1 FACULDADE SETE DE SETEMBRO – FASETE CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM LETRAS COM HABILITAÇÃO EM PORTUGUÊS E INGLÊS SUELLEN CHRISTINA DE FREITAS E SILVA O PODER DE PERSUASÃO EM PROPAGANDAS DE TV PAULO AFONSO – BA NOVEMBRO/ 2009 2 SUELLEN CHRISTINA DE FREITAS E SILVA O PODER DE PERSUASÃO EM PROPAGANDAS DE TV Monografia apresentada ao curso de graduação em Letras – Habilitação em Português e Inglês, da Faculdade Sete de Setembro – FASETE, como requisito para avaliação conclusiva. Sob orientação da profª. Ms.Maria do Socorro Pereira de Almeida. PAULO AFONSO – BA NOVEMBRO/ 2009 3 4 DEDICATÓRIA Há no mundo duas pessoas muito especiais para mim. Meu esposo, que em muitos momentos proferiu palavras de ânimo, coragem e incentivo em meio à tantas dificuldades vividas ao longo dessa árdua caminhada; minha filha, jóia rara que tive o privilégio de ser presenteada pelo Senhor, para com seus lindos olhos e doce sorriso, renovar as minhas forças, fazendo-me crer que enquanto vida houver, haverá batalha, e em quanto houver batalha, vitórias virão. A vocês, Jó (Joanes) e Lelinha (Elen), dedico este trabalho e todo o meu carinho, respeito e admiração. 5 AGRADECIMENTOS A Deus, criador do universo, ser supremo que me fez sua filha e deu-me sabedoria para que pudesse concluir esta etapa de suma importância em minha vida. Agradeço-te Senhor. Aos meus pais, que mesmo distantes, me incentivaram e se mostraram muito orgulhosos diante da conclusão desta gratificante jornada estudantil. Sou profundamente grata à Cema – avó materna, Cley – tio, Neuma e Déa – amigas, por tomarem como filha, Elen, meu porto seguro, nos momentos em que precisei ausentar-me. Por isso, jamais vou cansar de repetir, muito, muito, muito obrigada. Com imenso apreço agradeço ao amigo Ailton Teixeira (Bilú) que em muito contribuiu para que trilhasse esta longa caminhada e a conclui-se com dignidade. Com carinho especial, agradeço ao meu avô Fernando, que desde muito cedo me incentivou a ir sempre em frente, a partir de uma linda experiência de vida, determinação e grande empenho no que diz respeito aos estudos. De maneira especial agradeço às amigas, Adriana Ribeiro, Joranaide Alves, Maricleide de Jesus e Tatiana Xavier, com as quais tive o grande privilégio de conviver por quatro anos, durante noites, sábados e até mesmo infindos domingos e feriados. Compartilhamos tristezas, alegrias e principalmente conhecimento. A vocês, o eterno carinho da minha amizade. Ao corpo docente e administrativo da Escola Julimara e Colégio Montessori, instituições em que trabalho, que sempre demonstrou muita compreensão nos momentos em que não pude me fazer presente. Edy, Eulália, Jordana, Lucy, Marileide e Tânia muito obrigada pelo carinho e compreensão. Carinhosamente, agradeço a minha eterna mestra e amiga Sandra Silva, por acreditar em meu potencial e ter aguçado minha mente para escolha do tema deste prazeroso trabalho. Muito obrigada. 6 Agradeço de forma especial à minha sábia orientadora Socorro Almeida, que com todo carinho, dedicação, paciência e a bagagem (conhecimento) que traz em sua mala, me deu forças para concluir esta etapa tão importante em minha vida. Aos educadores Eloy Lago, Sávio Roberto, Sherry Morgana, Cleber Ataíde, Kárpio Siqueira, Gercinaldo Moura e Isa Úrsole, por terem sido peças chaves para o caminho que pretendo seguir. Muito obrigada por terem, a partir de atividades propostas, exigido o que pude dar de melhor, para assim exercer com ímpeto a árdua arte de educar. Com profundo carinho e apreço, agradeço a grande profissional prof. Especialista Sandra Marcula, que a partir das suas aulas dinâmicas me fez amar ainda mais a prática de Língua Portuguesa. A minha grande e melhor amiga, Maria da Saúde, por se fazer presente em todos os momentos da minha vida, me oferecendo palavras de conforto, dividindo tristezas, somando alegrias e sempre me incentivando a trilhar por caminhos imbuídos de graça e paz. Finalmente, a todos que, direta ou indiretamente, colaboraram para a conclusão dessa etapa. 7 Se não conseguis convencê-los, confundi-os HARRY TRUMAN Nada persuade tanto as pessoas de pouco juízo quanto o que elas não entendem JEAN-FRANÇOIS PAUL A arte de persuadir consiste tanto mais em agradar do que em convencer, quanto os homens se guiam mais pelo capricho do que pela razão. BLAISE PASCAL 8 RESUMO O presente trabalho visa analisar a importância do senso crítico do indivíduo como alicerce para que este não caia nas artimanhas do poder persuasivo inserido na mídia em geral e, especialmente, nas propagandas de TV. Para tanto, foram analisados sete textos publicitários, sendo dois extraídos de uma revista semanal de circulação nacional e os demais de propagandas exibidas na TV mediante pesquisa de cunho bibliográfico, sob uma perspectiva semiótica pautada em diversos teóricos. Através da pesquisa e de análises em textos publicitários, constatou-se que os produtores destes revestem os mesmos de argumentos plausíveis ou verossímeis (sonhos, fantasias, desejos) para conseguirem atingir seu objetivo, a obtenção de lucros. Nesse sentido, os resultados do trabalho apontam para indivíduos acríticos que, manipulados pelo jogo ideológico do poderio por meio das propagandas de TV, emergem da condição de personagens principais a seres de consciência, sensibilidade e pensamento adormecidos, em outras palavras, meros objetos. Palavras-chave: mídia, propagandas de TV, senso crítico, poder persuasivo, lucros. 9 ABSTRACT The present paper aims to analyze the critical sense importance of the individual as the foundation for this will not fall into the tricks of the persuasive power inserted on all media and specific on TV ads. To do so, it had been analised seven advertising tents, two from a weekly newspaper of national circulation and some other advertisements shown on TV, it had been done a bibliographic research, in a semiotic perspective guided in various theorists. Through research and analysis on advertisements texts, it was found that the producers of these texts the same arguments plausible or believable (dreams, fantasies, desires) to achieve your goal profit. In this sense, the results suggest that individuals uncritical handled by the ideological game power through TV ads, emerging from the condition of the main characters of the human consciousness, sensibility and thought dormant, in others words, mere objects. Keywords: media, TV ads, critical sense, persuasive power, profits. 10 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ....................................................................................... 11 CAPÍTULO I ........................................................................................... 14 1 DISCURSO E IMAGEM ..................................................................... 14 1.1 LINGUAGEM: UMA BREVE ABORDAGEM................................. 14 1.2 O DISCURSO: ALGUNS ESCLARECIMENTOS............................. 18 1.3 LEITURA DE IMAGEM: UMA BREVE ABORDAGEM................. 22 CAPÍTULO II .......................................................................................... 31 2 CULTURA, INDÚSTRIA CULTURAL E MÍDIA ........................ 31 2.1 CULTURA ...........................................................................................31 2.2 IDENTIDADE CULTURA ................................................................. 33 2.3 INDÚSTRIA CULTURAL: O QUE É? .............................................. 35 2.4 CULTURA ERUDITA, CULTURA POPULAR E CULTURA DE MASSA: TENTANDO DIFERENCIAR ............................................................ 40 CAPÍTULO III ........................................................................................ 43 3 O PAPEL DA MÍDIA ............................................................................ 43 3.1 ONDE ENTRA A TELEVISÃO ......................................................... 48 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................. 57 REFERÊNCIAS ...................................................................................... 58 11 INTRODUÇÃO A mídia, no âmbito em que vive a sociedade pós moderna, encontra um largo espaço e se faz cada vez mais presente. Esta circunda o indivíduo de modo que, ao direcionar seu olhar para as mínimas coisas do cotidiano estará sujeito, a partir do jogo de raciocínio meticuloso, a receber a informação, desde que seja um sujeito crítico e tenha suas próprias ideologias ou que a partir de outras forme as suas. Por outro lado o indivíduo pode estar exposto à persuasão quando se trata de um sujeito acrítico e não conhecedor das artimanhas lançadas pela poderosa mídia. Determinante na vida de muitos cidadãos, esta os diz o que devem comer, beber, vestir, lugares aonde devem ir e até mesmo o modo como devem comportar-se. Atrelados a esta, estão os meios de comunicação de massa, que lançam uma dada informação em um mesmo espaço de tempo para um grande número de pessoas. A televisão, foco do presente trabalho, para os espectadores considerada um eletrodoméstico, e para os produtores um poderoso veículo de transmissão de ideologias formadas pelos detentores do poder e do saber, é condizente com o jogo ideológico que culmina por tornar mero objeto os seres desprotegidos de um senso crítico que estão em contato direto com esses artefatos tecnológicos. Nesse sentido, as propagandas por meio da TV, se revestem de recursos linguísticos e visuais para elaborarem seu discurso pautado em uma linguagem verbal e/ou não-verbal, cuja intenção é a venda de felicidade, bem-estar, comodidade, atrelados ao produto anunciado, é sempre seduzir e persuadir o espectador fazendo-o compactuar com suas ideias. Este trabalho objetiva explicitar a relevância do conhecimento lingüístico, bem como o conhecimento de mundo para que o indivíduo compreenda em sentido lato a verdadeira intenção da mensagem inserida nas propagandas de televisão e assim não sejam sucumbidos às armadilhas da linguagem da mídia em geral. Sua importância consiste na tentativa de fazer com que o leitor aprimore sua criticidade, tendo em vista que, ao adquirir tais conhecimentos, ficará mais atento às informações e possivelmente não submergirá ao mundo ilusório retratado nas propagandas de TV que estão 12 inseridas não só na parte comercial, mas dentro de toda programação, de forma sorrateira para que o indivíduo se deixe envolver sem perceber. Destarte, o fundamento dessa pesquisa é informar que a falta de criticidade por parte do leitor espectador o leva a consumir determinados produtos, mesmo que em estado de distração, além de fazê-lo compactuar com ideologias alheias pelo fato de serem induzidos pelo enredo argumentativo dos textos publicitários e também das ideologias e manipulações que são passadas através das programações. Para atingir os objetivos de tal pesquisa foi de suma importância que bebêssemos em fontes de teóricos como: Santaella, Koch, Fiorin, Bosi, Manguel, Chauí, Hall, Adorno, entre outros, que muito contribuíram para a concretização deste trabalho, através de pesquisa bibliográfica de caráter explicativo. O corpus utilizado para a realização das análises foi extraído da revista semanal de circulação nacional Veja: 2009, edição: 2104, páginas 6, 7, 48 e 49, respectivamente, além de propagandas exibidas na televisão, de onde foram extraídas cinco amostras por apresentarem os elementos persuasivos abordados teoricamente, oportunizando os leitores desse trabalho científico a se manterem informados por meio das propagandas e não persuadidos e manipulados. As propagandas analisadas se referem a produtos tais como: cerveja, carro, refrigerante, e até mesmo uma promovida pelo Governo Federal cujo público é variado e revelam claramente, o poder persuasivo por meios dos sonhos e fantasias que estão acoplados aos produtos anunciados. Com o intuito de facilitar a leitura e torná-la aprazível, esse trabalho está dividido em três capítulos cujos títulos são: Capítulo I: Discurso e imagem. Neste capítulo, foram abordadas as diversas concepções de linguagem, a discrepância entre esta e língua e a definição de linguagem verbal e não verbal. Capítulo II: Cultura, indústria cultural e mídia. Neste capítulo, é realizada uma abordagem entre as discrepantes culturas: a popular, a erudita e a de massa, o poder persuasivo exercido pela mídia por meio da indústria cultural bem como a importância do senso crítico para a construção da identidade do indivíduo. Capítulo III: O papel da 13 mídia/Onde entra a televisão, traz em seu bojo o poder da mídia, em especial a televisiva, por meio de propagandas que foram analisadas sob a perspectiva embasada teoricamente. Para finalizar, vale dizer que é esperado a partir do trabalho aqui desenvolvido que haja total compreensão acerca de tudo que foi debatido para que sejamos seres mais críticos ao nos depararmos com os poderosos argumentos utilizados pela mídia, em especial a televisiva, que visa incessantemente nos persuadir e nos fazer tomar como nossa uma ideologia alheia e muitas vezes longínqua da nossa realidade. 