UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA ADRIANA ZANATTA DOS SANTOS DAS DIRETRIZES CURRICULARES AO CADERNO DO ALUNO: UMA OBSERVAÇÃO CRICIÚMA, NOVEMBRO DE 2005 1 ADRIANA ZANATTA DOS SANTOS DAS DIRETRIZES CURRICULARES AO CADERNO DO ALUNO: UMA OBSERVAÇÃO Monografia apresentada à Diretoria de Pósgraduação da Universidade do Extremo Sul Catarinense-UNESC, para a obtenção do título de especialista em Educação Matemática Orientador: Profª. M.Sc. Marleide Coan Cardoso CRICIÚMA, NOVEMBRO DE 2005 2 Minha dedicatória é para DEUS, por ter me acompanhado em mais esta conquista. 3 À Edna, minha irmã, que me ensinou a aprender, responsável pela minha formação. A Joel, esposo, amigo e incentivador sempre presente. À professora Marleide, inesquecível amiga educadora, de grande influência em minha formação. 4 “A história nos ensina a continuidade do desenvolvimento da ciência. Sabemos que cada era tem seus próprios problemas, os quais a era seguinte ou resolve ou coloca de lado como sem interesse e os substitui por novos problemas”. David Hilbert (apud D’AMBRÓSIO, 2000) 5 RESUMO Esta pesquisa foi realizada em uma escola da Rede Pública Estadual e objetiva-se analisar a implantação das Diretrizes Curriculares da disciplina de Matemática na 7ª série do Ensino Fundamental. A revisão de literatura baseia-se em autores que discutem sobre Educação Matemática, formação profissional do professor, em especial de Matemática e também sobre currículo. A presente monografia mostra as diferenças encontradas entre os conteúdos de Matemática sugeridos pelas Diretrizes Curriculares, quando comparados com, plano de ensino e o caderno do aluno. Ao final apresenta-se quadros comparativos entre os Conceitos Científicos Essenciais, estes dispostos em cinco Campos Conceituais da Matemática: numérico, algébrico, geométrico, medida e estatística e a referida comparação entre o plano de ensino, diretrizes curriculares e caderno do aluno. Os resultados encontrados estão dispostos no contexto da análise a apresentação dos resultados. Palavras-chave: Matemática. . Currículo; Diretrizes; Formação do professor; Educação 6 LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Campos Conceituais Numéricos............................................................ 32 Quadro 2 – Campos Conceituais Algébricos ............................................................ 33 Quadro 3 – Campos Conceituais Geométricos ........................................................ 35 Quadro 4 – Campos Conceituais de Medidas .......................................................... 36 Quadro 5 – Campos Conceituais de Estatística ....................................................... 36 7 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 08 2 EDUCAÇÃO MATEMATICA................................................................................. 13 3 A FORMAÇÃO PROFISSIONAL DO PROFESSOR ............................................ 16 3.1 O professor e a sua formação ......................................................................... 16 3.2 A formação do professor de matemática ....................................................... 19 3.3 O professor e a formação continuada ............................................................ 21 4 CURRÍCULO ......................................................................................................... 24 5 METODOLOGIA.................................................................................................... 29 5.1 Caracterização da pesquisa ............................................................................ 29 5.2 A amostra .......................................................................................................... 29 5.3 Instrumento de coleta de dados...................................................................... 30 6 ANÁLISE E APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS .......................................... 31 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 39 REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 41 8 1 INTRODUÇÃO A Matemática passou por diferentes momentos durante a sua construção histórica. Entre estes momentos destaca-se o movimento da Matemática Moderna que convém salientar, continha equívocos desde sua concepção; como por exemplo, a intenção de eliminar a ambigüidade em seu ensino passou a introduzir no currículo noções muito abstratas desde muito cedo, causando sérios problemas na aprendizagem que provocaram discussões gerando novos rumos ao ensino da Matemática. A Matemática Moderna apresentava uma proposta explícita, na qual expunha seus compromissos com o processo técnico, assumia a matemática como base de uma cultura voltada para a ciência e a tecnologia e tinha como meta ensinar o aluno mais a abstrair do que se preocupar com as aplicações diretas (PIRES, 2000, p. 16-17). O pouco sentido da Matemática na vida dos alunos, provocando indiferença, insegurança e angústia, levou pesquisadores e professores preocupados com a situação a pensar em mudanças na prática pedagógica da matemática. Assim, contrapondo ao movimento da Matemática Moderna, e a partir da flexibilização limitada dos currículos ocorridas, principalmente a partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação 5692/71, iniciam-se discussões no Brasil em torno das Diretrizes Curriculares para a educação de maneira geral. Em Santa Catarina essas discussões culminaram com a elaboração da Proposta Curricular de Santa Catarina. Esse processo de elaboração teve como objetivo “propiciar aos educadores um espaço de discussão e produção coletiva visando a transformação da prática pedagógica” (PROPOSTA CURRICULAR DE SANTA CATARINA, 1998, p. 10). 