmente. Externalidades negativas: fenômeno que ocorre quando o indivíduo ou firma desempenha ação cujos custos não são integralmente indenizados; ou, ainda, quando o custo social (para a sociedade) supera o custo privado (valor pago pelo bem). Ex.: poluição causada por uma fábrica em um riacho, destruindo plantações e peixes. © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 69 154 – Microeconomia | Unidade 03 03 2 - CUSTOS NO CURTO PRAZO Os custos de produção estão associados aos insumos e, como na Teoria da produção, existe pelo menos um fator fixo identificado, por exemplo, o tamanho ou dimensão da firma, e fatores variáveis, como mão de obra e matérias-primas. Tal firma apenas poderá aumentar ou diminuir sua produção por meio da utilização dos fatores mão de obra e matérias-primas. Seu tamanho é constante, não podendo ser aumentado ou diminuído em curto prazo. Os custos associados ao tamanho da firma (K) não mudam, nem quando a firma muda seu nível de produção, nem com produção zero, ou mesmo produzindo em sua capacidade máxima. A firma incorre nos mesmos custos, ocorrendo os então chamados custos fixos totais(CFT), representados pela quantidade utilizada do fator fixo, multiplicado pelo seu preço: CFT = PK x QK No caso dos custos da mão de obra (L) e das matérias-primas (MP), os custos mudam quando a produção varia dentro de certos limites, dependendo da quantidade produzida. São chamados de custos variáveis totais (CVT). CVT = PL x QL + PMP x QMP Havendo insumos fixos e variáveis e respectivos custos, ao se associarem essas relações, pode-se formular a equação do custo total de curto prazo (CTCP). © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 70 154 – Microeconomia | Unidade 03 04 Pode-se definir que o custo total de curto prazo é o que depende do nível de produção da empresa associado ao volume de gastos com a utilização dos fatores fixos de produção. Também se pode concluir que, pelo fato de o CFT permanecer constante no curto prazo, as modificações decorrentes do CVT provocarão variações no CTCP. Os gráficos a seguir mostram as curvas de CFT, CVT e CTCP. No primeiro, apresenta-se o caso de rendimentos constantes (linear) e, em seguida, o dos rendimentos variáveis. Gráfico nº 01 Gráfico nº 02 Nota-se ainda que, pelo formato das curvas, tanto o CTCP quanto o CVT crescem a taxas decrescentes e, depois, aumentam a taxas crescentes; ou seja, o início da produção ocorre a custos decrescentes, devido a não “saturação” do fator fixo (instalações) pelos fatores variáveis (mão de obra e matériasprimas). Contudo, no decorrer do processo produtivo, ao acrescentarem mais fatores variáveis ao fator fixo, os custos crescem a taxas crescentes. Esse fenômeno sempre ocorrerá no curto prazo devido à existência de um fator fixo, chamado de lei dos custos crescentes. © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 71 154 – Microeconomia | Unidade 03 05 A partir do custo total de curto prazo, é possível definirem-se outros custos de curto prazo fundamentais para a análise do comportamento da produção. São eles: Custo total médio (CTMe ou CMe), obtido por meio do quociente entre o custo total e a quantidade produzida; ou seja, é o custo por unidade produzida, também chamado de custo unitário: Custo variável médio (CVMe), derivado do quociente entre o custo variável total e a quantidade produzida: Custo fixo médio (CFMe) é aquele obtido por meio do quociente entre o custo fixo total e a quantidade produzida: Custo marginal (CMg), resultante da variação do custo total, em resposta a uma variação da quantidade produzida. É definido ainda como o resultado da variação do custo variável total em resposta a variações da quantidade produzida: © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 72 154 – Microeconomia | Unidade 03 06 O custo marginal é um tipo especial de custo. Relaciona-se com o custo total de produção apenas em decorrência do comportamento do custo variável total. Todos os demais