MELINA RIBEIRO SALGADO AVALIAÇÃO COMO INSTRUMENTO NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM: UM ESTUDO SOBRE A RELAÇÃO ENTRE AS CONCEPÇÕES E PRÁTICAS IMPLICADAS NESSE PROCESSO. Artigo apresentado ao curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Gestão Educacional da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Gestão Educacional. Orientador: Profª. MSc. Tatiana da Silva Portella Brasília 2011 Artigo de autoria de Melina Ribeiro Salgado, intitulado “AVALIAÇÃO COMO INSTRUMENTO NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM: UM ESTUDO SOBRE A RELAÇÃO ENTRE AS CONCEPÇÕES E PRÁTICAS IMPLICADAS NESSE PROCESSO”, apresentado como requisito parcial para obtenção do grau de Especialista em Gestão Educacional da Universidade Católica de Brasília, em 31 de março de 2011, defendido e aprovado pela banca examinadora abaixo assinada: _____________________________________________________ Profª. MSc. Tatiana Silva Portella Orientadora _____________________________________________________ Profª. MSc. Eloá Fátima Ferreira de Medeiros Curso de Farmácia - UCB _____________________________________________________ Profª. MSc. Nina Cláudia de Assunção Melo Curso de Pedagogia - UCB Brasília 2011 Dedico este trabalho ao meu esposo André e à minha querida mãe Vanilda. AGRADECIMENTO Muito se construiu nesta trajetória e muitas foram as contribuições para que esta conquista fosse possível. Por isto, venho neste momento reconhecer a todos que participaram deste processo. Agradeço primeiramente a Deus, pela oportunidade, a minha orientadora Tatiana Portella, pela paciência e sabedoria, e aos meus amigos e familiares, pelo apoio sempre expressado. 5 AVALIAÇÃO COMO INSTRUMENTO NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM: UM ESTUDO SOBRE A RELAÇÃO ENTRE AS CONCEPÇÕES E PRÁTICAS IMPLICADAS NESSE PROCESSO. MELINA RIBEIRO SALGADO Resumo: Partindo de um apanhado sobre as concepções de educação e avaliação da aprendizagem, bem como a intencionalidade e forma com quais são empregadas, até a relação que assume o planejamento docente dentro deste contexto, este artigo propõe um confronto entre o entendimento construído a respeito da avaliação da aprendizagem e a perspectiva da prática que se desenvolve neste processo, apontando assim as relações e convergências existentes entre as duas vertentes. Para tanto, apresenta-se o resultado de um levantamento bibliográfico e de uma análise documental relacionada ao planejamento docente de uma instituição de ensino superior, nos quais foi possível observar a existência de divergências entre a pretensão institucional e o entendimento docente no que se refere aos momentos de avaliação. Palavras-chave: Avaliação. Ensino-aprendizagem. Planejamento. 1. INTRODUÇÃO São grandes as discussões que giram em torno do tema avaliação da aprendizagem e seus objetivos diante do contexto educacional e social. O interesse sobre este processo cresce ao longo dos anos, no passo em que a sociedade se mostra mais complexa, dinâmica e reflexiva, e as concepções de educação passam a ser alvo de diálogos permanentes. Hoje é comum encontrarmos fóruns, grupos de estudo, congressos e outros tipos de reuniões que visam proporcionar debates acerca da necessidade de maior reflexão sobre diferentes aspectos nos processos de ensino e aprendizagem. Temas como envolvimento, participação no processo, autonomia e autoria são cada vez mais explanados e cobrados nos ambientes educacionais. A idéia de que o estudante é sujeito na construção do seu próprio conhecimento e que o professor atua como mediador e orientador no processo de aprendizagem reflete na necessidade de mudanças nos critérios de avaliação. Percebe-se que o debate sobre a intencionalidade da avaliação e os discursos sobre a necessidade de mudança nas suas concepções não são recentes, e que muitos projetos já foram instaurados com o intuito de propor novas formas de avaliar. Entretanto, acredita-se que a eficácia de novos modelos ainda apresenta dúvidas, visto que o processo ainda leva como herança aspectos da educação tradicional na hora de sua aplicação. 6 Como aponta Perrenoud (1999, p. 145), “Pode-se bastante modificar as escalas de notação, a construção das tabelas, o regime das medias, o espaçamento das provas. Tudo isto não afeta de modo radical o funcionamento didático ou o sistema de ensino”. Nota-se ainda uma grande dificuldade na mudança da prática avaliativa propriamente dita, hora relacionada à resistência por parte dos educadores, hora relacionada à aceitação por parte dos estudantes. Em ambos os casos, por conta do comodismo com o sistema tradicional de avaliação cujo objetivo principal é a medida. Além disto, encontram-se barreiras nas cobranças da sociedade e no próprio sistema educacional de ensino que, muitas vezes, vê seus projetos e propostas inovadoras inviabilizados por suas próprias normas reguladoras. Acredita-se que o grande impasse, entre tantos problemas encontrados na mudança deste processo, esteja relacionado ao conceito que se tem sobre avaliação, de seu propósito e significação. Talvez este entendimento inicial possa sustentar as diversas discussões e propostas sobre o tema. Diante deste contexto, buscou-se através deste artigo evidenciar, por meio de levantamento bibliográfico e de um estudo empírico, a relação existente entre as concepções presentes nas discussões sobre a avaliação da aprendizagem e a prática que se desenvolve neste processo. Com isto, propõe-se uma análise sobre a necessidade de se construir novos caminhos para a compreensão e revisão dos processos de avaliação, a partir das concepções que os suportam. Este estudo pode, ainda, favorecer novos entendimentos e, principalmente, novas práticas sobre o processo de avaliação. 