0 UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC CURSO DE ARTES VISUAIS BACHARELADO CRISTIANE OLIVEIRA NETO O PROJETO DE MÓVEL INDUSTRIALIZADO CONTEMPORÂNEO E SUA HERANÇA HISTÓRICA DA BAUHAUS. CRICIÚMA, JULHO DE 2010. 1 CRISTIANE OLIVEIRA NETO O PROJETO DE MÓVEL INDUSTRIALIZADO CONTEMPORÂNEO E SUA HERANÇA HISTÓRICA DA BAUHAUS. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado para obtenção do grau de Bacharel, no Curso de Artes Visuais da Universidade do Extremo Sul Catarinense, UNESC. Orientador: Prof. João Luiz Rieth CRICIÚMA, JULHO DE 2010. 2 CRISTIANE OLIVEIRA NETO O PROJETO DE MÓVEL INDUSTRIALIZADO CONTEMPORÂNEO E SUA HERANÇA HISTÓRICA DA BAUHAUS. Trabalho de Conclusão de Curso aprovado pela Banca Examinadora para o Grau de Bacharel, no Curso de Artes Visuais da Universidade do Extremo Sul Catarinense, UNESC, com linha de pesquisa em Design Mobiliário. Criciúma, 01 de julho de 2010. BANCA EXAMINADORA Msc. João Luiz Rieth - Mestre - (Instituto Europeu Di Design de Milão) – Orientador Pof. Daniel Valentin Vieira – Pós Graduado - (Faculdade de Educação São Luiz de Jabuticabal – SP, Arte Educação Artística Aplicada) Prof. ª Margarete de Oliveira – Especialista em Gerenciamento Urbano (ULBRA - Torres) 3 Dedico esta pesquisa à todos que me deram apoio e souberam me ouvir e ajudar. Em especial ao meu orientador e amigo João Luiz Rieth, que me possibilitou adentrar caminhos para que pudesse chegar ao fim desta jornada. 4 AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus por ter-me dado força e ânimo; a minha mãe Maria, que esteve ao meu lado nos momentos de maior dificuldade e que acreditou que eu pudesse chegar ao fim de mais esta conquista; ao meu grande amigo André Ramilo, que teve muitos finais de semana perdidos em função de colaborar com minha pesquisa; por fim a minha amiga Dirlane Florentino, que me ajudou com assuntos burocráticos; também aos professores do Curso de Artes Visuais, que se fizeram presentes durante estes quatro anos, principalmente a João Luiz Rieth, que me orientou neste Trabalho de Conclusão de Curso; aos meus companheiros de trabalho que foram pacientes e me ajudaram, mesmo em certos momentos de minha ausência. À todos vocês meus sinceros agradecimentos. 5 “O significado das coisas não está nas coisas em si, mas sim em nossa atitude com relação à elas.” Antonio de Saint-Exupéry 6 RESUMO A presente pesquisa propõe buscar, na arte do séc. XX, os fundamentos para o design do séc. XXI. Investigar se ela pode ser utilizada no mundo contemporâneo. Busca também estabelecer questões de relação entre a estética da Bauhaus e o design de massa deste século, a fim de utilizar o design do projeto como ferramenta para a industrialização de produtos, pretende-se também, contribuir para o entendimento que leva a fundamentação do design no novo milênio. Como finalização da pesquisa, foi desenvolvida uma maquete de um “home theater”, que procura trazer em seus traços a ideia principal da Bauhaus, que era implantar a produção em massa através da industrialização. Palavras-chave: Design; Industrialização; Produção em massa. 7 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 01 – Cadeira, Gerit Reitveld – 1923............................................................ 13 Figura 02 – Composição em vermelho, amarelo e azul, Mondrian – 1921........ 14 Figura 03 – Cadeira Vermelha e Azul, Rietveld Thomas G. – 1917 ..................... 15 Figura 04 – Cadeira, Hector Guimard, 1898 - 1900................................................20 Figura 05 – Cadeira, Charles Rennie Mackintosh – 1917 .................................... 21 Figura 06 – Cadeira, John Graz - 1949 .................................................................. 22 Figura 07 – Bauhaus de Weimar, 1919 - 1923....................................................... 24 Figura 08 – Bauhaus de Dessau, 1925 - 1930 ....................................................... 25 Figura 09 – Bauhaus de Berlim, 1932 - 1933 ........................................................ 26 Figura 10 – Xilogravura, Catedral gótica símbolo manifesto da Bauhaus......... 27 Figura 11 – Cadeira, Mies Van der Rohe - 1925.................................................... 28 Figura 12 – Cadeira Wassily, Marcel Breuer – 1925 - 1926.................................. 28 Figura 13 – Kandisnky - representação da cidade Perdizes ............................... 32 Figura 14 – Cadeira, Mies van der Rohe - 1928 - 1931 ......................................... 37 Figura 15 – Cadeira, Marcel Breuer – 1922 - 1924 ................................................ 38 Figura 16 – Cenas retiradas do documentário, Bauhaus: 1919 – 1933 .............. 45 Figura 17 – Linha Transversa, kandisnky - 1923.................................................. 56 Figura 18 – Linha Transversa, kandisnky - 1923 ................................................. 56 Figura 19 – Composição em vermelho, amarelo e azul, Mondrian – 1921 ........ 57 Figura 20 – Composição em vermelho, amarelo e azul, Mondrian – 1921 ........ 57 Figura 21 – Projeto teste 01, Cristiane Neto - 2010 .............................................. 58 Figura 22 – Projeto teste 02, Cristiane Neto - 2010 .............................................. 59 Figura 23 – Projeto teste 03, Cristiane Neto - 2010 .............................................. 59 Figura 24 – Projeto final, Cristiane Neto - 2010 .................................................... 60 8 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO....................................................................................................... 09 2 METODOLOGIA.................................................................................................... 11 3 PRIMEIROS CONCEITOS .................................................................................... 13 3.1 Grupo De Stijl .....................................................................................................13 3.2 Neoconcretismo ................................................................................................ 17 3.3 Art Nouveau Art Déco ....................................................................................... 19 4 BAUHAUS ............................................................................................................. 24 4.1 História da Bauhaus ......................................................................................... 24 4.2 Períodos históricos da Bauhaus ..................................................................... 30 4.2.1 A fase de fundação (1919 – 1923)................................................................ 32 4.2.2 A fase de consolidação (1923 – 1928).......................................................... 36 4.2.3 A fase de desintegração (1928 – 1933) ....................................................... 38 5 ARTE E DESIGN ................................................................................................... 40 6 DESIGN E SUA FINALIDADE............................................................................... 42 7 REVOLUÇÃO INDUSTRIAL ................................................................................ 45 7.1 expansão da organização industrial ............................................................... 48 7.2 Industrialização e a Bauhaus........................................................................... 50 8 OBRA IDEIA PRINCIPAL ..................................................................................... 54 8.1 Definição da obra..................................................................................... ........ 54 8.2 Refêrencias para a obra ................................................................................... 55 8.3 Desenvolvimento do produto .......................................................................... 57 8.4 Ambiente............................................................................................................ 58 8.5 Formas............................................................................................................... 58 8.6 Linhas Retílineas .............................................................................................. 58 8.7 Texturas............................................................................................................. 59 9 CONCLUSÃO........................................................................................................ 62 10 REFÊRENCIAS .................................................................................................. 63 9 1 - INTRODUÇÃO Esta pesquisa aborda a arte do século passado como veiculo para a base do design atual, tendo como problema: De que forma os parâmetros estéticos da Bauhaus refletem no projeto de móveis industrializados? Pretende-se mostrar os pontos da arte do séc. XX, que, mesmo após décadas de desaparecimento da escola Bauhaus, ainda se fazem presentes no design contemporâneo. Neste a confecção do objeto evidencia, através da composição, o design atual e ao mesmo tempo o valor estético, abordado na escola da Bauhaus no séc. XX. A pesquisa traz à tona a passagem da arte artesanal para o design, que por sua vez, tem grande influência sobre a industrialização na tiragem em grandes escalas, alcançando o desejo de consumo das grandes massas diante da customização de preços, com a aplicação de materiais de baixo custo e redução de mão-de-obra. No mercado de hoje, é fato que os produtos estão se tornando bastante parecidos entre si. Isso se deve, principalmente, ao avanço tecnológico alcançado na última década, o qual possibilitou o desenvolvimento de projetos muito semelhantes com diferenças mínimas. A pesquisa é dinâmica, expressa seus objetivos através de fácil entendimento, para que se tenha um grande interesse na área do desenvolvimento de projetos e de apuração quanto ao gosto em design, envolvendo a arte e a criação diante da industrialização. Além da tecnologia e da globalização estar em fase crescente, um dos grandes desafios a serem enfrentados pelas organizações no século XXI, é a necessidade de estarem preparadas para agir em um ambiente de mudanças céleres e constantes. Assim, as empresas moveleiras precisam ser receptivas a inovações em todos os aspectos, visualizando o design como oportunidade crescente, de forma a torná-las eficazes dentro e fora da organização. Só assim elas conseguirão garantir sua sobrevivência num mercado altamente competitivo. Essa saturação do mercado exige que o design seja desenvolvido atendendo o gosto do consumidor, ajudando-o a decidir por um determinado produto. 10 Os objetivos desta pesquisa se dirigem para o bom entendimento do design de produtos industrializados, visando a sua limitação com a arte, compreendendo como a arte do século passado influencia tanto um produto do século atual. Toda essa fundamentação será exibida em uma maquete, onde o design imposto para a produção do mesmo será dentro dos parâmetros da pesquisa. 