Programa de Formação Contínua em Matemática para Professores do 1º Ciclo do Ensino Básico II. Números e sistemas de numeração 1. A operação de contagem. Conceito de número 2. Sistemas de numeração – sua classificação 3. Diversos sistemas de numeração 3.1. Civilização egípcia 3.1.1. Sistema de numeração egípcio 3.1.2. Operações 3.2. Civilização romana 3.2.1. Sistema de numeração romano 3.3. Outros sistemas de numeração 4. Bases dum sistema de numeração 4.1. Representação de inteiros no sistema de base b (b > 1) 4.2. Representação de um número como uma soma de produtos dos dígitos que compõem o número por potências decrescentes de b 5. Sistema de numeração indo-árabe ou decimal 5.1. Representação decimal dum número 6. Comparação de números inteiros 7. Mudança de base 7.1. Mudança da base decimal para uma base qualquer 7.2. Mudança duma base qualquer para a base decimal 7.3. Mudança duma base b para uma base b’ 8. Operações aritméticas nos diferentes sistemas de numeração 8.1. Adição 8.2. Multiplicação 9. Breve história do “zero” Cap. Números e operações II. Números e sistemas de numeração 1/28 Programa de Formação Contínua em Matemática para Professores do 1º Ciclo do Ensino Básico 1. A operação de contagem. Conceito de número A etnografia, enquanto descrição científica de culturas, inclui o estudo de civilizações actuais que se desenvolveram em relativo isolamento, pouco influenciadas pela cultura que emergiu de grandes civilizações como a Chinesa, a Indiana, a Babilónica e a Egípcia. Tais civilizações isoladas, algumas delas ainda ao nível da Idade da Pedra quando foram primeiramente estudadas há algumas centenas de anos, encontraram-se na África, na Austrália, na América do Sul e na Indonésia. Atendendo a que diferentes civilizações se desenvolveram a diversos níveis em diferentes locais, é plausível assumir que estudos etnográficos de civilizações primitivas, cada vez mais raros, podem fornecer pistas valiosas para compreender os estádios mais primitivos da nossa civilização. 1.1. Primeiros vestígios de “contagens” Os matemáticos do século vinte desempenham uma actividade intelectual altamente sofisticada, sendo boa parte do que hoje se chama matemática deriva de ideias que originalmente estavam centradas nos conceitos de número, grandeza e forma. Conhecendo a história da matemática percebemos que as teorias que hoje aparecem acabadas e elegantes são resultantes de desafios enfrentados na história da humanidade. Crê-se que as nossas primeiras concepções de número e forma datam de tempos tão remotos como os do começo da Idade da Pedra, o Paleolítico. Durante as centenas de milhares de anos, ou mais, deste período, os homens viviam em cavernas, em condições pouco diferentes das dos animais, e as suas principais energias eram orientadas para o processo elementar de recolher alimentos onde fosse possível encontrá-los. Eles faziam instrumentos para caçar e pescar, desenvolviam linguagem para comunicarem uns com os outros. “Nos finais dos anos 30, quando o arqueólogo Karl Absolom, peneirando terra checoslovaca, desenterrou um osso de lobo de 30 000 anos de idade, com uma série de entalhes esculpidos, foi desenterrada uma pista-chave a respeito da natureza da matemática da Idade da pedra. Ninguém sabe se Gog, o homem das cavernas, usou o osso para contar os veados que matava, as pinturas que desenhava ou os dias que tinha passado sem um banho, mas é evidente que os primeiros humanos estavam a contar alguma coisa. O osso de lobo era, na Idade da Pedra, o equivalente ao supercomputador actual. (…) Parece que, no princípio da matemática, as pessoas só sabiam distinguir entre um e muitos. Um homem das cavernas tinha uma ponta de lança ou muitas pontas de lança; comia um lagarto triturado ou muitos lagartos triturados. Não havia maneira de expressar qualquer quantidade que não fosse um ou muitos. Com o tempo, as linguagens primitivas desenvolveram-se para distinguir entre um, dois e muitos e, finalmente, um, dois, três e muitos. Algumas línguas actuais ainda têm esta limitação. Os índios Siriona e os brasileiros Ianoama não têm palavras para números superiores a três; em vez disso, estas duas tribos usam as palavras «muito» ou «muitos». Graças à natureza dos números – podem ser adicionados para criar novos números -, o sistema de números não parou no três. Após algum tempo, os homens tribais inteligentes começaram a dispor palavras números numa fila para formar mais números.” (Charles Seife. Zero. A Biografia de uma ideia perigosa. Lisboa: Gradiva. 2001) Cap. Números e operações II. Números e sistemas de numeração 2/28 Programa de Formação Contínua em Matemática para Professores do 1º Ciclo do Ensino Básico 1.2. Enumeração e numeração Parece ser quase certo que no percurso para níveis de civilização mais avançados a enumeração precedeu a numeração, e a numeração, por seu lado, precedeu o conceito de número. Por enumeração entendemos o estabelecer duma correspondência entre os objectos considerados e outros que servem como “contadores”. Por exemplo, a tribo Bugilai da Nova Guiné usava a seguinte sequência: dedo mindinho esquerdo; dedo anelar esquerdo; dedo médio esquerdo; dedo indicador esquerdo; polegar esquerdo; pulso esquerdo; cotovelo esquerdo; ombro esquerdo; peito esquerdo; peito direito servindo o dedo indicador direito como guia. Repare-se que uma vez fixada esta sequência, cada homem a transportava consigo. Além disso não era necessário utilizar palavras para as diferentes partes do corpo. Muitas tribos