custos podem ser derivados dele. Observem o exemplo da Tabela nº 01. Com base nos conceitos e na Tabela nº 01, conclui-se que o custo variável total representa a soma dos custos marginais – sendo o custo marginal acrescentado ao custo variável total por unidade adicionada. CVT = soma dos CMg Quando o custo variável médio e o custo total de curto prazo forem divididos pela quantidade e o custo variável total for a soma dos custos marginais, o CVMe será, também, a média dos custos marginais. CVMe = média dos CMg Finalmente, sendo o CVMe = CVT/Q, pode-se deduzir o CVT como sendo: CVT = Q x CVMe Intuitivamente, se o custo marginal (o adicional de custo por unidade produzida) supera o custo médio, é evidente , analogamente, que o médio crescerá. Se o custo marginal for inferior ao custo médio, o © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 73 154 – Microeconomia | Unidade 03 médio cairá. A regra vale para a relação de todos os custos médios com o custo marginal, ou seja, podese usar como regra que o custo médio tende sempre para o marginal. 07 Tem-se, ainda, que o mínimo do CVMe ocorre quando o CMg é igual ao CVMe. A demonstração gráfica a seguir mostra, mais claramente, as afirmações realizadas, tendo em vista que indicam os custos em todos os níveis de produção e não apenas naqueles escolhidos para o exemplo da tabela, como pode ser verificado. 08 3 - CUSTOS NO LONGO PRAZO O longo prazo caracteriza-se pelo fato de todos os fatores de produção serem variáveis, incluindo o tamanho ou a dimensão da empresa. Ou seja, os custos totais correspondem aos custos variáveis, uma vez que não existem custos fixos no longo prazo. © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 74 154 – Microeconomia | Unidade 03 O empresário passa a ser elemento fundamental, pois o comportamento do custo total e do custo médio de longo prazo está intimamente relacionado ao tamanho ou à dimensão da planta produtiva, o qual varia em cada ponto dessas curvas. É resultado exclusivo da tomada de decisão ou da escolha do administrador para operar em longo prazo. Sendo assim, o custo total de longo prazo (CTLP) representa o total de despesas decorrentes da utilização dos fatores de produção; ou seja, decorre da multiplicação de seus preços pelas quantidades utilizadas de cada um deles, sendo todos eles variáveis: 09 A partir do custo total de longo prazo, como no curto prazo, definem-se os outros custos. São eles: Custo médio ou total médio de longo prazo (CMeLP ou CTMeLP), conseguido por meio do quociente entre o custo total de longo prazo e a quantidade produzida: Custo marginal (CMg), resultante variação do custo total de longo prazo, em resposta a uma variação da quantidade produzida. Cabe ressaltar que cada dimensão de planta representa a situação de curto prazo até que o empresário opte por outro tamanho de empresa. Isso caracterizaria o longo prazo; logo, para cada ponto ou nível ótimo de produção, serão iguais os custos totais e os custos médios de curto e de longo prazo. 10 4 - CURVA DE ISOCUSTO E A CONDUTA DE OTIMIZAÇÃO No estudo do comportamento do produtor – no sentido de alcançar o equilíbrio com a maximização de seus resultados, a Teoria Microeconômica utiliza ferramental análogo à Teoria do consumidor. Vale-se © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 75 154 – Microeconomia | Unidade 03 dos conceitos de tabelas de indiferença de produção ou de isoquantas e, ainda, do isocusto para definir o equilíbrio do produtor. O isocusto é a ferramenta que coloca, na análise da otimização de resultados da firma, a parte referente aos preços dos fatores utilizados e aos custos de produção. Na verdade, o isocusto nada mais é do que uma linha de preços da firma e pode ser definido como a linha em que, em todos os pontos, estão representadas combinações de fatores que resultam sempre na mesma despesa total para a empresa. Partindo-se da suposição de os preços dos fatores manterem-se constantes no período da