11 2 - METODOLOGIA A pesquisa de TCC intitulada: “O projeto de móvel industrializado contemporâneo e sua herança histórica da Bauhaus”, encontra-se na linha de pesquisa e contextualização da linguagem tecnologia e design do Curso de Artes Visuais, da UNESC. Por ser uma pesquisa fundamentada no design de produtos, será uma pesquisa qualitativa, pois, nessa área, fica difícil uma quantificação. A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se preocupa, na ciência sociais, com nível de realidade que não pode ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes o que correspondem a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis. (DESLANDES; GOMES; NETO, 2004, p.210). Dessa forma, o levantamento bibliográfico será base da fundamentação para esta pesquisa, envolvendo a área do design das artes e do comportamento do séc. XX, com o objetivo de ampliar os dados para a pesquisa, impondo limites ao tema. Seguindo essa linha de raciocínio, será classificada como uma pesquisa bibliográfica e exploratória. Estas pesquisas tem como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vista a torná-lo mais explícito ou a constituir hipóteses. Pode-se dizer que estas pesquisas têm como objetivo principal o aprimoramento de ideias ou a descoberta de intuições. Seu planejamento é, portanto, bastante flexível, de modo que possibilite a consideração dos mais variados aspectos relativos ao fato estudado. (SELLTIZ, 2008, p.41) A análise interpretativa dos teóricos possibilitou a definição de algumas variáveis que compõem os conceitos de atividades industriais do séc. XX, o desenvolvimento dos artesões do mesmo século, definindo limitações entre a arte e o design. Seguindo a geometrização e abstração das formas, implantadas pela essência da escola de Walter Gropius, criar-se-á um protótipo reduzido de um “home theater”, no qual sua constituição se dá através de formas geométricas assimétricas e equilibradas, visando à industrialização do séc. XXI. 12 Mediante a afirmação acima, esta pesquisa será concluída enfatizando vínculos entre a arte e o design industrial, criando um produto que faz parte do nosso cotidiano, com fundamentação artística. 13 3 – PRIMEIROS CONCEITOS 3.1- O de Stijl De Stijl, “o estilo" em neerlandês, começou oficialmente nos Países Baixos, em 1917, quando Mondrian, Van Doesburg e o arquiteto Bart Van Der Leck lançaram a revista que deu nome ao movimento artístico conhecido por Neoplasticismo, movimento estético que teve profunda influência sobre o design e as artes plásticas. Tendo Van Doesburg como editor, a revista de tiragens pequenas, mas importantes, foi o eixo de coesão dos artistas, apresentando ideias e teorias sobre a nova concepção artística apresentada. Figura 01: Gerit Reitveld – 1923. Fonte: http://www.zap.com.br/revista/imoveis/2009/03/ 16 maio. 2010. Esse movimento defendia uma total limpeza espacial para a pintura, reduzindo seus elementos mais puros e buscando suas características mais próprias; foi, pois um dos mais idealistas movimentos artísticos do século XX; o Stijl nome dado por Piet Mondrian à sua filosofia artística foi um dos grandes marcos da arte moderna e viria a ter uma decisiva importância para a dialética das artes 14 visuais. A necessidade de ressaltar a criação humana da arte fez com que os artistas desse movimento usassem apenas as cores primárias, como: o vermelho, amarelo, azul, em seu estado máximo de saturação; assim como o branco e o preto inexistentes na natureza: o primeiro sendo presença total; o segundo ausência total de luz. Talvez a maior importância do De Stijl tenha sido a de haver transferido a vida moderna para um novo equilíbrio estético derivado das pesquisas dos seus artistas. Mondrian foi um dos artistas que soube atingir o máximo do acabamento estilístico, através de uma elementar e despojada pobreza de combinações cromáticas e espaciais, seguindo um ritmo verdadeiramente obsoluto, representando um documento de indiscútivel importância para todo o campo do moderno gosto gráfico. Com base nesse novo conceito, as formas elementares e as cores primárias foram transformadas no ponto de partida para o design. Figura 02: “Composição em vermelho, amarelo e azul” – Mondrian – 1921. Fonte: http://www.dgdriscoll.com/ajerk/pictures/ 17 maio 2010. Com a passagem de Van Doesburg pela Bauhaus, em 1922, e com a publicação da coleção de livros chamados des Bauhausbücher, possíveis de serem encontradas nas obras de Mondrian e outros, o De Stijl e o novo movimento neoplasticismo fundem-se com o movimento Bauhaus. Assim, que os nomes Moholy-Nagy e de Van Doesburg, Gropius, Vantongerloo, Mies van der Rohe e de 15 Hannes Mayer se tornam sinônimos de pureza estilística. Dessa união, uma das mais fortes personalidades do século XX surgiu: Ludwig Mies van der Rohe. O design, como é conhecido hoje, constitui uma evolução natural das belas artes. Ele está relacionado a uma série de movimentos artísticos do século passado. Um dos movimentos que contribuíram para este desenvolvimento foi o de Stijl, movimento artístico conhecido também por Neoplasticismo. Os designers desse grupo consideravam as cores primárias e a formas geométricas assimétricas e equilibradas como componente essencial para a construção da forma e do espaço. Também definiu linhas verticais relacionadas à vitalidade, e horizontais à tranqüilidade. Figura 03: Rietveld Thomas G. Cadeira Vermelha e Azul. 66 x 83 x 88 – 1917. Fonte: hhttp://tipografos.net/designers/rietveld.html. 17 maio. 2010. O de Stilj colocou o neoplasticismo como a estética baseada na abstração geométrica, que concebia um estilo coletivo capaz de integrar arte e técnica pela utilização das ordens vertical e horizontal, das três cores primárias, mais os tons preto, branco e cinza. 16 O neoplasticismo procura expressar o invariável e a variável simultaneamente e em equivalência, propondo o sistema de objetos que constitui o campo temático e de indagação do desenho industrial. No futuro, a realização da expressão plástica pura na realidade palpável substituirá a obra de arte (...) a cultura das formas particulares já atingiu o apogeu e já se completou; agora, em arte, assistimos ao início da cultura das relações puras. (PIGNATARI, 2004, P18) Um dos grandes nomes a citar nesse movimento é o de Mondrian, que, por sua vez, na segunda temporada parisiense fez do ambiente urbano o espaço propício ao desenvolvimento de sua proposta neoplástica. O espaço urbano permite-lhe experimentar, de tal maneira plural, a relação entre abstração e ortogonalidade, pois é nele que descobre o ritmo vital da existência contemporânea. É observando o mar que Mondrian marcha inexoravelmente para a sobreposição de cruzes vertical-horizontais que se tornam axioma nas obras posteriores, “O mar” (1913- 14), “O mar (1914) e “Cais e oceano” começa uma série de composições abstratas (cerca de 15 obras) que Mondrian chamava de “sinfonia”, todas com movimentos verticalhorizontal”. (ROHDE, 1997, P131) Desejando implantar arte numa sociedade dominada pelo artifício, na qual tudo se converte fragmentariamente em forma e em cor, ou seja, em imagem plástica, Mondrian confere ao neoplasticismo a tarefa de estabelecer um equilíbrio entre os aspectos materiais e morais da civilização mecânica. Não se trata, contudo de uma, relação unilateral, pois a vida urbana, na qual a forma cede espaço ao ritmo aberto, é um estimulo ponderável a estruturação de puras relações cromáticas e formais, de uma concepção compositiva cercada de forças contrastantes da experiência renovadora. A sua contraposição não era outra senão a introdução de planos diagonais na estrutura da composição. Pretendia, também, com seu elementarismo, superar a oposição, de modo que a consciência tivesse acesso a uma nova polaridade, sendo esta formada pela unidade de natureza que tem como contrapartida um novo e superior princípio de vida. É nessa mesma direção que aponta Munari, quando propõe que o designer deixe de lado a velha imagem do artista e se mostre capaz de estabelecer o elo perdido entre a arte, como uma coisa viva, e o público. Isso significa que o designer deve transportar uma concepção corrente de arte para o âmbito da 17 coerência formal, buscando a beleza na lógica da construção, na precisão das soluções encontradas e na exatidão de um projeto capaz de produzir um objeto igual a si. O artista de hoje é definido como um projetista dotado de sentimentos estéticos, de um método que não se confunde com formulas existentes de antemão, uma vez que as soluções encontradas devem responder aos materiais, às técnicas e às funções de que o objeto é portador. 3.2 - Neoconcretismo Movimento artístico surgiu no Rio de Janeiro, em fins da década de 1950, como reação ao concretismo ortodoxo. Trata-se de uma tomada de posição crítica ante o desvio mecanista, a arte concreta. Mas trata-se também de defender uma arte não figurativa, de linguagem geométrica, contra tendências irracionalistas de qualquer espécie. Mondrian, Pevsner e Maliêvitch são os pontos de referências básicos a tal movimento. Através de nomes, como Ferreira Gullar e Reinaldo Jardim no Rio de Janeiro, e Theon Spanudis, em São Paulo, as tendências repercutiram francamente. A primeira exposição neoconcretista aconteceu no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, em 1959. Participaram da exposição, além dos três nomes citados acima, Amilcar de Castro Franz Weissmann, Ligia Clark e Lígia Pape. No mesmo dia de abertura da amostra, o suplemento dominical do jornal de Brasil, dirigido por Jardim, e que seria o órgão do movimento, estampava o manifesto neoconcreto, assinado pelos sete expositores. As ideologias construtivas, com suas literaturas evolucionistas da história da arte, suas propostas de integração social e suas teorias produtivas, foram inícios da área neoconcreta. O neoconcentrismo permanece interessado na espécie de positividade que está no centro da tradição construtiva: a arte como instrumento de construção da sociedade. A vertente construtiva da arte moderna foi a que mais se deteve na evolução de linguagem da arte, procurando formalizar, com rigor, uma visão progressiva dessa prática tradicionalmente ligada ao pensamento irracional. Ela é 18 uma espécie de produtivismo da arte, e sua tentativa é de racionalizá-la, trazê-la para o interior da produção social, uma tarefa positiva na nova sociedade de produção tecnológica. Nascida de uma necessidade de exprimir a complexa realidade do homem moderno dentro, da linguagem estrutural da nova plástica, nega a validez das atitudes cientificistas e positivistas em arte e rompe o problema de expressão, incorporando as novas dimensões “verbais”, criadas pela arte não figurativa construtiva. O espaço neoconcreto é, pois, um espaço ativo. As formas e cores não se distribuem numa superfície apenas como uma dinâmica visual, exercício de percepção informada por Gestalt, formas e cores são integrantes de um espaço que transcendem o perceptivo. (Oiticica; Favaretto, 1992, p41) O racionalismo rouba da arte toda a autonomia e substitui as qualidades intransferíveis da obra de arte por noções de objetividade cientifica; assim, os conceitos de forma, espaço, tempo, estrutura, na linguagem das artes, estão ligados a uma significação existencial emotiva e afetiva e são confundidos com a aplicação teórica que deles fazem à ciência. A arte abstrata surgiu como uma medida a emancipação do trabalho de arte, uma afirmação de sua autonomia, diante da realidade empírica, um reconhecimento de seu índice de formalização, necessários, afinal, a todo processo de conhecimento. Mas, enquanto os diversos informalismos abstratos aproximaramse mais e mais do sensível, do mítico, do plano romântico das inspirações, as tendências do construtivismo radicalizaram o seu caráter racional, abstrato, buscando integrá-la à ciência e à técnica no processo de transformação industrial. A arte deixava, então, o seu lugar à sombra fora da história e passava a integrar a ordem dos saberes prático e do conhecimento positivo. A leitura construtiva da arte representou a seu tempo nos anos 30 um passado adiante, um passo decisivo abriu caminho a uma consciência inteligente dos processos de produção em arte contribuiu para desvelar a sua opacidade. (BRITO, 1999, P 14) As tendências construtivas surgiram como respostas possíveis, no plano da produção e, por seção, no plano da ação cultural, a essa ruptura ocorrida em dois eixos: no da própria inteligência do trabalho de arte e de modo de sua inserção e circulação social. Dessa forma, o seu desenvolvimento obedece, linearmente, a 19 essa dupla preocupação. A questão sempre foi para as ideologias construtivas construir uma arte que pudesse servir de modelo à própria construção social. Ao contrário de outros movimentos, como dadaísmo e o surrealismo, os movimentos de extração construtiva operaram, sempre e necessariamente, no sentido de uma integração funcional da arte na sociedade. A sua intervenção é de natureza didática e, como todas as forças liberais, acredita na educação com “e” maiúsculo. Seu esforço mais constante é no sentido de enfatizar o ambiente social, e educar as massas. Imediatamente, após seu surgimento, esses movimentos assumiram um caráter quase messiânico, que trazia a nova ordem plástica adequada à nova harmonia social. Implicados nas malhas da ideologia do desenvolvimento tecnológico na crença de uma progressiva racionalização das relações sociais, tendo como horizonte uma hipotética sociedade, arte e a vida estabeleceram, entre si, vínculos concretos e descomprometidas composições de classes. As tendências construtivas, em conjunto, representavam, acima de tudo, uma ação no sentido de repor um lugar social para a arte. Mais um lugar de fato ao sol, do lado das realizações práticas, e não mais a sombra, perto do sonho e do inconsciente, num terreno mítico. Para isso, transformaram a estética num ramo de saber prático, com a aplicação cotidiana, isto é, tentou, ao máximo conquistar essa posição em seu contato com os estados e as instituições. 