Universidad John F. Kennedy MESTRADO EM PSICANALISE TESE DE MESTRADO INFORME DE AVANCE Nº 2 Efeitos da síndrome de Burnout na personalidade neurótica de trabalhadores aeronautas " Efectos del síndrome del Burnout en la personalidad neurótica de trabajadores aeronauticos" Marcos Alencar Orientadora de tesis : Lic. Mariana Clancy 2012 1 INDICE 1. Introdução 2. Apresentação 3. História da aviação comercial 4. Considerações sobre o mercado de aviação civil brasileiro 5. Considerações : Trabalho 6. Descrição de atividade dos Aeronautas 6.1 Reivindicação dos aeronautas 6.2 Estresse no ar 7. Pesquisa sobre a qualidade de vida dos comissario de bordo no Brasil 7.1 Qualidade de vida no trabalho 7.2 Procedimentos metodológicos utilizados nas pesquisa QVT 7.3 Conclusão da Pesquisa Qualidade de Vida de Comissários de Bordo 8. A Síndrome de Burnout 8.1 Fatores de risco para o desenvolvimento da síndrome de Burnout 8.2 Associação com transtornos psiquiátricos 8.3 Conseqüências do burnout 8.4 Conclusão da Revisão da Literatura 09. Neuroses Atuais 2 Introdução Discutir possiveis impactos da sindrome de bournout na estrutura neurótica de profissionais da aviação civil em específico tripulação das aeronaves, utilizando como base o conceito freudiano de neurose atual. No que cabe à psicanalise podemos encontrar uma demarcação de aréa que visa à construção de uma teoria acerca das afecções psíquicas, cuja base reside no conceito do inconsciente. Tentar encontrar uma similaridade entre de sintomas neste grupo que possa indicar uma psiconeurose . buscando a compreensão dos perfis psicologicos que mais se adeguam a esta carreira e sugerir alternativas para a clinica da psicanalise como suporte terapeutico quando da sindrome instalada. As pressões na saúde mental mundial estão se intensificando. De acordo com as Nações Unidas, o mundo será mais velho, mais populoso e mais pobre aproximadamente em 2050. Como as condições ao seu redor criam tensão (estresse) e ansiedade, mais pessoas serão suscetíveis a transtornos mentais. Segundo a OMS, “nossa saúde mental tem um impacto opressivo em nossas habilidades para funcionar e participar na sociedade. Temos de começar a colocar mais de nossos recursos a favor da saúde mental”. Para mudanças positivas, as decisões nas instituições têm de ser baseadas em evidências científicas sobre a abordagem e o tratamento que mantenham a saúde mental para, só assim, alterarem as políticas de benefícios e os recursos humanos direcionados (Moreno-Jimenez, 2000). Mais pesquisas sobre a síndrome de burnout devem ser realizadas. 3 Apresentação A proposta desta trabalho partiu da experiência repetida na prática clínica do autor, em que após cinco atendimentos a profissionais aeronautas, com funções e atividades parecidas, indentificou-se queixas similares que indicação para a sindrome de Burnout. Essas queixas em geral relacionadas a exaustão emocional que abrange sentimentos de desesperança, solidão, depressão, raiva, impaciência, irritabilidade, tensão, diminuição de empatia; sensação de baixa energia, fraqueza, preocupação; aumento da suscetibilidade para doenças, cefaléias, náuseas, tensão muscular, dor lombar ou cervical, distúrbios do sono (Cherniss, 1980a; World Health Organization, 1998). Outra questão particular que parece afetar essa categoria de profissionais esta o distanciamento afetivo, em virtude das longas jornadas a trabalho que provoca a sensação de alienação em relação aos outros, sendo a presença destes muitas vezes desagradável e não desejada (Cherniss, 1980a; World Health Organization, 1998). Já a baixa realização profissional ou baixa satisfação com o trabalho pode ser descrita como uma sensação de que muito pouco tem sido alcançado e o que é realizado não tem valor (Cherniss, 1980a; World Health Organization, 1998). Apartir da assossiação da sindrome de bournout com as caracteriscas funcionais da profissão e a estrutura neurótica do individuo, algumas perguntas aparecem. Podemos avaliar qual perfil se adpta melhor a esta atividade profissional, a resposta desta pergunta poderá reduzir a rotatividade de mão de obra, bem como diminuir os custos sociais e sofrimentos psicologicos de processos seletivos falhos. 4 Identificar melhores praticas terapeuticas na diminuição do sofrimento de profissionais afetados pela sindrome, incluindo uma atualização de modo de atendimento, uma vez que a atividade tem caracteristicas especificas operacionais. 3. História da aviação comercial A definição oficial de um avião comercial varia de país para país, mas a mais comum é a de uma aeronave com assentos para 20 ou mais passageiros e/ou um peso, quando vazio, acima de 22.680 kg, com dois ou mais motores. Se um avião comercial for definido como uma aeronave projetada para transportar múltiplos passageiros em serviço comercial, o russo Sikorsky Ilya Muromets foi a primeira aeronave de passageiros. O Ilya Muromets era luxuoso, sua cabine de passageiros era dotata de confortáveis cadeiras de vime, dormitório, lounge e até banheiro. Contava também com aquecimento e luz elétrica. Em 10 de dezembro de 1913, o Ilya Muromets foi testado em voo pela primeira vez, e em 25 de fevereiro de 1914, decolou para seu primeiro vôo de demonstração com 16 passageiros a bordo. Entre 21 de junho-23 de junho, fez uma viagem de ida e volta de São Petersburgo a Kiev, em 14 horas e 38 minutos, com apenas uma aterrissagem. Não fosse pela eclosão da I Guerra Mundial, o Ilya Muromets provavelmente teria começado a transportar passageiros regularmente neste mesmo ano. O Ford Trimotor foi a segunda aeronave de passageiros conhecida. Com dois motores montados nas asas e um no nariz, transportava 8 passageiros e foi produzido entre 1925 e 1933. Foi usado pela antecessora da TWA bem como por outras linhas aéreas, muito tempo depois da produção ter cessado. Em 1932 o DC-2 de 14 passageiros voou pela primeira vez, e em 1935, o DC-3, mais potente, mais rápido e capaz de transportar 5 de 21 a 32 passageiros. Os DC-3s foram produzidos em grande quantidade durante a Segunda Guerra Mundial, e vendidos como excedentes de guerra após 1945. Nesta época, aviões comerciais eram quase sempre bombardeiros reaproveitados para uso civil. Os primeiros aviões a jato comerciais surgiram quase que imediatamente no pósguerra. Motores turbojato foram testados em carcaças de motores a pistão, tais como o Avro Lancastrian e o Vickers VC.1 Viking, sendo este último o primeiro jato comercial de passageiros, em abril de 1948. Os primeiros jatos comerciais construídos especificamente para tal fim, foram o britânico de Havilland Comet e o canadense Avro Jetliner. O primeiro entrou em produção e serviço comercial, enquanto o segundo não. Todavia, o Comet foi prejudicado por problemas de fadiga de metal, o que provocou vários acidentes. 