Posições centrais em uma rede social: a estrutura da rede de ONGs de Pernambuco... Posições centrais em uma rede social: a estrutura da rede de ONGs de Pernanbuco associadas à ABONG Marcela Cox1 Paulo Thiago Nunes Bezerra de Melo2 Helder Pontes Régis3 Resumo Esse estudo se propõe a descrever e analisar a rede interorganizacional de ONGs de PE e as suas respectivas redes de articulação. Especificamente, são estudadas as ONGs associadas à ABONG (Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais), no que se refere às suas características estruturais, que fazem parte da dimensão estrutural do capital social. Esta dimensão estrutural é conceituada como as conexões entre os atores, ou seja, como os atores se conectam. São descritos os padrões e vínculos em termos de medidas como densidade e centralidade. A centralidade de um ator pode ser determinada tomando como referência a três diferentes atributos estruturais: seu grau, sua intermediação ou sua proximidade. O interesse na atividade de comunicação sugere uma medida baseada no grau; o interesse no controle da comunicação requer uma medida baseada na intermediação; e o interesse na independência e na eficiência leva à escolha de uma medida baseada na proximidade. Para o mapeamento, mensuração da densidade e centralidade da rede foi utilizado o software UCINET 6. Identificou-se que a rede estudada possui baixo nível de aproveitamento das relações possíveis. Também foi possível identificar os atores que se destacam por ocuparem posições estruturais de grande atividade de comunicação, de controle da informação e de independência da informação. Palavras-chave: Redes sociais. Estrutura social. Organizações não governamentais. 1 Mestranda em Gestão Empresarial pela Faculdade Boa Viagem – FBV. [email protected]. 2 Mestrando em Gestão Empresarial pela Faculdade Boa Viagem – FBV. [email protected]. 3 Doutor em Administração pela Universidade Federal de Pernambuco – UFPE. Professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE. Professor Colaborador do Centro de Pesquisa e Pós-Graduação e Administração da Faculdade Boa Viagem (CPPA-MPGE). [email protected]. Gestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 6, n. 6, p. 69-96, jan./dez. 2009 69 Marcela Cox, Paulo Thiago Nunes Bezerra de Melo e Helder Pontes Régis Central position in a social network: structure of the NGO network of Pernambuco associated with ABONG Abstract This study aims to describe and analyze the inter-organizational network of NGOs in PE and their associated articulation networks. Specifically, the structural characteristics of NGOs associated to ABONG (Brazilian Association of Non-Governmental Organizations) were studied. The structural characteristics are part of the structural dimension of social capital. This structural dimension is defined as the connections between actors or, in other words, how the actors connect themselves. Patterns and linkages were described in terms of measures such as density and centrality. The centrality of an actor can be determined by reference to three different structural attributes: its degree, betweenness or its closeness. Interest in communication activity suggests a measure based on the degree; the interest in the control of communication requires a measure based on betweenness; and the interest in independence and efficiency leads to the choice of a measure based on closeness. The software UCINET 6 was used for the mapping and measurement of density and centrality of the network. It was identified that the network studied has low application of the possible relations. It was also possible to identify the actors who stand out due to the occupation of structural positions of major activity in communication, information control and information independence. Key words: Social networks. Social structure. Non governmental organizations. Introdução Diante da crescente discussão em torno da cooperação entre as organizações, o estudo de redes sociais torna-se relevante, visto que um dos objetivos da estruturação de redes é a colaboração e o compartilhamento de informação e conhecimento. Considerando o imbricamento de objetivos entre as Organizações Não Governamentais (ONGs) e as redes sociais, tendo em vista que tais organizações atuam no sentido de mobilizar pessoas e recursos para benefícios coletivos e sociais, Marteleto e Silva (2004, p.46) afirmam que as transformações dependem das redes existentes entre os indivíduos do grupo e os atores localizados em outros espaços sociais. Argumenta também que “os indivíduos organizam suas ações nos espaços políticos em função de socializações e mobilizações suscitados pelo próprio desenvolvimento de suas redes”. Segundo dados da Rede de Informações do Terceiro Setor (Rits), no Brasil há mais de 250 mil organizações do terceiro setor, empregando aproximadamente 2 milhões de pessoas (CAVALCANTI, 2006). 70 Gestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 6, n. 6, p. 69-96, jan./dez. 2009 Posições centrais em uma rede social: a estrutura da rede de ONGs de Pernambuco... Com 12 anos de existência, a Rits é uma organização privada sem fins lucrativos e tem como missão dar suporte às organizações da sociedade civil e movimentos sociais em nível nacional, no que se refere ao compartilhamento de informações, conhecimentos e recursos técnicos. Com isso, a Rits apoia a elaboração das estratégias das organizações da sociedade civil e a articulação destas entre si. Diante desse contexto, torna-se relevante o estudo de como estão configuradas as relações existentes entre as ONGs e como os objetivos das ONGs se relacionam com a configuração da rede formada por elas. Tendo em vista a importância das redes sociais para o desenvolvimento das ONGs, este artigo busca investigar a dimensão estrutural da rede de ONGs de Pernambuco (PE) e de suas respectivas redes de articulação. Portanto, este estudo buscou investigar não somente as ONGs de PE, mas também as organizações engajadas na articulação entre diversas ONGs com interesses semelhantes. É provável que essas organizações responsáveis pela articulação de ONGs com interesses comuns (denominadas de redes de articulação) permitam a existência de uma rede ampla de comunicação. Cada vez mais, as pesquisas demonstram que o comportamento de indivíduos e grupos é influenciado pelas redes sociais. Os efeitos da centralidade dos atores em uma estrutura social sobre o comportamento, assim como a identificação de subgrupos em uma rede, têm merecido atenção especial por causa de sua relevância teórica. A análise de redes sociais tem demonstrado considerável poder analítico como estratégia de pesquisa, sendo uma das abordagens que mais cresce no campo de ciências sociais (MIZRUCHI, 2006). Na próxima seção, serão apresentadas as abordagens referentes as ONGs, redes sociais e sua dimensão estrutural, para em seguida serem apresentadas a metodologia, os resultados e as conclusões do estudo. 