9 Embora a Proposta Curricular da época apresentasse as idéias dos professores da rede pública do estado, de acordo com as avaliações realizadas após a sua implantação indicam que a situação do ensino da Matemática nas escolas públicas da Santa Catarina pouco se alterou. Os conteúdos matemáticos são ainda ensinados com pouco ou nenhum significado. Apresentam aos alunos regras, processos, técnicas abstratas, fórmulas prontas e acabadas. A matemática ainda é vista somente como uma ciência exata – pronta e acabada, cujo ensino e aprendizagem se dá pela memorização ou por repetição mecânica de exercícios de fixação, privilegiando o uso de regras e “macetes” (PROPOSTA CURRICULAR DE SANTA CATARINA, 1998, p.105). No segundo momento da implantação da Proposta Curricular, teve-se a necessidade de se questionar a concepção de quem trabalha com a Matemática, bem como a concepção presente na elaboração dos currículos escolares. Emerge neste contexto, a necessidade de se conhecer as agências formadoras de professores de Matemática, que na sua maioria não adequaram o seu currículo às novas necessidades do mercado, continuando formar professores com um currículo, que apresenta uma carga muito grande voltada à álgebra, a fim de atender as exigências da Matemática Moderna. A Matemática Moderna apresenta a Matemática como um corpo de conceitos verdadeiros e estáticos, do qual não se duvida, mesmo quando não tem sentido. Se professores e alunos defrontam-se com sentenças, regras e símbolos matemáticos sem que nenhum deles consiga dar sentido e significado a tal simbologia, então a escola continua a negar ao aluno – especialmente àquele que freqüenta a escola pública – uma das formas essenciais de ler, interpretar e explicar o mundo (MOYSÉS, 2004, p.67). Sabe-se que a educação não se faz de práticas neutras, conseqüentemente, o currículo não possui neutralidades. Ambos são apoiados em 10 um sistema de crenças e valores e têm direções que apontam para determinados resultados, tendo em vista o contexto histórico no qual se encontram inseridos. A concepção de que a escola é uma instituição neutra, de acordo com Moysés (2004) esteve presente, principalmente, na década de 1960, sendo a escola capaz de pôr fim às desigualdades sociais que se verificavam na sociedade, cabendo à educação a tarefa de repassar normas, valores e saberes que garantiam a integração social da juventude. Nas últimas décadas discute-se a função da educação a partir da ótica contemporânea. Exige-se um profissional formado com diferentes competências para enfrentar os desafios de ser cidadão deste novo milênio. Mais do que nunca, as competências cognitivas e sociais são fatores fundamentais ao progresso social. Os novos equipamentos, as novas tecnologias, a rápida superação dos conhecimentos e os vertiginosos avanços do mundo moderno já não estão mais compatíveis com os moldes educacionais vigentes (MOYSÉS, 2004, p. 16). Volta-se nesta pesquisa, de maneira mais específica para a Matemática, e pressupostamente ao Ensino de Matemática oferecido ainda hoje em uma parcela bem significativa de nossas escolas. Discutir a Matemática presente nas escolas passa pela discussão de elementos importantes que compõem o universo escolar, o seu Projeto Político Pedagógico e, conseqüentemente, o planejamento do professor de Educação Básica. Afim de melhor discutir esses elementos apresenta-se o problema desta pesquisa: Quais as diferenças encontradas entre os conteúdos de Matemática sugeridos na Proposta Curricular, no plano de ensino do professor quando comparados, com o caderno do aluno na 7ª série de Ensino Fundamental? O referido questionamento traduz o problema de pesquisa na presente monografia. Desde já, anunciamos que não pretendemos buscar causas, nem 11 soluções para tais diferenças, mas sim buscar referenciais indispensáveis a discussões que devem permear os ambientes escolares. Diante do exposto, o objetivo principal da realização dessa pesquisa é conhecer as diferenças encontradas entre os conteúdos de Matemática sugeridos na Proposta Curricular, no plano de ensino do professor, com o caderno do aluno na 7ª série do Ensino Fundamental, servindo de orientação aos professores no sentido de enriquecer sua prática pedagógica. Especificamente esta pesquisa propõe: • Verificar os conceitos essenciais sugeridos na Proposta Curricular para a 7ª série do Ensino Fundamental na disciplina de Matemática. • Verificar os conceitos essenciais sugeridos na Proposta Curricular para a 7ª série do Ensino Fundamental no plano de ensino. • Verificar os conceitos essenciais trabalhados pelo professor de Matemática na 7ª série Ensino Fundamental na disciplina de Matemática. • Comparar a Proposta Curricular com o plano de ensino e o caderno do aluno. Para atender as características dessa modalidade de pesquisa torna-se indispensável ao pesquisador apresentar as diretrizes metodológicas que servem de orientação para a realização da pesquisa. O texto monográfico contemplará quatro capítulos. No primeiro encontram-se os elementos que justificam a pesquisa, bem como o problema a ser pesquisado e os objetivos que serão buscados durante a sua realização. No segundo capítulo, far-se-á uma abordagem histórica do Ensino da Matemática e da Educação Matemática. Ainda no contexto da revisão de literatura abordar-se-á a formação do profissional da educação, em especial, o professor de Matemática. 12 Discute-se também os currículos, primeiramente de um modo geral, depois voltado para a Matemática e mais ainda, para Proposta Curricular do Estado de Santa Catarina e Diretrizes Curriculares do MEC. No terceiro capítulo, no contexto da metodologia apresenta-se o caminho percorrido para atingir os objetivos, a descrição dos sujeitos. E, finalmente, no quarto e último capítulo, apresenta-se uma análise, apresentação dos resultados obtidos durante a pesquisa e as considerações finais sobre a mesma, baseados nos objetivos e fundamentados nos autores que discutem o tema proposto. 13 2 EDUCAÇÃO MATEMÁTICA Antes de iniciar os estudos relacionados com a Educação Matemática, faz-se necessário elencar alguns pontos importantes da história da Matemática, em nível brasileiro. Sistematicamente a Matemática no Brasil, tem início com a chegada de D. João VI e a implantação da Academia Real Militar. Era uma Matemática de orientação positivista, que implicava uma prática puramente utilitária destinada a formar topógrafos, geógrafos e oficiais engenheiros de armas e artilharias para o exército do rei. Foram esses profissionais engenheiros e militares, os primeiros professores de Matemática para o ensino secundário. Para ser um bom professor, era suficiente saber os conteúdos e repassá-los aos alunos, não havia a preocupação com a aprendizagem do aluno. Essa concepção de Ensino da Matemática permaneceu até 1934 com a criação da universidade de São Paulo. Com isso o Ensino da Matemática, segundo Lopes (2000), ”saiu da esfera militar e da engenharia para ser vinculado à faculdade de filosofia, ciências e letras, com o objetivo de romper a forte influência do positivismo”. No final da década de 1950, alguns matemáticos já questionavam os currículos escolares vigentes, os quais reduziam a Matemática à aritmética. Esses questionamentos unidos com fatores externos impulsionaram o surgimento do