primitivas usaram procedimentos semelhantes. Através de várias outras partes do corpo era-lhes possível “contar” até um número bem elevado sem recorrer a qualquer palavra ou símbolo. Mas também outros objectos para além dos dedos ou partes do corpo – tais como sementes, riscos nas pedras ou sulcos em paus – foram usados como contadores nos primeiros estádios da enumeração. O uso gradual de linguagens faladas marcou um grande passo na evolução do conceito de número. Com a criação duma linguagem que contém palavras para as diferentes partes do corpo, era natural que estas palavras, em vez das diferentes partes do corpo fossem usadas no processo de enumeração; o que marca uma transição para a numeração. No caso da tribo Bugilai as palavras usadas para a sequência anterior eram: Tarangesa (1) dedo mindinho esquerdo Gaben (6) pulso esquerdo Meta Kina (2) dedo anelar esquerdo Trankgimbe (7) cotovelo esquerdo Guigimeta (3) dedo médio esquerdo Podei (8) ombro esquerdo Topea (4) dedo indicador esquerdo Ngama (9) peito esquerdo Manda (5) polegar esquerdo Dala (10) peito direito Cap. Números e operações II. Números e sistemas de numeração 3/28 Programa de Formação Contínua em Matemática para Professores do 1º Ciclo do Ensino Básico Não existem suficientes evidências para fixar o período histórico em que foi feita a descoberta do conceito de cardinal. Os documentos escritos mais antigos mostram que esse conceito estava igualmente presente na China, na Mesopotâmia, na Índia e no Egipto. Todos esses documentos contêm a questão “Quantos …?” Esta questão pode ser respondida em termos de número cardinal. Portanto, quando estes documentos foram escritos, e provavelmente muito antes, o conceito de número cardinal estava já formado. Se tentarmos perceber de que tipo de situações emergiu o conceito de número cardinal, veremos que o conceito fundamental que designamos por “conjunto” terá sido uma das primeiras abstracções feitas pelo homem. Quando os Bugalai diziam manda (“polegar esquerdo”), não tinham ainda o conceito de “mão” ou “conjunto completo de cinco objectos”. Uma das etapas seguintes deverá ter sido a observação de que a ordem pela qual é feita a correspondência dos objectos num conjunto não é importante. O próximo passo, provavelmente o mais difícil, terá sido perceber que o último nome dum número ordinal pronunciado associava-se não só ao último objecto no conjunto a ser correspondido mas também dizia quantos objectos existiam ao todo no conjunto. Podemos pois enunciar a seguinte definição de número natural. Definição Número natural é o cardinal dum conjunto finito qualquer não vazio. Cap. Números e operações II. Números e sistemas de numeração 4/28 Programa de Formação Contínua em Matemática para Professores do 1º Ciclo do Ensino Básico 2. Sistemas de numeração – sua classificação Um desenvolvimento mais formal da numeração pode ser encontrado na formação dos sistemas de numeração. Em culturas em que os dedos de uma mão tinham sido usados em fases iniciais da numeração, o agrupamento base do sistema de numeração ficou a ser o cinco. Quando os dedos de ambas as mãos eram usados, o agrupamento base ficou a ser dez. Quando os dedos das mãos e pés eram usados, ou as partes de ambas as mãos ou braços eram usados, tornou-se vinte. A necessidade dum sistema de numeração surgiu com a questão (que naturalmente não se colocaria nestes termos) O que tem de ser feito quando uma sequência finita ordenada de contadores (dedos ou partes do corpo) se esgota, mas ainda restam objectos para corresponder? O longínquo registo de traços num cajado ou de riscos em pedras depressa se tornou insuficiente para as exigências do homem. O desenvolvimento das sociedades proporcionou que se desenvolvessem símbolos convenientes para escrever os números e métodos para fazer cálculos com esses números. Os símbolos para escrever os números são chamados numerais e os métodos para fazer cálculos, algoritmos. Quando tomados em conjunto os numerais e os algoritmos, obtemos o que chamamos sistemas de numeração. De facto é manifestamente mais prático escrever “11” (no sistema de base 10) do que “cardinal de {€,Ω,↓,∏,∩,≈,∞,╢,♫,☼,☺}”. Definições • Numeral é todo o símbolo que representa um número. • Um sistema de numeração é um conjunto de símbolos e regras culturalmente aceites que possibilita a escrita de números. Classificação de sistemas de numeração Os sistemas de numeração podem classificar-se em: • Não posicionais (Ex: egípcio, romano) • Posicionais (Ex: indo-árabe) Cap. Números e operações II. Números e sistemas de numeração 5/28 Programa de Formação Contínua em Matemática para Professores do 1º Ciclo do Ensino Básico Sistema de numeração posicional O valor de cada algarismo depende do lugar que ocupa. Exemplo Considere-se o número duzentos e vinte e dois, escrito no sistema indo-árabe (222). A primeira menção do algarismo dois representa duas unidades simples; a segunda duas unidades de 1.ª ordem (dezenas) e a terceira menção do dois representa duas unidades de 2.