14 1 - DISCURSO E IMAGEM 1.1 – LINGUAGEM: UMA BREVE ABORDAGEM Esse trabalho objetiva uma análise midiática, tendo como foco de visão, a televisão. No entanto sabemos que a TV trabalha usando o discurso e a imagem, assim como a mídia em geral. Dessa forma torna-se pertinente um olhar sobre o discurso e sobre a leitura de imagem, no intuito de trazer ao leitor um melhor entendimento da proposta desse estudo. Desse modo começamos falando das formas de linguagem e distinção entre essa e a língua para, em seguida apresentar uma breve análise do discurso e da leitura de imagem. Desde os primórdios, o homem sente a necessidade de comunicar-se com seus semelhantes, para tanto, faz uso das mais diversificadas formas de linguagem. Viajando no tempo, é possível constatar a partir de registros históricos que, a espécie humana, no decorrer dos séculos, passa por inúmeras experiências tais como, a descoberta do fogo, a invenção da roda, da escrita, entre outras. Portanto, atrelada a estas inovações está a linguagem que, em virtude destas, como um rio que segue seu curso, saturado de pequenas dimensões vai de encontro ao mar, esta por sua vez exige do ser humano uma maior expressividade e dialogicidade. Para uma melhor compreensão do que foi versado anteriormente evoquemos Santaella: (...), em todos os tempos, grupos humanos constituídos sempre recorreram a modos de expressão, de manifestação de sentido e de comunicação sociais outros e diversos da linguagem verbal, desde os desenhos nas grutas de Lascaux, os rituais de tribos “primitivas”, danças, músicas, cerimoniais e jogos, até as produções de arquitetura e de objetos, além das formas de criação de linguagem que viemos a chamar de arte: desenhos, pinturas, esculturas, poética, cenografia etc. (2005, p.11). Tendo em vista que este trabalho versará acerca da linguagem, fica a nós a incumbência de evidenciar a discrepância entre língua e linguagem. Estas, embora na maioria das vezes por nós confundidas, isso quando não postas em equivalência, apresentam peculiaridades. Segundo Santaella (2005,p.10) Tão natural e evidente, tão profundamente integrado ao nosso próprio ser é o uso da língua que falamos, e da qual fazemos uso para escrever – língua nativa, materna ou pátria, como costuma ser chamada -, que tendemos a nos desaperceber de que esta não é a única e exclusiva forma de linguagem que 15 somos capazes de produzir, criar, reproduzir, transformar e consumir, ou seja, ver-ouvir-ler para que possamos nos comunicar uns com os outros. Tendo como elemento norteador o referido embasamento teórico, podemos acreditar que, embora língua e linguagem apresentem conceitos diferenciados, ambas servem de ponte condutora à aquisição do conhecimento. Pautaremos a seguir o conceito acerca da linguagem, defendido por Saussure, pai da lingüística moderna. A linguagem tem um lado individual e um lado social, sendo impossível conceber um sem o outro. [...] Tomada em seu todo, a linguagem é multiforme e heteróclita; o cavaleiro de diferentes domínios, ao mesmo tempo física, fisiológica e psíquica, ela pertence além disso ao domínio social, não se deixa classificar em nenhuma categoria de fatos humanos, pois não se sabe como inferir sua unidade.(2004,p.16-17) Sobre a língua o mesmo afirma: A língua não se confunde com a linguagem; é somente uma parte determinada, essencial dela, indubitavelmente. É, ao mesmo tempo, um produto social da faculdade de linguagem e um conjunto de convenções necessárias, adotadas pelo corpo social para permitir o exercício dessa faculdade nos indivíduos. (SAUSSURE, 2004, p.17) Como se pode notar, tanto esta quanto aquela são de suma importância para o desenvolvimento cultural do individuo e, mesmo apresentando diferenças estão intimamente ligadas. Para validarmos a relevável importância da linguagem no processo de formação comunicativa e cultural do indivíduo, façamos alusão aos homens pré-históricos que, mesmo desprovido da língua falada ou escrita faziam uso de rabiscos e desenhos nas grutas como formas de expressão, manifestação, sentido e comunicação. Assim sendo, a depender do tipo de comunicação, a linguagem caracteriza-se em verbal ou não-verbal. Utilizemos das palavras de Santaella para defini-las. [...] existe uma linguagem verbal, linguagem de sons que veiculam conceitos e que se articulam no aparelho fonador, sons estes que, no Ocidente, receberam uma tradução visual alfabética (linguagem escrita), mas existe simultaneamente uma enorme variedade de outras linguagens que também se constituem em sistemas sociais e históricos de representação do mundo. (2005, p. 11) 16 Portanto, ao nos referirmos à linguagem, devemos nos voltar para indagações que superem a simples expectativa de decodificação de signos e, adentremos com ímpeto em nossas inquietações, pondo em evidência o nosso lado sensível e perceptível. Em decorrência desta afirmação é possível constatar que a linguagem é um campo vasto e que vai além de ações humanas como já afirmara Santaella (2005, p.13) Haverá, assim, a linguagem das flores, dos ventos, dos ruídos, dos sinais de energia vital emitidos pelo corpo e, até mesmo, a linguagem do silêncio. Isso tudo, sem falar do sonho que, desde Freud, já sabemos que também se estrutura como linguagem. Para compreendermos a linguagem como define a referida autora, basta que viajemos no vasto campo da semiótica, ciência de toda e qualquer linguagem, filha do americano Charles S. Peirce, grande cientista e, entre outras ocupações, matemático, físico e astrônomo. [...] ciência que tem por objeto de investigação todas as linguagens possíveis, ou seja, que tem por objetivo o exame dos modos de constituição de todo e qualquer fenômeno como fenômeno de significação e de sentido. (SANTAELLA, 2005, p. 13) Mesmo sendo a semiótica uma jovem ciência em construção, é válido salientar que esta é de grande significância para todos os fenômenos que sucedem, mesmo que inesperadamente e, culminam em denominar-se linguagem. Portanto, em decorrência desta definição, é atribuída a incumbência ao interlocutor de compreender a linguagem como um emaranhar de teias das mais diversificadas formas e espessuras que, juntas se completam e seguem rumo a um mesmo objetivo: a comunicação como elemento carregado de significação e sentido. Nessa medida, não podemos brincar de fazermos de conta que as linguagens são inerentes ao mundo, assim como, tê-las como aliadas no processo de uma identidade cultural. Contudo, podemos afirmar que as linguagens se fazem presente nos infindos e mais diversificados âmbitos, assim como, estamos intimamente ligados a mesma, em outras palavras “As linguagens estão no mundo e nós estamos na linguagem.” (SANTAELLA, 2005, p.13). Ao fazermos menção ao termo comunicação, devemos antes de tudo, conhecer e discernir duas formas de linguagem: verbal e não-verbal, estas definidas por Santaella da seguinte maneira: 17 [...] existe uma linguagem verbal, linguagem de sons que veiculam conceitos e que se articulam no aparelho fonador, (...), mas existe simultaneamente uma enorme variedade de outras linguagens que também se constituem em sistemas sociais e históricos de representação do mundo. (2005, p.11). Fica então esclarecido a partir das palavras da autora, que a linguagem verbal não é a única e exclusiva forma de linguagem e, sobretudo que, esta acaba por desmerecer as demais coeficientemente usadas em nosso cotidiano para nos comunicarmos. Em decorrência disto, o próprio ser dialógico, é incrédulo da existência de outras formas de linguagem a não ser a verbal. Enraizado à linguagem está o discurso, este, peça chave e decisiva na arte de convencer ou persuadir o interlocutor. É através deste que o homem trava relação com seus semelhantes, expondo, seu ponto de vista acerca de um dado contexto e, dotado de intencionalidade pode exercer forte influência no agir do outro ou até mesmo compartilhar de algumas de suas ideologias, neste sentido: Como ser dotado de razão e vontade, o homem, constantemente, avalia, julga, critica, isto é, forma juízos de valor. Por outro lado, por meio do discurso – ação verbal dotada de intencionalidade – tenta influir sobre o comportamento do outro ou fazer com que compartilhe determinadas de suas opiniões (KOCH, 2004, p. 17). Partindo do referido pressuposto, fica então evidenciada a intencionalidade no discurso, não havendo espaço para impessoalidade, isto quer dizer que “A neutralidade é apenas um mito: o discurso que se pretende “neutro”, ingênuo, contém também uma ideologia – a da sua própria objetividade.” (KOCH, 2004, p. 17). Para tornar ainda mais claro esta assertiva, façamos uma análise tanto do discurso verbal, quanto do imagético dos cartazes de cerveja a seguir: 18 Partamos do discurso verbal do cartaz à nossa esquerda “BAR DA BOA”. O mesmo suscita a seguinte indagação: A quem está relacionado o termo “BOA”, a estonteante Juliana Paz ou a cerveja? A nossa esquerda temos “QUANTO MAIS NOVA, MAIS GOSTOSA”. Quem, a mulher, neste caso Ivete Sangalo ou a cerveja? Para compreendermos melhor identifiquemos o maior público consumidor da referida bebida, os homens. Justo por este motivo, os idealizadores (em se tratando de discurso enunciadores) das propagandas usaram imagens de duas belas e famosas mulheres, para assim persuadir os interlocutores e atingir o principal objetivo, a venda do produto anunciado. Portanto, não há discurso sem uma ideologia, mesmo que este apresente-se de maneira ingênua como afirma Koch, sempre estará imbuído de intencionalidade. Até mesmo quando utilizamos um discurso alheio fizemos uma opção, portanto, acreditamos na ideologia exposta pelo outro, mesmo que não com demasiada credibilidade. Trocando em miúdos “[...] a simples seleção das opiniões a serem reproduzidas já implica, por si mesma, uma opção” (KOCH, 2004, p.18). 1.2 O DISCURSO: ALGUNS ESCLARECIMENTOS 19 Em meio a muitos conflitos de ordem política, econômica e social, o Século XX serve de palco para o parimento de duas ciências da linguagem: a lingüística, caracterizada pela linguagem verbal e a semiótica que tem como objeto de estudo toda e qualquer linguagem. Nesse período, aquela, em virtude de seus métodos científicos, por merecimento destaca-se das demais ciências humanas. Este fato consuma-se devido aos grandes debates que dão origem ao que convencionou-se chamar de análise do discurso, este intricado de ações políticas, sociais e históricas. Dentro desse contexto, as palavras por si só mostram-se neutras de sentido e, só o ganham quando o sujeito dialógico se posiciona diante do mesmo. Segundo Bentes e Mussalim (2004, p.118): [...] para o conceito lacaciano de sujeito (Santiago, 1995), ao qual não se pode atribuir nada de substancial, pois ele só se define em relação ao outro (critérios diferencial e relacional). O sujeito dessubstancializado não está onde é procurado, ou seja, no consciente, lugar onde reside a ilusão de “sujeito centro” como sendo aquele que sabe o que diz, aquele que sabe o que é, mas pode ser encontrado onde não está, no inconsciente, lugar onde reside o outro- o discurso do pai, da mãe, etc.