Síntese de actualidade económica e empresarial Brasil- Asia-Pacífico Setembro do 2006 Henrique Altemani de Oliveira, Grupo de Estudos Ásia-Pacífico – PUC/SP www.asiapacifico.com Temas: - Novos Acordos com a China por ocasião da visita do Presidente da Assembléia Nacional da China ao Brasil (Embraer, Eletronorte, Evadin Indústrias Amazônia, Brasil Telecom) - Ampliação das Atividades da ZTE Corporation - Embraer – Aviões para a China - Índia – Etanol - Setor de semicondutores terá pacote de incentivos - Jetro – Investimentos em Projetos Ambientais - Bancos Brasileiros buscam ampliar participação no Mercado Chinês - Acordos de empresa Politec com o governo chinês - Grupo Tata – Perspectivas no Setor Automobilístico - Investimentos em Autopeças - Kanjiko do Brasil - Investimento em Lisina - Ajinomoto - Investimento em Celulares - Pantech Destaque Novos Acordos com a China Por ocasião da visita do Presidente da Assembléia Nacional da China ao Brasil foram assinados, em 30 de agosto, os seguintes contratos e acordos: • Contrato de aquisição, pela HNA Airlines, de 50 unidades do ERJ 190, fabricadas pela Embraer no Brasil; • Contrato de aquisição de 50 unidades do ERJ 145, fabricadas pela joint venture Harbin Embraer Aircraft Industry (HEAI), na cidade de Harbin, China, totalizando os dois contratos US$ 2,7 bilhões; • Acordo para a ampliação do escopo da joint venture entre a EMBRAER e a AVIC II na construção de aeronaves em Harbin; • Memorando de Entendimento entre a “Eletronorte” e o “Grupo CITIC”, com vistas à cooperação no que tange a construção de central hidrelétrica no rio Madeira; • Memorando de Entendimento entre a “ZTE Corporation” e a “Evadin Indústrias Amazônia”, para a fabricação de aparelhos de telefonia celular em Manaus; e • Memorando de Entendimento entre a “ZTE Corporation” e a “Brasil Telecom” para cooperação estratégica entre as duas empresas. Ampliação das Atividades da ZTE A ZTE anunciou em 30 de agosto sua nova estratégia de investimento e operação no Brasil. Ao declarar que o Brasil, em conjunto com a Índia, Rússia e África do Sul, foi escolhido como foco de expansão mundial da empresa nos mercados emergentes, o presidente da ZTE para a América do Sul, Scott Wang Shouchen, acrescentou que o Brasil foi escolhido como núcleo das operações na América do Sul. Assim, em primeiro, a ZTE indicou ter firmado contrato com a Evadin-Aiko para fornecer tecnologia e componentes para a produção de telefones celulares na Zona Franca de Manaus A fábrica da Aiko produzirá celulares em sistema CKD (montagem de peças importadas) e tecnologia da ZTE. Dessa forma, explicaram os dirigentes da empresa, será possível assegurar melhor atendimento após a venda, aproveitando a rede da Evadin-Aiko já existente no país - e contornar as resistências dos consumidores a marcas chinesas desconhecidas, como ainda é a ZTE no mercado de celulares no Brasil. Atuando no país com o fornecimento de equipamentos e serviços para empresas telefônicas (Vivo, Telefônica, Brasil Telecom e outras companhias menores) a ZTE também anunciou um acordo operacional com a prestadora de telefonia fixa e móvel Brasil Telecom. A ZTE, que produz de celulares e modems a equipamentos de infra-estrutura em telecomunicações, como estações radiobase para celulares, sinaliza que pretende, primeiro, sondar as demandas do mercado brasileiro e esperar pelo fortalecimento dos países vizinhos para confirmar futuros investimentos. Embraer – Aviões para a China Para alguns analistas, a decisão chinesa de encomendar 100 aviões à Embraer, com um valor estimado de cerca de US$ 2.7 bilhões, representa uma resposta às pressões da Embraer e do governo brasileiro que cobravam a promessa do governo chinês de encomendas significativas à Embraer, em contrapartida à instalação da fábrica da empresa em território chinês, associada a uma empresa local. Em comunicado à imprensa, o presidente da Avic II, parceira da Embraer na China, afirmou que "a encomenda de 50 aviões ERJ 145 pelo HNA garantirá a continuidade do sucesso da joint venture (entre a Embraer e a Avic II)”. Note-se que declarações anteriores da Embraer de que os pedidos da fábrica de Harbin estavam abaixo da expectativa, tinham alimentado rumores de que a empresa poderia fechar a unidade. De outro lado, pode ser também considerada como uma das contrapartidas exigidas pelo governo para regulamentar o reconhecimento formal da China como economia de mercado. Se assim for, a compra de aviões da Embraer deve ser acompanhada de novas pressões chinesas para a regulamentação do reconhecimento da China como economia de mercado, já que o Brasil tem se esquivado do compromisso com o argumento de que a China se comprometeu com uma agenda maior, de investimentos e remoção de barreiras a mercadorias, como carnes. Segundo nota da fabricante brasileira de aeronaves, seus jatos na China ajudarão o grupo HNA a