4. Considerações sobre o mercado de aviação civil brasileiro A aviação civil brasileira passou por inúmeras transformações desde 1927, ano do voo inaugural da primeira empresa de aviação civil do Brasil. De um mercado incipiente, na década de 20, em que a constituição de empresas aéreas era livre e a regulação praticamente inexistente, o País passou a ter um setor com empresas de porte e com marco regulatório definido, contando, inclusive, com uma agência reguladora dedicada (a Agência Nacional de Aviação Civil – ANAC, criada em 2005). Hoje, no mercado brasileiro, são realizadas mais de 50 milhões de viagens por ano, número que cresceu à expressiva taxa de 10% ao ano entre 2003 e 2008, na esteira da melhoria da economia como um todo (crescimento do PIB de 4,7% ao ano no período) e da inclusão de passageiros das classes B e C. Já no segundo semestre de 2009, apesar da crise financeira global, observou-se forte retomada da demanda por serviços 6 aéreos no mercado doméstico e início de retomada no mercado internacional, gerando um tráfego anual acumulado no mesmo patamar de 2008. Atualmente, a disponibilidade de aeroportos e a cobertura da malha aérea doméstica mostram-se,de maneira geral, adequadas, com distribuição que espelha a da população. As companhias aéreas nacionais mais representativas encontram-se financeiramente saudáveis e possuem relevantes planos de expansão. Nos últimos anos, o gradual processo de liberalização tarifária promovido pela ANAC tornou o setor mais dinâmico e competitivo, e esse aumento de competitividade trouxe benefícios aos passageiros, que viram o preço médio por quilômetro voado baixar 48% entre 2003 e 2008. Além disso, o Brasil é um dos poucos países com indústria aeronáutica relevante. A infraestrutura aeroportuária, em sua grande parte a cargo da Infraero, empresa que administra os aeroportos responsáveis por mais de 95% do tráfego aéreo civil, não cresceu no mesmo ritmo da demanda. Dos 20 principais aeroportos nacionais, 13 já apresentam gargalos nos terminais de passageiros, com consequente redução no nível de serviço prestado aos usuários, sendo o caso mais crítico o de São Paulo, principal hub do País, com cerca de 25% do tráfego total. O sistema de pista e pátio também encontra limitações. Congonhas, aeroporto de maior movimento de voos domésticos do Brasil, que até novembro de 2009 era o único do País a ter limitação da oferta de slots para pousos e decolagens, recentemente foi acompanhado pelo aeroporto de Guarulhos, que não mais poderá receber voos adicionais em determinados horários. Combinando-se o crescimento esperado da demanda para os próximos 10 anos (média de 5% ao ano, no cenário base, ou até 7% ao ano, em um cenário mais otimista), com o fato de o parque aeroportuário já mostrar limitações e de a Infraero ter expandido capacidade em um ritmo abaixo do planejado, tem-se a dimensão do desafio a ser 7 vencido. Além disso, em 2014 e 2016, o Brasil sediará dois eventos esportivos internacionais de grande porte – a Copa do Mundo e as Olimpíadas – aumentando a pressão sobre a infraestrutura. No médio e longo prazo (até 2030), dado o crescimento projetado, serão necessários investimentos para aumentar a capacidade atual em 2,4 vezes (de 130 milhões para 310 milhões de passageiros ao ano, ou o equivalente a nove aeroportos de Guarulhos). Limitar a capacidade significa não somente deixar passageiros desatendidos, com reflexos adversos na economia, mas regredir em muitas das conquistas recentes do setor, como a maior competição, que permitiu a redução dos preços aos passageiros e incremento do uso do modal aéreo. A visão desejada é a de que o setor aéreo brasileiro atinja seu "pleno potencial", gerando significativo benefício social. Para começar, o diferencial de utilização do modal aéreo no País com relação a mercados maduros seria gradativamente vencido. Em 20 anos, o volume de passageiros seria quase triplicado, atingindo mais de 310 milhões por ano, e a intensidade de utilização do modal aéreo chegaria a mais que o dobro da atual (de 0,3 para 0,7 viagem/habitante por ano). No intuito de melhorar a acessibilidade no País, até 800 mil passageiros anuais seriam originados em áreas remotas, atualmente não servidas, para as quais o modal aéreo se mostra como o único de fato viável. O setor geraria mais de 500 mil novos empregos diretos e indiretos. Além disso, o parque de aeronaves de transporte regular seria aumentado em mais 400 a 600 unidades, das quais uma parcela significativa seria fabricada no Brasil. O conjunto de aeroportos da região metropolitana de São Paulo seria o principal hub na América Latina, e o País contaria ainda com hubs internacionais no Rio de Janeiro e em cidades do Nordeste. Os aeroportos brasileiros operariam sem gargalos significativos, com bom nível de serviço 8 aos passageiros. Com base nos ganhos de produtividade e na melhor utilização dos ativos, o sistema de administração aeroportuária seria autossuficiente, com receitas em nível adequado tanto para custear suas operações correntes como para financiar a expansão de sua capacidade, sem injeção de recursos públicos. Do mesmo modo, as companhias aéreas nacionais operariam com alto nível de eficiência, e os passageiros se beneficiariam de tais ganhos de produtividade, por meio da redução do preço das passagens aéreas. 5. Considerações : O Trabalho O trabalho é uma atividade que pode ocupar grande parcela do tempo de cada indivíduo e do seu convívio em sociedade. Dejours (1992) afirmava que o trabalho nem sempre possibilita realização profissional. Pode, ao contrário, causar problemas desde insatisfação até exaustão. Estudos mostram que o desequilíbrio na saúde do profissional pode levá-lo a se ausentar do trabalho (absenteísmo), gerando licenças por auxílio-doença e a necessidade, por parte da organização, de reposição de funcionários, transferências, novas contratações, novo treinamento, entre outras despesas. A qualidade dos serviços prestados e o nível de produção fatalmente são afetados, assim como a lucratividade (Moreno-Jimenez, 2000; Schaufeli, 1999c). 6. Descrição de atividade dos Aeronautas Os aeronautas são os profissionais que trabalham dentro das aeronaves em voo compreendendo os pilotos ( comandantes ), os copilotos e os comissários de bordo ( ou 9 “aeromoças”. No passado recente existiam as funções de mecânico ou engenheiro de voo, navegador e radioperador de voo, tarefas hoje incorporadas pelos pilotos e copilotos. Nas atividades terrestres estão os aeroviários atuando nos pátios, nas oficinas de manutenção ou em serviços administrativos no aeroporto como as atividades de check-in , e por sua vez os aeroportuários que executam as atividades nos aeroportos como operação, segurança, armazenagem de cargas e controle de tráfego aéreo. No Brasil hoje são mais de 51.000 pilotos de avião , entre comercial, privado e linha aérea, e mais de 30.000 comissários. A atividade de aeronauta está entre as que mais oferecem riscos seja pela probabilidade de acidentes ou pelas condições adversas do local de trabalho. Os riscos são fisicos, quimicos, biológicos, ergonômicos e de acidentes de trabalho. Helfenstein( 1998 ). A profissão do comissario e regulamentada pela ANAC , em geral voando em escalas 5 por 1 ou por 2, não tem vida social, portanto é um doente por definição. Quando se torna incapaz de gerenciar sua vida social e familiar, por culpa da escala. Helfenstein (2010) . existem situações em que comissários só são escalados para voos internacionais e longos, por exemplo: Europa. Há ainda casos de comissários que nunca vão para Macapá, Belém ou Boa Vista, porque estes lugares não possuem uma boa infra-estrutura, além de apresentarem um clima de difícil adaptação. No caso dos voos internacionais, eles são pagos na moeda do país de destino: Europa (euro), Estados Unidos e Canadá (dólar), por exemplo. Por este motivo, ser escalado para este tipo de voo favorece o profissional. Fica disponível a todos os tripulantes de cada empresa um escalão e, por meio dele, observa-se que alguns profissionais são favorecidos, enquanto outros fazem voos cansativos e pouco lucrativos. 