3.3 - Art Noveau, Art Déco O art nouveau das artes visuais e aplicadas ultrapassou o ecletismo novencentista por via de uma síntese das tendências estéticas de fim de século, síntese que foi capaz de exprimir organicamente a vida moderna como tal. Essa é uma expressão francesa que designa estilo decorativo dos fins de séc. XIX e início do séc. XX, onde se encontram traços naturalistas. As características mais marcantes são predominantemente, ornamentos sinuosos, rebuscados. Seu estilo decorativo e romântico foi moda na Europa, entre 1880 e 1925. 20 O movimento art nouveau lutou contra as revivências e, ao mesmo tempo, tentou acabar com a distinção entre, assim chamadas, Belas-Artes e Artes Aplicadas. Figura 04: Hector Guimard, 1898-1900. Fonte: http://facesartnouveau.blogspot.com. 18 mai. 2010. Mas o ornamental deixa sempre à mostra uma fissura em relação ao substancial a que se aplicam as fissuras que só a interpenetração espaço-temporal da arte moderna veio a soldar de todo, como aconteceu no domínio das artes plásticas, com a síntese expressionista ou cubista, e, no domínio da arquitetura e do design, com o funcionalismo. Esse é um ponto polêmico ente profissionais de diversas áreas. Isso porque, alguns o definem como o somatório das características e particularidades que representam em uma determinada época, um modo de viver associado a um momento histórico. 21 Figura 05: Charles Rennie Mackintosh – 1917. Fonte: http://commons.wikimedia.org/wiki/Main_Page. 18 mai. 2010 Seriam, assim, classificados e identificados como estilo, o art déco e o modernismo. Segundo essas definições, entendem e relacionam os materiais, as formas, as linhas, as cores e as soluções criativas nas diferentes épocas em que estavam acontecendo na sociedade, na economia e na tecnologia. Fica, portanto, fácil entender por que as caras vitorianas eram cheias de bibliotecas e ornamentos, pois, para a época, a quantidade de livros estava diretamente relacionada à importância, à sabedoria e à riqueza das pessoas. Os livros começaram a ser produzidos em quantidade e deveriam estar expostos nas casas para entestar conhecimento. Os ornamentos também representavam riqueza, já que uma verdadeira legião de novos ricos passara a fazer parte das camadas altas da sociedade, pretendida, por meio das riquezas das habitações, tornar público o sucesso alcançado. Porém, mesmo dentro desse estilo, existia uma tensão entre as duas soluções formais mais ou menos distintas. A primeira defendia o uso de formas orgânicas, extraídas da representação realista ou convencional da natureza. A segunda promovia a geometrização das formas, caminhando cada vez mais em direção ao uso de motivos abstratos e/ou lineares. (CARDOSO, 2003,112) 22 A art nouveau prosseguiu no início do séc. XX, mas após a Exposição Internacional de Paris, em 1900, o estilo deteriorou-se à medida que as manufaturas tentavam uma versão sintética para a produção em série. Tal movimento deu lugar à art déco, expressão francesa das décadas 20 e 30, nome originado de uma exposição, Des Arts Decoratifs, evento realizado em Paris, no ano de 1925, para comemorar um novo estilo aplicado às artes. Foi alvo desse estilo as embalagens de produtos, a moda, o design de objetos e a arquitetura. Enquanto a art nouveau enfatizava o ornamento, que realçava a forma, a art déco dava ênfase aos padrões de superfície quebrados ou interrompidos, que negavam a forma. A art déco teve como inspiração a geometria asteca e egípcia, e o estilo substituiu o art nouveau, que tinha formas curvas e femininas. Sua caracterização proveio da distribuição de formas retangulares dos elementos arquitetônicos, pelas janelas geminadas e pelos altos relevos decorativos. Sua grafia aportuguesada era menos usual que a francesa. O designer suíço John Graz, 1891-1980, por exemplo, presente na exposição com uma cadeira harmônica, apresenta trabalho com influência art déco em seus móveis, principalmente nas formas do alumínio polido, que molda os braços e o suporte do encosto do móvel. Figura 06: John Graz, 1949. Fonte: http://veronicaregert.blogspot.com/2009/04/anos20-john-graz.html. 7 junh. 2010. De modo extremamente esquemático, essas duas grandes tendências podem ser vistas como correspondendo a posições antagônicas em relação à crescente inserção das máquinas na vida cotidiana. Essas duas visões estéticas 23 iriam se chocar, com crescente acrimônia, durante as primeiras décadas do séc. XX e, a partir do surgimento do futurismo, do cubismo, do construtivismo e do neoplasticismo, as autoproclamadas vanguardas da Bauhaus iriam se alinhar de maneira militantes do lado da máquina como ideal estético e parâmetro para a produção, reprodução artística. 24 4 - BAUHAUS 4.1 - História da Bauhaus A escola de Bauhaus foi fundada em 1919, com o nome de Staatliches Bauhaus, em Weimar por Walter Gropius, devido à integração com a academia de Belas-Artes de Weimar (Sachsische Hochschule for Bildente kunst) e a escola de artes aplicadas de Weimar (Sachsische kunstgewerbechule). Hoje ela é chamada simplesmente de Bauhaus, que combina o verbo alemão bauen (construir) com o substantivo haus (casa), submetendo a melhor junção da escrita com a pronúncia Bauhaus (casa para construir). Não possui uma tradução certa, mas certamente refletia o ideal de seu fundador. Figura 07: Bauhaus de Weimar 1919 -1923. Fonte: http://bauhausarq.blogspot.com/. 16 mai. 2010. Gropius visava a um novo período da história e com o fim da Primeira Guerra Mundial, decidiu criar um novo estilo que refletisse essa nova época. Esse estilo visava à funcionalidade, ao custo reduzido, à criação em massa e à industrialização. A Bauhaus é considerada a escola de maior influência do século XX. Tornou-se a escola com tendência e ideologia mais contemporânea de sua época. A história da Bauhaus implica o surgimento do design moderno e das relações tensas entre a arte e a tecnologia das máquinas. 25 Figura 08: Bauhaus de Dessau 1925 -1930. Fonte: http://bauhausarq.blogspot.com/. 16 mai. 2010. Era uma escola financiada pelo governo e teve uma história tumultuada. Suas notórias tendências socialistas e seu espírito radical eram vistos com hostilidade pelas autoridades locais, principalmente em razão da Revolução Socialista Alemã, de 1918, o que o obrigou a mudar-se de Weimar para Dessau, em 1925. Quando Gropius se desiludiu e renunciou à direção, em 1928, sendo sucedido pelo intelectual marxista Hannes Meyer, de 1928 a 1931, este foi então sucedido por Mies Van der Rohe que dirigiu a escola até seu fechamento, em 1933. O governo nazista sentiu-se incomodado com os novos valores do modernismo, criados pela escola da Bauhaus e decidiu fechá-la. O manifesto e o programa da Bauhaus formulavam as prioridades de Gropius que eram colocar a arquitetura no centro dos debates sobre design, elevando o estato das artes e ofícios ao nível das belas artes. Seu outro objetivo era implantar a organização fundada em Munique, aperfeiçoamento dos produtos industriais e artesanais. em 1907, almejando o 26 Figura 09: Bauhaus de Berlim 1932 -1933. Fonte: http://bauhausarq.blogspot.com/. 16 mai. 2010. Segundo o Gropius, “... o objetivo último de toda atividade criativa, é a construção” (ARTHUR, 2001, P 12). Em 1923, Gropius proferiu a conferência intitulada “Arte e Técnica”, um novo conceito que reavaliava a estética da escola. Em 1926, publicou princípios da produção de Bauhaus, sintetizando a conferência e demonstrando que o design deve ser ligado à máquina, para se situar neste tempo. Foi nesse momento ideológico que a Bauhaus mudou-se para Dessau. A nova escola almejava o desenvolvimento de uma nova estética de design. Assim, estava preparada para enfrentar o século XX e resolver questões inerentes às circunstâncias da cultura material posterior à Primeira Guerra. Seguindo a linha de pensamento desse novo conceito, a técnica e os materiais industrializados podiam ser usados no design, entrando em sintonia com a realidade do mundo real. 27 Figura 10: Xilogravura, Catedral gótica que representava o manifesto da Bauhaus. Fonte: http://bauhausarq.blogspot.com/. 16 mai. 2010. Nas oficinas de Dessau, seguia-se o ideal e a síntese de Gropius, onde especialistas em artes e ofícios ensinavam, lado a lado, em mútua cooperação. Desta forma, a Bauhaus de Dessau começou a funcionar em um complexo de edifícios projetados por Gropius. Equipamentos, mobiliários e acessórios foram criados e produzidos por membros da escola, mestres e alunos. Os projetos elaborados baseavam-se em princípios de funcionalidade. Dessa forma, a Bauhaus ficou conhecida como protagonista da estética “da máquina”, que promoveu a simplificação e a padronização das formas, que deixam a característica sinuosa e se baseiam na interseção de linhas e planos verticais e horizontais, formando uma linguagem absolutamente integrada, que deu início ao design de tempos modernos: a forma geométrica, a linha traçada à régua, a paleta de poucas cores e o espaço antes positivo que negativo. O ideal de Gropius: de fazer a escola voltada para a arte na indústria nunca foi realizada totalmente. Direcionado na fabricação de protótipos para a produção industrial, resultou em um número pequeno de produtos à época, o que fez ficar desiludido. A linguagem do aço tubular teve grande peso do ponto de vista cultural, e a Bauhaus de Dessau incorporou uma série de protótipos criados por Marcel Breuer e Mies van der Rohe, muitos desses chegando a ser produzidos. Tal experiência com aço tubular gerou um novo padrão no design de móveis. 