- ,que lhe imprime identidade (critério do lugar vazio). Assim a identidade do sujeito lhe é garantida pelo lugar do outro, ou seja, por um sistema parental simbólico que determina a posição do sujeito desde sua aparição. Portanto, a análise do discurso visa ir além da superficialidade dos fatos e adentrar em questões intrínsecas permitindo que os envolvidos no processo interpretem o que está sendo proferido e, com isso, compreendam os diversos fenômenos históricos e culturais. Portanto: Não se pode dizer que o discurso se confunde com a fala. Concebido fora da dicotomia saussureana, como um terceiro elemento (nem a língua nem a fala), o discurso é fruto do reconhecimento de que a linguagem tem uma dualidade constitutiva e que a compreensão do fenômeno da linguagem não deve ser buscado apenas na língua, sistema ideologicamente neutro, mas num nível situado fora do pólo da dicotomia língua/fala. Em outras palavras, ao mesmo tempo em que a linguagem é uma entidade formal, constituindo um sistema, é também atravessada por entradas subjetivas e sociais. O discurso é, pois, um lugar de investimentos sociais, históricos, ideológicos, psíquicos, por meio de sujeitos interagindo em situações concretas (TRAVAGLIA, 2002, p.21). Com isso, constatamos que, a análise do discurso é uma grandiosa ferramenta atrelada ao entendimento e compreensão de fenômenos das mais diversificadas naturezas. Por isso, por meio desta ciência da interpretação nos é permitido ter uma visão mais apurada acerca dos acontecimentos que nos circundam e, percebermos que além da superficialidade dos fatos está seu verdadeiro sentido, o que de fato nos proporciona o entendimento, e nos norteia para o 20 caminho das “luzes”. Portanto, o ser desprovido desse entendimento possivelmente não interpreta os vários discursos existentes, ficando sempre na “escuridão”, ou seja, a mercê de ideologias já impostas por outro alguém ou um dado grupo. Relacionados à argumentação estão dois fortes postulados, o convencimento e a persuasão. Para defini-los, chamemos o filósofo e jurista Perelman, que a partir de seus trabalhos deu nova roupagem aos estudos relacionados à argumentação, aliando os mais relevantes elementos da retórica de Aristóteles a uma visão mais atualizada do assunto, dedicou-se a elaboração de uma “nova retórica”. Este citado por Koch (2004, p.18) afirma que: Enquanto o ato de convencer se dirige unicamente a razão, através de um raciocínio estritamente lógico e por meio de provas objetivas, sendo, assim, capaz de atingir um “auditório universal”, possuindo caráter puramente demonstrativo e atemporal (as conclusões decorrem naturalmente das premissas, como ocorre no raciocínio matemático), o ato de persuadir, por sua vez, procura atingir a vontade, o sentimento do(s) interlocutor (es), por meio de argumentos plausíveis ou verossímeis e tem caráter ideológico, subjetivo, temporal, dirigindo-se, pois, a um “auditório particular”. Tal autor proclama com sapiência a divergência entre os referidos atos. O primeiro habita caminhos imbuídos de certezas e racionalidade, ao passo que o segundo tem como finalidade caminhar por entre incertezas e em meio a ações movidas pelo querer e sentimentalismo. Em outras palavras, argumentar é um processo que apresenta dois aspectos: o primeiro ligado à razão, supõe ordenar idéias, justificá-las, e relacioná-las; o segundo, referente à paixão, busca capturar o ouvinte, seduzi-lo e persuadi-lo. Adentremos então neste último por ser peça chave para o trabalho que aqui estamos realizando e, por ter estado presente na vida da humanidade desde os primórdios, quando na época clássica na Grécia do século IV a.C a arte de persuadir era ensinada pelos sofistas por meio da retórica. Dentro da perspectiva de que a argumentação visa persuadir o interlocutor acerca de uma posição, ou seja, fazer com que este finde por acatar uma dada ideologia proferida por meio de um dado discurso fica evidenciado que o enunciador fará uso de certos artifícios semelhantes à verdade, para que estes venham a convencer o enunciatário fazendo-o acreditar que seu discurso merece credibilidade. Nesse sentido, atentemos para a explicação de Fiorin: Neste jogo de persuasão, o enunciador utiliza-se de certos procedimentos argumentativos visando a levar o enunciatário a admitir como certo, como válido o sentido produzido. A argumentação consiste no conjunto de 21 procedimentos lingüísticos e lógicos usados pelo enunciador para convencer o enunciatário. Por isso, não há sentido na divisão que se costuma fazer entre discursos argumentativos e não argumentativos, uma vez que todos visam a persuadir. É claro que alguns se assumem como explicitamente argumentativos, como os discursos científicos, que se mostram como discursos informativos. (2006, p.75) Isso posto, fica perceptível que qualquer que seja o cunho do discurso, este visa, através de argumentos apresentados pelo enunciador, se fazer real e encantar o enunciatário fazendo-o crer que todos os acontecimentos relatados habitam caminhos imbuídos de certezas. O discurso quando bem elaborado possibilita o seu criador a prender o interlocutor em um emaranhar de teias, mesmo que inconscientemente, ao passo que este mesmo sem perceber internalizará as ideologias daquele. Elemento de suma importância ao tratarmos de análise do discurso é a representação do sujeito, uma vez que a partir deste nascem os discursos. Assim sendo, quando o sujeito expõe sua opinião se posicionando diante de um contexto, ou até omitindo-se usando da neutralidade, culmina por tornar evidentes suas ideologias. De acordo com tais colocações, ao nos relacionarmos com outros indivíduos, sempre utilizamos da linguagem como aspecto de ação munido de intencionalidade. Portanto, pegando este fio condutor, constatamos que, a linguagem é um instrumento que permite o interlocutor interagir socialmente, expondo seus pensamentos, valores, anseios e experiências. A mesma estabelece ainda uma ligação entre o destinatário e o pensamento do interlocutor e, quando ocorre a interatividade, o locutor, intencionalmente influencia no pensar e no agir do seu ouvinte. A intencionalidade presente no discurso realiza-se por meio de argumentos e, estes, culminam por “dar a luz” à persuasão. Cabe aqui esclarecermos de forma sucinta que, Considerando-se a existência da intencionalidade no discurso, deve-se constatar que tal intenção do locutor agir no pensamento do seu interlocutor, dar-se através da construção do discurso argumentado, no qual há pretensões e, por sua vez, persuasão. Segundo Fiorin (2006, p.75): A finalidade última de todo ato de comunicação não é informar, mas persuadir o outro a aceitar o que está sendo comunicado. Por isso, o ato de comunicação é um complexo jogo de manipulação com vistas a fazer o enunciatário crer naquilo que se transmite. Por isso ele é sempre persuasão. De acordo com tal colocação, fica evidente a presença da intencionalidade no discurso, bem como o envolvimento, encantamento e até mesmo a manipulação dos envolvidos no processo, 22 a partir de um jogo ideológico onde a verdade não é a personagem principal e, o discurso é direcionado a um público “particular”. 1.3 LEITURA DE IMAGEM: UMA BREVE ABORDAGEM A partir dos homens pré-históricos, desde a antiguidade, a arte imagética se fazia presente, possibilitando os mesmos a comunicar-se entre si por meio de signos não linguísticos. Esta arte é de suma importância para o despertar da criticidade nos indivíduos, uma vez que, a partir de imagens nos é permitido, apenas através do pensamento, viajarmos sem sairmos do lugar.Tendo em vista que, as imagens, se tratando de comunicação humana, foram umas das primeiras formas de manifestação e sentido, por isso as consideramos anterior à palavra, observe-se as proposições de Bosi a esse respeito: A imagem é afim à sensação visual. O ser vivo tem, a partir do olho, as formas do sol, do amar do céu. O perfil, a dimensão, a cor. A imagem é um modo de presença que tende a suprir o contato direto e a manter, juntas, a realidade do objeto em si e a sua existência em nós. O ato de ver apanha não só a aparência da coisa, mas alguma relação entre nós e esse aparência [...]. A imagem pode ser retida e depois suscitada pela reminiscência ou pelo sonho. Com a retentiva começa a corre aquele processo de co-existência de tempos que marca a ação da memória: o agora refaz o passado e convive com ele. (2000, p. 19) Refletindo acerca das inúmeras imagens que nos circundam, desde as naturais as produzidas pelo homem, é possível percebermos a forte influência que estas exercem sobre nossas vidas. São imagens que contam histórias, que nos faz rir, chorar, refletir e, acima de tudo viajar por entre mundos que nos remetem ao passado, presente e futuro. A esse respeito Manguel (2001, p.21) afirma que: As imagens que formam nosso mundo são símbolos, sinais, mensagens e alegorias. Ou talvez sejam apenas presenças vazias que completamos com nosso desejo, experiência, questionamento e remorso. Qualquer que seja o caso, as imagens, assim como as palavras, são a matéria de que somos feitos. Disso decorre o fato de que, por trás das imagens, assim como no discurso falado ou escrito, há toda uma ideologia e, através de argumentos, neste caso, cores, sonoridade, formas, entre outros, é permitido ao enunciador fazer com que o enunciatário concorde com aquilo que está sendo anunciado e acabe por ser persuadido. Para tanto, é válido salientar que, o indivíduo 23 para interpretar certa imagem terá como ponte de partida o seu conhecimento prévio acerca do discurso proferido pelo enunciador, para assim expressar-se conforme seu pensamento, uma vez que, sua consciência o conduzirá. Ainda nessa perspectiva Santaella afirma que: O interpretante imediato consiste naquilo que o signo está apto a produzir numa mente interpretadora qualquer. Não se trata daquilo que o signo efetivamente produz na minha, ou na sua mente, mas daquilo que, dependendo da sua natureza, ele pode produzir. Há signos que são interpretáveis através de experiências concretas ou ações; outros são passíveis de interpretações através de pensamentos numa série infinita. (2005, p. 60) Destarte, para que o indivíduo, de fato, interprete uma imagem, terá que munir-se de seu conhecimento sócio-cultural, pois, é na sociedade que este adquire determinadas ferramentas que o possibilitam compreender aspectos relevantes que o conduzirá a aquisição de uma dada ideológica proferida por meio de uma imagem. As imagens, por sua vez, desde as pinturas pré-históricas das cavernas, dizem respeito a expressões das manifestações da cultura humana. Vimos ao longo dos tempos e espaços distintos por meios discrepantes, estes signos não lingüísticos irem se avolumando, fato este possível em virtude da historicidade que cada imagem possue, bem como seus vestígios, iconografias que nos permitem perceber o mundo interior do sujeito que as produz. Porém, é pertinente que saibamos que a pretensão do autor que pinta uma tela e de um produtor de um texto não verbal para uma propaganda, seja ela para qualquer âmbito (TV, outdoor, revista, entre outras que necessitam da imagem) é divergente. O primeiro reveste sua obra a partir de um discurso que exigirá do leitor um conhecimento prévio o fazendo pensar, discursar com o autor da obra em questão por meio dos elementos explícitos e implícitos nesta, trocando em miúdos, neste tipo de arte o apreciador, a depender do seu conhecimento, poderá colocar-se criticamente diante do objeto a ser contemplado. Em relação ao segundo, apesar de explicitar em seu texto fatos vivenciados pela sociedade, este já o produz com a finalidade última de obter lucros. Assim sendo, este produtor se munirá de argumentos plausíveis ou verossímeis para persuadir o leitor e nem ao menos o dará oportunidade de pensar a respeito do que viu para colocar-se criticamente frente ao objeto explicitado. Para tornar claro esta assertiva, observemos as duas imagens a seguir: 24 Nègres a Fond de Calle (Negros no Porão de Navio) – Johann Moritz Rugendas – Da obra “Voyage Pittoresque au Brésil”. A primeira imagem revela de maneira sábia a forma como os negros eram transportados da África para o Brasil nos porões dos navios negreiros. Estes vinham em grande número, por isso amontoados e misturados homens à mulheres e crianças, sob condições míseras, onde na maioria das vezes muitos não conseguiam chegar ao destino. Para chegar a tal entendimento foi relevante que tivéssemos um conhecimento prévio, do contrário observaríamos, nada entenderíamos e por consequencia não nos colocaríamos criticamente diante do discurso proferido. A segunda imagem, desenvolvida para uma propaganda do refrigerante coca-cola, não nos dá a oportunidade de pensar sobre a ideologia expressa por parte da mesma, uma vez que o seu discurso está muito claro, “Coca-cola, refrigerante para todas as idades” e “as crianças que 25 bebem coca-cola receberão a visita do Papai Noel”. O discurso é ilusório, porém, fantástico para a mente dos leitores espectadores, em especial o público infantil. Estes, encantados com tal imagem consumirão o produto mesmo que distraidamente, uma vez que os elementos envolvidos no discurso não estão ali por acaso, mas justamente para persuadir o consumidor o fazendo comprar o produto, para assim dar lucros aos que compreendem a indústria cultural. Portanto, a partir do que foi versado, ao fazermos uma leitura de imagem se faz necessário, além de um conhecimento prévio uma postura crítica perante o objeto a ser analisado, uma vez que a depender da imagem, o leitor poderá ser beneficiado ou não. Assim sendo, conforme professor Caetano, apud Gomes Filho, (2000, p. 14); Acreditamos ser ideal que toda pessoa adquira uma educação visual que a ajude a compreender melhor, e de maneira constante o mundo material à sua volta, independentemente de preconceitos ou