2. CONCEPÇÕES DE EDUCAÇÃO E AVALIAÇÃO Para se analisar o conceito inicial de avaliação da aprendizagem é importante conhecer, principalmente, o que se pretende com a oferta da educação. Segundo a Constituição da República de 1988 a educação é um direito social de todos, de competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, que deverão proporcionar meios para seu acesso. Seu art. 205 atribui à educação a finalidade de propiciar o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Corroborando com a mesma finalidade, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n° 9394 de 20 de dezembro de 1996, acresce nta em seu art. 1° que a educação abrange os processos formativos realizados não só nas instituições de ensino, mas, também, aqueles desenvolvidos na vida familiar e nas diversas relações sociais pelas quais passam os indivíduos. Afinados com as leis que regulam as finalidades da educação, a sociedade e o mundo do trabalho requerem mão de obra especializada, ou seja, cidadãos com instrução, qualificados e aptos a exercerem suas funções. Esta necessidade declarada oferece uma pressão especial em torno da necessidade da escolarização. Com o 7 mercado de trabalho cada dia mais exigente acerca da formação dos trabalhadores, aumenta-se a cobrança de sua oferta por parte do governo. Com isto, passa-se a oferecer mais vagas e novas formas de acesso aos diferentes níveis e modalidades de ensino, proporcionando a ampliação do acesso à educação. Como resultado, a estratégia tem elevado os índices de escolarização e ainda as estatísticas de empregados, representando um salto para o desenvolvimento e economia do país. Assim, a educação passa a ser de grande interesse não só a sociedade, mas também para o governo. Além dos objetivos funcionais relacionados às exigências exclusivas do mercado de trabalho, existem ainda outras competências da educação, muito relacionadas com o desenvolvimento social, da consciência, da ética e de valores humanos, necessários para a convivência. Em oposição frontal à idéia de utilização da escola para fins de seleção, encontra-se a concepção segundo a qual a educação tem como função principal promover o desenvolvimento do indivíduo. Deste ponto de vista, a principal tarefa da escola é a de desenvolver no aluno as características que lhe permitirão viver de forma eficiente numa sociedade complexa. (BLOOM; HASTINGS; MADAUS, 1983, p. 6). Com estes objetivos, além da oferta e acesso à educação, passa-se a ter novas exigências em termos de formação por parte da sociedade. Não basta a garantia de certificação para o convívio nesta sociedade mais exigente, mas sim o saber. Para tanto, como comentam Bloom, Hastings e Madaus (1983, p. 7), será necessário que as escolas e os professores aprendam a trabalhar dentro de novas perspectivas, com isto “[...] tanto a avaliação quanto o ensino devem passar por transformações marcantes a fim de se adaptarem às novas condições que lhes são impostas”. Lafourcade (1981) definiu a educação como “um processo sistemático, destinado a provocar mudanças duradouras e positivas nos comportamentos dos sujeitos submetidos a sua influência [...]”, a partir deste conceito conclui que, para definir que alguém foi educado em determinada dimensão, deve-se perceber neste, após um período de instrução, comportamentos inexistentes no momento em que se iniciou o processo de aprendizagem. Dentro da mesma perspectiva, Bloom, Hastings e Madaus (1983, p. 8) defendem a educação como mecanismo de mudanças nos serem humanos, e afirmam: Para nós o ensino é um processo que modifica os aprendizes. A partir deste ponto de vista, esperamos que cada programa, curso e unidade educacional resulte em alguma mudança ou mudanças significativas nos alunos. Ao final de cada unidade, eles deverão estar diferentes do que eram antes de iniciá-la. 8 Neste sentido, consolidando a educação como um meio de promover a consciência e o desenvolvimento dos seres humanos e de sua compreensão a respeito do mundo em que vivem, e ainda permitir que agreguem novos saberes aqueles já existentes, surge a necessidade de criar procedimentos que permitam averiguar se os objetivos deste processo de mudança foram alcançados. É onde, então, inserem-se os processos de avaliação. 3. INTENCIONALIDADE DA AVALIAÇÃO A partir da discussão sobre o que se espera da educação e como a avaliação se insere neste processo, é preciso ainda questionar se seus objetivos estão somente relacionados à necessidade de se constatar se o sujeito aprendeu e em que nível aprendeu. Sendo este seu fim, pergunta-se o que fazer quando o resultado final não atender aos objetivos iniciais do processo de ensino, uma vez que avaliação é muitas vezes utilizada apenas como instrumento final no processo de aprendizagem, com o intuito de mesurar o quanto foi aprendido. Perrenoud (1999, p. 12), comenta que a avaliação vem sendo utilizada como forma de prevenir a família, para que esta possa se precaver diante dos possíveis resultados que podem ser atribuídos aos estudantes. Além disto, outra função seria a de certificar os estudantes, oferecendo-lhes um diferencial em relação aos demais candidatos na hora de conseguir uma vaga no mercado de trabalho. Observa-se, já no final da década de 70, críticas ao modelo de avaliação tradicional, focado apenas na atribuição de notas e conceitos. Autores já apresentavam pensamentos indicativos à necessidade de uma nova forma de avaliar, baseada em concepções de processo sistemático e formativo, contrário aos padrões até então aplicados. É o que podemos ver abaixo: Uma mentalidade avaliadora tradicional vê a educação como uma série de começos e fins, em que os principais resultados da escola são algo quantificáveis e embalados em graus, relatórios e outras medições de produtos de aprendizagem [...] (HAYMAN; NAPIER, 1979, p. 16). Bloom, Hastings e Madaus (1983, p. 8) seguem com os mesmos pressupostos, quando criticam a utilização da avaliação em sistemas educacionais existentes, onde sua principal função é de atribuir notas e classificar: O propósito fundamental da avaliação, tal como é mais freqüentemente utilizada nos sistemas educacionais existentes, é o de atribuir notas e classificar o aluno. É planejada a fim de detectar os que fracassaram (D ou F), os que foram bem sucedidos (A ou B), e os que “se viraram” (C). A aplicação de testes e de outras formas de avaliação comumente utilizadas nas escolas, pouco contribuem para 9 o aperfeiçoamento do ensino e da aprendizagem e raramente são um indicador seguro de que todos (ou quase todos) aprenderam o que o sistema escolar reputa como tarefas e metas importantes do processo educacional. A avaliação, na sua função de medir os conhecimentos, trabalhará com conceitos fechados, analisando apenas se as metas e objetivos traçados no início foram alcançados e em que nível. Para tanto, alguns padrões e dimensões serão definidos e tudo aquilo que for diferente do que se espera poderá ser considerado inválido. Muito equivocadamente, quando usada com esta função, desperdiçará o que fora criado pelo estudante, dando ênfase apenas à assimilação de conteúdos, excluindo as associações realizadas pelo educando, portanto, muitas vezes valorizando a reprodução. Exercendo a avaliação como uma função classificatória e burocrática, perseguese um princípio claro de descontinuidade, de segmentação, de parcelarização do conhecimento. O professor cumpre penosamente uma exigência burocrática e o aluno, por sua vez, sofre o processo avaliativo. Ambos perdem nesse momento e descaracterizam a avaliação de seu significado básico de investigação e dinamização do processo de conhecimento (HOFFMANN, 1995, p. 19). Neste sentido, defende-se que o processo de ensino deve ocorrer de forma flexível, onde