1 Redes de organizações não governamentais As ONGs nasceram, em âmbito nacional, entre as décadas de 1970 e 1980, em um contexto pós-ditatorial, o qual reflete a sintonia Gestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 6, n. 6, p. 69-96, jan./dez. 2009 71 Marcela Cox, Paulo Thiago Nunes Bezerra de Melo e Helder Pontes Régis com os objetivos das organizações populares e dos movimentos sociais que tinham como propósito proteger os direitos sociais e fortalecer a sociedade civil, focando nos trabalhos de educação popular, atuando, elaborando e monitorando as políticas públicas (ABONG, 2009). As ONGs atuam junto a diversos atores, como o Estado, as empresas privadas e as comunidades. Essas organizações fazem parte de uma prática denominada gestão social, que ganha impulso em todo o mundo. A adoção de um compromisso social está cada vez mais frequente, e com isso surgem alternativas de gestão para enfrentar diversos problemas sociais: As ONGs surgem como opção de mudança e como possibilidade de propiciar maior eficácia à gestão pública, sem substituir o Estado, mas com a transferência de algumas demandas sociais (JUNQUEIRA, 2006). Estando as políticas sociais descentralizadas, há o surgimento de diversos atores, trabalhando para a construção de alternativas voltadas à resolução de problemas presentes na sociedade. Essa realidade potencializa o aparecimento de redes sociais de forma a articular poder público, sociedade civil e empresas privadas para trabalharem juntos, visando a objetivos em comum. É o que Ribeiro (2006) chamou de “malha de relações híbridas”. Essa nova dinâmica possibilita também a valorização da gestão intersetorial, que enfatiza a compreensão e a solução dos problemas sociais de modo integrado (JUNQUEIRA, 2006). É nesse contexto que surgem as redes sociais entre ONGs, que podem trazer benefícios a essas organizações, fazendo com que elas se desenvolvam e consigam dar uma resposta eficaz aos problemas de políticas públicas. “A construção de uma rede organizacional deve buscar o desenvolvimento a partir do envolvimento mútuo e da relação biunívoca equilibrada entre os parceiros. Em lugar de privilegiar o espaço organizacional, deve se voltar para as relações entre indivíduos, grupos, organizações e setores” (MACIEL, 2004, p. 64). A seguir, será apresentado o tópico referente a redes sociais, enfatizando a importância da formação dessas em um cenário no qual a busca e a troca de conhecimento são essenciais para o desenvolvimento das organizações. 72 Gestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 6, n. 6, p. 69-96, jan./dez. 2009 Posições centrais em uma rede social: a estrutura da rede de ONGs de Pernambuco... 2 A perspectiva de redes sociais As discussões em torno das redes sociais são cada vez mais frequentes nos campos individual e organizacional. Redes sociais na internet, redes sociais no âmbito do trabalho, rede de amigos e assim por diante: é fácil perceber que de alguma forma as pessoas fazem parte de redes sociais, já que o ser humano está sempre em contato com outros, seja pessoalmente ou virtualmente, e esses contatos podem tornar-se laços, os quais podem apoiar ou não as atividades que se desejam desenvolver. Similarmente acontece com as organizações, que, no contexto atual, vivem em intensa competitividade, sendo necessário haver cooperação entre os atores, visto que as transformações exigidas são tamanhas que extrapolam suas competências internas. Essa cooperação cria interdependência entre os atores, de forma que o sucesso da organização passa a depender de como ela se relaciona com os outros atores (MALUF FILHO, 2005). Segundo Mizruchi (2006, p. 73), “a análise de redes é um tipo de sociologia estrutural que se baseia numa noção clara dos efeitos das relações sociais sobre o comportamento individual e grupal”. A abordagem da sociologia estrutural admite que as restrições e oportunidades das estruturas sociais afetam mais o comportamento humano do que as normas culturais ou outras condições subjetivas. De acordo com Emirbayer e Goodwin (1994), rede social é o conjunto de relações e ligações sociais entre determinados atores. Um ator social pode ser uma pessoa ou uma organização que se comunica em uma rede, desempenhando um papel específico na sociedade. Segundo Régis et al. (2006, p. 3), “a literatura tem descrito as redes como sendo composições de indivíduos, grupos ou organizações voltadas para a perpetuação, a consolidação e o desenvolvimento das atividades dos seus membros”. Granovetter (1973) discute sobre a força dos laços como uma característica importante das redes sociais. A força de um laço é uma combinação da quantidade de tempo, intensidade emocional, intimidade e serviços recíprocos que caracterizam um laço. Essa curiosidade pelas redes sociais advém dos possíveis benefícios gerados nos contatos estabelecidos entre diversos atores. As reGestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 6, n. 6, p. 69-96, jan./dez. 2009 73 Marcela Cox, Paulo Thiago Nunes Bezerra de Melo e Helder Pontes Régis des de relacionamento podem facilitar a transferência da informação e com isso, apoiar a operacionalização da organização, através dos conhecimentos dos atores-chave (interno ou externo à organização), para o cumprimento de um objetivo. Krackhardt e Hanson (1993) afirmam que uma rede informal dentro das organizações pode reduzir o fluxo dos procedimentos formais para que os prazos sejam cumpridos. Já Marteleto (2001) afirma que redes sociais ou networks podem unir idéias e recursos em torno de valores e interesses compartilhados. No contexto de uma rede de ONGs, a proposta desse artigo corrobora essa perspectiva. Este estudo busca descrever a configuração de uma rede de ONGs, identificando a densidade e a centralidade dos atores da rede, conceitos que serão expostos a seguir. 