de outros problemas relativos a fatores e modismos de ordem cultural, condicionantes da nossa postura e sensibilidade no modo de ver as coisas. Tal assertiva firma a importância de uma educação visual para a formação crítica do indivíduo, pois esta permite ao mesmo uma melhor compreensão do mundo que o circunda fazendo-o refletir a respeito de determinados valores indispensáveis para o convívio em seu âmbito social. Para compreendermos o que até aqui foi dito a respeito da importância da arte imagética façamos uma alusão aos poetas que, buscam a essência em imagens que estão a sua volta, bem como os acontecimentos do cotidiano da sociedade para escrever suas obras. Posteriormente, o leitor, ao deparar-se com estas, as interpretam e, rompem desta forma as barreiras do tempo e do espaço. Nessa perspectiva não precisa muito esforço para observar a passagem do tempo entre as duas imagens apresentadas a seguir: 26 Observa-se que as imagens levam a memória a buscar aspectos que já estavam perdidos no tempo e que foram resgatados através da imagem. Sobre esse fenômeno Manguel (2001, p. 20-21) afirma que: Quer descubramos nesta imagem circundantes lembranças desbotadas de uma beleza que, em outros tempos, foi nossa (como sugeriu Platão), que elas exijam de nós uma interpretação nova e original, por meio de todas as possibilidades que nossa linguagem tenha a oferecer (como Salomão intuiu), somos, essencialmente criaturas de imagens, de figuras. Dada tal afirmação, resta-nos compreender que somos estritamente capazes, a partir da observação e interpretação de imagens, de desenvolver um texto verbal, tendo em vista que, as imagens muitas vezes, “valem mais que mil palavras”. Porém, para que analisemos um objeto semioticamente se faz necessário levarmos em consideração três importantes aspectos que o envolve: a significação, a objetivação e a interpretação. Acerca de ambos Pierce apud Santaella relata: O signo tem uma natureza triádica, quer dizer, ele pode ser analisado: em si mesmo, nas suas propriedades internas, ou seja, no seu poder para significar; na sua referencia àquilo que ele indica, se refere ou representa; e nos tipos de efeitos que está apto a produzir nos seus receptores, isto é, nos tipos de interpretação que ele tem o potencial de despertar nos seus usuários (SANTAELLA, 2002, P.5). Dos três aspectos mencionados pelo autor, para que o último vem a concretizar-se, há a necessidade do receptor ter um conhecimento prévio referente ao objeto a ser analisado, bem como o seu contexto sociocultural. Portanto, o grau de interpretação está intimamente ligado 27 ao nível de conhecimento que possui o interlocutor. Destarte, A semiótica poderá acontecer ou não, o que dependerá da bagagem de informações e, sobretudo, do conhecimento que o possível interpretante tem internalizado em si relacionado a outras áreas do conhecimento, visto que: Sem conhecer a história de um sistema de signos e do contexto sociocultural em que ele se situa, não se pode detectar as marcas que o contexto deixa na mensagem. Se o repertório de informações do receptor é muito baixo, a semiótica não pode realizar para esse receptor o milagre de fazê-lo produzir interpretantes que vão além do senso comum (SANTAELLA, 2002, p. 6) Santaella refere-se especialmente a visão ou leitura semiótica. Entretanto, qualquer indivíduo pode fazer uma leitura de imagem conforme sua concepção de mundo e seus valores culturais, intelectuais e até religioso, esse fato retoma a frase de Leonardo Boff, “cada um ler com os olhos que tem”, e é justamente por isso que a mídia usa para cada público que quer atingir, um tipo de discurso e uma imagem. É importante perceber que uma imagem, seja ela grafada em desenho ou mesmo uma figura retratada nos dá uma determinada percepção. Ao andar pelas ruas lemos várias mensagens, ou seja, para identificar uma sorveteria basta ver o desenho de um sorvete em uma porta ou placa, mesmo o sujeito que não sabe decodificar as letras e ler o nome sorveteria não deixará de tomar o sorvete. Os sinais de trânsito nos falam através das cores. Nos deparamos também com símbolos imagéticos de placas como: é proibido fumar, silêncio, perigo, entre outras. Ao chegar a um estacionamento e encontrar esse desenho as pessoas reconhecem imediatamente que aquele local está reservado para deficientes, o mesmo acontece nos ônibus urbanos. Significa dizer que cotidianamente fazemos leitura de imagem o tempo todo sem perceber, assim como somos levados na “conversa” da mídia também sem perceber. 28 Será que ao entrar num bar e observar essa imagem, especialmente o público masculino irá resistir em tomar o primeiro gole? A imagem traz uma alusão erótica implícita através, principalmente, da cor vermelha. A boca entreaberta da mulher traz o clima de sensualidade e convida a partilha do drinque, é uma imagem que provoca a inserção do álcool. A leitura de imagem vai além do que se possa imaginar é só perceber como as pessoas estão vestidas no dia-a-dia, o tipo de vestimenta em determinado horário e local passará uma percepção sobre a pessoa que está vestida, ou seja, é a aparência através da imagem que nos faz perceber muitas vezes, que a pessoa é socialmente ou profissionalmente. Se nos depararmos com um homem de terno com uma pasta na mão, vamos associá-lo a um executivo, político ou advogado, no entanto ao encontrarmos com alguém vestido em um conjunto de tecido grosso de cor laranja ou azul, com luvas de couro, vamos imaginá-lo um gari. Vale ressaltar, porém, que essas pessoas não são necessariamente aquilo que imaginamos através de nossa leitura de imagem, mas a imagem que vemos nos permite fazer essa leitura. A leitura de imagem merece uma análise profunda uma vez que a imagem transmite uma mensagem imediata, porém nesse estudo atentamos só para algumas provocações no intuito de fazer o leitor compreender melhor o objetivo aqui proposto. Assim observemos as imagens a seguir 29 As imagens mostram duas pessoas, que podem até terem a mesma idade, embora a imagem deixe uma bem mais envelhecida que a outra, as duas fotos estão em preto e branco, o que não nos impede de perceber a diferença de classe social entre as duas pessoas fotografadas. Outra observação seria o espaço que se revela através do solo, um espaço rural e seco à direita e outro urbanizado. Apesar de ambas as fotos mostrarem pessoas descalças, as imagens dos pés mostram também uma grande diferença de poder aquisitivo e a representação em uma, da diversão ou mesmo da arte da dança e a outra do trabalho forçado. Dessa forma é possível dizer, conforme o jargão popular, que “uma imagem fala mais que mil palavras”. Assim, buscamos unir o discurso e a imagem para tentar observar como a mídia, especialmente televisiva, usa esses dois fenômenos da comunicação para atingir seu público. Destarte, para um melhor entendimento deste trabalho científico temos a princípio que compreendermos que ao passo que houve a evolução da espécie humana, a linguagem, ao lado desta ganhou uma nova roupagem, desabrochando de um simples ato de comunicação para uma forma que possibilita as espécies interagirem entre si. Portanto, fica claro por meio do discurso até aqui proferido, que a linguagem seja ela verbal, cujo alicerce é a palavra escrita ou oralizada, ou a linguagem não-verbal que apresenta como formas de manifestações a escultura, a pintura, a fotografia, o cinema mudo, entre outras, são de suma importância ao passo que foram criadas para suprir os anseios e necessidades específicas do homem. Nessa perspectiva, tentaremos mostrar tal importância da linguagem explorando a mídia, mais precisamente a televisiva. Faremos alusão ao discurso verbal e ao imagético para transparecer 30 ao ledor deste como acontece a persuasão nas propagandas de TV, os argumentos plausíveis ou verossímeis utilizados pelos locutores para que aconteça tal persuasão e, de que forma o leitor espectador recebe a mensagem e é manipulado pelo jogo ideológico implícito no discurso. Evidenciada a importância da linguagem na vida do homem para que este identifique-se como um ser atuante em seu âmbito social, bem como a mercante presença desta na vida das mais diversificadas sociedades humanas, traremos a seguir as facetas utilizadas pela mídia, em especial televisiva, com o objetivo último de persuadir o leitor espectador. 31 2 - CULTURA, INDÚSTRIA CULTURAL E MÍDIA 2.1 – CULTURA O presente capítulo trará à baila uma abordagem a respeito de cultura, o que seria a indústria cultural bem como o poder que esta exerce sobre os indivíduos e como a mídia se coloca frente a este processo. Para iniciarmos a discussão é pertinente que façamos uma breve definição acerca de cultura, palavra esta possuidora de demasiada importância e de tamanha dimensão que vem sendo centro de discussões e debates frequentes na sociedade contemporânea. Em seu texto, Conformismo e Resistência, Marilena Chauí, recorda sabiamente o surgimento do pensamento moderno acerca de cultura. Analisemos atentamente suas significantes palavras: [...] Cultura era o cultivo e o cuidado com as plantas, animais e tudo que se relacionava com a terra; [...] era usada para referir-se ao cuidado com as crianças e sua educação, para o desenvolvimento de suas qualidades e faculdades naturais; [...] O vocabulário estendia-se, ainda, ao cuidado com os deuses; [...]. (1989, p. 11) Se embarcarmos na primeira definição da autora, podemos fazer menção ao cultivo das ações humanas, doutrinas e atitudes, para que futuras gerações colham como frutos toda a cultura advinda de seus antepassados, pois só assim se fará viva e presente. Relacionado ao cuidado com as crianças e sua educação, podemos fazer um paralelo à transmissão dessa cultura aos jovens humanos que, por meio da educação que receberão, a vivenciará e, não permitirá que esta se faça ausente na vida dos seus descendentes. Referente à extensão ao cuidado com os deuses, basta que façamos uma alusão a importância destes para a cultura greco-romana para que compreendamos tal definição. Ainda buscando palavras para iluminar nossa mente acerca da definição da concepção que nasce da junção de todas as práticas sociais, a cultura, mergulhemos nas palavras de Cascudo: Para fins primários de impressão poder-se-ia dizer que a cultura é o conjunto de técnicas de produção, doutrinas, e atos, transmissível pela convivência e ensino, de geração em geração. Compreende-se que exista processo lento ou rápido de modificações, supressões, mutilações parciais no terreno material ou espiritual do coletivo sem que determine uma transformação anuladora das permanências características. (2004,p.39) 32 A partir do argumento apresentado acima fica claro que a cultura não nasce com o homem, mas do homem, ou seja, ela é resultante das ações humanas que perpassam ao longo dos tempos. Ela é capaz de ofuscar a ignorância da mente humana, permitindo que os indivíduos que a possuem avaliem, critiquem, façam juízo de valor e, até mesmo comparem e classifiquem as civilizações existentes no mundo. Essa perspectiva se cumpre a partir do convívio com os demais membros sociais que são os principais personagens responsáveis por tornarem em atividade esse ciclo incessante. São eles que a partir de suas frequentes ações e das suas crenças frente a um dado objeto, seja ela material ou espiritual, mantêm acesa uma chama que alimentará as demais gerações que tendem a surgir. Mas, se a cultura é resultante das ações humanas que são transmitidas de geração para geração, por que alguns aspectos relacionados a ela são mutáveis? Convidemos mais uma vez Cascudo para um melhor entendimento: É bem possível que uma cultura modifique uma cerimônia, um aspecto da organização administrativa, uma técnica de produção agrícola, a maneira de preparar um alimento tradicional, um ritmo de dança individual, bailado coletivo, equipamento ou forma de caçar, pescar, guerrear, tecer, fiar, modelar, pintar cerâmica, ornamentar-se, tatuar-se, abandonar certos vocábulos por outros ou fazê-los ter significação diferente, sem que a civilização perca no conjunto de sua apresentação habitual e sensível vitalidade e fisionomia normais. (2004, p.40) Analisando o discurso proferido por Cascudo, encontramos então a resposta para a indagação acima. A cultura está intimamente ligada a todos os aspectos que condizem com as normas, doutrinas, hábitos que herdamos dos nossos antepassados, bem como com um conjunto de ações sociais que são acrescidas as já então vigentes. Assim sendo, uma sociedade não mais teria vida se não mantive-se em exercício todos os seus costumes, valores e, principalmente a transmissão destes para às novas gerações que, sem sombra de dúvidas, serão, assim com seus antepassados, os responsáveis por cultivarem e reproduzirem os saberes terrenos. Para validar estes versos façamos uma alusão à Bosi: Cultura é o conjunto das práticas, das técnicas, dos símbolos e dos valores que se devem transmitir às novas gerações para garantir a nova reprodução de um estado de coexistência social. A educação é o momento institucional marcado do processo. [...] Cultura supõe uma consciência grupal operosa e operante que desentranha da vida presente os planos para o futuro. (2000, p. 16) 33 Desta forma, é imensa a incumbência atribuída às novas gerações. Estas devem exercer o papel de “cultivadores”, “produtores” e “propagadores” do processo incessante que é o ciclo cultural. Tarefa árdua, porém necessária para que se mantenha acesa a chama que alimenta os que vivem e os que estão por vir. No entanto é possível perceber que a prática cultural no processo acima vem sendo dirimida a cada dia e o grande influenciador disso é a mídia e logo mais veremos porque. Assim sendo, explicitada a definição de cultura e a importância desta para a vida das presentes e futuras gerações, veremos a seguir como a sociedade pós - moderna encara esse compromisso e se está ciente da importância desse para que tenha de fato uma identidade cultural. 