ANÁLISE DAS DIFERENÇAS REGIONAIS DO ESTADO DO RIO
GRANDE DO SUL
Eduardo A. Tillmanni
Gabrielito Menezesii
Sabino da Silva Porto Jriii
Rodrigo Nobre Fernandeziv
Área Temática: Localização e distribuição regional do desenvolvimento
RESUMO
A Nova Geografia Econômica sugere várias formas de se medir à existência de
economias de aglomeração em uma região. Este estudo analisa duas destas formas, o
crescimento da renda per capita e a variação populacional para os municípios do estado
do Rio Grande do Sul no período de 1970 a 2000. Ademais, verifica-se a existência de
diferenças quanto à localização destas cidades, através da adoção de dummies que
identificam as regiões Norte e Sul do estado. Por fim, é permitida a interação destas
variáveis qualitativas com o nível de escolaridade adotada. Os resultados obtidos
indicam a importância da população, dos trabalhadores na indústria de transformação e
construção civil e do percentual de pessoas com ensino universitário na evolução
positiva da renda per capita e, no caso dos trabalhadores, também na variação
populacional. Ainda, encontram-se evidências da discrepância entre a evolução da renda
per capita entre as duas partes do estado e, também, uma menor variação populacional
nos municípios do Norte de maior número de indivíduos com ensino superior.
PALAVRAS CHAVES: Cidades; Disparidade Regional; Nova Geografia Econômica.
ABSTRACT
The New Economic Geography suggests a number of ways to assess the existence of
agglomeration economies in a region. This study analyzes two of these ways, the
growth in per capita income and population change, for the Rio Grande do Sul’s
municipalities during the period of 1970 to 2000. The analysis also examines the
existence of differences concerning the localization of these municipalities, thru the
adoption of dummies that identifies the North and South regions of this state. Further,
the interaction between this dummies and the schooling variable is explored. The results
indicate the importance of population, percentage of workers in the transformation and
civil construction industry as well as the percentage of people that possess a university
degree in a positive evolution of income per capita, and in the case of the workers, also
on the population’s variance. Still, the study finds evidence of the discrepancy between
the income per capita of the regions studied and, a less population variance in the North
municipalities with a larger number of individuals with a university degree.
KEY WORDS: Cities, Regional Inequality, New Economic Geography.
Classificação do JEL: R0, R11,C31
i
Mestrando em Economia Aplicada pela UFRGS. [email protected]
Doutorando em Economia Aplicada pela UFRGS. [email protected]
iii
Prof. Dr. do Programa de Pós-Graduação em Economia da UFRGS. [email protected]
iv
Doutorando em Economia Aplicada pela UFRGS. [email protected]
ii
2
1. INTRODUÇÃO
O estado do Rio Grande do Sul é marcado por um processo de desenvolvimento
econômico consideravelmente díspar entre suas regiões. Uma das formas de se avaliar
melhor esta situação é através da subdivisão do estado em Metade Norte e Metade Sul,
sendo a primeira considerada como as macrorregiões, conforme definido pelo IBGE
(2011), nordeste e região metropolitana de Porto Alegre, enquanto a última, é definida
como as macrorregiões sudoeste e sudeste do estado. Segundo Ilha et al. (2006), esta
desigualdade está ligada à dinâmica demográfica e a economias de aglomeração que se
instalaram nas proximidades de Porto Alegre e constituem um dos principais fatores
para a expansão e diversificação da Metade Norte e, em contrapartida, o menor
crescimento da Metade Sul.
No que se refere ao contexto de desigualdades regionais, a Metade Sul apresenta
um panorama em que suas estruturas produtivas são totalmente diferentes da Metade
Norte. Ao decorrer da evolução histórica, o desenvolvimento da Metade Sul delineiase, numa região onde predomina a pecuária e posteriormente a lavoura de arroz, o que
torna esta área predominantemente agrária. (ILHA et al.,2002)
Neste sentido, o processo de desenvolvimento da Metade Norte, revela uma
sociedade caracterizada por pequenas e médias propriedades que formam a base para a
presença de indústrias e consequentemente das grandes concentrações urbanas.