ª ordem (centenas). Sistema de numeração aditivo (não posicional) A posição recíproca dos constituintes não é relevante. Exemplo Considere-se o número oitenta e oito escrito no sistema de numeração romana: (LXXXVIII). Nem o valor de I nem o de X depende da posição que ocupam esses símbolos. Vantagem dos sistemas posicionais A vantagem dos sistemas posicionais é notória já que asseguram uma grande economia de meios de expressão e facilitam as operações aritméticas. (Sugere-se ao leitor incrédulo que tente multiplicar dois números de três algarismos escritos no sistema de numeração romana). Cap. Números e operações II. Números e sistemas de numeração 6/28 Programa de Formação Contínua em Matemática para Professores do 1º Ciclo do Ensino Básico 3. Diversos sistemas de numeração 3.1. Civilização egípcia Os primeiros numerais egípcios conhecidos estão inscritos na forma hieroglífica num bastão real de cerca de 3400 a.C., quando Menes uniu o Alto Egipto e o Baixo Egipto. Estes símbolos foram usados para denotar grandes números associados com saques de guerra: a captura de 120 000 prisioneiros humanos, 400 000 cabeças de gado e 1 422 000 cabras. Breves Notas Pode dizer-se que a Egiptologia começou quando se puderam decifrar os caracteres da escrita egípcia. Isso só aconteceu a partir de 1799, com a expedição de Napoleão Bonaparte ao Egipto. Foram os soldados franceses que encontraram a este de Alexandria, perto de Rosetta, uma pedra negra de basalto (pedra da Rosetta) contendo uma inscrição em 3 línguas: grego, hieroglífico e demótico. Foi graças aos trabalhos do inglês Thomas Young e do francês Jean François Champollin que os hieróglifos foram decifrados, por comparação com o texto grego. Posteriormente muitas outras inscrições foram decifradas em túmulos, templos e papiros. Cap. Números e operações II. Números e sistemas de numeração 7/28 Programa de Formação Contínua em Matemática para Professores do 1º Ciclo do Ensino Básico Há a considerar três tipos diferentes na escrita dos antigos egípcios: • a escrita hieroglífica, em que os caracteres usados são os hieróglifos; é uma escrita pictórica, à base de figuras. Prevaleceu desde cerca de 3000 a.C. até aos primeiros séculos da era cristã; a partir de uma certa altura passou apenas a ser usada para inscrições formais, ou em monumentos de pedra, madeira ou metal; • a escrita hierática, que é uma escrita mais abreviada do que a hieroglífica e mais adequada para escrever nos papiros, onde foi frequentemente usada. Começou a ser usada cerca de 2000 a.C.; • a escrita demótica, que é ainda mais simplificada do que a hierática. È uma escrita de carácter popular, como aliás a própria designação o exprime. Desenvolveu-se cerca do ano 800 a.C. Os documentos originais de conteúdo matemático não são muitos; apenas cerca de uma dúzia. Deles destacam-se os seguintes: o papiro Rhind, o papiro de Moscovo, o papiro de Kahun, o papiro de Berlim e o Rolo de Couro das Matemáticas Egípcias. O estudo destas fontes permite perceber o desenvolvimento matemático da civilização egípcia. Os aspectos mais notórios prendem-se com a sistematização dum sistema de numeração, problemas aritméticos, resolução de equações e problemas geométricos 3.1.1. Sistema de numeração egípcio Os egípcios usavam um sistema de numeração de base 10, do tipo aditivo mas não tinham símbolo para o zero. Para os números de um a nove repetiam um pequeno traço vertical e depois usavam símbolos especiais para as diferentes potências de 10, desde 10 até 107. Estes símbolos eram usados em combinação e repetidos tantas vezes quantas necessárias para expressar qualquer número. As representações para os diferentes símbolos têm sido interpretadas de diferentes formas: 1, traço vertical; 10, asa de um cesto ou arco; 100, corda enrolada; 1000, flor de lótus; 10 000 dedo inclinado; 100 000, ave ou girino; 1 000 000 homem sentado ou espantado; 10 000 000, sol. Hieróglifos | || ||| Símbolos do 1 2 3 … ∩ ... 10 102 103 104 105 106 107 sistema decimal Uma vez que prevalece o simples princípio aditivo, os símbolos poderiam surgir em qualquer ordem. Assim, em hieróglifos, o número 573, escrever-se-ia (da direita para a esquerda) ∩∩∩∩∩∩∩ Cap. Números e operações II. Números e sistemas de numeração 8/28 Programa de Formação Contínua em Matemática para Professores do 1º Ciclo do Ensino Básico 3.1.2. Operações 3.1.2.1 Adição No sistema de numeração egípcio, expresso em hieróglifos, a adição era extremamente simples de efectuar. Bastaria contar, em cada um dos numerais, quantos símbolos havia de cada tipo, e escrever o resultado final com todos os símbolos de cada um deles, substituindo, eventualmente, dez símbolos de uma determinada potência de 10, por apenas um símbolo da potência de 10 imediatamente superior. Exemplo 573 + 48 ∩∩∩∩∩∩∩ ∩∩∩∩ ∩∩ Total 5 + Total 7 3 4 8 6 2 1 3.1.2.2. Multiplicação Para multiplicar um número por 10 bastava substituir cada símbolo representativo de uma determinada potência de 10 pelo símbolo da potência imediatamente superior. Exemplo O resultado da multiplicação por 10 do número representado por ∩∩ é representado por . As restantes operações são efectuadas por um processo sistemático fundamentado em duas regras simples que se podem designar por “regra do dobro” e “regra dos 2/3”. Mais adiante abordaremos a “regra dos 2/3”. Regra do dobro A regra do dobro consiste em sucessivas duplicações do número em causa, e era aplicada não só para multiplicar; mas também para dividir. Note-se que a regra do dobro, aplicada em sentido inverso, se traduz pelo cálculo de sucessivas divisões ao meio. Cap. Números e operações II. Números e sistemas de numeração 9/28 Programa de Formação Contínua em Matemática para Professores do 1º Ciclo do Ensino Básico Exemplo 1) Multiplicar 18 por 11. O escriba teria de começar por escolher qual dos números tomava para multiplicando. Supondo que 18 era o escolhido, teria de o repetir onze vezes, o que fazia por sucessivas duplicações, escrevendo: (iremos apenas