28 Figura 11: Mies Van der Rohe - 1925. Fonte: http://arcdesigners.blogspot.com/2009_11_01_archive.html. 11 jun.2010. O uso do aço tubular como material para design foi à manifestação máxima do diálogo no começo do século XX, com a máquina. Tratava-se de um produto industrial, que viria a se tornar um traço característico da modernidade, na época considerado pelas fábricas de aeronaves como material econômico, leve e estruturalmente adequado. Tornou-se, então, um material de impacto visual modernista, apreciado nas residências pela aparência, pelo baixo custo de produção e outros fatores. Figura 12: Marcel Breuer, cadeira Wassily – 1925-1926. Fonte: http://bauhaus-belasartes.blogspot.com/ 11 jun. 2010. . Dessa forma pode-se dizer, que a sua ideia baseava-se na simplicidade e na multiplicidade, esboçando uma diretriz de construção funcional. Gropius, contudo só conseguiu transformar essa ideia em realidade cerca de quinze anos 29 mais tarde, na Bauhaus de Dessau. As propostas para a fundação de um estabelecimento docente como centro de orientação artística para a indústria e artesanato, que Gropius apresentou ao Ministério do Estado de Weimar, em 1916, deixam entrever que, mesmo decorridos tantos anos, o programa que propunha a Bauhaus continuava a lhe parecer válido, embora curiosamente debilitado e obscurecido por visões do passado, devido à Segunda Guerra Mundial. Gropius achava que o design deveria partir de uma abordagem humanista e que a capacidade de resposta do design na forma e no processo, as necessidades da sociedade era fundamental. Ele postulava que o designer devia ser artista e artesão, enxergando na abstração moderna as formas básicas consentâneas com as exigências racionais da produção em massa. (ARTHUR, 2001, P 20) Em sua primeira parte, essas propostas nada mais eram do que uma repetição de ideias já conhecidas do Werkbund, associação de artistas, artesãos e publicitários, fundada em Munique. O seu objetivo era melhorar o trabalho profissional mediante a educação e a propaganda através da ação conjunta da arte, da indústria e do artesanato. Nesse sentido, Gropius incentiva o artista a entenderse de forma inteligente com a máquina e a colocá-la a seu serviço. Ele considerava garantida a qualidade da produção mecânica, se o artista participasse desde a criação da forma a ser reproduzida. Isso porque o artista possui a capacidade de insuflar uma alma ao produto inanimado da máquina, não um suplemento voluntário, mas deve se transformar em um componente imprescindível de toda a obra da indústria moderna. Na segunda parte das propostas, ele faz referências vagas e indiretas a um estabelecimento docente criado pelo Estado como centro de orientação artística para a indústria e o artesanato. Parece, então, ter-se verificado em Gropius uma radical mudança de opiniões. Tal mudança refere-se à tentativa de se adaptar aos artesões e aos pequenos fabricantes em Weimar, conforme deixa aberta sua aspiração a uma aproximação da escola à atividade empresarial prática já existente, na medida em que os alunos trazem para a escola o material com que trabalham nas oficinas, ainda que se possa entrever, nessa atitude, manobra tática para conseguir mais facilmente a confiança dos fabricantes. Formemos... uma nova corporação de artesão, sem a pretensão separadista de classes, que quis erigir um altivo muro entre artesãos e artistas! É preciso que desejemos, que concebamos e que criemos juntos 30 a nova construção do futuro, que será, numa forma única, arquitetura e escultura e pintura... (RAINER WICK,1989,P34) Sem dúvida, a explicação para esta mudança de orientação está ligada a circunstâncias temporais específicas. Os acontecimentos da guerra e os transtornos dos primeiros tempos do pós-guerra abalaram profundamente as convicções de Gropius quanto à máquina e quanto à doutrina progressista a ela ligada. Assim, sob a impressão de uma profunda e generalizada perda de sentimento, Gropius estava imbuído da esperança utópico-romântica de poder dar sentido e direção ao comércio, mediante uma volta à Idade Média. Há de salientar que a Bauhaus, em sua fase inicial, não se nutre apenas dessa nostalgia pelas formas de vida medievais, mas está fortemente impregnada pelas ideias do Conselho de Trabalho para a Arte, um grupo de artistas e intelectuais engajados no socialismo revolucionário, formado em Berlim depois da revolução de novembro de 1918. Esse grupo, a que pertenciam, entre outros, Bruno e Max Taut, Adolf Behne e Walter Gropius, presidente a partir de 1919, preocupavase em novamente ancorar a arte ao povo. “Arte e povo devem constituir uma unidade! A arte não mais deve ser deleite de uns poucos, mas a felicidade e a vida da massa!” Este é um dos objetivos sociais fundamentais que Gropius introduziu na Bauhaus. (RAINER WICK,1989,P36) Gropius conduziu o conhecimento social indispensável para além dos limites de sua classe, ao considerar a crescente consciência de classe até então oprimida como pressuposto necessário para a arte vindoura. Os oprimidos tinham de conscientizar-se de sua opinião em relação à classe dominante, despojar-se das normas éticas e estéticas herdadas e dar a sua um conteúdo espiritual próprio. 4.2 - Períodos históricos da Bauhaus Para a representação do desenvolvimento histórico da Bauhaus, várias são as possibilidades de se dividir em fases o período compreendido entre 1919 e 1933. Uma delas consiste na divisão, segundo os diretores da Bauhaus, de sorte que se pode falar de uma era Gropius, que foi de 1919 a 1928; uma era Hannes Meyer, de 31 1928 a 1930; e uma era Mies Vander Rohe, que se iniciou em 1930 e teve término juntamente com a escola de Bauhaus, em 1933. Uma outra forma de divisão pode ser derivada das três diferentes cidades em que a Bauhaus teve sua sede: Bauhaus de Weimar, 1919 a 1925; Bauhaus de Dessau, que predominou do ano de 1925 a 1932; e a Bauhaus de Berlim, que teve um breve contexto de 1932 a 1933. Levando em consideração aspectos estilísticos primários, Wulf Herzogenrath sugere uma divisão em cinco fases, seguindo uma sequência de acontecimentos. Primeiramente encontra-se a expressionista, individual, que tinha por objetivo o artesanato. Entre os nomes dessa época encontramos Itten, Schreyer, entre outros. Esse período teve influência na Bauhaus de Weimar, que foi de 1919 a 1921. A segunda fase formal, que enfatizava as formas e as cores básicas, teve como influentes personagens dessa fase Kandinsky e Theo van Doesburg, juntamente com Mondrian. Esta fase também aconteceu na Bauhaus de Weimar, que iniciou no ano de 1922 e se estendeu até o penúltimo ano da Bauhaus. A terceira fase foi considerada a fase funcional, a primeira fase do trabalho conjunto com a indústria. Moholy-Nagy foi um nome forte nesse período. Iniciou-se em 1924 e teve término em 1928, com o reinado de Gropius. Essa fase teve origem na Bauhaus de Weimar e se prolongou até o terceiro ano da Bauhaus de Dessau, em 1928. A analítica marxista foi a quarta fase em procedência, com Hannes Meyer. Sua transição foi de 1928 a 1930, na Bauhaus de Dessau. Por fim, a quinta fase foi a fase da consciência do material, da estética, sob a direção de Mies van der Rohe, a mais influente sobre as oficinas da Bauhaus, que foi de 1930 até 1933 com o término da escola de Bauhaus, em Berlim. Embora se tenha uma divisão trifásica, analisa o ponto de vista histórico ideológico e chega a outros recortes de tempo; portanto, das divisões trifásicas feitas segundo os períodos de direção e as cidades de localização. De acordo com tal análise, distinguem-se a primeira fase de fundação (1919 - 1923), uma fase de consolidação (1923 - 1928) e uma fase de desintegração (1928 - 1933). Por ora, questões de ordem pedagógicas serão tratadas com brevidade nesse panorama histórico. 32 4.2.1 - A fase de fundação (1919 – 1932) Em 1919, Gropius chamou à Bauhaus, três artistas bastante diferentes: o pedagogo de arte e pintor suíço Johannes Itten, que desde 1911 mantinha, em Viena, um curso de educação formal; o pintor norte-americano Lyonel Feininger; e o escultor e gravador alemão Gerhard Marcks. Até o ano de 1922, seguiram-se as contratações de Georg Muche, Oskar Schlemmer, Paul Klee, Lothar Schreyer e Wassily Kandisnky. Na primavera de 1923, Itten desligou-se da Bauhaus, e Laszlo Moholy-Nagy entrou em seu lugar. Tais são os contornos externos dos primeiros anos da Bauhaus, caracterizada como a fase de fundação. Esses artistas vanguardistas tinham a intenção de mudar a orientação intelectual das antigas escolas, através dos seus ensinamentos, tornando a arte uma parte evidente da vida diária. Figura 13: O quadro de Kandisnky usado como partitura para o percurso de carro por Perdizes. Fonte: http://lat-23.net/kbp/kbp_processo.html. Apesar da intenção de Gropius, ter sido o treinamento em todos os ramos do design, principalmente na arquitetura, a maioria desses artistas, inicialmente recrutados, eram pintores, e, além disso, ligados ao expressionismo. Durante os primeiros anos da Bauhaus, o expressionismo influenciou fortemente a escola. Gropius desejava que a escola estivesse aberta às influências de todos os 33 movimentos contemporâneos, mais a conciliação entre esses movimentos foi bastante difícil. A situação era instável, inicialmente porque o corpo docente formado era muito heterogêneo e não demorou muito para que se mostrasse ilusória a tentativa de fazer com que os professores integrados a Bauhaus, que seguiram a orientação acadêmica da antiga Escola Superior de Artes Plásticas, assumissem o comprometimento com o programa da Bauhaus, progressista demais para eles. As inúmeras dificuldades, que disso se derivam, não cessaram nem mesmo depois que os antigos professores se desagregaram da escola e fundaram sua própria escola superior, onde se lecionava a tradição acadêmica. Com isso levantou-se, então a questão de importância vital para a Bauhaus, acerca de quais dois institutos rivais poderiam reivindicar os direitos ligados à herança das antigas escolas do Grão-Ducado, uma questão que acabou sendo solucionada em favor da Bauhaus. O manifesto imposto pela Bauhaus, apresentava os objetivos da escola, seu currículo e os requisitos de admissão para os alunos. Na proclamação de fundação, Gropius não impôs nenhuma referência à máquina, e foi somente em 1923, que a Bauhaus, explicitou seu interesse na produção mecanizada. Até então, os métodos de ensino da escola eram vinculados totalmente ao artesanato. Paralelamente à incompatibilidade entre os membros do corpo docente e os acadêmicos da Bauhaus recrutados da vanguarda artísticas daquela época, como Feininger Macks e Itten, havia, ainda, na Bauhaus desta primeira fase, outro foco de conflito condicionado estruturalmente, decorrente da ordenação dos postos e hierarquias na Bauhaus. Na época de Weimar, a formação dos alunos, nas oficinas, processava-se numa espécie de “sistema dual”. À frente de cada oficina, estavam sempre dois diretores, um artista e um artesão ou, na terminologia da Bauhaus, um mestre da forma e outro do artesanato. Apesar de as declarações programáticas de Gropius, no documento de fundação da Bauhaus, representarem um hino em louvor ao artesanato, a hierarquia social da Bauhaus, estabelecida nos estatutos, não reconhecia aos mestres artesãos qualquer competência decisiva. No Conselho de mestres, só estavam representados, com direito ao voto, os mestres da forma. Aos mestres artesãos caberia somente a função construtiva. Essa subordinação dos mestres artesãos aos mestres da forma, que forçosamente viria a gerar tensões, mostra claramente que, na fase inicial, apesar da 34 supervalorização retórica do artesanato e de todas as suas programações, cujo objetivo era a desmistificação da imagem tradicional do artista, a prioridade ainda recaía sobre o criador autônomo, o artista que defendia exclusivamente o sentido teórico da arte. Decisiva para a estabilização da Bauhaus e sua fase de criação foi a contribuição Johanns Itten, visto que o curso elementar, introduzido por ele transformou-se em elemento estável na doutrina da Bauhaus, provocando, assim, pelo menos em parte, uma formalização do sistema de ensino ainda indefinido no programa da Bauhaus. Um mérito dos mestres artesãos era o conhecimento que possuíam dos materiais, e com suas experiências práticas, o fato de terem impedido o retrocesso da Bauhaus, diante do objetivo de buscar uma mediação entre arte e artesanato. Também impediram que o pensamento da Bauhaus desviasse em direção a uma academia de elite da vanguarda. A Bauhaus, em sua fase inicial, estava longe de ser um instituto de formação, onde se concretizasse a noção da obra de arte total sob as asas da arte da construção. Nesse sentido, paradoxalmente, faltava, nos primeiros anos, não apenas um departamento de arquitetura, que deveria ser o eixo de rotação da Bauhaus, segundo sua ideia inicial, como também a coordenação entre as diversas oficinas. Em seus primeiros anos, a Bauhaus viu-se submetida a uma prova particularmente difícil, devido ao conflito Gropius – Itten, que se prolongou até o ano de 1923, devido ao ponto de vista estrutural que cada um tinha em relação ao conceito de vida fundamentalmente diferente. Todo esse conflito entre a arte autônoma e o objetivo de criação só teve fim com o desligamento de Itten da Bauhaus. Embora Itten tivesse contribuído para a estabilização do instituto, através das implantações do curso preliminar, não encontrou a compreensão de Gropius. Ele via, nessas tendências, o perigo de um retrocesso sectário à torre de marfim da arte, pois temia desviar-se do beneficio dos objetivos centrais da Bauhaus. Isso porque o desejo fundamental de Gropius consistia precisamente em conferir um novo lugar, na sociedade, ao artista que se tornava socialmente apátrido no séc. XX, que permitisse atuar socialmente e de forma construtiva, na configuração da realidade. 