Corroborando com esta idéia, Monastério e Ávila (2004) ao estudar o crescimento
econômico gaúcho de 1939 até 2001, destacam que as aglomerações de alto crescimento
tendem a se localizar na região da Serra, parte da Metade Norte, e as de baixo
crescimento na região da Campanha, parte da Metade Sul do estado.
Dentro deste escopo, apenas três regiões concentram metade do PIB estadual em
uma área de apenas 5,24% do estado, sendo elas, Serra, Região Metropolitana de Porto
Alegre e Vale do Rio dos Sinos, pertencentes ao definido como Metade Norte
(OLIVEIRA, 2005). Conforme a base de dados disponibilizada pela FEE (2011) em
1970 a Metade Norte do estado era responsável por cerca de 53% do PIB estadual,
enquanto a Metade Sul por 16%, já no final do período analisado, houve avanço nesta
disparidade, resultando em 62% do PIB estadual relegados à Metade Norte e 12% para a
Sul.
É baseado nesta discrepância que este estudo busca analisar no estado do Rio
Grande do Sul, a evolução de duas variáveis capazes de medir economias de
3
aglomerações, sendo elas, as variações de renda per capita e populacionais no período
de 1970 a 2000. Assim, utilizam-se dummies que identificam as regiões denominadas
Metade Norte e Metade Sul, dando ênfase à escolaridade, definida como percentual de
pessoas que completaram o ensino superior em cada município.
Dentro deste contexto, é feita uma breve revisão de literatura sobre a Nova
Geografia Econômica e sobre alguns aspectos da teoria de crescimento econômico. Na
secção seguinte, elucida-se o método de análise aplicado, para posteriormente serem
apresentados os resultados e a discussão e, por fim, as considerações finais.
2. REVISÃO DE LITERATURA
O estudo sobre aglomeração ganhou novos rumos com os trabalhos de
Krugman (1991) e Krugman e Venables (1995), que buscaram compreender não só o
surgimento destas aglomerações como também ampliar o conhecimento sobre o
dinamismo que elas possuem. Estes estudos tiveram como objetivo mostrar como uma
região
consegue
endogenamente
se
tornar
diferenciada
entre
um
“centro”
industrializado e uma “periferia” agrícola, através da realização de economias de escala.
A ideia é que minimizando custos de transporte, as firmas manufatureiras tendem a se
localizar nas regiões de maior demanda, criando, um ambiente onde o centro será
formado por regiões que ofertam uma ampla gama de produtos diferenciados e
diversificados, enquanto as regiões que pertencem à periferia se especializam em
produtos de bem menos complexos.
Um elemento chave para a Nova Geografia Econômica é a introdução do
conceito de retornos crescentes de escala em seus modelos de estudo (BRAKMAN et
al., 2001). Esta definição se refere a uma situação na qual um aumento do nível de
produto implica em uma diminuição dos custos médios por unidade de produto para a
firma, e pode ser extrapolado para a indústria como um todo. No entanto, para que isto
ocorra é necessário um cenário de competição imperfeita, já que economias internas de
escala implicam certo poder de mercado.
Neste âmbito, os autores seguem Scitovsky (1954) ao fazerem a distinção entre
economias tecnológicas e pecuniárias, sendo esta primeira, referente às economias que
aumentam o produto total da indústria ao alterar a relação de tecnologia entre insumos e
produto. Sendo que a segunda, é transmitida pelo mercado por efeitos de variação nos
4
preços para a firma individual, que pode alterar sua decisão de produção, como no caso
de um grande mercado para insumos e de trabalhadores especializados.
Além disso, de acordo com Marshall apud McCann (2001) existem três fontes de
economias de escala, transbordamentos (spillovers) de informação, insumos não
transacionáveis e trabalhadores locais qualificados. A primeira, segue Romer (1986) que
trata a tecnologia como bem não-rival, e, portanto, beneficia a indústria do local como
um todo por possibilitar uma vantagem informacional de se estar em uma determinada
região. A segunda, refere-se a possibilidade de existência de algum insumo especial que
pode ser disponibilizado ao grupo de maneira mais eficiente do que se as firmas
estivessem separadas uma das outras, como é o caso de serviços financeiros e legais.