melhorar a malha de aviação regional. As entregas dos ERJ 145 estão previstas para começar em setembro de 2007 e a do modelo 190, em dezembro do próximo ano. Ressalte-se que é a primeira vez que o Embraer 190 é comercializado à China continental. Esta aeronave será produzida na fábrica de São José dos Campos. Já o ERJ 145 será fabricado pela joint venture Harbin Embraer Aircraft Industry (HEAI), na cidade chinesa de Harbin (Maiores informações em: “Embraer cresce na China e disputa com Boeing e Airbus”. O Estado de S. Paulo, 01/09/2006 em http://www.estadao.com.br ; “Chineses cumprem promessa e adquirem 90 aviões da Embraer”. Valor Econômico, 30/08/2006, em http://www.valoronline.com.br ; “Embraer acerta venda de cem aviões à chinesa HNA em operação de US$ 2,7 bilhões”. Valor Econômico, 30/08/2006, em http://www.valoronline.com.br) Índia – Etanol A Índia anunciou que a partir de novembro deste ano estará adotando a mistura de 5% de etanol à gasolina, representando uma demanda de 550 milhões de litros de etanol por ano. A Índia é o principal mercado consumidor do etanol brasileiro, tendo adquirido 479 milhões em 2004. De acordo com o Secretario de Relações Exteriores, Shyam Saran, ‘com o petróleo em alta, o mundo pode aprender com a experiência brasileira’. Abrese assim uma nova possibilidade não só para a ampliação das exportações brasileiras de etanol, mas também para a exportação de tecnologia e de usinas de álcool. Durante o Fórum IBAS (Índia, Brasil e África do Sul), realizado entre 12 e 13 de setembro, foram assinados acordos de cooperação em energia renovável, dentro da estratégia brasileira de promoção do etanol e do biodiesel. (Ver mais em “Índia se abre para etanol brasileiro”. O Estado de S. Paulo, 10.09.2006, pg. B6 e em “Fórum do Ibas avança pouco nos acordos comerciais”. O Estado de S. Paulo, 14.09.2006, pg. B6 em http://www.estadao.com.br) Setor de semicondutores terá pacote de incentivos O governo brasileiro editou, em 1º. de setembro, a Portaria 558 definindo as prioridades de aplicações de recursos da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), que serão destinados à pesquisa e desenvolvimento na área de semicondutores, dentro do esforço do governo de política industrial voltada para a TV Digital. A intenção da medida é atrair investimentos dentro do desenvolvimento da TV digital no país. O projeto não é para atrair uma única companhia, mas qualquer investidor interessado em desenvolver projetos nessa área no Brasil. Desde o anúncio da política industrial, no início do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Ministério do Desenvolvimento vem preparando um pacote de incentivos. Israel, Japão, Coréia, Europa, Estados Unidos e Costa Rica foram visitados porque nenhum desses países atraiu investimentos sem dar fortes estímulos fiscais. (A íntegra da Portaria pode ser consultada em: http://www.convergenciadigital.com.br/inf/portaria_558.pdf) Jetro – Investimentos em Projetos Ambientais A Japan External Trade Organization (Jetro), agência de fomento ligada ao governo japonês, promoveu, durante a III Feira Internacional na Amazônia, o primeiro encontro com empresas e órgãos públicos do Amazonas para prospectar projetos ambientais de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). A próxima meta, para outubro de 2006, é trazer investidores da Jetro para avaliar projetos locais e saber quanto dos US$ 15 milhões reservados para este fim serão destinados para o Amazonas. O projeto MDL é um mecanismo de flexibilização previsto no artigo 10 do Protocolo de Kyoto (1997). A proposta de MDL consiste em que cada tonelada de CO2 equivalente deixada de ser emitida ou retirada da atmosfera por um país em desenvolvimento poderá ser negociada no mercado mundial, criando um novo atrativo para redução das emissões globais. De acordo com a gerente administrativa da Jetro, Maria Hidemi, um outro objetivo da organização é obter, além de conscientizar os brasileiros, a substituição de diesel muito utilizado no Brasil como combustível térmico pelo gás natural, biodiesel, álcool ou biomassa. (Fonte: “Jetro tem US$ 15 milhões para investir em projetos de MDL”. http://www.mdic.gov.br) Bancos Brasileiros buscam ampliar participação no Mercado Chinês Em decorrência do crescimento no relacionamento comercial e da crescente presença de empresas brasileiras e de seus funcionários na China, o Banco do Brasil e o Banco Itaú estão planejando aumentar sua atuação no mercado chinês. O Banco do Brasil, desde 2003, mantém um escritório em Shangai voltado ao financiamento do comércio exterior, por intermédio de um acordo com o Banco da China de troca de tecnologia, clientes e informações para cartas de crédito. No momento, está procurando ampliar suas parcerias com outros bancos chineses e também ampliar o atendimento de varejo, a clientes individuais. Já o Banco Itaú, também em Shangai desde