expressar o método com a representação no sistema decimal) Total \1 \ 18 \2 \ 36 4 72 \8 \ 144 11 198 Na coluna da esquerda, eram assinalados os multiplicadores parciais cuja soma é 11, (o multiplicador pretendido); os resultados correspondentes da coluna da direita são também assinalados e adicionados, para obter o resultado final. Isto corresponde a escrever 18 × 11 = 18 × (1+2+8) = 18+36+144 = 198 2) Multiplicar 18 por 35 Total 1 35 \ 10 \ 350 2 70 4 140 \8 \ 280 18 630 Neste caso privilegiou-se a multiplicação por 10, atendendo a que 18 =10+8. Deve-se observar que a regra do dobro se baseia no facto de que todo o inteiro natural pode ser expresso, de forma única, como soma de potências de 2 todas diferentes (de facto, isto corresponde à representação desse inteiro na base 2). É ainda de assinalar que o método de multiplicar com base na regra do dobro foi ainda usado pelos Gregos, na Europa Medieval, e ainda é usado em algumas Comunidades da Rússia e em países do Leste. Cap. Números e operações II. Números e sistemas de numeração 10/28 Programa de Formação Contínua em Matemática para Professores do 1º Ciclo do Ensino Básico 3.1.2.3. Divisão Na divisão exacta, usa-se a mesma técnica do que na regra do dobro, já que é a operação inversa da multiplicação. Aliás, para o escriba egípcio, dividir a por b punha-se em termos de “como operar sobre b para obter a”, o que significa, “por quanto multiplicar b para obter a”. No problema nº 69 do papiro de Rhind é pedido como operar sobre 80 para obter 1120. Este enunciado corresponde à determinação do quociente de 1120 por 80. Vamos então determiná-lo, buscando por quanto se deve multiplicar 80 para obter 1120. Total 1 80 \ 10 \ 800 2 160 \4 \ 320 14 1120 Assim é determinado o quociente 14, como soma dos números assinalados na coluna da esquerda, correspondentes aos números da coluna da direita, cuja soma é 1120. Esta técnica é generalizável à divisão inteira. Exemplo Calcular o quociente e o resto da divisão de 587 por 94. Em termos egípcios, o escriba iria operar sobre 94 até obter 587, ou um número imediatamente inferior, isto é, que dele difira menos de 94 unidades. Total 1 94 \2 \ 188 \4 \ 376 6 564 O número 587 – 564 = 23 é o resto, visto que é menor que 94. O quociente é 6. Cap. Números e operações II. Números e sistemas de numeração 11/28 Programa de Formação Contínua em Matemática para Professores do 1º Ciclo do Ensino Básico 3.1.2.4. Operações com fracções unitárias O termo fracção egípcia designa uma soma de fracções unitárias distintas, sendo uma fracção unitária simplesmente uma fracção de numerador igual a um. Em rigor, o nome de representação egípcia seria mais adequado, mas a designação fracção egípcia está de tal forma enraizada que é impossível fazer essa correcção. 3 1 1 1 3 Por exemplo é uma representação de em fracção egípcia. = + + 25 19 150 450 25 Usando a igualdade 1 1 1 = + , a a + 1 a( a + 1) pode transformar-se uma representação numa outra com mais parcelas, concluindo-se assim que a representação está longe de ser única. A designação fracção egípcia deve-se ao facto dos antigos egípcios representarem todos os números fraccionários essencialmente desse modo. Notação Em hieróglifos, as fracções unitárias eram representadas colocando o símbolo sobre o símbolo para o denominador. Exemplo 1 era representado por 13 ∩. Na escrita hierática o símbolo escrito por cima do número simplificou-se para um ponto. A fracção 2 era representada em hieróglifos por 3 representará o inverso de Cap. Números e operações . Se interpretarmos “ 1 3 ” como 1 = , então 2 2 3 . 2 II. Números e sistemas de numeração 12/28 Programa de Formação Contínua em Matemática para Professores do 1º Ciclo do Ensino Básico 3.1.2.5. Regra dos 2 3 O produto de 2/3 por uma fracção ímpar (fracção unitária de denominador ímpar i) era calculado através da soma das fracções unitárias cujos denominadores eram o dobro de i e o sêxtuplo de i. Exemplo 2 1 1 1 1 1 × = + = + 3 5 2 × 5 6 × 5 10 30 É de notar que esta regra também era aplicada a fracções de denominador par. Contudo, neste caso, tinha uma regra mais simples, que consistia em adicionar metade do denominador a si próprio. Exemplo 2 1 1 1 × = = 3 6 3+ 6 9 Cap. Números e operações II. Números e sistemas de numeração 13/28 Programa de Formação Contínua em Matemática para Professores do 1º Ciclo do Ensino Básico 3.2. Civilização romana A Roma Antiga foi uma civilização que se desenvolveu a partir da cidade-estado de Roma, fundada na península itálica durante o século IX a.C.. A civilização romana é tipicamente inserida no grupo "Antiguidade Clássica", juntamente com a Grécia Antiga que muito inspirou a cultura deste povo. Roma contribuiu imensuravelmente para o desenvolvimento no Mundo Ocidental de várias áreas de estudo, como o direito, teoria militar, arte, literatura, arquitectura, linguística, e a sua história persiste como uma grande influência mundial, mesmo nos dias de hoje. 3.2.1. Sistema de numeração romana Não existem muitas certezas quanto à origem da notação romana dos números. Os Romanos nunca usaram as sucessivas letras do seu alfabeto para a numeração. Nas primeiras inscrições em monumentos de pedra o “um” era representado por um traço vertical. O “cinco” era geralmente representado por V, talvez representando uma mão. Isso naturalmente sugere o símbolo X (dois V’s) para “dez”. Mas também pode suceder que o uso de X provenha de cruzar uns, conforme é usualmente dito. Se essa é a origem de X para “dez”, então V surgiria