o conhecimento seja fruto de construções e reconstruções e onde o sujeito é o principal responsável pela sua aprendizagem. Mesmo em um processo em que a avaliação assuma seu sentido formativo e construtivo, não deve esperar o professor que todos os estudantes alcançarão os mesmos êxitos, se desenvolverão da mesma forma, mas sim que as discussões realizadas no ambiente educacional os levarão a reflexões e novas construções. E ainda, que este contato ofereceu mudanças em suas concepções e em seu comportamento em relação ao início do processo formativo. Lafourcade (1981, p.38) destaca que estes fenômenos requerem uma atenção diferenciada na hora da avaliação: Nem todos os objetivos selecionados para uma determinada unidade se converterão em comportamentos alcançados, o que significa que nem todos os resultados obtidos coincidirão em qualidade e número como as metas que serviram de guias para desenvolver os contextos da aprendizagem. Tampouco todos os comportamentos que os processos de assimilação estimularam e alcançaram poderão ser apreciados pelos procedimentos de medida existentes até o momento. Os fenômenos que o docente pretende medir (rendimentos escolares) possuem uma série de características que dificultam sua mensuração. A avaliação assume, assim, um sentido muito mais amplo do que o da mensuração, constituindo-se como parte essencial do processo de ensino e aprendizagem. 10 3.1 AVALIAÇÃO COMO INSTRUMENTO - AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA, AVALIAÇÃO FORMATIVA E AVALIAÇÃO SOMATIVA Percebe que muitos problemas encontrados nos processos avaliativos estão relacionados diretamente à compreensão que se tem sobre eles. A avaliação que deveria ser compreendida como parte de um processo formativo, muitas vezes é considerada apenas como a forma de atestar o seu término. Ao contrário deste pensamento, o entendimento que se aborda aqui é de que o resultado de uma avaliação não deve ser considerado como o fim do processo educativo, mas sim como seu começo, recomeço e sua continuidade. Para Vasconcelos (2000, p. 142), a avaliação visa: - Informar alunos, professor e comunidade em que direção o desenvolvimento do aluno e do processo de ensino-aprendizagem está se realizando; - Captar as necessidades a fim de serem trabalhadas e superadas, garantindo a aprendizagem e desenvolvimento por parte de todos os alunos; - Favorecer que, em especial, aluno e professor possam refletir conjuntamente sobre esta realidade e selecionar as formas apropriadas de dar continuidade aos trabalhos. O autor ressalta ainda que a avaliação é do processo de ensino e aprendizagem e não apenas do estudante, como geralmente é considerada, ou seja, deverão ser considerados no ato de avaliar aspectos que dizem respeito ao trabalho do professor, à dinâmica de sala de aula e também da instituição. Estes aspectos influem diretamente no desempenho apresentado pelo estudante. Autores como Hayman e Napier (1979, p. 16) já tratavam a avaliação como uma forma de averiguar se o que foi proposto foi alcançado e assim possibilitar a retomada. Para eles “A avaliação deve estar relacionada com todos os aspectos do processo de aprendizagem e, os dados por ela fornecidos, devem proporcionar informação para o ajuste e, sempre que possível, facilitação do progresso”. Entretanto, é sabido que muitos professores utilizam a avaliação unicamente para atribuição de nota, não observando os demais indicadores que os resultados podem oferecer, como, por exemplo, apontar as dificuldades dos estudantes, indicar que o instrumento utilizado não foi adequado para o que se pretendia avaliar, ou ainda subsidiar uma reflexão sobre quais mudanças poderiam ser aplicadas em sua estratégia didática. Como afirmam Bloom, Hastings e Madaus (1983, p. 17): “A avaliação pode desempenhar um papel crucial no fornecimento das informações de que o professor necessita para tomar as decisões necessárias em relação cada aluno ou todo o grupo com o qual vai trabalhar”. 11 Luckesi (2001, p.18) enfatiza a prática do uso da avaliação como ferramenta de pressão pelos professores, porém entendido pelos mesmos como forma de incentivo: Os professores utilizam as provas como instrumentos de ameaça e tortura pérvia dos alunos, protestando ser um elemento motivador da aprendizagem. Quando o professor sente que seu trabalho não está surtindo o efeito esperado, anuncia aos seus alunos: “Estudem! Caso contrário, vocês poderão se dar mal no dia da prova”. Quando observa que os alunos estão indisciplinados, é comum o uso da expressão: “Fiquem quietos! Prestem atenção! O dia da prova vem aí e vocês verão o que vai acontecer”. Entretanto, entende-se que é pelo fato de ser um instrumento no processo de construção do conhecimento que a avaliação se divide em tipos, cujos mais conhecidos são: Avaliação Diagnóstica, Avaliação Formativa e Avaliação Somativa. A Avaliação Diagnóstica tem o propósito de identificar o que o estudante já conhece sobre o assunto, em que nível está o seu conhecimento e os demais entendimentos que traz de bagagem, para, a partir de então, possibilitar ao docente que foque seu planejamento nas habilidades que o estudante ainda não possui, utilizando como base as que ele já possui. Além desta função inicial, a avaliação diagnostica poderá ser utilizada sempre que necessário, assumindo um objetivo formativo. O professor deve ser capaz de diagnosticar as características relevantes de seus alunos na época em que ingressam no curso ou programa. Ele deve ter conhecimento da prontidão de seus alunos para as tarefas de aprendizagem, deve saber que ponto o aluno ou grupo de alunos deve ingressar numa seqüência de aprendizagem e deve ser capaz de determinar que preparação ou orientação específicas se farão necessárias antes do início da seqüência das tarefas de aprendizagem. (BLOOM; HASTINGS; MADAUS, 1983, p. 17). A Avaliação Somativa, conforme restringem Bloom, Hastings e Madaus (1983, p. 22), tem seu foco na atribuição de notas, na classificação e certificação dos estudantes, na formalização do processo de ensino e na avaliação da eficiência do trabalho docente. Realiza a quantificação do aprendizado, definindo o quanto fora ou não aprendido. Dentro deste entendimento, os autores distinguem a avaliação somativa em “intermediária”, cujo rendimento do estudante é medido com mais freqüência durante o curso, módulo ou semestre, e a “longo prazo”, onde é realizada mesmo somente ao final do curso. De todo modo seu foco principal é apresentar dados quantificáveis ao aluno, ao docente e ao seu responsável sobre o desenvolvimento das aprendizagens previstas no processo formativo. Este tipo de avaliação é responsável por gerar tanta ansiedade nos estudantes e professores a respeito do desempenho alcançado, pois seu resultado apresentará os problemas que não foram sanados durante o processo de ensino. Apesar desta concepção, os autores ressaltam que a avaliação somativa tem sua importância quando associada à avaliação formativa. 