2.1 Dimensão estrutural das redes sociais As dimensões estruturais das redes sociais analisam as conexões formadas pelos relacionamentos existentes. Por meio da análise estrutural, é possível avaliar como as informações são transmitidas pelas pessoas que estão interligadas e se a hierarquia da organização influencia na comunicação organizacional. É possível compreender também os comportamentos dos indivíduos através da quantidade de contatos que um ator possui, avaliando o poder de intermediar relações e os modos como se pode chegar à informação mais facilmente. Essas análises são feitas a partir das posições dos atores na composição da rede. Por meio dessa análise, é possível verificar o quão flexível é a rede e como se comporta ou pode comportar-se a troca de informações entre os atores (RÉGIS et al., 2006). O capital social se refere a uma vantagem criada pela maneira como as pessoas estão conectadas (BURT, 2005, p. 16). A dimensão estrutural do capital social é conceituada como o padrão geral de conexão entre os atores, que nada mais é do que o modo como os atores se conectam e como eles deixam de conectar-se. As facetas da dimensão estrutural são a ausência ou a presença de laços entre os atores, a morfologia da rede para descrever o padrão de vínculos em termos de medidas como densidade e centralidade, e a existência de 74 Gestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 6, n. 6, p. 69-96, jan./dez. 2009 Posições centrais em uma rede social: a estrutura da rede de ONGs de Pernambuco... redes criadas para um propósito, mas que podem ser usadas para outro (NAHAPIET; GHOSHAL, 1998). As redes sociais podem ser analisadas quantitativamente e qualitativamente. Seguindo a forma quantitativa, podem-se determinar, por exemplo, a centralidade de um ator e a densidade da rede. Seguindo a forma qualitativa, pode-se fazer a análise de uma rede através da diversidade de ligações, do conteúdo transacionado, do sentido do fluxo, da frequência e duração das interações (MARINHO-DA-SILVA, 2003). Ao analisar a densidade da rede e a centralidade dos atores, é possível determinar o valor estrutural da network para a organização e para os que a compõem. O número de ligações existentes ou possíveis em uma rede configura a densidade. A densidade da rede fornece insights sobre certos fenômenos, como a velocidade com que a informação é difundida entre os atores e a extensão de suas restrições (HANNEMAN; RIDDLE, 2005). Sugere-se que uma rede com baixa densidade indica que o potencial da rede está sendo pouco explorado (RIBEIRO, 2006). Em geral, a densidade de uma rede é o valor médio das relações obtidas sobre todas as díades possíveis. Quando grupos são identificados tomando a densidade dos laços entre os atores como o fator delimitador, a similaridade de comportamento entre os membros de um grupo é maior (GEST; MOODY; RULISON, 2007). Segundo Granovetter (1973), existe uma associação entre a força dos laços e a densidade de uma rede, de modo que o conjunto de laços fortes forma uma rede densa e o conjunto de laços fracos forma uma rede menos densa. Assim, este estudo busca responder a seguinte questão norteadora: Como é caracterizada estruturalmente a rede de ONGs de PE associadas à ABONG e suas respectivas redes de articulação? Atores que têm mais laços com outros atores podem ter vantagens nas suas posições: podem ter formas alternativas para satisfazer suas necessidades e, portanto, estão menos dependentes de outros indivíduos; podem ser capazes de demandar mais dos recursos da rede como um todo; são muitas vezes os terceiros e os negociadores nas trocas entre outros, e são capazes de se beneficiarem desta corretagem (HANNEMAN; RIDDLE, 2005; MIZRUCHI, 2006, p. 74). A seguir, os aspectos das posições estruturalmente favorecidas serão discutidos. Gestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 6, n. 6, p. 69-96, jan./dez. 2009 75 Marcela Cox, Paulo Thiago Nunes Bezerra de Melo e Helder Pontes Régis 2.2 Posições centrais na estrutura das redes Existe uma relação entre posições centrais dos atores e sua influência sobre o grupo (MIZRUCHI, 2006). As medidas de centralidade estão entre as mais frequentemente usadas de todas as medidas de redes (BORGATTI; CARLEY; KRACKHARDT, 2006). Foi Freeman (1979) quem sintetizou várias medidas de centralidade em três medidas que têm sido bastante utilizadas nos estudos de redes sociais desenvolvidos nos últimos anos. São elas: centralidade de grau, centralidade de intermediação e centralidade de proximidade. A mais simples e talvez mais óbvia concepção é que a centralidade do ator é alguma função do grau de um ator. O grau de um ator é simplesmente a conta do número de outros atores que são adjacentes a ele e com os quais está, consequentemente, em contato direto (FREEMAN, 1979; KRACKHARDT, 1992). Enquanto o processo de comunicação acontece em uma rede social, uma pessoa que está em uma posição que permite contato direto com muitas outras deve começar a ver a si mesma e ser vista pelos outros como o maior canal de informação. De alguma forma, essa pessoa é um ator focal de comunicação, ao menos com relação aos outros com quem está em contato, e é provável que desenvolva um sentido de estar no canal principal do fluxo de informação na rede (FREEMAN, 1979). Um ator de baixo grau está no extremo oposto. O ocupante de tal posição provavelmente veja e seja visto pelos outros de forma periférica. Sua posição o isola do envolvimento direto com a maioria dos outros na rede e o põe fora da participação ativa no processo de comunicação. O grau de um ator é importante com um índice de sua atividade de comunicação potencial (FREEMAN, 1979). Assim, este estudo busca responder a seguinte questão norteadora: Qual o grau de atividade de comunicação das ONGs de PE associadas à ABONG e suas respectivas redes de articulação? Outra maneira de ver a centralidade é baseada na frequência com que um ator está entre dois outros atores no menor caminho que os conecta (FREEMAN, 1979, p. 221). A centralidade de intermediação vê um ator numa posição favorecida na medida em que o ator está no 76 Gestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 6, n. 6, p. 69-96, jan./dez. 2009 Posições centrais em uma rede social: a estrutura da rede de ONGs de Pernambuco... caminho mais curto entre pares de outros atores na rede. Ou seja, quanto mais as pessoas dependem de alguém para fazer conexões com outras pessoas, maior é seu poder. Se, no entanto, dois atores estão conectados entre si por mais de um caminho curto, e alguém não está em nenhum deles, menor é seu poder (HANNEMAN; RIDDLE, 2005). Uma pessoa com alto poder de intermediação está em uma posição para agir como um guardião de informações que fluem pela rede. Além disso, a intermediação é uma indicação da não redundância das fontes de informação. Conforme uma pessoa estiver conectada a partes de uma rede que de outra maneira estariam desconectadas e, em consequência, tiver acesso a diferentes e não redundantes fontes de informação, esta pessoa terá um alto poder de intermediação (KRACKHARDT, 1992). A intermediação é útil como um índice do potencial de um ator para o controle de comunicação (FREEMAN, 1979). Devido ao poder de intermediação, o ator central pode extrair benefícios de qualquer situação em que dois outros atores procurem se comunicar, intermediados por ele (MIZRUCHI, 2006). Outra maneira de pensar na intermediação é buscando quais as relações que são mais centrais, em lugar de atores. A definição