10 Há também profissionais que quase nunca voam nos finais de semana, enquanto para outros é concedido somente o final de semana social obrigatório por lei, de acordo com a regulamentação trabalhista (BRASIL, 1984). Acontece também, na maioria das empresas, o fato de alguns profissionais mais privilegiados se recusarem a voar quando acionados na reserva.Este terceiro fator está diretamente ligado ao sexto critério de Walton (1973) que tem o título de O Constitucionalismo na Organização do Trabalho (cidadania), mais especificamente quando se refere a tratamento justo e adequado em todos os assuntos sem qualquer tipo de protecionismo. A questão legal : "A regulamentação profissional não proporciona segurança ao funcionário." "A preocupação com o treinamento de todo pessoal envolvido nos voos dá tranquilidade aos funcionários." "A preocupação com a manutenção dos aviões dá tranquilidade aos funcionários. Em um artigo de Gill (2004), o resultado encontrado é que a segurança é influenciada também por problemas pessoais e, principalmente, ganhos financeiros, outros dois novos fatores que preocupam a indústria da aviação. O relógio biológico, a regulamentação trabalhista protege o trabalhador dentro do possível. O artigo 36 afirma: "Ocorrendo o regresso de viagem de uma tripulação simples entre 23:00 e 6:00 horas, tendo havido pelo menos três horas de jornada, o tripulante não poderá ser escalado para trabalho dentro desse espaço de tempo no período noturno subsequente." (BRASIL, 1984, p. 8). Um ponto importante para a vida destes profissionais: a escala. É, a partir dela, que os profissionais organizam suas vidas e podem fazer uma programação para as pessoas que lhe prestam serviços: empregadas e babás. Além disso, podem programar também seus compromissos sociais e familiares. O artigo 17 da Regulamentação Trabalhista 11 descreve que "... a escala deve ser divulgada com antecedência mínima de dois dias para a primeira semana de cada mês e sete dias para as semanas subsequentes..." 6.1 Reivindicação dos aeronautas E evidente as questões relacionadas a qualidade de vida dos profissionais aeronautas , o reflexo deste cenário pode ser interpretado pelo trecho retirado do texto no site do sindicato nacional dos aeronautas eleborado pelo setor de assuntos previdenciario; “ A Secretaria Previdenciária do Sindicato Nacional dos Aeronautas, esta identificando as doenças ocupacionais e suas implicações médico-legais e previdenciárias para o obreiro aeronauta. ....A Autarquia Previdenciária Federal obstem o aeronauta de alcançar o beneficio da aposentadoria especial, que por similaridade no seu ambiente laboral, possuem a mesma exposição, para os agentes insalubres, perigosos, e penosos. Pouquíssimas categorias profissionais são de forma permanente e continua agredida no seu ambiente de trabalho. O Ministério da Saúde edita o Manual de Procedimentos de Saúde, que relaciona as doenças do trabalho. Verificasse que há fundamentação científica, para o embasamento jurídico da questão Previdenciária Especial. O objetivo deste requerimento, e ampliar o mecanismo de amparo social, visto que o INSS, não reconhece a relação etiológica do nosso trabalho. Tão pouco podemos elaborar o perfil profissiográfico previdenciário, pois as empresas, não estão notificando os sistemas de saúde, DRT, MTE e o Sindicato da categoria, como determina a lei. Assim não dispomos de estatísticas que subsidiem esta ação. 12 As principais patologias ocupacionais que identifico, por nexo causal são: Burn-out Síndrome do Esgotamento Profissional, Síndrome de Fadiga Relacionada ao trabalho ou Síndrome da Fadiga Patológica associada ao Trabalho, Transtorno do Ciclo-VigiaSono Devido a Fatores Não Orgânicos. Síndrome de Difusão das Vias Aéreas, LER/DORT, Transtorno Orgânico de Personalidade e Osteonecrose ´´Mal dos Caixões``. Para não se reconhecer à presença de AGENTE NOCIVO CAUSADOR DE DOENÇA DO TRABALHO OU PROFISSIONAL e, para não RECOLHER A CONTRIBUIÇÃO ESPECIFICA CORRESPONDENTE AO CUSTEIO DA APOSENTADORIA ESPECIAL, para os trabalhadores expostos aos mesmos agentes.Solicito a Vossa Excelência que nos ajude neste processo, já que as ausências das CAT, por doença ocupacional, ocultam a realidade ambiental ´´informando`` uma base sólida da saúde do trabalhador, sendo intrinsecamente, ao contrário..... 6.2 Estresse no ar ( trecho retirado do site Associação dos Magistrados da Justiça do Trabalho ) A rotina dos comissários de bordo é o que encanta novos profissionais, mas foi que afastou Adriano (nome fictício). Há 11 meses ele tem depressão e não consegue trabalhar. "Temos folgas até oito vezes por mês, mas isso não recupera o desgaste. Além de voltar muito acelerado das viagens, sinto que perco muito em qualidade de vida. Mesmo nos vôos de longa duração, o cansaço é extremo, com transtornos psíquicos, físicos, emocionais e familiares. É muito comum os casamentos acabarem devido ao não convívio com o cônjuge", relata o comissário, há 15 anos na Varig. 13 Os novos fatores de estresse são a situação econômica das companhias aéreas e a sobrecarga dos trabalhadores. O caso da Varig é ainda pior. Adriano recorda que nos últimos dois anos a situação vem se acentuando com salários parcelados, demissões sem indenização e muitos funcionários trabalhando sem receber, "numa afronta aos direito trabalhistas", acredita. Ele cita sua própria história: "recebemos de forma tão irregular que tem vezes que não tenho dinheiro para comer. Meu apartamento vai a leilão, tenho sete prestações de condomínio atrasadas, três prestações do apartamento não estão pagas e minha família não tem mais seguro saúde. Tive de tirar meus filhos da escola particular, balé, natação porque não tenho mais dinheiro. Ainda por cima, me sinto sem perspectiva já que estou 'velho' para a profissão". Ele toma oito comprimidos por dia para se manter bem e dormir à noite. Mesmo comos cuidados, ele já teve dois pré-infartos e sua pressão arterial é alta. Aos 40 anos, o diagnóstico de Adriano no laudo médico é "portador de distúrbio misto grave de depressão e ansiedade" decorrente da instabilidade profissional. "A aviação por si só cria uma série de distúrbios, mas quando somado à situação em que a Varig se encontra, gera um quadro sem precedentes", avalia o comissário, que retrata sua indignação com a nova empresa. "Os trabalhadores estão desamparados. A empresa tem obrigação de assumir os empregados estáveis e pagar as indenizações dos demitidos que nada receberam".O diretor do Sindicato Nacional dos Aeronautas, João Pedro Sousa Leite, garante que os afastamentos por fatores relacionados ao estresse também ocorrem nas demais companhias. "A profissão já tem uma natureza estressante, mas algumas companhias impõem uma carga insuportável de trabalho". 14 7. Pesquisa de qualidade de vida no trabalho de comissario de bordo no Brasil Utilizando como base a pesquisa “qualidade de vida no trabalho de comissario de bordo no Brasil “ Antunes (2010) , e possivel entender a dinâmica desta atividade profissional, A autora da pesquisa utilizou modelos cinetificos para a pesquisa e fez adptações levando em consideração sua experiência de oito anos como Comissária de Bordo em quatro diferentes empresas aéreas. O universo da pesquisa é composto de 5.135 Comissários de Bordo em todo o Brasil, e que voam em jatos. De acordo com Gil (2002), a amostra teria que ser composta por 556 comissários para que a margem de erro fosse de 4%. Porém, como o acesso a esse tipo de população foi muito difícil – fato já esperado, pois, de acordo com Eaton (2001 apud APPELBAUM; FEWSTER, 2003), as empresas aéreas são consideradas mais secretas e fechadas para pesquisas acadêmicas do que as indústrias – optou-se, então, por compor a amostra de maneira que pudesse ser utilizada a Análise Fatorial Exploratória. Como o questionário era composto por 52 perguntas fechadas e quatro questões dissertativas, de acordo com Hair Jr. (1995), a amostra teria que ser composta com um mínimo de cinco questionários para cada pergunta fechada, formando, portanto, um mínimo de 260 questionários. A amostra desta pesquisa foi composta de 262 entrevistados de três companhias aéreas. A necessidade de estudar a satisfação com relação à qualidade de vida no trabalho dos Comissários de Bordo no Brasil se dá por vários motivos, sendo um dos principais o fato de que trabalhadores desmotivados podem não se comprometer com os resultados. Isso leva os empresários a descobrirem que a qualidade de vida no trabalho é proveniente da satisfação e motivação de seus funcionários. A satisfação relacionada à 15 qualidade de vida no trabalho é uma preocupação fundamentada não somente por autores, mas também pelas empresas que buscam ser competitivas, num mercado cada dia mais globalizado. Com o surgimento de empresas aéreas com preços mais atrativos, o atendimento ao cliente passa a ser um diferencial para a escolha da empresa. Fernandes (1996) acredita que o homem é o elemento diferencial, é o responsável em grande parte pelo desempenho do negócio. Sendo assim, torna-se difícil obter satisfação dos clientes a partir de funcionários com baixa motivação e pouco satisfeitos. Para a autora, a pouca satisfação e a má vontade do trabalhador se incorporam de alguma maneira ao produto final, reduzindo assim a satisfação do consumidor. A partir deste ponto de vista, a qualidade de vida no trabalho passa a ser uma questão de competitividade. O objetivo principal do trabalho foi de identificar a satisfação dos Comissários de Bordo no Brasil com relação à qualidade de vida no trabalho. Um outro fator interessante é que na área de aviação civil no Brasil nenhum estudo sobre qualidadede vida no trabalho foi encontrado nas revistas acadêmicas RAE (Revista de Administração de Empresa), RAUSP (Revista de Administração da Univesrsidade de São Paulo) ou RAC (Revista de Administração Contemporânea), no Departamento de Aviação Civil (DAC), no Sindicato dos Aeronautas ou no Flight Safety Foundation nos últimos cinco anos, segundo a pesquisadora responsável pelo trabalho em referência . Foram estabelecidos contatos com os Comissários de Bordo das três maiores empresas aéreas brasileiras para que fosse aplicado o questionário. Este trabalho se limitou em obter o grau de qualidade de vida no trabalho dos Comissários de Bordo no Brasil que voam em jatos. 16 7.1 Qualidade de vida no trabalho (QVT) Julião (2001) relata que os possíveis impactos causados pelo trabalho na vida das pessoas refletem diretamente nos resultados das empresas. A qualidade de vida no trabalho é capaz de mudar o ambiente, tornando a atividade mais agradável e humana dentro das organizações. As condições de trabalho vêm melhorando a cada dia, porém ainda estão longe de serem consideradas dignas. O que antes era considerado um problema, como as extensas jornadas de trabalho insalubre, hoje já não mais ocorre com tanta frequência, pois os fatores são outros: pressão, competitividade, resultado, exigência, além, é claro, da instabilidade no trabalho devido às mudanças na economia mundial. Os funcionários também estão mais exigentes em relação às condições oferecidas pelas organizações. A busca pela produtividade e qualidade é o principal fator para as empresas que se preocupam com a qualidade de vida no trabalho e, tentam, desta forma, conseguir o comprometimento e a motivação dos trabalhadores (JULIÃO, 2001). . Estes são alguns dos fatos históricos que há tempos surgiram para melhorar as condições de trabalho e bem-estar dos trabalhadores (RODRIGUES, 1994). O valor do trabalho para o homem é muito importante, pois é por meio de tal atividade que o homem se desenvolve na sociedade. A jornada de trabalho representa normalmente dois terços do dia, por isso se deve realmente estudar quais as suas condições. Todos conhecem os problemas que a falta de emprego causa na vida das pessoas, porém os problemas causados pelo trabalho ainda não são de conhecimento de todos. Mesmo que a empresa não se importe com isso, a falta de qualidade de vida 17 afeta diretamente os resultados da empresa - o qual realmente tem importância para uma organização (JULIÃO, 2001). Julião (2001) afirma que a qualidade de vida no trabalho tem como objetivo o grau de satisfação do funcionário com a empresa. A qualidade de vida no trabalho é vista como uma estratégia para as empresas, uma vez que o impacto causado pela baixa qualidade de vida no trabalho é muito forte, podendo acarretar baixa produtividade e alto índice de rotatividade. Tal fato ocorre porque as pessoas estão muito mais exigentes e conhecem os valores sobre a importância do trabalho, assim como o impacto que ele pode causar em suas vidas. O objetivo das empresas é obter resultados. Por estes motivos, talvez seja o momento de rever a qualidade de vida no trabalho para que possam ser atendidas as necessidades de satisfação dos trabalhadores (JULIÃO, 2001). O conceito de qualidade de vida no trabalho merece atenção, uma vez que o trabalho não representa apenas uma fonte de renda, mas também um meio de satisfazer as necessidades das pessoas, com reflexos claros na qualidade de vida. Mesmo em países desenvolvidos, como Estados Unidos, Canadá e França, o conceito de QVT varia muito, mas, para todos eles, ele está ligado às melhorias nas condições físicas e instalações, ao atendimento a reivindicações salariais, à redução da jornada de trabalho, além de outras medidas do mesmo gênero. Tais implicações geram despesas às empresas, porém é por intermédio de programas de QVT que elas conseguirão ser competitivas, porque é por meio do comprometimento das pessoas com a empresa que os resultados são atingidos. Um artigo clássico por ter fornecido um modelo de análise de experimentos importantes sobre QVT foi o de Walton (1973). Para ele, tal termo vem sendo utilizado para descrever alguns valores materiais e humanos, rejeitados pelas sociedades industriais em favor da tecnologia, produtividade e crescimento econômico. 18 O autor contribui com questionamentos importantes por intermédio de oito critérios para a QVT. O primeiro deles é a compensação adequada e justa: A honestidade da compensação pode ser vista por vários pontos; por exemplo, a relação entre salário e talento ou habilidade; pela demanda de mão-de-obra ou por meio da média de compensação da comunidade em questão. Desta forma, visa sempre à equidade interna e externa, à justiça na compensação, à partilha dos ganhos de produtividade e à proporcionalidade entre salários. O segundo tópico a que o modelo de Walton (1973) visa são as condições de segurança e saúde no trabalho: horários razoáveis, condições físicas adequadas para reduzir doenças e danos. Trata-se ainda de critérios por idade, estrutura física e maternidade, além de jornada de trabalho razoável e ambiente físico seguro e saudável. O terceiro tópico é o uso e o desenvolvimento das capacidades pessoais: oportunidade de crescimento pessoal adequado a potencialidades e ao desafio pessoal-profissional. Além destes, trata-se da autonomia, do autocontrole, do uso das qualidades múltiplas e das informações fornecidas ao trabalhador sobre o processo total do trabalho (WALTON, 1973). Já o quarto tópico é a oportunidade futura para crescimento contínuo e segurança: neste ponto, Walton (1973) revela principalmente a chance de carreira, a oportunidade de utilizar o conhecimento e as habilidades adquiridas em trabalhos futuros, além do progresso, da segurança de emprego ou de renda. O quinto tópico está ligado à integração social na organização de trabalho, iniciado com a ausência de qualquer tipo de preconceito; além dela, há a estratificação e a mobilidade social, itens que seriam a mola mestra para um bom nível de integração, assim como o relacionamento e o senso comunitário (WALTON, 1973). O sexto tópico está relacionado com o constitucionalismo na organização do trabalho 19 (cidadania): os direitos e deveres, as normas e regras são pontos chave para garantir uma QVT elevada. Ressaltam-se a importância da privacidade, o direito de posicionamento e o tratamento justo e adequado em todos os assuntos, além de direitos de proteção do trabalhador, atendimento dos direitos trabalhistas, privacidade pessoal e liberdade de expressão (WALTON, 1973). O sétimo tópico está ligado ao trabalho e ao espaço total da vida; neste ponto, Walton (1973) se refere ao equilíbrio entre trabalho e vida pessoal. O efeito sobre as outras esferas da vida de cada pessoa reflete-se no equilíbrio entre os esquemas de trabalho, expectativa de carreira, progresso e promoção, estabilidade de horários, poucas mudanças geográficas, além de tempo para lazer da família. O oitavo e último tópico está diretamente relacionado à relevância social da vida do trabalho: Walton (1973) menciona o comportamento irresponsável das organizações, uma vez que estas originam um número crescente de empregados a depreciarem o próprio trabalho e carreira, alterando assim a auto-estima deles. Além da Responsabilidade Social da empresa com relação à preservação do meioambiente, e a seus funcionários por intermédio de oportunidade de emprego, transporte, educação, higiene. Refere-se, portanto, à preocupação com a imagem da empresa, com a responsabilidade pelos produtos e às práticas de emprego (WALTON, 1973). 