12 A Avaliação Formativa, por sua vez, tem caráter construtor, serve para oferecer indicadores ao longo do processo educativo quanto o que já foi apreendido e o que ainda é preciso ser trabalhado, além de oferecer subsídios ao docente sobre a melhor metodologia de ensino a ser empregada em cada caso. (...) se o papel da educação é o de trazer subsídios tanto para os processos de ensino quanto para os de aprendizagem, ela deve ser realizada não só ao término destes processos mas também enquanto ainda se encontram fluidos e passíveis de modificação. A avaliação formativa, como o próprio nome indica, intervém durante a formação do aluno, e não quando se supõe que o processo chegou a seu término. Ela indica as áreas que necessitam ser recuperadas, de forma que o ensino e o estudo imediatamente subseqüentes possam ser realizados de forma mais adequada e benéfica. (BLOOM; HASTINGS; MADAUS, p. 22, 1983). Acredita-se, portanto, que a aplicação de uma avaliação deveria funcionar como um momento de reflexão do que foi trabalhado ao longo de um determinado período, um espaço para organizar os conhecimentos e analisar o percurso percorrido, tanto pelo estudante quanto pelo professor. A gama de indicadores que esta pode apresentar deve ser valorizada e utilizada na preparação de novos momentos de avaliação, contemplando sua função construtiva e não apenas somativa e formalista. 4. DIFICULDADES E RESISTÊNCIAS A UMA NOVA FORMA DE AVALIAR Pode-se apontar como causas da permanência do sistema de avaliação tradicional: o controle do sistema educacional, que mantém, em certa medida, a reprodução através de suas normas; as condições de ensino que não favorecem a mudança de atitude por parte dos professores; a formação docente, que não acompanha a evolução dos conceitos formulados pela sociedade; a pressão da sociedade sobre a escola, que exige do processo de ensino resultados que permitam a competição; a família, que faz uso dos resultados para “acompanhar” o desempenho dos estudantes; e, por fim, dos próprios educandos, que buscam alcançar êxito para atender todas as demandas que lhes são impostas pela sociedade capitalista e pelo mundo do trabalho. Todos estes fatores contribuem para com que muitos educadores e gestores, dispostos a realizar mudanças, reclinem nas suas propostas inovadoras de mudanças no ato de ensinar e de avaliar. Para haver mudanças no sistema de avaliação da aprendizagem, é necessário que haja maturidade dos agentes envolvidos, abertura para novas concepções, disposição para enfrentar as barreiras e ainda disponibilidade de tempo para realizar os devidos acompanhamentos dos processos de aprendizagem dos estudantes. Segundo Luckesi (2001, p.18), a prática educativa tem se formulado através de uma pedagogia do exame e não por uma pedagogia do ensino/aprendizagem, sendo reflexo do que a sociedade espera em relação à educação. 13 Pais, sistema de ensino, profissionais da educação, professores e alunos, todos têm suas atenções centradas na promoção, ou não, do estudante de uma série de escolaridade para outra. O sistema de ensino está interessado nos percentuais de aprovação/reprovação do total dos educandos; os pais estão desejosos de que seus filhos avancem nas séries de escolaridade; os professores se utilizam permanentemente dos procedimentos de avaliação como elementos motivadores dos estudantes, por meio de ameaças; os estudantes estão sempre na expectativa de virem a ser aprovados ou reprovados e, para isto, servem-se dos mais variados expedientes (LUCKESI, 2001, p. 18). Com isto, o interesse e esforço isolado de alguns docentes não são suficientes para a mudança no processo de avaliação. Se a escola como um todo, seus agentes e toda sua comunidade não estiverem implicados neste processo, o professor, sozinho, terá dificuldade ao buscar implementar mudanças. Como afirma Lafourcade (1981, p. 27), “Serão inúteis os impulsos criadores daquele que ingressar como docente numa escola onde o diretor tiver criado um clima de obediente respeito aos regulamentos que sempre se fez e que ninguém nunca achou ruim até então”. Um processo avaliativo, seja em qualquer dimensão (sala de aula, escola, administrações, etc), deve envolver todos os seus participantes, deve apresentar resultados e ter objetivos, caso contrário perde seu valor. A avaliação, quando ocorre por obrigação, apenas para gerar dados, que nem se quiser serão trabalhados, perde seu sentido. Para que haja esforço mútuo por parte do estudante e do professor, é necessário que ambos conheçam os objetivos daquele processo educacional. Para tanto é importante que isto esteja bem claro logo no início do processo educativo, pois facilitará o planejamento por parte do professor e do aluno, para o empenho no que realmente é de interesse, tornando o processo aprendizagem mais efetivo. A avaliação, neste contexto, será parte deste planejamento e deverá, também, estar focada nos objetivos inicialmente estabelecidos. É possível que o aluno aprenda mais do que havia sido proposto, mas isto não deve ser cobrado sem que tenha sido previamente combinado. Cremos que no início do ano letivo o professor deve deixar bem claro para si e para os alunos quais as mudanças que espera que neles ocorram como resultado do curso. Com estes objetivos em mente, ele poderá proceder a uma escolha consciente dos materiais, procedimentos e estratégias de ensino. Tendo estas metas em mente, ele poderá utilizar adequadamente as técnicas de avaliação e encontrar formas de trabalhar com os alunos individualmente ou em grupo, a fim de cumprir as metas colocadas. E, à medida que trabalha com determinados grupos de alunos, irá modificar suas metas e deverá adaptar o plano à realidade de cada classe. (BLOOM; HASTINGS; MADAUS, 1983, p. 10). 