ASCITE: DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO Bianca Velasque Pellacani Disciplina de Gastroenterologia Departamento de Pediatria Escola Paulista de Medicina Universidade Federal de São Paulo INTRODUÇÃO A palavra ascite tem como origem o termo askos, do grego, que significa bolsa, saco. Em 2000 a.C. a ascite já era um sintoma conhecido e tinha como terapia a paracentese abdominal Kuiper J J, Aliment Pharmacol Ther, 2007 DEFINIÇÃO Ascite é definida como acúmulo de fluido protéico na cavidade peritoneal, de volume superior a 25ml Ferreira C T, Gastroenterologia e hepatologia em pediatria,Medsi, 2003 CAUSAS DE ASCITE Período Neonatal: Sintoma raro 1:3000 gestações Ocorre principalmente por causas infecciosas Ferreira C T, Gastroenterologia e hepatologia em pediatria,Medsi, 2003 CAUSAS DE ASCITE INFECÇÕES CONGÊNITAS DOENÇA METABÓLICA OUTRAS CAUSAS Citomegalo Virus Sialidose tipo II Insuficiência cardíaca Toxoplasmose Niemann-Pick C Hepatoblastoma Sífilis Gangliosidose I Hamartroma mesenquimal Mucopolissacaridose 6 Doença de Wolmam Doença de Gaucher Tirosinemia tipo I Hemocromatose Causas de ascite no período neonatal Fonte: Balisteri, 1999 CAUSAS DE ASCITE Em crianças e adolescentes a hipertensão do sistema porta é uma importante causa de ascite Causas de hipertensão portal: Cirrose 9 9 9 Atresia de vias biliares extra hepáticas Doenças genético-metabólicas Infecção Fibrose hepática congênita Síndrome de Budd- Chiari Ferreira C T, Gastroenterologia e hepatologia em pediatria,Medsi, 2003 CAUSAS DE ASCITE Relacionadas à hipertensão porta Hepatopatia crônica Não relacionadas à hipertensão porta Carcinoma peritoneal Insuficiência cardíaca Tuberculose Síndrome de Budd- Chiari Pancreatite Neoplasia Obstrução/lesão do ducto torácico Síndrome nefrótica Hipertensão portal idiopática Enteropatia perdedora de proteína Causa de ascite fora do período neonatal Fonte: Modificada de Hoefs J, 1999 CAUSAS DE ASCITE Causas de ascite em adultos: 75% cirrose 10% neoplasia 3% insuficiência cardíaca 2% tuberculose 1% pancreatite 10% causas raras Moore K P, Gut, 2006 ANAMNESE Aumento da circunferência abdominal Ganho de peso inadequado Edema Sintomas relacionados a doenças colestáticas Icterícia Hepatites virais (crônicas) Transfusões sanguíneas História familiar de doenças hepáticas Em adolescentes: Uso de drogas injetáveis Promiscuidade sexual Tatuagens Yachha S K, Indian Journal of Pediatrics, 2006 EXAME FÍSICO Distensão abdominal Sinal de piparote (percussão da onda líquida) Macicez móvel à percussão abdominal Eversão da cicatriz umbilical Proeminência de flancos Hérnia umbilical e inguinal Edema de membros inferiores, escrotal, peri-orbitário (lactentes) Anasarca (insuficiência cardíaca e síndrome nefrótica) Derrame pleural (80% à direita) Yachha S K, Indian Journal of Pediatrics, 2006 ; Kuiper J J, Netherlands Journal of Medicine, 2007 Kuiper J J, Aliment Pharmacol Ther, 2007 ; Runyon B A, Hepatology, 2004 EXAME FÍSICO Sinais de hipertensão portal e de doença hepática: Icterícia Spiders Eritema palmar Circulação colateral abdominal em capuz de medusa Esplenomegalia Desnutrição Yachha S K, Indian Journal of Pediatrics, 2006 ; Kuiper J J, Netherlands Journal of Medicine, 2007; Kuiper J J, Aliment Pharmacol Ther, 2007 EXAME FÍSICO Sinais de insuficiência cardíaca: Anasarca Estase jugular Pressão arterial normal ou baixa Taquicardia Yachha S K, Indian Journal of Pediatrics, 2006 ; Kuiper J J, Netherlands Journal of Medicine, 2007 DIGNÓSTICO RADIOLÓGICO Raio x simples de abdome: Deslocamento