DIFICULDADE DIAGNÓSTICA NA AUSÊNCIA DE CONFIRMAÇÃO
LABORATORIAL: TROMBOSE DE VEIA CAVA SUPERIOR EM PACIENTE
ANTICOAGULADO COMO MANIFESTAÇÃO DA DOENÇA DE BEHÇET
Giolo, SMF; Cury, MCM ; Ribeiro, LAF; Júnior, CM; Cunha Junior, W
Santa Casa de Misericórdia de Franca-SP
INTRODUÇÃO
A doença de Behçet (DB) acomete vasos de diversos calibres e tem diagnóstico exclusivo por
critérios clínicos comumente não concomitantes. A trombose venosa é a principal complicação e a
de Veia Cava Superior está presente em 6% dos casos.
OBJETIVOS
Relatar caso de paciente internado na enfermaria de hospital terciário do interior paulista.
MÉTODOS
Relato descritivo retrospectivo por acesso a prontuário eletrônico.
DESCRIÇÃO DO CASO
Paciente masculino, 27 anos foi admitida na unidade de emergência com cefaléia holocraniana tipo
latejante associado a dor em região cervical de início insidioso e progressivo e febre há 1 mês.
Prontamente realizou TC de crânio que não evidenciou alterações significativas. Optado pela internação
hospitalar, sendo realizado punção liquórica que evidenciou bacilos Gram +, leucorraquia, proteinorraquia
e hipoglicorraquia. A cultura do liquor isolou Streptococcus pneumoniae e iniciado antibioticoterapia
dirigida com Cefepime. Durante a internação persistiu com picos febris diários e cefaléia, evoluindo com
anasarca, oligúria, diplopia e instabilidade de marcha. Realizou exames laboratoriais que mostraram
proteinúria nefrítica (560mg/dl em urina de 24 horas). Diante deste achado aliado à hiperproteinorraquia
aventou-se a hipótese de Tuberculose meníngea e renal, sendo iniciado tratamento com COXIP4 +
dexametasona. Durante o tratamento, o paciente apresentou dor em membro inferior direito com edema
localizado e empastamento. Ao ultrassom doppler foi diagnosticado trombose venosa profunda, sendo
instituído terapia com anticoagulação plena. Ainda assim, o quadro clinico descrito persistiu, no entanto
houve surgimento de mialgia, artralgia e pústulas acneiformes em face e região cervical posterior além
de aftas orais. Foi solicitado investigação laboratorial para doenças autoimunes sem alterações. Evolui
com importante edema de face e membro superior esquerdo. Realizado venografia que diagnosticou
trombose de veia cava superior em vigência de terapia anticoagulante.
Diante do quadro clínico exposto, associada à revisão de literatura oportuna, aventamos a hipótese de
doença de Behçet. Submetido a novo interrogatório com coleta de informações dirigidas que constataram
história prévia de aftas orais dolorosas recorrentes nos últimos 2 anos e diminuição da acuidade visual
progressiva há 10 meses sendo visualizado na fundoscopia distúrbio inflamatório vascular com
infiltrados algodonosos.
Neste momento, por preenchimento dos critérios clínicos, foi feito o diagnóstico de doença de Behçet e
reinstituído tratamento com corticoterapia em dose imunossupressora. Foi suspenso tratamento para
tuberculose e após 10 dias da corticoterapia houve melhora clínica significativa. Recebeu alta hospitalar
com dexametazona 4mg de 12/12 horas, azatioprina 50mg 2 vezes ao dia e terapia anticoagulante.
CONCLUSÃO:
O diagnóstico da DB é clínico e, por isso, não há testes ou exames objetivos que dirijam o
raciocínio para uma conduta de certeza. No caso relatado, a presença de aftas orais recorrentes,
lesões cutâneas acneiformes e retinopatia associados à trombose de veia cava superior em
vigência de anticoagulação auxiliaram na formulação da hipótese diagnóstica, sustentada pela
boa resposta ao tratamento empírico.
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doença de Behçet. In: Goldman L, Bennet JC, editor. Tratado de medicina interna. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan; 2001.p.1716-7.
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dificuldade diagnóstica na ausência de confirmação laboratorial