movimento conhecido como “Matemática Moderna”. A Matemática Moderna chegou no Brasil na década de 60, quando já era questionada nos países de origem, como França, Estados Unidos, Bélgica entre outros. Antes de sua implantação no Brasil, o 14 Ensino da Matemática nas séries iniciais era puramente utilitário. Nele a aprendizagem dos números reduzia-se à contagem, à escrita e ao cálculo. Em sala de aula os professores gastavam tempo em explicar ou ensinar macetes e técnicas de cálculo. Embora a introdução desse movimento no país representasse a modernização da Matemática, na prática, o que ocorreu foi que a Matemática Moderna e sua linguagem passaram a conviver com a velha aritmética e com suas técnicas e macetes de cálculos, agora representados na forma algébrica e formal. Assim, o movimento da Matemática Moderna foi amplamente inserido no contexto escolar brasileiro, principalmente, contando com o apoio das agências formadoras de professores de Matemática e pelos autores dos livros didáticos de Matemática. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais, “o movimento Matemática Moderna teve seu refluxo a partir da constatação da inadequação de alguns de seus princípios e das distorções ocorridas na sua implantação” (PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS, 1997, p.21-22). No Brasil, as correntes que se opunham ao movimento da Matemática Moderna deram origem ao Movimento de Educação Matemática. No início, o movimento de Educação Matemática não rompeu com os princípios da Matemática Moderna. A preocupação principal deixou de ser o ensino formal e passou a ser o processo de ensino aprendizagem, com o empirismo do escolanovísmo e, posteriormente, ganharam corpo os estudos da psicologia cognitiva e o construtivismo piagetiano. Em Santa Catarina, com a abertura proporcionada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação 5692/71, são criados os Planos Estaduais de Educação. Estes, num primeiro momento procuram dar respostas ao fracasso da Matemática Moderna. Com a elaboração do primeiro plano Estadual de Educação, 15 foram introduzidos os princípios da Escola Nova, no segundo plano a proposta foi construtivismo e, no terceiro plano, elaborado com a participação dos professores, construiu-se sob a luz da teoria histórico-cultural. Assim, na década de 80 o movimento de discussões em nível Estadual culminou com a elaboração da Proposta Curricular de Santa Catarina. Em relação à Matemática os educadores envolvidos neste processo passam a concebê-la como “um conhecimento vivo, dinâmico, produzido historicamente nas diferentes sociedades, sistematizado e organizado com linguagem simbólica própria em algumas culturas, atendendo às necessidades concretas da humanidade” (PROPOSTA CURRICULAR DE SANTA CATARINA, 1998, p.106). Assim, a Educação Matemática passa a ser um movimento de educadores que passam a se preocupar com o processo ensino-aprendizagem da Matemática e todas as variáveis que interferem neste processo. Educação Matemática é uma grande área de pesquisa educacional, cujo objeto de estudo é a compreensão, interpretação e descrição de fenômenos referentes ao ensino e à aprendizagem da matemática, nos diversos níveis da escolaridade, quer seja em sua dimensão teórica ou prática. Além dessa definição ampla, a expressão educação matemática pode ser ainda entendida no plano da prática pedagógica, conduzida pelos desafios do cotidiano escolar (PAIS, 2002, p. 10). Logo, o professor de Matemática está longe de encerrar sua capacitação no momento em que recebe sua habilitação profissional. As competências e os conhecimentos adquiridos durante a sua formação inicial, não são suficientes para o exercício docente ao longo de sua carreira, necessitando buscar permanentemente a formação continuada. 16 3 A FORMAÇÃO PROFISSIONAL DO PROFESSOR 3.1 O professor e sua formação A formação do professor destaca-se como um tema crucial e, sem dúvida, preocupante em relação ao compromisso ético, humano e social e a competência profissional que este deve ter enquanto formador de pessoas. De certa forma ainda hoje, A formação do professor é preferencialmente vista como algo prático. O conceito de “prática social” tende a ser reduzido ao conceito de “problemas concretos”, e os últimos orientam a formação do educador. Com isso, a formação teórica do educador corre sérios riscos. É importante salientar que muitos de nós colaboramos com esta visão, quando simplesmente propomos uma inversão de ênfase no currículo de formação do professor, defendendo o predomínio da “prática”. Em nossa opinião, não se trata de inverter o estado atual-mais teoria, pouca prática para que se caracterize por muita prática e pouca teoria (ALVES, 2001, p. 95-96). A questão consiste em adotarmos uma nova postura profissional, de aprender sempre. Além de uma formação inicial consistente, é preciso que os professores tenham oportunidade de participar da formação continuada promovendo seu desenvolvimento profissional e pessoal. Segundo Chassot (2000) o debate atual, tanto em nível nacional como internacional, gira em torno da crise e da necessidade de reconstrução e de resignificação da identidade de professor e da dimensão profissional do seu trabalho, sendo a formação parte essencial do processo de profissionalização. Profissionalismo exige compreensão das questões envolvidas no trabalho, competência para identificá-las e resolvê-las, autonomia para tomar decisões e responsabilidade pelas ações executadas. Requer, ainda, que o professor saiba 17 avaliar, criticamente, a sua própria atuação e o contexto em que atua e interagir cooperativamente com a comunidade profissional a que pertence. Além disso, ele precisa ter competência para colaborar na elaboração coletiva do projeto educativo e curricular para a escola, identificar diferentes opções e adotar as que considere melhores do ponto de vista pedagógico. Essa perspectiva traz para a formação, a concepção de competência profissional, segundo a qual a referência principal, ou seja, o ponto de partida e de chegada da formação é a atuação profissional do professor. Parafraseando Chassot (2000) tal concepção de competência se define em um saber agir que necessita ser reconhecido pelos “pares outros”, e cuja constituição pode e deve ser promovida em termos coletivos, preservando-se as singularidades que os próprios professores valorizam como necessárias, de modo a procurar garanti-las no conjunto da equipe. Para tanto, faz-se necessário investir no aprendizado do trabalho