e separação das alças intestinais Presença de líquidos nos flancos, pelve e hipocôndrios Brundick e cols. (1984) estudaram a sensibilidade e a especificidade do RX simples de abdome para o diagnóstico de ascite, utilizando a ultrassonografia de abdome como padrão ouro. Em 100 casos estudados, a sensibilidade do exame foi de 84% e a especificidade de 70% Ferreira C T, Gastroenterologia e hepatologia em pediatria,Medsi, 2003 DIGNÓSTICO RADIOLÓGICO Tomografia computadorizada do abdome (TC): Útil na determinação da causa da ascite em algumas situações Andronikou e cols. (2002) sugerem a realização de TC do abdome como método diagnóstico adicional em casos suspeitos de tuberculose abdominal Ferreira C T, Gastroenterologia e hepatologia em pediatria,Medsi, 2003 DIGNÓSTICO RADIOLÓGICO Ultrassonografia do abdome: Padrão-ouro Coleções visualizadas na pelve (paciente em posição supina), goteiras parieto-cólicas circundando o baço e o fígado A adição de Doppler colorido parece conferir melhor especificidade ao método, além de ser útil para avaliar a gravidade da disfunção renal e estimar o risco de desenvolver a síndrome hepato-renal. Ferreira C T, Gastroenterologia e hepatologia em pediatria,Medsi, 2003; von Herbay A, Ultras Med, 2002 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL Paracentese diagnóstica: É o método mais preciso, rápido e de melhor custobenefício para o diagnóstico etilógico da ascite Deve ser realizada em todos os pacientes com ascite após a obtenção do consentimento informado (Nível de evidência 5; recomendação D) Moore K P, Gut, 2006; Runyon B A, Hepatology, 2004 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL Nível Intervenções terapêuticas 1a Revisões sistemáticas de ensaios clínicos randomizados com homogeneidade 1b Ensaios clínicos randomizados individuais com intervalos de confiança estreitos 1c “Séries tudo ou nada” 2a Revisão sistemática de estudos observacionais com homogeneidade 2b Estudo de coorte incluindo ensaio clínico randomizado de baixa qualidade (ex. < 80% de seguimento) 2c Pesquisas de desfechos outcomes e estudos ecológicos 3a Revisão sistemática de estudos de casos-e-controles com homogeneidade 3b Estudos individuais de casos-e-controles 4 Série de casos ou coortes ou estudos de casos-e-controles com problemas metodológicos 5 Opinião de especialistas sem revisão crítica explícita, ou baseada na fisiologia, ou em princípios Fonte: Centro de Medicina Baseada em Evidências de Oxford (Maio 2001) DIAGNÓSTICO LABORATORIAL Graus de recomendação A Estudos nível 1 consistentes B Estudos nível 2 ou 3 consistentes ou extrapolações a partir de estudos nível 1 C Estudos nível 4 ou extrapolações a partir de estudos nível 2 e 3 D Estudos nível 5 ou estudos inconsistentes ou inconclusivos de qualquer nível Fonte: Centro de Medicina Baseada em Evidências de Oxford (Maio 2001) DIAGNÓSTICO LABORATORIAL Procedimento: 9 Realizado após antissepsia do local de punção Anestesia local Deve-se evitar locais com cicatriz cirúrgica e/ou com celulite No momento do procedimento a bexiga deverá estar vazia O local mais comum de punção situa-se lateralmente, a 15 cm da cicatriz umbilical em adultos; e a 2 cm abaixo dessa em crianças, sendo realizado na maioria dos casos no quadrante inferior esquerdo Em neonatos, punciona-se lateralmente ao músculo reto abdominal poucos centímetros acima do ligamento inguinal Utiliza-se jelco 16-22 acloplado a um sitema de pressão negativa A agulha deverá ser introduzida formando um ângulo de 45° com a parede abdominal, em direção à cabeça 