Por outro lado, o caso da qualificação dos trabalhadores locais, refere-se à redução de
custo na aquisição da força de trabalho por parte das firmas, que ocorre tanto no sentido
de quantidade de trabalhadores como também na capacidade dos mesmos em realizarem
as tarefas corretamente.
Desta forma, Glaeser (2010) relata que existem três maneiras de se medir o
sucesso urbano de uma região, bem como, através de altos salários locais, preços
imobiliários robustos e do crescimento populacional. A razão para tal, é que se a região
está prosperando, os empregadores deveriam estar mais dispostos a pagar salários
superiores aos trabalhadores locais, de modo que outros cidadãos estariam dispostos a
incorrem em gastos para terem acesso ao local, além de haver um número maior de
interessados em se mudar para tal região.
Em um trabalho que analisa o surgimento do cluster de pneus em Akron, nos
Estados Unidos, Buenstorf e Klepper (2009) sugerem que a Nova Geografia Econômica
atribui o surgimento de uma indústria a uma série de acontecimentos, muitos deles
ligados à casualidade, como ser o produtor inicial de uma inovação ou de se estar mais
bem preparado para o suprimento de uma demanda latente, como foi o caso da empresa
de pneus estudada no artigo com o surgimento do automóvel. Ainda, segundo os
autores, um outro elemento essencial é a geografia que pode funcionar como uma fonte
de vantagem competitiva devido à proximidade de mercados. Neste sentido, a
combinação destes fatores pode desencadear um processo capaz de levar as supracitadas
economias de escala.
Corroborando com este processo de surgimento de economias de aglomeração, a
extensa literatura sobre crescimento econômico que seguem Solow (1956) e tem como
alguns de seus principais estudos os de Romer (1986) e Lucas (1988), entende que o
5
crescimento da renda per capita é explicado através da eliminação dos retornos
marginais decrescentes ao capital. A forma pela qual isto se torna possível, segundo
estes modelos são através da acumulação de capital humano, que ocorre através da
educação e do learning by doing, como também, pelo papel de influência das idéias e da
tecnologia no crescimento econômico. Ainda, conforme Romer (1990) a educação tem
papel bastante significativo, pois é considerada como fonte de vantagem competitiva,
pela estimulação do desenvolvimento de novos produtos.
Assim, é através da união das visões da Nova Geografia Econômica e da teoria
neoclássica de crescimento, que Glaeser (1995) e posteriormente em Berry e Glaeser
(2005), aplicam um método que busca encontrar a significância de variáveis
educacionais, de custo de transporte, entre outras, no sucesso das economias de
aglomeração, conforme descrito na secção a seguir.
3. MÉTODO
No intuito de possibilitar a comparação temporal entre os diversos municípios
gaúchos, evitando as dificuldades impostas pelas emancipações ao longo do período
analisado, adotou-se o Sistema de Conversão Municipal. Este sistema é um método
desenvolvido pela FEE (2011) que possibilita a obtenção de uma base de dados
uniforme em relação aos 232 municípios gaúchos em 1970, sem ignorar as
emancipações que ocorreram nos períodos subseqüentes.
Esta conversão ocorre a partir do reconhecimento destas emancipações pelo
software, que neste caso, reverteu as variáveis de estudo para os municípios sede. Cabe
ressaltar, que apesar desta ferramenta, foram necessárias algumas exclusões, resultando
em uma amostra total de 219 municípios.