coletivo, aprender a estudar, a pesquisar e a produzir coletivamente. A perspectiva das competências trazida para o processo de formação de professores, permite realizar a formação prática sem ater-se aos limites do tecnicismo, de modo que o professor aprenda a criar e recriar sua prática, apropriando-se de teorias, métodos, técnicas e recursos didáticos desenvolvidos por outros educadores, sem se submeter a um receituário nem a mera aplicação de teorias de um repertório de ações prévias e externamente programadas. Concordando com Perrenoud (2002b), o desenvolvimento da competência profissional permite ao professor uma relação de autonomia no trabalho, criando propostas de intervenção pedagógicas, lançando mão de recursos e conhecimentos pessoais e disponíveis no contexto, integrando saberes, 18 sensibilidade e intencionalidade para responder às situações reais, complexas e diferenciadas. Portanto, a “nova” postura docente que se pretende é muito mais ampla, complexa e com maiores responsabilidades, e esta deve ser buscada numa formação docente continuada. Os novos olhares para a natureza da profissão docente impõe requisitos para a formação da identidade do professor que devem levar em conta, ainda, o fato de estarmos vivendo tempos de globalização econômica, de níveis elevados de pobreza e de introdução acelerada de novas tecnologias e materiais no processo produtivo. A esses fatores somam-se as transformações científicas e tecnológicas que ocorrem de forma acelerada e que exigem das pessoas novas aprendizagens. Esse contexto coloca enormes desafios para a sociedade e, conseqüentemente, para a educação escolar, exigindo, por sua vez, novas competências para a profissão docente. Segundo Perrenoud (2002a), competência é a faculdade de mobilizar um conjunto de recursos cognitivos (saberes, capacidades, informações, etc) para solucionar uma série de situações. E para que a formação dentro da sala de aula tenha resultados positivos, ele apresenta as “10 Novas Competências para Ensinar” e relaciona que é imprescindível saber para ensinar bem numa sociedade em que o conhecimento está cada vez mais acessível: 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. Organizar e dirigir situações de aprendizagem; Administrar a progressão das aprendizagens; Conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciação; Envolver os alunos em suas aprendizagens e em seu trabalho; Trabalhar em equipe; Participar da administração escolar; Informar e envolver os pais; Utilizar novas tecnologias; Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão; 10. Administrar a própria formação (PERRENOUDa, 2002, p.21). 19 3.2 A formação do professor de matemática É possível pensar na formação de professores que vão ensinar Matemática, levando em conta alguns aspectos, evidentemente não estanques, que possam abarcar toda a gama de conhecimentos, atitudes e valores necessários e possíveis de serem construídos e apropriados pelos professores. Segundo Pietropaolo (1999), um desses aspectos, certamente, refere-se a inserção cultural, social e política do professor no mundo, um campo bastante ausente na formação de professores. O trabalho para o desenvolvimento da cidadania, fortemente presente nas propostas educacionais, exige que o professor se sinta um cidadão, e que seus conhecimentos extrapolem significativamente as fronteiras de sua disciplina. Outro aspecto diz respeito à área de conhecimento específico: seu objeto de estudo, seus métodos, seus campos, sua historicidade. Em relação aos conhecimentos sobre a Matemática, parece razoável esperar-se que o professor domine não só os conteúdos que presumidamente irá ensinar, de forma ampla e profunda, mas também as conexões e as inter-relações entre os diferentes temas matemáticos. Ou seja, há de se pensar numa formação de professores que evite uma visão parcial e/ou fragmentada do objeto de estudo da Matemática, de seus métodos e de sua historicidade. A crítica que se pode fazer ao processo de ensino dos conteúdos de Matemática nos cursos de formação é que em sua maioria, estes não contribuem para o desenvolvimento de uma atitude do professor frente ao conhecimento matemático, formação que ainda carrega os resquícios da Matemática Moderna. É necessário, portanto, implementar uma prática nesses cursos que 20 desenvolva, por parte dos alunos, o espírito de investigação e as atitudes de levantamento de hipóteses e formulação de conjecturas, a argumentação. A Didática da Matemática, em que se discutiria como se dá o ensino e a aprendizagem dessa disciplina, que relações ficam determinadas pela tríade alunoprofessor-saber e quais variáveis didáticas interferem nesse processo de ensinar e aprender Matemática. A formação didática do professor de Matemática deveria abarcar também os aspectos sociais, psicológicos e pedagógicos, em que se situam os conhecimentos das relações entre Matemática e sociedade, das teorias de aprendizagem, das culturas e estudos sobre sistemas de ensino e currículos. Esta questão tem profundas implicações na prática docente em função das representações dos professores, ou seja, as formas pelas quais os professores vêem a Matemática e seu ensino. Entender a formação do professor de matemática na perspectiva do desenvolvimento profissional é admitir que as transformações que se fazem necessárias no ensino desta disciplina só será possível se for instaurado uma nova cultura profissional desse professor, que contará a reflexão-crítica sobre e na sua prática, o trabalho colaborativo, a investigação pelos professores como prática cotidiana e a autonomia. Dessa forma, esperamos ter profissionais realmente comprometidos com os problemas da escola e da comunidade onde ela está inserida, capazes de contribuir através da Educação Matemática para que as crianças e os adolescentes, oriundos, na grande maioria, de escolas públicas, adquiram uma cidadania de valor (BICUDO, 1995, p.280). O processo de ensino-aprendizagem deve centrar-se na análise e interpretação de situações problemas, na busca de estratégias, na discussão dos diferentes métodos de soluções, favorecendo não só o domínio das técnicas, mas também o de procedimentos como: a observação, a experimentação, a verificação e argumentação, tornando a aprendizagem da Matemática significativa, ou seja, possibilitando aos educandos estabelecerem conexões entre os diversos conteúdos 21 e entre os procedimentos informais e os escolares, para que possam utilizar esses conhecimentos na interpretação da realidade em que vivem. Ao professor cabe, portanto, voltar seu olhar para sua prática, para sua realidade, para fundamentados pela teoria, reflita de forma crítica sobre o papel da Matemática na educação de seus alunos, sem se limitar a buscar metodologias que a imponham a qualquer custo. 