de Freeman pode ser facilmente aplicada: uma relação é intermediária na medida em que seja parte do caminho geodésico entre pares de atores (HANNEMAN; RIDDLE, 2005). Uma “ponte” é uma linha em uma rede que fornece o único caminho entre dois pontos. Uma ponte local em uma rede social será mais significativa como uma conexão entre dois setores à medida que é a única alternativa para muitas pessoas (GRANOVETTER, 1973). Krackhardt (1992) estabelece o paralelo entre a medida de centralidade de intermediação e o conceito de Granovetter (1973) de ponte local. Uma ponte local é uma propriedade de um laço e a medida de centralidade de intermediação é um atributo de um ator na rede. Mas ambos medem o grau em que os atores alcançam partes diferentes e desconectadas de um sistema social. Assim, este estudo também busca responder a seguinte questão norteadora: Qual a capacidade de controle da comunicação das ONGs de PE associadas à ABONG e suas respectivas redes de articulação? Gestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 6, n. 6, p. 69-96, jan./dez. 2009 77 Marcela Cox, Paulo Thiago Nunes Bezerra de Melo e Helder Pontes Régis Outra concepção da centralidade do ator é baseada no quanto um ator está perto de todos os outros atores na rede; é a centralidade de proximidade. Esta concepção também está relacionada ao controle da comunicação, mas de uma maneira diferente. Aqui um ator é visto como central à medida que ele pode evitar o controle potencial de outros (FREEMAN, 1979, p. 224). A abordagem da centralidade de proximidade enfatiza a distância de um ator para todos os outros na rede, centrando-se na distância de cada ator para todos os outros. (HANNEMAN; RIDDLE, 2005). A independência de um ator é determinada por sua proximidade para todos os outros atores na rede. Assim, a centralidade de proximidade pode ser usada quando medidas baseadas em independência e eficiência são desejadas (FREEMAN, 1979). Este estudo também busca responder a seguinte questão norteadora: Quais as situações de dependência das ONGs de PE associadas à ABONG e suas respectivas redes de articulação na comunicação com a rede inteira? A centralidade de um ator pode ser determinada tomando como referência qualquer dos três diferentes atributos estruturais daquele ator: seu grau, sua intermediação ou sua proximidade. A escolha de um atributo estrutural específico e sua medida associada depende do contexto da aplicação pretendida. O interesse na atividade de comunicação sugere uma medida baseada no grau; o interesse no controle da comunicação requer uma medida baseada na intermediação; e o interesse na independência e na eficiência leva à escolha de uma medida baseada na proximidade (FREEMAN, 1979, p. 226). A centralidade também pode ser analisada como um atributo da rede inteira, em lugar de um atributo dos atores. Dessa forma, a centralidade da rede inteira deve indicar a tendência de um único ator ser mais central do que os demais atores na rede. As medidas da centralidade da rede são baseadas nas diferenças entre a centralidade do ator mais central e de todos os outros atores. Elas são índices dessa centralização (FREEMAN, 1979, p. 227). O presente estudo pretende analisar a dimensão estrutural de uma rede de ONGs, mais especificamente, sua densidade e a centralidade dos atores. Na próxima seção, serão apresentados os métodos utilizados para os objetivos do estudo em questão. 78 Gestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 6, n. 6, p. 69-96, jan./dez. 2009 Posições centrais em uma rede social: a estrutura da rede de ONGs de Pernambuco... 3 Metodologia Inicialmente, foi preciso delimitar o campo de estudo: as ONGs de PE. Em seguida, buscou-se tomar informações de uma entidade de natureza associativa, a Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (ABONG). A escolha da ABONG foi fundamentada nos objetivos da própria associação, que estão contidos em sua carta de princípios. Essa organização é uma sociedade civil sem fins lucrativos, com sede em São Paulo, atuando em nível nacional. Foi fundada em 1991 e tem como um de seus objetivos promover o intercâmbio entre entidades que buscam a ampliação da cidadania. (ABONG, 2009). Para estudar a estrutura das redes de ONGs de PE, foram utilizados dados secundários, disponíveis no banco de dados na página eletrônica da ABONG. Foi realizada análise de conteúdo dos dados para encontrar a existência de relações entre as ONGs e as redes às quais elas pertencem (BARDIN, 2006). Estes dados foram coletados pela ABONG em 2004. Através da página eletrônica da ABONG é possível acessar uma lista das ONGs associadas. Esse filtro pode ser realizado também por unidade de federação. Dessa forma, foram localizadas 35 ONGs de PE associadas. No cadastro de cada ONG, há uma série de informações que detalham suas atividades, um pouco do histórico, missão, principal âmbito de atuação, principais beneficiários ou público-alvo, áreas temáticas de atuação e redes de articulação das quais participam. As informações deste último campo foram utilizas para caracterização da existência ou não de uma relação. Havendo a citação de uma ou mais rede de articulação no cadastro da ONG, foi considerada a existência de uma relação. Essas informações foram utilizadas para elaboração dos sociogramas e para análise da dimensão estrutural da rede. Para identificar os atores com posições centrais na rede, foram calculados índices que representam o poder de centralidade de cada ator referente ao seu grau, a sua intermediação e a sua proximidade na rede da seguinte maneira: O número de atores adjacentes a um dado ator em uma rede simétrica é o grau deste ator (centralidade de grau). O número de Gestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 6, n. 6, p. 69-96, jan./dez. 2009 79 Marcela Cox, Paulo Thiago Nunes Bezerra de Melo e Helder Pontes Régis vezes que um ator está no caminho mais curto entre dois outros atores é a intermediação daquele ator (centralidade de intermediação). A soma dos passos dos caminhos mais curtos para todos os outros atores é a distância de um ator. A medida inversa da distância é a proximidade de um ator (centralidade de proximidade) (BORGATTI et al., 2002; FREEMAN, 1979). Cada índice foi calculado para cada ator que compõe a rede. Os índices de grau e intermediação aumentam na mesma proporção que aumenta o índice de centralidade de um ator. Contudo, a proximidade de um ator é uma medida inversa da distância dele, fazendo com que quanto menor for o índice de proximidade, maior é a centralidade de um ator. Também foram calculados os índices de centralização da rede inteira. Para uma dada rede com “n” atores e uma determinada centralidade (de grau, intermediação ou proximidade) máxima, a medida de centralização de uma