35 O manifesto da Bauhaus, falava em vários ateliês, mas eles só puderam ser montados aos poucos, devido às frequêntes dificuldades financeiras da escola. Durante a Primeira Guerra, muitos dos equipamentos das oficinas existentes na Kunstgewerbeschule foram extraviados ou destruídos devido à guerra. Gropius, era incessante na busca de clientes industriais, que fizessem encomendas a Bauhaus, possibilitando ganhos e, consequentemente, sustentabilidade à escola. Itten era contra a intervenção do escritório de Gropius entre os negócios rentáveis da escola; assim, começaram as primeiras divergências entre os dois. Em 1922, Gropius modificou a orientação do programa original da escola, que valorizava principalmente os ofícios, passando a valorizar mais a produção industrial. Nesse período, a Bauhaus produziu dois modelos de casas. Elas foram construídas e mobiliadas, em grande parte, pelos ateliês e oficinas da escola. Gropius e Meyer projetaram a Casa Sommerfeld, construída entre 1920 e 1921; Muche e Meyer projetaram a Casa Experimental Bauhaus, para a Exposição Arte e Tecnologia, da Bauhaus, em 1923, Gropius também elaborou uma série de casas, concebidas como protótipos, para serem construídas nos arredores de Weimar. Essas casas não foram realizadas de momento, sendo construídas apenas como as casas dos mestres na Bauhaus de Dessau, em 1926. A casa Sommerfeld, foi uma intervenção do escritório de Gropius com a escola, fabricada em Berlim, com madeira recuperada de um navio destruído pela guerra, visando à economia de materiais. A decoração interna da casa ficou a critério dos alunos da Bauhaus: as cortinas de Dörte Helm; os móveis de Marcel Breuer; os vitrais de Josef Albers; as paredes do ateliê de pintura mural; as esculturas de Joost Schmidt. Momentos pós-guerra, a Bauhaus encontrava-se muito próxima das tradições do artesanato manual e, consequentemente, dos mestres de carpintaria. Ainda assim, a preocupação de Gropius era didática, e visava à continuidade entre o trabalho artesanal e a arte, tendo como objetivo final a indústria. 36 4.2.2 - A fase de consolidação (1923 – 1928) Após a saída da de Itten, Gropius convidou Lászlo Moholy-Nagy, para substituí-lo no curso preliminar e assumir o curso de metalurgia. Josef Albers dividiu a tarefa com Moholy-Nagy, na substituição de Itten, mantendo os princípios básicos do curso preliminar Vorkus. A formação da personalidade individual, contudo foi diminuída, transformando a didática essencialmente experimental e formativa de Itten em uma procura formal mais direta. A entrada de Moholy e a convocação de Kandinsky, em 1922, gerou um fortalecimento das relações de lealdade e o fim das divisões sectária dos primeiros anos. O Instituto passou por um período de estabilização interna, em 1925, quando foram incorporados ao corpo docente alguns jovens mestres formados na Bauhaus. Através desse processo de inclusão de antigos aprendizes em cargos de direção, ficou assegurada a conformidade de objetivos e a continuidade dos trabalhos desenvolvidos na Bauhaus, como consequência da dupla qualificação artística e artesanal dos jovens mestres. Foi possível, então, acabar com o conflito do sistema de direção dual das oficinas. Esse processo de reorganização, em cujo contexto há que se observar também as alterações de denominações realizadas com vistas à eliminação de conotações de proximidade com a arte, encerrou-se, em 1927, com a direção de um departamento de arquitetura, dirigido por Hannes Meyer. A Bauhaus saiu evidentemente fortalecida com essa forma de reorganização, de tal forma que o período compreendido entre 1923 e 1928, época em que saíram Gropius, Moholy, Heerbert e Marcel Breuer, pôde ser perfeitamente caracterizado como a fase de consolidação. Dessa forma, a Bauhaus foi tornando-se mais e mais uma instituição de ensino e de produção de protótipos industriais. Estes, se por um lado, deveriam ser orientados para a realidade da produção industrial, por outro eram dirigidos para atender às necessidades sociais de uma camada mais ampla da população. Na Bauhaus, as oficinas mais influentes eram as de marcenaria e as de metal. Desde 1920, Marcel Breuer era aluno da Bauhaus e se tornou mestre da oficina de metal, em 1925. Com o desenvolvimento do mobiliário em tubos metálicos, a Bauhaus 37 conseguiu uma ruptura no mobiliário funcional, inclusive na produção de massa dos produtos. Inspirado no guidão curvo de sua bicicleta, Breuer começou a estabelecer uma relação com as cadeiras Thonet. Todo o aço utilizado na fabricação de cadeiras ganhou uma maior resistência com a aplicação de material tencionado, como tecidos, trançados e couro. Com isso, foi-se desenvolvendo um novo tipo de acento, cuja técnica logo foi aplicada em mesas, armários, estantes, escrivaninhas, camas e outros móveis combinados. Figura 14: Mies van der Rohe. 1928 -1931. Fonte: http://bauhaus-belasartes.blogspot.com/ 11 jun. 2010. Notoriamente, a Bauhaus, a partir de 1923, transformou-se em um estabelecimento de ensino, sobretudo num centro de produção, cujo ponto central era o projeto e a produção de protótipos para a indústria. Dessa forma, a dependência do dinheiro do governo nazista para sustentação do instituto, foi o menor possível. 38 Figura 15: Cadeira Lattenstuhl Marcel Breuer - 1922-1924. Fonte: http://bauhaus-belasartes.blogspot.com/ 11 jun. 2010. Com a eliminação do artesanato da pedagogia de ensino da Bauhaus, desenvolveu-se um funcionalismo rígido, desposado, que já se fez notar em 1923, na famosa exposição da Bauhaus, a primeira grande mostra pública do instituto. Na segunda fase, foi desenvolvido o termo funcional em teoria e prática, onde o domínio das necessidades era levar a sério as questões do consumo em massa. Nessa segunda fase da Bauhaus, a arte artesanal não aplicada seria reduzida em favor de se privilegiar as tarefas de configuração, em parte, pelas tarefas de design solicitadas pela indústria. A Bauhaus transforma-se, então, em uma escola superior da forma, enfatizando a normalização, a fabricação em série, a produção em massa; assim virou padrão nos trabalhos na Bauhaus. Para esse desenvolvimento, um grande nome citado: o do suíço Hannes Meyer. Este em 1927, passou a ser diretor do departamento de arquitetura e fundamentou uma formação sistemática e cientifica para a arquitetura. 4.2.3 - A fase de desintegração (1928 – 1933) Em 1928, Hannes Meyer foi renomeado diretor da Bauhaus e nessa época, foram introduzidas novas disciplinas e oficinas na escola, como: fotografia, 39 plástica, psicologia. Meyer sempre manteve com intuito de defender um engajamento social dos arquitetos e designers. Socialmente engajado e adverso a toda a sorte de esteticismos, Meyer expôs, com toda clareza, suas ideias sobre o tema “Bauhaus e a sociedade”, que impunha a criação e a construção como uma única coisa. Enquanto criador, sua atividade era condicionada socialmente, e o âmbito de suas tarefas era marcado pela sociedade, cujo trabalho era servir o povo. Assim, o último objetivo da Bauhaus era o amalgamento de todas as forças criadoras de vida numa configuração harmônica da sociedade. O designer deve servir ao povo, isto é, satisfazer suas necessidades elementares no âmbito da habilitação com produtos adequados. Seguindo essa linha de pensamento, a Bauhaus abandonou, definitivamente, a ideia de uma escola de arte e tornou-se absolutamente imperiosa a ideia de um local de produção voltado à satisfação de necessidades sociais. O departamento de arquitetura assumiu, então, o ponto central da Bauhaus, ainda que não obedecendo ao sentido de fundação visado por Walter Gropius, e sim como um departamento de grande autonomia, desatrelado dos demais departamentos com exceção da oficina de acabamento. Isso gerou um enfraquecimento dos pintores inclusos a Bauhaus e, com isso, o conceito inicial de uma escola de arte foi liquidado definitivamente. Muitos artistas deixaram a Bauhaus, inclusive Meyer, em 1930, debaixo das pressões políticas que eclodiam na Alemanha, e emigrou para Moscou com doze alunos. Com a desintegração de Schlemmer, em 1929, e de Klee e Kandinsky, em 1931, cresceu uma forte hostilidade sobre Meyer. Por motivos políticos, Meyer foi substituído, em 1930, por Mies van der Hohe. Naquela época, Mies já tinha se conceituado como um dos mais reputados arquitetos da época. Como decorrência da derrota dos sociais democratas de Dessau, nas eleições municipais de 1932, a Bauhaus viu-se forçada, pela terceira vez, a buscar um novo local para estabelecer sua sede, situada agora em Berlim como instituto privado, ocupando as instalações de uma antiga fábrica de telefones. No ano seguinte, porém os nacional socialistas puseram fim definitivamente à Bauhaus, difamada como centro de cultura comunista, então em 20 de julho de 1933; assim apenas alguns messes após a tomada de Adolf Hitler, seguia-se a autodissolução da Bauhaus. 40 5 – ARTE E DESIGN Como a arquitetura e a engenharia, o design costuma projetar determinados tipos de artefatos, se bem que as atividades sejam próximas e se misturem, às vezes, na prática. A distinção entre design e outras atividades que geram artefatos móveis, como artesanato, artes plásticas e artes gráficas, têm sido preocupações constantes para os forjadores de definições. Também o anseio dos designers de distanciarem o fazer artesanal ou artístico do design tem gerado prescrições extremamente rígidas e preconceituosas. Design, arte e artesanato têm muito em comum, e hoje, quando o design atingiu certa maturidade institucional, muitos designers começam a perceber o valor de resgatar antigas relações, como o fazer manual. Historicamente, porém, a passagem de um tipo de fabricação, em que o mesmo indivíduo concebe e executa o artefato, para um outro, em que existe uma separação nítida entre projetar e fabricar, constitui um dos marcos fundamentais para a caracterização do design. Segundo a conceituação tradicional, a diferença entre design e artesanato reside no fato de que designer se limita a projetar o objeto para ser fabricado por outras mãos ou, de preferência, por meios mecânicos, enquanto o artesanato, em uma única peça, na qual o próprio artesão a elabora e a executa. O termo forma e função, muito utilizados durante as fases de industrialização, permitem mais de uma interpretação e também uma analogia junto ao processo produtivo. Podemos analisá-los, inclusive, desvinculando-os dos famosos slogan “A forma segue a função”, de Louis Sullivan. Na nova era industrial, diferentemente do que se acontecia na artesanal, a forma vinha do artista, de suas referencias e suas inspirações. A função cabia ao mistos de operários e artesão que tinham somente a função de executar a obra como estabelecida previamente. (MORAES,1997,p30) Se é difícil precisar a data em que teve início a separação entre projeto e execução, é bem mais fácil determinar a época que o termo designer passou a ter uso corrente como apelação profissional, um emprego da palavra que permaneceu infrequente até início do séc. XIX, quando surgiu primeiramente na Inglaterra e, logo 41 depois, no continente europeu, um número considerável de trabalhadores que já se intitulavam designers. Esse período correspondia à generalização da divisão intensa de trabalho, uma das características mais importantes da primeira revolução industrial, sugerindo que a necessidade de estabelecer design, como uma etapa específica do processo produtivo e de encarregá-la a um trabalhador especializado, fazia parte da implantação de qualquer sistema industrial de fabricação. Os primeiros designers que têm permanecido geralmente anônimos, tenderam a emergir do processo produtivo e eram aqueles promovidos por quesitos de experiência ou habilidade a uma posição de controle e concepção, em relação às outras etapas da divisão do trabalho. Para alguns intérpretes da história do design, só é digno da apelação “designer” o profissional formado em nível superior. Mas tal interpretação se deve mais à questão de ideologia e de corporativismo do que a qualquer fundamento empírico capaz de sugerir que design e designer sejam produtos exclusivos de uma ou outra escola, do movimento modernista ou até mesmo do séc. XX, posições que não suportam minimamente o confronto com as fontes históricas disponíveis. 