UNIVERSIDADE DE PERNAMBUCO- UPE FACULDADE DE CIÊNCIAS DA ADMINISTRAÇÃO DE PERNAMBUCO - FCAP MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO DO DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL - GDLS Sílvio Romero Pinto Bezerra Júnior PROGRAMA NACIONAL DE ALIMENTAÇÃO ESCOLAR: CONTRIBUIÇÕES PARA O ARRANJO PRODUTIVO LOCAL SUSTENTÁVEL DA AGRICULTURA FAMILIAR EM GLÓRIA DO GOITÁ - PERNAMBUCO RECIFE 2014 SÍLVIO ROMERO PINTO BEZERRA JÚNIOR PROGRAMA NACIONAL DE ALIMENTAÇÃO ESCOLAR: CONTRIBUIÇÕES PARA O ARRANJO PRODUTIVO LOCAL SUSTENTÁVEL DA AGRICULTURA FAMILIAR NO GLÓRIA DO GOITÁ - PERNAMBUCO Dissertação apresentada ao Mestrado Profissional em Gestão do Desenvolvimento Local Sustentável da Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco – FCAP / Universidade de Pernambuco - UPE, como requisito à obtenção do grau de Mestre em Gestão do Desenvolvimento Local Sustentável, sendo objeto de defesa oral, perante banca examinadora, em sessão pública. Orientadora: Profa. Dra. Andrea Karla Pereira da Silva Recife 2014 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Universidade de Pernambuco - UPE Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco – FCAP Biblioteca Leucio de Lemos B574p Bezerra Júnior, Sílvio Romero Pinto. Programa Nacional de Alimentação Escolar: contribuições para o arranjo produtivo local sustentável da agricultura familiar em Glória do Goitá. Silvio Romero Pinto Bezerra júnior. – Recife: do autor, 2014. 179 f.: il.; graf,. tab. – Orientadora: Andrea Karla Pereira da Silva. Dissertação (Mestrado) - Universidade de Pernambuco, Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco, Gestão do Desenvolvimento Local Sustentável, Recife, 2014. 1. Desenvolvimento sustentável. 2. Agricultura orgânica. 3. Nutrição escolar. I. Silva, Andrea Karla Pereira da Silva (orient.). II. Título. 338.927 CDD (23. ed.) (2007) SÍLVIO ROMERO Edna Meirelles – CRB-4/1022 12/2014 502.131.1 PINTO BEZERRA JÚNIOR FCAP-UPE CDU PROGRAMA NACIONAL DE ALIMENTAÇÃO ESCOLAR: CONTRIBUIÇÕES PARA O ARRANJO PRODUTIVO LOCAL SUSTENTÁVEL DA AGRICULTURA FAMILIAR NO GLÓRIA DO GOITÁ - PERNAMBUCO Dissertação apresentada ao Mestrado Profissional em Gestão do Desenvolvimento Local Sustentável da Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco – FCAP / Universidade de Pernambuco - UPE, como prérequisito à obtenção do grau de Mestre em Gestão do Desenvolvimento Local Sustentável. Orientadora: Profa. Dra. Andrea Karla Pereira da Silva COMISSÃO EXAMINADORA _______________________________________________________________ Prof. Dr. Emanuel Sampaio Silva - Universidade Salgado de Oliveira – UNIVERSO Examinador Externo _______________________________________________________________ Prof. Dr.Luiz Márcio Assunção - Universidade de Pernambuco Examinador interno _______________________________________________________________ Prof. Dr. Ericê Bezerra Correia - Universidade de Pernambuco Examinador interno Recife – PE, 14 de agosto de 2014 A Deus, razão da minha existência... AGRADECIMENTOS A Deus, meu tudo e razão de tudo, foi com ele que aprendi entre tantas coisas a amar e respeitar a natureza. À minha mãe Maria, a quem sempre rogo em todos os momentos da minha vida, bem como, aos demais Santos da Igreja Católica. Ao meu melhor amigo, com quem sempre pude contar, com a sua sabedoria e exemplo de retidão, meu querido pai Sílvio Romero Pinto Bezerra. À minha amada mãe, Maria Auxiliadora Pinto Bezerra, mulher de fibra, minha primeira e eterna professora, com quem sempre posso contar. À minha amada e maravilhosa esposa, Fabiana Maria, mulher da minha vida, companheira de todos os momentos e aos meus lindos filhos Fernando e Gabriel, que inocentemente tiveram que conviver com a minha ausência, enquanto me dedicava à pesquisa. À minha família e aos meus amigos, que sempre acreditaram e torceram por mim, pelo apoio e compreensão pela minha ausência, em razão deste curso. Aos meus colegas de trabalho que me apoiaram nesta trajetória. À minha orientadora, Profª. D. Sc. Andréa Karla Pereira da Silva, que me apoiou com a sua experiência e com seus conhecimentos. Aos professores que compuseram a minha banca: Prof. Dr. Emanuel Sampaio Silva, Prof. Dr. Luiz Márcio Assunção, Prof. Dr. Ericê Bezerra Correia, que com as suas contribuições enriqueceram esta pesquisa. Aos que compõem o Mestrado em Gestão do Desenvolvimento Local Sustentável, na pessoa da Sra. Célia Ximenes, que me recepcionou e me apoiou desde o primeiro momento no mestrado. Aos agricultores orgânicos e demais atores sociais participantes da construção deste trabalho, pela a atenção dispensada. Aos meus companheiros de mestrado Aos excelentes professores que compõem o corpo docente deste mestrado. A todos os meus sinceros agradecimentos, pois sem a compreensão e a colaboração de todos, não seria possível concluir este trabalho. O Cio da Terra “Debulhar o trigo Recolher cada bago do trigo Forjar no trigo o milagre do pão E se fartar de pão Decepar a cana Recolher a garapa da cana Roubar da cana a doçura do mel Se lambuzar de mel Afagar a terra Conhecer os desejos da terra Cio da terra, a propícia estação E fecundar o chão” Chico Buarque e Milton Nascimento RESUMO O estudo analisa como o Programa Nacional da Alimentação Escolar – PNAE pode, de forma institucionalizada, fomentar e proporcionar mais eficiência aos processos produtivos existentes, ligados à produção agroecológica dos alimentos, especificamente sobre o sistema de produção orgânica. Descreve como é comercializada a produção agropecuária dos agricultores familiares associados à APRUP, quanto é absorvido pelo mercado institucionalizado formado pelas escolas do município locus da pesquisa; avalia a operacionalização do PNAE focando na forma de aquisição destes alimentos, analisando o processo de gestão da alimentação escolar na rede municipal de ensino, observando as repercussões do PNAE na agricultura familiar, com ênfase nos produtores de alimentos orgânicos. Busca identificar as inovações surgidas, com implantação do PNAE, bem como, qual a estrutura das organizações envolvidas no processo de produção, comercialização e consumo dos alimentos orgânicos, fornecidos para a alimentação escolar. Analisa ainda, como ocorre a produção dos alimentos pelo sistema orgânico, como os agricultores se organizam, e se tais processos, através do PNAE, contribuem para a formação de um Arranjo Produtivo Local, que promova o desenvolvimento local sustentável. A pesquisa qualitativa utilizou-se da observação direta, entrevistas e questionários, dirigidos aos gestores de escolas, aos órgãos governamentais, ao setor privado e ao terceiro setor, potenciais componentes do APL, além de agricultores socialmente organizados. Os resultados despontam com boas perspectivas, para consolidação de um modelo de desenvolvimento que respeita a vocação do município e vem se destacando regionalmente em produtos agroecológicos, orgânicos e de agricultura familiar, com aproveitamento de produção e consumo internos, fortalecidos pela proposta do PNAE, inserindo assim uma relação de interdependência econômica, social e ambiental, que consolida um modelo de desenvolvimento sustentável. Foi possível identificar elementos, para consolidação de um APL, envolvendo escolas, produtores locais, associações de produtores e instituições relacionadas, tendo como garantia a reserva de mercado criada pelo PNAE que visa a um desenvolvimento sustentável, com envolvimento direto das escolas, visando à qualidade de vida dos estudantes e daqueles que vivem no campo e se enquadram na categoria de agricultores familiares. Palavras-chave: Desenvolvimento Sustentável. Arranjo Produtivo Local. Agricultura Orgânica Familiar e Agroecologia. Alimentação e Nutrição Escolar. ABSTRACT The study discusses how the National School Feeding Programme – NSFP, conventionally, is able to support and efficiently provide the existing production processes, related to the existing agroecological food production processes, specifically on the organic production system. It describes the commercialization of agricultural production in small farms, associated to the APRUP, its absorbing by the institutionalized market, formed by local schools, where the research was made; as long as evaluates the operation of NSAFP focusing on the purchase of these foods, analyzing the process of management of school meals in municipal schools, observing the repercussions of NSFP as well as what the structure of the organizations involved in the production, marketing and consumption of organic foods provided for the school feeding process. It analyses yet the production of organic foods, agriculturists organization and if such disputes, by the help of NSFP, contribute to the formation of a Local Productive Arrangement (LPA) that promotes sustainable local development. This qualitative research utilized the direct observation, interviews and questionnaires for school administrators, government agencies, private sector and third sector, potential components of LPA, and socially organized farmers. The results emerge with good prospects for consolidation of a model of development that respects the vocation of the city and has been highlighting regionally in agroecology, organic and family agriculture products, with use of internal production and consumption, strengthened by the proposed of the NSFP, thus entering a relationship of economic, social and environmental interdependence, which consolidates a model of sustainable development. It was possible to identify elements for consolidating a cluster involving schools, local producers, producer associations and related institutions, taking as collateral the market reserve created by NSFP aimed at sustainable development with direct involvement of schools, objectifying the students life quality and those who live in the countryside, under the category of family farmers. Key Words: Sustainable Development. Local Productive Arrangement. Organic Family and Agroecologial Agriculture. School Feed and Nutrition. LISTA DE FIGURAS Figura 01: Mapas de Localização do território do Município de Glória do Goitá, Estado de Pernambuco Brasil ...................................................................................19 Figura 02: Mapa de localização e limites geopolíticos do município de Gloria do Goitá Pernambuco, Brasil ..........................................................................................20 Figura 03: Fotografia de uma área de agricultura orgânica. Sítio Palmeiras, Glória do Goitá – PE ................................................................................................................ 21 Figura 04: Relação entre as práticas e percepções do PNAE / Glória do Goitá .....155 LISTA DE TABELAS Tabela 01: Indicadores demográficos em Glória do Goitá – PE ................................21 Tabela 02: Produção agrícola das lavouras permanentes e temporárias. Período de referência: 2012......................................................................................................... 22 Tabela 03: Consumo de agrotóxicos em algumas culturas agrícolas no Brasil ....... 31 Tabela 04: Consumo de agrotóxicos por unidade de área em algumas culturas agrícolas no Brasil, em quantidade de ingredientes ativos, 1998 ............................ 31 RELAÇAO DE SIGLAS AEO Alimentação Escolar Orgânica ABRASCO Associação Brasileira de Saúde Coletiva ANVISA Agência Nacional de Vigilância Sanitária AO Agricultura Orgânica AOF Agricultura Orgânica Familiar APL Arranjo Produtivo Local APLS Arranjo Produtivo Local Sustentável ADAGRO Agência de Defesa e Fiscalização Agropecuária APRUP Associação dos Produtores Rurais de Palmeira APORG Associação dos Profissionais Orgânicos ATER Assistência Técnica e Extensão Rural BDE Banco de Desempenho Educacional BNB Banco do Nordeste do Brasil CAE Conselho da Alimentação Escolar CF Constituição Federal CEASA Centro Estadual de Abastecimento CPORG Comissão da Produção Orgânica CMMAD Comissão Mundial Sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento CNA Comissão Nacional de Alimentação CONAB Companhia Nacional de Abastecimento CONSEA Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional DAP Declaração de Aptidão ao PRONAF DHAA Direito Humano à Alimentação Adequada DLS Desenvolvimento Local Sustentável EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária FAO Food and Agriculture Organization FIOCRUZ Fundação Oswaldo Cruz FNDE Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação GEPM Gestor da Escola Pública Municipal GP Gestor público GPR Gestor Privado GTP APL Grupo de Trabalho Permanente para APLs IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ICEI Brasil Instituto Cooperação Econômica Internacional INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária IPA Instituto Agronômico de Pernambuco ITEP Instituto de Tecnologia de Pernambuco MDA Ministério do Desenvolvimento Agrário MAPA Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento MDIC Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior MMA Ministério do Meio Ambiente OMS Organização Mundial da Saúde ONG Organização Não Governamental ONU Organização das Nações Unidas PAA Programa de Aquisição de Alimentos PCN Parâmetros Curriculares Nacionais PIB Produto Interno Bruto PNAE Programa Nacional de Alimentação Escolar PNAIC Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa PNAPO Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica PNSAN Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional PNATER Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural PNUD Programa das Nações Unidas Para o Desenvolvimento PMEs Pequenas e Micro Empresas PRONAF Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar PRONATER Programa Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural na Agricultura Familiar e na Reforma Agrária REDESIST Rede de Sistemas Produtivos e Inovativos Locais SAN Segurança Alimentar e Nutricional SDC Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário SISAN Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional SINDVEG Sindicato Nacional da Indústria de Produtos Para a Defesa Vegetal SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio Às Micro e Pequenas Empresas SERTA Serviço de Tecnologia Alternativa SISORG Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica SMD Sistema de Medição do Desempenho SUDENE Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste TPA Técnicos e Pesquisadores em Agricultura UFC Universidade Federal do Ceará UPAs Unidades de Produção Agrícolas SUMÁRIO 1 2 2.1 2.2 2.3 2.3.1 2.3.2 2.4 3 3.1 3.1.1 3.2 3.3 3.4 4 4.1 4.1.1 4.1.2 4.1.3 4.1.4 4.2 4.2.1 4.2.2 4.2.3 4.2.4 4.3 4.3.1 INTRODUÇÃO …………………………………………………..……… 15 METODOLOGIA ...........................................………………………… 18 CARACTERIZAÇÃO DO LOCUS DA PESQUISA ............................ 18 CARACTERIZAÇÃO SUJEITOS DA PESQUISA …………………… 22 INSTRUMENTOS DE COLETA ……………………………………….. 24 Documentação Indireta ……………………………………………… 24 Documentação Direta …...……………………………………………. 25 ANÁLISE DE DADOS ………………………………………………….. 26 MARCOS CONCEITUAIS ……………………………………………... 28 AGRICULTURA ORGÂNICA FAMILIAR ……………………………… 28 Sistema orgânico de produção.......................................................... 33 ALIMENTAÇÃO ESCOLAR .............................................................. 44 ARRANJO PRODUTIVO LOCAL...................................................... 50 DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL …………………….. 57 RESULTADOS E DISCUSSÃO ……………………………………….. 63 ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO ESCOLAR...................................... 63 Percepções pelos Gestores das Escolas Públicas Municipais quanto à alimentação e nutrição escolar. ......................................... 63 Percepções pelos Gestores Públicos sobre a alimentação e nutrição escolar............................................................................... 72 Percepções pelos Gestores Privados sobre a alimentação e nutrição escolar............................................................................... 82 Percepções pelos técnicos e pesquisadores em agricultura sobre a alimentação e nutrição escolar......................................... 89 PERCEPÇÕES SOBRE AS QUESTÕES RELACIONADAS AO PNAE E O FORNECIMENTO DE ALIMENTOS POR PARTE DOS AGRICULTORES FAMILIARES LOCAIS PARA AS ESCOLAS MUNICIPAIS ..................................................................................... 93 Percepções pelos Gestores das Escolas Públicas Municipais quanto às questões relacionadas ao PNAE e o fornecimento de alimentos por parte dos agricultores familiares locais para as escolas municipais............................................................................. 94 Percepções pelos Gestores Públicos quanto às questões relacionadas ao PNAE e o fornecimento de alimentos por parte dos agricultores familiares locais para as escolas municipais ......... 97 Percepções pelos Gestores Privados quanto às questões relacionadas ao PNAE e o fornecimento de alimentos por parte dos agricultores familiares locais para as escolas municipais ........................................................................................................... 107 Percepções pelos técnicos e pesquisadores em agricultura quanto às questões relacionadas ao PNAE e o fornecimento de alimentos por parte dos agricultores familiares locais para as escolas municipais ......................................................................................... 116 PERCEPÇÕES SOBRE A RELAÇÃO DO FORNECIMENTO DE ALIMENTOS PRODUZIDOS LOCALMENTE PARA AS ESCOLAS E O DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL ...................... 115 Percepções pelos Gestores das Escolas Públicas Municipais sobre 4.3.2 4.3.3 4.3.4 5 6 7 a relação do fornecimento de alimentos produzidos localmente para as escolas e o desenvolvimento local sustentável ........................................................................................................... Percepções pelos Gestores Públicos sobre a relação do fornecimento de alimentos produzidos localmente para as escolas e o desenvolvimento local sustentável ............................................. Percepções pelos Gestores Privados sobre a relação do fornecimento de alimentos produzidos localmente para as escolas e o desenvolvimento local sustentável ............................................. Percepções pelos técnicos e pesquisadores em agricultura sobre a relação do fornecimento de alimentos produzidos localmente para as escolas e o desenvolvimento local sustentável ........................................................................................................... PRÁTICAS E PERCEPÇÕES DO PNAE.......................................... PROPOSTA DA CRIAÇÃO DE UM APL SUSTENTÁVEL DA AGRICULTURA FAMILIAR EM GLÓRIA DO GOITÁ – PE.............. CONCLUSÃO …….