naturalmente como metade de X. Não existe informação definitiva para a origem de L para “cinquenta”. A palavra romana para “centena” era centum e para “milhar” era mille. Talvez seja essa a razão para o uso de C para “uma centena” e M para “um milhar”. Um símbolo anterior usado para representar um milhar era . O D para “quinhentos” poderá ter surgido da parte direita desse símbolo. Princípio aditivo Os símbolos eram escritos da esquerda para a direita, por ordem decrescente A principal característica do sistema de numeração romana é a de ser aditivo, ou seja, os valores dos símbolos usados na representação dum numeral são adicionados; o valor dos símbolos é o mesmo independentemente da ordem em que figura. Exemplo LXXIII representa 73. Princípio subtractivo Mais tarde, por simplificação de escrita, os símbolos começaram a ser utilizados de modo subtractivo. Exemplo IV representa 4, em vez da forma inicial IIII. IX representa 9, em vez da forma inicial VIIII. Cap. Números e operações II. Números e sistemas de numeração 14/28 Programa de Formação Contínua em Matemática para Professores do 1º Ciclo do Ensino Básico Notas 1) A escrita de numerais no sistema de numeração romana fazendo uso do princípio subtractivo poderia conduzir a algumas ambiguidades. Por exemplo, IXL poderia representar 39 ou 41. Assim, é usual utilizar somente um símbolo do modo subtractivo. Portanto 39 escreve-se na forma XXXIX e 41 na forma XLI. Outra observação importante é a de que na forma subtractiva apenas se podem usar ao mesmo tempo símbolos que correspondam a ordens imediatamente seguintes (unidades e dezenas; dezenas e centenas; centenas e milhares). Por exemplo, 999 não se representa por IM mas por CMXCIX. 2) Na representação dum número os símbolos I, X, C e M podem repetir-se, no máximo, três vezes consecutivas; os outros apenas são utilizados uma vez. Princípio multiplicativo Existem ainda esporádicos exemplos de escrita no sistema de numeração romana obedecendo ao princípio da multiplicação. Exemplo VM não significaria 1000-5 mas 5*1000 ou 5000. Para representar um número mil vezes superior era colocado um traço horizontal por cima do número considerado Exemplo V representa 5 × 1000 = 5000. XLV representa 45 × 1000 = 45000. Síntese • Sistema de base dez, onde se utilizam sete letras maiúsculas: I, V, X, L, C, D e M • Sistema de numeração não posicional, predominantemente aditivo mas também subtractivo. • Os símbolos I, X, C, M podem repetir-se, no máximo, três vezes consecutivas; os outros apenas são utilizados uma vez. • Um traço horizontal sobre qualquer símbolo indica um valor mil vezes superior. Cap. Números e operações Milhares Centenas Dezenas Unidades M C X I MM CC XX II MMM CCC XXX III IV CD XL IV V D L V VI DC LX VI VII DCC LXX VII VIII DCCC LXXX VIII IX CM XC IX II. Números e sistemas de numeração 15/28 Programa de Formação Contínua em Matemática para Professores do 1º Ciclo do Ensino Básico 3.3. Outros sistemas de numeração Vários povos utilizaram, no passado, sistemas de numeração distintos do decimal. • Na Babilónia surgiu o sistema sexagesimal. Parece remontar ao quinto milénio aC, um dos primeiros sistemas conhecidos de controle da circulação de mercadorias e que foi posto em execução pelos habitantes da Mesopotâmia. Eram utilizados pequenos objectos de barro ou pedras de formas diversas, cada um correspondendo a um número específico duma determinada mercadoria. Posteriormente, por uma questão de comodidade, passaram a representar-se estes símbolos em placas de barro. • Adquiriu uma considerável difusão o sistema de base doze, sistema de origem ligada à mão, ou, mais precisamente, às doze falanges dos dedos duma mão (o polegar é excluído, servindo para contar as falanges dos dedos restantes). A língua conserva testemunhas deste passado, ainda hoje, ovos e talheres se contando de preferência por dúzias. O sistema de medidas inglês conserva vestígios óbvios da numeração duodecimal, como atesta a divisão do “pé” em doze polegadas, do antigo shilling em doze pennies. • O sistema de numeração actualmente utilizado em quase todo o mundo é o sistema indo-árabe, que parece ter sido utilizado por volta do século V. O nome está directamente relacionado com a convicção existente de que foi inventado pelos hindus (indianos) e adoptado e divulgado pelos árabes. O “nosso” sistema indo-árabe é um sistema numérico posicional decimal. Isto significa que: - o número usado como base do sistema é o 10; - são utilizados dez símbolos, a que chamamos algarismos, um para o zero e um para cada um dos números naturais menores que dez. - a posição de cada algarismo na representação do número determina o seu valor. Mas este “produto final”, que agora utilizamos, é resultado de uma evolução lenta de conceitos e notações que passa por vários e significativos estádios de desenvolvimento. Cap. Números e operações II. Números e sistemas de numeração 16/28 Programa de Formação Contínua em Matemática para Professores do 1º Ciclo do Ensino Básico 4. Base dum sistema de numeração Definição Chamamos base dum sistema de numeração a um número inteiro b>1, a partir do qual podemos representar qualquer número, utilizando os b sinais representativos dos primeiros b inteiros 0,1, 2, 3, ..., b-1 Existe uma infinidade de sistemas de numeração, uma vez que a base pode ser arbitrariamente escolhida, desde que seja maior do que um. Exemplo Consideremos um conjunto de objectos, digamos berlindes Base 3 Procuremos uma representação deste número na base 3. 