rede é a soma das diferenças entre a centralidade máxima e a centralidade de cada indivíduo, dividido pelo valor considerado se apenas um ator tivesse centralidade máxima e todos os outros atores tivessem centralidade mínima, ou seja, dividido pelo maior valor possível para o somatório (BORGATTI et al., 2002; FREEMAN, 1979). Para analisar e desenhar a rede, foram utilizados os softwares UCINET 6.0 e NetDraw 2.1 (BORGATTI et al., 2002). Os dados coletados no website da ABONG foram inseridos no software UCINET 6.0, o que possibilitou a formação da matriz de adjacência da rede estudada. Esta matriz alimenta o software NetDraw 2.1, que é vinculado ao UCINET, gerando os sociogramas que representam a rede. Os softwares forneceram um retrato da estrutura da rede e os dados estatísticos com relação às medidas da densidade e centralidade. Os dados foram tratados como simétricos. Isso quer dizer que, se uma ONG tem uma relação com uma determinada rede, automaticamente esta rede também tem uma relação com a ONG. A relação fica independente da origem (HANNEMAN; RIDDLE, 2005). A seguir serão apresentados os resultados da análise da dimensão estrutural da rede, bem como as considerações finais. 80 Gestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 6, n. 6, p. 69-96, jan./dez. 2009 Posições centrais em uma rede social: a estrutura da rede de ONGs de Pernambuco... 4 Resultados Nesta seção, serão apresentados os resultados deste estudo de maneira pontual, respondendo cada questão norteadora apresentada. Inicialmente, buscou-se responder como é caracterizada estruturalmente a rede de ONGs de PE associadas à ABONG e suas respectivas redes de articulação. Cada ONG e cada rede de articulação será considerada como um ator da rede delimitada como sendo a de PE. A análise estrutural de redes sociais é bastante facilitada pela utilização de sociogramas. O Gráfico 1 traz o sociograma da estrutura geral da rede de ONGs de PE que são associadas à ABONG e de suas respectivas redes de articulação. Na rede estudada, encontram-se 113 atores (entre ONGs e redes de articulação) e um total de 111 laços simétricos (5 entre ONGs e 106 entre ONGs e redes de articulação). Os atores foram identificados por números e a legenda mostra as cores utilizadas para distinguir as ONGs e as redes de articulação de que elas participam. O Apêndice A traz a codificação de cada ONG e de cada rede de articulação. Onze ONGs não aparecem no sociograma, pois não há citação, em seu cadastro, das redes de articulação das quais eles participam. São as ONGs 1, 7, 12, 15, 22, 25, 28, 29, 31, 33 e 35. Existem seis ONGs que, por meio dos dados analisados, não estão conectadas com a rede maior, configurando-se em “ilhas”. Este é o caso das ONGs 11, 13, 14, 17,19 e 24. As ONGs 11, 13 e 17 participam de uma mesma área de atuação (agricultura), mas não participam das mesmas redes de articulação. É possível tirar conclusão similar para as ONGs 14, 19 e 24, cujas áreas de atuação incluem, dentre outras, a educação, porém os dados indicam que não há participação desses atores nas mesmas redes de articulação. Como citado anteriormente, o número de ligações existentes em uma rede configura a densidade, que é definida como a soma dos laços existentes dividida pelo número de laços possíveis. A densidade da rede de relações entre as ONGs e as redes de articulação das quais elas participam é de 3,88%, ou seja, de todas as possibilidades de relações entre as ONGs e as redes, 3,88% estão presentes no caso estudado, indicando que não estão sendo utilizados 96,12% das relações possíveis. Gestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 6, n. 6, p. 69-96, jan./dez. 2009 81 Marcela Cox, Paulo Thiago Nunes Bezerra de Melo e Helder Pontes Régis Esse baixo percentual da densidade é devido a terem sido analisadas informações de apenas 35 atores (ONGs), por meio dos dados da ABONG sobre as relações existentes entre eles e suas respectivas redes de articulação. Seria necessário obter dados sobre os outros 78 atores (redes de articulação) para registrar as relações que estes têm com outras ONGs. Além disso, uma grande quantidade de atores participantes de uma rede influencia o índice da densidade, de modo que existe a expectativa de decréscimo na densidade para redes amplas, como é o caso em estudo. De maneira geral, a rede de ONGs de PE associadas à ABONG é caracterizada por ter um núcleo forte de articulação focado na educação, justiça e abuso sexual de crianças, jovens e adolescentes. Além disso, é possível afirmar que as redes de articulação conectam as ONGs que, de outra forma, estariam buscando seus objetivos de maneira fragmentada no tecido social. Contudo, as possibilidades de conexões entre as ONGs de PE ainda são amplas. Posteriormente, buscou-se responder qual o grau de atividade de comunicação das ONGs de PE e suas respectivas redes de articulação. Para identificar os papéis desempenhados pelos atores na rede estudada, foi calculada a centralidade, que é um indicador estrutural da rede (NORMAN; ALEJANDRO, 2005). A centralidade de grau mede o número de ligações pertencentes a um ator. O Gráfico 1 mostra quais atores possuem maior centralidade de grau. Os nodos no sociograma aparecem com tamanho associado ao índice de centralidade. Quanto maior a centralidade do ator, maior é o nodo que representa o ator no sociograma. A ONG referenciada pelo número 5, circulado, se destaca por possuir o maior número de ligações. A ONG 26 também se destaca por possuir um elevado número de ligações. As ONGs 32 e 6 também merecem destaque. A ONG 5 pode ser considerada bem articulada, o que pode levá-la a constantes trocas de informações e com isso apoiar o seu desenvolvimento, como também o desenvolvimento dos atores que estão ligados a ela. A ONG 5 tem como área temática de atuação a educação, a saúde o trabalho e a renda. A organização tem como público-alvo crianças e adolescentes. Com quase 30 anos de existência, a ONG 5 tem como missão formar cidadãos através de um processo sócio-educativo. A ONG 26 foi fundada em 1975, possuindo 34 anos de exis82 Gestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 6, n. 6, p. 69-96, jan./dez. 2009 Posições centrais em uma rede social: a estrutura da rede de ONGs de Pernambuco... tência. Tal ONG tem como missão lutar por justiça social, através da promoção dos direitos humanos numa perspectiva de gênero e etnia. O público beneficiário são mulheres, adolescentes, jovens e comunidades negras rurais quilombolas. A ONG 6 tem 37 anos de existência e atua na área de educação, assim como a 5. A ONG 32 tem 10 anos de existência e atua na área de educação, relações de gênero e discriminação sexual entre jovens e crianças. Percebe-se que os dois atores com maior centralidade de grau