28 POLÍTICA & PODER
Domingo, 29 de abril de 2012
Jornal de Brasília
CASO CACHOEIRA
Um patrimônio turbinado
l Declaração de bens de Demóstenes teria quadruplicado. Apartamento de luxo é destaque
Q
FINANCIAMENTO
A certidão do Cartório de Registro de Imóveis de Goiânia mostra
que o senador pagou R$ 400 mil à
vista pelo apartamento de luxo. O
restante teria sido financiado pelo
Banco do Brasil. No entanto, o contrato de compra e venda não foi
registrado.
O advogado de Demóstenes,
Antônio Carlos de Almeida Castro, o
Kakay, disse que o senador financiou
o apartamento pelo Banco do Brasil
em 30 anos e que terá o salário
descontado em R$ 9 mil por mês.
O advogado da Construtora Orca, Brandão de Souza Passos, afirmou que a negociação foi legal e
registrada. "Nosso diretor (Wilder
Morais) estava com problemas conjugais, pensou em comprar esse
imóvel para uso próprio, mas depois reatou com a esposa, a relação
durou mais um pouquinho e aí o
senador se interessou e comprou."
Wilder era casado com Andressa
Mendonça, atual mulher de Carlinhos Cachoeira.
Promotor de Justiça, Demóstenes
optou pelo salário de senador ao
assumir o cargo e recebe mensalmente R$ 26,7 mil. Sua atual mulher,
Flávia Gonçalves Coelho, é advogada. Foi aprovada no ano passado
no exame da Ordem dos Advogados
do Brasil (OAB). Segundo documentação apresentada no cartório, Flávia
é funcionária pública estadual em
Goiás.
ENCOMENDAS
Interceptações telefônicas da
Operação Monte Carlo, comandada
pela Polícia Federal, mostram, por
exemplo, Cachoeira intermediando a
aquisição e entrega de uma mesa de
jantar que a mulher de Demóstenes
queria comprar na Argentina no valor de R$ 39 mil.
Tido como dono de uma das
adegas mais invejadas de Brasília, o
senador encomendou a Cachoeira,
cinco garrafas de Cheval Blanc, safra
1947, tido como um dos melhores
vinhos do mundo. A compra aparece
citada nas escutas feitas pela PF. A
aquisição teria sido realizada em
agosto do ano passado. No Brasil,
cada garrafa custa o equivalente a R$
30 mil. Mas o esquema de Cachoeira
teria conseguido uma "pechincha" e
comprou as cinco garrafas por R$
28,2 mil.
O pagamento, a pedido
de Demóstenes, foi feito no
cartão "do nosso amigo aí", referindo-se
ao contraventor.
SAIBA
+
Segundo corretores
imobiliários, o
apartamento de
Demóstenes estaria
estimado em R$ 2
milhões.
Ocupando todo o 15º
andar do Edifício Parque
Imperial, o apartamento
tem 701 metros
quadrados.
O imóvel fica no Setor
Oeste, um dos mais
nobres de Goiânia.
Casados desde julho do
ano passado, Demóstenes
e Flávia Gonçalves fizeram
uma ampla reforma no
apartamento do Parque
Imperial.
Parte dos móveis que
decoram o apartamento
foi comprada com a
ajuda de Carlinhos
Cachoeira.
Demóstenes encomendou a
Cachoeira e seus
funcionários que trouxessem
de Miami aparelhos de som,
projetor e outros
eletrônicos.
No início das denúncias
envolvendo relações do
senador e Cachoeira,
Demóstenes afirmou que
ganhou de presente de
casamento de Cachoeira
a cozinha do novo
apartamento.
Demóstenes
teria passado
de uma casa
de R$ 60 mil
para um
apartamento
avaliado em de
R$ 2 milhões
CRÉDITO
uatro meses depois das eleições de 2010, o patrimônio do
senador Demóstenes Torres
(sem partido-GO) – um dos principais investigados na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga relações de políticos com o
contraventor Carlinhos Cachoeira –
teria praticamente quadruplicado. O
parlamentar teria comprado do seu
suplente, o empresário Wilder Morais, um apartamento em um dos
prédios mais luxuosos de Goiânia
(GO), no valor de R$ 1,2 milhão A
transação imobiliária teria ocorrido
três meses após a Construtora Orca,
de propriedade de Wilder, comprar o
imóvel de outra empresa goiana.
Em 2010, quando se reelegeu
senador, Demóstenes declarou à Justiça Eleitoral um patrimônio de R$
374 mil. Na relação de bens apresentada ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não havia qualquer imóvel. O parlamentar listou um carro
de R$ 102,4 mil e R$ 63,3 mil em
contas bancárias. Informou ainda ter
duas aplicações financeiras que não
chegavam a R$ 10 mil.
Os valores apresentam uma pequena redução quando comparado
ao que o parlamentar declarou ter
em 2006, quando ele concorreu ao
governo de Goiás. Naquela época,
Demóstenes informou que morava
em uma casa no Jardim América,
bairro classe média de Goiânia, com
a ex-mulher, Leda Torres. O valor
estimado do imóvel era de R$ 70 mil
e a área de lazer vizinha ao sobrado,
R$ 65 mil.
Influência
no samba
A influência do contraventor
Carlinhos Cachoeira pode ter ido
além da política e das empresas do
setor privado. Segundo transcrições
das interceptações telefônicas feitas
pela Polícia Federal, o poderio de
Cachoeira pode ter se estendido ao
resultado do Carnaval do Rio de
Janeiro. Trechos de conversas divulgadas pelo site Brasil 247 apontam
que uma suposta “mutreta” teria
dado à escola de samba Beija-Flor o
título de campeã do Carnaval do Rio
em 2011.
Trechos apontam que Cachoeira
e um homem identificado como Santana teriam um “tipo de negócio”
com a escola. É o que diz o documento que registra uma ligação
telefônica realizada em 9 de março
de 2011, na Quarta-Feira de Cinzas
do carnaval daquele ano.
Os dois falariam sobre a vitória
da Beija-Flor, a escola de samba na
qual o contraventor teria negócios.
Cachoeira teria confirmado que houve um tipo de jogada para que a
agremiação saísse vencedora. Eles
teriam combinado de tomar um café
no dia seguinte e convidar um homem que chamam de Elias, que seria
um jornalista. O resumo da gravação
aparece na página 15, no Volume 1,
do Inquérito da Procuradoria-Geral
da República (PGR) 3.430, que investiga as ligações de Cachoeira, e
que foi entregue à CPI do Cachoeira
e à Comissão de Ética do Senado.
TÚLIO MARAVILHA
Ainda de acordo com o site, o
relatório mostra a suposta relação do
contraventor com o jogador de futebol e ex-vereador por Goiânia – ele
renunciou ao cargo em setembro do
ano passado. As conversas seriam
sobre gravações que comprometem Túlio.
O ex-vereador teria pedido
a um intermediário de Cachoeira que lhe arranjasse a
quantia de R$ 30 mil.
Um outro trecho do relatório divulgado pelo site sugere que o jogador teria contratado funcionários fantasmas para a Câmara de Vereadores de Goiânia, quando Túlio era parlamentar. As
citações ao jogador também
aparecem no Inquérito 3.430,
da PGR.
Download

29/4/2012 1a. Caderno A_28_Tb