…………………………………………………….. REFERÊNCIAS …………………………………………………………. APÊNDICE…..…………………………………………………………… APÊNDICE 1 – ENTREVISTA APLICADA AOS GESTORES, TÉCNICOS E PESQUISADORES EM AGRICULTURA................... 116 123 134 144 148 156 162 165 172 172 15 1 INTRODUÇÃO O estudo analisa como o Programa Nacional de Alimentação Escolar PNAE pode, de forma institucionalizada, fomentar e proporcionar mais eficiência aos processos produtivos ligados à produção agroecológica dos alimentos, especificamente sobre o sistema de produção orgânica. Descreve como é comercializada a produção agropecuária dos agricultores familiares associados à APRUP, quanto é absorvido pelo mercado institucionalizado formado pelas escolas do município locus da pesquisa. Avalia a operacionalização do PNAE focando na forma de aquisição destes alimentos, analisando o processo de gestão da alimentação escolar na rede municipal de ensino, observando as repercussões do PNAE na agricultura familiar, com ênfase nos produtores de alimentos orgânicos. Com o mercado local criado pelas compras institucionalizadas da alimentação escolar, através do Programa Nacional da Alimentação escolar – PNAE, viabiliza-se um canal de escoamento para a produção proveniente da agricultura orgânica familiar. Neste contexto, os agricultores precisão se organizarem para participarem da oferta de alimentos produzidos, atendendo as exigências da Política Nacional da Segurança Alimentar e Nutricional, e por consequência, albergarem um mercado promissor e rentável. Visando agregar os valores necessários ao desenvolvimento local sustentável, analisar como o PNAE contribui para surgimento de um arranjo produtivo local, que promova o desenvolvimento sustentável no Município de Glória do Goitá, constitui-se como o objetivo geral desta pesquisa. Os objetivos específicos desta pesquisa são: avaliar a operacionalização do PNAE no Município de Glória do Goitá e se existe uma fomentação para o surgimento de um APL; analisar o processo de gestão da alimentação escolar no Município e Analisar as repercussões do PNAE na agricultura familiar, como promotor do desenvolvimento local sustentável. Como problematização da pesquisa, questionam-se quais as inovações surgidas com a implantação do PNAE, bem como se tais processos, através do PNAE, contribuem para a formação de um APL que promova o desenvolvimento local com perspectiva sustentável. O presente estudo traz à baila as variadas opiniões a respeito do PNAE, nas suas múltiplas faces interligadas com o desiderato de promover o 16 desenvolvimento local sustentável; pretende analisar, avaliar e identificar como se dá o processo de aquisição e fornecimento da produção orgânica proveniente da agricultura familiar local, tendo como referência a legislação alimentar pátria que alberga as políticas públicas visionárias de uma sustentabilidade tão almejada. Neste sentido, Lago et al (2006) lembram que a agricultura familiar, levando-se em conta o aspecto econômico, é considerada a mais adequada para a prática desses princípios que preenchem a lacuna de tecnologias adaptadas às reais necessidades dos agricultores familiares. Por está amplamente vinculada ao espaço local, possibilita a integração dos interesses dos componentes desta cadeia produtiva para a viabilidade do desenvolvimento sustentável a partir da ação local. O PNAE cria um mercado através das compras institucionais que vem garantir o crescimento de uma agricultura sustentável, minimizando os impactos ambientais. Infelizmente, a sustentabilidade encontra-se incipiente, quando se refere às práticas, que acontecem de forma desarticulada. A noção de sustentabilidade agrícola tem sido, assim, de uso limitado para formuladores de políticas e pesquisadores, na tentativa de determinar os efeitos das várias políticas e tecnologias (ALTIERI, 2008). Para a efetivação de práticas sustentáveis, decorrentes das diretrizes contidas no PNAE no locus da pesquisa, é importante que se observe a questão ambiental na aquisição da produção agrícola familiar. Neste sentido, é importante conhecer e identificar o alinhamento entre a forma como os gestores e os técnicos, relacionados ao tema estudado, compreendem tanto as questões ligadas à segurança e nutrição alimentar dos estudantes, como também os processos relacionados à preservação da saúde do meio ambiente, quando da produção destes alimentos. Portanto, o PNAE, enquanto instrumento transformador e indutor do desenvolvimento local sustentável, pode contribui para estimular novas práticas pedagógicas, no ato de se alimentar. Em paralelo, incentiva à adoção de um novo modelo de produção da agricultura familiar local, onde vários aspectos estão envolvidos dentro desta política pública. Numa visão agronômica, para Trivellato e Freitas (2003), os sistemas orgânicos de agricultura buscam obter solos e lavouras saudáveis, através de práticas de reciclagem dos nutrientes e da matéria orgânica, na forma de composto 17 ou restituição dos resíduos de cultura ao solo; rotação de culturas; e práticas apropriadas de preparo do solo. Dentro deste raciocínio, no locus da pesquisa, existem instituições como a APORG, a APRUP, o SERTA e o ICE Brasil, dedicadas às práticas ora estudadas, dentre outros, tanto na seara pública como no setor privado que, impulsionados pelo PNAE, propiciarão o surgimento de um arranjo produtivo local, que venha a viabilizar a agricultura orgânica e familiar, promovendo o desenvolvimento local sustentável. 18 2. METODOLOGIA O presente estudo foi realizado seguindo as diretrizes da pesquisa científica aplicada, utilizando o enfoque indutivo na análise de dados e dando importância aos significados atribuídos pelas pessoas às coisas e à vida. O tipo de pesquisa qualitativa adotado tem o ambiente natural como à fonte direta de dados e o pesquisador como instrumento fundamental e como pesquisa descritiva não é necessária à utilização de ferramentas estatísticas de análise de dados (ALMEIDA, 2011; GODOY, 1995). Para Lakatos e Marconi (2010), a parte de uma aproximação dos fenômenos caminha no sentido dos planos cada vez mais abrangentes, iniciando das constatações mais particulares às leis e teorias numa conexão ascendente. Com o desiderato de analisar como o PNAE pode apresentar contribuições para o APL sustentável da agricultura familiar no Município de Glória do Goitá – PE, é que se realizou o presente estudo, que tem como foco principal as práticas e percepções sobre as questões referentes ao tema sob análise, no território do locus da pesquisa. Utilizou-se da pesquisa participante, que promoveu uma maior interação entre pesquisador e os sujeitos da pesquisa, buscando a promoção de uma maior reflexão, sobre os conhecimentos referentes à temática abordada. Foram levadas em consideração as práticas e percepções quanto ao PNAE, fazendo diagnósticos e propondo sugestões, visando apresentar contribuições para o surgimento de um arranjo produtivo local sustentável da agricultura familiar, no Município de Glória do Goitá – PE. 2.1 CARACTERIZAÇÃO DO LOCUS DA PESQUISA O locus da pesquisa foi o Município de Glória do Goitá, no interior do Estado de Pernambuco, pois há uma reunião de fatores que se coadunam para uma análise da eficácia da política pública voltada para segurança nutricional e alimentar, prevista no PNAE, quando do fornecimento de alimentos saudáveis na rede pública de ensino municipal, para atender às diretrizes previstas na lei federal nº 11.947/2009 (BRASIL, 2013d), disciplinada pela Resolução/CD/FNDE nº 38, de 16/2009 (BRASIL, 2013g). Neste Município existem práticas agroecológicas por 19 parte de agricultores organizados em associação, no caso, a Associação de Produtores Rurais de Palmeira – APRUP, com vinte e quatro agricultores orgânicos cadastrados no Ministério da Agricultura (19/07/2010). Há ainda a Associação dos Profissionais Orgânicos – APORG, a ONG Serviço de Tecnologia Alternativa – SERTA que trabalham com agricultura orgânica. No município existem, ainda, as instituições públicas que prestam a extensão rural e assistência técnica, v.g. o escritório local do Instituto Agronômico de Pernambuco - IPA. De acordo com Ramos (2011) o PNAE atende hoje cerca de 47 milhões de alunos das redes públicas e filantrópicas de ensino no Brasil, da educação infantil até a educação de jovens e adultos, o que corresponde a cerca de 25% da população brasileira. Segundo dados coletados na Secretaria de Educação do Município de Glória do Goitá, a rede municipal de ensino é composta por trinta escolas rurais e oito escolas urbanas, além de uma creche. Deste universo foram pesquisadas nove escolas distribuidas na zona rural e urbana, que possuem 2.096 alunos matriculados. No ano de 2013, foram matriculados 4.467 alunos no ensino fundamental e na creche na rede de ensino municipal. O Município de Glória do Goitá, localiza-se no Estado de Pernambuco, na Região do Nordeste do Brasil, conforme o mapa constante da Figura 01. Figura 01: Mapas de Localização do território do Município de Glória do Goitá, Estado de Pernambuco, Brasil Fonte:18rodasdeferro.blogspot.com.br Glória do Goitá – PE limita-se ao Norte com os Municípios de Feira Nova, Lagoa de Itaenga e Paudalho, ao Sul com Vitória de Santo Antão, ao Leste com Chã de Alegria e ao Oeste com Passira, conforme o mapa da figura 2 a seguir. 20 Figura 02: Mapa de localização e limites geopolíticos do município de Gloria do Goitá Pernambuco, Brasil. Fonte:weather-forecast.com Glória do Goitá possui o distrito de Apoti e faz parte da mesorregião da Zona da Mata do Estado de Pernambuco e da Microrregião de Vitória de Santo Antão, distante 65 Km² da cidade do Recife, capital pernambucana (IBGE, 2010). O referido município encontra-se inserido nos domínios da Bacia Hidrográfica do Rio Capibaribe. Seu principal tributário é o Rio Goitá e os riachos: Macambira, Monjolo, Tanque, Braga, Jamaforno, Massaranduba, Grota Funda, Camurim, Salinas, Antinho, Mocó, Tapera, Macacos, Guilherme, Água Peba, Urubas, Canavieira, Ribeirão da Onça e Limãozinho. O principal corpo de acumulação é o açude Goitá, com 52.000.000m3. Todos os cursos d’água no município têm regime de escoamento intermitente e o padrão de drenagem é o dendrítico. (MARGOLIS, GALINDO e MELLO NETTO, 1991). Segundo ibiden (1991), Glória do Goitá está localizada entre as coordenadas geográficas de latitude Sul 8°01’00”, e 35º18'00" de longitude Oeste; representa a microrregião homogênea 107 do Estado de Pernambuco, com clima, segundo a classificação de Koeppen, do tipo As', chuvoso com verão seco e precipitação anual com média de 1.200 mm, concentrados principalmente entre os meses de abril a julho. O relevo predominante varia de ondulado a montanhoso. Glória do Goitá possui uma área de 231,83 Km², apresentando uma densidade demográfica de 125,17 hab./Km², com 53,19% de taxa de urbanização. A taxa geométrica de crescimento populacional 2000-2010 foi de 0,5 % aa, enquanto o Estado de Pernambuco apresentou uma taxa de 1,06 % aa. O Quadro 01 a seguir mostra as informações a cerca da área e de indicadores demográficos do município. 21 TABELA 1 - Indicadores demográficos em Glória do Goitá - PE Área e Indicadores Demográficos Ano Município Estado Área (km²) 2010 231, 831 98.146,315 Densidade demográfica (hab./km²) 2010 125,17 89,63 Taxa de urbanização (%) 2010 53,19 80,17 Taxa geométrica de crescimento populacional 2000-2010 (% aa) 2010 0,52 1,06 Fonte: O autor, baseado em BDE. Arquivos Perfil Municipal. O Município de Glória do Goitá, que atualmente encontra-se num processo de industrialização, tem como principais atividades econômicas a agricultura e o comércio. Quanto à produção agropecuária, esta é bastante diversificada. A avicultura de corte e postura, além das pequenas lavouras, a fruticultura e a olericultura são algumas atividades do agronegócio local. A produção de farinha de mandioca é outra fonte de renda para os agricultores do município. De acordo com dados da Associação dos Profissionais Orgânicos – APORG, o município encontra-se incluído no Polo Orgânico do Estado de Pernambuco. Figura 03: Fotografia de uma área de agricultura orgânica. Sítio Palmeira, Glória do Goitá – PE Fonte: o autor, 2014 A agricultura orgânica1 (figura 3), vem se destacando como uma das atividades promissora, sendo a sua produção escoada para a Ceasa no Recife, além de para as feiras de alimentos orgânicos da região metropolitana. 1 Por “agricultura orgânica” de acordo com o conceito legal, refere-se ao sistema de produção agropecuária em que se adotam técnicas específicas, mediante a otimização do uso dos recursos naturais e socioeconômicos disponíveis e o respeito à integridade cultural das comunidades rurais, tendo por objetivo a sustentabilidade 22 Este sistema de produção agroecológico tem gerado uma renda extra para a agriclutura familiar, devido ao valor agregado por este sistema de produção, contribuindo para melhorar a economia local das comunidades rurais, participantes deste processo. De acordo com o presidente da Associação dos Produtores Rurais de Palmeira (APRUP), os agricultores familiares estão migrando aos poucos para este sistema de produção agroecológico, em razão tanto do aumento na sua demanda, como pela melhoria na qualidade de vida, das comunidades produtoras e consumidoras destes produtos, propiciando uma nova forma de desenvolvimento rural, em que a sustentabilidade está presente. Glória do Goitá possui uma área de 3.915 ha, destinada à produção agrícola das lavouras de cana-de-açucar, feijão e milho, conforme Tabela 2. TABELA 2: Produção agrícola das lavouras permanentes e temporárias. Período de referência: 2012 Município/Produtos agrícola Área colhida (ha) Quantidade produzida (t) Rendimento médio Kg/ha Valor da produção R$ 1.000,00 8.439 Glória do Goitá 3.915 - - Cana-de-açucar 2.000 75.000 37.500 4.941 Feijão 715 143 200 358 Milho 500 2.500 5.000 3.000 Fonte: IBGE, Produção Agrícola Municipal. De acordo com o IBGE, no Censo Agropecuário (BRASIL, 2006) Glória do Goitá possuía um total de 2.450 estabelecimentos enquadrados como da agricultura familiar, conforme a Lei nº 11.326/06, com uma área de 7.573 ha; e 253 estabelecimentos rurais, que compreendem uma área de 8.144 ha, não considerados como da agricultura familiar. 2.2 CARACTERIZAÇÃO DOS SUJEITOS DA PESQUISA Na realização da pesquisa, foram considerados como sujeitos os atores sociais, compostos por gestores, técnicos e representantes dos órgãos e instituições envolvidas no contexto da produção e consumo de produtos agrícolas, produzidos pelo sistema orgânico, provenientes da agricultura familiar, no Município de Gloria do econômica e ecológica, a maximização dos benefícios sociais, a minimização da dependência de energia nãorenovável, empregando, sempre que possível, métodos culturais, biológicos e mecânicos e a proteção do meio ambiente. Estes conceitos serão abordados durante o decorrer desse estudo. 23 Goitá – PE, potenciais participantes de um APL sustentável, que são: a Associação dos Produtores Rurais de Palmeiras – APRUP; a Associação de Profissionais da Agricultura Orgânica – APORG; o Serviço de Tecnologia Alternativa – SERTA; Instituto Cooperação Econômica Internacional - ICEI Brasil; o SEBRAE – PE; bem como as três esferas administrativas de governo, representadas pelo Governo Federal do Brasil, através da Delegacia do Ministério da Agricultura no Estado de Pernambuco e do Banco do Nordeste do Brasil – BNB, pelo Governo do Estado de Pernambuco através da Secretaria Executiva da Agricultura Familiar, do Instituto Agronômico de Pernambuco – IPA e da Agência de Defesa e Fiscalização Agropecuária de Pernambuco – ADAGRO. A esfera municipal foi representada pelos gestores das Secretarias de Educação e de Desenvolvimento Econômico nas gestões atuais e passadas, bem como dos diretores das escolas da rede municipal de ensino. A amostra analisada foi não-probabilística e intencional, pois foram escolhidos casos que constituem a amostra, pelo julgamento do pesquisador. Diante deste contexto, é útil a descrição das características dos atores que compõem os grupos de sujeitos da pesquisa: a) Gestores Públicos - GP: Entre os gestores públicos foram selecionados um representante da Delegacia do Ministério da Agricultura no Estado de Pernambuco (Presidente da Comissão Estadual da Agricultura Orgânica no Estado de Pernambuco); um representante da Secretaria Executiva da Agricultura Familiar do Estado de Pernambuco; dois gestores das Secretarias da Educação e dois gestores da Secretaria do Desenvolvimento Econômico Municipal de Glória do Goitá (da gestão atual e da gestão anterior); Diretor de Pedagogia do Município de Glória do Goitá e a Nutricionista da Secretaria da Educação do Município de Glória do Goitá. b) Gestores das Escolas Púbicas do Município - GEPM: Foram escolhidos nove Dirigentes das escolas municipais, distribuídos aleatoriamente na zona urbana e rural, por serem estes responsáveis por desenvolver as políticas de segurança alimentar e nutricional, visando dar eficácia ao PNAE e determinar como é feita a abordagem da Educação Alimentar nas instituições que representam. Mesmo o programa alimentar sendo nacional a sua prática é concebida pelos diretores e coordenadores das unidades de ensino. Dessa forma, analisou-se a representação desses atores, sobre os fatores que interferem na alimentação escolar, refletindo sobre como são desenvolvidas as políticas de segurança alimentar dentro da escola. 