1º agrupemos os berlindes em caixas de três elementos | | | | | | | | | | 2º agrupemos as caixas em sacos com três caixas (cada uma contendo três berlindes) | | | | | | | | | | 3º como não existem pelo menos três sacos para agrupar, o processo de agrupamento terminou. Façamos agora a contagem Sacos Caixas Berlindes 1 2 1 Unidades de 2ª ordem Unidades de 1ª ordem Unidades simples de ordem 0 O número de berlindes representa-se no sistema de base três por 121(3) . Cap. Números e operações II. Números e sistemas de numeração 17/28 Programa de Formação Contínua em Matemática para Professores do 1º Ciclo do Ensino Básico Base 10 Repare que na base 10, o agrupamento seria feito da forma seguinte: | 1º | 2º não é possível “encher” uma caixa porque não se contaram pelo menos dez sacos. O processo de agrupamento terminou, tendo-se Caixas Berlindes 1 4 Unidades de 1ª ordem Unidades simples de ordem 0 O mesmo número de berlindes representa-se no sistema de base dez por 14. 4.1. Representação de inteiros no sistema de base b (b > 1) Sucessor dum número O sucessor de um número em qualquer base diferente de dez, determina-se do mesmo modo descrito para a base decimal. Exemplo Por exemplo, para o sistema de base 5, onde se utilizam apenas os cinco símbolos 0, 1, 2, 3 e 4, tem-se: Suc 0 = 1; Suc 1 = 2; Suc 2 = 3; Suc 3 = 4; Suc 4 = 10 Para determinar o sucessor de números com n algarismos (mais de dois), procede-se do seguinte modo: 1) Se o último algarismo não é um 4, substitui-se esse algarismo pelo seu sucessor Exemplo: suc 213 = 214 2) Se o último algarismo é um 4, substitui-se o 4 por 0 (zero) e ao mesmo tempo, substitui-se o inteiro formado pelos n-1 algarismos anteriores pelo seu sucessor. Exemplo: suc 234 = 240; suc 44 = 100 Cap. Números e operações II. Números e sistemas de numeração 18/28 Programa de Formação Contínua em Matemática para Professores do 1º Ciclo do Ensino Básico 4.2. Representação de um número como uma soma de produtos dos dígitos que compõem o número por potências decrescentes de b • A observação feita para a representação decimal de um número no sistema decimal é generalizável a outras bases. • Para se distinguir qual a base a que nos queremos referir, indica-se em índice, e entre parênteses a base respectiva. Exemplo 234(5) = 2 x 52 + 3 x 51 + 4 x 50 algarismo de algarismo de algarismo de 2ª ordem 1ª ordem unidades simples Observação Para fazer a contagem e a representação nas diversas bases podemos utilizar o material multibase. Cap. Números e operações II. Números e sistemas de numeração 19/28 Programa de Formação Contínua em Matemática para Professores do 1º Ciclo do Ensino Básico 5. Sistema de numeração indo-árabe ou decimal Os algarismos ditos árabes constituem a contribuição mais conhecida dos islamitas para o progresso da matemática europeia. Os novos símbolos e o sistema de numeração que lhes está associado e que ainda hoje se utiliza são, na realidade, de origem hindu, mas foram os árabes que os trouxeram para o Ocidente e que primeiramente aqui os usaram e dominaram. As razões da preponderância do sistema decimal situam-se fora da matemática e podem ser sugeridas pelo facto do dispositivo primordial de cálculo, as mãos, totalizarem dez dedos. Resta, a fim de criar o sistema posicional, efectua um passo essencial que consiste em, esgotados os dez dedos, encarar o dez como uma unidade de ordem superior, dez vezes dez, como a unidade de ordem seguinte, etc. • Para escrever os inteiros, em notação do sistema decimal, usamos os dez sinais ou símbolos a que chamamos algarismos: 0,1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9 • Convencionou-se que cada algarismo, situado imediatamente à esquerda de outro, representa unidades da ordem imediatamente superior à dele. • Convencionou-se também que se o número não contiver unidades numa determinada ordem, empregase no lugar dessa ordem, o símbolo 0 (zero) que indica ausência de unidades. Origem da palavra algarismo A palavra dígito vem da palavra latina "digitus", que significa dedo. É claro que isto tem a ver com o uso dos dedos nas contagens. É curiosa a origem da palavra algarismo. Durante o reinado do califa al-Mamun, no século IX, viveu um matemático e astrónomo árabe, que se tornou famoso. Chamava-se Abu Ja'far Muhammad ibn Musa al-Khwarizmi's. Num dos vários livros que escreveu, intitulado "Sobre a arte hindu de calcular", ele explica minuciosamente o sistema de numeração hindu. Na Europa, este livro foi traduzido para o latim e passou a ser muito consultado por aqueles que queriam aprender a nova numeração. Apesar de al-Khwarizmi, honestamente, explicar que a origem daquelas ideias era hindu, a nova numeração tornou-se conhecida como a de al-Khwarizmi. Com o tempo, o nome do matemático árabe foi modificado para algorismi que, na língua portuguesa, acabou por se tornar algarismo. (Figura referente à comemoração dos 1 200 anos de nascimento de al-Khwarizmi) Cap. Números e operações II. Números e sistemas de numeração 20/28 Programa de Formação Contínua em Matemática para Professores do 1º Ciclo do Ensino Básico Evolução dos algarismos Sucessor de um número Podemos então definir do seguinte modo o sucessor dum número com apenas um algarismo: Suc 0 = 1; Suc 1 = 2; Suc 2 = 3; Suc 3 = 4; Suc 4 = 5; Suc 5 = 6 Suc 6 = 7; Suc 7 = 8; Suc 8 = 9; Suc 9 = 10; Para números com n algarismos (mais de dois), procede-se do seguinte modo: 1) Se o último algarismo não é um 9, substitui-se esse algarismo pelo seu sucessor Exemplo: suc 147 = 