são organizações com bastante tempo de experiência e, talvez, por isso, possuam um número maior de ligações, já que buscam articulação há mais tempo. ONGs Redes de articulação Atores mais centrais Gráfico 1 – Rede de ONGs enfatizando os atores que possuem maior centralidade de grau Para responder qual a capacidade de controle da comunicação das ONGs e de redes de articulação em PE, buscou-se o índice de centralidade de intermediação, que diz respeito ao papel do ator como Gestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 6, n. 6, p. 69-96, jan./dez. 2009 83 Marcela Cox, Paulo Thiago Nunes Bezerra de Melo e Helder Pontes Régis intermediador de outros atores da rede. O Gráfico 2 mostra quais os atores que possuem maior grau de centralidade de intermediação. Os atores 5, 92, 26, 4 e 36, circulados, apresentaram maior grau de intermediação. Corroborando as afirmações de Marinho da Silva (2003), os atores citados podem ser considerados corretores de informação para que atores não adjacentes na rede possam obter informações através deles. Também são considerados importantes, visto que possuem o poder de controlar as informações transmitidas na rede e o caminho que elas podem percorrer. A ONG 5 se destaca mais uma vez, resultando em um maior grau de centralidade de intermediação, possuindo, portanto, papel significativo na ligação entre outras ONGs e com outras redes de articulação. ONGs Redes de articulação Atores mais centrais Gráfico 2 – Rede de ONGs enfatizando os atores que possuem maior centralidade de intermediação Outros atores que não foram destacados quanto à centralidade de grau, merecem ser destacados quando se fala da centralidade de inter84 Gestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 6, n. 6, p. 69-96, jan./dez. 2009 Posições centrais em uma rede social: a estrutura da rede de ONGs de Pernambuco... mediação. É o caso da ONG 4 e das redes de articulação 92 e 36. A ONG 4 atua na área de saúde e relações de gênero, assim como discriminação sexual. A rede de articulação 92 existe há 18 anos e tem como objetivo o aprimoramento das políticas públicas para mulheres, adolescentes, jovens e idosas. Esta rede reúne várias entidades que desenvolvem trabalhos políticos e de pesquisa nas áreas da saúde da mulher, direitos sexuais e reprodutivos. Vale destacar que a ONG 26 também atua na área de relações de gênero e discriminação sexual. Buscou-se identificar também quais as relações (em lugar de atores) que fazem mais intermediações, corroborando Hanneman e Riddle (2005). Desta maneira, foram identificadas as “pontes” argumentadas por Granovetter (1973). O Gráfico 3 mostra as relações que são pontes na rede por meio da espessura da linha que conecta os atores. Quanto mais grossa é uma linha, maior é seu poder de intermediar outras relações, servindo assim de ponte. ONGs Redes de articulação Relações com poder de intermediação Gráfico 3 – Redes de ONGs enfatizando os laços que possuem maior centralidade de intermediação Gestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 6, n. 6, p. 69-96, jan./dez. 2009 85 Marcela Cox, Paulo Thiago Nunes Bezerra de Melo e Helder Pontes Régis A ponte com maior poder de intermediação é a relação entre a ONG 4 e a rede de articulação 92. (Organizações já foram caracterizadas anteriormente). Esse resultado indica que, se a relação entre os atores 4 e 92 não existisse, vários caminhos mais curtos entre outros atores também deixariam de existir, sendo forçados a usarem caminhos mais longos. Outra ponte também com bastante poder de intermediação é a relação entre a rede de articulação 92 e a ONG 5. A ABONG (ator 36) também aparece, formando uma ponte com bastante poder de intermediação na relação com a ONG 4. Existe, portanto, uma certa congruência nas áreas de interesse das organizações que possuem o maior poder de intermediar relações e controlar informações dos outros atores da rede inteira. Os resultados também reafirmam a importância da ABONG como um intermediador das relações entre ONGs e redes de articulação. Buscou-se o índice de centralidade de proximidade para responder quais as situações de dependência das ONGs de PE e de suas respectivas redes de articulação na comunicação com a rede inteira. A centralidade de proximidade é considerada pelo número mínimo de passos que o ator deve seguir para entrar em contato com os demais atores da rede. A medida de centralidade tem uma peculiaridade em relação às medidas de centralidade de grau e intermediação. Para calcular a centralidade de proximidade dos atores de uma rede, todos os atores devem estar de alguma forma conectados, não sendo possível a existência de atores isolados ou ilhas sem conexão com outras partes da rede. Para tais situações, a centralidade de proximidade deve ser calculada separadamente para cada conjunto de atores que forma cada parte da rede. Para o estudo que está sendo apresentado, foi utilizada a maior parte da rede mapeada, representada por um conjunto de 85 atores conectados. O Gráfico 4 mostra a rede e quais atores possuem maior grau de centralidade de proximidade. 86 Gestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 6, n. 6, p. 69-96, jan./dez. 2009 Posições centrais em uma rede social: a estrutura da rede de ONGs de Pernambuco... ONGs Redes de articulação Atores mais centrais Gráfico 4 – Rede de ONGs enfatizando os atores que possuem maior centralidade de proximidade Como mencionado anteriormente, quanto maior a centralidade de proximidade, mais perto estará o ator dos demais, interagindo com estes de forma mais rápida (MARINHO-DA-SILVA, 2003). Assim, os atores 5, 92, 41, 26 e 69, destacados com círculo, são aqueles com maior grau de centralidade de proximidade, ou seja, esses atores têm a vantagem de percorrer caminhos mais curtos para alcançar qualquer outro ator da rede inteira. Eles possuem a capacidade de acessar as outras pessoas da rede com mais facilidade. Mais uma vez o ator 5 se destaca com grau maior, sugerindo ser uma ONG bastante articulada. Os atores em evidência são considerados importantes para o desenvolvimento da rede, do potencial de cooperação entre as ONGs e das redes de articulação às quais pertencem. Os atores 5, 26 e 92 já foram apresentados anteriormente como atores centrais. Já os atores 41 e 69 surgem como atores centrais apenas para a medida de proximidade, consistindo redes de articulação. A rede de articulação 41 possui 13 anos de existência e tem como objeGestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 6, n. 6, p. 69-96, jan./dez. 2009 87 Marcela Cox, Paulo Thiago Nunes Bezerra de Melo e Helder Pontes Régis tivo formular propostas de políticas públicas, particularmente no campo da AIDS, e fortalecer a sociedade civil para o controle social. Com 27 anos de