14 Percebem-se, também, que algumas limitações podem ser impostas pelo currículo, daí a importância do professor participar de sua construção. O programa de um curso deve refletir a proposta de ensino da instituição, portanto, sendo este o conceito aderido, caberá ao currículo estimular o uso da avaliação como parte do processo de aprendizagem. Esta concepção estando clara nos documentos que norteiam a organização didático-pedagógica da instituição, será bem mais fácil sua aplicação em sala de aula. Nota-se ainda a necessidade que os professores apresentam em manter a avaliação como uma ferramenta de controle, uma forma de fazer com que os estudantes realizem as atividades solicitadas, se preparem para a avaliação e se mantenham disciplinados. Neste caso, a avaliação é utilizada para pressão, como mecanismo de poder e até mesmo como forma de penalizar os estudantes por não terem cumprido com as regras anteriormente estipuladas. A avaliação, como sabemos, é um dos grandes desafios na prática pedagógica: de elemento de referência do andamento do processo para a cooperação com o educando no seu desenvolvimento, tornou-se elemento de controle e dominação. O professor, com dificuldade de mobilizar os alunos, passa a usar a nota como instrumento de pressão. Desta forma, mantém-se a alienação da necessidade, pois o aluno não se relaciona com o conhecimento enquanto tal, mas como meio de atingir um fim exterior à aprendizagem (garantir sua nota...). (VASCONCELOS, 2000, p. 142). Para o professor a avaliação tradicional lhe permite o controle da situação, neste sentido, mudar a forma e a intencionalidade da avaliação pode representar para ele abrir mão de uma das ferramentas que utiliza para incentivar o esforço do estudante e controlar a sua disciplina. Entretanto, quando a avaliação assume esta função, pode desvalidar o processo de ensino. O estudo pode ocorrer, pois o foco do estudante será a atribuição de nota, mas na forma de pressão e com vistas ao que será “cobrado” na prova. Este processo pode limitar a sua criatividade e desenvolvimento. Além disto, há grandes chances de, após a realização do processo avaliativo, tudo aquilo que fora assimilado ou decorado ser desperdiçado, uma vez que a aprendizagem não ocorreu de forma significativa. Segundo Hoffmann (1995, p. 12), a manutenção de práticas classificatórias e autoritárias por parte do professor tem um sentido muito mais amplo e profundo do que o simples comodismo, a necessidade de controle ou a falta de informação. Está relacionado com a concepção que este construiu em sua trajetória de vida, no contexto em que se formou e através das experiências que vivenciou, tanto enquanto estudante quanto após se tornar professor. 15 5. PLANEJAMENTO E AVALIAÇÃO O planejamento está intimamente ligado à avaliação ou poderia-se dizer que a avaliação está vinculada ao planejamento? A defesa é pelas duas visões, pois a avaliação, quando realizada na perspectiva de uma avaliação formativa, tem objetivos de mudança, assim como o planejamento. Em primeiro passo planejamos o ensino a partir de certos propósitos, depois planeja-se a avaliação com o objetivo de verificar o desenvolvimento das habilidades e competências, para realizar o devido aperfeiçoamento. Após a avaliação e a análise de seus resultados planejamos novamente o ensino, e o ciclo continua a se repetir. É possível concluir, então, que o planejamento e avaliação então estão intimamente relacionados. A avaliação atravessa o ato de planejar e de executar; por isso, contribui em todo o percurso da ação planificada. A avaliação se faz presente não só na identificação da perspectiva político-social, como também na seleção de meios alternativos e na execução do projeto, tendo em vista sua construção. Ou seja, avaliação, como crítica de percurso, é uma ferramenta necessária ao ser humano no processo de construção dos resultados que planificou produzir, assim como o é no redimensionamento da direção da ação. A avaliação é uma ferramenta da qual o ser humano não se livra. Ela faz parte de seu modo de agir e, por isso, é necessário que seja usada da melhor forma possível (LUCKESI, 2001, p. 118). Uma vez aplicada uma avaliação o professor terá informações que poderão servir de indicadores para a mudança de seu planejamento. Sendo a avaliação contínua, o planejamento do professor será flexível, passível de modificações. A partir de um diagnóstico inicial o docente poderá se planejar mais próximo da realidade e necessidade de seus estudantes. Ao passo que o processo de interiorização do conhecimento acontece e que recebe retorno através das avaliações realizadas poderá novamente analisar o seu planejamento, direcionando-o para o que ainda precisa ser trabalhado. O uso destes dois instrumentos, paralelamente, planejamento e avaliação, possibilitará que o ensino e a aprendizagem ocorram de forma mais efetiva. Luckesi (2001, p. 85) comenta que a avaliação da aprendizagem escolar terá sentido quando for articulada a um projeto pedagógico e a um projeto de ensino. Neste aspecto, seu papel é oferecer subsídios nas decisões relacionadas ao processo de ensino e aprendizagem visando a sua qualidade, a partir disto, caberá ao docente fazer o uso deste instrumento no seu planejamento. O autor apresenta três possibilidades de uso do resultado da avaliação pelo professor: a de registro, a de oferecer oportunidade de melhora de nota ao estudante ou a de observar e trabalhar as dificuldades enfrentadas pelos mesmos no processo de aprendizagem. Porém, ressalta que a última opção é a menos utilizada. Para Vasconcelos (2000, p. 41), a necessidade do planejamento surge quando se percebe a necessidade de mudança da realidade, ou seja, o planejamento tem 16 objetivos de realizar mudanças na realidade, e isto é o que já vimos anteriormente nas concepções que se tem dos objetivos educacionais. Além disto, o autor retrata o planejamento como algo muito mais amplo do que o apenas uma questão técnica, pois este carrega princípios, posicionamentos, opções, tomada de decisões, tornando-se uma ferramenta política na prática pedagógica. O planejamento, sem dúvida, pode-se colocar como um instrumento teóricometodológico para a intervenção na realidade. Todavia, mais do que instrumento ou ferramenta, queremos apontar para a possibilidade de entendermos e vivenciarmos o planejamento como Métodos de Trabalho do educador, qual seja, como postura (algo reelaborado e interiorizado pelo sujeito), como forma de organizar a reflexão e a ação, como estratégia global de posicionamento diante da realidade. (VASCONCELOS, 2000, p. 75) O planejamento estará presente desde as simples até as mais complexas ações desenvolvidas no espaço educacional, de forma implícita, na prática realizada, ou de forma explicita, formalizada nos documentos institucionais. Sendo assim, os objetivos educacionais estarão presentes na proposta das instituições por meio dos seus planos de metas, dos seus projetos pedagógicos, entre outros documentos norteadores, assim como no planejamento dos professores, representados não só pelos seus planos de ensino mas, também, pela sua prática. Neste sentido é importante estar claro quais são as finalidades do planejamento educacional, para saber como bem aplicá-lo a serviço do processo de ensino e aprendizagem. Luckesi (2001, p. 113), define planejamento do ensino da seguinte forma: • é a previsão inteligente e bem articulada de todas as etapas do trabalho escolar que envolvem as atividades docentes e discentes, de modo que torne o ensino seguro, econômico e eficiente; • é a previsão das situações específicas do professor com a classe; • é o processo de tomada de decisões bem informadas que visam à racionalização das atividades do professor e do aluno, na situação ensinoaprendizagem, possibilitando melhores resultados, e, em consequência, maior produtividade. Para Vasconcelos (2000, p.136) a avaliação entra como um elemento do planejamento. Portanto, nele deve constar como o processo de avaliação será desenvolvido, o que será avaliado, de que forma ocorrerá a avaliação e para que fins será aplicada. Todo esse processo deverá ser conhecido pelos estudantes logo que se inicia a execução do planejamento, desta forma deixará a relação entre professor e estudante transparente e segura. Além disto, o autor destaca que a avaliação estará a favor do planejamento, pois será a partir dos seus resultados que será possível realizar o re-planejamento. 