148 2) Se o último algarismo é um 9, substitui-se o 9 por 0 (zero) e ao mesmo tempo, substitui-se o inteiro formado pelos n-1 algarismos anteriores pelo seu sucessor. Exemplo: suc 249 = 250; suc 99 = 100 Cap. Números e operações II. Números e sistemas de numeração 21/28 Programa de Formação Contínua em Matemática para Professores do 1º Ciclo do Ensino Básico 5.1. Representação decimal dum número • Todo o número é representável na forma de somas de produtos dos dígitos que compõem o número por potências decrescentes de base igual a dez (ou qualquer outra base) • A representação dum inteiro nesta forma, chama-se representação decimal, dado o papel que tem o número 10 em tal representação. Ao número 10 chama-se base de numeração. Exemplo 9896 = = 9000 + 800 + 90 + 6 9 x 103 + 8 x 102 + 9 x 101 + 6 x 100 algarismo de 3ª ordem algarismo de 2ª ordem algarismo de 1ª ordem algarismo de unidades simples Leitura dum número no sistema de numeração decimal Recordemos a leitura de um número representado no sistema de numeração decimal. Classes 1ª classe Ordens das unidades Classes Ordens 4ª classe dos milhares de milhão unidades 0 milhares de milhão 9 dezenas 1 dezenas de milhão 10 centenas 2 centenas de milhão 11 2ª classe dos milhares 5ª classe dos biliões milhares 3 biliões 12 dezenas de milhar 4 dezenas de milhão 13 centenas de milhar 5 centenas de milhão 14 3ª classe dos milhões milhões 6 dezenas de milhão 7 centenas de milhão 8 Exemplo A leitura do número 9896, cuja representação decimal é 9 × 103 + 8 × 102 + 9 × 101 + 6 × 100, é: nove milhares, oito centenas, nove dezenas e seis unidades ou, mais habitualmente: nove mil oitocentos e noventa e seis unidades. Cap. Números e operações II. Números e sistemas de numeração 22/28 Programa de Formação Contínua em Matemática para Professores do 1º Ciclo do Ensino Básico Numeral ordinal e numeral cardinal Uma ideia que normalmente surge é a de que os números são aquilo que permite contar e, como tal, responder a questões do tipo: “Quantos são?”. Desta forma, o número natural é encarado como o cardinal de um dado conjunto, isto é, descreve a quantidade dos seus elementos. No entanto, o número pode ser usado num sentido diferente, por exemplo, se dissermos que numa corrida participam três crianças, o três é o cardinal, mas se mencionarmos que o João chegou em terceiro lugar, o três já não é encarado da mesma forma mas antes como ordinal do número, ou seja, como a ideia que o permite localizar numa dada sequência. O cardinal indica o número ou quantidade dos elementos constituintes de um conjunto. As escalas curta e longa são dois sistemas de nomenclatura de números grandes. Na escala curta cada novo termo é mil vezes o anterior enquanto que na escala longa o factor é um milhão. Nos países de língua portuguesa é usada a escala longa (com palavras que terminam em -lião) excepto no Brasil onde é usada a escala curta (com palavras que terminam em -lhão). Nos EUA utiliza-se a escala curta Número 100 101 102 103 106 109 1012 1015 1018 1021 1024 1027 Escala curta um dez cem mil milhão bilhão trilião quatrilião quintilião sextilião septilião octilião Escala longa um dez cem mil milhão mil milhões bilião mil biliões trilião mil triliões quatrilião mil quatriliões Os números ordinais, ou simplesmente ordinais, são números usados para assinalar uma posição numa sequência ordenada. 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º 10º 11º 12º 13º 14º 15º 16º 17º 18º 19º 20º Ordinal primeiro segundo terceiro quarto quinto sexto sétimo oitavo nono décimo undécimo ou décimo primeiro duodécimo ou décimo segundo tredécimo ou décimo terceiro décimo quarto décimo quinto décimo sexto décimo sétimo décimo oitavo décimo nono vigésimo Cap. Números e operações 30º 40º 50º 60º 70º 80º 90º 100º 200º 300º 400º 500º 600º 700º 800º 900º 1000º 2000º 3000º 1000000º 2000000º Ordinal trigésimo quadragésimo quinquagésimo sexagésimo septuagésimo octogésimo nonagésimo centésimo ducentésimo tricentésimo ou trecentésimo quadringentésimo quingentésimo sexcentésimo ou seiscentésimo septingentésimo octingentésimo noningentésimo ou nongentésimo milésimo segundo milésimo terceiro milésimo milionésimo segundo milionésimo II. Números e sistemas de numeração 23/28 Programa de Formação Contínua em Matemática para Professores do 1º Ciclo do Ensino Básico 6. Comparação de inteiros positivos Para se poderem comparar dois inteiros positivos é fundamental que estes estejam escritos no mesmo sistema de numeração. Se os inteiros não estiverem escritos no mesmo sistema de numeração, é preciso representá-los na mesma base. Depois de escritos na mesma base, é fácil compará-los: 1) Se não têm o mesmo número de algarismos, é maior aquele que tiver mais algarismos. Exemplo: 235(5) > 89(5) 2) Se têm o mesmo número de algarismos, é maior aquele que tiver algarismos de maior valor a começar da esquerda para a direita. Exemplo: 2381(9) > 2377(9) Cap. Números e operações II. Números e sistemas de numeração 24/28 Programa de Formação Contínua em Matemática para Professores do 1º Ciclo do Ensino Básico 7. Mudança de base 7.1. Mudança da base decimal para uma base qualquer Dado um inteiro escrito no sistema decimal, encontremos a sua representação no sistema de base b. Exemplo 2346(10 ) = ???