42 6 - O DESIGN E SUA FINALIDADE O design, em geral, tem como função básica aperfeiçoar aspectos ergonômicos, visuais e funcionais de produtos e serviços, tornando-os confortáveis e seguros; assim, gerando a satisfação de seus consumidores. Através do design, é possível agregar valor a um produto ou a um serviço, visando à conquista de novos mercados e ao desenvolvimento de produtos diferenciados. Uma atividade projetual de criação, recriação e avaliação de objetos, presentes no cotidiano das pessoas, onde assumem diversas formas e operam em diferentes níveis, pode ser aplicada a qualquer área da experiência humana, como princípio de sempre alinhar a forma à função. O design deve ser, primeiramente, funcional, procurando estabelecer o equilíbrio com a forma. Nessa medida, é necessário compreendê-lo em sua dimensão mais complexa, funcional e estética. Para entender e conduzir esse tipo de projeto, cabe ao designer o exercício integral de uma racionalidade investigativa sem discernimento apropriado. Isso porque toda situação de projetos de interiores exige uma complexidade estrutural, sendo matéria tão ampla, estendida aos domínios tão diversos. Ainda, nessa ordem de pensamento, é possível assumir o design como metáfora. Em função do contexto, a palavra pode adquirir significados variados, prevendo como determinante a função de realizar algo em momento futuro. A ação de projetar encontra-se sempre ancorada em algum tipo de intencionalidade; em última análise, projetar um ambiente implica planejar e definir com orientação e compreensão da natureza da necessidade do usuário, impondo ao sujeito dessa ação a apreciação do ambiente em suas múltiplas faces. Projetar um ambiente, seja qual for a área da atuação do designer, significa, antes de tudo, construir o problema em suas derivações espaciais quanto ao uso, quanto ao seu significado, quanto à necessidade do usuário, entre outras inúmeras implicações. A prática do design, no séc. XX, ainda comporta uma série de incompreensões sobre tudo a respeito da sua relação com a dinâmica social, onde o design é associado às intervenções de ordem estética e à prática artística. 43 Em prol de uma análise mais abrangente, design pode ser entendido como a atividade projetiva responsável pela definição das características dos objetos que povoam nosso cotidiano, não sendo, portanto, exclusivamente uma atividade profissional. (MAGALHÃES, 2003, 20) É determinado como princípio sempre alinhar a forma à função; no entanto, a forma, por si, não é importante. O design deve ser, primeiramente, funcional, procurando estabelecer o equilíbrio com a forma. Para que um designer obtenha sucesso com seu projeto, é preciso compreender como o mercado-alvo percebe e avalia seus benefícios e custos correspondentes. Uma vez que o bom design atrai a atenção, melhora o desempenho, reduz os custos e transmite valor para o mercado pretendido, seu projeto eventualmente será aceito com sucesso. O design é uma ferramenta que nos permite agregar valor a um produto industrializado, através [...] melhoria dos aspectos funcionais ergonômicos e visuais dos produtos, de modo a atender as necessidades do consumidor melhorando o conforto, a segurança a satisfação dos usuários. (CONFEDERAÇÂO DA INDÚSTRIA, 1998, P 9). A maioria das definições concorda que o design opera a função de registrar, configurar, formar, atribuindo forma material e conceitos intelectuais. Trata-se, portanto, de uma atividade que gera projetos, no sentido objetivo de planos, esboços e modelos. O profissional de designer, é habilitado para criar formas, que supram as necessidades exigidas, por determinada ação ou tarefa, para a concepção do projeto, auxiliando a decidir os espaços da edificação de forma a atender melhor às necessidades do cliente. Sendo assim, o designer entra em cena para fazer executar o projeto, através da escolha das cores, texturas, revestimentos, procurando sempre obedecer ergonomicamente aos padrões exigidos. Enfim, o profissional de design carrega um vasto conhecimento sobre como as pessoas habitam e usam os espaços planejados. A forma deve se adaptar à função, refletir e contribuir para o uso adequado do ambiente em questão. Entretanto a função não é determinante absoluto da forma resultante, já que inúmeras formas podem atender a uma mesma função, como por exemplo, diferentes formatos de mesa podem atender à função “espaço de comer”. 44 Ao projetar um ambiente, esse profissional visa, primeiramente, à segurança das pessoas que o utilizarão. A escolha correta de materiais, com o objetivo de evitar acidentes, é indispensável para um bom design. Sempre seguindo as necessidades e o estilo de cada cliente, as pessoas reagem diferentemente aos estímulos visuais. O espaço deve contribuir positivamente para o bem-estar de quem o ocupa. Portanto, o designer deve escolher minuciosamente os tipos de iluminação, materiais, cores, formas e texturas, buscando a harmonia do conjunto. 45 7 – REVOLUÇÃO INDUSTRIAL A revolução industrial não só transformou o artesanato tradicional, mas, com o aumento das inovações técnicas, fez surgir inúmeras indústrias que aplicaram processos mecanizados à produção de uma série de formas novas. Com os métodos da análise funcional desenvolvidos, foi possível facilitar a condições objetivas do projeto. A atitude social desta pesquisa fica evidente no trabalho do aluno da Bauhaus, convencido de que produtos de massa deveriam ser baratos, mas, ao mesmo tempo, bem desenhados e produzidos. Gropius formulou isto em 1929 da seguinte forma: “um objeto é determinado pela sua ‘essência’. Para ser projetado de forma que funcione corretamente – um vaso, uma cadeira, uma casa – sua essência precisa ser pesquisada; pois ele necessita cumprir corretamente sua finalidade, preencher suas funções práticas, ser durável, barato e bonito” (Bürdek, 2006, P 37). O design da Bauhaus foi essencialmente abrangido por um grupo de jovens arquitetos, cujo interesse central era a função dos produtos e os ambientes dos usuários. Com uma ruptura radical do século XIX, que valorizava a decoração e a pelúcia nas casas burguesas, dirigiam-se agora os designer para as questões tecnológicas. A fascinação pelos novos métodos de construção se traduziram em “moveis tipo”, que exploravam todas as novas possibilidades funcionais. Figura 16: Cenas retiradas do documentário “Bauhaus: 1919 – 1933”. Fonte: http://bauhausarq.blogspot.com/. 16 mai. 2010. 46 Assim como a produção em série e a comunicação visual de diversas formas, foram fortemente influenciados a teoria, a prática e o ensino do design, procurando encontrar um equilibrio entre as pretensões práticas e o funcionalismo no design da forma, que devia satisfazer as necessidades físicas e psíquicas do usuário, mediante os produtos. Nesse contexto, especialmente as questões de beleza e de forma eram essenciais. As construçõe de modelos e técnicas de representação têm como metas também a sensibilização, sendo perceptivos com experimentações de meios elementares da configuração de cor, forma, materiais, superfícies e acabamentos. À frente de tudo isso, encontra-se o desenvolvimento de produtos industrializados de massa, utilizados no cotidiano, na administração e na produção. Em contraste com os extremos irreconciliáveis da estética e da especialidade utilitária, os escritos do arquiteto alemão Gottfried Semper definiram uma teoria estética que aceitava a inevitabilidade da industralização e confrontava os problemas da inter-relação entre arte e indústria. Suas teorias eram baseadas em um amplo estudo de História, particularmente das artes aplicadas e suas técnicas. Isso o levou a concluir, em contraste com o pensamento acadêmico da época, que o estilo não é um amálgama das formas características de um período, mas “a elevação à significação artística do conteúdo da ideia básica” existente no design, em primeira instância, pelos materiais e processos sobre ele empregados e também por “muitas influências fora do trabalho propriamente dito, que são fatores importantes que contribuem para o design”, incluindo local, clima, tempo, costume e a posição da pessoa para quem o trabalho se destina. Na busca de formas estéticas e de um fundamento lógico que correspondesse de modo mais adequado e expressivo à natureza tecnológica do mundo moderno, muitos designers voltaram-se para as máquinas, instrumentos e produtos da indústria, como exemplos de suas teorias. Por volta dos ano 20, uma “estética de máquina” havia surgido, enfatizando formas geométricas abstratas vinculadas a uma filosofia funcionalista. Na busca de precedentes e justificativas dessas ideias funcionalistas, as obras de Semper se tornaram uma fonte importante, em particular o princípio da forma básica. 47 Foi essencialmente uma abordagem teleológica da história do design, selecionando e apropriando exemplos adequados do passado para incorporá-los a uma tradição que confirmava e consubstanciava a “estética de máquina” contemporânea. A interpretação funcionalista podia ser parcialmente sustentada pelo fato de que algumas máquinas e produtos manufaturados do século XIX eram fato sem adornos e geométricos, derivando sua forma da estrutura e da função mecânica. O progresso da tecnologia industrial dependia do desenvolvimento de precisão e de tolerâncias mais finas, em que a matemática era uma ferramenta básica, e a geometria fornecia a forma tridimensional, em que a precisão necessária poderia ser obtida. Entretanto, apesar dos imperativos da função mecânica e da adequação ao serviço, ainda permaneciam possibilidades abertas na disposição e no arranjo das formas, fornecendo oportunidades para julgamento estéticos. O impacto da inovação tecnológica também foi grande no mobiliário e é, nesse aspecto, que a interpretação funcionalista da forma se tornou duvidosa. A ideia de que os produtos de fabricação mecanizada deveriam ter aspecto simples e funcional certamente não era aceita de forma generalizada, no século XIX. Alguns dos novos processos industriais não só permitiam a produção de um grau maior de decoração como, na verdade exigiam formas decorativas para superar problemas de processamento ou des materiais utilizados. O design de móveis ilustra aspectos dessa complexidade. Os primeiros estágios da produção em massa exigiam a adaptação de formas e técnicas tradicionais e a concentração em um número limitado de itens dentro de uma estrutura comercial ampla. O desenho tradicional do mobiliário era adaptado para produção em massa, produzido em partes separadas. A maioria, facilmente feita num simples torno de madeira, onde a simplicidade elementar da forma tornou-a admiravelmente adaptável aos materiais e às tecnologia disponíveis. A industrialização foi condicionada por uma continuidade de estruturas sociais e econômicas. Técnicas e processos artesanais foram amplamente adaptados e desenvolvidos para produzir grandes quantidades de artigos que, na forma e design, refletiam um reconhecimento consciente, ainda, às vezes, confuso de tradições passadas. As mudanças significativas e fundamentais estavam 48 principalmente na