2.2 – IDENTIDADE CULTURAL Traremos à tona no presente momento um conceito que vem sendo debatido na teoria social, a identidade, que apesar de se tratar de uma questão de complexo entendimento ao passo que apresenta um escasso desenvolvimento e compreensão no que diz respeito às ciências sociais nos dias atuais, merece que lancemos o nosso olhar para tal. Saber conceituar e conhecer de que forma esta manifesta-se nos indivíduos contemporâneos significa nos situarmos no espaço em que vivemos e em especial sermos perceptores e valorizadores dos anseios e valores que estão em nós implícitos. Nesta perspectiva, trataremos a identidade cultural de um indivíduo equivalente a elementos que o identificam como estando inserido em um dado contexto sócio-político. Como exemplo eficaz para tal afirmação, peçamos licença ao ilustre cantor, compositor e poeta popular, Luis Gonzaga, para que consigamos tornar claro tal discurso. A partir das suas canções populares este grande nome da música brasileira, tornou-se conhecido internacionalmente e identificado como sendo pernambucano, nordestino e brasileiro por retratar em suas canções a cultura do seu povo ou, melhor dizendo, sua identidade cultural. Mediante o mencionado exemplo, é válido ressaltar que identidade cultural é tudo aquilo que nos identifica como sendo membros participantes de um dado grupo histórico-cultural e que 34 revela a outras sociedades aspectos condizentes ao âmbito social em que vive um dado indivíduo. Para fomentar tudo o que até aqui foi posto em debate, façamos referência a três concepções de identidade demasiadamente distintas defendidas pelo teórico social Stuart Hall em sua obra A identidade cultural da pós-modernidade. Este expõe no já referido trabalho as concepções de identidade vivenciadas por três sujeitos de épocas discrepantes: o sujeito do Iluminismo, o sujeito sociológico e o sujeito pós-moderno. Nesse sentido, atentemos para a explicação do autor no que diz respeito ao primeiro sujeito: O sujeito do Iluminismo estava baseado numa concepção da pessoa humana como um indivíduo totalmente centrado, unificado, dotados das capacidades de razão, de consciência e de ação, cujo “centro” consistia num núcleo interior, que emergia pela primeira vez quando o sujeito nascia e com ele se desenvolvia, ainda que permanecendo essencialmente o mesmo – contínuo ou idêntico a ele – ao longo da existência do indivíduo. O centro essencial do eu era a identidade de uma pessoa. (2005, p. 10-11) Isso equivale dizer que, este sujeito, embora imbuído de razão e de atitudes, tinha como centro sua própria identidade, não compartilhando assim de suas potencialidades com os que estavam a sua volta, atitude esta que o tornava um ser meramente individualista. Portanto, os conflitos existiam entre o próprio sujeito e sua identidade não havendo espaço para um diálogo externo. Contrário a esta concepção temos o sujeito sociológico: A noção de sujeito sociológico refletia a crescente complexidade do mundo moderno e a consciência de este núcleo interior do sujeito não era autônomo e auto-suficiente, mas era formado na relação com “outras pessoas importantes para ele”, que mediavam para o sujeito os valores, sentidos e símbolos – a cultura – dos mundos que ele/ela habitava. (2005, p. 11) Diante de tal assertiva temos um sujeito com uma identidade formada a partir da relação existente entre seu eu e os demais membros da sociedade. Este, apesar de ter como peça chave o seu eu, constrói sua identidade junto a pessoas que lhe transmitem suas crenças, doutrinas, valores, enfim, sua cultura. O referido sujeito tem sua própria identidade, porém, esta é moldada a partir dos ensinamentos mediados por aqueles que estão ao seu redor. Nessa perspectiva, não há uma perda de valores por parte do indivíduo, mas sim um casamento entre a cultura internalizada desde o seu nascimento e as mais diferenciadas identidades que constituem o espaço geográfico em que vive. Há de fato um acréscimo de saberes que 35 culminam por fortalecer a concepção até então vigente por esse sujeito, possibilitando-o a emergir de um simples âmbito, seu próprio interior, a desbravar ambientes longínquos e que lhe proporcionará uma maior resistência aos acontecimentos do mundo por ele habitado. Uma ressalva a ser feita diante de tais colocações acerca do conceito de identidade relacionado ao último sujeito que acabamos de conhecer, é que “a identidade que costura o sujeito à estrutura” como afirmara Hall, está se fragmentando e por tal motivo se perdendo no tempo e no espaço. O sujeito que até então estabelecia uma conexão entre seu mundo interior e as influências que recebia de um mundo público, agora é altamente descentrado pelas múltiplas identidades que lhe bombardeiam. Diante de tais acontecimentos “germina” o sujeito pós-moderno que é definido por Hall “como não tendo uma identidade fixa, essencial ou permanente.” (2005, p. 12). Porém, destas proposições trataremos a seguir ao debatermos sobre a indústria cultural e conseguinte a forma como esta, através do processo de globalização acoplado a mídia, tende a favorecer a então mencionada ausência de identidade do sujeito da contemporaneidade. 2.3 – INDÚSTRIA CULTURAL: O QUE É? Tudo leva a crer que a nomenclatura indústria cultural foi mencionada pela primeira vez em Amsterdã, no ano de 1947, pelos teóricos Horkheimer e Adorno. Estes deram à luz ao novo conceito objetivando extinguir o até então vigente, a cultura de massa, termo este que gerava uma satisfação para alguns, uma vez que, levava grande parte da população crer que esta última era uma cultura produzida pelo e para o povo, assim como a então cultura popular. Porém, tal renovação do vocabulário proposto pelos referidos teóricos veio a desmascarar a verdadeira face da cultura de massa que tem como foco tornar não produtores, mas, meros objetos, levando em consideração que os produtos por ela produzidos serão engolidos, mesmo que distraidamente, pela própria massa, que é a maioria. Nessa perspectiva, Fernando Rebouças, no site infoescola.com/cultura/industria-cultural, afirma que: O mundo vive num sistema econômico-político-cultural capitalista e o surgimento da sociedade capitalista transformou as manifestações culturais em produto. Este cenário desencadeou a formação da indústria cultural, que é o conjunto de empresas, instituições e redes de mídia que produzem, 36 distribuem e transmitem conteúdo artístico – cultural com o objetivo de adquirir lucros. (http://www.infoescola.com/cultura/industria-cultural/) acesso em 29/ 09/2009 Dentro desta proposta, temos a invalidação da cultura ao colocarmos em evidência as mais diversas mercadorias produzidas por uma indústria que visa alienar seus consumidores tornando-os meros objetos incapazes de direcionar seu olhar e pensamento para a direção desejada, assim como o boi que faz o uso da canga. Isso posto, fica perceptível que a prática de vender sonhos e maquiar a realidade que condiz com o jogo ideológico organizado pela indústria cultural com a finalidade última de refletir na vida dos indivíduos uma ideologia facetada, voltada apenas para o interesse da classe detentora de saber e de poder, ou seja, dos mais favorecidos economicamente. O poderio tende, consequentemente, a tornar sujeito do ciclo da indústria cultural à classe dita subalterna, ao passo que evidencia situações que são condizentes com o cotidiano desta. Tais esclarecimentos revelam o motivo pelo qual “o rico cada vez fica mais rico e o pobre cada vez fica mais pobre”, ou seja, quem está no poder se mantêm no poder e, quem não o tem, continuará sem tê-lo, a menos que seja um ser extraordinário. Porém, conseguindo chegar ao topo da pirâmide alegórica do capitalismo, que ao nosso olhar se resume em duas classes; a dos dominantes e a dos dominados, este ser extraordinário reveste-se das mesmas armaduras e expressa as mesmas atitudes que o diferenciará dos demais membros de uma sociedade e que um dia fizeram parte da história dele. Esse ser dito por nós como ser extraordinário, com o poder em suas mãos, passará de dominado à dominante, porém nada fará para que a sociedade viva em igualdade, mas sim, continuará mantendo a massa meramente subordinada a um sistema que com o decorrer do tempo a aliena e a manipula ao seu bel prazer. Portanto, quem tem o poder tem a máquina nas mãos e, quem a possui são os economicamente mais fortes que exercem o domínio sobre a massa fazendo-a engolir e conseguinte digerir tudo que os primeiros produzem a partir da tão opressora máquina que possuem. Façamos a leitura da imagem a seguir para validarmos tal discurso: 37 A imagem mostra em sua parte superior uma mão, que a partir de um anel e de um botão com o símbolo da cifra acoplado a um terno que desnude quem a possue, revela sua classe social. Esta suposta pessoa tem em sua mão um homem com as características de um boneco de teatro de marionetes, ao passo que é suspenso pela própria mão por meio de cordões. Porém, o que pretendemos explicitar por meio desta, não é o que estamos vendo superficialmente, mas a ideologia expressa por meio da mesma. Se atentarmos para o tema que agora estamos tratando, vejamos esta mão como a de uma pessoa detentora de poder e o homem boneco como um objeto de um sistema opressor que finda por alienar os menos favorecidos economicamente e os desprovidos de um senso crítico. Esse é o poder que tem a indústria cultural, o de manipular as massas a partir de seus mais diversificados produtos que são divulgados pela poderosa mídia, que adentra na vida do indivíduo através dos meios de comunicação e o torna um ser indefeso e impotente diante te tal poder persuasivo. Dentro dessa proposta afirmamos que os produtores da indústria cultural visam apenas lucros e para tal usarão de artifícios nem sempre legais, porém, na maioria das vezes convincentes para fazer com que os produtos produzidos pela mesma sejam consumidos pelo povo mesmo que sem perceber. 