( 5 ) 2346 5 34 469 5 46 19 93 5 1 4 43 18 3 3 algarismo algarismo algarismo de unidades de de simples 1ª ordem 2ª ordem 5 3 algarismo algarismo de 3ª ordem de 4ª ordem 2346(10 ) = 3 × 5 4 + 3 × 53 + 3 × 5 2 + 4 × 51 + 1 × 5 0 = 33341( 5 ) 7.2. Mudança duma base qualquer para a base decimal Dada a representação de um inteiro na base b, encontremos a sua representação no sistema decimal. Neste caso, basta representar o inteiro como uma soma de produtos dos seus coeficientes por potências da base b e efectuar os cálculos. Exemplo 231( 5 ) = ???(10 ) 231( 5 ) = 2 × 5 2 + 3 × 5 + 1 = 50 + 15 + 1 = 66 7.3. Mudança duma base b para uma base b’ Para passar de um sistema de base b para outro de base b’, passa-se, primeiramente, o inteiro à base dez e, só depois desta à base b’. Exemplo 231( 5 ) = ???( 4 ) Cap. Números e operações 231( 5 ) = 66 e 66 = 1002( 4 ). Logo 231( 5 ) = 1002( 4 ). II. Números e sistemas de numeração 25/28 Programa de Formação Contínua em Matemática para Professores do 1º Ciclo do Ensino Básico 8. Operações aritméticas nos diferentes sistemas de numeração Os métodos de adicionar, multiplicar ou dividir números decimais permanecem válidos na aplicação a quaisquer sistemas posicionais. Destas operações, só iremos abordar a adição e a multiplicação. 8.1. Adição Assim, na adição, qualquer que seja a base do sistema, somam-se consecutivamente, e contando a partir da direita, as unidades de cada ordem, ocorrendo uma transferência para a ordem imediatamente superior, cada vez que esta soma ultrapassar a base do sistema. Exemplo Determinar a soma seguinte: 136( 7 ) + 434( 7 ) A resolução deste problema exige o conhecimento da tabuada da adição no sistema de base 7, a partir da qual se obterá: 136( 7 ) + 434( 7 ) = 603( 7 ) + 0 1 2 3 4 5 6 0 0 1 2 3 4 5 6 1 1 2 3 4 5 6 10 2 2 3 4 5 6 10 11 3 3 4 5 6 10 11 12 4 4 5 6 10 11 12 13 5 5 6 10 11 12 13 14 6 6 10 11 12 13 14 15 8.2. Multiplicação A multiplicação num sistema de numeração de uma base qualquer é feita de um modo semelhante ao usado no sistema decimal, tendo apenas em conta a tabuada da multiplicação do sistema de numeração em causa. Exemplo1\qza Determinar o produto 2( 3) × 2102( 3) . Formando a tabuada no sistema de base três, obtém-se 2( 3) × 2102( 3) = 11210( 3) . Cap. Números e operações II. Números e sistemas de numeração × 0 1 2 0 0 0 0 1 0 1 2 2 0 2 11 26/28 Programa de Formação Contínua em Matemática para Professores do 1º Ciclo do Ensino Básico 9. Breve história do “zero” O zero é o primeiro de dez símbolos com os quais podemos representar uma infinidade de números – os dígitos ou algarismos. O zero é também o primeiro dos números que devemos representar. No entanto, o zero, o primeiro dos algarismos, foi o último a ser inventado; e o zero, primeiro dos números, foi o último a ser descoberto. “A história do zero é uma história antiga. As suas raízes estendem-se até ao despontar da matemática, milhares de anos antes da primeira civilização, muito antes de os homens saberem ler e escrever. Mas, embora hoje em dia nos pareça tão natural, o zero era para os antigos uma ideia estranha – e assustadora. Um conceito oriental, nascido no crescente Fértil alguns séculos antes do nascimento de Cristo, o zero não só invocava imagens de um vazio primordial, como também tinha perigosas propriedades matemáticas. Contido no zero está o poder de destruir a estrutura da lógica. O início do pensamento matemático foi encontrado no desejo de contar ovelhas e na necessidade de registar propriedades e a passagem do tempo. Nenhuma destas tarefas requer o zero; as civilizações funcionaram perfeitamente bem durante milénios antes da sua descoberta. De facto, o zero era tão aberrante para algumas culturas que estas escolheram viver sem ele.” (Charles Seife. Zero. A Biografia de uma ideia perigosa. Lisboa: Gradiva. 2001) Tudo leva a crer que a descoberta do zero tenha sido o resultado de uma tentativa de fazer o registo escrito não ambíguo das representações dos números e também dos resultados das operações com o ábaco. As soluções adoptadas para notar a ausência de certas ordens em algumas civilizações foram, primeiramente, um espaço, depois um traço e, por fim, um símbolo suplementar designado por zero. Por exemplo, 1021 seria sucessivamente representado por: 1 21 1/21 1.21 1021. Supõe-se que a forma redonda para o símbolo de zero venha da palavra grega ômicron, letra inicial da palavra ouden ou vazio. Mais tarde, os hindus utilizaram o mesmo símbolo no seu sistema numérico e chamavamlhe sunya, que significava vazio ou nulo. Os árabes traduziram sunya por sifr (vazio). No princípio do século XIII, em Itália, sifr transformou-se em zephirum, que depois de várias modificações deu finalmente origem a cifra e a zero. (Pedro Palhares. Elementos de Matemática para professores do Ensino Básico. Lisboa: Lidel. 2004) Cap. Números e operações II. Números e sistemas de numeração 27/28 Programa de Formação Contínua em Matemática para Professores do 1º Ciclo do Ensino Básico Algumas referências bibliográficas • Caraça, Bento de Jesus (2003) Conceitos Fundamentais da Matemática. 5ª edição Lisboa: Gradiva.. • Estrada, Maria Fernanda; Sá, Carlos Correia; Queiró, João Filipe; Silva, Maria do Céu e Costa, Maria José (2000) História da Matemática. Lisboa: Universidade Aberta. • Fomin, S. (1984) Sistemas de Numeração. Moscovo: Editora Mir. • Machiavelo. António (2006) “Fracções egípcias”. Gazeta matemática, 153, pp. 10-11. • Palhares, Pedro (2004) Elementos de Mateática para professores do Ensino Básico. Lisboa: Lidel. • Seife, Charles (2001) Zero. A biografia de uma ideia perigosa. Lisboa: Gradiva. Organizado por: Ana Patrícia Martins e Helena Gomes Cap. Números e operações II. Números e sistemas de numeração 28/28