17 6. MATERIAIS E MÉTODOS Com o intuito de confrontar teorias sobre o processo de avaliação, defendido nos dia atuais (nos documentos orientadores da Educação Nacional, em diversos movimentos, sistemas e instituições), com a perspectiva da prática que vem sendo realizada nos espaços de aprendizagem, realizou-se análise de planos de ensino de diferentes disciplinas de um curso de graduação da Universidade Católica de Brasília UCB e dos documentos que orientam os princípios da organização didático pedagógica da Instituição (Projeto Pedagógico Institucional - PPI e Projeto Pedagógico de Curso PPC). A instituição demonstra no seu Projeto Pedagógico Institucional – PPI (UCB, 2008, p. 32) a preocupação com a formação de estudantes conscientes da sua parcela no processo de aprendizagem. Para a viabilização deste processo, busca a constante reflexão de como a pessoas aprendem e da importância de trabalhar a partir dos conhecimentos prévios que os estudantes trazem para dentro do ambiente educacional, construindo, a partir de então, uma prática que privilegie a crítica e a autônoma na construção de novos conhecimentos, competências e habilidades. Por isso, espera-se que o estudante ou egresso da UCB aprenda: a) a pensar criticamente, revelando abertura e flexibilidade para o diálogo; b) a transitar nas diferentes áreas do conhecimento, estando apto a adaptar-se e a desenvolver-se em áreas distintas daquela de sua formação inicial; c) o manuseio internacional do conhecimento; d) a atuar em equipe, demonstrando espírito de cooperação; e) a comprometer-se com a resolução de problemas, demonstrando ser capaz de assumir desafios e riscos, característica da atitude inovadora; f) a propor e desenvolver projetos de interesse e relevância social; g) a exercer com competência e ética a sua profissão, contribuindo para a melhoria de sua qualidade de vida, de sua família e da sociedade; h) a empreender, contribuindo para a geração de empregos e para o desenvolvimento do país; i) a cuidar da própria formação, como tarefa que dura para toda a vida. Reforçando a preocupação com a formação, destaca a sua proposta de realização de uma avaliação focada na aprendizagem do educando, e não no ensino, considerando o estudante como sujeito e o docente como orientador no processo de aprendizagem. Assim, faz crítica à perspectiva instrucional da avaliação, que se reduz a aplicação de provas e testes, e apresenta sua crença em um processo avaliativo de caráter formativo, que serve para oferecer subsídio aos docentes para revisão de seu planejamento e de sua prática. A UCB aceita a avaliação como tendo, antes de tudo, um caráter formativo, ou seja, avalia-se para ampliar o processo de aprendizagem, para apreender o que se está aprendendo, o que ainda não está compreendido e seus motivos. O processo de avaliação é um instrumento para revisão da intervenção dos 18 professores. Avaliando a aprendizagem dos estudantes se avalia o itinerário tomado pelo professor. Portanto, a avaliação, mais do que seu caráter formativo, possui sua dimensão de diagnóstico e subsídio para o plano de ensino. Além disso, a avaliação precisa tornar-se prática de retorno, de revisão de conteúdos, de visualização do erro no processo, momento especial de retomada do aprendizado e de redirecionamento da atuação de professores e estudantes (Projeto Pedagógico Institucional - UCB, 2008, p. 31). A perspectiva institucional está de acordo com as teorias mais atuais sobre avaliação, é neste sentido que oferece aos seus professores, como parte do processo de formação do perfil docente e cuidado com sua prática, não só bolsas para cursos de pós-graduação Lato Sensu e Stricto Sensu, mas, também, o Programa de Reconstrução das Práticas Docentes – PRPD. Trata-se de um espaço pensado para a formação do perfil docente que a instituição almeja, que viabiliza momentos de formação a partir da reflexão sobre a prática realizada em confronto com as teorias que discutem os processos de aprendizagem, orientação da aprendizagem e avaliação da aprendizagem, com vistas à compreensão e reconstrução das práticas pedagógicas desenvolvidas. Além disto, oferece ainda oficinas sobre utilização de tecnologias educacionais que facilitam o desenvolvimento das aulas, constituindo-se como um espaço para discussão, compartilhamento, integração entre os professores e de conscientização da prática docente. O curso analisado foi aberto em dezembro de 2007, possui atualmente 261 estudantes e já formou 6 turmas. Seu currículo é composto por 54 disciplinas obrigatórias, incluindo as de formação geral, e deve ser integralizado em, no mínimo, 9 semestres. Seu projeto pedagógico faz referência ao PPI e acrescenta, como princípios para o processo de aprendizagem nos cursos da área, o posicionamento de estudantes e professores como sujeitos na construção e reconstrução do saber, sendo o docente responsável pela mediação do processo de apropriação do conhecimento por parte do estudante. O primeiro movimento da análise dos documentos institucionais foi a observação dos aspectos relacionados à avaliação e à compreensão deste processo pela instituição, pelo curso e pelos professores. Neste sentido, foi observado primeiramente se a proposta da Universidade, referenciada no seu Projeto Pedagógico Institucional se confirmava no Projeto Pedagógico do curso em questão, e como este estava presente no planejamento dos professores. Para se obter estes indicadores foram escolhidos para análise, de forma aleatória, os planos de ensino de dez componentes curriculares de formação específica do curso. Cabe considerar, entretanto, que os planos de ensino representam uma intencionalidade, e não a prática em si, desta forma, infere-se, a partir da perspectiva relatada pelos professores, o que irá orientar a sua prática de avaliação. A partir da constituição de um instrumento (apêndice A) foi realizada uma análise qualitativa e quantitativa dos documentos, utilizando como base a bibliografia utilizada neste trabalho. A ferramenta utilizada constitui-se de uma tabela dividida em 8 categorias, com devidas orientações e subcategorias, que foram avaliadas em cada plano de ensino. São elas: 19 1. Periodicidade das avaliações: Observar de quanto em quanto tempo está previsto um momento de avaliação. 