Por outro lado, para realizar-se a análise econométrica, foram feitos testes
estatísticos que se assemelham ao empregado em Glaeser (1995) e Glaeser et al. (2011)
na medição da relevância de diversas variáveis no desenvolvimento regional norteamericano. A equação abaixo apresenta o modelo base:
log Y2000, j  log Y1970, j   0  1Controles j   2 Dummies   3 Escolarida de j   j
Onde Y, é a variável explicada, representa o logaritmo da renda per capita ou o
da população de cada município j. Os controles utilizados são a população e a renda per
6
capita municipal em 1970 ambos em log, a distância da capital, medida em quilômetros
e em linha reta. Além do percentual de trabalhadores nas indústrias de transformação e
construção civil, que são tratados como ocupações devido a nomenclatura utilizada pela
própria FEE. A variável escolaridade é medida pelo percentual de pessoas com nível
superior completo em cada um dos j municípios. Todos os dados referidos acima, são
obtidos junto a Fundação de Economia e Estatística Siegfried Emanuel Heuser, FEE
(2011).
As dummies que seguem a definição de Ilha et al. (2002) de que a Metade Norte
é considerada como as mesorregiões Nordeste e Região Metropolitana de Porto Alegre,
totalizando 65 municípios na amostra. Já a Metade Sul, corresponde às mesorregiões
Sudeste e Sudoeste, totalizando 27 municípios. As definições de mesorregiões seguem o
estipulado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2011).
A idéia deste estudo é partir de um modelo geral, que possibilite a identificação
das variáveis que colaboram com o desempenho, tanto da renda como do fluxo
populacional, no período dos 30 anos da amostra. Em seguida, são incluídas as dummies
locacionais, na busca de se verificar alguma diferenciação dentre estas regiões.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Depois de descrita a importância das variáveis no sucesso do processo de
aglomeração e da discrição do método de análise dos municípios do estado do Rio
Grande do Sul, passa-se a considerar a variável renda per capita, uma das medidas
citadas por Glaeser (2010) como indicadora de sucesso do processo de urbanização da
Nova Geografia Econômica. Pode-se observar a aplicação do método descrito na seção
anterior para a variação da renda per capita municipal pela Tabela 1, onde cada modelo
é representado por uma coluna da tabela.
7
Tabela 1. Efeitos das Variáveis Controle na Variação da Renda Per Capita de 1970-2000.
Variáveis
Constante
População 1970
Renda per capita 1970
Distância da Capital
Ocupação Indústria e Construção Civil
Pessoas (%) com curso superior 1970
Dummy Norte
Dummy Sul
Modelo 1
Modelo 2
Modelo 3
6,6164***
(1,3002)
0,2332***
(0,0528)
-1,3726***
(0,2188)
-0,0153
(0,0455)
0,2048***
(0,0755)
0,1223**
(0,0568)
4,0940***
(1,4105)
0,3414***
(0,0508)
-1,2577***
(0,2111)
0,1438***
(0,0510)
0,1724**
(0,0735)
0,1109**
(0,0546)
0,3380***
(0,1210)
-0,6388***
(0,0929)
2,4468**
(1,0364)
0,3720***
(0,0483)
-1,0942***
(0,1800)
0,1459***
(0,0489)
0,1703**
(0,0734)
Pessoas com curso superior Dummy Norte
Pessoas com curso superior Dummy Sul
R²
0,2319
0,3648
Teste F
10,6491
16,8727
Num. Observações
219
219
Fonte: Elaborado pelos autores.
Obs. 1: *** significativo a 1%, ** significativo a 5% e * significativo a 10%.
Obs. 2: Erros padrão robustos à heteroscedasticidade entre parênteses.
-0,0618***
(0,0204)
0,1136***
(0,0164)
0,3541
19,9334
219
No primeiro modelo da Tabela 1, verifica-se o efeito total das variáveis de
controle na variação da renda per capita no Rio Grande do Sul de 1970 a 2000. Assim, é
possível notar que há um impacto positivo da população inicial e do percentual de
trabalhadores na de transformação e na construção civil, significativos a 1%. Os
coeficientes destas variáveis implicam que um aumento de 5%, por parte de qualquer
município, resultaria em um acréscimo de aproximadamente 1% no crescimento da
renda per capita durante o período analisado. Ainda, vale destacar a significância da
variável de educação, onde um acréscimo de 8% no percentual de pessoas com terceiro
grau completo resultaria em um aumento de 1% no crescimento da renda per capita.