3.3 O professor e a formação continuada Encontra-se hoje, diante de um desafio de proporções consideráveis, num breve espaço de tempo, há que se consolidar um novo perfil de profissional, muito diferente do convencional e formado durante muitos anos. É evidente, entretanto, que existem professores leitores e pesquisadores que investem, pessoalmente, em seu desempenho profissional, que buscam, junto a seus empregadores e no seio da escola pública, oportunidades de formação, que trabalham em equipe, que participam do projeto educativo de suas escolas e que estudam para melhorar as condições de aprendizagem dos seus alunos, mas essa realidade ainda não está presente na maioria dos contextos educacionais. Há uma grande distância entre o perfil do professor que a realidade atual exige e o perfil docente construído pela realidade histórica. Perrenoud (2002b) quando trata da formação continuada do professor reflexivo, apresenta alguns desafios que os educadores devem superar: 22 1. Trabalhar o sentido e as finalidades da escola sem transformar isso em missão; 2. Trabalhar a identidade sem personificar um modelo de excelência; 3. Trabalhar as dimensões não-reflexivas da ação e as rotinas sem desqualifica-las; 4. Trabalhar a pessoa do professor e sua relação com o outro sem pretender assumir o papel de terapeuta; 5. Trabalhar os não-ditos e as contradições da profissão e da escola sem decepcionar a todos; 6. Partir das práticas e da experiência sem se restringir a elas, a fim de comparar, explicar e teorizar; 7. Ajudar a construir competências e exercer a mobilização dos saberes; 8. Combater as resistências à mudança e à formação, sem desprezá-las; 9. Trabalhar as dinâmicas coletivas e as instituições sem esquecer as pessoas; 10. Articular enfoques transversais e didáticos e manter um olhar sistêmico (PERRENOUD, 2002b, p.170). As possibilidades parecem suficientes para vislumbrar uma imagem de profissionalização que favoreça a profissão de professor e o desenvolvimento de uma postura reflexiva. Desse modo, o perfil do professor hoje, deve ser de um profissional comprometido, consciente da importância do seu papel social. Isso implica uma postura investigativa e de constante pesquisa ultrapassando, portanto, os muros escolares e estendendo sua ação para a comunidade na qual a escola está inserida. Perrenoud (2000b) destaca que para desenvolver competências, é preciso antes de tudo, trabalhar por resolução de problemas e por projetos, propor tarefas complexas e desafios que incitem os alunos a mobilizar seus conhecimentos e, em certa medida, completá-los. Isso pressupõe uma pedagogia ativa, cooperativa, aberta para a cidade ou para o bairro, seja na zona urbana ou rural. Trabalhar com competências é uma escolha da sociedade que deve estar baseada em um conhecimento amplo das práticas sociais. A qualidade da formação docente destaca-se como uma das mais importantes políticas públicas para a educação, pois à formação inicial acumulam-se 23 a necessidade de promoção de formas de educação continuada e a intervenção nas reais condições de trabalho, por meio dos estágios. A boa formação profissional, aliada a um contexto institucional que favoreça o espírito de equipe, o trabalho colaborativo, a construção coletiva, o exercício responsável da autonomia profissional, somadas a adequadas condições de trabalho e a um salário digno, são ingredientes imprescindíveis para permitir aos educadores promover um processo de ensino que, de fato, promova a aprendizagem e intervenha nos destinos da educação e da profissão (FAGHERAZZI, 2002, p.55). Além do conhecimento científico, o principal recurso do professor é a postura reflexiva, sua capacidade de observar, de regular, de inovar, de aprender com os outros, com os alunos, com a experiência. 24 4 CURRÍCULO Muito se fala sobre currículo, embora seja alvo de comentários de toda ordem, há contraditoriamente também de um certo “esquecimento”. O fato é que apesar dele fazer parte do nosso cotidiano, nem sempre lhe damos a devida importância. É bastante comum em nosso dia-a-dia, as pessoas elaborarem um currículo para quase tudo o que pretendem, principalmente, para disputar uma vaga no mercado de trabalho. Poucas pessoas ainda não ouviram aquela frase que faz parte da rotina diária: Você tem currículo? Já reparou que o currículo pode tanto abrir quanto fechar as portas? Claro que nesse caso trata-se de um tipo específico de currículo que é chamado Curriculum Vitae, ou seja, o currículo da vida de uma pessoa. Bianchi (2001) nos diz que curriculum vitae, é o percurso da vida, uma biografia, o registro dos fatos e das experiências da vida de uma pessoa. Em geral, na forma de um apanhado muito conciso, no qual se anota o que se considera ser mais relevante para uma dada finalidade. De acordo com Sacristán e Gómez (1998) entende-se que o currículo é uma construção social, trata-se de algo feito pelas pessoas em um determinado momento histórico, ou seja, é uma trajetória, um percurso, um caminho e que é construído socialmente. Ao pensar em educação Sacristán e Gómez (1998) afirma que a escolaridade é para os nossos alunos e alunas uma espécie de percurso, de caminhada. Quando caminhamos precisamos nos alimentar, não é mesmo? Nesse 25 caso se a escolaridade é a caminhada, o alimento é o currículo. Ele pode ser visto também como uma espécie de recheio, como um guia, uma referência. O currículo na Educação é um assunto de certa forma complexo. Um dos grandes entraves presentes nas discussões sobre currículo nas instituições educativas, principalmente entre professores, é que muitos consideram que este é um assunto meramente administrativo, portanto, compete à administração. Mas pensar assim compromete o avanço das discussões e por conseguinte, do conhecimento sobre as reais implicações que transitam em torno do currículo, gerando a compreensão equivocada de que currículo significa grade curricular. Para desconstruir esse conceito, Menegolla e Sant’ana (2001) sugere que se pense sobre o que não é currículo. E neste sentido apontam que não é currículo a relação e distribuição de disciplinas, com a respectiva carga horária, nem o número de horas aulas e de dias letivos. Não é currículo aquela antiga listagem de conteúdos de diferentes disciplinas organizadas de tal maneira para serem ensinadas sistematicamente durante o ano escolar. Berticelli (apud COSTA, 2001) sugere que se compreenda o currículo a partir de uma concepção dinâmica. E isso só é possível quando currículo e sociedade são pensados conjuntamente. Uma escola que contempla um currículo voltado para as questões sociais e para a formação do aluno cidadão se constitui num instrumento que fomenta a transformação social. Partindo dessa situação pode se dizer que currículo é o fundamento de qualquer sistema de ensino. Ele se constitui de todo conhecimento social disponível em nossa época que for selecionado e organizado, desde que se concretize naquilo que é vivido, sentido e aprendido pela pessoa que se educa. 