TAMBARA, Elomar. Educação e positivismo no Brasil. In STEPHANOU, Maria; BASTOS, Maria Helena Camara(orgs.). Histórias e memórias da educação no Brasil, vol II: séculos XIX. Petrópolis, RJ: vozes, 2005.pp. 166 – 178. INTRODUÇÃO 1. O positivismo não se reduz a um único autor. 2. A maior referência: Augusto Comte (1798 – 1857). /Estudos na Escola Politécnica de Paria. Secretário de Saint-Simon. “Curso de Filosofia Política”, publicada em 1930. 3. Caracterização da época de construção do positivismo é mais fundamental que identificar os autores. O positivismo é resposta às conseqüências do capitalismo na sociedade européia. 4. Augusto Comte, Stuart Mill (1806- 1873), Herbert Spencer (1820 – 1903), Saint-Simon (1760 – 1825). 5. O positivismo no Brasil explica-se pela predominância da cultura francesa entre nossos intelectuais nos meados do século XIX. No princípio uma ideologia exótica sem muita influência sobre os indivíduos e sociedade. Aos poucos as ideias de Comte foram incorporadas a ponto de se contrapor ao liberalismo. 6. Aglutinou os setores que defendiam uma nova ordem política que superasse a monarquia existente. 7. Difusão das ideias de Comte nas faculdades de Recife e São Paulo e nos clubes republicanos. 8. Tornou-se hegemônica em algumas instituições e regiões (Benjamin Constant, e Júlio de Castilho). 9. A adesão de indivíduos isolados promoveu a incorporação a diferentes setores da vida brasileira. DA SOCIEDADE POSITIVISTA AO APOSTOLADO POSITIVISTA 10. Consolidação do positivismo no Brasil: fundação da Sociedade Positivista do Rio de Janeiro (1876). 11. Objetivos da SP: divulgar as ideias de Comte nos cursos científicos. As maiores expressões do positivismo no Brasil: abolição da escravatura; enfraquecimento dos preconceitos dos pedantocráticos e do despotismo sanitário; superação de privilégios e regalias de religião. 12. A presença das ideias positivistas na tese de doutoramento de Manuel Joaquim Pereira de Sá em ciências físicas e naturais, em 1850. 13. Os membros da sociedade positivista não eram consensuais na interpretação de Comte. Miguel Lemos e Teixeira Mendes optou por uma compreensão mais ortodoxa das doutrinas positivistas contra a forma superficial da SP. Daí surgiu o Apostolado Positivista. 14. Repercussão da cisão francesa entre Littré e Lafitte. A adesão à corrente de Laffite foi superada pela adesão a interpretação de Jorge Langarrigue. 15. Da viagem à França, em 1877, Miguel Lemos e Teixeira Mendes. A decepção de Lemos com os rumos das correntes positivistas francesas escolheu a religião da humanidade de Pierre Laffite (aspecto místico da ideologia). 16. 17. Fundadores em 1881 do Apostolado Positivista: perspectiva mais dogmática do pensamento de Comte. 18. O AP referendava as principais concepções positivistas sobre a organização social: 19. Substituição do poder legislativo pela república ditatorial com ditador perpétuo. Liberdade de opinião. Assembléia para questões financeiras. 20. Na Reforma de Ensino proposta por Benjamin Constant apareceu a discordância entre ortodoxia e pragmatismo positivista. A reforma tinha orientação positivista, mas não atendia as exigências do Apostolado Positivista (como exemplo a exigência de dissolução de todos os cursos mantidos pelo governo). 21. Para Leonel Franca, o sucesso positivista estava na matemática e na ciência, que atraída engenheiros e militares. 22. A força estava mais no poder de convencimento das ideias que no número sempre diminuto de adeptos do Apostolado Positivista. 23. A contribuição estava na divulgação das ideais positivistas por meio de concepções sociais. Destaca Tambara a contribuição de Luiz Pereira Barreto na divulgação da ideias positivistas. Este aderiu ao positivismo de Littré, diferenciando-se do Apostolado Positivista, tendo como esteio a Lei dos Três Estados. POSITIVISMO E EDUCAÇÃO 24. Nas instituições de ensino aconteceu maior ressonância do positivismo. Apesar na incidência na política no Partido Republicano Gaucho e do esforço de Miguel Lemos e Teixeira Mendes em expandir a influência do Apostolado Positivista do Brasil. 25. O que se constituiu reação à educação dominante, com suas marcas jesuíticas. 26. Daí a maior reação ao positivismo ter se concentrado nas escolas particulares confessionais. Ao positivismo, contraditoriamente, deverão a liberação para instituições confessionais. 27. Nos estabelecimentos estatais e livres aconteceu a ascensão do positivismo. 28. Escolas livres: Direito e Politécnica. O estudo “Ordem e Progresso” de Gilberto Freire, em 1962, conferiu que a maioria dos positivistas brasileiros exerciam profissões técnicas. 29. A presença do positivismo no Brasil marca uma configuração bifurcada da educação. Os estabelecimentos de instituições religiosas primando pelo conteúdo humanístico, e os positivistas com caráter técnico. A CONCEPÇÃO POSITIVISTA DA ESTRUTURA EDUCACIONAL 30. A educação das crianças é responsabilidade da mulher, pro excelência. 