7.2 Procedimentos metodológicos utilizados nas pesquisa QVT Esta pesquisa é do tipo exploratória, uma vez que tem como finalidade principal a familiarização do problema e, assim, fazer com que ele se torne mais evidente ou, inclusive,construir uma hipótese. Uma forte característica deste tipo de pesquisa é que seu planejamento é bastante maleável, apesar de este tipo de pesquisa normalmente 20 assumir a forma de um estudo de caso ou ainda um levantamento bibliográfico. Neste caso, assumiu a forma de um levantamento com a utilização de técnicas padronizadas de coleta de dados e uma amostra por conveniência (GIL, 2002). 7.3 Conclusão da Pesquisa Qualidade de Vida de Comissários de Bordo Segundo a outora da pesquisa o resultado encontrado foi que, de maneira geral, os Comissários entrevistados foram otimistas em suas respostas, sendo que o índice geral encontrado foi de 4,55, lembrando que a escala variava de 1 a 7 (Discordo Totalmente a Concordo Totalmente). Foi identificado que, para esta categoria profissional, o fator que mais influencia a qualidade de vida no trabalho é o fator relacionado à remuneração; além disso, a qualidade de vida no trabalho é representada por três itens: segurança, remuneração e realização pessoal, em suas respectivas ordens de importância. Sem dúvida nenhuma, a constatação mais importante neste trabalho foi a do grande peso que a remuneração tem na vida destes trabalhadores. Por meio da análise fatorial exploratória, identificou-se que, de 52 questões, foram encontrados oito fatores principais e, destes oito fatores, o primeiro lugar foi designado à remuneração, ou seja, em uma variância total explicada de 59,951%, o fator remuneração foi responsável por 23,413%, contrariando assim algumas novas teorias que acreditam que muitas pessoas deixam seus empregos com benefícios e salários atrativos para abrirem o próprio negócio com o objetivo de melhor a qualidade de vida no trabalho. Para esta classe trabalhadora, quando se questiona sobre qualidade de vida no trabalho, sem dúvida se fala principalmente em remuneração. 21 É perceptível que existe uma inclinação muito grande de as pessoas se tornarem cada dia mais exigentes e menos satisfeitas com as condições de trabalho oferecidas. Um exemplo disso eram as condições de trabalho oferecidas pelas empresas antigamente e as condições de trabalho atuais, com regulamentações trabalhistas cada vez mais rígidas para a proteção do cidadão. Foi constatado que a classe trabalhadora entrevistada possui uma regulamentação profissional complexa e os profissionais a conhecem detalhadamente, justamente por estarem cientes de que, se houver um acidente e eles não estiverem dentro da lei, o seguro não cobrirá os possíveis danos; em consequência, eles acreditam que a regulamentação realmente os protege e exigem que haja o cumprimento dela. Como é perceptível dentre esta classe trabalhadora, o dinheiro é um fator de maior peso e tudo que o envolve também é, tal como salários, seguros, benefícios. Para novas teorias, velhos resultados, ou seja, mais uma vez o bom e velho dinheiro é o resultado de maior peso para os entrevistados desta pesquisa. Nesta análise, ficou perceptível a importância do primeiro fator, com o título sugerido de "Remuneração". Este item é muito importante para esta classe trabalhadora, uma vez que teve uma explicação de 23,413% da variância total, que é de 59,951%. Deve-se levar em consideração que, na maior das empresas entrevistadas, as quais foi aplicado o maior número de questionários, a cada ano que passa o Comissário de Bordo ganha senioridade e sua hora de voo passa a valer mais. Se considerar a média salarial da população brasileira, o salário de um Comissário de Bordo deve ser considerado bom, pois para este profissional não é exigido como requisito o nível superior. 22 8. A Síndrome de Burnout Freudenberger (1974) criou a expressão staff burnout para descrever uma síndrome composta por exaustão, desilusão e isolamento em trabalhadores da saúde mental. De acordo com o artigo da revisão bibliográfica produzido pela psiquiatra Dra Telma Ramos Trigo (Trigo, T.R. et al. / Rev. Psiq. Clín 34 ) a respeito da síndrome no Brasil e em outros países, que transcrevo abaixo, podemos entender de forma geral suas caracteristicas bem como os efeitos que podem prejudicar o profissional nos três níveis individual, profissional e organizacional. O termo burnout é definido, segundo um jargão inglês, como aquilo que deixou de funcionar por absoluta falta de energia. Metaforicamente é aquilo, ou aquele, que chegou ao seu limite, com grande prejuízo em seu desempenho físico ou mental. A síndrome de burnout é um processo iniciado com excessivos e prolongados níveis de estresse (tensão) no trabalho. Para o diagnóstico, existem quatro concepções teóricas baseadas na possível etiologia da síndrome: clínica, sociopsicológica, organizacional, sociohistórica (Murofuse et al., 2005). A mais utilizada nos estudos atuais é a concepção sociopsicológica. Nela, as características individuais associadas às do ambiente e às do trabalho propiciariam o aparecimento dos fatores multidimensionais da síndrome: exaustão emocional (EE), distanciamento afetivo (despersonalização – DE), baixa realização profissional (RP) (Cherniss, 1980b; World Health Organization, 1998) A exaustão emocional abrange sentimentos de desesperança, solidão, depressão, raiva, impaciência, irritabilidade, tensão, diminuição de empatia; sensação de baixa energia, fraqueza, preocupação; aumento da suscetibilidade para doenças, cefaléias, náuseas, 23 tensão muscular, dor lombar ou cervical, distúrbios do sono (Cherniss, 1980a; World Health Organization, 1998). O distanciamento afetivo provoca a sensação de alienação em relação aos outros, sendo a presença destes muitas vezes desagradável e não desejada (Cherniss, 1980a; World Health Organization, 1998). Já a baixa realização profissional ou baixa satisfação com o trabalho pode ser descrita como uma sensação de que muito pouco tem sido alcançado e o que é realizado não tem valor (Cherniss, 1980a; World Health Organization, 1998). Em revisão sistemática e meta-análise de 485 estudos com uma amostra de 267.995 indivíduos, avaliaram-se evidências que relacionavam satisfação com o trabalho a bem-estar físico e mental. Houve intensa associação entre baixos níveis de satisfação com o trabalho e problemas mentais e psicológicos como burnout, auto-estima, depressão e ansiedade (Faragher et al., 2005). Nos Estados Unidos, o estresse e problemas relacionados, como é o burnout, provocam um custo calculado de mais de $150 bilhões anualmente para as organizações (Donatelle e Hawkins, 1989). As implicações financeiras específicas do burnout merecem ser avaliadas diante da insatisfação, absenteísmo, rotatividade e aposentadoria precoce causados pela síndrome (World Health Organization, 2003). No Canadá, estudo evidenciou que enfermeiros possuíam uma das taxas mais altas de licenças médicas entre todos os trabalhadores, o que se devia, principalmente, ao burnout, ao estresse induzido pelo trabalho e às lesões musculoesqueléticas(Shamian et al., 2003). Em estudo de equipe pertencente à OMS, considerou-se o burnout como uma das principais doenças dos europeus e americanos, ao lado do diabetes e das doenças cardiovasculares (Akerstedt, 2004; Weber e Jaekel-Reinhard, 2000). A OMS convocou um grupo internacional de conhecedores no assunto como Cherniss (EUA), 24 Cooper (Reino Unido), entre outros, a fim de elaborar medidas para a sua prevenção (World Health Organization, 