2. Quantidade das avaliações: Verificar quantos momentos de avaliação serão realizados ao longo do semestre. 3. Variação dos instrumentos de avaliação: Checar se existe a variação dos instrumentos utilizados para fins de avaliação. 4. Indicadores de realização de feedback sobre as avaliações: Verificar se o planejamento prevê a realização de feedback sobre as avaliações. 5. Indicadores de realização de acompanhamento do processo de aprendizagem e retomada de conteúdo: Observar se o planejamento menciona momentos de recuperação. 6. Metodologia do processo de recuperação: Checar se o plano descreve momentos de recuperação das habilidades não contempladas pelos estudantes. Por fim, no sentido de identificar a proximidade dos professores com a proposta institucional, foi realizado um levantamento histórico da participação dos mesmos no Programa de Reconstrução das Práticas Docentes - PRPD. O resultado mostra que apenas um docente participou de uma das fases (semestres) do programa em 2009, repetindo o mesmo quadro em 2010. Neste 1° semestre de 2011 apenas um professor efetuou sua inscrição para a fase I. É importante ressaltar que a avaliação da aprendizagem é um dos três grandes eixos nos quais se dedicam o trabalho do PRPD. 7. RESULTADOS Os dados obtidos na análise quantitativa foram expostos na tabela abaixo a fim de proporcionar melhor visualização dos resultados: Tabela 1 - Resultado Quantitativo da Análise 20 Categoria Periodicidade das avaliações Quantidade das avaliações Variação dos Instrumentos de Avaliação Indicadores de realização de feedback sobre as avaliações Indicadores de realização de acompanhamento do processo de aprendizagem e retomada de conteúdo Metodologia do processo de recuperação Temas Quantidade de recorrências Realização de avaliação ao final do semestre 0 Realização de avaliações diárias 1 Realização de várias avaliações durante os meses do semestre (com ocorrência de mais de uma avaliação por mês) 4 Realização de avaliações mensais 1 Realização de avaliação, intercalando os meses 4 Aplicação de uma a duas avaliações 0 Aplicação de três a quatro avaliações Aplicação de cinco ou mais avaliações Utilização de um a dois instrumentos Utilização de três a quatro instrumentos Utilização de cinco ou mais instrumentos Prevê 3 7 1 6 3 4 Não prevê 6 Menciona 4 Não menciona 6 Por meio de instrumentos de avaliação Por meio de retomada de conteúdo Não há indicação 4 0 6 O item periodicidade da avaliação considerou de quanto em quanto tempo foi previsto um momento de avaliação. O resultado demonstra que uma parte significativa dos professores planejou a realização de várias avaliações durante os meses, com ocorrência, às vezes, de mais de uma avaliação mensal, ou com a intenção de realizar várias avaliações, porém intercalando os meses. Como pode ser observado na tabela, a quantidade de avaliações que serão aplicadas, em sete dos dez planos de ensino consultados, está entre cinco ou mais ao longo do semestre, havendo planejamento de utilização de três a quatro instrumentos na maioria dos casos. Os instrumentos variam entre provas escritas, provas práticas, seminários, estudos dirigidos, estudos de caso, relatórios, exercícios, participação oral e testinhos, sendo que prevalece o uso de provas teóricas e sempre com peso maior do que as demais atividades. Às atividades como estudos dirigidos, estudos de caso e participação oral sempre são atribuídos, na maioria das vezes, pesos significativamente menores. 21 A análise apontou ainda que a maioria dos professores não planejou ou previu a realização de feedback ou de acompanhamento do processo de aprendizagem e retomada de conteúdo, mesmo considerando neste aspecto qualquer metodologia, seja através de instrumentos de avaliação ou por atendimentos específicos. O mesmo ocorre com os momentos de recuperação, onde em seis dos planos analisados não foi mencionado a realização deste procedimento e, nos quatro restantes, esta atividade será contemplada na forma de avaliação. 8. DISCUSSÃO A ideologia de avaliação formativa fala a respeito da realização de avaliações em diferentes momentos do curso/semestre/disciplina, acompanhados de retornos e retomadas sempre que necessários, e com a utilização de instrumentos diversificados de acordo com os objetivos de cada momento. Seguindo com estes conceitos, poderse-ia dizer, pelos dados coletados, que o curso analisado realiza avaliação formativa em suas componentes. Porém, outros pontos identificados na análise demonstram que nem sempre apenas os dados, por si só, podem representar esta realidade. Elementos como metodologia de ensino e avaliação foram observados e confrontados com a proposta institucional. A ausência de feedback é um dos aspectos que chama a atenção, pois mesmo considerando-o como qualquer tipo de retorno, por exemplo, a simples devolução da avaliação para consentimento e análise do estudante, foi fato pouco definido nos planejamentos. Quando referenciado, se limita a entrega das avaliações realizadas aos estudantes para que possam tomar conhecimento das correções e notas atribuídas, sendo previsto seu recolhimento ao término deste processo. As avaliações, portanto, ficam em poder do professor, e não do estudante que a realizou e poderia utilizá-la para novos estudos. A retomada do conteúdo e o acompanhamento do processo de aprendizagem é algo pouco mencionado, mesmo ainda que ocorra durante a prática do ensino, e quando previsto é proposto através de momentos de avaliação. Na maioria dos casos estes momentos se referem à composição e substituição de nota, sendo, desta forma, entendido que o momento de recuperação tem apenas esta finalidade. Percebe-se, em alguns casos, abertura para que os estudantes procurem seus professores para retirada de dúvidas, no entanto, este procedimento não é contemplado como uma estratégia de ensino, mas sim como uma possibilidade vinculada ao interesse do estudante. A recuperação, apesar de mencionada na maioria dos planos, também está sempre prevista através de provas, na maioria das vezes aplicadas ao final do semestre e de todo o conteúdo trabalhado, que substituirão as notas finais ou parte delas. Entretanto, considerando que recuperação deve ser de algo que já foi realizado, porém que não atendeu as expectativas mínimas, percebeu-se que, na maioria dos