24 c) Gestores Privados - GPR: Este grupo está composto pelos gestores das instituições privadas e do terceiro setor que participam do processo de produção de alimentos destinados, ou que deveriam ser destinados ao fornecimento para o PNAE, no município estudado, composto pelo SERTA, ICEI Brasil, SEBRAE – PE, APRUP e a APORG, por participarem direta ou indiretamente do processo de produção e fornecimento de alimentos para a rede de ensino municipal, visando atender aos critérios do desenvolvimento sustentável. d) Técnicos e Pesquisadores em Agricultura - TPA: Neste grupo, os três atores são os responsáveis pela pesquisa agronômica, assistência técnica, fiscalização da produção e financiamentos para a agricultura orgânica e familiar, ou seja, estão diretamente ou indiretamente envolvidos nos processos produtivos da agricultura, representando as instituições públicas, nas esferas estadual e federal, compostas pelo IPA, a ADAGRO e o BNB. 2.3 INTRUMENTOS DE COLETA A coleta de dados para a pesquisa ocorreu de forma indireta, através de pesquisa documental e bibliográfica, e de forma direta, com pesquisa de campo, através da observação passiva e entrevista aos sujeitos da pesquisa. A entrevista dirigida aos sujeitos, constante do apêndice, como forma de observação direta intensiva, foi realizada a partir de um roteiro com tópicos acerca da participação das escolas na aquisição de alimentos nos moldes previstos pelo PNAE e observância aos processos participativos dos potenciais integrantes do APL e suas contribuições para o desenvolvimento local sustentável. Foi contemplado o conhecimento sobre o tipo de alimentação que é fornecida nas escolas, abordando suas origens, qualidade e conservação, valores nutricionais; Conhecimento sobre o PNAE e sobre o status de adesão ao Programa, além da percepção a respeito das melhorias trazidas com a agricultura orgânica e sua inserção na alimentação escolar em relação ao desenvolvimento local sustentável. 2.3.1 Documentação Indireta A pesquisa utilizou-se de duas formas de documentação, quando do levantamento de dados. Na primeira fase, com a pesquisa documental, buscando 25 nos registros existentes nos órgãos públicos, municipal, estadual e federal, além das legislações existentes sobre as políticas públicas envolvidas no processo analisado, planos e programas de governo, entre outros, onde se situa a agricultura orgânica, a agricultura familiar, a assistência técnica e extensão rural e o fornecimento da produção agrícola local para a alimentação escolar, via PNAE, no município. Foi também realizada a pesquisa bibliográfica, visando o aprofundamento sobre as teorias já existentes quanto à agricultura orgânica familiar; o sistema orgânico da produção de alimentos; a alimentação escolar, o arranjo produtivo local e o desenvolvimento local sustentável, com o desiderato de construir um marco teórico, visando à fundamentação do método, bem como a discussão de resultados logrados nesta pesquisa. 2.3.2 Documentação Direta Este trabalho utilizou-se da documentação direta, feita através de pesquisa de campo, de caráter exploratório-descritivo, com descrição completa dos fenômenos estudados (LAKATOS e MARCONI, 2001), sendo este o fim almejado na seara desta pesquisa, por este ser concebido a partir da análise de temas já conhecidos, porém numa nova perspectiva da realidade. Foram aplicadas entrevistas, buscando-se extrair informações necessárias, para atender ao objetivo de pesquisa junto aos atores sociais ligados a temática estudada, compostos por Gestores Públicos das três esferas administrativas, Gestores das Escolas Municipais, Gestores Privados ligados ao processo de produção de alimentos orgânicos e aos técnicos e pesquisadores em agricultura, de acordo com um roteiro pré-definido. As entrevistas buscaram a percepção dos sujeitos da pesquisa, quanto ao conhecimento sobre o tipo de alimentação que é fornecida nas escolas, relacionadas ao PNAE e ao fornecimento destes alimentos por parte dos agricultores locais e a sua repercussão para um provável desenvolvimento local sustentável. O tipo de entrevista aplicado foi a semi-estruturada, onde o entrevistador orientou, quando necessário, os entrevistados, para que os mesmos abordassem os temas norteadores da pesquisa, visando colher ao máximo, as informações da realidade vivenciada pelos respondentes inseridos no contexto do assunto explorado na pesquisa. 26 2.4 ANÁLISE DE DADOS A análise dos dados, associada à pesquisa teórica pertinente, permitiu identificar elementos para consolidação de um APL envolvendo escolas, associações de produtores e instituições relacionadas, tendo como garantia a reserva de mercado criada pelo PNAE, que visa a um desenvolvimento local sustentável com envolvimento direto das escolas, visando à qualidade de vida dos estudantes e daqueles que vivem no campo e se enquadram na categoria de agricultores familiares. As informações e as análises da pesquisa produziram uma resposta adequada, acerca da aplicação da política pública de inserção de alimentos orgânicos, na rede municipal de ensino de Glória do Goitá – PE, com o fim de analisar se esta contribui para a construção de um modelo de arranjo produtivo local, envolvendo o terceiro setor, os agricultores e as escolas, numa perspectiva de desenvolvimento sustentável. Foram feitas as transcrições das entrevistas, com sistematização das ideias apresentadas que permitiram identificar a relação existente entre as práticas da agricultura orgânica familiar desenvolvida no município e como estas práticas são percebidas pelos atores da pesquisa, revelando como estas estão sendo absorvidas pelo PNAE. As informações obtidas passaram por um tratamento de dados, quando foram interpretados a partir de categorias de análise eleitas, a partir das abordagens levantadas no roteiro das entrevistas verificando o atendimento aos critérios predefinidos e listados em escala de prioridade para averiguação ao cumprimento de diretrizes obrigatórias, na concepção de um arranjo produtivo local, com base em conhecimentos teórico-empíricos, obtidos a partir de pesquisa documental e bibliográfica. A análise de conteúdo (BARDIN, 1977) foi o instrumento aplicado nesta pesquisa qualitativa. O pesquisador munido dos dados e fazendo uma pré-análise, em seguida, passou para a exploração do material coletado e ao final, foram tratados os resultados obtidos nas entrevistas, para posterior interpretação. Para cada tema abordado nas entrevistas, foram criadas categorias de análise, baseadas na interpretação das percepções sobre o conhecimento quanto ao tipo de alimentação que é fornecida nas escolas, sua origem, qualidade e 27 conservação; percepções sobre a operacionalização do PNAE pelo Município; se aquisição de alimentos produzidos localmente pela escola contribui para o desenvolvimento local sustentável de acordo com os opinativos externados pelos atores sociais, quando da entrevista. 28 3. MARCOS CONCEITUAIS São aqui descritos os objetos teóricos Agricultura Familiar; a Agricultura Orgânica; Alimentação e nutrição escolar; Arranjo Produtivo Local e Desenvolvimento Sustentável. 3.1 AGRICULTURA ORGÂNICA FAMILIAR A princípio, os seres humanos que viviam no continente africano, há aproximadamente 50 mil anos, possuíam hábitos nômades. Houve uma mudança de hábitos culturais na humanidade, e 12 mil anos atrás, o homem deixou de ser nômade e passou a ser sedentário, fixando-se no Oriente Próximo. Devido à farta oferta de alimentos encontrada no Crescente Fértil, o homem, com hábitos predadores, passou a praticar a agricultura, surgindo, por consequência, as primeiras aglomerações humanas, as aldeias. (STANDAGE, 2005) A agricultura espalhou-se por todo o Crescente Fértil entre 7000 a.C. e 5000 a.C., à medida que um número crescente de plantas e animais (começando com carneiros e bodes) era domesticado e novas técnicas de irrigação tornavam a agricultura possível nas terras baixas quentes e secas da Mesopotâmia e do vale do Nilo, no Egito. (STANDAGE, 2005, p. 25). A agricultura expandiu-se para outros continentes influenciando nas mais variadas ciências, sendo em certos momentos da história, fornecedora de produtos que eram utilizados como escambo. Bem mais tarde, A revolução verde implementada na década de 50, estava fundamentada na produção de larga escala com alta tecnologia, demonstrando como resultado, excelente produtividade. Nos anos 90, é preconizada a nova revolução verde: revolução genética, unindo a biotecnologia e a engenharia genética, promovendo assim significativas transformações na agricultura mundial. (CAVALLI, 2001, p. 02). De acordo com Cavalli (2001) a biotecnologia e a engenharia genética geram um aumento da produtividade, provavelmente com produção de novos organismos vegetais e animais. Porém, em paralelo, surgem questionamentos quanto às novas tecnologias e quais as consequências ambientais, econômicas e sociais desse modelo de produção. A população encontra-se em pleno crescimento, necessitando de suprimento alimentar com equidade para os povos, o que traz à baila uma preocupação com o aumento na produtividade agrícola (BRASIL, 2013a). 29 A primeira e a segunda revolução verde trazem consigo a metáfora do confronto da fome, de como solucionar o problema alimentar no mundo. Neste novo contexto, renasce a crença de que é preciso viabilizar a segunda revolução verde, para solucionar a fome que se configura no momento e a futura. Esse enfoque é largamente utilizado em defesa e justificativa da biotecnologia e da engenharia genética (Fontes, 1998; Pinazza & Alimandro, 1998 apud CAVALLI, 2001, p. 02). No ano 2025, 83% da população mundial, prevista em 8,5 bilhões de habitantes, estarão vivendo nos países em desenvolvimento. Não obstante, a capacidade de que os recursos e tecnologias disponíveis satisfaçam às exigências de alimentos e outros produtos agrícolas dessa população em crescimento permanecem incertos. (BRASIL, 2013a) O crescimento populacional mundial impulsionou uma maior demanda por suprimento alimentar de forma isonômica para todos os povos, servindo como indutor da revolução verde2, em meados do século passado, voltada para uma produção em larga escala, com investimento maciço em tecnologia mesmo inadequada as particularidades climáticas e edáficas de cada região. Surgiu então, a biotecnologia dos alimentos, mais conhecida como a segunda revolução verde 3. Dentro dessa linha de desenvolvimento agrário, Jara (1998) ressalta que desde a década 1970 ocorreram rápidas e profundas transformações na organização socioeconômica e técnica do espaço rural. A modernização da agricultura foi incentivada pelo Estado Brasileiro, favorecendo os latifúndios e a constituição de grandes e médias empresas, em direção contrária à reforma agrária, o que agravou a miséria dos pequenos agricultores, por estarem à margem deste modelo de desenvolvimento que articulava a produção agropecuária com os complexos agroindustriais de produção de insumos e de transformação industrial. Segundo Jara (1998), este paradigma técnico foi a chamada Revolução Verde implantada no Brasil. Nesse modelo desenvolvimentista globalizado 4, a pesquisa e o desenvolvimento dos sistemas produtivos incorporaram os pacotes tecnológicos, destinados a maximizar o rendimento dos cultivos. Tinha-se como objetivo elevar ao máximo a capacidade potencial dos cultivos, criando uma 2 A revolução verde visava uma produção de larga escala, através do emprego de uma avançada tecnologia, alcançando uma excelente produtividade, para atender a demanda crescente de alimentos, a nível mundial. 3 Nos anos 90, é preconizada a nova revolução verde: revolução genética, unindo a biotecnologia e a engenharia genética, promovendo assim significativas transformações na agricultura mundial. (CAVALLI, 2001, p. 02) 4 Trata-se de um modelo de desenvolvimento econômico que não observa as diretrizes almejadas no desenvolvimento sustentável, como será oportunamente conceituado durante este estudo. 30 condição ecológica ideal, aplicando agrotóxicos5 para o controle das pragas e de outros predadores naturais e, para completar, adubando o solo como o uso de fertilizantes sintéticos. Toda a institucionalidade esteve focada na modernização agrícola, utilizando-se da Assistência Técnica e Extensão Rural – ATER, do crédito e financiamento, comercialização e estrutura de mercados. Todo aparato estatal estava direcionado para expandir e consolidar a modernização das práticas agrícolas. Tal processo produz impactos ambientais negativos, a degradação dos solos agrícolas, contaminação dos recursos hídricos, desmatamento, empobrecimento da diversidade genética. Todo este contexto foi vivenciado dentro de uma lógica econômica, que visava a maximização dos rendimentos físicos e econômicos à curto prazo e a qualquer custo. Mesmo com a implantação deste modelo produtivo, Azevedo e Pelicioni (2011) aduzem, que a humanidade ainda não conseguiu resolver os problemas da desigualdade social e, consequentemente, os relacionados à falta de alimentos. Existem ainda outros riscos sobre a saúde humana que atingem todas as classes sociais. São os relacionados à contaminação das águas e do solo, bem como da modificação da qualidade dos alimentos consumidos, no que se refere à sua toxicidade, devido à presença de contaminantes químicos utilizados na sua produção. Nesta linha, de acordo com ibidem (2011), existem estudos compilados que sinalizam riscos de agrotóxicos sobre a saúde humana, na forma de alguns tipos de câncer, infertilidade e má formação congênita. Outras repercussões incluem sintomas respiratórios, Mal de Parkinson e depressão. Quanto à problemática, ligada à saúde humana e ambiental, decorrente dos processos gerados pela “Revolução Verde”, Spadotto e Gomes (2007), afirmaram que nas culturas agrícolas brasileiras há uma aplicação demasiada de agrotóxicos: soja, milho, citros, cana-de-açúcar, conforme pode ser observado na Tabela 3. Com o atual crescimento das áreas com cultura de cana-de-açúcar, o consumo de agrotóxicos no Brasil foi se modificando rapidamente. 5 Por “agrotóxicos”, refere-se aos controles químicos das pragas incidentes na agricultura, podendo receber ainda, outras designações agronômicas, como defensivo agrícola, pesticida, agroquímico, produtos fitofarmacêutico ou fitossanitários, entre outras designações a serem abordadas durante o decorrer desse estudo. 31 TABELA 3 - Consumo de agrotóxicos em algumas culturas agrícola no Brasil, em quantidade de ingredientes ativos, 1998. Cultura agrícola Quantidade (ton) Participação (%) Soja 42.015 326 Milho 15.253 11,8 Citros 12.672 9,8 Cana-de-Açúlcar 9.817 6 Café 8.780 6,8 Batata 5.122 4,0 Algodão 4.851 3,8 Arroz Irrigado 4.241 3,3 Feijão 4.199 3,3 Tomate 3.359 2,6 Total 128.712 Fonte: SINDVEG (Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal), 1998. Spadotto e Gomes (2007) ressaltam que, pela quantidade total elevada de agrotóxicos usados, algumas culturas agrícolas merecem destaque, não por esses produtos serem aplicados intensivamente por unidade de área cultivada, mas por ocuparem extensas áreas no Brasil, como é o caso da soja, do milho e da canade-açúcar. De acordo com esses autores, tais culturas são fontes potenciais de contaminação, pelo uso de agrotóxicos em grandes áreas. Outras culturas agrícolas, apesar de ocuparem menores áreas, destacam-se pelo uso intensivo de agrotóxicos por unidade de área cultivada, como é o caso das culturas de tomate e batata, conforme a tabela 4. Tabela 4 - Consumo de agrotóxicos por unidade de área em algumas culturas agrícolas no Brasil, em quantidade de ingredientes ativos, 1998. Cultura Quantidade (kg / ha) Tomate 52,5 Batata 28,8 Citros 12,4 Algodão 5,9 Café 4,2 Cana-de-Açúlcar 2,0 Soja 3,2 Geral 2,9 Fontes dos dados básicos para os cálculos: SINDIVEG e IBGE. Ao discorrer sobre o consumo de agrotóxicos pela população brasileira, Kugler (2012) escreve reportagem intitulada “O paraíso dos agrotóxicos”, onde chama a atenção para o uso de substâncias já proibidas em vários países, que ainda estão sendo comercializadas no Brasil. Apesar de sua economia agrária pujante, o Brasil é o país, que pelo quinto ano consecutivo, é o maior consumidor de 32 agrotóxicos do planeta e quem paga pela intoxicação dos trabalhadores e pela contaminação ambiental é a sociedade. Como alternativa a este modelo de desenvlovimento econômico, surge o sistema orgânico de produção de alimentos, o qual, segundo Trivelato e Freitas (2003), foi proposto pelo engenheiro agrônomo inglês, Albert Howard, como fruto de um longo período de pesquisas agrícolas na Índia, no início do século XX. Logo no princípio, percebeu que os agricultores não utilizavam fertilizantes químicos nem agrotóxicos, na agricultura e na pecuária. Levando em conta o conhecimento dos camponeses, fez vários experimentos que o levaram a reconhecer que o fator essencial para a saúde das plantas e dos animais estava na fertilidade do solo. Todavia, este não é um processo novo, visto que entre 1924 e 1931, desenvolveu o método Indoor de compostagem, pelo qual os resíduos vegetais e animais da fazenda eram transformados em húmus, os quais, aplicado ao solo, em época conveniente, restaurava a fertilidade, por meio de processos biológicos naturais e estimulados pela manutenção da vida biológica do solo e favorecia a nutrição equilibrada e a sanidade das culturas (BONILLA,1992 apud TRIVELLATO; FREITAS, 2003, p.12). A saúde humana e das demais espécies que compõem a biota, está diretamente ligada à saúde do solo. A maneira em que o solo é tratado, o manejo que ele recebe, vai refletir na qualidade de vida de todos, sem exceção. Quando se utiliza de agrotóxicos no controle das pragas agrícolas, contamina-se toda uma cadeia alimentar, bem como, os demais recursos naturais, como o ar atmosférico, as àguas e principalmente o solo, com toda a sua vida microbiana, o que irá refletir na saúde do consumidor destes alimentos. Segundo Fonseca (2009) surgiu na Europa o embate entre os representantes da agricultura convencional e os ativistas da agricultura alternativa, o qual foi para nos tribunais da Alemanha, momento no qual a denominação agricultura orgânica surgiu como exclusividade do modelo de agricultura não industrial, sendo oficializado a níveis internacionais, sendo assim, adotaram algumas terminologias, para efeito de regulamentação em geral, como a biológica, que está ligada aos países de língua francesa; a ecológica nos países de língua espanhola e, por fim, a orgânica aos países de língua inglesa e/ou de origem anglo-saxônica, a qual foi adotada pelas normas internacionais como referência para a agricultura orgânica. No Brasil, o termo “orgânico” foi o institucionalizado nos regulamentos 33 técnicos, absorvendo os demais: biodinâmico, natural, biológico, agroecológico, como também, da permacultura. Nesta linha, Almeida (2003) informa que já existem muitas iniciativas tanto de grupos e organizações sociais, como no âmbito governamental e nãogovernamental (experiências de ONGs, associações de agricultores, sindicatos, dentre outros), focadas na pesquisa ou na recuperação de alternativas tecnológicas aos sistemas produtivos “convencionais”, considerados esgotados, pois são “poluentes”, antieconômicos e incapazes de promover a autonomia dos agricultores familiares envolvidos. Com tanta modernização degradativa, asseveram Aligleri, Aligleri e Kruglianskas (2009) que tem surgido novas oportunidades para o setor dos agronegócios, propiciado pelas políticas públicas pautadas no desenvolvimento sustentável6, que auxiliam a mudar a imagem do setor. 