9 9 9 9 9 9 9 Moore K P, Gut, 2006; Yachha S K, Indian Journal of Pediatrics, 2006 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DIAGNÓSTICO LABORATORIAL Procedimento: 9 10-20 ml de líquido ascítico deve ser retirado e colocado em tubo EDTA e de hemocultura para ser enviado para análise 9 Complicações ocorrem em apenas 1% dos casos (hematomas de parede abdominal), apesar de 71% dos pacientes apresentarem alteração de tempo de protrombina Perfuração intestinal < 1:1000 procedimentos Antígeno carciembriogênico > 5 ng/dL ou fosfatase alcalina> 240 U/L sugerem perfuração intestinal 9 9 Distúrbios da coagulação não contra-indicam o procedimento e é incomum o uso profilático de plasma e plaquetas Em pacientes com plaquetopenia (< 40.000/ mm3), deve ser infundido plasma fresco congelado Moore K P, Gut, 2006; Yachha S K, Indian Journal of Pediatrics, 2006; Runyon B A, Hepatology, 2004 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL Análise do líquido ascítico (LA): 9 Contagem de células Principalmente para o diagnóstico de peritonite bacteriana espontânea (PBE), que é feito quando evidencia-se > 250 neutrófilos/mm3 Estudos recentes avaliam o uso de fitas reagentes para o diagnóstico de neutrofilia, e têm demonstrado sensibilidade entre 64-100% quando comparado a contagem leucocitária Aumento de células vermelhas ocorre em 2% dos casos; e quando > 50.000 cel/mm3 sugere a hipótese diagnóstica de hepatocarcinoma Proteínas totais/Albumina Amilase (HD: pancreatite – nível de evidência 4; recomendação C) 9 9 Moore K P, Gut, 2006; Yachha S K, Indian Journal of Pediatrics, 2006; Kuiper J J, Aliment Pharmacol Ther, 2007 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL Análise do líquido ascítico (LA): 9 Citologia (HD: neoplasia) 9 De acordo com estudo realizado por Runyon e cols. (1988), a sensibilidade para a detecção de carcinomatose peritoneal é de 96,7% se forem enviadas 3 amostras Cultura do LA A inoculação da amostra em tubo de hemocultura aumenta a positividade do exame de 40% para 72-90% Nível de evidência 2a; recomendação B Moore K P, Gut, 2006; Yachha S K, Indian Journal of Pediatrics, 2006; Runyon B A, Hepatology, 2004 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL Análise do líquido ascítico (LA) 9 Coloração de Gram: É útil apenas na suspeita de perfuração intestinal Sensibilidade 100% e especificidade de 45% para diagnóstico de PBE 9 9 9 Glicose Colesterol e triglicérides Pesquisa para Mycobactéria: Hillebrand e cols. (1996) Esfregaço: sensibilidade de 0% Cultura: sensibilidade 50% Yachha S K, Indian Journal of Pediatrics, 2006; Kuiper J J, Netherlands Journal of Medicine, 2007; Kuiper J J, Aliment Pharmacol Ther, 2007; Runyon B A, Hepatology, 2004 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL Análise do líquido ascítico (LA) Fonte: Runyon B A ,Hepayology, 2004 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL Gradiente de albumina soro-ascite (GASA): GASA = Albumina sérica – albumina do líquido ascítico As amostras devem ser obtidas simultaneamente Deve ser realizada após a análise do LA 9 Nível de evidência 2b; recomendação B Substituiu a classificação do LA em transudato e exsudato, obtida através da dosagem de proteínas totais: 9 Exsudato: proteínas > 2,5 g/dL 9 Transudato: proteínas < 2,5 g/dL 9 Acurácia : 57% Yachha S K, Indian Journal of Pediatrics, 2006; Kuiper J J, Netherlands Journal of Medicine, 2007; Kuiper J J, Aliment Pharmacol Ther, 2007 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL 9 9 Gradiente de albumina soro-ascite (GASA) Auxilia no diagnóstico etiológico da ascite, classificando-a em decorrente de hipertensão portal ou não, com acurácia de 97% Se > 1,1 g/dL sugere hipertensão portal Se < 1,1 g/dL sugere etiologia não hipertensiva Fonte: Guidelines on Manegement of ascites in cirrhosis, Gut,2006 Moore K P, Gut, 2006; Yachha S K, Indian Journal of Pediatrics, 2006; Kuiper J J, Netherlands Journal of Medicine, 2007; Kuiper J J, Aliment Pharmacol Ther, 2007; Runyon B A,Hepatology, 2004 DIAGNÓSTICO LABORATORIAL GASA < 1,1 g/dL GASA > 1,1 g/dL Proteínas < 3,0 g/dL Causas não relacionadas a doença Cirrose peritoneal, nem a hipertensão portal (ex: síndrome nefrótica) Proteínas Elevadas Doença peritoneal (ex: tuberculose ou carcinomatose) Hipertensão portal pós sinusoidal (ex: insuficiência cardíaca congestiva) Mattos A A, Programa de Educação Continuada, Sociedade Brasileira de Hepatologia, 2005 CLASSIFICAÇÃO DE ASCITE Ascite não complicada Grau 1 (leve) Detectada somente pela ultrassonografia de abdome Grau 2 (moderada) Ascite causando moderada e simétrica distensão abdominal Grau 3 (grave) Ascite causando distensão abdominal acentuada Moore K P, Gut, 2006; Kuiper J J, Aliment Pharmacol Ther, 2007 CLASSIFICAÇÃO DE ASCITE Ascite refratária (5 a 10% das ascites) Diurético resistente Refratária ao tratamento com restrição salina (5,2 g sal/d) e uso de diuréticos em doses máximas por pelo menos 1 semana Diurético intratável Refratária ao tratamento devido a complicações pelo uso de diuréticos Moore K P, Gut, 2006; Kuiper J J, Aliment Pharmacol Ther, 2007 CLASSIFICAÇÃO DE ASCITE Critérios para ascite refratária: Insucesso terapêutico Recorrência precoce: reaparecimento de ascite grau 2 ou 3 nas primeiras 4 semanas Complicações do diurético: 9 Encefalopatia induzida por diurético: aparecimento de encefalopatia sem outro fator precipitante 9 Lesão renal induzida por diurético: aumento de creatinina sérica >100%, para >2mg/dL em pacientes com ascite respondendo a tratamento 9 Hiponatremia induzida por diurético: queda de sódio sérico de >10 mmol/L para sódio sérico <125 mmol/L 9 Hipo ou hipercalemia induzida por diurético: potássio sérico <3mmol/L ou >6mmol/L Moore K P, Gut, 2006; Kuiper J J, Aliment Pharmacol Ther, 2007; Runyon B A, Hepatology, 2004 ASCITE E CIRROSE Ascite é a complicação mais frequente da cirrose hepática, ocorrendo em 50% dos pacientes adultos, em 10 anos de acompanhamento A presença de tal complicação está associada a mortalidade em 50% dos casos, no período de 2-5 anos após o diagnóstico, e, portanto, diante de tal fato deve-se considerar a realização de transplante hepático Moore K P, Gut, 2006; Kuiper J J, Netherlands Journal of Medicine, 2007; 5,6 Arroyo V, Hepatology, 2003 Mattos A A, Programa de Educação Continuada, Sociedade Brasileira de Hepatologia, 2005 Sandhu B S, Clin Liver Dis, 2005; Gines P, Heatology, 2002 ASCITE E CIRROSE Prognóstico de pacientes cirróticos com ascite Fonte: Arroyo V, Hepatology, 2003 FISIOPATOLOGIA DA ASCITE Teoria “Backward” (1961): Hipertensão portal + hipoalbuminemia → quebra do equilíbrio de Starling na microcirculação esplâncnica → aumento de linfa na circulação esplâncnica Quando a hipertensão portal é moderada, esse aumento pode ser compensado com aumento do retorno linfático através do ducto torácico Porém, quando a hipertensão portal é intensa, o aumento da formação de linfa supera sua drenagem levando ao estravazamento de líquido para a cavidade peritoneal → ascite As alterações circulatórias e renais são secundárias a esse processo De acordo