escala de organização e de produção comerciais e não nos métodos de fabricação de artigo. Em meados do século XIX, entretanto, em grande parte como resultado da Grande Exposição de 1951, o resto do mundo foi apresentado a novos métodos de fabricação industrial, nos Estados Unidos e estabeleceram os padrões e processos fundamentais da moderna produção em massa industrial. Suas características básicas eram a produção em larga escala de produtos padronizados, com partes intercambiáveis, utilizando máquinas–ferramentas numa sequência de operações mecânicas simplificadas. As implicações deste sistema, que se tornou conhecido como “sistema americano” de fabricação, não se restrigiam aos métodos de produção, mas afetavam também toda organização e coordenação da produção, a natureza do processo de trabalho, os métodos de comercialização dos produtos e, não menos importante, o tipo e a forma dos artigos produzidos. (HESKETT, 1998, P 51). Percebe-se, então, que tanto no setor estatal, quanto na iniciativa privada, ocorreram, no século XIX, pelo menos quatro transformações na forma de organização industrial. Primeiramente, a escala da produção começava a aumentar de modo significativo, atendendo a mercados maiores e cada vez mais distantes dos centros fabris. Em segundo lugar, aumentava também o tamanho das oficinas e das fábricas, as quais reuniam um número maior de trabalhadores e passavam a concentrar um investimento maciço de capital de instalações e equipamentos. Em terceiro, a produção se tornava mais seriada, através do uso de recursos técnicos, como: moldes, tornos e até uma incipiente mecanização de alguns processos, todos contribuindo para reduzir a variação individual entre produtos. Por último, crescia a divisão de tarefas com uma especialização cada vez maior de funções, inclusive na separação entre as fases de planejamento e execução. 7.1 - Expansão da organização industrial Ao longo do século XIX, industrializaram-se em maior ou menor escala, a França, os Estados Unidos, a Alemanha e algumas regiões e setores de vários outros países, inclusive o Brasil. Com base nas novas estratégias de organização 49 do trabalho e no crescente ritmo de inovação tecnológica, grandes empresas foram tomando, aos poucos, lugares das pequenas oficinas. Estas permaneceram numerosas, porém passaram a representar a minoria do volume produtivo nos países industrializados. Um dos processos mais interessantes da transição da fabricação oficinal para a industrial está no uso crescente de projetos ou modelos como bases para a produção em série. Do ponto de vista do fabricante, ao separar o planejamento das etapas de execução, já existia uma convicção clara de que a divisão de tarefas permitia acelerar a produção, através de uma economia de tempo gasto em cada etapa. A divisão de tarefas franqueava, ainda, o fabricante um maior controle sobre a mão-de-bra, separando os processos de concepção e execução. Ao desdobrar esta, em uma multidão de pequenas etapas de alcance extremamente restrito, eliminava-se a necessidade de empregar trabalhadores com um alto grau de capacitação técnica. Em vez de contratar muitos artesãos habilitados, bastava um bom designer para gerar o projeto, um bom gerente para supervisionar a produção e um grande número de operários sem qualificação nenhuma para executar as etapas, de preferência como meros operadores de máquinas. (CARDOSO,2004, P26). O potencial técnico de repetir padões em grande escala e de produzir peças mais ou menos uniformes foi revolucionado pela aplicação de máquinas a vapor a diversos processos de fabricação das primeiras máquinas-ferramentas de precisão, ambas efetuadas na Inglaterra entre o final do sec. XVIII e o ínício do séc. XIX. A partir dessas conquistas efetivas, se bem que limitadas na sua aplicação, a busca da mecanização foi elevada a uma espécie de santo graal da evolução industrial, e a automação tornou-se uma questão de honra para os ideólogos do processo industrial. Na década de 1830, a grande meta da produção industrial foi retirar todo o processo de execução das mãos do trabalhador e entregá-lo para as máquinas, eliminando, de vez, o erro humano. 50 A ideia de produzir equipamentos a partir de peças padronizadas e trocáveis foi ganhando força e a melhoria contínua das máquinas-ferramentas, espalhou-se para outras indústrias, principalmente nos Estados Unidos. (CARDOSO, 2004, P29). Na realidade, a mecanização dos processos de fabricação demorou muito mais para acontecer do que eles imaginavam, ocorrendo em ritmo desigual, nas diversas indústrias, e de forma incompleta até nas mais avançadas tecnologicamente. De tão alardeada, porém, a automação acabou se transformando em quimera para os capitalistas, que a perseguiam, e em fantasmas para os operários que a temiam. Tanto uns quanto outros tinham como certo que a introdução de máquinas, no processo produtivo acarretaria o aumento da produção e a diminuição da mão-de-abra, o sonho daqueles e o pesadelo dos últimos. Em algumas indústrias, como, por exemplo, a construção naval ou a fabricação de móveis, a mecanização só foi assumir um papel preponderante em pleno séc. XX. Na maioria das marcenarias, a mecanização de processos foi ocorrendo aos poucos e de forma complementar à persistência do trabalho manual. De modo geral, a indústria mobiliária conseguiu realizar aumentos significativos da sua produção sem recorrer à transformação drástica em termos de mecanização. Com a industrialização, as manifestações de ergonomia surgiram não para melhorar a vida do trabalhador mas para espremer dele uma maior produtividade. 7.2 - Industrialização e a Bauhaus A indústria moveleira pode ser considerada uma das mais antigas do mundo, pois se deriva dos carpinteiros e artesãos produtores de móveis, que, com a revolução industrial, passaram a utilizar máquinas e ferramentas visando a obter economias de esforços e tempo. Os avanços proporcionados pela industrialização permitiram a padronização e os ganhos em grande escala, de maneira que os móveis deixaram de ser produtos artesanais e, com influência da Bauhaus, escola de design do séc. XX, passaram a se tornar produtos industrializados. 51 Dada a trajetória de desenvolvimento, a indústria de móveis passa a ser classificada, atualmente, como uma indústria tradicional, com tecnologia de produção consolidada e amplamente difundida. Por sua vez, o dinamismo tecnológico dessa indústria é determinado pelo aprimoramento do design, pelas máquinas e equipamentos utilizados no processo produtivo e pela introdução de novos materiais. Na história do desenho industrial, a padronização conquistada se deu com o avanço tecnológico das máquinas e equipamentos dos que permitiu maior aproveitamento dos materiais, maior flexibilidade na produção e melhor qualidade nos produtos. Apesar de essa indústria ser intensiva em mão-de-obra, as inovações tecnológicas estão permitindo uma redução em seu uso, principalmente em segmentos que possam ser transformados em processos contínuos, como é o caso da produção de móveis seriados. Os ideais que motivaram os integrantes dos diversos movimentos da chamada vanguarda foram os mais variados possíveis, incluindo um pouco de tudo. Não é surpreendente, portanto, que as estratégias adotadas em cada grupo e por cada artista também tenham sido extremamente diversas. Levando-se em consideração tal análise, pode-se dizer que a industrialização tem sido amplamente divulgada e discutida em outros veículos. Do ponto de vista do design industrial, os principais movimentos vanguardistas, abraçaram, como valores estéticos, as máquinas e os objetos industrializados, a abstração formal e geométrica, a ordem matemática e a racionalidade, a disposição linear ou modular de elementos construtivos, a síntese das formas e a economia na configuração, a otimização e racionalização dos materiais e do trabalho. Essa visão artística, contraposta conscientemente ao ideário romântico do séc. XIX, situava a natureza como interesse daquela parcela da sociedade que buscava impor tipos e padrões industriais baseados em um suposto racionalismo científico. Para quem entendia a tecnologia e a indústria como forças com o potencial de gerar uma organização social mais perfeita, nada mais lúcido do que a opção por formas e construções identificadas com o progresso industrial. Após décadas e até séculos de resistência ao avanço industrial, por questões de sensibilidade artísticas, ou seja, por achar feia e repugnante a sociedade industrial, surgiu um ideário que apresentava a máquina e as suas decorrências na vida não 52 como coisas que precisavam ser escondidas ou suavizadas, mas como o próprio fundamento de uma nova estética. Ao abraçarem abertamente as formas mecânicas, o movimento de vanguarda artística ao industrialismo ganhou uma respeitabilidade e um prestigio social que até lhe tinha faltado. O impacto direto das vanguardas artísticas sobre a evolução do design foi bastante desigual. Relativamente, muitos artistas de vanguarda se recusaram a executar projetos de produtos, salvo alguns artigos de luxo e de decoração, cujo aproveitamento industrial foi pequeno. A indústria de mobiliário talvez seja a maior execução a essa afirmação, pois diversos arquitetos e designer, ligados à primeira fase do movimento modernista, se notabilizaram-se na execução de projetos de cadeiras e outros móveis. A aplicação sistemática de materiais industrializados, como o aço tubular cromado e a madeira compensada, é um elemento característico da produção dessa geração de designers, que buscava, assim, projetar um móvel de qualidade acessível à grande massa de consumidores. Ironicamente, os projetos por eles criados tendem a ser vendidos hoje a preços altíssimos, tornando-se verdadeiras peças de coleção. No Brasil, a influência desses designers se reflete nos móveis projetados nas décadas de 1920 e 1930, por figuras, como o arquiteto Gregori Warchavchik, o arquiteto e performático Flávio de Carvalho e os pintores John Graz e Lasar Segall, todos ligados diretamente ao modernismo paulista da Semana de Arte Moderna, de 1922. A Bauhaus exerce um importante papel, principalmente para a arquitetura e o design, trazendo em evidência a economia de materiais e atendendo às finalidades práticas do fazer artístico. Sua estética mesclou cérebros criadores com ofícios manuais, onde a proposta dos seus fundadores, estreitou os caminhos entre arte e indústria, visando a lucros e a economias. Seguindo esse ponto de vista, todos os ensinamentos proporcionados pela Bauhaus eram voltados para a atividade a industrial. Os aprendizes da Bauhaus eram postos em contato com os materiais industrializados e, de toda essa relação, nascia uma intimidade do aluno com as propostas práticas. Vários movimentos contribuíram fortemente para tal afirmação, como o Art nouveau, o Art déco, o Neoplasticismo e o Neoconcretismo. 53 Todo esse conceito da Bauhaus deixaria para trás o modo artesanal, seguindo firme nos seus propósitos industrializados, onde, mesmo décadas depois do seu desaparecimento, sua herança permanece integrando as artes ao dia-dia, atuando no cotidiano, fazendo-se presente a projetos para baratear o mobiliário contemporâneo. Não permaneceram apenas os seus métodos e pontos de vista, mas a sua filosofia, colocando o design ao serviço do bem comum. Os seus movimentos tiveram tanta difusão que hoje grande parte dos móveis e equipamentos que ocupam as residências, escritórios e espaços públicos são totalmente fabricados com influência na estética dos produtos da Bauhaus. 