3.1.1 SISTEMA ORGÂNICO DE PRODUÇÃO Os alimentos produzidos pelo sistema de produção de alimentos convencional têm contribuído para as sequelas provocadas na saúde humana pelo consumo de alimentos provenientes de uma agricultura, cujo modelo de produção tem se valido do uso intensivo de recursos externos. Esse modelo de produção está esgotado, por promover a exclusão social e a degradação ambiental, com elevados custos sociais e de produção. Visando garantir a oferta de alimentos seguros, de forma sustentável e a manutenção do pequeno agricultor no campo, os sistemas de produção alternativos, baseados em princípios agroecológicos têm sido cada vez mais aceitos. A agroecologia é uma ciência, surgida na década de 1970, como forma de estabelecer uma base teórica, para diferentes movimentos de agricultura alternativa, que então ganhavam força, com os sinais de esgotamento da agricultura moderna. No entanto, apesar de ser um termo que surgiu vizinho às diferentes correntes da agricultura alternativa, não deve ser entendida como uma prática agrícola. É uma ciência que busca o entendimento do funcionamento de agroecossistemas 6 Jara (1998) assinala que: “trata-se da emergência de um novo paradigma para orientação dos processos, de uma reavaliação dos relacionamentos da economia e da sociedade com a natureza e do estado com a sociedade civil.” 34 complexos, bem como das diferentes interações presentes nestes, tendo como princípio a conservação e a ampliação da biodiversidade dos sistemas agrícolas, como base para produzir auto-regulação e consequentemente, sustentabilidade. (ASSIS e ROMEIRO,2002) Para Caporal, Costabeber e Paulus (2011) a Agroecologia vem se sedimentando como ciência que serve de alicerce para um novo paradigma de desenvolvimento rural, devido à mesma se apresenta como uma matriz disciplinar, integradora, totalizante, holística, capaz de apreender e aplicar conhecimentos oriundos de várias disciplinas científicas, sendo considerado o principal enfoque científico contemporâneo, tendo como desiderato a transição dos modelos de desenvolvimento convencional e de uma agricultura altamente impactante para um novo paradigma de desenvolvimento rural e de agricultura sustentáveis. A ciência da Agroecologia reconhece, de forma integradora e empírica, os saberes, os conhecimentos, bem como, as experiências dos agricultores, dos povos indígenas e dos demais atores sociais que, de alguma forma, participam dos processos de desenvolvimento rural, incorporando o potencial endógeno como um elemento fundamental, de forma incipiente para a transição agroecológica, o que facilita a aprendizagem levando em conta os fatores socioculturais e agro ecossistêmicos que constituem as bases estratégicas de qualquer iniciativa de desenvolvimento rural ou de desenho de agroecossistemas que visem à sustentabilidade. Neste sentido, Caporal, Costabeber e Paulus (2011) aduzem que a Agroecologia não se enquadra no paradigma convencional, cartesiano e reducionista, conhecido como o paradigma da simplificação (disjunção ou redução), pois, como ensinam os autores, esse não consegue reconhecer a existência do problema da complexidade. Numa visão holística, observa-se que tanto nas relações do homem com seus semelhantes, bem como com os outros seres vivos e com o meio em que vivemos, tem que ser estudadas através de um novo enfoque paradigmático, valendo-se dos saberes populares, como também, dos conhecimentos gerados por diversas disciplinas científicas, tratando dos problemas de forma completa, na sua totalidade. Segundo Altieri (2008), a agroecologia fornece uma estrutura metodológica de trabalho, para um entendimento aprofundado tanto da natureza dos agroecossistemas, como dos princípios que regem a matéria ventilada. Nesta nova abordagem há uma integração dos princípios agronômicos, ecológicos e 35 socioeconômicos à compreensão e avaliação do efeito das tecnologias sobre os sistemas agrícolas, bem como, na sociedade como um todo. Os agroecossistemas são utilizados como unidade de estudo, saindo de uma visão unidimensional da genética, agronomia e edafologia, incluindo dimensões ecológicas, sociais e culturais. Através da agroecológica os pesquisadores utilizam-se do conhecimento e das técnicas dos agricultores, passando a desenvolver agroecossistemas com uma dependência mínima de insumos agroquímicos e energéticos externos. Para Lago et al (2006), a agricultura familiar é considerada a mais adequada para a prática desses princípios, que preenchem a lacuna de tecnologias adaptadas às reais necessidades dos agricultores familiares. Ressaltando que a agricultura familiar, levando-se em conta o aspecto econômico, está amplamente vinculada ao espaço local, o que viabiiza a formação de mercados regionais, possibilitando a integração dos interesses dos componentes desta cadeia produtiva para a viabilidade do desenvolvimento sustentável a partir da ação local. O desenvolvimento sustentável pode ser atingido com a adoção do sistema orgânico de produção de alimentos, por parte da agricultura familiar. Dentro dessa visão local, Faver (2004) aduz que a agricultura familiar pode proporcionar resultados econômicos mais lentos, porém mais viáveis no aspecto econômico, ambiental, bem como, no aspecto social, a longo prazo. Sendo assim, a escolha das tecnologias visando o aumento da produtividade na agricultura, deve racionalizar o uso da água e evitar agroquímicos, passando a aplicar adubos orgânicos e defensivos alternativos, o que se coaduna com o sistema orgânico de produção. O desenvolvimento sustentável da agricultura familiar alberga o conceito exposto por Cunha, Sousa e Machado (2010), segundo o qual, o sistema orgânico de produção agropecuária, de acordo como está expresso na Lei 10.831, de 2003, é todo aquele em que se adotam técnicas específicas, mediante a otimização do uso dos recursos naturais e socioeconômicos disponíveis e o respeito à integridade cultural das comunidades rurais, tendo por objetivo a sustentabilidade econômica e ecológica, a maximização dos benefícios sociais, a minimização da dependência de energia não-renovável, empregando, sempre que possível, métodos culturais, biológicos e mecânicos, em contraposição ao uso de materiais sintéticos, a eliminação do uso de organismos geneticamente modificados e radiações ionizantes, em qualquer fase do processo de produção, processamento, 36 armazenamento, distribuição e comercialização, e a proteção do meio ambiente (BRASIL, 2013e). De acordo com as autoras, a agricultura orgânica teria surgido no Brasil, apenas na década de setenta, porém só na década posterior, devido a conscientização ecológica, ocorreu a expansão do mercado dos alimentos produzidos pelo sistema orgânico, quando surgiram várias cooperativas e associações voltadas para este tipo de atividade. Nesse sentido, Fonseca (2009) afirma, com fulcro na legislação que alberga a matéria, que a agricultura orgânica compreende os sistemas agrícolas que promovam não só a produção de alimentos, mas também outras produções como as de fibras e outros produtos, como os cosméticos, óleos essenciais, etc., sempre de forma sustentável, ambiental, social e economicamente responsável. Tais sistemas de produção visam otimizar a qualidade, em todos os aspectos da agricultura, bem como, do ambiente e da sua interação com a humanidade, respeitando à capacidade natural das plantas, animais e ecossistemas, dentro de um limite de tolerância dos seus ecossistemas. Na visão de Lima e Sousa (2011), os alimentos orgânicos são aqueles in natura ou processados, provenientes de sistemas de cultivo, cujas técnicas visam ofertar produtos saudáveis e descontaminados, com práticas que respeitam o meio ambiente, visando o desenvolvimento sustentável. Nessa linha, Santos e Monteiro (2004) afirmam que a agricultura orgânica tem como princípios e práticas a valorização dos ciclos biológicos, que estão presentes, nos ecossistemas naturais, imitando-os nas práticas agrícolas com o objetivo de garantir a fertilidade do solo, bem como a sua conservação. A agricultura orgânica tem como princípios e práticas, a valorização dos ciclos biológicos, que estão presentes nos ecossistemas naturais, imitando-os nas práticas agrícolas, com o objetivo de garantir a fertilidade do solo, bem como a sua conservação. Visando a produção de alimentos de boa qualidade e quantidade, outros princípios presentes neste sistema de produção agroecológica é a preservação da diversidade genética, levando-se sempre em conta os aspectos ambientais e sociais. Os produtores e consumidores adeptos deste sistema de produção de alimentos observaram que os mesmo são mais saudáveis, por não usarem insumos químicos, que acarretam impactos e danos para a saúde dos consumidores e do meio ambiente. 37 Por ser ecologicamente correto, socialmente justo e economicamente viável, o sistema orgânico de produção de alimentos vem crescendo de forma acentuada, tanto em áreas cultivadas, como em termos de mercado consumidor, sem contar com o mercado institucionalizado que existe, através dos programas previstos nas políticas de incentivo a agroecologia, a agricultura familiar, de assistência e extensão rural e do PNAE. Para Santos e Monteiro (2004), o crescimento da agricultura orgânica se deve, principalmente, à utilização em larga escala de produtos químicos pela agricultura convencional, assim como à conscientização quanto aos efeitos danosos provocados pelos agrotóxicos, à saúde dos consumidores. Apesar disso, o mercado de produtos orgânicos apresenta algumas dificuldades, como a baixa produtividade, o atendimento às exigências legais, para que estejam adequados aos critérios colocados, para que receba o reconhecimento como alimentos produzidos pelo sistema orgânico de produção, a necessidade do pagamento da certificação, quando empregado o método de auditoria, de fiscalização e assistência técnica que aumentam os custos. Mesmo diante de tais dificuldades, alguns estudos comparativos entre os sistemas orgânico e convencional, mostraram que o sistema orgânico pode ser vantajoso e competitivo tanto do ponto de vista econômico quanto ambiental (SANTOS E MONTEIRO, 2004). Tais vantagens podem ser percebidas no texto da Lei dos Alimentos Orgânicos, Lei nº 10.831/2003, no seu art.1º, § 1º, a finalidade de um sistema de produção orgânico é: I – a oferta de produtos saudáveis isentos de contaminantes intencionais; II – a preservação da diversidade biológica dos ecossistemas naturais e a recomposição ou incremento da diversidade biológica dos ecossistemas modificados em que se insere o sistema de produção; III – incrementar a atividade biológica do solo; IV – promover um uso saudável do solo, da água e do ar, e reduzir ao mínimo todas as formas de contaminação desses elementos que possam resultar das práticas agrícolas; V – manter ou incrementar a fertilidade do solo a longo prazo; VI – a reciclagem de resíduos de origem orgânica, reduzindo ao mínimo o emprego de recursos não-renováveis; VII – basear-se em recursos renováveis e em sistemas agrícolas organizados localmente; VIII – incentivar a integração entre os diferentes segmentos da cadeia produtiva e de consumo de produtos orgânicos e a regionalização da produção e comércio desses produtos; IX – manipular os produtos agrícolas com base no uso de métodos de elaboração cuidadosos, com o propósito de manter a integridade orgânica e as qualidades vitais do produto em todas as etapas. (BRASIL, 2013e) 38 Da análise do art.1º, § 1º da Lei dos Alimentos Orgânicos, Lei nº 10.831/2003, ressalta-se a previsão contida no inciso VI, que reza o seguinte: “a reciclagem de resíduos de origem orgânica, reduzindo ao mínimo o emprego de recursos não-renováveis.” Observa-se que há uma preocupação com a questão da produção dos resíduos sólidos pela atividade agrícola, estimulando-se, inclusive, a reciclagem dos resíduos de origem orgânica e pregando a minimização do uso de recursos não renováveis. A Lei dos Alimentos Orgânicos (Lei nº 10.831/2003) encontra-se em sintonia com a previsão contida na Lei nº 7.802/89, alterada pela Lei 9.974/00, complementada posteriormente pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei nº 12.305, de agosto de 2010) quanto aos aspectos da reciclagem de resíduos de origem orgânica, minimização do emprego de recursos não renováveis, que por consequência reduz a produção de resíduos sólidos, por também se basear em recursos renováveis e em sistemas agrícolas organizados localmente. Com o advento da responsabilidade compartilhada, pelo ciclo de vida dos produtos, segundo Araújo e Juras (2011), o Brasil acompanhou a legislação Alemã, que se aplica em toda a União Europeia, de forma visionária, a abordagem da temática da gestão dos resíduos sólidos é ultramoderna, indo além da implantação de um eficiente sistema de coleta, tratamento e disposição do lixo produzido, incentivando a redução da geração e da periculosidade, bem como, o seu reaproveitamento, efetivando-se o princípio constitucional do poluidor-pagador, ou, como também é conhecido, “princípio da responsabilização pelo dano ambiental”, aplicando-se tanto na atividade produtiva, mas também pelo consumidor. Araújo e Juras (2011) observam que já havia previsão da responsabilidade pós-consumo para os agrotóxicos, seus resíduos e embalagens previstas na Lei nº 7.802/89, alterada pela Lei 9.974/00. Na questão dos resíduos gerados pelo uso de agrotóxicos, de ser levada em conta como ela é percebida pela sociedade, pois de acordo com Siqueira (2008), existe uma inconsistência da percepção da sociedade, sobre os riscos ambientais, levando-se ao questionamento se tais inconsistências devem ser consideradas quando da formulação das políticas ambientais. Pois tais opiniões sobre as consequências dos problemas ambientais têm uma maior prioridade nas diretrizes 39 das políticas públicas do que as probabilidades de ocorrência de um problema ambiental. Como se denota, a percepção quanto aos problemas ambientais devem ser levados em conta, quando se refere às políticas públicas focadas na sustentabilidade da agricultura. Para assegurar o sustento de uma população em expansão é preciso dar prioridade à manutenção e aperfeiçoamento da capacidade das terras agrícolas de maior potencial. No entanto a conservação e a reabilitação dos recursos naturais das terras com menor potencial, com o objetivo de manter uma razão homem/terra sustentável, também são necessárias. Os principais instrumentos do desenvolvimento rural e agrícola sustentável são a reforma da política agrícola, a reforma agrária, a participação, a diversificação dos rendimentos, a conservação da terra e um melhor manejo dos insumos. O êxito do desenvolvimento rural e agrícola sustentável dependerá em ampla medida do apoio e da participação das populações rurais, dos Governos nacionais, do setor privado e da cooperação internacional, inclusive da cooperação técnica e científica. (BRASIL, 2013a) Ao tratar da temática referente à segurança alimentar e agricultura sustentável, na Rio + 20, foi Produzido pelo Departamento de Informação Pública das Nações Unidas, junho de 2012, um texto no qual se defende que: “se feito da forma correta, a agricultura, o aproveitamento das florestas e a pesca podem oferecer alimentos nutritivos para todos e gerar salários decentes para trabalhadores nestes setores, ao mesmo tempo em que provê suporte necessário para o desenvolvimento rural voltado para o ser humano e também para a proteção do meio ambiente. Quase toda definição de agricultura sustentável encontra-se ancorada na manutenção da produtividade e lucratividade das unidades de produção agrícola, minimizando, ao mesmo tempo, impactos ambientais. Entretanto, nenhuma dessas definições foi quantitativa, e a produtividade da base de recursos naturais, fundamental à sustentabilidade, ainda não foi contabilizada em seus diferentes fatores nas definições de produtividade agrícola. A noção de sustentabilidade agrícola tem sido, assim, de uso limitado para formuladores de políticas e pesquisadores, na tentativa de determinar os efeitos das várias políticas e tecnologias (ALTIERI, 2004). 40 Com a sua evolução, tanto quanto a ampliação de mercado, como em razão da sua importância social, ambiental e alimentar, a agricultura orgânica passou a ser tratada através da Lei nº 10.831, de 23 de dezembro de 2003 que normatizou a referida prática dessa agricultura em nosso país, suas técnicas de cultivo agropecuário vem crescendo não só no Brasil, mas em várias partes do nosso planeta. O Decreto nº 6.323, de 28 de dezembro de 2007, regulamentou a matéria hora ventilada, esclarecendo os seus conceitos e as suas diretrizes. Como se observa, ab initio, o legislador ao conceituar o sistema orgânico de produção agropecuária prever a aplicação de técnicas específicas, sem, no entanto, enumerá-las, sabe-se que estas são as mais naturais possíveis, inclusive imitando os processos ecológicos presentes na natureza, os ciclos biológicos observados nas demais técnicas, tidas como sistema orgânico de produção, entre eles os ecológico, biodinâmico, natural, regenerativo, biológico, agroecológicos, permacultura e outros que atendam os princípios estabelecidos pela lei trazida à baila. No Art. 2º, o legislador, ao conceituar os produtos da agricultura orgânica ou produto orgânico fez referência aos produzidos pelo sistema orgânico de produção agropecuário ou oriundo de processo extrativista sustentável, que não seja prejudicial ao ecossistema local, colocando assim um dos pilares do desenvolvimento sustentável em evidência, ao seja, que sejam ecologicamente corretos, independentemente de se apresentarem in natura ou processados. Numa visão agronômica, para Trivellato e Freitas (2003), “os sistemas orgânicos de agricultura buscam obter solos e lavouras saudáveis através de práticas de reciclagem dos nutrientes e da matéria orgânica, na forma de composto ou restituição dos resíduos de cultura ao solo; rotação de culturas; e práticas apropriadas de preparo do solo”. São requerimentos básicos da agricultura orgânica: - matéria orgânica responsável pela melhoria da fertilidade e vida do solo; - substâncias húmicas são indispensáveis na nutrição vegetal (estimulam o crescimento das raízes, aumentando sua capacidade de absorção de nutrientes, hormônios de crescimento, antibióticos, vitaminas, aminoácidos e de outros componentes minerais e orgânicos, liberados no solo pela atividade microbiana); - o solo é considerado um organismo vivo, onde ocorre uma série de processos biológicos e dinâmicos essenciais à saúde das plantas; - associação entre produção vegetal e produção animal; - compostagem em pilhas (processo Indore) e - integração produtor e consumidor final. (TRIVELLATO; FREITAS, 2003, p.12). 