31. A mulher, a família, é insubstituível por instituições e governos. O governo, o Estado, tenta eternizar aparelhos surgidos em épocas de anarquia. 32. 33. A ciência confirma o ensino: 34. Da primeira infância aos cuidados das mães. 35. Da adolescência (conhecimento do mundo, da sociedade e do homem) compete ao poder espiritual ou sacerdócio; 36. Da maturidade profissional sob a direção de práticos e não na escola. 37. No Brasil a ortodoxia positivista verifica-se na resistência à obrigatoriedade do ensino. Defesa do ensino livre. 38. Posicionamento a respeito do ensino obrigatório no início da República: 39. O apostolado Positivista declarava 40. uma “[...] monstruosidade política, moral e mental [....]” A PRESENÇA POSITIVISTA EM ESTABELECIMENTOS ESCOLARES 41. Muitos foram os professores que aderiram ao positivismo nas escolas. 42. No Colégio Pedro II. 43. Na Escola Militar do Rio de Janeiro. 44. No Colégio Militar. 45. Na Escola Naval do Rio de Janeiro. 46. Na Escola de medicina. 28 teses de doutoramento de influência franco-positivista. 47. Na Escola Livre de Direito do Rio de Janeiro. 48. Instituto Lafayete, do Rio de Janeiro (1916). O POSITIVISMO E AS REFORMAS DE ENSINO 49. O positivismo marcou o ensino brasileiro pela ação direta de professores e de maneira genérica pela legislação: Reforma Benjamim Constant, 1890; e Rivadávia Correia, 1911. 50. Decreto 05/04/1911 – Reforma Rivadávia Correia, uma reforma sob a influência positivista do Rio Grande do Sul: ensino livre; sem interferência do Estado; autonomia das congregações; proibiu que o governo interferisse na economia dos institutos superiores. 51. Reforma Carlos Maximiliano: reoficialização o secundário; manutenção da seriação inspirada em Augusto Comte – Ordenação hierárquica da matemática à sociologia “[...] impõe-se [...] com a força de uma verdade definitiva.” (BERGSON). A VISÃO POSITIVISTA EM RELAÇÃO ÀS MUDANÇAS NA ORGANIZAÇÃO ESCOLAR NO FINAL DO IMPÉRIO 52. Crítica de Miguel Lemos (carta a Teixeira Mendes) em 1879 à inércia dos positivistas no final do Império (=período de grandes discussões sobre a organização escolar) quanto à questão educacional. 53. Pontuou o correto posicionamento positivista sobre o assunto: 54. Separação do poder espiritual do temporal; o ensino como sacerdócio preparado; 55. O Estado não pode interferir e ordenar no ensino, perigo de se impor uma doutrina. Ao Estado só cabe financiar. 56. Lemos reconheceu que o Estado de desenvolvimento brasileiro fazia das propostas positivistas um ideal para o futuro: 57. Preparar as condições para a separação e o sacerdócio do ensino. Limitar a ingerência provisória do Estado. Defesa do Projeto de Leôncio de Carvalho quanto à liberdade de ensino 58. Aceitar a solução provisória e rechaçar toda intervenção do Estado em questões doutrinárias. 59. Crítica à obrigatoriedade de ensino. O problema é de convencimento dos pais de família da sua obrigação de educar os filhos, o que é uma questão de ordem espiritual. 60. A argumentação positivista do papel da família na escolha do tipo de educação propunha o fim do privilégio dos títulos acadêmicos. 61. Os posicionamentos e a literatura positivista contribuíram para o soerguimento institucional da Igreja Católica. 62. Pilares da proposição educacional positivista: Liberdade de ensino e liberdade profissional. Segundo Julho de Castilho, quando da inauguração da inauguração da Escola de Medicina e Farmácia de Porto Alegre: 63. Além da supressão da religião oficial era necessário eliminar a oficial, desta forma, o Ensino Superior financiado pelo Estado. 64. Neste sentido, o Rio Grande do Sul, ais coerente que a Constituição Federal optou em sua Constituição pela manutenção do ensino primário, leigo e livre, delegando o superior aos particulares, favorecendo a livre concorrência das doutrinas científicas. 65. A crítica refere-se à tradição herdade do Império pela Constituição de 1981 sobre as atribuições da União, dos Estados e dos Municípios. 66. Principal reivindicação positivista: que a União não interferisse nos Estados sem autorização dos mesmos. Liberdade para os Estados legislarem sobre ensino. Interferir na esfera da educação é interferir na liberdade de consciência. Ao que os positivistas eram contrários. 67. Defesa ardorosa do ensino livre. Universalização sem discriminação era o ideal. O prestígio do estabelecimento se daria pela sua qualificação. Contrários ao poder do diploma com reserva de mercado de trabalho. 68. Discurso de Pedro Moacyr na Câmara Federal, em 1895: 69. A liberdade de ensino é uma liberdade moral e intelectual. 70. Centro da preocupação positivista: defesa da liberdade espiritual e profissional. Privilegia o ensino técnico supervisionado pela família.