análise, visto que pequenas variações dos preços gerariam mudanças “radicais” na demanda por esses fatores (perfeitamente elástica), apresentamos a tabela seguinte e sua respectiva curva de isocusto representada por uma reta. Tabela nº 02 Tabelas de indiferença de produção representam listagem de quantidades utilizadas dos fatores produtivos, cujas diferentes combinações representam sempre a mesma quantidade produzida do produto. Na Teoria Microeconômica, não se faz distinção rigorosa entre os conceitos de custos e despesas como na Contabilidade (os custos são associados ao processo operacional e as despesas, ao resultado geral). Para o economista, custos e despesas se confundem. © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 76 154 – Microeconomia | Unidade 03 11 Assim como na reta de restrição orçamentária do consumidor em que a inclinação da curva foi demonstrada como a relação de preços dos produtos da cesta do consumidor, a inclinação da curva de isocusto será dada pela razão dos preços dos fatores (no exemplo, capital/trabalho) e o intercepto nos eixos, sendo a razão do custo do fator pelo seu preço; em outras palavras, no eixo do capital, 60/3=20 no ponto em que o trabalho é zero e, no eixo do trabalho, 60/2=30 no ponto em que o capital é zero. Graficamente, tem-se: Gráfico nº 06 Finalmente, podem-se combinar as curvas de isocustos com o mapa de isoquantas para encontrar a combinação de insumos que maximizará o produto obtido a certo custo "orçado". Portanto, para um determinado custo total, há uma e apenas uma combinação de trabalho e capital que maximizará o produto total. Observe-se que o produto máximo para tal custo não equivale a obter lucros máximos; representa apenas que a produção está sendo maximizada para um dado custo total; ou melhor, a empresa otimiza seus resultados produtivos. O ponto E, em que a isocusto tangencia a isoquanta mais elevada possível (Q2), é o ponto em que a empresa atinge o maior nível de produto, compatível com a restrição de custos imposta pela isocusto. © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 77 154 – Microeconomia | Unidade 03 Gráfico nº 07 12 Outra possibilidade de equilíbrio seria descobrir o que a empresa pretende produzir com o menor custo possível. Esse nível de produto encontra-se num ponto da isocusto mais próxima da origem que tangencia uma isoquanta do mapa de produção. Neste caso, o ponto E’, em que a isocusto tangencia a isoquanta mais próxima da origem possível (Q1), é o ponto em que a empresa pretende produzir para que atinja o menor nível de custo. Gráfico nº 08 A possibilidade de escolha de diferentes escalas de produção por parte do empresário – ou seja, de uma entre as várias dimensões ou tamanhos de planta possíveis, dados os infinitos pontos em que isocustos © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 78 154 – Microeconomia | Unidade 03 tangenciam isoquantas do mapa de produção – remete ao conceito de via de expansão. Vem a ser o lugar geométrico das tangentes das diferentes linhas de isocustos e das diferentes isoquantas (obtêm-se ao unirem-se todos os pontos de tangência do mapa de produção), como no gráfico a seguir: Gráfico nº 09 13 5 - EXCEDENTE DO PRODUTOR Mede-se o excedente do consumidor como a diferença entre o máximo que uma pessoa pagaria por um produto e o preço de mercado de tal produto. Um conceito análogo aplica-se às empresas. Se o custo marginal, ou seja, a variação do custo ao produzir mais uma unidade estiver aumentando, o preço do produto é superior ao custo marginal para cada unidade produzida, exceto para a última unidade produzida, pois o produtor receberia menos por essa unidade (o preço pago por ela) do que o custo para produzi-la. O excedente do produtor de uma empresa é a soma, para todas as unidades de produção, da diferença entre o preço de mercado de uma mercadoria e o custo marginal de sua produção. Portanto, a dimensão do benefício das empresas com o excedente do produtor dependerá