1998). Em relação à população geral, pouco se sabe sobre a prevalência do burnout. Um levantamento alemão estimou que 4,2% de sua população de trabalhadores era acometida pela síndrome (Houtman et al., 1998).Uma proporção relevante das pesquisas avaliou trabalhadores da área de saúde, obtendo dados muitas vezes semelhantes. Um estudo sugeriu que a síndrome poderia afetar mais de 40% dos médicos em um nível suficiente para comprometer o bem-estar pessoal ou o desempenho profissional destes (Henderson, 1984). Em relação às equipes de saúde européias, apesar de não se citarem dados estatísticos, há grande preocupação com o aumento do número de profissionais médicos acometidos pela síndrome tanto pelo comprometimento da saúde desses trabalhadores e da qualidade dos cuidados com os pacientes quanto pelos prejuízos financeiros que causa (World Health Organization, 2003). Sintomas de estresse, burnout e pensamentos suicidas foram avaliados em uma população de 2.671 médicos finlandeses (Olkinuora et al., 1990). Os que apresentaram maiores índices de elevado burnout pertenciam à clínica médica, medicina do trabalho, psiquiatria, inclusive a infantil, medicina interna, oncologia, dermatologia, infectologia, radiologia, neurologia e pneumologia. Os não-especialistas pontuaram um nível mais elevado de burnout comparados aos especialistas. Já os médicos de postos de saúde municipais tinham os mais elevados níveis da síndrome. Os que trabalhavam no setor particular, universidades e institutos de pesquisa foram os que apresentaram os menores níveis. Já em 1.840 médicos americanos, os maiores índices de elevado burnout foram detectados no serviço privado (55%), seguido pelos médicos do setor 25 público (39%) e do acadêmico (37%) (Deckard et al., 1992).Dependendo da especialidade médica ou região dos Estados Unidos, estudos documentaram uma variação de acometimento de médicos pelo burnout de 40% a 70% (Creagan, 1993; Creagan, 1998; Gundersen, 2001; Spickard et al., 2002). Os grupos de alto risco eram os envolvidos em departamentos de emergência, de doenças infecciosas, de oncologia e de medicina geral (Creagan, 1998). Em residentes de medicina interna, o índice de burnout era de 76%, o que se relacionou à prática intensa dos cuidados oferecidos (Shanafelt et al., 2002). No Brasil, a literatura encontrada nos bancos de dados utilizados não é vasta em relação ao burnout e sua prevalência. No Rio Grande do Norte, um estudo realizado com 205 profissionais de três hospitais universitários constatou que 93% dos participantes de um dos hospitais apresentavam burnout de níveis moderado e elevado (Borges et al., 2002). Ainda em relação aos profissionais da saúde, 136 membros da Sociedade Brasileira de Cancerologia responderam a três questionários, um deles para avaliar o burnout. Observou-se essa síndrome em níveis moderados ou graves em 15,7% dos médicos. Na subescala de EE, 55,8% dos indivíduos pontuaram níveis moderado ou grave; na subescala de DE, a pontuação correspondente a esses níveis foi atingida por 96,1% e na subescala de RP, 23,4% (Tucunduva et al., 2006). Outra população-alvo de estudos sobre o burnout é a dos educadores. Investigações (Codo, 1999) sobre a saúde mental dos professores de 1o e 2o graus em todo o país, abrangendo 1.440 escolas e 30 mil professores, revelaram que 26% da amostra estudada apresentava exaustão emocional. Essa proporção variou de 17% em Minas Gerais e no Ceará a 39% no Rio Grande do Sul. Universidade Federal do Rio de Janeiro (URFJ), para ilustrar o grau de estresse inerente ao conflito entre aumento da 26 competição no meio científico e diminuição dos recursos empregados, realizou entrevistas abertas e semi-estruturadas com estudantes de graduação, pós-doutorandos e professores do Departamento de Bioquímica da URFJ, respeitado na tradição em pesquisa. Concluiu-se que a escassez de recursos promove burnout, competição, estresse no trabalho e sofrimento mental (Meis et al., 2003a). 8.1 Fatores de risco para o desenvolvimento da síndrome de burnout Para a enumeração dos fatores de risco para o desenvolvimento do burnout, são levadas em consideração quatro dimensões: a organização, o indivíduo, o trabalho e a sociedade (World Health Organization, 1998). Na dimensão da Organização alguns itens são mencionados anexos na tabela 2 como poe exemplo a burocracia ( excesso de normas ) que impede a autonomia e a participação criativa e portanto, a tomada de decisões. As normas organizacionais frequentes, provocam inseguranças, predispondo o funcionario a erros. Comunicação ineficiente, gerando um clima prejudicial( Maslach e Leiter, 1997; Vega, 1997; Gil Monte. 1997; Carlotto ,2001). Na dimensão do Indivíduo acredita-se que características próprias podem estar associadas a maiores ou menores índices de burnout ou seja tipo de personalidade com caracteristicas resistentes ao estresse ou hardness (Maslach et al, 2001;Schaufeli e Enzmann, 1998), que pode ser encontrado em pessoas que envolvem-se em tudo o que fazem; acreditam possuir domínio da situação; encaram as situações adversas com otimismo e como oportunidade de aprendizagem(Antonovsky, 1897;Kobasa, 1979; Mendes, 1999.) Outros fatores como Lócus de controle externo, superenvolvimento, individuos pessimistas, perfeccionistas, controladores e passivos, entre outros. 27 O fator sobrecarga que esta relacionado a quantidade excessiva de demandas que ultrapassam a capacidade de desempenho, por insuficiência técnica, de tempo ou de infra-estrutura organizacional( Kurowski, 1999; Maslach et al, 2001). Baixo nível de controle das atividades , sentimentos de injustiça e de inquidade nas relações ou ambiquidade de papel são fatores laborais a serem considerados. Quando analisa a dimensão da Sociedade os fatores sociais associados à síndrome de burnout são, falta de uporte social e familiar, manutenção de prestigio social em oposição à baixa salarial que envolve determinada profissão d valores e normas culturais. 8.2 Associação com transtornos psiquiátricos Importante ressaltar ainda as implicações relacionadas a associação da síndrome de burnout com transtornos psiquiátricos conforme estudo da revisão de leitura ” Síndrome de burnout ou estafa profissional e os transtornos psiquiátricos” Trigo, T.R. et al. / Rev. Psiq. Clín 34. Burnout e depressão ,dúvidas sobre a definição diagnóstica da síndrome de burnout, suas diferenças e correlações com a depressão ainda estão em estudo. Testou-se a validade discriminativa da síndrome de burnout em contraste com transtorno depressivo em professors pré-escolares, médicos-assistentes e familiares. Os resultados indicaram validade para o burnout, diferenciando-o da depressão (Reime e Steiner, 2001). A sobreposição à exaustão emocional é digna de nota (aproximadamente 20%). Já a baixa associação entre o Inventário de Depressão de Beck e as dimensões RP e DE 28 não dá suporte à idéia deque o burnout é uma forma de depressão relacionada ao trabalho (Glass e McKnight, 1996). Alguns autores acreditam que a depressão seguiria o burnout e que altos níveis de exigência psicológica, baixos níveis de liberdade de decisão, baixos níveis de apoio social no trabalho e estresse devido a trabalho inadequado são preditores significantes para subseqüente depressão. Sugere-se também que os indivíduos jovens com burnout têm maior porcentagem de depressão leve do que ausência de depressão (Iacovides et al., 2003). Examinou-se a relação entre variáveis ocupacionais (predisponentes à síndrome de burnout) e os transtornos depressivos. Constatou-se que indivíduos que trabalham em condições de muitas demandas psicológicas associadas a baixo poder de decisão têm maior prevalência de depressão quando comparados aos trabalhadores não expostos a essas condições (Mausner-Dorsch e Eaton, 2001). Diante da hipótese de que a suscetibilidade para depressão associa-se ao aumento de risco para o desenvolvimento de burnout, avaliaram-se os índices pessoais e história familiar de depressão e sintomas de burnout, confirmando tal hipótese (Nyklicek e Pop, 2005). Outro estudo avaliou a associação entre transtornos psiquiátricos e nível do cargo ocupado em oficiais do governo japonês para detecção de estresse, transtornos psiquiátricos e síndrome de burnout. Como resultados, encontraram-se várias correlações. Primeira: quanto maior o nível de estresse associado a limitado apoio da organização ao funcionário, maior a probabilidade de desenvolver síndrome de burnout. Segunda: quanto mais forte for o suporte da organização, menor a tendência em se desenvolver depressão. Constatou-se que oficiais ocupando cargos de alto nível recebiam menor apoio organizacional e estavam mais severamente deprimidos quando comparados a oficiais em cargos hierarquicamente mais baixos (Nadaoka et al., 1997). 