38 A violência da sociedade industrial opera nos homens de uma vez por todas. Os produtos da indústria cultural podem estar certos de serem jovialmente consumidos, mesmo em estado de distração. (ADORNO, 2002, p. 16 -17) Diante de tais palavras fica evidente que a indústria cultural manipula os consumidores sem que estes se dêem conta de tal dominação. Destarte, estes comem, vestem, calçam todos os produtos desenvolvidos pela indústria cultural de forma que nem percebem que estão sendo não os principais elementos desse processo, mas, apenas objetos de tal indústria que pretende apenas, a partir do seu jogo ideológico persuadir seus consumidores para assim obter lucros. Mas, por que a massa acaba por consumir, mesmo inconscientemente, estes produtos simplesmente lançados no mercado com a finalidade última da obtenção de lucros? Seria porque nesta massa há a carência de um conteúdo cultural, de um senso crítico e possivelmente uma descentralização de sua identidade? Indagações pertinentes para que compreendamos como acontece na pós - modernidade tal submissão da maioria com relação aos poucos que se mantêm no poder, uma vez que estes ocupam esta posição na sociedade pelo evidente fato de terem em suas mãos os meios de produção e de comunicação. Para que isso posto torne-se melhor compreensível, voltemos na história na época em que o Brasil foi invadido por portugueses que tentaram impor de todas as formas sua cultura aos ditos selvagens, os povos indígenas. Desde o início sempre foi assim, os mais fortes dominando os mais fracos. Porém, os índios não abdicaram da sua cultura, pelo fato de terem uma própria identidade cultural através da qual os demais membros de uma sociedade o identificavam por meio dos seus hábitos, crenças e de seus valores. Assim foi com os negros africanos que ao Brasil vieram com a condição de escravos para fazerem parte da história do país. Estes politeístas foram obrigados a seguir a doutrina do catolicismo, porém, diante dos santos da igreja Católica Apostólica Romana, mesmo que em silêncio faziam referência aos seus orixás. Portanto, é evidente a partir dos exemplos aqui mencionados que estes dois grupos étnicos não perderam sua própria identidade mesmo em contato com outro grupo imbuído de valores diferenciados. Mas, por que na sociedade contemporânea, em meio a globalização, o homem não consegue ter uma única identidade? Por que este enfrenta uma crise de identidade? Como resposta para tais indagações temos as forças do poder capitalista que é obtido a partir da indústria cultural tendo como foco a mídia que é responsável por divulgar os produtos globalizados produzidos pela mesma e o próprio consumidor, este acrítico e por este motivo 39 passivo ao trabalho persuasivo exercido pelos meios de comunicação. Justo por este motivo, o homem não consegue ter em si uma marca cultural que o faz ser reconhecido como um indivíduo atuante em um dado âmbito social. Será sempre um ser sem opinião própria, uma vez que mesmo quando faltar palavras para proferir tal discurso, estará indiretamente dando crédito à determinada opinião já vigente. A partir do discurso versado acerca da indústria cultural, fica claro que após o surgimento de uma sociedade capitalista a cultura passou a condição de produto comercializado. Esta comercialização se dá a partir da mídia que aliada aos meios de comunicação adrentra no universo do espectador não deixando espaço para que este se coloque criticamente. Portanto, argumentação não há, mas apenas uma passividade e alienação por parte destes que acreditam ser os favorecidos do processo capitalista e que apenas são as peças manipuladas pelos poderosos para que o jogo aconteça. Deste modo, a indústria cultural não vende apenas os produtos, mas sonhos, fantasias e desejos. Vejamos a propaganda a seguir produzida para uma campanha do Ministério da Saúde. A partir do principal discurso verbal o que eles vendem não é o que você leva, logo certificamos o que defendemos anteriormente ao referenciar o forte poder persuasivo inserido nas propagandas aos sonhos, fantasias e desejos que são evidenciados por meio destas. Na verdade, o cartaz foi elaborado para deixar claro que as propagandas de cigarro costumam vender felicidade, beleza por meio de dentes brancos e brilhantes e liberdade por meio da expressão emanada pelos fictícios fumantes que as realizam. No entanto, estas propagandas, assim como as demais, não levam os leitores a refletir acerca dos males que o produto possa 40 vir a causar, neste caso dentes estragados, escurecimento da gengiva, pele e lábios ressecados e, até mesmo, câncer na boca. Isso se dá a partir do único propósito pela qual a indústria cultural existe: a obtenção de lucros, nem que para tanto faça os leitores submergirem para o mundo das ilusões. Destarte, seguiremos o nosso trabalho com o propósito de tornar evidente como acontece a persuasão por meio da mídia, em especial a televisiva. Para tanto, percorreremos a seguir pelos conceitos de três discrepantes culturas: a erudita, a de massa e a popular, que trarão uma ótima contribuição para que culminemos o presente trabalho com êxito. 2.4 – CULTURA ERUDITA, CULTURA POPULAR E CULTURA DE MASSA: TENTANDO DIFERENCIAR Feitas as considerações sobre cultura e de que forma esta se manifesta na sociedade, lancemos o nosso olhar para uma expressão não muito fácil de ser conceituada, que é a cultura popular. Segundo Chauí, esta “seria a cultura do povo ou a cultura para o povo?” (1989,p.9 –10). A dificuldade para o entendimento desta expressão surge a partir da indagação feita acima. A mesma teórica faz menção a própria dificuldade que os produtores desta têm em classificá-la. A dificuldade, porém, é maior se nos lembrarmos de que os produtores dessa cultura – as chamadas classes “populares” – não a designam com o adjetivo “popular”, designação empregada por membros de outras classes sociais para definir as manifestações culturais das classes ditas “subalternas”. (1989, p.10) Buscando atentamente explicação para este complexo conceito traremos uma personagem que nos dará uma melhor compreensão em torno do debate em questão, “a cultura de massa”, expressão esta que esteve no ápice nas ciências sociais norte-americanas durante os anos de 50 e 60. Tal êxito foi possível pelo fato de o pensamento liberal acreditar que, com o parimento desta idéia de “massa” livrar-se-ia da tão evidente e intrigante guerra entre as classes sociais. Portanto, este fato não consumou-se, graças ao pensamento antitético de alguns teóricos como os frankfurtianos, Adorno, Horkeimer e Marcuse que, trouxeram à tona os relevantes conceitos de “indústria cultural e de “cultura administrativa”. 41 Contudo, percebemos que há um confronto de idéias. De um lado, os liberais de “massa” que, com sua concepção otimista almejavam extinguir de uma vez por todas a luta de classes. Queriam colocar “sob o tapete” uma explicação científica que vinha sendo cultivada há tempos, como se isso fosse possível de um instante para outro. Do outro, temos os frankfurtianos que, tinham plena consciência de que a luta entre classes ainda se mantinha viva mesmo com o surgimento do termo “massa”. Muito embora, apesar dos dois termos “cultura popular” e “cultura de massa” apresentarem aspectos que lhe são comuns, não são postas como equivalentes, uma vez que, ambas apresentam suas peculiaridades. Vejamos a seguir algumas pertinentes colocações que revelam algumas discrepâncias entre ambos os termos. Como podem ser os termos idênticos se os meios de comunicação de massa são únicos e exclusivos do poderio para “adestrar” as camadas ditas “subalternas”. [...] no Brasil, sociedade autoritária, os meios de Comunicação de Massa são uma concessão estatal a empresas privadas, ficando sob o controle ideológico e político do Estado e, frequentemente, são instrumentos do Estado para fins de propaganda e de doutrinação. (CHAUI, 1989, p.28) Outro aspecto condizente com a abordagem feita entre as duas definições, o “popular” e a “massa” é que ao passo que a primeira evidencia a existência entre as divisões de classes a segunda tende a colocá-las por trás de um cenário ilusório. Em outras palavras, quando afirmamos que há uma cultura popular estamos indiretamente, externando que outra não é popular. Assim, temos um mesmo âmbito social com manifestações divergentes. Assim sendo, é possível afirmar que a cultura popular está intimamente ligada ao povo, este advindo de raízes humildes que produzem esta cultura sem a pretensão de obter lucros. É pura, transparente, muito embora não estática, uma vez que as novas sociedades contribuem de alguma forma para que esta se mantenha viva. Nascida espontaneamente de um povo que busca inspiração em acontecimentos corriqueiros do ambiente em que vive a cultura popular tem como foco principal não o próprio resultado por esta produzido, mas o simples homem do povo que a produziu. Contrário a está concepção cultural está a cultura de massa que não é produzida pelo e para o povo, mas pela classe dominante para a classe dominada, trocando em miúdos, esta é uma 42 cultura que já vem pronta e que é engolida pelos desprovidos de poder. Não tem como elemento principal quem a produziu, mas o lucro que está trará para seus produtores. Podemos afirmar então que tudo aquilo produzido pela indústria cultural é destinado às massas e consumidas por estas a partir dos argumentos plausíveis ou verossímeis dos quais se revestem a poderosa mídia, que em nossos dias é determinante em nosso modo de ser, de vestir, de se alimentar, entre outros fatores relacionados às nossas necessidades. Porém depois de juntarmos todos os conceitos e comentários dos teóricos sobre cultura, indústria cultural, cultura popular, cultura de massa chega-se a um denominador comum. Podemos afirmar que a cultura faz parte da vida do sujeito em desde sua infância e atribui-se ao grupo social e cultural a que pertence como foi evidenciado no exemplo do rei do baião. Por outro lado a indústria cultural trabalha orientada pelo capitalismo, ou seja, ela produz em todas as áreas como música, literatura, objetos de uso e alimentos para ser consumido pela massa sem nenhuma objeção, porque a maneira como são passados esses produtos não deixa que as pessoas pensem a respeito. Nessa perspectiva entra a mídia que trabalha para convencer a massa a consumir o que é produzido pela indústria cultural. Isso seria a chamada cultura de massa. A cultura erudita por sua vez liga-se ao aprendizado artificial, ou seja, é algo que o sujeito busca para estar incluso nos trâmites exigidos pela sociedade abastada. A cultura acadêmica faz parte desse perfil. Por esses motivos a cultura erudita não é democrática, porque nem todos fazem parte desse grupo. Ao contrário dela a cultura popular, irmã mais velha, abraça todas as comunidades, porque se evidencia nos adventos que são passados de geração em geração através de quem a criou, o próprio povo. Portanto a cultura popular é a que nasce do povo para o povo de forma espontânea e sem fins lucrativos. Dessa forma fica evidente que nem tudo que se populariza é cultura popular, pois o poder da mídia com a globalização é muito grande e faz com que as coisas se disseminem rapidamente, se popularizando, ou se já se espalham os conceitos e tudo que é criado entre as pessoas, mas nem por isso tem raiz popular porque só visa o lucro. Nesse sentido, depois de tentarmos esclarecer semelhanças e diferenças entre esses aspectos que fazem parte da vida contemporânea, mas que são difíceis de serem entendidos pela maioria das pessoas, passaremos a nossa fase final, tentando vê como a mídia, especialmente a televisão trabalha para que o consumo exacerbado de tudo e a perda de nossa identidade aconteçam. 43 3 – O PAPEL DA MÍDIA Para embasar este capítulo que se inicia, fomentemos a princípio que os meios de comunicação de massa tradicional (jornal, rádio, cinema, televisão), desde o seu surgimento sempre foram utilizados pelo poderio (indivíduos e grupos particulares) com a finalidade de manipular a massa, confirmando assim que são unânimes do que diz respeito ao poder e ao saber. A sociedade cresce, o mundo evolui em meio à globalização, novos meios de comunicação ganham espaço na vida da humanidade, porém, o caráter manipulador do poderio para com a massa não cessa. A mídia na sociedade contemporânea, veiculada pelos meios de comunicação de massa, vem encontrando um largo espaço e circundando cada vez mais e com maior intensidade o indivíduo dessa sociedade. Esta se faz presente em nossas vestimentas, nas embalagens dos alimentos que ingerimos, em nossos calçados, nos outdoors, nas revistas, panfletos, TV, entre outros, e sempre com a pretensão de informar o leitor espectador acerca das vantagens que certo produto anunciado tenha para que este venha a adquiri-lo e certamente dê lucros aos envolvidos no processo da indústria cultural. Porém, como foi dito, a mídia objetiva informar. Mas, esta não forma opinião? Para obtermos resposta a respeito desse questionamento basta percebermos como a população se prostra diante da mídia, na condição passiva, de mero objeto, a ser manipulado pelo jogo ideológico expresso pelos meios de comunicação. O indivíduo, a partir de um simulacro criado pela mídia, compra desejos, fantasias, sonhos findando por ser personagem de um espetáculo onde o espaço é o das ilusões. Nesta perspectiva se tem, de um lado, as forças do poder capitalista, representadas pela mídia e pela publicidade e o mercado globalizador e, do outro lado, o consumidor indefeso, alienado e robotizado pelo trabalho sedutor e persuasivo dos meios de comunicação. (SILVA, 2008 p.181) Para que tal indivíduo não seja sufocado pelo emaranhar de teias lançadas pela mídia, basta que imbua-se de uma postura crítica, peneirando a gama de informações recebidas, colocando-as na balança da consciência e analisando até que ponto estas trarão benefícios para a sua vida. Partindo desse pressuposto, este indivíduo terá, a partir das informações recebidas, uma opinião própria que lhe permitirá ser reconhecido através de uma identidade 44 intrínseca por defender