dos seus custos de produção. Empresas de alto custo têm menor excedente do produtor; empresas de baixo custo têm maior excedente. Somando-se os excedentes do produtor de todas as empresas, pode-se determinar o excedente do produtor para o mercado, como no gráfico a seguir. Desta forma, o excedente do produtor mede a área situada acima da curva de oferta de um produtor e abaixo do preço de mercado. © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 79 154 – Microeconomia | Unidade 03 Gráfico nº 10 14 RESUMO Como os insumos são bens econômicos e, portanto, é necessário pagar preços para poder utilizá-los, torna-se imperiosa a escolha da melhor combinação dos fatores de produção na geração do produto com base nas despesas de produção. Sob a hipótese de racionalidade, o produtor deverá possuir uma conduta de otimização dos custos, buscando o equilíbrio da firma, mediante a maximização da produção para um dado custo total ou da minimização do custo total para um dado nível de produção. Na análise microeconômica, tratam-se tanto dos custos explícitos (contábeis) como dos custos implícitos (custos de oportunidade), gerando, assim, externalidades que podem ser positivas, caso gerem mais benefícios sociais do que privados, ou negativas, no caso oposto. Na Teoria da Produção, quando existe pelo menos um fator fixo identificado – por exemplo, o tamanho ou dimensão da planta da firma –, dizemos que estamos no curto prazo. A quantidade de fatores fixos (aqueles que não mudam nem com produção zero e nem com máxima) multiplicada pelo seu preço resulta nos chamados custos fixos totais (CFT). Nos fatores que variam com os níveis de produção (mão de obra, matérias-primas etc.), ao multiplicar suas quantidades por seus respectivos preços, temos os custos variáveis totais (CVT). © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 80 154 – Microeconomia | Unidade 03 Da soma dos custos dos insumos fixos e variáveis, temos o custo total de curto prazo (CTCP) e a partir deste são definidos os: custo total médio (CMe ou CTMe) = CTCP/Q; custo variável médio (CVMe) = CVT/Q; custo fixo médio (CFMe) = CFT/Q; custo marginal (CMg) = CTCP/ Q ou CVT/ Q. Ao usar como regra que o custo médio tende sempre para o marginal, temos: CVMemínimo quando CMg = CVMe e CTMemínimo quando CMg = CTMe. A existência de um fator fixo (instalações) gera custos decrescentes no início da produção, mas, no decorrer da produção, devido à “saturação” do fator fixo pelos fatores variáveis (mão de obra e matérias-primas) ao acrescentarmos mais insumos, os custos crescem a taxas crescentes. Esta é a Lei dos Custos Crescentes. O curto prazo é caracterizado pela existência de pelo menos um fator fixo. No longo prazo, todos os fatores de produção são variáveis, incluindo o tamanho ou a dimensão da empresa, e das quantidades utilizadas multiplicadas pelos respectivos preços, temos o custo total de longo prazo (CTLP) e dele derivam o custo médio ou total médio de longo prazo (CMeLP ou CTMeLP) = CTLP/Q; custo marginal de longo prazo (CMgLP) = CTLP/ Q. Isocusto é a linha em que todos os pontos são de combinações de fatores que resultam sempre na mesma despesa total para a empresa. A inclinação da curva é dada pela razão de preços dos fatores. Ao colocarmos no mesmo quadrante o mapa de indiferença de produção e a isocusto, podemos encontrar a combinação de insumos que maximizará o produto obtido a um determinado custo "orçado" no ponto de tangência da curva de indiferença com a isocusto. Via de expansão é o lugar geométrico formado pela união dos pontos de tangência do mapa de produção com as diferentes linhas de isocustos (dada a escala de produção). Excedente do produtor é a soma, para todas as unidades de produção, da diferença entre o preço de mercado de uma mercadoria e o custo marginal de sua produção, portanto, quanto menores os custos de uma empresa, maiores os excedentes do produtor. © 2011 - AIEC - Associação Internacional de Educação Continuada 81