29 Não se encontraram estudos que avaliassem a associaçãode transtornos ansiosos específicos (transtorno do pânico, fobia social, ansiedade generalizada, transtorno obsessivo-compulsivo, transtorno do estresse póstraumático) e burnout. Estudo realizado em Sidney, Austrália, avaliou 110 estudantes do primeiro ano do programa de graduação médica a fim de determinar a prevalência de desordens psiquiátricas e burnout no último ano de Medicina. Constatou-se que o número de participantes que preenchiam critérios tanto para desordens psiquiátricas (como transtornos de ansiedade) quanto para o burnout cresceu ao longo do período do estudo (Willcock et al., 2004) Em Chicago (EUA), constatou-se que dentistas se deparam com numerosas fontes de estresse profissional, iniciadas já na faculdade. Afirmou-se que estão propensos a burnout, transtornos ansiosos e depressivos em razão da natureza da prática clínica e dos traços de personalidade comuns aos que decidem pela carreira odontológica (Rada e Johnson-Leong, 2004). Burnout e suicídio, estudaram-se ideação suicida, tentativa de suicídio e os aspectos relacionados ao ambiente de trabalho. Quatro fatores foram relacionados: propensão ao suicídio, qualidade do trabalho, ambiente de trabalho negativo e burnout/depressão. A correlação entre esses fatores sugeriu que o ambiente de trabalho, quando negativo, estava associado a burnout/depressão, que, por sua vez, estavam relacionados a maior probabilidade de ideação suicida e tentativa de suicídio (Samuelsson et al., 1997). Com relação ao Burnout e dissociação, o levantamento realizado mostrou um estudo cujas evidências sugeriram que trabalho próximo e prolongado a vítimas de trauma e de abuso sexual pode causar conseqüências psicológicas para os profissionais que lidam com essas situações, como o burnout. Entre as possíveis conseqüências, tem-se o desenvolvimento de episódios dissociativos, ansiedade, depressão, pensamentos 30 intrusivos, paranóia, hipervigilância e relações pessoais interrompidas (Juntunen et al., 1988). Burnout e abuso/dependência ao álcool e outras substâncias ilícitas O estresse causado nos médicos pelo seu trabalho pode levar ao burnout e à dependência química (Juntunen et al., 1988; Schifferdecker et al., 1996a; 1996b). Estudou-se o consumo de álcool em 2.671 médicos finlandeses como parte de uma pesquisa sobre estresse e burnout. O aumento do consumo de álcool estava associado, entre outros, a tabagismo, uso de benzodiazepínicos, estresse e burnout, pensamentos de morte, insatisfação geral. Hábitos de beber eram mais pesados entre médicos trabalhando nos centros comunitários de saúde, entre os que tinham licença prolongada devido à doença, jovens médicos desapontados com suas profissões ou com o ambiente de trabalho, e médicos mais experientes, imersos em suas tarefas diárias. Sugeriu-se que o uso pesado de bebida alcoólica poderia estar associado a estresse e burnout (Blair e Ramones, 1996). Avaliou-se a extensão de burnout entre 306 médicos generalistas franceses. Verificouse elevado nível de burnout em 5% da população avaliada. De cada 3 médicos, 1 pensava em se submeter a novo treinamento, 5,5% declararam estar bebendo em excesso, 30% usavam psicotrópicos e 13% pensavam em suicídio. A qualidade de vida dos que sofrem com burnout foi considerada deteriorada, também levando a conseqüências deletérias no que se refere aos cuidados prestados aos pacientes (Cathebras et al., 2004). Burnout e transtornos psicossomáticos, há muitas indicações de que situações estressantes de origens familiar e laboral são fatores de risco para o desenvolvimento de desordens relacionadas ao estresse. Segundo evidencia o estudo, diagnósticos como síndrome de burnout, síndrome da fadiga crônica e fibromialgia representam modos diferentes de reagir a uma situação opressiva. O limite entre essas doenças e, 31 de outro lado, depressão, doenças cardíacas, é freqüentemente impreciso; esses diagnósticos podem delinear os estágios preliminares de doenças como angina pectoris e infarto do miocárdio. Essas circunstâncias refletem sofrimento considerável dos indivíduos e um fardo econômico significativo para a sociedade (Anderberg, 2001). Em estudo realizado em Roma, avaliaram-se controladores de tráfego aéreo (CTA) e profissionais de serviços de saúde (PSS) usando-se o Rome burnout inventory (RBI). Os indivíduos que relatavam estar deprimidos, ansiosos ou com impulso descontrolado preenchiam critérios para burnout. Os maiores níveis de doenças psicossomáticas foram encontrados nos CTA que também tiveram maior pontuação em exaustão emocional (Venturi et al., 1994). 8.3 Conseqüências do burnout Muitos pontos permanecem não esclarecidos, mas os autores, de forma geral, concordam que o burnout interfere nos níveis institucional, social e pessoal. Como podemos verificar as consequencias para a organização, em aumento em seus gastos (tempo, dinheiro) com a conseqüente rotatividade de funcionários acometidos pelo burnout, assim como com o absenteísmo destes (Gil-Monte, 1997; Maslach e Leiter, 1997; Maslach et al., 2001; World Health Organization, 1998).Há estudo afirmando que o burnout enfraquece o interesse de alguns membros da equipe de saúde por práticas inovadoras, contribuindo como fator impeditivo na disseminação de condutas baseadas em evidência (Corrigan et al., 2003; Gil-Monte, 1997; Maslach e Leiter, 1997; Maslach et al., 2001). 32 Segundo Maslach e Leiter (1997): “[...] os indivíduos que estão neste processo de desgaste estão sujeitos a largar o emprego, tanto psicológica quanto fisicamente. Eles investem menos tempo e energia no trabalho, fazendo somente o que é absolutamente necessário e faltam com mais freqüência. Além de trabalharem menos, não trabalham tão bem. Trabalho de alta qualidade requer tempo e esforço, compromisso e criatividade, mas o indivíduo desgastado já não está disposto a oferecer isso espontaneamente. A queda na qualidade e na quantidade de trabalhoproduzido é o resultado profissional do desgaste”. O indivíduo pode apresentar fadiga constante e progressiva; dores musculares ou osteomusculares (na nuca e ombros; na região das colunas cervical e lombar); distúrbios do sono; cefaléias, enxaquecas; perturbações gastrointestinais (gastrites até úlceras); imunodeficiência com resfriados ou gripes constantes, com afecções na pele (pruridos, alergias, queda de cabelo, aumento de cabelos brancos); transtornos cardiovasculares (hipertensão arterial, infartos, entre outros); distúrbios do sistema respiratório (suspiros profundos, bronquite, asma); disfunções sexuais (diminuição do desejo sexual, dispareunia/anorgasmia em mulheres, ejaculação precoce ou impotência nos homens); alterações menstruais nas mulheres (Araújo et al., 1998; Cherniss, 1980b; Dejours, 1992; Donatelle e Hawkins, 1989; Freudenberger, 1974; Goetzel et al., 1998; Lerman et al., 1999; Melamed et al., 1999; Nakamura et al., 1999; Pruessner et al., 1999; Silvany et al., 2000; World Health Organization, 1998). Em relação ao psiquismo, pode apresentar: falta de concentração; alterações de memória (evocativa e de fixação); lentificação do pensamento; sentimento de solidão; 33 impaciência; sentimento de impotência; labilidade emocional; baixa auto-estima; desânimo (Araújo et al., 1998; Benevides-Pereira, 2001; Donatelle e Hawkins, 1989; Freudenberger, 1974; Goetzel et al., 1998; Goetzel et al., 2002; Silvany et al., 2000). Pode ocorrer o surgimento de agressividade, dificuldade para relaxar e aceitar mudanças; perda de iniciativa; consumo de substâncias (álcool, café, fumo, tranqüilizantes, substâncias ilícitas); comportamento de alto risco até suicídio (Araújo et al., 1998; Benevides-Pereira, 2001; Donatelle e Hawkins, 1989; Freudenberger, 1974; Goetzel et al., 1998; 2002; Murofuse et al., 2005; Silvany, 2000). 