41 O sistema orgânico é o resultado de técnicas que imitam o que acontece naturalmente nos ecossistemas: reciclagens, decomposição, relações ecológicas harmônicas e desarmônicas, equilíbrio, fatores bióticos e abióticos, provocados por um dos elementos da cadeia alimentar, o homem. O solo recebe um tratamento de conservação e preservação adequado a suas características edáficas e climáticas, observando-se um correto manejo dos recursos hídricos, levando-se sempre em conta a biodiversidade, com a preservação e recuperação das matas e vegetações nativas, sendo terminantemente proibido o uso de agrotóxicos, de adubos químicos e a ultilização de materiais trangênicos. Existe uma certa tolerância ao uso de vacinas para uso animal, apesar de já ser utilizada a homeopatia. O Brasil Agroecológico prevê ainda, que: “Outro aspecto a ser considerado é a conservação dos ecossistemas naturais e a recomposição ou incremento da diversidade biológica dos ambientes modificados. A conservação da agrobiodiversidade é fundamental para manter a autonomia e a sustentabilidade da produção. Essa visão nos remete à necessidade de se entender a dinâmica do conjunto dos recursos naturais, não só da unidade de produção, mas também no contexto do território onde está inserida. Para avançar nesse caminho, é necessário empoderar as comunidades para que sejam protagonistas de suas próprias histórias e tenham a capacidade de gerar processos sustentáveis com a mediação, quando necessária, de agentes externos. As instâncias de participação e controle sociais já constituídas, na forma de redes, fóruns e organizações, terão importante papel na implementação e acompanhamento do Plano.” (BRASIL, 2014c) Para uma produção ser tida como orgânica, além de observar as diretrizes previstas no Plano, a cima trancritas pelo MDA, necessita observar as obrigações sociais, tais como as decorretes das leis trabalhistas, previdenciárias e tributárias. A segurança alimentar prevista na legislação que trata da alimentação orgânica, não se preocupou somente com a oferta quantitativa de alimentos, priorizou também com a qualidade dos produtos ofertados na mesa dos brasileiros. Quem consome estes produtos ajuda a preservar os ecossistemas e a biodiversidade, onde está inserido o consumidor local. Há um cuidado com os elementos da natureza, em especial com o solo, cujo manejo que lhe é aplicado leva em conta a sua condição como um organismo vivo, preservando e melhorando suas 42 características físicas, químicas e microbiológicas. O sistema agrícola organizado promove o desenvolvimento local, incentivando a integração entre os diferentes segmentos da cadeia produtiva e de consumo. Através do manejo ecológico do solo se promove a recuperação e o enriquecimento da fertilidade do solo, para isso, mais uma vez imitando a natureza, adota-se a reciclagem de resíduos de origem orgânica e se minimiza o emprego de recursos não renováveis, reduzindo o impacto ambiental decorrente das práticas agropecuárias. [...] Promover qualidade de vida com proteção ao meio ambiente. Este é o objetivo da produção orgânica vegetal e animal. Sua principal característica é não utilizar agrotóxicos, adubos químicos ou substâncias sintéticas que agridam o meio ambiente. Para ser considerado orgânico, o processo produtivo contempla o uso responsável do solo, da água, do ar e dos demais recursos naturais, respeitando as relações sociais e culturais. O Brasil já ocupa posição de destaque na produção mundial de orgânicos. (BRASIL, 2013h) Como se observa para ser considerado orgânico, o produtor tem que atender a algumas exigências, que começam com uma “quarentena”, que equivale a um período de dois anos, sem a utilização de agrotóxicos e de adubação química na propriedade, onde vai ser instalado o referido sistema de produção de alimentos, que serve como se fosse um período de desintoxicação do ambiente, bem como uma garantia, para se adequar a uma nova prática agrícola. Santos e Monteiro (2004) apontam alguns requisitos, para que haja uma produção de alimentos orgânicos. Neste sentido, o agricultor ficará submetido às orientações técnicas e a um processo de investigação, no qual se analisará a viabilidade ambiental da propriedade e se as práticas e manejos que estão sendo aplicados estão de acordo com os preceitos do sistema orgânico de produção de alimentos, bem como, as condições de trabalho e de vida dos trabalhadores, se as legislações laboral, previdenciária, sanitária e de resíduos sólidos estão sendo observadas. Visando a racionalização e preservação dos recursos naturais, o produtor deverá observar as exigências e recomendações em todas as etapas de produção, desde a preparação do ambiente e do solo à embalagem dos alimentos. Para dar garantias para o mercado consumidor, de que aquele alimento atendeu aos requisitos da produção orgânica, este passa por uma certificação por Auditoria ou através do Sistema Participativo, mas em qualquer das opções ele recebe um selo que deve constar da embalagem dos produtos. O Ministério da 43 Agricultura Pecuária e Abastecimento disponibiliza uma listagem de organismos credenciados a prestarem os serviços de avaliação da conformidade orgânica, que atuam no Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica, bem como, os Organismos Participativos de Avaliação da Conformidade Orgânica (Sistema Participativo). Certificadoras e seus respectivos selos, que tem a finalidade de facilitar a identificação dos alimentos produzidos pelo sistema orgânico pelo consumidor, dão uma garantia de que estão em conformidade com os regulamentos e normas técnicas do referido sistema de produção, respeitando as vertentes do desenvolvimento sustentável. O Decreto nº 6.323, de 27 de Dezembro de 2007, que regulamenta a Lei nº 10.831 sobre a agricultura orgânica, prever o Sistemas Participativos de Garantia como um dos mecanismos de garantia que integram o Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica (SISORG/ MAPA). De acordo com o SISORG/ MAPA, para dar garantia ao consumidor de que foram observadas as diretrizes que regulamentam a produção orgânica, existem alguns meios, dentre eles, o selo SisOrg que é obtido através de uma Certificação por Auditoria ou por um Sistema Participativo de Garantia. Os agricultores familiares são os únicos autorizados a realizar vendas diretas ao consumidor sem certificação, desde que integrem alguma organização de controle social cadastrada nos órgãos fiscalizadores. Existe uma Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo (SDC), que coordena a Agroecologia no Brasil, através do Ministério da Agricultura, o qual é o responsável pelo desenvolvimento da agricultura orgânica no nosso país. Tem como atribuições: a promoção, o fomento, a elaboração de normas e a implementação de mecanismos de controle. Segundo Lima e Sousa (2011), com a certificação os consumidores terão uma maior garantia quanto ao processo de produção dos alimentos produzidos no sistema orgânico, o que dá credibilidade a quem o consome, já que apresenta uma maior transparência dos métodos utilizados. Ainda, quanto à questão da certificação, continuam as autoras, esta é dispensada no caso das associações de produtores orgânicos, existe uma fiscalização por parte dos próprios associados, que têm interesse em assegurar a lisura de processo produtivo e de comercialização. Como se observa, na hora dos alimentos in natura ou processados, produzidos pelo sistema orgânico serem comercializados, terão os mesmos que atenderem alguns pré-requisitos previstos na legislação que trata da presente 44 política, dentre eles a certificação feita por certificadoras reconhecidas pelos Órgãos Públicos que lidam com a matéria ou através da certificação social feita através de associações e instituições privadas. Para que haja uma maior adesão aos sistemas de produção agroecológicos, o Ministério do Desenvolvimento Agrário, através das suas parcerias, executa o programa de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER), com ênfase na agroecologia, visando aperfeiçoar os sistemas de produção da agricultura familiar por meio do apoio especializado, o qual, através de um modelo de educação não formal transversal, coloca em prática a política pública que leva assistência técnica às propriedades rurais, promovendo, assim, melhorias nos processos de trabalho, o que reflete na qualidade de vida dos agricultores. (BRASIL, 2014e) Portanto, há um liame de credibilidade envolvendo os atores que participam do processo fomentado pelo PNAE, pois, além de visar à aquisição de alimentos mais saudáveis para serem servidos nas escolas, outro objetivo, bem claro, está ligado a questão do comércio solidário criado através de um mercado institucional para favorecer os agricultores familiares, que atendam as determinações contida nas políticas públicas envolvidas. 3.2 ALIMENTAÇÃO ESCOLAR O Programa Nacional da Alimentação Escolar - PNAE, através da Lei nº 11.947/2009, apresenta as diretrizes que procuram integrar a Política Nacional da Segurança Alimentar e Nutricional, criando um sistema de base agroecológica e sustentável de produção, extração, processamento e distribuição de alimentos, junto com a Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica, que é um marco regulatório na produção orgânica nacional, definido pela Lei nº 10.831/2003. A Lei dos Alimentos Orgânicos, regulamentada pelo Decreto nº 7.794 de 20 de agosto de 2012, instituiu a Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica, visando de forma institucionalizada promover o desenvolvimento rural local sustentável. Segundo Belik e Chaim (2009), bem antes, em 1954, aqui no Brasil a Comissão Nacional de Alimentação (CNA), vinculada ao Setor de Saúde Pública do Ministério da Saúde, criava o Programa Nacional de Merenda Escolar, hoje denominado Programa Nacional da Alimentação Escolar, que naquela época, já 45 visava reduzir a deficiência nutricional de estudantes carentes do nosso país. Posteriormente, já em 1988, o referido programa passou a ter abrangência nacional, quando a alimentação escolar ficou garantida como um direito de status constitucional previsto no artigo 208, inciso VII da Constituição Federal como “dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de atendimento ao educando, no ensino fundamental, a partir de programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde”. O desenvolvimento local sustentável está contido no conceito de segurança alimentar e nutricional, uma vez que este almeja garantir o direito universal de acesso a uma alimentação produzida observando a diversidade cultural e a questão da conservação dos recursos naturais. Alinhados com as políticas públicas supramencionadas leva em conta as dimensões econômicas e sociais, presentes nas atividades sustentáveis. O conceito ampliado de segurança alimentar e nutricional – SAN remete à realização do direito universal ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade adequada em quantidade suficiente, sem que isso represente comprometimento do acesso a outras necessidades essenciais e tendo como base, práticas alimentares promotoras de saúde que respeitem a diversidade cultural e que sejam ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentáveis (BRASIL, 2010a; GALLINA et al. 2012,p.2) Segundo Gallina et al. (2012), o Programa Nacional de Alimentação Escolar - PNAE é o mais antigo programa do Governo Federal brasileiro na área de alimentação e nutrição. Para Chaves et al (2009) é considerado um eixo das políticas públicas específicas destinadas a promover a segurança alimentar e nutricional. O PNAE, segundo fontes do Fundo Nacional de Desenvolvimento Educacional - FNDE (2011), atendeu a 45,6 milhões de estudantes da educação básica e de jovens e adultos no ano de 2010, devido a sua amplitude e qualidade, vem sendo considerado um exemplo a nível mundial, servindo de referencial na área da alimentação escolar, atendeu cerca de 24,0% da população brasileira (IBGE, 2010). Desde 1955, ano de sua criação, até 1993, a execução do Programa deuse de forma centralizada, quando o órgão gerenciador era o responsável pelo planejamento de cardápios e pela aquisição, controle de qualidade e distribuição de gêneros alimentícios em todo o território nacional (PIPITONE et al 2003). A partir daí, com a descentralização, transferiram-se aos Estados e Municípios os recursos e, 46 juntamente com eles, a autonomia para o planejamento e a execução do Programa. (GALLINA et al., 2012). A descentralização do PNAE promove o desenvolvimento local sustentável, através da aquisição da produção de alimentos saudáveis, visando observar a segurança alimentar e nutricional, através da oferta regular e contínua de alimentos com a qualidade e quantidade adequadas às necessidades dos estudantes da rede pública de ensino, criando, assim, práticas saudáveis que respeitem a diversidade cultural dos hábitos alimentares nos cardápios escolares. Para que as práticas sejam saudáveis, é importante que se evite a oferta de alimentos contaminados, neste sentido, a agricultura familiar e os sistemas de produção agropecuários praticados, dentro dos parâmetros da agroecologia, estão implícitos na Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional e do Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional - SAN, conforme diretrizes que visam assegurar o desenvolvimento socioeconômico sustentável. Segundo Melão (2012) o PNAE leva em conta a vocação agrícola local, bem como, a culinária e os hábitos alimentares peculiares de toda a nação, atendendo a uma faixa da população considerada de risco, constituída por um grande universo de estudantes das escolas públicas, fomentando o desenvolvimento sustentável local. Dentre as vantagens supra elencadas, Belik e Chaim (2009) aduzem que o PNAE garante as diretrizes da Política de Segurança Alimentar e Nutricional, que se coaduna com a definição do conceito de Segurança Alimentar adotando as recomendações e diretrizes emitidas na Cúpula Mundial da Alimentação, realizada pela Food and Agriculture Organization - FAO, em Roma, a qual reconhece que: “A pobreza é a maior causa de insegurança alimentar. Um desenvolvimento sustentável, capaz de erradicá-la, é crucial para melhorar o acesso aos alimentos. Conflitos, terrorismo, corrupção e degradação do meio ambiente também contribuem significativamente para a insegurança alimentar. Esforços para aumentar a produção de alimentos, incluindo os alimentos de base, devem ser feitos. Estes devem ser realizados dentro de um quadro sustentável de gestão dos recursos naturais, eliminação de modelos de consumo e produção não sustentáveis, particularmente nos países industrializados, e a estabilização imediata da população mundial. Nós reconhecemos a contribuição fundamental da mulher para a segurança alimentar, principalmente nas zonas rurais dos países em desenvolvimento, e a necessidade de promover a igualdade entre homens e mulheres. Para reforçar a estabilidade social e impedir o êxodo rural, que muitos países enfrentam, deve-se considerar prioritária também a revitalização das zonas rurais” (FAO, 1996). 47 Uma forma de contribuir para a fixação do homem no campo, vivendo com dignidade, é a garantia mínima de vendas da sua produção, através do institucionalizado criado pelo PNAE. Como se observa é dever do Estado elaborar programas que visem suplementar a alimentação escolar, com esse desiderato foi elaborada a Política Nacional da Alimentação Escolar (PNAE), que através da Lei nº 11.947/2009 apresenta em seu conjunto às diretrizes que procura integrar a Política Nacional da Segurança Alimentar e Nutricional, que visa criar um sistema justo de base agroecológica e sustentáveis de produção, extração, processamento e distribuição de alimentos de forma descentralizada, para as escolas públicas que venham a aderir ao programa. No Brasil, devido a sua amplitude territorial, Chaves et al (2009) aduzem que o PNAE esta inserido no contexto alimentar complexo que devido aos mais variados fatores levam a uma rica diversidade de hábitos alimentares locais, caracterizando a cultura da cada região geográfica do país. Sendo assim, é importante que sejam observadas as necessidades nutricionais do alunado, bem como a importância de se preservar o resgate da cultua alimentar brasileira, presente na sua culinária. Percebe-se que não só os aspectos nutricionais almejados pelo PNAE estão presentes no cardápio escolar, mas vários fatores que representam a cultura de um povo, através de seus hábitos alimentares que estão diretamente ligados ao clima, à geografia, à religiosidade, à miscigenação, bem como, à produção agrícola local, dentre outros importantes aspectos. Outro aspecto importante foi levantado por Triches e Schneider (2010) ao ressaltar que no agronegócio são muito fortes as práticas tradicionais, representadas pela agricultura intensiva, com demasiado uso de agrotóxicos e da mecanização, que visam um modelo produtivo no qual se produz e oferta alimentos que trazem consigo danos à saúde e ao meio ambiente, acarretando ainda, problemas sociais na zona rural. Visando minimizar estes impactos, o Estado adotou políticas públicas que observam a questão da segurança alimentar e nutricional sustentável, criando um modelo de produção e consumo de alimentos sustentáveis. Neste contexto, o PNAE criou um mercado institucionalizado, visando observar a questão socioambiental no novo modelo produtivo que beneficia a agricultura familiar, que vai fornecer alimentos produzidos diretamente pelo pequeno 48 produtor ao mercado consumidor, observando os cardápios elaborados para atenderem aos estudantes das escolas públicas. Complementa Marques (2012), afirmando ser uma medida importante tomada pelo governo federal, por meio do PNAE, atender às necessidades nutricionais do aluno com refeições saudáveis. Ressalta a autora, que desde junho de 2001, uma medida provisória, por exemplo, estabelece que a merenda deve respeitar os costumes regionais e a vocação agrícola do município. De acordo com Triches e Schneider (2010), o Estado teria papel primordial no que se refere aos mecanismos de aquisições institucionais, como também, quanto ao incentivo de determinadas cadeias alimentares e de modelos de saúde pública, em razão do seu poder de regulação, supervisão da qualidade, quando exerce o seu poder de polícia, além de exercer um papel de destaque quanto ao abastecimento alimentar. Dessa forma, o Estado promove práticas sustentáveis e hábitos alimentares saudáveis. Ao adotar determinadas diretrizes nas suas políticas públicas, viabilizará mudanças de comportamento do setor público, privado e do terceiro setor, bem como de indivíduos e famílias. Como se pode observar, o direito a uma alimentação saudável e adequada, inserido dentro os que fazem parte da dignidade da pessoa humana, está garantido pela Constituição Federal de 88, in verbis: Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: ... III - a dignidade da pessoa humana;... Acompanhando as diretrizes da Agenda 21, o direito fundamental do ser humano a uma alimentação adequada, foi incluído, de forma positivada, na Constituição Federal de 1988, no art. 6º, in verbis: Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 64, de 2010). Dando continuidade, o sistema legislativo brasileiro, em 2009, recepciona a Medida Provisória nº 455, de 2008 que foi convertida na conhecida Lei da Alimentação Escolar (Lei nº 11.947, de 16 de Junho de 2009), a qual dispõe sobre o atendimento da alimentação escolar e do Programa Dinheiro Direto na Escola aos alunos da educação básica. 