aquilo que acreditara um dia. Porém, infelizmente, não é o que acontece na maioria das vezes. A mídia acaba seduzindo o leitor espectador por meio de situações irreais e destorcidas o fazendo acreditar que o mundo evidenciado por alguns instantes é único e verdadeiro, merecendo ser habitado por todos que o contemplam. Para continuarmos percorrendo esse universo midiático é conveniente que nos apoderemos por alguns instantes das palavras de Chaui acerca da definição da propaganda: A palavra propaganda deriva do verbo “propagar”, que significa: multiplicar uma espécie por meio da reprodução, espalhar-se por um território, aumentar numericamente por contágio, irradiar-se, difundir-se e, por extensão, divulgar. A propaganda é uma difusão e uma divulgação de idéias, valores, opiniões, informações para o maior número de pessoas no mais amplo território possível. (2006, p. 37) Desse excerto, a propaganda visa divulgar um dado produto e, por trás desse, ideologias. Porém, é conspícuo como os indivíduos são altamente influenciados por elas sem jamais se darem conta de tal influência, pois estes acabam adquirindo tal produto, mas nem ao menos reconhecem os verdadeiros motivos que os levaram a tal atitude. Todavia, se direcionarmos o nosso olhar para os argumentos que revestem as propagandas conseguiremos compreender como se dá tal persuasão. Para conseguir alcançar o seu objetivo, a mídia atrelada aos meios de comunicação, apresenta os seus produtos embasados no que a humanidade necessita, nem que para tanto coloque em evidência necessidades que não são condizentes com a naturalidade dos fatos. Para que tudo até aqui discursado ganhe dimensão e percorra por caminhos imbuídos de certezas, mergulhemos no universo midiático. Para tanto, utilizaremos antes de adentramos no mundo televisivo (principal foco deste trabalho) o corpus extraído da revista semanal de circulação nacional, a Veja: 2009, edição: 2104, páginas 6, 7, 48 e 49, respectivamente: 45 PROPAGANDA 1 O texto verbal possibilita o leitor, a partir da expressão Sabe quem faz o melhor cachorro quente do mundo? crer que quem faz o mais saboroso cachorro quente do mundo é um determinado alguém. Porém, ao ler a resposta para a referida indagação, logo percebe que não se tratava de um ser humano, mas da salsicha e, obviamente por se tratar de uma propaganda da perdigão, não seria qualquer salsicha, mas a salsicha hot dog perdigão. Ainda a partir do texto verbal, é retratado ao leitor que esta salsicha além de deliciosa, fácil de preparar é irresistível, embora, agora ainda mais, com a nova embalagem que acabara de receber. E, se você leitor, pretende fazer o melhor cachorro quente do mundo, não erre na receita: salsicha hot dog perdigão. A linguagem não verbal é marcada por uma sedutora imagem de um cachorro quente e dos seus possíveis acompanhamentos. Todavia, o que mais chama a atenção é a mão masculina que coloca sobre a salsicha, personagem principal da propaganda, uma camada de mostarda, o que leve os leitores e possíveis consumidores do produto anunciado a crer que até mesmo um homem, ser sem dom culinário, pode fazer o melhor cachorro quente do mundo. Concluímos então por meio dessa análise que, a partir da salsicha hot dog Perdigão, qualquer pessoa, mesmo as desprovidas de dotes culinários, poderão fazer rapidamente, o mais saboroso cachorro quente do mundo. Os leitores dessa propaganda, acreditando nos 46 argumentos apresentados nesta, consumirão o produto mesmo que em estado de distração e jamais perceberão que foram meros objetos do jogo persuasivo que envolveu sonhos, desejos e fantasias. PROPAGANDA 2 Comecemos com a seguinte indagação: a propaganda está vendendo o carro ou diversão? Na verdade as duas coisas, pois para que o produto, neste caso o carro, fosse apresentado ao público teria que vir atrelado a algo prazeroso tal como a liberdade de desbravar os quatro cantos da cidade. E, é claro, para que este sonho se realize não seria necessário um carro 47 qualquer, mas um Renault Sandero Stepway. A mensagem é bem clara: para que o leitor vá a exposições, baladas, restaurantes, enfim, conheça os mais variados lugares que há em sua cidade só com um carro que propicie tal aventura. Ao analisar o discurso verbal A sua cidade também vem com um monte de itens que você desconhece supomos haver outra coisa, além da cidade, que possue algo desconhecido, mas que é preciso conhecer para lhe ser permitido desfrutar de tudo que sua cidade possa vir a lhe oferecer, neste caso, o carro anunciado. No que diz respeito à linguagem não verbal, é revelada uma linda paisagem urbana caracterizada por lindos prédios, praias, que serão habitados com grande facilidade por aqueles que aderirem à propaganda e comprarem o carro. Mas onde estão as favelas da vida, o subúrbio, as paisagens que como afirmam o poderio, mancham a imagem dos grandes centros urbanos? Será que se esta imagem fosse à estampada na propaganda alguém haveria de comprar o produto? Obviamente, não. Nem os que habitam lugares semelhantes, tampouco os que residem em nobres bairros da cidade. Pensemos ainda no público que faz grande esforço para adquirir um carro como esse, acreditando a partir do que foi anunciado que realmente desbravará os quatro cantos da cidade e frenquentará os âmbitos expressados por meio de tal propaganda. É sabido do grande sacrifício que muitos fazem para ter um carro como esse e que na maioria das vezes abrem mão de uma boa alimentação, educação, saúde e muitas outras necessidades básicas para assim tê-lo e agradar a sociedade. Assim é o poder da mídia sobre os leitores desprovidos de um senso crítico. Estes a partir de um jogo persuasivo compram não os produtos, mas fantasias, sonhos, enfim, tudo que acreditam satisfazer seu ego como ser humano. Para o leitor acrítico comprar um determinado produto significa comprar a felicidade, o sucesso, a beleza, a juventude, a paz, o lazer, a diversão e inúmeros prazeres a serem desfrutados. “Em outras palavras, a propaganda ou publicidade comercial passou a vender imagens e signos e não as próprias mercadorias.” (CHAUI, 2006, p. 39) De fato, as artimanhas utilizadas pela mídia no sentido de persuadir os leitores, existem e correspondem a um sistema vigente há tempos. Esta se imbui, a partir das linguagens verbal e 48 não verbal, de argumentos que se aproximam do mundo real de seus apreciadores para assim fazê-los crer que há um mundo que merece ser desfrutado por todos. Na maioria das vezes, a poderosa mídia desperta em seus espectadores desejos, fantasias, sonhos e necessidades que nem ao menos estes sabiam ter, mas que agora possuem em glória aos argumentos e imagens que esta constrói almejando aguçar os sonhos mais eloquentes e obscuros dos enunciatários. Dentro dessa perspectiva, temos um público manipulado pela mídia e pelos meios de comunicação de massa. A mídia lança suas artimanhas para assim conseguir seus objetivos, munindo-se de fortes argumentos que em mobilidade formam demasiadamente seres semelhantes a robô, e que possuem no lugar de sua mente, lixeiras transbordando de inconsciência e falta de criticidade. Destarte, traremos posteriormente o poder persuasivo que esta exerce por meio da televisão, poderoso meio de comunicação de massa que no lar da sociedade pós-moderna encontra um largo espaço e ocupa a posição de membro familiar. 3.1– ONDE ENTRA A TELEVISÃO A televisão, considerada um meio de comunicação de massa pelo fato de informar em um mesmo espaço de tempo um grande número de pessoas, tem marcado presença nos lares da sociedade contemporânea. Esta vem exercendo bem mais que a função de um eletrodoméstico, uma vez que como um membro familiar é responsável por grande parte da formação que tem um dado indivíduo. A cada dia as pessoas tem se prostrado frente a este meio de comunicação absorvendo todas as informações que este transmite. No entanto, este poderoso veículo de transmissão de ideologias tem caráter manipulador, pois a partir de suas programações prende a atenção de seus espectadores fazendo-os na maioria das vezes adiquirir determinada postura que nem ao menos reconhecem o porquê de tal escolha. Mas como se dá tal poder que faz com que o indivíduo viva sob a condição de mero objeto frente à TV? Se pensarmos acerca das temáticas exploradas nos programas que esta transmite será fácil encontrar resposta para tal questionamento. É conspícuo como ao assistir um determinado programa de TV os telespectadores se identificam com alguém ou se imaginam em determinadas situações, pois é assim que esta consegue prender a atenção, revestindo-se de um simulacro condizente com a vida cotidiana daqueles que a prestigiam. 49 A TV condiciona o pensamento do indivíduo a partir da mimese, evidenciando programas que tem como foco temas banais que afloram o sentimento, seduzem e conquistam os telespectadores. Nos conteúdos exibidos na televisão, segundo Chaui “Os assuntos se equivalem, todos são questão de gosto ou preferência, todos se reduzem à igual banalidade do “gosto” ou “não gosto”, do “achei ótimo” ou “achei terrível”. (2006,p.7) Não é explicitado em momento algum o porquê da satisfação ou insatisfação, as explicações são sempre evasivas e condicionadas. Um claro exemplo para fomentarmos a pauta acima, são as reportagens que envolvem conteúdos de roubo. É sempre indagado ao cidadão “delinquente”: “como foi que isso aconteceu?” “você não está arrependido?”. Não é colocado em debate os possíveis motivos que o levou a cometer tal atrocidade como: a fome, a miséria, o desemprego, problemas estes que deveriam ser resolvidos para que tantas desgraças não viessem a acontecer. Mas, não é conveniente para os detentores do saber e do poder evidenciar tal conteúdo, visto que trará a tona a podridão e a incompetência da sociedade elitizada. Focalizando as propagandas exibidas por meio desse meio de comunicação, é comum vermos conteúdos embasados em situações que os telespectadores almejam viver e em determinados momentos se imaginam na cena mostrada, querendo romper as barreiras que o impede de estar “dentro” da tela. Acerca dos conteúdos propagandísticos Chaui afirma que: [...] tanto pode recorrer aos estereótipos da dona de casa feliz (tento orgasmo com a qualidade do detergente ou da margarina), dos jovens felizes e saudáveis, prometidos ao sucesso e à exibição do prazer em todas as suas formas (prazer suscitado pelos objetos que perderam a qualidade de símbolos sexuais para se tornarem diretamente fetiches sexuais), das crianças felizes e tranqüilas, prometidas ao amor familiar (o amor definido pela capacidade dos familiares de satisfazer imediatamente todos os desejos infantis, de gratificar imediatamente as crianças com o consumo dos objetos, de cultivar o narcisismo infantil até suas últimas conseqüências). (2006, p. 8) Portanto, os elementos lingüísticos e imagéticos que envolvem as propagandas de TV, são elaborados a partir das necessidades que os telespectadores possuem: serem felizes, livres, bem sucedidos, entre outras. Para tornar crédulo o que foi versado, façamos a análise de um dos comercias do refrigerante Coca-cola criado para a campanha do Natal do ano de 2008. Comecemos a análise a partir da letra da música cantada no comercial: 50 PROPAGANDA 3 Natal, natal, natal Natal, natal, natal Espalha essa magia ao seu redor E contagia o mundo com o que você tem de melhor Natal, natal, natal. Espalhemos a magia do Natal! Contagiemos o mundo com o que temos de melhor! Mas o que temos de melhor para oferecer nesta época que deveria ser caracterizada pela união familiar, pela solidariedade, pelo amor? Pensemos na situação que vivem muitos telespectadores, sem emprego, com família desestruturada e que sequer tem uma simples refeição para fazer. O que estes podem oferecer? Quais os seus sonhos para a Noite de Natal? A Coca-cola pode presentear-lhes com esses sonhos, para isso basta uma única exigência: o consumo do produto anunciado. Isso fica muito claro ao analisarmos as imagens do comercial. O bom velhinho, Papai Noel, Produz a partir da sua máquina a fórmula da felicidade e a lança para o mundo por meio de um super canhão. Todos que estão tristes e rancorosos, ao verem a produção que sobrevoa ao céu mudam de comportamento. A princípio, é mostrada uma garotinha que vê pela janela da sua casa a fórmula que vem na forma de uma estrela e logo em seguida vai ao encontro da sua família para juntos compartilharem de uma farta ceia, que evidente tem como única bebida o refrigerante 51 anunciado. A primeira atitude dessa é ajudar, provavelmente seu irmão, que está com os braços engessados. Esta leva o copo de coca-cola à boca dele para que ele também seja feliz. Posteriormente, uma