com tal teoria, o volume plasmático e o débito cardíaco (DC) estariam diminuídos na presença de ascite, o que não é verdade..... Atkinson M, Q J Med, 1961; Arroyo V, Hepatology, 2003 FISIOPATOLOGIA DA ASCITE Teoria “Overflow” (1970): Foi proposta quando descobriu-se que na vigência de ascite o débito cardíaco está aumentado e a resistência vascular periférica (RVP) diminuída Retenção de sódio → hipervolemia e aumento do DC → diminuição da RVP Hipervolemia + hipertensão portal → extravazamento de líquido para a cavidade peritoneal → ascite 9Evidências de que a vasodilatação que ocorre em pacientes com ascite é exclusivamente esplâncnica 9Estudos como os de Schoroeder e cols. ( 1976) e Arroyo e cols. (1981) comprovaram que o aumento da pressão arterial (PA) e a diminuição da RVP eram revertidos com a administração de antagonistas da angiotensina II 9Arroyo e cols. (1991) comprovaram que esse efeito também era obtido com a administração de vassopressina em estudo experimental com ratos Lieberman F L, Ann N Y acad Sci, 1970; Arroyo V, Hepatology, 2003 FISIOPATOLOGIA DA ASCITE Teoria da vasodilatação arterial periférica (1988): É a teoria mais aceita atualmente, e é nela que se baseia o tratamento da ascite Hipertensão portal → produção local de vasodilatadores como óxido nítrico → vasodilatação arterial esplâncnica → diminuição do volume sanguíneo efetivo → diminuição da PA → ativação do SRAA + ADH + SNS → retenção de água e Na Simultaneamente às alterações renais ocorre o extravazamento de líquido para a cavidade peritoneal → ascite Kuiper J J, Aliment Pharmacol Ther, 2007 Arroyo V, Hepatology, 2003; Schrier R W, Hepatology, 1988; Peres- Ginès M D, N Engl J Med, 2004 HIPERTENSÃO PORTA - FISIOPATOGENIA TEORIA VASODILATAÇÃO ARTERIAL PERIFÉRICA ACÚMULO DE SUBSTÂNCIAS VASODILATADORAS SISTÊMICAS (VIP; SUBST. P; GLUCAGON; ÓXIDO NÍTRICO) ARTERIAL SANGUÍNEO EFETIVO (VASE) VASOCONSTRICÇÃO RENAL SN SIMPÁTICO ↑ CATECOLAMINAS RENINA ANGIOTENSINA ALDOSTERONA ↑ HORMONIO ANTIDIURÉTICO INDEP. OSMOL. RETENÇÃO H2O E Na+ EXPANSÃO VOLUME PLASMÁTICO - REESTABELECE VASE ¾ QUEDA DA PRESSÃO ARTERIAL SISTEMICA ¾ MENOR RESISTÊNCIA VASCULAR PERIFÉRICA ¾ AUMENTO DO DÉBITO CARDÍACO PROGRESSÃO FENÔMENOS + INTENSOS HIPERTENSÃO PORTA - ASCITE RETENSÃO DE SÓDIO E ÁGUA (ALDOSTERONA) ESTÁGIOS INICIAIS DE HP MODERADA Hiperfluxo compensado pela > drenagem linfática Ducto Torácico (2,5 a 3,5 L/d para 10 a 25 L/d) ESTÁGIOS FINAIS DE HP GRAVE Fluxo excede a capacidade linfática EDEMA ASCITE TRATAMENTO Em geral, os pacientes com ascite necessitam de hospitalização. Embora aqueles com derrame peritoneal de pequeno volume possam ser manejados ambulatorialmente Nos paciente de seguimento ambulatorial deve- se monitorar o peso corporal, sintomas ortostáticos e dosagens sérica de eletrólitos, uréia e creatinina. O tratamento deve visar a remoção da ascite. No entanto deve-se também tratar a doença hepática que a causou Mattos A A, Programa de Educação Continuada, Sociedade Brasileira de Hepatologia, 2005; Runyon B A, Hepatology, 2004 TRATAMENTO Estágios de ascite e seu tratamento Fonte: Kuiper J J, n Engl Med, 2007 TRATAMENTO Objetivos do tratamento: Crianças: 9 Perda de peso de aproximadamente 100 g/dia em criança menores 9 Perda de peso de 300 g/dia em crianças maiores (equivale a diurese 10 ml/Kg/dia) Adultos: 9 Perda de peso de aproximadamente 500 g/dia em pacientes sem edema periférico, ou 1Kg/dia naqueles com edema. Moore K P, Gut, 2006; Ferreira C T, Gastroenterologia e hepatologia em pediatria,Medsi, 2003 TRATAMENTO Repouso