existência, a rede de articulação 69 atua em todo o território brasileiro. Ela tem como objetivo, articular a luta e a promoção dos direitos humanos no território nacional. Esses atores são relativamente mais independentes para entrar em contato com a rede inteira se comparados aos outros atores da rede estudada. Percebe-se que eles têm como foco de suas atividades a luta pelos direitos humanos e pela justiça social, além das questões de gênero, como discriminação sexual, saúde da mulher e AIDS. A Tabela 1 reúne os três índices de centralidade para cada ator destacado nas análises. Por meio dessa tabela, é possível verificar quais atores são mais centrais em quais tipos de centralidade. Quanto maior forem os índices de centralidade de grau e intermediação, mais central é o ator. A medida de centralidade de proximidade é inversa, de forma que, quanto menor for o índice, maior é a centralidade do ator. Pode-se perceber que o ator 5 é o mais central para todas as três medidas, sendo aquele com a posição mais favorável na rede. O ator 26 também merece destaque por ter medidas bastante relevantes para os três tipos de centralidade. Tabela 1 – Índices de centralidade dos atores mais centrais Ator Grau Intermediação Proximidade* 4 (ONG) 6 744.867 283 5 (ONG) 25 1.876.934 222 6 (ONG) 8 409.083 277 26 (ONG) 10 1.007.417 261 32 (ONG) 9 530.500 310 36 (Rede) 4 650.667 344 41 (Rede) 3 564.117 252 69 (Rede) 3 227.533 263 92 (Rede) 6 1.304.566 230 * Medida invertida 88 Gestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 6, n. 6, p. 69-96, jan./dez. 2009 Posições centrais em uma rede social: a estrutura da rede de ONGs de Pernambuco... Também foram calculados os índices de centralização da rede para avaliar o quanto a centralidade da rede como um todo está igualmente distribuída entre os atores. Foram calculados os índices de centralização da rede para os três tipos de centralidade abordada no estudo. A Tabela 2 apresenta estes resultados. Tabela 2 – Índices de centralização da rede Centralização da rede Grau 20.94% Intermediação 28.77% Proximidade 27.39% A rede estudada possui uma distribuição mais desigual para a centralidade de intermediação e mais homogênea para a centralidade de grau. Isto significa que o ator com maior centralidade de grau não possui vantagens tão distintas quanto o ator com maior centralidade de intermediação. Em outras palavras, significa que os atores são mais distintos uns dos outros pelas suas posições centrais quando a centralidade em questão é a de intermediação. A seguir, será apresentada a conclusão deste trabalho abordando algumas implicações, limitações e sugestões para pesquisas futuras. Considerações finais Identificou-se que a rede estudada possui baixo nível de aproveitamento das relações possíveis. A utilização do potencial restante, por meio do aumento de contatos, poderia permitir que os atores desfrutassem do integral alcance na “malha de relações” (RIBEIRO, 2006). Considerando esse resultado, sugere-se o investimento em eventos que possam facilitar a interação social, favorecendo a criação de laços entre as organizações e as redes de articulação pertencentes à rede social pernambucana. Gestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 6, n. 6, p. 69-96, jan./dez. 2009 89 Marcela Cox, Paulo Thiago Nunes Bezerra de Melo e Helder Pontes Régis Observou-se também que alguns atores se destacaram com relação às medidas de centralidade. A ONG 5 (Casa de Passagem) mostrou ser bastante articulada, possuindo uma posição favorável por receber comunicação de várias outras organizações, por ter uma grande capacidade de controlar a passagem de informações entre organizações que precisam dela para comunicar-se e por gozar de maior independência do resto da rede para alcançar qualquer outra organização. Apesar de um pouco menos favorável, a ONG 26 (Grupo Mulher Maravilha) também demonstrou ter uma posição que lhe proporciona as mesmas vantagens da posição da ONG 5. Quando se trata da atividade de comunicação na rede, a ONG 32 (Instituto Papai) também demonstrou ser um importante canal de informação por estar em uma posição que permite contato direto com muitas outras organizações. Assim como essas ONGs citadas, de alguma forma, a ONG 32 é um ator focal de comunicação. Essas organizações podem utilizar as vantagens dessas posições tornando a suas opiniões conhecidas por várias outras organizações. Portanto, elas devem pensar em quais informações precisam ser difundidas entre outras ONGs e utilizar as conexões que suas posições lhe permitem para isto. Assim como as ONGs 5 e 26, a rede de articulação 92 (Rede Feminista de Saúde) também possui uma posição central que lhe garante tanto a vantagem de controle da informação que circula na rede quanto a vantagem de ter independência no alcance de informação na rede. Essa rede de articulação pode evitar o controle potencial de outros, uma vez que tem grande facilidade de alcançar todos os outros. Essa vantagem é resultado da diversidade de caminhos que ela pode utilizar para alcançar alguma outra organização, garantindo-lhe maior independência na rede. A vantagem de controle da informação que circula na rede permite à rede de articulação 92 agir como um guardião de informações que fluem pela rede. Além disso, a posição desse ator lhe dá acesso a diferentes e não redundantes fontes de informação. Devido ao poder de intermediação, a rede de articulação 92 pode extrair benefícios de qualquer situação em que dois outros atores procurem comunicar-se, intermediados por ele. Também merece destaque a posição da ABONG 36 na rede, por ser um importante intermediador de rela90 Gestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 6, n. 6, p. 69-96, jan./dez. 2009 Posições centrais em uma rede social: a estrutura da rede de ONGs de Pernambuco... ções. Apesar de a ONG 4 (Cais do Parto) ser o ator com o quarto melhor índice de intermediação, a sua relação com a rede de articulação 92 é a relação ponte com maior poder de intermediação. Portanto, a ONG 4 ocupa uma posição importante na conexão da rede, por dar acesso a atores que de outra forma não poderiam se comunicar-se devido à sua relação com a rede de articulação 92. No presente estudo, não foi possível avaliar a direção das relações entre os atores, considerando todas as relações como simétricas. Sugere-se para estudos futuros, a utilização de um conjunto de métodos que permita avaliar a direção das relações para analisar medidas de centralidade de entrada e saída, importantes para avaliar o prestígio e a expansividade dos atores em rede. Este estudou analisou um conjunto de dados em que as ONGs de PE citam as redes de articulação de que participam. Porém, não foram avaliadas as citações das redes de articulação, por não constarem nos registros da página eletrônica da ABONG. Sugere-se que se realize a coleta desses dados e que futuras pesquisas possam investigar as redes de articulação, bem como mapear uma rede que, por meio delas, ultrapasse os limites das unidades federativas nas relações entre ONGs do Brasil. Recebido em novembro de 2009. Aprovado em novembro de 2009. Referências ABONG. Disponível em: <http://www.abong.org.br>. Acesso em: 15 jul. 2009. BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. 