49 No seu artigo 1º, conceitua merenda escolar como: “todo alimento oferecido no ambiente escolar, independentemente de sua origem, durante o período letivo”. Em seguida traça as diretrizes da alimentação escolar. “O Programa Nacional de Alimentação Escolar - PNAE tem por objetivo contribuir para o crescimento e o desenvolvimento biopsicossocial, a aprendizagem, o rendimento escolar e a formação de hábitos alimentares saudáveis dos alunos por meio de ações de educação alimentar e nutricional e da oferta de refeições que cubram as suas necessidades nutricionais durante o período letivo”, conforme preceitos do artigo 4º a referida Lei. No Art. 14. determina que: “do total dos recursos financeiros repassados pelo FNDE, no âmbito do PNAE, no mínimo 30% (trinta por cento) deverão ser utilizados na aquisição de gêneros alimentícios diretamente da agricultura familiar e do empreendedor familiar rural ou de suas organizações, priorizando-se os assentamentos da reforma agrária, as comunidades tradicionais indígenas e comunidades quilombolas.” Verifica-se claramente uma observância às diretrizes da Política Nacional da Segurança Alimentar e Nutricional, de forma entrelaçada, além de fomentar o desenvolvimento local sustentável da agricultura familiar. A presente política pública, instrumentalizada pela Lei da Alimentação Escolar, Lei nº 11.947/2009, visa garantir o desenvolvimento sustentável, movimentando a economia local, com o incentivo a produção de alimentos orgânicos, por serem mais saudáveis e produzidos de forma ecologicamente correta. Com foco a atender à Política Nacional da Segurança Alimentar e Nutricional, de acordo com as diretrizes traçadas pelo o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (SISAN), e as determinações da referida lei, pelo menos 30% dos recursos repassados pelo FNDE para a alimentação escolar devem ser aplicados na compra de produtos oriundos da agricultura familiar, priorizando os produtos orgânicos, o que serve como estímulo para o aumento deste sistema de produção agroecológico, dentro do viés da sustentabilidade previsto no próprio PNAE. Segundo Silva e Sousa (2013), tais previsões estão contidas nas novas diretrizes de execução do PNAE foram estabelecidas por meio da Lei nº 11.947/2009, regulamentada pela Resolução 38, de julho de 2009. A qual determina que no mínimo, 30% do total de recursos repassados pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), devem ser destinados para a aquisição de 50 alimentos, preferencialmente orgânicos, produzidos pela agricultura familiar do local, sendo dispensado o processo licitatório. Segundo Lima e Sousa (2011) existem alguns estudos, no que se refere às análises das vantagens desse tipo de alimento para os consumidores e/ou análises decorrentes, do ponto de vista do produtor/fornecedor, que adotam estas técnicas de produção, porém existe uma ausência, ou pouca discussão quanto à temática trazida à baila, no que se enfoque do consumidor institucional, incluído pelo PNAE. O que leva ao diagnóstico de que há uma carência na literatura científica de informações sobre a gestão do processo de produção de refeições a partir da introdução de alimentos orgânicos em escolas. 3.3 ARRANJO PRODUTIVO LOCAL Os Arranjos Produtivos Locais são aglomerações de várias empresas, localizadas em um mesmo território, que apresentam especialização produtiva e mantêm vínculos de articulação, interação, cooperação e aprendizagem entre si e com outros atores locais, tais como: governo, associações empresariais, instituições de crédito, ensino e pesquisa. O mesmo fenômeno é às vezes denominado arranjo produtivo local, sistema produtivo local ou mesmo cluster. No Brasil, a expressão mais utilizada é arranjo produtivo local. Entre os diversos conceitos existentes, destaca-se o de autoria da Rede de Pesquisa em Sistemas Produtivos e Inovativos Locais - Redesist, uma rede de pesquisa interdisciplinar, formalizada desde 1997, sediada no Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Seu principal foco de pesquisa são os arranjos e sistemas produtivos locais (BRASIL, 2013i). Arranjos produtivos locais são aglomerações territoriais de agentes econômicos, políticos e sociais - com foco em um conjunto específico de atividades econômicas - que apresentam vínculos mesmo que incipientes. Geralmente envolvem a participação e a interação de empresas - que podem ser desde produtoras de bens e serviços finais até fornecedoras de insumos e equipamentos, prestadoras de consultoria e serviços, comercializadoras, clientes, entre outros - e suas variadas formas de representação e associação. Incluem também diversas outras organizações públicas e privadas voltadas para: formação e capacitação de recursos humanos, como escolas técnicas e universidades; pesquisa, desenvolvimento e engenharia; política, promoção e financiamento.” (IBIDEM, 2013i). 51 Campos e Carvalho (2011) afirmam que é de suma importância identificar as potencialidades locais que resultem, por meio da execução de políticas públicas, bem como, de investimentos privados, no desenvolvimento de atividades econômicas voltadas para a produção, geração de emprego, aumento da renda, com elevado grau de competitividade. Neste contexto, dentre os atores sociais que fazem parte do Arranjo Produtivo Local, podemos citar o fortalecimento do papel das Organizações NãoGovernamentais, conhecidas comumente como ONGs, foi incentivado e disciplinado no Capítulo 27 da Agenda 21, quando tratou dos parceiros para um desenvolvimento sustentável. Ressaltando a importância da sociedade organizada, traçou a sua base para a ação, anunciando a importância do papel desempenhado pelas organizações não governamentais, quanto à implementação da democracia participativa, devido a sua credibilidade junto à sociedade. As organizações formais e informais, bem como os movimentos populares, exercem um papel fundamental na implementação das políticas traçadas na Agenda 21, em decorrência da sua independência, conforme se depreende, do texto infra: 27.2. Um dos principais desafios que a comunidade mundial enfrenta na busca da substituição dos padrões de desenvolvimento insustentável por um desenvolvimento ambientalmente saudável e sustentável é a necessidade de estimular o sentimento de que se persegue um objetivo comum em nome de todos os setores da sociedade. As chances de forjar um tal sentimento dependerão da disposição de todos os setores de participar de uma autêntica parceria social e diálogo, reconhecendo, ao mesmo tempo, a independência dos papéis, responsabilidades e aptidões especiais de cada um. (BRASIL, 2013a) A Agenda 21 reconhece a importância das ONGs devido à vasta experiência, conhecimento especializado e capacidade firmemente estabelecidos, que ajudam na execução e implementação de um programa votado para o desenvolvimento sustentável, ambientalmente saudável e socialmente responsável. Portanto, a comunidade das ONGs favorece a realização desses objetivos comuns. Para a exequibilidade dos projetos sustentáveis, vislumbrados nos programas traçados na Agenda 21, é de suma importância a interação das organizações não governamentais, para isso, deve-se promover a comunicação e cooperação entre elas e as organizações internacionais e os Governos nacionais e locais dentro das instituições encarregadas. 52 A partir de seu desenvolvimento no final dos anos 90, a abordagem de arranjos produtivos locais (APLs) teve difusão rápida no nosso país, substituindo termos afins na grande maioria das agendas de políticas. Desde então, os esforços realizados para o seu entendimento e promoção foram pioneiros e importantes, com um intenso processo de aprendizado e de incorporação de conhecimentos. A adoção generalizada do termo levou à inclusão de APLs como prioridade do governo federal, formalizada nos seus Planos Plurianuais desde 2000, no Plano Nacional de Ciência Tecnologia e Inovação 2007-2010 e na Política de Desenvolvimento Produtivo 20082013, entre outros. Destaca-se particularmente a criação de uma instância de coordenação das ações de apoio a APLs no país, o Grupo de Trabalho Permanente para APLs (GTP APL), coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), e integrado por 33 instituições públicas e privadas. Estes esforços contribuíram para a adesão ao termo para além da esfera pública federal, estimulando a criação de Núcleos Estaduais de Apoio a APLs em cada uma das Unidades da Federação, além de iniciativas privadas de organismos de representação empresarial e de agências internacionais. (BRASIL, 2013i). Para Fuini (2008), um APL se refere a reuniões de empresas locais, que apresentam especialização produtiva, vinculadas de forma articuladas, de tal maneira, que a interação flui na forma de cooperação e aprendizagem entre si e com outros atores locais, devido a uma troca sinergética entre as empresas e os governos, associações, instituições de crédito, ensino e pesquisa. Uma cadeia produtiva composta por empresas especializadas, aglomeradas em um dado território, também conhecido como distritos industriais, onde acontece uma divisão social do trabalho, de concatenada e harmônica, como se fosse uma relação ecológica, do tipo simbiótica, onde cada uma produz de forma especializada, para suprir as necessidades das outras, e dessa forma, segundo Fuini (2008), realizam as economias externas de escala, ou seja, o crescimento desses sistemas industriais urbanos é geralmente acompanhado por um suporte institucional de atividades e serviços, que contribuem para a consolidação do desenvolvimento econômico local, ou seja, há toda uma política pública por traz fomentando esta rede de associações comerciais, e demais instituições, que preparam a comunidade local, para ser absorvida nesta seara de trabalho, através de cursos técnicos, voltados para as necessidades das empresas, as agências governamentais, os bancos financiadores. No Nordeste brasileiro, de forma 53 tradicional, a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste - SUDENE e o Banco do Nordeste do Brasil - BNB se destacam como estimuladores do desenvolvimento local, de forma institucionalizada. De acordo com Fuini (2008), o APL possui uma organização estrutural, de grande complexidade, que envolve tanto as instituições, como os demais atores sociais que participam de forma hierarquizada da cadeia produtiva. Essa harmonia só é possível, em razão da governança, onde uma grande empresa pode exercer o controle do conjunto de subcontratados e fornecedores, de formas mais horizontais, v.g. de um conjunto de pequenas e médias empresas compartilhando de objetos e fins comuns (associações, poder público, mão-de-obra). Segundo Aligleri; Aligleri; Kruglianskas (2009) é justamente a unidade, a coerência e consistência das decisões estratégicas dos agentes da cadeia, que orientam uma identidade de forma positiva e sustentável no mercado, o que vem a garantir um equilíbrio nas relações da rede produtiva, entre os fornecedores e consumidores. Conforme Aligleri, Aligleri e Kruglianskas (2009), os problemas socioambientais devem ser tratados de forma sistêmica, numa visão holística, onde a empresa faz parte do contexto socioambiental onde está inserida, e por isto possui responsabilidade pelo papel que exerce no APL. Isso ocorre porque as empresas são cada vez mais cobradas, quanto ao impacto ambiental7, provocado pelas suas atividades, fora dos limites das corporações. Atualmente a busca pelo ótimo sistêmico das empresas transborda os limites das mesmas, levando-se sempre em conta o contexto geográfico, onde estão inseridas, refletindo na competitividade empresarial. São verdadeiros sistemas abertos, onde a troca de influências acontece de forma mais intensas. Para Aligleri, Aligleri e Kruglianskas (2009), a competitividade exige um relacionamento mantido de forma harmônica com os mais variados agentes externos à empresa, onde se torna possível a busca pelo desenvolvimento sustentável ao longo de toda a cadeia produtiva, de forma concatenada. De acordo com Goulart (2006), parcerias, consórcios, arranjos produtivos locais, redes e outras variações interorganizacionais vêm sendo pesquisadas e criadas, visando promover o desenvolvimento local sustentável, com várias 7 Na visão de Szabó Júnior, refere-se a qualquer alteração benéfica ou adversa causada por atividades, serviços e/ou produtos de uma atividade natural ou antrópica (lançamento de efluentes industriais sem prévio tratamento, desmatamentos e destinação inadequada de resíduos sólidos). 54 abrangências geográficas. Há várias teorias, nas diversas áreas da Administração, todas com o desiderato de promover o desenvolvimento levando-se em conta a globalização. Segundo a referida autora, isso acontece visando a desoneração do Estado, do papel de principal indutor do desenvolvimento, viabilizando o livre funcionamento das leis de mercado, na economia globalizada; ou então, como forma de garantir a sobrevivência e competitividade das pequenas e médias empresas. Essas teorias podem também visar o resgate das vocações e identidades locais; viabilizando a articulação de diferentes atores, inseridos na cadeia produtiva, de forma participativa nas decisões de investimentos governamentais e/ou na elaboração de políticas públicas. Por fim, porque faz surgir espaços fecundos, para a modernização dos processos produtivos, que estimulam a competitividade. Em geral, os governos, nas escalas municipal ou estadual, as organizações não-governamentais (ONGs) ou as agências de serviços especializados, como o SEBRAE, por exemplo, são identificados como protagonistas nas iniciativas de criação de tais formas interorganizacionais. Criação de emprego e renda, fortalecimento dos laços de solidariedade e construção de matrizes institucionais confiáveis são, igualmente, apontadas como resultantes de tais iniciativas e propulsoras de patamares mais elevados de desenvolvimento. (GOULART, 2006, p.1/2). Seguindo a linha de raciocínio dos autores, o estudo de arranjos produtivos locais - APL são de suma importância, pois dentro desta perspectiva, as micro e pequenas empresas, bem como a agricultura familiar, necessitam de abordagem, que se leve em conta, procedimentos específicos, dentro de um estudo que considere vários aspectos. Segundo posição firmada por Aligleri, Aligleri e Kruglianskas (2009), que apontam “a necessidade de as empresas tornarem-se mais pró-ativas na definição de relacionamentos simbióticos, com os stakeholders da cadeia de negócios, o que institui um complicado xadrez organizacional”, já que há uma interdependência dos atores sócio-econômicos envolvidos de forma interdependente no APL, num sistema que funciona com um desiderato único. Galdámez, Carpinetti e Gerolamo (2009) ao tratarem da proposta de um sistema de avaliação do desempenho para arranjos produtivos locais, afirmam que através dos conceitos, métodos, técnicas e práticas de gestão da produção podem contribuir com o processo de desenvolvimento das Pequenas e Médias Empresas 55 (PMEs) que façam parte das APLs, seguindo este pensamento, o Sistema de Medição do Desempenho (SMD)8 apresenta-se como estrutura para os Arranjos Produtivos Locais. Afirmam, esses autores, que “um modelo de SMD pode direcionar o processo de melhoria e mudança das PMEs do APL, promover a gestão colaborativa e aprimorar a tomada de decisão ou a coordenação das ações planejadas pelas instituições, empresas e outros órgãos que fazem parte dos APLs.” Dessa forma, o SMD será um instrumental que vai auxiliar no monitoramento do desempenho das PMEs inseridas numa APL, favorecendo o cooperativismo, que vai refletir em melhorias nas diversas necessidades empresariais, bem como na tomada de decisões em toda a cadeia produtiva. Entende-se por APL as aglomerações territoriais de agentes econômicos, políticos e sociais – com foco em um conjunto específico de atividades econômicas – que apresentam vínculos, mesmo que incipientes. Assim, o estudo de um APL deverá incluir atores internos e externos à atividade produtiva, de forma a permitir uma compreensão econômica, social e política do setor estudado (IPIRANGA et.al, 2007 apud MILANEZ; PUPPIM, 2009, p. 529). A existência dos APLs está ligada a alguns pré-requisitos, que fazem com que os mesmos sejam identificados quando há presença de alguns elementos comuns, tais como, um ambiente onde haja uma interação contínua e repetida entre os atores participantes do arranjo. Segundo Milanez e Puppim (2009) faz-se necessário também, uma pluralidade de redes formais e informais de relação, bem como a valorização pela comunidade onde está inserida, em relação ao empreendedorismo, que corporifica os participantes que se encontram circundando todo o processo, fazendo com que se sintam parte do mesmo. Numa localidade, onde se encontram uma coletividade de agricultores familiares, que praticam a agricultura orgânica, associados com o apoio de uma ONG que estuda e pesquisa a matéria, faz surgir um arranjo produtivo local de forma espontânea, uma vez que os fatores de produção propiciam a concentração dos 8 Galdámez, Carpinetti e Gerolamo (2009) definem como uma nomenclatura muito usual na Administração de Empresa que se refere à atividade de mensuração dos processos produtivos, através de indicadores que servem de análise sistêmica, quanto aos parâmetros aplicados, servindo de instrumento para o monitoramento, bem como para o planejamento das atividades e a gestão das empresas envolvidas no processo, visando o seu aprimoramento quanto a eficiência e a eficácia das práticas corporativas. 