jovem que caminhava triste pelas ruas ao observar a fórmula, depara-se com uma planta com um galho pendendo e, com uma fita vermelha, cor do rótulo da cocacola, fixa o galho a um pedaço de madeira e em seguida leva à boca uma garrafa do refrigerante anunciado. Partindo para o texto verbal temos os seguintes discursos: Presenteie o mundo com o seu melhor/ Viva o lado coca-cola do Natal e De: coca-cola para: o mundo. O comercial, a partir das imagens explicitadas, foi muito claro ao enfatizar que o melhor presente para o Natal é o refrigerante, justo que ao fim deste, é mostrado com a etiquete na qual está escrito “De coca-cola para o mundo”, o que afirma aos telespectadores que o produto é consumido por todos no mundo e você que assiste ao comercial não pode ficar sem saciar a sede com o refrigerante que lhe trará felicidade. Quanto a viver o lado coca-cola da vida, subtendemos que o lado coca-cola seria o lado bom, atrelado a felicidade, a solidariedade. No entanto, com base em tudo que foi pautado neste trabalho, afirmamos que a propaganda vendeu a princípio a imagem da felicidade, para então vender o produto. Este foi o poder persuasivo utilizado pela mídia para seduzir o leitor espectador que a partir da necessidade de ser feliz, possivelmente consumirá o produto mesmo sem perceber que caíra nas artimanhas de um discurso marcado pela fantasia. Também, muito comum nos comerciais de TV, é a desvalorização humana e o apego ao material, uma vez que estamos vivendo a era do capitalismo “selvagem”, era esta que exclui, invalida e que faz do ser humano um objeto que apenas tem valor quando possui algo a oferecer. Para fomentar o debate, façamos a análise do comercial produzido para divulgar o novo carro Renault Clio. 52 PROPAGANDA 4 Ao parar no semáforo, um motociclista é abordado por três lindas jovens que estavam em um Renault Clio e acreditara ele, estarem o paquerando. Porém, logo é acometido a decepção. As garotas deslumbravam o homem do Renault Clio que estava ao seu lado. Mais a frente é surpreendido por uma cena na qual uma jovem abraça e beija loucamente um homem que tem o carro anunciado. Continuando seu trajeto, vê desta vez, uma outra jovem beijar apenas o rosto de um homem, porém, este não tem o carro do anúncio, mas um outro. Tendo percebido que todos os homens que possuíam o Renaul Clio faziam sucesso com as mulheres resolveu adquirir de uma forma engraçada o carro do anúncio. Ao passar em frente a um outdoor, tem a feliz ideia de, com um estilete, retirar o carro e posteriormente acoplá-lo à sua motocicleta. Para sua felicidade constatou seu pensamento “faz sucesso com as mulheres o homem que possui tal carro e não caráter e dignidade”, uma vez que logo a frente é surpreendido por uma linda mulher que o vislumbra, ou melhor, o seu carro-moto. No caso encenado, já que as propagandas de televisão revestem-se de todo um simulacro para atingir seus objetivos, neste caso o de persuadir o leitor espectador para fazê-lo aderir a uma dada ideologia, o poder persuasivo utilizado pelos produtores do comercial analisado, foi mostrar que, para o homem “possuir” todas as mulheres que queira basta ter um Renault Clio. No entanto, sabemos que isto não é fato consumado, foi apenas um simulacro montado para que os homens que assistissem ao comercial acreditassem e comprassem o produto. 53 Ao final da propaganda o discurso verbal confirma o que o imagético falara anteriormente: Novo Renault Clio faz você parecer bom. Ou seja, você pode ser um indivíduo cheio de falhas, ter caráter duvidoso, mas se possuir o carro Renault Clio se assemelhará a seres brilhantes, magníficos e merecedores de toda atenção. Mas, diante de tal atitude, onde ficam os valores humanos? Logicamente, “debaixo do tapete”. Não nos surpreendamos, visto que a mídia imbui-se de todos estes artifícios para conseguir o que quer, neste caso, formar seres de mentes vazias e obter lucros a partir de tal persuasão. Nesse caso como fica a situação da mulher que é vista como mero objeto e alienada pela imagem de um carro, ou seja, mais uma vez tiram da mulher a condição de ser pensante e dão-lhe um estereótipo de coisa que procura coisa (mulher-carro), um ser alienado que pode ser ludibriado com um bem material. Acoplado a desvalorização humana, temos em especial, a desvalorização feminina. Verídico se torna o discurso, ao analisarmos as propagandas interpretadas por Patrícia Silveira para a campanha da cerveja Antártica. PROPAGANDAS 5 E 6 A primeira a ser analisada mostra a atriz fazendo todos os preparativos para receber um possível namorado. O comercial é marcado unicamente pela linguagem não verbal e por uma música internacional que serve de pano de fundo para elevar o clima de romance. No embalo da canção, a atriz e modelo cozinha e utiliza como tempero a cerveja anunciada, passa a roupa que vai usar na ocasião e a borrifa com a cerveja, aromatiza o ar também com a cerveja e por fim passa em seus lábios o batom “antártica”. 54 Com a chegada do rapaz, este a beija e logo senti-se atraído. Mas por quem, pela mulher ou pela cerveja? Se o ambiente, o jantar e seu corpo exalavam a cerveja e os seus lábios tinham o sabor da mesma? Óbvio que foi seduzido pela cerveja e não pelo lado feminino. O outro corpus analisado mostra Patrícia Silveira desfrutando de seu sono, quando de repente, leva um pequeno susto ao ouvir o estalar de uma lata de cerveja Antártica sendo aberta por seu namorado. Este começa a lambuzá-la com o conteúdo da embalagem e conseguinte a correr os lábios pelos locais do corpo da jovem que recebera a cerveja. Desconcertantemente, começa a jogar cerveja em objetos como abajur, cela de bicicleta e a correr os lábios assim como fizera com a jovem, que mostrava a partir da sua expressão facial não entender o que se passava. Ao perceber a intenção do rapaz, esta desprovida da valorização pessoal e louca para satisfazer-se, lança sobre o seu corpo a mesma cerveja na esperança que seu parceiro voltasse a lhe desejar. O comercial culmina com o seguinte discurso verbal: Com Antártica é mais gostoso. Destarte, qualquer ou quem quer que seja fica mais gostoso se desfrutar da cerveja anunciada o que leva os desfavorecidos de um senso crítico a acreditarem em tal atrocidade e consumirem o produto na esperança de que isso acontece. Mas qual posição ocupa a mulher na sociedade frente a uma propaganda como esta? Sem sombra de dúvidas a de mulher objeto, que não tem sentimento e que veio ao mundo sob uma única condição: satisfazer, satisfazer e satisfazer os homens. Infelizmente, são coisas como essa que confirmam o poder da mídia sobre os indivíduos. Esta consegue manipular até mesmo o pensamento dos leitores espectadores que aderem as ideologias veiculadas por meio dos discursos por ela utilizados. Analisemos agora uma propaganda promovida pelo Ministério da Educação para divulgar o programa Prouni do Governo Federal. 55 PROPAGANDA 7 O comercial ganha vida com um rapaz de cor negra que, ao cantar a música Para não dizer que não falei das flores de Geraldo Vandré em um cenário favela, segura com firmeza a bandeira do Brasil evidenciando que confia em sua pátria, ou melhor, em seus governantes. Este, caminhando e cantando como diz a canção, recebe como segundas vozes três jovens também de cor negra. Ao longo da sua caminhada depara-se com jovens negros praticando esportes e outras pessoas que encontra pelas ruas que o acompanha e seguem juntos a canção. Ao encontrar, em um bairro classe média da sociedade brasileira um garoto de cor branca, profere a seguinte parte da canção: “somos todos iguais, braços dados ou não”, e logo em seguida o garoto também o acompanha. Mas será que diante dos poderosos detentores do saber somos realmente iguais? Logicamente, não. O jovem continua a caminhar e cada vez mais leva consigo um maior número de pessoas sendo estes, brancos, deficiente físico e em maior destaque numérico, negros, já que um dos objetivos do comercial é enfatizar que os mais beneficiados com o programa serão pertencentes à classe menos desfavorecida economicamente. O comercial apresenta como desfecho a seguinte proposta: O programa Prouni, Universidade para todos do governo federal, já ofereceu mais de 200 mil vagas no ensino superior. O Prouni garante aos estudantes bolsas gratuitas ou com 50% de desconto em faculdades particulares de todo o Brasil. Faça parte dessa revolução na educação brasileira. Ministério da Educação, um país de todos. 56 Este comercial trouxe a baila os principais fundamentos teóricos que expomos ao longo deste trabalho, visto que evidencia o poder da mídia e a coloca na condição especial de que para produzi-la se faz necessário deter o poder e o saber. O poderio veio explicitar através desta que muito está contribuindo para o crescimento do povo brasileiro. Mas, para o crescimento de qual classe da população brasileira? É sabido que para o jovem ser beneficiado com este programa se faz necessário enfrentar avaliações que testam os conhecimentos adquiridos em toda a sua vida educacional. Sabemos ainda que o público menos favorecido economicamente dificilmente vencerá essa barreira, uma vez que durante sua vida frequentou escolas públicas e enfrentou inúmeras dificuldades para concluir as etapas estudantis. Chegar lá, este público pode até chegar, mas em meio a muitas dificuldades e sendo um ser extraordinário como já afirmamos em linhas anteriores. Este veio afirmar ainda que mesmo os descrentes devem acreditar no país, porque os seus governantes estão desempenhando um ótimo trabalho; que mesmo tendo padrões de vida diferenciados somos todos iguais; que este programa criado pelos poderosos para a felicidade da massa é uma revolução na educação brasileira e que o Brasil é um país de todos. Tudo muito bem elaborado e convincente, porém para os indivíduos de mentes semelhantes a uma lixeira vazia, ou seja, aos desprovidos de um senso crítico. Mas, infelizmente esse foi o maior objetivo do presente trabalho, mostrar como a mídia, em especial a televisiva, manipula incessantemente a massa a fazendo compactuar com suas ideologias e a dando pequenas e diárias doses do colírio que favorece a cegueira. 57 CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao analisar o tema em foco, constatou-se que as propagandas de um modo geral e, especialmente a de TV utilizam diversas artimanhas na tentativa de convencer o telespectador da imprescindível relevância daquele produto para sua vida. Assim, ao término desse trabalho, comprovou-se que os produtores, juntamente com os patrocinadores desse tipo de propaganda recheiam de sonhos e fantasias os discursos verbais e imagéticos na tentativa de persuadir os telespectadores fazendo-os compactuar com suas ideologias. Por conseguinte, a forma como esses elementos estão dispostos, tanto no discurso verbal como no imagético nas propagandas de TV, não exigem do telespectador um olhar crítico, e tampouco, aguçam sua consciência o fazendo pensar acerca das vantagens e desvantagens da aquisição do produto anunciado. No entanto, para que este não caia no emaranhar de teias lançadas por meio do discurso propagandístico, deve, a princípio, ser um formador de opinião e ter um senso crítico a partir do qual transcenda suas ideologias. Durante sua realização, ficou claro que na busca pelo entendimento amplo da mensagem e para não ser persuadido, se faz necessário que o telespectador abarque bem mais que o conhecimento linguistico, sendo-lhe preciso conhecer o mundo que o circunda, bem como ser um indivíduo de pensamento e opiniões formadas, trocando em miúdos, ser crítico e possuir suas próprias ideologias. Ao término das análises, o questionamento formulado anteriormente ao processo de pesquisa foi satisfatoriamente respondido, ou seja, acerca da indagação de quais os fatores que levam os telespectadores a compactuarem com as ideologias vigentes nos discursos das propagandas de TV e conseguinte adquirirem o produto anunciado, obteve-se a seguinte resposta: a forma como a mídia, em especial a televisiva, emprega tais discursos, partindo da necessidade do telespectador (felicidade, liberdade, comodidade, entre outros) e a ausência de criticidade por parte dos mesmos. Vale ressaltar que os resultados obtidos a partir do presente trabalho não findam com esta pesquisa monográfica e estão abertos a contestações, visto que o tema oferece um vasto campo de estudo e poderá servir de alicerce a outros trabalhos que venham a ser desenvolvidos nesta área. 58 REFERÊNCIAS ADORNO, Theodor W. Indústria cultural e sociedade. Tradução de Julia Elisabeth Levy. São Paulo: Paz e Terra, 2002. BOSI, Alfredo. 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