Teoricamente a posição ortostática ativa o SRAA e o SNS, contribuindo na fisiopatologia da ascite Sem benefícios se creatinina sérica <1,2 mg/dl e boa resposta inicial a diuréticos. Algum benefício se houver resposta insatisfatória aos diuréticos (?) Porém, o repouso NÃO é recomendado, atualmente, para o tratamento da ascite devido as complicações que ele pode acarretar (atrofia muscular por exemplo) 9 Nível de evidência 5; recomendação D Moore K P, Gut, 2006; Runyon B A, Hepatology, 2004 TRATAMENTO Restrição dietética de sal: Como terapia única, pode gerar um balanço negativo de Na em 10% dos pacientes Em crianças, a restrição deverá ser de 1-2 mEq Na /kg/dia Em adolescentes, 44-88 mEq Na/dia, o que corresponde a 1-2g sal/dia No entanto, a restrição salina diminui o paladar da dieta, diminuindo o apetite e a ingestão calórica, o que contribui para a desnutrição, frequentemente presente nesses pacientes Deve-se controlar a infusão IV de fluídos que contenham grande porcentagem de sódio, incluindo algumas drogas Sais alternativos à base de potássio estão contra-indicados Moore K P, Gut, 2006; Yachha S K, Indian Journal of Pediatrics, 2006; Kuiper J J, Aliment Pharmacol Ther, 2007 TRATAMENTO Restrição hídrica: Medida controversa Realizada apenas na presença de hiponatremia dilucional (Na< 130 mEq/L) Restringe-se ingestão hídrica em 1L/dia, em adultos Em crianças, muitas vezes, é realizada quando não há boa resposta com a restrição salina e o uso de diuréticos. Nesses casos, recomenda-se restringir a ingestão hídrica para 50 – 75% do recomendado para a idade Kuiper J J, Aliment Pharmacol Ther, 2007 Mattos A A, Programa de Educação Continuada, Sociedade Brasileira de Hepatologia, 2005Ferreira C T, Gastroenterologia e hepatologia em pediatria,Medsi, 2003 TRATAMENTO Diuréticos: São usados no tratamento de ascite desde 1940 O uso indevido de diuréticos pode desencadear encefalopatia hepática 9 9 9 Espironolactona Antagonista da aldosterona e poupadora de potássio (K) É a droga de escolha para o tratamento inicial da ascite em cirróticos, pois age interferindo na sua fisiopatologia Dose: Em crianças: 1 - 4 mg/kg/dia, dose única diária Em adultos: 100 – 400 mg/dia (Nível de evidência: 1a; recomendação: A) Moore K P, Gut, 2006; Yachha S K, Indian Journal of Pediatrics, 2006; Kuiper J J, Aliment Pharmacol Ther,2007 Mattos A A, Programa de Educação Continuada, Sociedade Brasileira de Hepatologia, 2005 TRATAMENTO Espironolactona 9 A dose poderá ser aumentada a cada 3-5 dias de acordo com a resposta terapêutica Pode-se dobrar a dose ou elevar até 12-15 mg/Kg/dia em crianças e em adultos até 400 mg/dia 9 Efeitos adversos: Hipercalemia: diminuir dose se K ≥ 5,5 mmoL/L e suspender espironolactona se K > 6,0 mmol/l Ginecomastia (Tamoxifeno) Impotência sexual e diminuição da libido Irregularidade menstrual Moore K P, Gut, 2006; Yachha S K, Indian Journal of Pediatrics, 2006; Kuiper J J, Aliment Pharmacol Ther, 2007; Mattos A A, Programa de Educação Continuada, Sociedade Brasileira de Hepatologia, 2005 TRATAMENTO Furosemida: Diurético de alça 9 É usado, em geral, em associação com a espironolactona 9 Dose: 9 Em adultos: 40mg – 160 mg/dia (Nível de evidência: 1a; recomendação: A) Em crianças: 0,5 – 2 mg/kg/dia (dose máxima: 6 mg/Kg/dia) Moore K P, Gut, 2006; Yachha S K, Indian Journal of Pediatrics, 2006; Kuiper J J, Aliment Pharmacol Ther, 2007; Mattos A A, Programa de Educação Continuada, Sociedade Brasileira de Hepatologia, 2005 TRATAMENTO Furosemida: 9 A dose poderá ser aumentada a cada 2-3 dias, dependendo