56 atores econômicos em torno de objetivos comuns, com base ecológica, estimulados pelas políticas públicas dedicadas, ao assunto in tela. Vale salientar que quando se trata de APLs, foca-se prioritariamente no desenvolvimento econômico e na inserção de novas tecnologias, quando se deveria agregar a questão do desenvolvimento local de forma sustentável, onde os aspectos socioambientais sejam levados em conta. O processo de inovação tecnológica, através da cooperação, reside justamente no incremento das tecnologias sustentáveis, esta é que faz a diferença. Neste sentido, as práticas agrícolas da agricultura familiar, bem como a presença destes atores fazendo o papel de PMEs, junto com as suas associações, servirão de lastro para o surgimento de um APLS (Arranjo Produtivo Local Sustentável). Existe uma potencial relação entre inovação tecnológica e a melhoria do desempenho ambiental. Apesar de ser uma vertente importante, ela ainda parece não ocorrer naturalmente no contexto das PMEs. Na literatura sobre inovação ambiental, existem os autores que argumentam que novas tecnologias seriam capazes de reduzir impactos ambientais e, ao mesmo tempo, de aumentar a competitividade das empresas (MOL, 1996; NEALE, 1997; YOUNG, 2000). Essa argumentação tem por base principal o pressuposto de que novas soluções tecnológicas estariam voltadas principalmente para o aumento da eficiência dos processos produtivos, que não apenas seria um objetivo econômico, mas também ambiental. Outra possível contribuição da inovação tecnológica seria o desenvolvimento de processos produtivos que evitassem os impactos ambientais criados pelas atividades atuais. Segundo esse ponto de vista, prevenir a poluição valeria a pena, pois evitaria gastos relacionados à correção de tais impactos (COHEN, 1997; RINKEVICIUS, 2000 apud MILANEZ; PUPPIM, 2009, p. 530). Neste sentido, o PNAE, através das suas diretrizes, tende a promover um canal que viabiliza o surgimento de um arranjo produtivo local sustentável, ao adquirir os alimentos, provenientes das comunidades locais, constituídas por agricultores familiares ou não, que observem nas suas práticas agrícolas, o sistema orgânico de produção de alimentos. Com estas aquisições, que incentivam uma nova forma de produzir alimentos, onde sejam observadas as questões ambientais, garante-se uma ampliação de mercado, que vem assegurar o mínimo de renda para os agricultores familiares, que não vão ficar a mercê de programas assistencialistas que viciam o cidadão, quando não empregadas de forma apenas excepcional. 57 3.4 DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTAVEL A degradação ambiental cada vez mais acentuada é consequência da espansão da capacidade produtiva dos ecossistemas antrópicos, segundo Seiffert (2011), aduzindo que a humanidade percebeu que a qualidade de vida, bem como, a saúde foram severamente atingidas, o que provocou uma reflexão sobre o medelo de crescimento econômico até então adotado, onde as questões ambientais não eram observadas. Surgiu, no decorrer do tempo, o desenvolvimento sustentável, como resultado de um amadorecimento das discursões científicas, políticas e tecnológicas, motivadas por várias convenções celebradas por várias nações. Em decorrência do dano ambiental e do custo para revertê-lo é que o homem passou a consirerar a questão ambiental, no processo do desenvolvimento econômico, ou seja, quando percebeu as perdas que comprometiam a sua existência no planeta, é que usou o raciocínio que lhe é peculiar para tentar reverter, ou ao menos estancar o processo degradativo dos recursos naturais, minimizando o consumo dos mesmos e tomando novas atitudes. De acordo com Seiffert (2011), o homem criou um mundo focado na economia global, com base na tecnologia, como se não dependesse do mundo natural, constituído de um ecossitema com elevadissímo nível de entropia, em decorrência da insustentabilidade causada por um modelo econômico que busca o lucro acima de tudo, sem levar em conta a capacidade de recomposição dos recursos naturais por parte dos ecossitemas. Conforme Scotto, Carvalho e Guimarães (2007), a expressão “desenvolvimento sustentável” aparece na Internet em inúmeros blogs, sites do governo, empresas, organizações não governamentais - ONGs, bem como, de instituições internacionais,v.g. ONU, entre outras. E quando se refere ao termo “sustentável” ou “sustentabilidade”, estes aparecem ligados a diversos estudos, pesquisas, indicadores, agricultura e alimentação, programas, ecossistemas, agroecologia, responsabilidade social, entre várias temáticas correlatas. Dentro desta seara, Andion (2003) lembra que as mudanças na sociedade têm criado movimentos simultâneos e interdependentes de reformulação das bases de regulação econômica, política e social. Por conseguinte, com entrelaçamento desses movimentos, provocou-se uma mudança no conceito de desenvolvimento, que a princípio, significava crescimento econômico. Porém, o 58 termo passou a ter novo significado, qualificado por adjetivos que lhe dão uma nova dimensão. A noção de sustentabilidade, a ênfase no local, o fortalecimento da participação cidadã e a busca de valores éticos, onde quando se trata dos processos de desenvolvimento, têm criado novas teorias sobre a temática, influenciando as novas condutas. Esse processo de ressignificação é acompanhado da crescente atuação das redes locais, como agentes promotoras do desenvolvimento. Lipietz e Benko (2000) chegam a apontar as relações sociais e os elos de reciprocidade gerados por elas como a própria substância do espaço local. Sendo assim, tais relações tornamse determinantes para que a dinâmica do desenvolvimento ocorra ou não em uma região. (ANDION, 2003) O conceito de desenvolvimento sustentável e de sustentabilidade é muito variado, mudando de acordo com o contexto e com as disciplinas envolvidas no mais variados estudos e ciências que se entrelassam. Segundo Jara (1998), a definição do desenvolvimento sustentável é complexa. É surgimento de um novo significado, por consequência de uma mudança essencial dos nossos pensamentos, atitudes e valores. Segundo este autor, trata-se de uma reorientação ética, que induz a uma reflexão a respeito dos relacionamentos da sociedade com a natureza e do Estado com a sociedade civil, à luz de princípios interdependentes de equidade social, equilíbrio ambiental, bemestar econômico e autodeterminação política. Definida de forma ampla, sustentabilidade significa que a atividade econômica deve suprir as necessidades presentes, sem restringir as opções futuras. Em outras palavras, os recursos necessários para o futuro não devem ser esgotados para satisfazer o consumo de hoje. Os livros definem renda como a quantidade máxima que pode ser consumida no presente ano, sem reduzir o potencial de consumo nos anos futuros (isto é, sem consumir os bens de capital), (ALTIERI, 2004). A idéia de desenvolvimento sustentável e de sustentabilidade tem uma grande amplitude que envolve campos de disputa de diferentes concepções de sociedade, conforme Scotto, Carvalho e Guimarães (2007). Para eles, é importante conhecer a sua origem, seus antecedentes, contextualizando a viabilidade do surgimento e da aceitação desta associação entre o desenvolvimento e preservação ambiental por diferentes grupos sociais. Nos idos de 80, como consequência do 59 trabalho desempenhado pela Comissão Mundial Sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD) foi elaborado um documento intitulado Our common future (“Nosso futuro comum”) dando origem ao conceito de desenvolvimento sustentável, que se tornou célebre nos anos 90, é a de um “desenvolvimento que é capaz de garantir as necessidades do presente, sem comprometer a capacidade das gerações futuras atenderem também às suas” (CMMAD, 1988:9). Por conseguinte, Jesus (2007) afirma que a as Empresas, Governos e Organizações Não Governamentais ao traçarem suas metas e políticas públicas de desenvolvimento, estão levando em conta o desenvolvimento local e territorial. Já na cátreda a temática trazida à baila tem sido alvo de pesquisas, dissertações e de publicações as mais variadas, o que fez surgiu a necessidade de reflexões acerca do termo desenvolvimento local e desenvolvimento territorial. Neste sentido, para Gehlene (2004) as políticas públicas eficientes dispensam políticas sociais compensatórias, recomendadas para situações emergenciais e de risco, ou de inclusão social, no processo de desenvolvimento. O assistencialismo deve ser transitório, devendo ser substituído por políticas públicas que promovam do desenvolvimento econômico com inclusão social. Conforme Assis (2006), o desenvolvimento, na visão tradicional, pode atingir cada vez mais um nível elevado de riquezas matérias, onde o crescimento econômico é almejado pela maioria das sociedades contemporâneas. Na década de 80, os custos ambientais, passaram a ser contabilizados, depois da crise existente naquela época, o que trouxe uma reflexão sobre o modelo globalizado implantado na economia, que excluía e massificava o consumo dos recursos naturais, quando então, foi levado em conta o desenvolvimento social e a preservação ambiental, possibilitando-se a sustentabilidade da economia. Para que isto ocorra, ibidem (2006) destaca que o desenvolvimento sustentável tem como norte a melhoria da qualidade de vida humana, observandose o conceito ecológico dos limites da capacidade de suporte dos ecossistemas, bem como a inserção da espécie humana como agente beneficiário e participativo dos processos. Apesar dos conceitos supra-referidos, o termo desenvolvimento sustentável ou mesmo, sustentabilidade, continua sendo de debates e discussões que não chegam ao consenso sobre o significado. 60 Mesmo que todos pareçam concordar na avaliação de que existiria uma crise ambiental e social a ser encarada com urgência e no diagnóstico de que o estilo atual de desenvolvimento é “insustentável”, a identificação sobre as causas do problema, assim como as soluções e estratégias propostas , são bastante diferenciadas, e inclusive, antagônicas (SCOTTO; CARVALHO e GUIMARÃES, 2007). O debate continua atual, que levam a caminhos convergentes, em um dado momento, dependendo dos interesses que estão sendo discutidos, no contexto social, econômico e ambiental, entre os atores envolvidos, em outro momento torna-se dicotômico, ambíguo, mas de qualquer forma, provoca reflexões e mudanças de hábitos, que são guiados para um mundo, com melhor qualidade de vida. Para Ferreira (2011), é indispensável que se promova uma transformação interior de cada ser humano, para que se possa almejar a criação de um novo mundo consorciado com o desenvolvimento sustentável. Esta mudança de hábitos refletirá nos atos de consumo, ocorrendo uma metamorfose da civilização centrada no “ter para o ser”, onde as pesquisas de evolução social passem a levar conta o desenvolvimento de cada um, enquanto ser humano. Essa transformação é gradual e lenta, pois envolve vários fatores que interagem e interferem na postura da civilização estudada, quanto à questão da sustentabilidade. A educação ambiental é um instrumento fundamental a ser utilizado, visando a mudança de hábitos de consumo, bem com de condutas, voltadas para uma responsabilidade socioambiental. A ética ambiental influencia na sensibilidade do indivíduo que passa a agir levando em conta a coletividade e a preservação dos recursos naturais existentes no meio ambiente. Desenvolvimento sustentável é aquele cujos princípios sugerem crescimento, sem que ocorra comprometimento da qualidade de vida, tanto das presentes quanto das futuras gerações (SZABÓ JÚNIOR, 2009). Neste sentido, de acordo com o Relatório de Desenvolvimento Humano 2011, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD, recomenda a integração dos custos sociais e ambientais do mesmo modo como são os preços mundiais e as medidas de atividades econômicas (ONU, 2013). O documento exige também um conjunto de indicadores de desenvolvimento sustentável, que vão além da abordagem tradicional do Produto 61 Interno Bruto (PIB) e recomenda que os governos desenvolvam e apliquem um conjunto de objetivos de desenvolvimento sustentável, que possam mobilizar a ação global e ajudar a monitorar o progresso. No total, são 56 recomendações para colocar em prática o desenvolvimento sustentável e integrá-lo às políticas econômicas o mais rápido possível (IBIDEM, 2013). Há uma preocupação mundial acerca do desenvolvimento sustentável, o que tem provocado mudanças de atitudes que refletem nas antigas práticas, em diversas áreas do saber humano. Em relação às necessidades básicas das civilizações, um dos hábitos que estão sendo revistos é a alimentação, e nessa linha foi elaborada a Política Nacional da Segurança Alimentar e Nutricional, que se anteveio em 2003, ao marco regulatório da produção orgânica nacional, definido pela Lei nº 10.831, e, em 2012, instituímos a Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica, regulamentado pelo Decreto nº 7.794/12. Ao falar sobre alimentos orgânicos, a Presidenta Dilma Rousseff falou sobre incentivos e políticas públicas que tem sido feitas para garantir o acesso aos alimentos orgânicos. De acordo com seu discurso: essa política prevê ações de pesquisa, assistência técnica, gestão ambiental, formação profissional, financiamento para o setor e estímulos à produção. Neste desiderato foi composto um conselho interministerial, responsável pela política, que conta com participação da sociedade civil e de entidades de agroecologia. (BRASIL, 2013j). Esta política tem como desiderato o desenvolvimento sustentável, onde se observa o aspecto social, econômico e ambiental, numa nova visão de mundo, mudando nossas atitudes, para que possamos garantir um amanhã com qualidade para todos. Toda atividade econômica humana provoca um impacto ambiental. O que se busca através da sustentabilidade é justamente minimizar este impacto, e para isso, devemos racionalizar o uso dos recursos naturais renováveis e não renováveis. Neste contexto, a questão alimentar, intrinsecamente ligada a qualidade de vida, deve observar, na sua produção e manejo, os sistemas menos impactantes que provocam uma menor degradação ambiental. Dentro desta linha, o sistema de produção agroecológico de alimentos orgânicos, através das suas práticas e métodos, já devidamente testados e comprovados mundialmente, vem a atender as três vertentes do desenvolvimento local sustentável almejado pelas políticas 62 públicas trazidas à baila, na sonhada qualidade de vida para as presentes e futuras gerações. Para que se atinja o desenvolvimento sustentável global, segundo Jara (1998), é necessário primeiro promover o desenvolvimento local sustentável, pois é o único meio que permite visualizar perspectivas palpáveis de desenvolvimento humano, de segurança alimentar e nutricional, de saúde, etc., incentivando as vocações locais e as potencialidades específicas. Nesta nova ótica de desenvolvimento, o Brasil, traçou várias políticas públicas focadas no desenvolvimento local sustentável, dentre elas o Programa Nacional de Alimentação Escolar, o qual ao ser analisada a questão dos hábitos alimentares regionais por Paiva, Freitas e Santos (2012), aduzem que existe uma previsão de se observar a “adequação dos cardápios aos hábitos alimentares regionais” como um dos seus objetivos, quando se observa a vocação agrícola local, sendo este, um dos principais avanços na política pública sob análise, por valorizar o setor primário de produção na economia municipal. Dentro desta visão, quando o PNAE prevê a aquisição local dos alimentos, bem como que se observe a questão dos hábitos alimentares regionais, leva-se em conta o traço cultural de cada região retratado na culinária regional e nos hábitos alimentares, o que facilita a absorção da produção do agronegócio local, uma vez que, é respeitada a vocação agrícola de cada região. 63 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados a serem elencados refletem a compreensão a cerca do conhecimento sobre o tipo de alimentação que é fornecida nas escolas, sua origem, qualidade e conservação, bem como se os sujeitos em suas funções de gestores públicos ou privados, técnicos e pesquisadores, envolvidos direta ou indiretamente no processo, conhecem e identificam os moldes previstos pelo PNAE assim como se compreendem a relação do uso desses alimentos na escola para o desenvolvimento local sustentável. 4.1 ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO ESCOLAR Neste tópico, são analisadas as percepções dos sujeitos da pesquisa, quanto ao conhecimento sobre o tipo de alimentação que é fornecida nas escolas, sua origem, qualidade e conservação, tendo sido agrupados os atores, de acordo com a similitude das atividades exercidas dentro deste processo, para posterior análise individual, viabilizando o seu posterior diagnóstico sobre as temáticas, hora ventiladas, cuja totalização encontra-se representada no quadro sinóptico abaixo. Quadro sinóptico dos resultados 01 - Percepção quanto a alimentação e nutrição escolar. ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO ESCOLAR GEPM GP GPR TPA Total Tem conhecimento Não tem conhecimento 3 3 3 2 3 2 0 2 9 9 Tem conhecimento parcial 3 3 0 2 8 Total 9 8 5 4 26 Fonte: pesquisa de campo, o autor. 