5. ed. Lisboa: Edições 70, 2006. BORGATTI, S.P.; CARLEY, K. M.; KRACKHARDT, D. On the robustness of centrality measures under conditions of imperfect data. Social Networks, n. 28, 2006. BORGATTI, S. P.; EVERETT, M. G.; FREEMAN, L. C. UCINET for Windows: Software for social network analysis. Harvard, MA: Analytic Technologies, 2002. BURT, Ronald S. Brokerage and closure: an introduction to social capital. New York: Oxford University Press, 2005. CAVALCANTI, Marly. Introdução. In: CAVALCANTI, Marly (Org.). 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Social network analysis: a handbook. 2. ed. London: Thousands Oaks; Califórnia: Sage Publications, 2000. APÊNDICE A – Codificação das ONGs e Redes de Articulação 1 AFABE – Associação dos Filhos e Amigos de Bezerros 2 AFINCO – Administração e Estadual de Educação Finanças para o Desenvolvimento 58 Contra Violência Comunitário 3 CAATINGA – Centro de Assessoria e Apoio 59 Grupo de Apoio em Gênero aos Trabalhadores e Instituições Não Governamentais Alternativas 4 CAIS DO PARTO – Centro Ativo de Integração do Ser 5 CASA DE PASSAGEM – Centro Brasileiro da Criança 61 Hospital das Clínicas (HC) e do Adolescente 6 CCLF – Centro de Cultura Luiz Freire 62 7 CEAS URBANO – Centro de Estudos e Ação Social Urbano de PE 63 Jovens do Nordeste do Equipe 8 CECOR – Centro de Educação Comunitária Rural 64 Movimento de Adolescentes Brasileiros (MAB) 9 CENAP – Centro Nordestino de Animação Popular 65 Movimento de Apoio aos Meninos de Rua 57 ESAB 60 Grupo Ruas e Praças Internacional Educacional Socialista (IFM-SEI) Gestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 6, n. 6, p. 69-96, jan./dez. 2009 93 Marcela Cox, Paulo Thiago Nunes Bezerra de Melo e Helder Pontes Régis 10 Movimento de Homens CENDHEC – Centro Dom Helder 66 pelo fim da Violência Câmara de Estudos e Ação Social contra a Mulher CENTRO SABIÁ – Centro 11 de Desenvolvimento Agroecológico Sabiá 12 CENTRU – Centro de Educação e Cultura do Trabalhador Rural Movimento Integrado 67 de Profissionais de Saúde para Adolescentes – MIP 68 Movimento Internacional dos Falcões CHAPADA – Centro Movimento Nacional 13 de Habilitação e Apoio 69 de Direitos Humanos – MNDH ao Pequeno Agricultor do Araripe CIELA – Centro 14 Interuniversitário de Estudos da América Latina, África e Ásia 70 Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua 15 CJC – Centro de Estudos e Pesquisas Josué de Castro 71 NOVIB 16 CMC – Centro das Mulheres do Cabo 72 17 CMN – Casa a Mulher do Nordeste 73 Parceiras Brasileiras Plataforma 18 CMV – Coletivo Mulher Vida 74 PAD – Processo de Articulação e Diálogo entre Agências Ecumênicas Pastoral da Criança e Instituto Materno Infantil de PE (Imip) 19 CNMP – Centro Nordestino de Medicina Popular 75 Plataforma de DH 20 CURUMIM – Grupo Curumim Gestação e Parto 76 Processo de Articulação e Desenvolvimento – PAD 21 EQUIP – Escola de Formação Quilombo dos Palmares 77 Programa de Articulação e Diálogo 22 ESCOLAPECIRCO – Escola Pernambucana de Circo 78 Rede Abelha do Nordeste ETAPAS – Equipe Técnica 23 de Assessoria, Pesquisa e Ação Social 24 94 79 Rede Brasil GAJOP – Gabinete de Assessoria Rede de Atendimento 80 à Organizações Populares à Criança e ao Adolescente Gestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 6, n. 6, p. 69-96, jan./dez. 2009 Posições centrais em uma rede social: a estrutura da rede de ONGs de Pernambuco... 25 GESTOS – Soropositividade, Comunicação e Gênero Rede de Combate 81 à Violência Doméstica e Sexual contra Crianças e Adolescentes 26 GMM – Grupo Mulher Maravilha 82 Rede de Conselheiros Usuários de Saúde 27 GRUPO ORIGEM – Grupo Origem 83 28 GTP+ – Grupo de Trabalho em Prevenção Positivo 84 Rede de educadores populares 29 LOUCAS DE PEDRA LILÁS – Loucas de Pedra Lilás 85 Rede de Jovens do Nordeste 30 MIRIM BRASIL – Movimento Infanto-Juvenil de Reivindicação 86 Rede de Mulheres em Rádio 31 MTNM – Movimento Tortura Nunca Mais 87 32 PAPAI – Instituto Papai SOS CORPO – Instituto Feminista para a Democracia Rede de Mulheres Produtoras do NE 88 Rede de ONGs da Mata Atlântica 33 SJP-PE – Serviço de Justiça e Paz 89 34 Rede de Educação e Leitura de PE Rede de Segurança Alimentar e Cidadania 90 Rede Economia e Feminismo UMBU-GANZÁ – Centro 35 de Cidadania Umbu-Ganzá Rede Estadual de Prevenção e Combate ao abuso e Exploração 91 Sexual de Crianças e Adolescentes 36 ABONG 92 Rede Feminista de Saúde 37 Ação Jovem do Semi-árido 93 Rede H 38 Ana (Articulação Nacional de Agroecologia) 39 ANCED/MNDH 94 Rede IBFAN 95 Rede Jornal Escola 40 ARCA TERCENDO PARCERIAS 96 Rede Jovem Brasil 41 Articulação AIDS de PE 97 Rede Juvenil do IFM-SEI da América Latina Articulação de Mulheres Brasileiras 98 Rede Latino – Americana e do Caribe de Saúde da Mulher 42 Gestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 6, n. 6, p. 69-96, jan./dez. 2009 95 Marcela Cox, Paulo Thiago Nunes Bezerra de Melo e Helder Pontes Régis 43 Articulação de Políticas Públicas Rede de rurais 99 Rede Mulher e Democracia 44 Articulação Estadual de Negros e Negras de PE 100 Rede Municipal de Educação Popular em Saúde 45 Articulação Feminista Marcosur 101 Rede Nacional de Parteiras Tradicionais Articulação Latino-americana em Rede Nacional 46 Prol da Convenção em Direitos 102 pela Humanização do Parto Sexuais e Direitos Reprodutivos e Nascimento (REHUNA) 47 Articulação Nacional de Luta contra a AIDS 103 48 ASA – Articulação do Semi-árido 104 Rede pela Humanização do Nascimento 105 Rede Pernambucana de Redução de Danos – REDOR Campanha Nacional 50 Quem Financia a Baixaria é Contra a Cidadania 106 Rede PIPA – Projeto de Inclusão pela Arte 51 Cáritas 107 Rede Projeto Humanização e Qualidade de Vida 108 Rede PTA (Projetos de Tecnologias Alternativas) 49 52 Campanha Nacional pelo Direito à Educação Rede Norte-Nordeste de Estudos Feministas Coletivo de Jovens Feministas de PE Comitê Interinstitucional 53 de Prevenção e Enfrentamento ao Tráfico de Seres Humanos 109 Rede Reflect Ação-Brasil Conselho de Educação 54 de Adultos da América Latina – CEAAL 110 Rede Tecendo Parcerias 55 Conselho Diretor Nacional 111 Redes e Juventude 56 Departamento Materno Infantil da UFPE 112 Sociedade Pernambucana de Pediatria 113 WABA 96 Gestão Contemporânea, Porto Alegre, ano 6, n. 6, p. 69-96, jan./dez. 2009