o ano passado, quando abriu um escritório de representação em Shangai. O Itaú BBA faz empréstimos na China, mas fornece principalmente garantias no crédito de bancos chineses às empresas brasileiras, que são em sua maior parte desconhecidas. Politec: Uma História de Sucesso? Politec, empresa brasileira especializada em serviços de tecnologia da informação, acabou de assinar um acordo com o governo da China para participar do grupo de empresas que será responsável pela execução de seu censo demográfico. Os acordos com o governo chinês também marcam a abertura de uma fábrica de software em Shangai, com a constituição de uma joint venture com a companhia chinesa NeuSoft. Juntas, as empresas devem atender um contrato já fechado entre a NeuSoft e o Banco Agrícola da China. Para o primeiro ano de atividade, a companhia brasileira prevê investimentos de US$ 2 milhões na operação. A aproximação da Politec com a China teve início em maio de 2004, quando os diretores da companhia acompanharam a comitiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva até a China. De lá para cá foram sete viagens até a China, com uma bateria de participações em comitivas, encontros com empresários locais e reuniões com representantes do governo. Presente nos Estados Unidos desde 1998 e com mais de 22 clientes naquele país, a Politec pretende fazer da China não apenas uma porta de entrada para o mercado interno, mas também um ponto de presença para explorar contratos firmados com o Japão, onde montou um escritório recentemente e já atende dois clientes. (“Politec monta fábrica na China e prepara-se para fazer censo chinês”. Valor Econômico, 11.08.2006, http://valoronline.com.br) Grupo Tata – Perspectivas no Setor Automobilístico Desde 2002 no Brasil, a Tata Consultancy Services (TCS) apresentava o ambicioso plano de ter participação significativa no maior mercado de tecnologia da informação (TI) da América Latina. Hoje, a TCS Brasil é a subsidiária que mais cresce mundialmente. As possibilidades de crescimento da terceirização de serviços na indústria financeira, telecomunicações e indústria puxam as projeções otimistas que animam a empresa. De outro lado, representantes da Tata Motors - braço para a área automobilística da holding - têm vindo freqüentemente ao Brasil. Um de seus principais interesses é avançar no mercado de automóveis mais baratos (com preço estimado em torno de US$ 2.2 mil) e destinado aos mercados da Índia e dos países em desenvolvimento. Como iniciativa concreta, a Tata assinou recentemente (maio de 2006) uma joint venture com a Marcopolo para produção de ônibus ao norte de Delhi. A joint-venture terá 51% de participação dos indianos e 49% nas mãos da Marcopolo. Na parceria, a Tata fabricará os chassis e a Marcopolo entrará com a carroceria e a tecnologia. (Ver mais em “Grupo Tata inclui o Brasil em seu mapa”. Valor Econômico, 15/09/2006, em http://www.valoronline.com.br ; “Montadora Tata, da Índia, prepara carro de R$ 5 mil”. O Estado de S. Paulo, 12.09.2006), em http://www.estadao.com.br) Investimentos em Autopeças - Kanjiko do Brasil A Kanjiko do Brasil Indústria Automotiva Ltda., nova empresa, constituída pela Kanto Auto Works, de Kanagawa, em sociedade com a Toyota Tsusho Corporation, de Nagóia, irá instalar uma planta industrial no município de Salto (SP), para entrar em operação no primeiro semestre de 2008. A nova indústria de autopeças fabricará peças prensadas e outros insumos, inicialmente para a Toyota brasileira, e terá como finalidade aumentar o índice de nacionalização e a competitividade da marca, posteriormente será estendido o fornecimento para outras marcas de montadoras instaladas no Brasil. Investimento em Lisina - Ajinomoto Ajinomoto inaugurou nova fábrica em Pederneiras (SP), no dia 4 de agosto, e deverá empregar, inicialmente, cerca de 120 pessoas na produção de lisina para ração animal. O valor do investimento para a construção da fábrica em Pederneiras girou em torno de US$ 86 milhões. No local será produzida a lisina, que é uma espécie de aminoácido para enriquecimento de ração animal. Inicialmente, o volume de produção está previsto em 60 mil toneladas/mês. O produto deve ser vendido como matéria-prima para outras empresas. Sua produção será destinada ao mercado externo (Estados Unidos, China, Europa, América Central e Caribe). Investimento em Celulares - Pantech Uma equipe da coreana Pantech esteve no Brasil, no final de julho, para uma nova rodada de discussões sobre a implantação da unidade fabril de celulares da companhia no país. Esta é a terceira "força-tarefa" que o grupo manda ao país para definir detalhes do investimento estimado em US$ 50 milhões. Segundo o diretor de marketing e vendas da Pantech no país, Bruno Lee, "o Brasil é um mercado estratégico para a companhia", de onde ela também exporta para países da América Latina como Argentina, México e Chile.