26 Segundo Coppete (2003) o currículo se torna visível, palpável, na interação do aluno com seus colegas, professores, administradores e funcionários da escola, assim como com os pais e demais membros da comunidade, entre outros. Quer dizer, a maneira como essas interações acontecem refletem muito o currículo da escola. É importante pensar também que dentro do conjunto de conhecimento escolar o que é incluído e o que se exclui, o que tem importância e o que não tem, também serve em geral a uma finalidade ideológica. Significa dizer que o currículo não é um instrumento passivo, mas uma força ativa que pode, inclusive, servir para legitimar as ideologias e os sistemas sociais e econômicos tão estreitamente ligados à escola. Podemos dizer que um currículo é um projeto educativo global, a ser usado como ponto de partida para planificação de atividades educativas, no qual são apresentadas as razões das escolhas relativas ao que se quer ensinar, determinados os objetivos e os conteúdos da aprendizagem a promover, e sugerir modos de organização do ensino e da aprendizagem e de avaliações dos respectivos resultados (BIANCHI, 2001, p. 42). Neste contexto curricular é fundamental que o professor conheça a natureza e os significados sócio-culturais e científicos das idéias matemáticas, pois, por meio destas descobrirá a função social de cada conteúdo matemático, o que é essencial para pensar e produzir uma ação pedagógica consciente. De acordo com Lellis e Imenes (1994), a imensa maioria dos alunos deste país, suporta um ensino de matemática baseado em currículo velho de meio século. Construtivistas ou não, seguidores ou opositores dos guias curriculares, tradicionalistas ou modernistas, os professores acabam sempre ensinando as frações na 4ª série e repetindo tudo na 5ª série, as proporções na 6ª, os radicais na 8ª. Ou seja, procuram se aproximar o mais que podem das determinações desse currículo tradicional que, sendo tão antigo, surgem a nossos olhos como se fossem 27 uma planície ou um rio, algo tão natural que não se explica nem se questiona, apenas se atravessa ou se percorre. Segundo Coll (2003), o currículo precisa estar sempre atualizado, pois, documentos dessa natureza indicam no momento presente aquilo que crianças e adolescentes precisam conhecer no futuro para estar integrados à sociedade. Ninguém pode ter certeza do que realmente é necessário ensinar. Ora, se os conhecimentos considerados essenciais estão sempre em mudanças, se a sociedade também modifica os conceitos que considera importante, o currículo deve acompanhar esse movimento. Qualquer revisão precisa passar por uma discussão da sociedade: quais são os valores e os conhecimentos que a educação deve priorizar? Com isso percebe-se o componente ideológico de todo o currículo. É nele que se encontra a idéia do cidadão e da sociedade que se quer para daqui alguns anos. No entanto, em se tratando de mudanças, a escola ainda é muito resistente, fala-se em formação integral do aluno, capacitando para viver numa sociedade em constantes mudanças e perpetua-se a mesma forma de ensinar, tradicional e centrada no professor. Sem dúvida uma das grandes razões para a grande resistência às mudanças é a formação do professor. Contemporaneamente, o professor que encontra-se em sala de aula deve adotar a formação continuada como elemento indispensável a sua atuação profissional. Esta formação deve ser buscada na forma de especialização, grupo de estudos, seminários, congressos, entre outros. Também a concepção de competência profissional, por sua vez implica mudanças na prática de formação, que irão se refletir na organização das instituições formadoras, nas metodologias, na definição de conteúdos e na organização curricular. Ou seja, a competência do profissional tem início na 28 formação em nível superior, passando pela formação continuada ao longo da atuação docente. 29 5 METODOLOGIA 5.1 Caracterização da pesquisa A opção metodológica foi pela pesquisa bibliográfica descritiva com estudo de caso como meio auxiliar. Para atingir os objetivos propostos por esta pesquisa tornou-se necessário o levantamento de dados relacionados com as Diretrizes Curriculares, o plano de ensino do professor e cadernos de alunos que freqüentaram a 7ª série no ano de 2004 de uma escola da rede pública estadual. Inicialmente foi feito contato com a escola onde foi apresentado os objetivos da pesquisa por meio da orientadora educacional nos foi fornecido uma cópia do plano de ensino dos professores de Matemática como também esta entrou em contato com alguns alunos para a obtenção dos cadernos de Matemática do ano letivo de 2004. 5.2 A amostra A amostra utilizada para realização desta pesquisa foi uma Escola de Educação Básica da rede pública estadual, por meio do plano de ensino dos professores de Matemática, dos cadernos de três alunos da 7ª série e as Diretrizes Curriculares da Educação Básica de Santa Catarina. 30 5.3 Instrumento de coleta de dados O instrumento utilizado para a coleta dos dados foi um quadro comparativo referente aos conceitos essenciais que são propostos pelas diretrizes curriculares, pelo plano de ensino e que foram trabalhados em sala de aula. Assim os resultados encontram-se devidamente analisados no capítulo referente a apresentação dos resultados. 