8.4 Conclusão da Revisão da Literatura Síndrome de burnout ou estafa profissional e os transtornos psiquiátricos. Trigo, T.R. et al. / Rev. Psiq. Clín 34, é que a prevalência do burnout nos vários países ainda é incerta, mas dados apontam acometimento significativo que justifica mais estudos a respeito dessa patologia com fatores de risco multifatoriais (indivíduo, trabalho, organização). Pode-se apresentar em comorbidade com algumas doenças psiquiátricas ou até desencadeá-las, como burnout seguido por transtorno depressivo. Entretanto, não se encontraram estudos que avaliassem, por entrevistas estruturadas, as taxas de comorbidade entre essas duas condições e possíveis relações causais. As conseqüências do burnout têm efeitos negativos para a organização, para o indivíduo e sua profissão (Goetzel et al., 2002; Moreno-Jimenez, 2000; Murofuse et al., 2005; Schaufeli, 1999b). 34 9. Neuroses Atuais O artigo “A hereditariedade e a etiologia das neuroses”, escrito em francês e publicado por Freud em 1896, para demarcar a criação da psicanálise pela ruptura que estabeleceu com o discurso neurológico sobre os sintomas das psiconeuroses. Na seqüência, são destacados alguns argumentos que se encontram no artigo “A sexualidade na etiologia das neuroses”, publicado em 1898, por considerá-lo o ponto de passagem para a publicação da obra fundadora da psicanálise: A Interpretação dos Sonhos. O primeiro artigo demonstra um ponto de ruptura; o segundo um ponto de passagem para que Freud pudesse instaurar as bases conceituais da teoria e da prática psicanalítica. Através da escuta clínica dos pacientes neuróticos [histeria e obsessão], Freud constatou a existência de grupos de indivíduos cuja vida sexual se desvia, da maneira mais surpreendente, do quadro habitual da média (...) e devemos nos lembrar de que cada um destes grupos podem ser encontrados sob duas formas: ao lado daqueles que procuram sua satisfação sexual na realidade, estão os que se contentam simplesmente com imaginar essa satisfação, que absolutamente não necessitam de um objeto real, mas podem substituí-lo por suas fantasias. (FREUD, 1976b, pp. 356 e 358 itálico do autor) Segundo freud a pulsão sexual que atua nas psiconeuroses é a mesma que atua nas pessoas que se consideram normais. A psicanálise ensina que “os sintomas se formam, em parte, às expensas da sexualidade anormal” e que os mesmos “representam a expressão convertida de pulsões que seriam designadas de perversas (no sentido mais lato) se pudessem expressar-se diretamente, sem desvio pela consciência, em 35 propósitos da fantasia e em ações”. Desse ensinamento extraiu a seguinte conclusão: a neurose é, por assim dizer, o negativo da perversão (FREUD, 1989, p.155 – itálico do autor). “A pulsão sexual dos psiconeuróticos permite discernir todas as aberrações que estudamos como variações da vida sexual normal e como manifestações da patológica. a) na vida psíquica de todos os neuróticos (sem exceção) encontram-se moções de inversão, de fixação da libido em pessoas do mesmo sexo (...) b) no inconsciente dos psiconeuróticos é possível demonstrar, como formadoras do sintoma, todas as tendências à transgressão anatômica (...) c) um papel muito destacado entre os formadores de sintomas das psiconeuroses é desempenhado pelas pulsões parciais [destaca-se que esta é a primeira aparição desse conceito na obra de Freud], que na maioria das vezes aparecem como parte de opostos [exibicionismo-voyerismo; sadismomasoquismo, por exemplo]. (FREUD, 1989, p.156)” Encontra-se também, nesse trabalho, um resumo das concepções contemporâneas de Freud sobre a etiologia dos quatro tipos de neuroses que ele então considerava os principais: as duas psiconeuroses, histeria e neurose obsessiva; e as duas “neuroses atuais”, neurastenia e neurose de angústia. Assim, Freud nomeou a psicanálise estabelecendo uma cartografia da neuropatologia do final do século XIX e apresentando seus resultados da pesquisa clínica sobre estes quatro tipos de neurose. Os argumentos do artigo revelam-nos sua extemporaneidade. As idéias principais de Freud, embora refutadas após a introdução da hipótese da sexualidade infantil, mantêm ainda sua relevância na formulação da psicanálise como prática clínica, sustentada na escuta dos sintomas da neurose histérica e neurose obsessiva – as duas neuroses que compõem o grupo de estudos de Freud. A etiologia das neuroses foi demarcada em três 36 classes: Precondições: que são indispensáveis para produzir os distúrbios neuróticos nessa classe é compreendido o fator hereditário; Causas Concorrentes: que compartilham com as precondições a característica de funcionarem tanto na causação de outros distúrbios quanto na dos distúrbios neuróticos, dentre elas, destacou a perturbação emocional, esgotamento físico, intoxicações, acidentes traumáticos, sobrecarga intelectual, etc; Causas Específicas: “que são indispensáveis como as precondições, mas têm natureza limitada e só aparecem na etiologia do distúrbio de que são específicas”. (FREUD, 1994, p.146).” Foi abordando as causas específicas que Freud estabeleceu a ruptura com o discurso da neuropatologia de seu tempo. Para ele, a classe das causas específicas possui uma fonte comum de onde derivam suas manifestações fenomênicas: a vida sexual do sujeito. Traçar o histórico dessa vida sexual, retroativamente dos distúrbios atuais até uma experiência sexual passiva antes da puberdade, era a proposta do método clínico da psicanálise de Freud. ” Os distúrbios sexuais sempre foram admitidos entre as causas da doença nervosa, mas têm sido subordinados à hereditariedade e coordenados com os demais agents provocateures; sua influência etiológica tem-se restringido a um número limitado de casos observados. (...) O que confere um caráter distintivo a minha linha de abordagem é que elevo essas influências sexuais à categoria de causas específicas, reconheço sua atuação em todos os casos de neurose e, finalmente, traço um paralelismo regular, prova de uma relação etiológica especial, entre a natureza da influência sexual e a espécie patológica da neurose. Estou certo de que essa teoria invocará uma tempestade de contestações por parte dos médicos contemporâneos. (FREUD, 1994, p.149) ” 37 Considerações Começa a ser desenhado um paralelo de entre as atividades ocupacionais dos aeronautas e o impacto em sua saúde mental, acreditando que o aprofundamento das questões sociopsicologicas, teremos uma confirmação e melhor entendimento da questão em pesquisa. 38 REFERÊNCIAS ETD – Educação Temática Digita, Campinas, v.8, n.esp., p.167-184, dez. 2006 – ISSN:1676-2592. DIRETORIA DE SEGURANÇA OPERACIONAL BISV 05/2009 – SAODQ BOLETIM INTERNO DE SEGURANÇA DE VOO – Gol Linhas aereas Original publicado na Revista FLIGHT SAFETY FUNDATION – AEROSAFETYWORLD – Agosto 2009 http://www.psicologia.ufrj.br/teoriapsicanalitica ‘Neurosis and Psychosis’ 1924.P., 2, 250-4. (Trad. de Joan Riviere.) “Síndrome de burnout ou estafa profissional e os transtornos psiquiátricos” Trigo, T.R. et al. / Rev. Psiq. Clín 34 ”Transtornos de ansiedade em mulheres: gênero influencia o tratamento?” Rev Bras Psiquiatr. 2005;27(Supl II):S43-50 "História do Movimento Psicanalítico". 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