Não obstante, a renda per capita no período inicial é significativa a 1% mas com
sinal negativo. Isto é condizente com a hipótese de convergência, segundo a qual,
economias com menores rendas per capita tenderão a crescer mais rapidamente que
economias mais ricas, o que levaria a uma convergência em termos de renda per capita.
No segundo modelo, são introduzidas as dummies referentes a cada uma das
partes do estado, no sentido de se averiguar diferenças na evolução da renda per capita
8
de um município situado em cada uma destas regiões. Observa-se que ambas dummies
apresentaram significância a um nível de 1% e também possuem o sinal esperado. Além
disso, pode-se observar que os valores dos coeficientes indicam que a magnitude de
perda da Metade Sul é superior ao ganho de se estar na Metade Norte.
Dentro deste contexto, no último modelo, mostra-se a interação entre as regiões
Metade Norte e Sul com o percentual de pessoas com nível superior cursado. Ambos
coeficientes apresentam significância a 1%, sendo o da Metade Norte com sinal
negativo e o da Sul positivo. Isto pode ser em decorrência da hipótese de convergência,
uma vez que municípios com maior número de pessoas com curso superior na Metade
Norte podem ser os de maior renda per capita, enquanto que na Metade Sul podem ser
àqueles municípios que mais evoluíram neste quesito.
A próxima variável que, segundo a Nova Geografia Econômica, mede o sucesso
no processo de aglomeração é a variação populacional. Na Tabela 2, altera-se os
modelos apresentados anteriormente incluindo-se esta proxy como variável dependente.
Tabela 2. Efeitos das Variáveis Controle na Variação Populacional de 1970-2000.
Variáveis
Constante
População 1970
Renda per capita 1970
Distância da Capital
Ocupação Indústria e Construção Civil
Pessoas (%) com curso superior 1970
Dummy Norte
Dummy Sul
Modelo 4
Modelo 5
Modelo 6
1,7080**
(0,6996)
-0,0426
(0,0269)
0,1005
(0,1054)
-0,1363***
(0,0308)
0,3056***
(0,0562)
0,0047
(0,0288)
1,1038
(0,6828)
-0,0276
(0,0268)
0,1315
(0,0998)
-0,0999***
(0,0374)
0,2819***
(0,0518)
-0,0016
(0,0277)
0,1428**
(0,0637)
0,0108
(0,0453)
1,0472*
(0,5695)
-0,0258
(0,0257)
0,1449
(0,0229)
-0,1021***
(0,0359)
0,2788***
(0,0492)
Pessoas com curso superior Dummy Norte
Pessoas com curso superior Dummy Sul
0,7004
0,7099
R²
67,4934
53,2098
Teste F
219
219
Num. Observações
Fonte: Elaborado pelos autores.
Obs. 1: *** significativo a 1%, ** significativo a 5% e * significativo a 10%.
Obs. 2: Erros padrão robustos à heteroscedasticidade entre parênteses.
-0,0240**
(0,0108)
-0,0005
(0,0082)
0,7099
61,5921
219
9
No quarto modelo, observam-se apenas os efeitos totais das variáveis controle
sobre a dependente. Esta estimação apresenta apenas os coeficientes significantes apara
distância à capital e para o percentual de trabalhadores da indústria e construção civil.
Ambos significativos a 1%, sendo o primeiro com sinal negativo, indicando que a
variação populacional é explicada negativamente pela distância dos municípios a
capital. Já, o coeficiente de trabalhadores na indústria de transformação e construção
civil indica que um aumento de 5% no número destes empregados chegaria a impactar
em 1,5% a mais de crescimento populacional para um município gaúcho.
Vale destacar, que a não significância do coeficiente para população inicial
valida a lei de Gibrat, segundo a qual, variações na população são independentes do
nível populacional inicial. Resultado semelhante ao encontrado por Glaeser et al.
(2011).
Desta forma, no quinto modelo, adicionam-se as dummies para cada região
visando identificar diferenças entre elas. Observa-se, no entanto, que apenas o
coeficiente referente à Metade Norte é significativo, e a 5%, denotando que houve um
crescimento mais acentuado da população nesta região, indo ao encontro com a teoria
da Nova Geografia Econômica.