31 6 ANÁLISE E APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS Este capítulo apresenta quadros comparativos entre os Conceitos Científicos Essenciais previstos pelas diretrizes curriculares para serem desenvolvidos ao longo da 7ª série do Ensino Fundamental. Estes conceitos estão dispostos em cinco campos Conceituais da Matemática: algébrico, numérico, geométrico, medidas e tratamento da informação. A Proposta Curricular de Santa Catarina propõe uma distribuição destes campos, de modo que sejam aprofundados em todas as séries da Educação Básica. Baseado nestas diretrizes e no Projeto Político Pedagógico da escola, anualmente os professores elaboram o plano de ensino, no qual encontram-se especificados todos os objetivos que pretendem atingir durante o ano letivo em cada série. No entanto, sabe-se que o planejamento deve ser flexível, pois trata-se de um documento que apresenta uma visão prospectiva do ano letivo. Por fim, no caderno do aluno encontra-se a materialização final das Diretrizes Curriculares e do Plano de Ensino do professor. Assim, a seguir apresenta-se, por meio de quadro comparativo, as diferenças e semelhanças encontradas na disciplina de Matemática na 7ª série do Ensino Fundamental, as Diretrizes Curriculares, o plano de ensino e o caderno do aluno. 32 Quadro 1 – Campos conceituais Numéricos. DIRETRIZES CURRICULARES PLANO DE ENSINO CADERNO DO ALUNO NÚMEROS ′ Operações com números ′ Conjunto dos números ′ Não inteiros inteiros relativos ′ Números racionais ′ Conjunto dos números ′ Números racionais e sua -Produção histórico-cultural racionais -Operações ′ Cálculo -Razão e proporção desconhecido retomado pelo professor representação decimal termo ′ Razão e proporção do de uma ′ Grandezas proporção ′ Cálculo foi diretamente e inversamente proporcionais de ′ Porcentagem porcentagem e problemas envolvendo porcentagem ′ Números irracionais e reais ′ Conjunto dos números ′ Raiz -Produção histórico-cultural irracionais -Operações ′ Conjunto dos números ′ Números irracionais e sua reais e a reta numerada quadrada exata e aproximada representação decimal ′ Conjunto dos números reais (R*, R*+,R*-, R+, R- ) Fonte: Diretrizes 3: Organização da prática escolar; Plano de ensino da rede pública estadual; caderno de alunos da 7ª série do Ensino Fundamental, 2001. ′ Em relação aos números: Observa-se que o conteúdo operações com números inteiros está previsto no plano de ensino, mas não foi retomado em sala de aula. Números racionais constam no plano de ensino e foram trabalhados em sala de aula. Números irracionais e reais constam no plano de ensino e foram trabalhados em sala de aula. 33 Quadro 2 – Campos conceituais algébricos DIRETRIZES PLANO DE ENSINO CADERNO DO ALUNO CURRICULARES ÁLGEBRA ′ Produção histórico-cultural ′ Não consta no plano de ′ Não ensino ′ Seqüências foi trabalhado pelo trabalhado pelo da para professor ′ Não consta no plano de ′ Não ensino foi professor ′ Operações com expressões ′ Expressões algébricas ′ O algébricas (cálculo algébrico, representar números produtos notáveis e fatoração) ′ Expressões uso letra algébricas ou literais ′ Valor numérico de uma expressão ′ Polinômios ′ Monômio ou termo algébrico -Monômios ′ Operações com monômios -Redução de termos ′ Polinômios ′ Operações com polinômios semelhantes -Operações com ′ Produtos notáveis monômios ′ Quadrado da soma ′ Produtos notáveis ′ Quadrado da diferença -Quadrado da soma ′ O produto da soma pela -quadrado da diferença diferença -Produto da soma pela ′ Não foi diferença professor -Cubo da soma ′ Não foi retomado pelo retomado pelo professor -Cubo da diferença ′ Simplificação ′ Fatorando polinômios ′ Fatoração expressões algébricas de ′ Fator comum ′ Fatoração por agrupamento ′ Fatoração do trinômio quadrado perfeito ′ Fatoração completa ′ Não foi professor retomado pelo 34 ′ M.M.C. e de ′ Não M.D.C. polinômios -Conceito foi retomado pelo professor e cálculo do m.m.c. e do m.d.c. ′ Frações algébricas ′ Frações -Conceito operações algébricas (adição, -Simplificação subtração, algébricas e multiplicação, divisão e potenciação). -Operações com ′ Não expressões algébricas foi trabalhado pelo professor ′ Equações do 1º grau com uma variável ′ Equações fracionárias ′ Não consta no plano de ′ Não ′ Relações e funções ′ Equações, sistemas inequações foi ensino professor ′ Equações fracionárias ′ Não e foi retomado pelo retomado pelo retomado pelo retomado pelo retomado pelo professor -Domínio ′ Não foi professor -Conjunto verdade ′ Não foi professor -Equações literais ′ Não foi professor -inequações do 1º grau ′ Sistemas de equações do 1º grau com duas variáveis -Resolução de inequações ′ Não foi retomado pelo retomado pelo professor ′ Sistemas de equações ′ Não foi de 1º grau professo -Resolução de equações ′ Resolução de sistemas pelo -Plano cartesiano método da substituição -Sistema de 1º grau ′ Não -Método da substituição professor -Método da adição ′ Não -Problemas do 1º grau professor foi foi retomado pelo retomado pelo Fonte: Diretrizes 3: Organização da prática escolar; Plano de ensino da rede pública estadual; caderno de alunos da 7ª série do Ensino Fundamental, 2001. 35 ′ Em relação à Álgebra: Observa-se que os conteúdos produção histórico-cultural e seqüências, propostos pelas Diretrizes Curriculares, não estão previstos no plano de ensino e não foram trabalhados em sala de aula. Operações com expressões algébricas estão previstos no plano de ensino e foram trabalhados em sala de aula; com algumas exceções: nos produtos notáveis, o cubo da soma e o cubo da diferença. No m.m.c. e m.m.d.c. de polinômios, conceito e cálculo. Nas frações algébricas, conceito e simplificação. Todos constam no plano de ensino, mas não foram retomados em sala de aula. Relações e funções são conteúdos previstos pelas Diretrizes Curriculares, não constam no plano de ensino e não foram trabalhados em sala de aula. Equações, inequações e sistemas, estão previstos no plano de ensino, mas nem todos os conteúdos foram trabalhados em sala de aula, como: domínio, conjunto verdade, equações literais, inequações do 1º grau, resolução de inequações, sistemas no plano cartesiano, sistemas pelo método da adição e problemas do 1º grau. Quadro 3 – Campos conceituais Geométricos DIRETRIZES PLANO DE ENSINO CADERNO DO ALUNO CURRICULARES GEOMETRIA ′ Produção histórico-cultural ′ Exploração do ′ Nada consta no plano de ′ Não espaço ensino foi trabalhado pelo professor tridimensional ′ Elementos do desenho geométrico ′ Estudo das representações geométricas no plano Fonte: Diretrizes 3: Organização da prática escolar; Plano de ensino da rede pública estadual; caderno de alunos da 7ª série do Ensino Fundamental, 2001. 