da resposta terapêutica 9 Efeitos adversos: Alcalose metabólica hipoclorêmica Aumento da creatinina Hipovolemia Hipocalemia: suspender ou diminuir dose se K <3,5 mmol/l Hiponatremia Moore K P, Gut, 2006; Yachha S K, Indian Journal of Pediatrics, 2006; Kuiper J J, Aliment Pharmacol Ther, 2007; Mattos A A, Programa de Educação Continuada, Sociedade Brasileira de Hepatologia, 2005 TRATAMENTO Amiloride: 9 Age no túbulo distal, induzindo diurese em 80% dos pacientes 9 Dose: 9 5-30 mg/dia É mais caro e menos efetivo que a espironolactona Moore K P, Gut, 2006; Runyon B A, Hepatology, 2004; Angeli P,Hepatology,1994 TRATAMENTO Espironolactona X Furosemida 9 Em geral, quando não há boa resposta com a monoterapia com espironolactona, associa-se a furosemida 9 Em crianças as doses de espironolactona e furosemida são administradas numa razão de 5:2. Se a resposta não estiver adequada, pode-se aumentar a dose das duas drogas simultaneamente, mantendo essa razão 9 Santos J e cols. (2003), demonstraram que a monoterapia com espironolactona tem eficiência equivalente à terapia dupla de espironolactona e furosemida Yachha S K, Indian Journal of Pediatrics, 2006; Kuiper J J, Aliment Pharmacol Ther, 2007 Mattos A A, Programa de Educação Continuada, Sociedade Brasileira de Hepatologia, 2005 Sandhu B S, Clin Liver Dis, 2005; Runyon B A, Hepatology, 2004 TRATAMENTO Albumina sérica < 3,2g% albumina 20% (0,5-1g/kg IV) + furosemida (1mg/Kg) TRATAMENTO Paracentese terapêutica total: Terapia utilizada desde a Grécia antiga Atualmente utilizada no tratamento da ascite refratária, na presença de desconforto respiratório, encarceramento ou ruptura de hérnia inguinal Tratamento de primeira linha na ascite refratária 9 Nível de evidência: 1a ; recomendação: A Pode desencadear disfunção circulatória, com dilatação arterial e hipovolemia em 20% dos pacientes. Isso ocorre 24-48 horas após o procedimento e está associado a aumento da mortalidade e de insuficiência renal em até 30 dias Moore K P, Gut, 2006; Kuiper J J, Aliment Pharmacol Ther, 2007; Sandhu B S, Clin Liver Dis, 2005; Runyon B A, Hepatology, 2004 TRATAMENTO Paracentese terapêutica total: Quintero E e cols. (1985), demonstraram que paracenteses de grande volume (4-6L) quando associadas a infusão de albumina (8g/ L de LA removido), apresentam maior eficácia, menos complicações e menor tempo de hospitalização. Estudos subsequentes demonstraram resultados similares Assim, em paracenteses com volume >5 litros está indicada a infusão de albumina, na dose de 8 g/Litro removido (Nível de evidência; 1b; recomendação: A) A dose utilizada é empírica já que não há estudos comparando eficácia entre diferentes doses do expansor Moore K P, Gut, 2006; Sandhu B S, Clin Liver Dis, 2005 TRATAMENTO Moreau R e cols. (2006) demonstraram que a infusão de albumina pós paracentese diminui o número de complicações hepáticas, além de reduzir significativamente (em até 50%) o custo hospitalar médio em 30 dias quando comparada a infusão de outros expansores Outros expansores podem ser utilizados em paracenteses de volume <5L (Nível de evidência: 2b; recomendação: B) Moore K P, Gut, 2006; Kuiper J J, Aliment Pharmacol Ther, 2007; Sandhu B S, Clin Liver Dis, 2005 TRATAMENTO Porcentagem de pacientes com disfunção circulatória de acordo com o expansor utilizado Fonte: Kuiper J J, Hepatology, 2007 TRATAMENTO Shunt transjugular intra-hepático portossistêmico (TIPS) Dispositivo utilizado na ascite refratária, principalmente nos pacientes com necessidade de mais de 3 paracenteses/mês; hidrotórax