54 8 – OBRA IDEIA PRINCIPAL Baseado na disseminação da prática do design junto às indústrias, decide-se desenvolver um projeto de um “Home Theater”, apresentando em seus traços a limpeza das formas, através da geometrização que se reconhecia como proposta apresentada pela Bauhaus. Analisando o processo da evolução histórica do produto em distintos recortes de tempo, pode se compreender que as raízes do design, no mercado atual, encontram-se totalmente envoltas nas mutações dos contextos cultural e social, que influenciaram as necessidades e expectativas do séc. XX. Apresentou-se como problema: De que forma os parâmetros estéticos da Bauhaus refletem no projeto de móveis industrializados? Todo o desenvolvimento do produto foi imposto em um mesmo parâmetro: estabelecer um produto de design contemporâneo, utilizando apenas formas geométricas e buscando a minimalização dos elementos que as compõem. 8.1 - Definição da Obra Diversos campos abordados trazem conceitos fundamentais para a comunicação entre o design e o enriquecimento das novas possibilidades pelo desenvolvimento industrial. O desafio que hoje está se colocando, frente a esta pesquisa, é como interagir as informações obtidas com o estudo da Bauhaus na prática. Interação do design ao industrialismo, refere-se a uma modalidade de apresentar informações aos usuários numa forma não linear, que permita ao mesmo se mover dentro de uma rede imposta por nós. Analisando toda a trajetória da Bauahus rumo ao design industrial, foram selecionados pontos fundamentais, para a criação e o desenvolvimento do projeto; a utilização da proposta dos movimentos como, neoconcretismo e neoplasticismo, que ganhou força após a 1ª Guerra Mundial, foi de grande importância para a definição da obra criada, através da limpeza das formas e das cores na fabricação 55 de móveis do séc. XX, a caracterização das linhas horizontais e verticais que, mesmo com cortes retos, frios e rígidos, devido à ação das máquinas, apresenta-se em constante início de industrialização. Toda essa informação traz evidências que marcaram o séc. XX e contribuíram para a revolução industrial, e que podem ser encontradas hoje na industrialização contemporânea. 8.2 – Referência para a obra De todo contexto apresentado da estética de ensino utilizada na Bauhaus, que era a limpeza das formas e a desmistificação do artesão, propriou-se da obra que serviu de referência para este projeto, cujo criador foi um dos grandes nomes na história da Bauhaus: Mondrian com a obra “Composição em vermelho, amarelo e azul”. Apresentaem suas linhas características acentuadas devido aos traços, às linhas horizontais e verticais e principalmente, a composição geométrica Analisando a obra foi feita uma leitura de imagem, tirando elementos e conceitos para a constituição do projeto, onde os principais elementos foram os traços e os elementos geométricos encontrados. Por fim, observando o conjunto de composição da obra de Mondrian, que enfatiza elementos geométricos, deu-se origem ao projeto. 56 Figura 19: “Composição em vermelho, amarelo e azul” – Mondrian – 1921. Fonte: http://www.dgdriscoll.com/ajerk/pictures/ 17 maio 2010. Figura 20: “Composição em vermelho, amarelo e azul” – Mondrian – 1921. Fonte: http://www.dgdriscoll.com/ajerk/pictures/ 17 maio 2010. A obra de Mondrian serviu de orientação para a composição do projeto, estabelecendo onde cada elemento se faria presente. Sua orientação foi traçada devido à ordem das linhas que a compõem, facilitando a distribuição dos elementos. 57 8.3 – Desenvolvimento do produto Ao projetar um ambiente devemos levar em consideração, fatores objetivos e subjetivos. Os fatores objetivos são aqueles regidos por normas técnicas, medidas ergonométricas, pela área situada o projeto e pelo clima que irá gerar no ambiente. Já os subjetivos estão diretamente relacionados com a utilização propriamente dita do espaço do ambiente com todos os detalhes referentes às atividades que nele serão realizado e com todas as preferências pessoais de quem o acupará. As necessidades de cada um de nós, as necessidades de cada individuo como ser único no universo, fazem com que as soluções de projetos sejam infinitas. A casa onde dormimos, comemos, guardamos coisas que são importantes para nós, recebemos amigos, ou seja, onde vivemos e nos sentimos protegidos, os diferentes cômodos devem ser propiciado ao acontecimento de todas essas atividades às quais a casa se destina. Segundo a pesquisa, o modo de vida contemporâneo esta em constante mutação e deve induzir a ambientes dinâmicos. Os espaços bem como o mobiliário, a serem projetados para essa nova identidade, também devem ser facilmente adaptáveis às mudanças e a evolução tecnológicas. O design de interiores deve criar ambientes onde a forma e a função, ou seja, a estética e a harmonia e cujo projeto final seja o reflexo das aspirações de cada individuo. Desta forma pra que um projeto se expresse bem dentro do contexto atual, se utiliza elementos como espaço, forma, linha, textura, luz e cor a fim de alcançar determinado objetivo, seja funcional ou estético. Um bom projeto de design de interior é aquele que apresenta um bom design, ou que atinja um resultado harmônico e criativo ao organizar diferentes formas na busca de um espaço agradável. 58 8.4 - O ambiente O espaço que consideramos na pesquisa é o habitável, o ambiente em questão é uma sala onde podemos encontrar paredes, teto e o piso, elementos essenciais para o design de interior, é o ponto de partida da criação, sem ele não há projeto. São inúmeros os modos de articular o espaço físico, visual e até mesmo sonoro, segundo nosso interesse, se soubermos escolher corretamente os elementos de composição do móvel, poderemos estimular diretamente sensações, como a de aberto, fechado, livre, enclausurado, seguro, vulnerável, entre tantos outros. 8.5 - Formas É diretamente relacionada ao espaço, apesar das diferentes formas existentes no mundo, poderemos considera-la basicamente como retilíneas, angulares ou curvas. A contemporaneidade do mobiliário está relacionada a soluções praticas que exploram diferentes angulações retilíneas se esquivando do movimento curvo e planos inesperados. Os designers de interiores atual pode e deve ser expresso livremente, uma vez que segue um conceito espacial novo e livre. 8.6 - Linhas retilíneas As linhas utilizadas para composição do móvel em questão, se baseia unicamente em linhas retilínea, usadas em formas criativas explorando a pureza do ângulo reto, proporcionando uma estética formal ao ambiente quando se faz uso das linhas verticais, e um relaxamento devido às linhas horizontais, principalmente quando se estendem por longa distancia. Criando sensações de estabilidade de “caixa”, diferentemente das linhas angulares que proporciona a idéia de movimentos, e se usada em demasia proporciona a sensação de irrequietação. 59 8.7 -Textura O diferencial para o design de interiores é o desenvolvimento de projetos para transformar em realidade o sonho do cliente. Para isso se faz uso das texturas e materiais para confecção do mobiliário, impondo características importantes levando em consideração que os móveis devem se adaptar ao seu lar e não seu lar aos móveis. A textura de um mobiliário pode se dizer que é o elemento fundamental para o móvel, cria pontos de interesse, diversidade e estímulos sensoriais, podendo ser usado como tipo de ornamentos. O efeito psicológico causado por determinada textura dependerá de sua cor e forma, dimensão e consequentemente efeito visual e impacto, direcionando ao objetivo final do projeto. Superfícies lisas como o aço polido vidro e a branco, refletem mais luz, atraindo a atenção e fazendo com que os elementos ao seu redor pareça mais fortes e com mais vida, isso acontece ao contrario em nas superfícies rústicas, onde a absorção de luz é absorvida ao extremo, podemos dar mais ênfase a móveis rústicos colocando iluminação como complementação do móvel. A cor é uma importante ferramenta para transformar a dimensão e atmosfera de um projeto de design de interiores, considera-se como um componente estrutural e não simplesmente um revestimento. A cor dá volume, altera a forma e define contornos, reduz confronto entre a parte interna e externa. Podemos utilizar-se das texturas para dar maior amplitude do móvel, reduzi-lo, valorizar algum detalhe, e ai por diante. Quando nos referimos à textura e cor como revestimento final do móvel, estamos talvez diante da maior variedade de opções. Considerando que o produto já se reforça com um projeto inicial, foi iniciado o desenvolvimento, através de um software, organizando os dados recolhidos. Com o material totalmente detalhado e estruturado, foram planejadas as sequências de ilustrações, testando alternativas, como: esquema de cor, tipo apropriado para apresentações de linha, textura, composição chamadas de projeto teste. Para chegar ao projeto final, desenvolveram-se quatro projetos testes, mas, a cada sugestão, encontrava-se algo que não se encaixava à proposta inicial. 60 Figura 21: Projeto teste 1, Criado pela autora - 2010. Observando a primeira proposta, constatou-se que o móvel apresentava certo grau de agressividade, devido à prancha inferior, que se estendia à outra parede. Figura 22: Projeto teste 2, Criado pela autora - 2010. Após o término do segundo projeto teste, eliminou-se totalmente a agressividade encontrada no primeiro projeto, adquirindo-se uma profundidade com os painéis brancos, que se estendem de uma parede a outra, quebrando totalmente a ideia do minimalismo. 61 Figura 23: Projeto teste 3, Criado pela autora - 2010. O terceiro projeto teste chegou bem perto da proposta visada, mas foi observado um pequeno desequilíbrio entre linhas horizontais e verticais. Figura 24: Projeto final, Criado pela autora - 2010. Com o espelhamento da imagem, em sentido contrário, encontrou-se a posição exata do móvel em questão. Ocorrendo certo equilíbrio com a linha vertical de junção das paredes com a linha vertical do painel branco Dessa forma foi possível chegar a um equilíbrio total de composição do projeto. 62 9 - CONCLUSÃO Até o momento, foi possível formular algumas considerações sobre o nascimento do design. O período entre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial deixou a Alemanha arrasada, mas com um potencial intelectual enorme para se levantar, fato confirmado pela fundação da Bauhaus. A partir desta pesquisa pôde-se afirmar, que no que diz respeito ao design, à arquitetura e ao ensino das artes, mesmo depois de décadas de seu desaparecimento, essa escola foi pioneira, ressaltando toda vitalidade artística e o design que contemplou-se na Bauhaus, desenvolvendo um pensamento construtivo encontrado nos dias atuais com fabricação de produtos industriais, através de uma filosofia do espaço, das cores e das formas. Esta forma de ensinar, possibilitou ao aluno conciliar, à técnica dos artesãos e à criatividade dos artistas. Enfim, pode-se, dizer, com os dados apontados até o momento, que a pedagogia instituída pela Bauhaus influenciou o design. Porém, a Bauhaus, com suas contradições inerentes ao contexto histórico do momento, deixa um registro importantíssimo, já contendo questões que estão hoje no cotidiano, tanto na discussão entre arte, técnica, cultura e sua relação com a paisagem urbana, arquitetura e design, com sua pedagogia. Impondo, a certeza que a industrialização do mobiliário contemporâneo, segue a mesma linha imposta pela Bauhaus, visando à simplificação das formas, para que a máquina pudesse executá-la, e a tiragem em grande escala ou a prática da produção em série, com fins de economia de mão-de-obra, possibilitando um produto de consumo de massa. Na trama que a história vai criando, durante as gerações, na constituição de ideias, na recuperação de identidades perdidas, é difícil percorrer por labirintos encontrando caminhos, vimos o design como explorador desses rastros, um aqui, outro acolá, desencadeando reflexões e práticas, formando uma história mais ampla e flexível. 63 10 - REFERÊNCIAS BÜRDEK, Bernhard E. Design: História teoria e prática do design de produtos. 1ª ed. São Paulo: Ed. Edgard Blücher Ltda, 2006. CALDAS, Dario. Observatório de sinais: Teoria e prática da pesquisa de tendências. Rio de Janeiro: Ed. Senac Rio, 2004. CARDOSO, Rafael. Uma Introdução à História do Design. 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