36 ′ Em relação à Geometria: Observa-se que os conteúdos de geometria previstos pelas Diretrizes Curriculares, não constam no plano de ensino e não foram trabalhados em sala de aula. Quadro 4 – Campos conceituais de Medidas DIRETRIZES PLANO DE ENSINO CADERNO DO ALUNO CURRICULARES MEDIDAS ′ Produção histórico-cultural ′ Comprimento, ′ Nada consta no plano de ′ Não superfície, ensino foi trabalhado pelo professor volume, capacidade, ângulo, massa, tempo, peso, velocidade e temperatura Fonte: Diretrizes 3: Organização da prática escolar; Plano de ensino da rede pública estadual; caderno de alunos da 7ª série do Ensino Fundamental, 2001. ′ Em relação a Medidas: Observa-se que os conteúdos de medidas previstos pelas Diretrizes Curriculares, não constam no plano de ensino e não foram trabalhados em sala de aula. Quadro 5 – Campos conceituais de estatística DIRETRIZES PLANO DE ENSINO CADERNO DO ALUNO CURRICULARES ESTATÍSTICA ′ Produção histórico-cultural ′ Leitura, construção interpretação de tabelas ′ Nada consta no plano de ′ Não e ensino foi trabalhado pelo professor e gráficos Fonte: Diretrizes 3: Organização da prática escolar; Plano de ensino da rede pública estadual; caderno de alunos da 7ª série do Ensino Fundamental, 2001. 37 ′ Em relação à Estatística: Observa-se que os conteúdos de estatísticas previstos pelas Diretrizes Curriculares, não constam no plano de ensino e não foram trabalhados em sala de aula. A partir da análise comparativa realizada entre as Diretrizes Curriculares de Santa Catarina, o Plano de Ensino e o caderno dos alunos da 7ª série do Ensino Fundamental, pode-se em linhas gerais estabelecer alguns elementos conclusivos em relação aos Conceitos Científicos Essenciais previstos para a Matemática na 7ª série do Ensino Fundamental. Para facilitar a análise comparativa dividiu-se em cinco Campos Conceituais conforme prevê as Diretrizes Curriculares. Os Campos numérico e algébrico foram enfatizados durante todo o ano letivo de 2004, pelo professor de Matemática. Observa-se assim, um grande resquício da Matemática Moderna ainda presente na sala de aula, em que o professor praticamente desconsiderou os demais Campos Conceituais. Pires (2000) destaca que, neste contexto, a escola continua apresentar alguns problemas relacionados com a Matemática em sala de aula. • A preocupação excessiva com o treino de habilidades, com a mecanização de algoritmos, como memorização de regras e esquemas de resolução de problemas, com a repetição e a imitação não como uma aprendizagem que se dê, inicialmente, pela compreensão de conceitos e de propriedades, pela exploração de situações-problema nas quais o aluno é levado a exercitar sua criatividade, sua intuição. • A priorização dos temas algébricos e a redução ou, muitas vezes, eliminação de um trabalho envolvendo tópicos de geometria. • A tentativa de se exigir do aluno uma formalização precoce e um nível de abstração em desacordo com seu amadurecimento (PIRES, 2000, p. 50). Ao finalizar este quadro comparativo observa-se que o professor continua a apresentar os conteúdos voltados para a Matemática Moderna, movimento que 38 ocorreu a partir da década de 50 na Matemática privilegiando apenas a álgebra em detrimento dos demais campos conceituais da Matemática. Motivados pelo fracasso que a Matemática Moderna causou na aprendizagem da Matemática, inicia-se na década de 80 um novo movimento em prol da Matemática a da Educação Matemática que passou a se preocupar com a aprendizagem do aluno e as causas da não aprendizagem. 39 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao retornar aos objetivos propostos por esta pesquisa relacionada com a discussão dos Conceitos Científicos Essenciais previstos para a Matemática na 7ª série de Ensino Fundamental e baseada em autores que discutem, o currículo, a formação do professor e a Educação Matemática, pode-se em linhas gerais estabelecer alguns elementos conclusivos relacionados com a amostra pesquisada. Com relação ao objetivo proposto de verificar os Conceitos Científicos Essenciais, sugeridos na Proposta Curricular para a 7ª série do Ensino Fundamental na disciplina de Matemática, comparando-os com o plano de ensino do professor e o caderno do aluno. Constatou-se uma diferença muito grande com relação aos conteúdos, começando pela transposição dos conteúdos das Diretrizes Curriculares para o plano de ensino do professor. Alguns aparecem de maneira inadequada e não constam no plano de ensino do professor. Por outro lado à transposição do plano de ensino para o caderno do aluno constatou-se que as diferenças acentuamse, os temas são em sua maioria apresentados de maneira descontextualiza enfatizando apenas alguns campos conceituais, como: numérico e algébrico, sendo que os demais; geométrico, medidas e estatística praticamente foram esquecidos. Antes, os professores usavam a desculpa de que esses conteúdos estavam sempre no final do livro didático, e que durante o ano letivo não se conseguia chegar até eles. Por isso, nunca eram trabalhados com os alunos. Mas hoje, a grande maioria dos livros já traz os Campos Conceituais bem distribuídos, inclusive, em alguns conteúdos são trabalhados concomitantemente, sem distinção alguma. 40 Sabe-se que o ensino da Matemática passou por várias mudanças, como o movimento da Matemática Moderna, que buscava a superação do fracasso escolar. Os resultados da Matemática Moderna foram questionados e a partir da década de 1980, emergindo outro movimento, chamado de Educação Matemática, possibilitando diferentes tendências. Dentre elas destaca-se a Didática da Matemática, a resolução de problemas, a etnomatemática, a informática entre outras, que atualmente também influenciam os currículos da Matemática nas escolas. A partir desta pesquisa, conclui-se que na prática de sala de aula ainda está fortemente impregnada a Matemática Moderna. O conteúdo matemático dos currículos escolares é praticamente o mesmo a décadas. Ou ainda, a concepção tradicional de ensino está fortemente presente em nossas escolas. Os resultados remetem a algumas discussões emergenciais relacionadas com a importância da formação continuada de professores para que acompanhem as mudanças discutidas em nível de educação e para que tais mudanças sejam implementadas em sala de aula promovendo a melhoria na qualidade do processo ensino- aprendizagem. 41 REFERÊNCIAS ALVES, Nilda (Org). Formação de professores pensar e fazer. 6.ed. São Paulo: Cortez, 2001. BIANCHI, José João Pinhanços de. A educação e o tempo: três ensaios sobre a história do currículo escolar. Piracicaba: UNIMEP, 2001. BICUDO, Maria Aparecida Viggiani (Org). Educação Matemática. São Paulo: Moraes, 1995. BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. 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