e ascite septada (Nível de evidência: 1b; recomendação: B) Estudos prospectivos e randomizados, demonstram melhor eficácia do TIPS em relação a paracentese terapêutica total, com menor taxa de recorrência (48% x 84%). Porém, não há diferença significativa na sobrevida dos pacientes Pode desencadear encefalopatia hepática em 30% dos pacientes Estenose do stent ocorre em aproximadamente 70% dos pacientes, sendo que esse número é menor nos stents revestidos com politetrafluoretileno Moore K P, Gut, 2006; Kuiper J J, Aliment Pharmacol Ther, 2007; Kuiper J J, Netherlands Journal of Medicine, 2007; Mattos A A, Programa de Educação Continuada, Sociedade Brasileira de Hepatologia, 2005; Sandhu B S, Clin Liver Dis, 2005 COMPLICAÇÕES As principais complicações da ascite são a peritonite bacteriana espontânea e a síndrome hepato-renal Compressão de grandes veias Imobilidade física Distúrbios hidro-eletrolíticos Encefalopatia hepática Diminuição do apetite Desconforto respiratório Hidrotórax Na presença de complicações deve-se considerar o transplante hepático Moore K P, Gut, 2006; Yachha S K, Indian Journal of Pediatrics, 2006; Kuiper J J, Aliment Pharmacol Ther, 2007 COMPLICAÇÕES Peritonite bacteriana espontânea (PBE): Prevalência: 10-30% na primeira hospitalização Mortalidade de aproximadamente 20% nos casos precocemente diagnosticados e tratados Deve ser pesquisada no diagnóstico inicial da ascite; na presença de dor abdominal, náuseas, febre, queda do estado geral, piora da função renal e encefalopatia hepática (Nível de evidência: 2b; recomendação: C) Pode ser assintomática Moore K P, Gut, 2006; Kuiper J J, Netherlands Journal of Medicine, 2007 Kuiper J J, Aliment Pharmacol Ther, 2007 COMPLICAÇÕES Diagnóstico: Contagem de células do LA 9 PBE >250 neutrófilos/mm3 (Nível de evidência: 1b,; recomendação: A) 9 Cultura do LA pode estar negativa em 60% dos casos, e quando positiva os agentes mais comuns são Escherichia coli e Klebisiella sp Tratamento: 9 Cefalosporina de 3ª geração: Cefotaxima por 5 dias (Nível de evidência: 1a; recomendação: A) Amoxicilina + clavulanato Albumina 1,5g/min nas primeiras 6 horas e 1g/kg no terceiro dia (Nível de evidência: 2b; recomendação: B) 9 9 Moore K P, Gut, 2006; Kuiper J J, Netherlands Journal of Medicine, 2007 Kuiper J J, Aliment Pharmacol Ther, 2007 COMPLICAÇÕES Profilaxia: 9 Deve ser realizada devido a alta recorrência em 1 ano (70%) e a alta mortalidade (30-50% em 1 ano e 25-30% em 2 anos) 9 Primária: em pacientes com cirrose e hemorragia digestiva, e ascite com baixo teor protéico (< 10g/L) Secundária: após o primeiro episódio de PBE 9 9 Quinolonas: Norfloxacino 400 mg/dia ou ciprofloxacina 500mg/dia Nível de evidência: 1c; recomendação: B Moore K P, Gut, 2006; Kuiper J J, Netherlands Journal of Medicine, 2007 Kuiper J J, Aliment Pharmacol Ther, 2007 COMPLICAÇÕES Síndrome Hepato–renal (SHR) Caracteriza-se pela vasoconstrição renal e progressiva insuficiência renal Incidência: 10% nos pacientes hospitalizados A probabilidade de desenvolver SHR é de 20% no primeiro ano e de 40% em 5 anos 2 tipos: Tipo1: Mais grave Insuficiência renal se desenvolve em 1-2 semanas Geralmente ocorre após fator desencadeante Tipo 2: insidiosa 9 9 Kuiper J J, Aliment Pharmacol Ther, 2007; Arroyo V, Hepatology, 2003; Peres- Ginès M D, N Engl J Med, 2004 COMPLICAÇÕES Critérios para o diagnóstico de SHR Fonte: Père-Ginés M D, N Engl J Med, 2004 COMPLICAÇÕES Sobrevivência em pacientes com cirrose e ascite refratária e SHR tipo1e 2 Fonte: Père-Ginés M D, N Engl J Med, 2004