No último modelo, quando se permite a interação das dummies com a variável
educacional, foi encontrada significância apenas para a Metade Norte. Por este
coeficiente ser negativo, há indícios de que em municípios da região norte onde havia
maior número de indivíduos com ensino superior, menor foi a variação na população
durante o período analisado.
Os resultados encontrados estão de acordo com Lisboa e Bagolin (2009) que ao
analisarem a desigualdade da distribuição da produção e a produtividade dos diferentes
setores de atividade no Rio Grande do Sul, no período entre 1970 e 2000, encontram
mudanças significativas em relação à distribuição do emprego no decorrer do período,
dando destaque aos setores de indústria de transformação e construção civil, o que
também pode ser verificado na Tabela 1.
Este fato também é visto no trabalho de Marquetti et al. (2005) que analisam as
diferentes taxas de crescimento dos municípios gaúchos, e encontraram que os
localizados na região nordeste possuíam uma renda per capita de longo prazo 25%
maior que os da região norte e 48% maior que os da região sul, atribuindo estas
diferenças à evolução desigual da acumulação de capital físico e humano, pela
especialização no setor industrial ou agropecuário e pelo crescimento populacional.
10
Assim, uma possível razão para a encontrada disparidade regional gaúcha pode
ser encontrada no estudo de Monastério et al.(2008) que ao examinar a distribuição
espacial das aglomerações produtivas e avaliar os efeitos de características locacionais
nos salários dos trabalhadores da indústria gaúcha, sugerem que existem elementos que
favorecem a concentração em torno do centro econômico do estado, localizado nas
proximidades de Santa Cruz do Sul, sugerindo ainda que o atraso industrial das demais
regiões do estado estaria mais ligado ao resultado de processos econômicos de
distribuição da atividade econômica no espaço do que de determinantes culturais ou
políticos.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise das economias de aglomerações, verificadas neste estudo corroboram
com a importância da população e da renda per capita no período inicial, além do
percentual de trabalhadores na indústria de transformação e construção civil e de
pessoas com grau universitário completo para a variação da renda per capita do Estado
do Rio Grande do Sul no período de 1970 a 2000.
Há também, indícios de uma significativa diferença da evolução destas
economias quanto à localização dos municípios no estado. Municípios da considerada
Metade Norte apresentaram crescimento da renda per capita no período analisado,
enquanto que os do Sul indicaram decrescimento. Quanto aos coeficientes que
representaram a interação da região com a população com ensino superior em 1970,
houve significância em ambos, no entanto, acredita-se que isto ocorra devido à hipótese
de convergência.
A segunda variável de medida de economias de aglomeração foi a variação
populacional. Nos modelos que buscaram verificar o impacto desta variável para o
estado como um todo foi encontrada significância para as variáveis distância da capital,
com sinal negativo, e para as ocupações na indústria de construção civil e
transformação. A primeira implica que houve maior crescimento populacional nas
regiões mais próximas a cidade e, a segunda, que este crescimento deu-se também em
cidades com maior participação industrial.
Na realização da distinção regional, encontrou-se significância apenas para a
variável da Metade Norte, indicando que esta região teve crescimento maior em sua
população, o que está de acordo com o postulado pela Nova Geografia Econômica. Por
11
fim, houve significância para interação entre as dummies regionais e a variável que
indicava a escolaridade apenas para a Metade Norte, implicando que municípios de com
maior número de pessoas com ensino superior apresentaram menor variação na
população durante o período de analise.
Deste modo, este estudo contribui com a análise da economia gaúcha através do
escopo da Nova Geografia Econômica, a idéia é que a partir destes resultados, aliado à
análises mais profundas das questões regionais, torne-se possível um maior
esclarecimento dos motivos que levaram a existência da discrepância encontrada no
estado do Rio Grande do Sul.
12
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ANÁLISE DAS DIFERENÇAS REGIONAIS DO ESTADO