casos, os processos mencionados tratam-se de avaliações substitutivas, ou seja, planejadas para 22 aqueles estudantes que não realizaram a avaliação no momento correto, e não para os que realizaram e ficaram com baixo aproveitamento. Existe inclusive, em alguns casos a ênfase na necessidade de apresentação de documentos que comprovem a impossibilidade de realização da avaliação no momento previsto como condição para a realização de provas de substituição. Infere-se, portanto, que há uma interpretação equivocada do que é um processo de recuperação e um grande desvio da proposta institucional, pois a recuperação deveria ser de habilidades e de competências, não apenas de notas. Uma avaliação formativa, focada no desenvolvimento do educando, seria realizada ao longo do processo, focando nas habilidades e competências ainda não adquiridas, dispensando assim uma prova de todo o conteúdo da disciplina aplicada apenas ao final do semestre. Encontram-se ainda expressões que levam a interpretação de práticas mais tradicionais, como, por exemplo, a aplicação de penalidades quando não realizada alguma atividade prevista pelo estudante: “....Um seminário (SEM), com valor de 10 pontos, deverá ser apresentado em data prevista no cronograma, sob pena de redução da nota em 50%...” Em outros momentos percebe-se o entendimento equivocado de sedimentação entre processo avaliativo e aprendizagem: “...Atividades desenvolvidas em sala de aula, como estudos dirigidos ou trabalho com textos ou outros, visam à fixação de conteúdo ou a complementação do assunto exposto, sendo, portanto, parte do processo de aprendizagem, não de avaliação”. Nesta afirmação percebe-se que há um grande conflito entre o que o professor interpreta como momento de aprendizagem e como momento de avaliação, como se a realização de ambos, concomitantemente, não fosse possível, quando, na verdade, são indissociáveis. Na percepção dos professores, mais uma vez, está presente a idéia de que avaliação é o que gera nota. Outro aspecto que chamou atenção foi a semelhança entre os planejamentos. Há momentos em que as considerações são praticamente iguais, em componentes diferentes ministradas por docentes diferentes, inclusive na descrição do processo de avaliação. 9. CONCLUSÃO A realização do presente trabalho possibilitou a observância de diversos aspectos, desde aqueles que envolvem a gestão nas suas dimensões de instituição, de curso e de planejamento docente, até aqueles relacionados aos entendimentos que os agentes envolvidos no processo educacional possuem a respeito da intencionalidade dos processos de avaliação da aprendizagem. Muito foi falado a respeito do conceito que se tem sobre avaliação e de sua função no processo de aprendizagem. No levantamento bibliográfico foi possível observar que diversos autores, inclusive em momentos diferentes, fazem defesa de novas concepções sobre a temática, baseadas no uso da avaliação como instrumento na construção do conhecimento e não apenas como mera ferramenta de formalização do processo de ensino. Notou-se ainda que estas concepções também estão presentes 23 nas discussões dos sistemas de ensino nos dias atuais, inclusive, na organização didático pedagógica da instituição onde foi realizada a pesquisa, que apresenta sua proposta de encontro com estas perspectivas. Entretanto, quando partimos para o planejamento docente este entendimento não está tão claro, sendo uma das grandes contradições que se percebeu neste estudo. Foi possível verificar que a indicação, no planejamento docente, da realização de vários momentos de avaliação durante o semestre e ainda de diversificação dos instrumentos, não significam que o processo de avaliação da aprendizagem ocorreu de forma formativa, focado no desenvolvimento. Mesmo por que, a importância que é dada a eles, por meio da atribuição de pesos, demonstra ainda a forte prevalência das provas escritas como as principais ferramentas utilizadas para fins de avaliação. Fica clara, em todos os documentos analisados, a preocupação com a quantificação de todas as avaliações e a necessidade de se explicitar a forma como serão consideradas. Na grande maioria dos planos encontram-se fórmulas que indicam o peso e ponderações das atividades. Percebe-se neste contexto, a aplicação da avaliação como um processo independente do aprendizado, com função restrita à atribuição de nota, constatando-se, portanto, a presença de entendimentos diversificados a respeito da intencionalidade da avaliação entre os agentes inclusos neste processo. Apesar dos aspectos aqui ressaltados, considera-se que as distorções encontradas entre a proposta institucional e o planejamento docente podem estar relacionados à falta de conhecimento, do que pretende a instituição no seu processo educacional, e envolvimento por parte do docentes. Tal conclusão ocorre a partir da constatação da pouca participação dos professores que compuseram a amostra da análise no programa de formação oferecido pela instituição. Esta situação pode estar relacionada a uma das hipóteses apresentadas no início deste trabalho, como motivo de resistência à mudança na prática de avaliação, hora apresentada pela indisposição dos professores em participar de discussões que envolvem questões relacionadas ao ensino. Considera-se ainda a existência de fatores que fogem ao controle do docente, mas que influenciam diretamente na limitação do seu planejamento e são determinantes na sua prática, como, por exemplo, a quantidade de estudantes na turma e o tempo para devido acompanhamento. Pondera-se ainda que o plano de ensino não contempla a totalidade do processo de ensino que será realizado, pois o instrumento de planejamento limita a descrição pelo professor, além disto, todo planejamento é passível de mudanças. Ponderando todos os indicadores mencionados, acredita-se que muitas horas de estudos e debates ainda serão dispensadas para o tema de avaliação da aprendizagem e que muitos desafios serão vivenciados por gestores e professores, mas, apesar disto, percebe-se uma grande tendência ao incentivo e ao aperfeiçoamento dos profissionais e das primeiras experiências realizadas dentro das novas perspectivas educacionais. É, portanto, neste sentido que se espera que este trabalho venha contribuir. 24 10. BIBLIOGRAFIA BLOOM, Benjamin Samuel; HASTINGS, J. Thomas; MADAUS. George F.; QUINTÃO, Lilian Rochlitz (Trad.). Manual de avaliação formativa e somativa do aprendizado escolar. São Paulo: Pioneira, 1983. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF, 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm. Acesso em: 13 fev. 2011. ______. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB 9394/1996. Brasília, DF, 1996. 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