4.1.1 Percepções pelos Gestores das Escolas Públicas Municipais quanto à alimentação e nutrição escolar. Ao verificar as percepções da amostra, composta pelo grupo dos nove diretores das escolas municipais de Glória do Goitá – PE, observa-se que mais de um terço tem conhecimento sobre a origem, ou o tipo de alimentação que é 64 fornecida nas escolas municipais, outro um terço dos gestores escolares municipais, não tem um conhecimento seguro, os demais desconhecem a temática abordada. Entre os que têm conhecimento quanto à alimentação e nutrição escolar, pode ser apresentado conforme recorte do GEPM1: A gente tem a merenda regional, aquela merenda que a gente tem uma porcentagem para ser comprada ao agricultor regional. Temos aquele outro tipo de merenda que é fornecida através de licitação, não é [...], que são os cereais, o feijão, aquela parte que realmente na orgânica, na agricultura a gente não tem. [...] A merenda vem do campo, da zona rural, né? De Glória do Goitá, e a gente oferece tapioca, oferece bolo de mandioca, bolo de trigo, a gente oferece o inhame, a macaxeira, a gente oferece a batata, tudo isso comprado [...] ao homem do campo, pra que a gente possa ter realmente esse intercâmbio entre a educação do campo e a educação da zona urbana. [...] Quanto à qualidade dessa alimentação, ela passa pela licitação, e dentro dessa licitação existe aqueles critérios que ela que deve ter né, isso, e se tratando dos laticínios, da comida em geral, do feijão, um tempo de validade, que a gente estipula assim, mais ou menos um período que não possa vir a ficar vencido. [...] Quanto à conservação, a gente tá sempre dedetizando. [...] a limpeza, a gente tem o maior cuidado nas escolas, nas merendeira. [...] A gente visita as escolas. (GEPM1) De acordo com este ator, é importante que haja um intercâmbio entre a cultura do campo e da zona urbana, processo que está previsto nas diretrizes do PNAE, uma vez que não basta alimentar os estudantes, mas precisa também criar novos hábitos alimentares, pautados na política de segurança alimentar e nutricional. Sendo assim, é pertinente quanto à segurança alimentar que a aquisição da alimentação escolar seja realizada no próprio município. Na ótica ambiental, deve ser valorizado o conhecimento dos camponeses locais, pois, quando é adotado o sistema orgânico na produção dos alimentos. Albert Howard levou em consideração esse conhecimento, como fator essencial para a eliminação das doenças em plantas e animais, por existir uma ligação entre a fertilidade do solo e saúde da produção de alimentos (BONILLA, 1992 apud TRIVELLATO; FREITAS, 2003). Não basta vir da agricultura familiar, para a produção de alimentos ser considerada sustentável. É necessário que se observe o sistema de produção desses alimentos, bem como, as questões trabalhistas, previdenciárias e as tecnologias que estão sendo empregadas na produção. Aligleri, Aligleri e Kruglianskas (2009) lembram que a ideia de agricultura e pecuária sustentáveis é um tema muito atual na nossa sociedade, devido à consciência de que a observação das normas ambientais propiciam o desenvolvimento sustentável. Neste sentido, já existem várias práticas agrícolas 65 estruturadas nas premissas de aumento da produtividade, que apresentam uma viabilidade econômica, mitigando os impactos ambientais provocados pelas práticas convencionais, o que se coaduna com as recomendações previstas na legislação que rege o PNAE, contidas nos conceitos da alimentação saudável. Este ator aponta a questão da higiene ambiental como um aspecto diretamente ligado a conservação dos alimentos, que por sua vez interfere na qualidade dos mesmos. Abordou outro aspecto importante, a preocupação com a questão da validade dos produtos alimentícios, o que é louvável. Nesta esteira, Gallina et al. (2012) ressaltam que a higiene é um fator de segurança alimentar e nutricional – SAN fundamental, sendo uma prioridade para se evitar as doenças transmitidas por alimentos contaminados, uma vez que são os causadores dos maiores problemas de saúde pública da atualidade. Nesse contexto e, considerando que a legislação prima pela qualidade higiênica da alimentação escolar, como uma de suas atribuições (Brasil, 2009a), o Conselho de Alimentação Escolar - CAE exerce um papel crucial na garantia da inocuidade dos alimentos oferecidos na merenda das escolas, em razão da faixa etária dos escolares participantes do PNAE, matriculados no ensino infantil e fundamental, torna-os um grupo altamente vulnerável à gravidade das doenças transmitidas por alimentos, vulnerabilidade que é potencializada pelas condições debilitadas de estado nutricional, sistema imunológico, desenvolvimento fisiológico. Eu tenho conhecimento porque agente participa de reuniões com a nutricionista e ela informa para nós. Ela informa de onde vem a merenda e como é que ela seleciona. Aí, sempre tá tendo reunião pra debater a respeito da merenda. Olhe..., os alimentos assim..., não perecíveis, eles é..., tem um fornecedor, eu não seu o nome do fornecedor né..., e os perecíveis, aí eles compram..., aí..., eu sei que eles estão dando prioridade para as pessoas do município, sempre compra a gente do município mesmo, pra dar ajuda pra eles..., os agricultores. [...] Os alimentos são bons, porque melancia mesmo, eles trazem, eu passo até quinze dias com as melancias aí e elas não se estragam. [...] Quanto à conservação desses alimentos, quando vem, ele vem novos, bem novos, conservados. E aqui a gente da um jeito de conservá-los. Aqui tem quarto da merenda e tem a cozinha que a gente coloca assim..., freezer, geladeira, essas coisas. Quanto ao alimento orgânico é aquele tirado da natureza né..., que é plantado na natureza, que é colhido pelos agricultores e eu noto que eles dão prioridade para os agricultores do município mesmo. (GEPM8) Quanto à percepção referente à qualidade e conservação, por parte dos atores entrevistados, em sua maioria, sutilmente, observa-se os critérios albergados pelas diretrizes do PNAE, que visa à aquisição de uma alimentação saudável e 66 adequada, que sejam variados, seguros, apresentando boa aparência, higiene, qualidades nutricionais, observando sempre a cultura, as tradições e os hábitos alimentares da localidade, promoverá um crescimento saudável dos alunos, contribuindo para a melhoria do rendimento escolar de acordo com a faixa etária, o sexo e demais fatores ligados à qualidade de vida humana. Alguns fazem referência à validade dos produtos, à forma de transporte, às embalagens, à dedetização dos locais nas escolas onde ficam armazenados, à ventilação, ao uso de freezers e geladeiras, bem como a outros fatores, que ajudam a manter a qualidade original dos alimentos provenientes da agricultura familiar. Quanto ao consumo dos alimentos orgânicos, Silva e Sousa (2013) lembram que os estudos mostram benefícios do seu consumo tanto pelos consumidores, como para o meio ambiente e os produtores rurais. Afirmam ainda, que o PNAE é um importante comprador institucional de alimentos produzidos pela agricultura familiar e nesta seara, chamam a atenção para o planejamento dos cardápios escolares, que devem basear-se em novos paradigmas que visem ao mesmo tempo à promoção da saúde dos consumidores, observando sempre à sustentabilidade ambiental, cultural, econômica e social. Outro aspecto importante é a necessidade de um estudo dos alimentos orgânicos, quanto à compatibilidade entre a demanda e a oferta da agricultura familiar, levando-se em conta o fortalecimento de ações relacionadas à produção e à aquisição de alimentos orgânicos, bem como a saúde de populações vulneráveis, no caso, os estudantes. [...] ela vem composta por [...] alimentos não perecíveis e alguns perecíveis, não é..., como carne moída, carne de boi, frango, entre outros. Bolo..., bolo de banana, bolo de trigo, bolo de mandioca... Eu já ouvi comentário que os bolos, eles são vindo de uma localidade aqui próxima, não é..., pra ajudar o Araçá, que é pra ajudar o pessoal local não é? Contribuir com o desenvolvimento local, não é..., as frutas e verduras também..., não é..., são retiradas de alguns agricultores locais, não é..., pra que estes também tenham vez na contribuição do município e..., gere sua renda. [...] Os alimentos orgânicos são aqueles que não estão propensos a ter materiais agrotóxicos, não é? Que são cultivados sem nenhuma toxina para o ser humano. [...] A qualidade dos alimentos é muito boa! [...] as validades são bem extensas, não é..., o armazenamento é feito de uma forma bem adequada, não é..., e [...] nós procuramos manter sempre o ambiente, onde eles são guardados, limpos..., não é..., sempre estamos revisando..., esses alimentos, caso algum venha a se estragar pra não serem inseridos na merenda dos nossos alunos. Os alimentos orgânicos são aqueles que não estão propensos a ter materiais agrotóxicos, não é? Que são cultivados sem nenhuma toxina para o ser humano. (GEPM9) 67 Este ator afirma ser de boa qualidade os alimentos destinados à merenda escolar. Aduz ainda, que o armazenamento é feito de forma adequada visando uma boa conservação destes. Porém, quanto ao aspecto da qualidade dos alimentos, devem-se levar em conta os novos hábitos alimentares. Contemporaneamente, na visão a respeito do comportamento do consumidor de alimentos, já se observa algumas mudanças de hábitos, com cuidados em relação à qualidade sanitária e nutricional, que refletem na valorização das qualidades que caracterizam certo produto, o que vem a determinar a escolha do consumidor por alimentos mais saudáveis. (LAGO; LENGLER e CORONEL et al. 2006) Na visão deste grupo de gestores, demonstra-se que conhecem da origem dos alimentos fornecidos para a merenda das escolas, distinguindo, inclusive, o que é adquirido no comércio e os alimentos que são fornecidos pelos agricultores familiares locais. O que caracteriza a agricultura familiar é ser a própria família a dona dos meios de produção, agregando a força de trabalho, a posse da terra e os meios de produção. Além disso, a unidade produtiva deve ser administrada pela própria família, que tem como fonte de renda a proveniente da atividade agrícola, sendo esta, no mínimo de 80%, deve-se levar também conta o tamanho da área, bem como, o quantitativo de mão-de-obra contratada, devendo residir na própria comunidade rural, participando de suas atividades socioeconômicas. (LAGO; LENGLE e CORONEL, et al, 2006) Analisando as respostas dos gestores que não têm conhecimento sobre a alimentação e nutrição escolar, apresentam-se como exemplo: [...] é um bom alimento, uma boa merenda, diretamente vindo do..., não é orgânica, mas diretamente vindo do pequeno produtor, né? E..., os..., é..., cereais, né..., vem diretamente do mercado. É..., só que as verduras..., frutas e verduras não é orgânico, mas vem da agricultura familiar. A produção dos alimentos horfrutigranjeiros vem de Glória do Goitá, agora não sei se vem de outro tipo CEASA..., não sei se é de alguma..., como é que se diz..., alguma horta de lá do município mesmo, eu não tenho essa..., essa informação, se é horta do município de Glória, ou se é de outro município, se vem da CEASA. Eu sei que fornece aqui, mais eu não tenho esse conhecimento não. [...] Quanto à qualidade desses alimentos os que vêm aqui são todos bons, saudável. Não vem nenhum estragado. [...] A conservação desses alimentos, é conservado direitinho, né..., até tem..., tem boa durabilidade, [...] aqui na escola temos uma geladeira e um freezer né..., no freezer, a gente conserva as carne e na geladeira, a gente coloca as verduras, as frutas que dá pra conservar fora, a gente coloca dentro de um recipiente [...]. Não tem aquelas caixa que os pessoal carrega, vem nelas, como é que chama o nome delas? Sabe como é? [...] Os alimentos orgânicos não é aqueles que não têm 68 agrotóxicos, não é isso? Conservados sem agrotóxicos e é muito saudável pra saúde né? Isso eu sei. E assim..., até aqui tem pessoas que plantam coentro, cebolinha..., alface sem esse agrotóxico. Então o que eu entendo desses produtos..., orgânicos, é..., são produzidos sem o uso de agrotóxicos. (GEPM5) O presente questionamento visa observar se está sendo oferecida uma alimentação adequada, por ser esta um direito fundamental do ser humano, reconhecido internacionalmente pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, no seu artigo 25. A qualidade e a conservação dos alimentos escolares têm que estar condizente com as diretrizes do PNAE, uma vez que este está incluso dentro das políticas públicas e das ações necessárias para promover e garantir a segurança alimentar e nutricional da população estudantil, atendendo ao disposto na Lei n° 11.346, de 15 de setembro de 2006, que criou o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional. O PNAE envolve as três esferas dos entes federativos previsto constitucionalmente, visando garantir um direito inerente à dignidade da pessoa humana e indispensável à realização dos direitos consagrados na Constituição Federal. Pela fala do GEPM5, a alimentação oferecida nas escolas municipais é tida como de boa qualidade, apesar de não ser orgânica. Mesmo sendo proveniente da agricultura familiar, a alimentação tem que oferecer a segurança alimentar encontrada nos sistemas de produção agroecológicos, para que se evitem os contaminantes presentes nos alimentos produzidos pelos meios convencionais, e assim, possa ser classificada como uma alimentação de boa qualidade. Nesse sentido, Santos e Monteiro (2004), afirmam que há um princípio mínimo que deve ser seguido, ao definir a agricultura orgânica como um sistema de produção integrado, o qual promove e realça agrossistemas saudáveis, incluindo biodiversidade, ciclos biológicos e atividade biológica do solo. Neste sistema, as práticas de administração adotam preferencialmente o uso de baixa quantidade de insumo, levando em conta que condições regionais requerem sistemas adaptados localmente. Estas técnicas buscam um objetivo comum que seria um sistema de produção sustentável, alcançado quando se respeita a natureza, racionalizando o uso dos recursos naturais, sem a utilização de produtos químicos, mantendo a biodiversidade e levando-se em conta a cultura local dos agricultores. O que pode 69 ser observado, quando a agricultura familiar local adota sistemas agroecológicos de produção. Sim. É..., o pessoal que fornece esses alimentos. Fizeram uma reunião com os gestores escolar e levaram a degustação, não é? A amostra dos alimentos que ia ser fornecido pra escola. [...] Aí tudo é colocado em saco plástico e conservado na freezer, para que possam caber todos os alimentos. Já os alimentos orgânicos são aqueles que não têm produto químico, não é..., onde ele produzido pelos agricultores do município e eles não colocam agrotóxicos naquele produto, então porque que eles são alimentos orgânicos. (GEPM6) Quando se refere à alimentação e nutrição escolar, deve-se levar em conta o sistema de produção destes. Neste sentido, Lima e Sousa (2011), afirmam que o Guia Alimentar para População Brasileira recomenda o consumo de alimentos orgânicos como uma prática alimentar saudável. É salutar ressaltar que o conceito de Segurança Alimentar e Nutricional adotado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece que o modo de produção de alimentos orgânicos está incluso nessa previsão, chamando a atenção no sentido de que as práticas alimentares promotoras de saúde devem ser social, econômica e ambientalmente, sustentáveis. O sistema de produção orgânico tem dentro de suas características, a necessidade de observar os ciclos naturais dos vegetais, bastante conhecido por quem é da área, como a sazonalidade, ou seja, alimentos que estão disponíveis naquele período do ano, em razão dos mais variados fatores agronômicos, o que vem a influenciar nos cardápios oferecidos nas escolas, quando levado em conta a alimentação escolar orgânica (AEO). Outro aspecto importante é a manutenção de conservação dos alimentos produzidos na linha orgânica que possuem uma maior durabilidade, em decorrência da sua maior vida útil, mantendo bom aspecto, quando comparados com os alimentos produzidos de forma convencionais. Estes gestores demonstram não conhecerem o processo de aquisição dos alimentos que serão servidos para as crianças matriculadas nas escolas municipais, dirigidas por eles. Ao se indagar a origem dos alimentos servidos na merenda escolar, pelas suas falas, observa-se ainda, que não conhecem os conceitos da agricultura orgânica. De acordo com Santos e Monteiro (2004), são aqueles livres de contaminantes intencionais, por não usar agrotóxicos, fertilizantes sintéticos, de organismos geneticamente modificados, aditivos alimentares, de radiações ionizantes e de hormônios, e pelo uso estritamente controlado de drogas veterinárias, por consequência esses alimentos são menos contaminados 70 quimicamente do que os alimentos produzidos pelas técnicas de agricultura convencionais. Apesar de algum dos atores classificarem a alimentação escolar como boa, afirmando vir dos pequenos agricultores e negando conhecimento sobre a participação da produção orgânica nesse processo, demonstram não terem certeza quanto a sua origem, em alguns momentos, afirmam que conhecem a origem e posteriormente, na sua própria fala, negam essa afirmativa. Já o outro, inicia negando e finaliza afirmando, comprovando, assim uma insegurança nos seus conhecimentos sobre a questão in tela. Entre os que têm conhecimento parcial sobre o tipo de alimentação que é fornecida nas escolas: [...] É um depósito central que abastece todas as escolas. Os alimentos que vem da agricultura familiar é batata, inhame, jerimum, banana [...] Conheço os alimentos orgânicos. Não..., não, não só quando o próprio agricultor fala. Estão sendo fornecidos alimentos orgânicos produzidos aqui no município porque o Secretário de Agricultura, não é? [...] Ele..., ele..., ele fica assim..., bem a par desse assunto..., ele acompanha, justamente. (GEPM2) Na percepção deste gestor, não há menção quanto à qualidade e conservação dos alimentos fornecidos nas escolas do município e quando se refere aos alimentos orgânicos, demonstra desconhecimento sobre a matéria, que é bastante rica e diversificada, abrangendo vários aspectos. De acordo com Lago, Lengler e Coronel et al (2006), devido à contaminação ambiental do ecossistema e em decorrência do aumento das pesquisas relacionadas às consequências para a saúde humana, por conta do consumo de alimentos com contaminantes químicos, vem crescendo o mercado consumidor dos produtos orgânicos, devido as suas qualidades que o faz um alimento diferenciado, principalmente em decorrência de todo o processo e estrutura que está por traz deste modelo de produção. Segundo os autores, a agricultura orgânica compreende muito mais do que apenas a produção sem a presença de agrotóxicos, pois nesse sistema de produção as interações ecológicas são essenciais, onde suas práticas têm como desiderato à preservação do meio ambiente. [...] ela é daqui mesmo da própria região. [...] É do município. É..., é dos sítios né..., é..., do Araçá..., [...], é..., Guilherme, Olho D’Água, é desses 71 sítios. Tipo de alimentação..., a macaxeira, o inhame, que é inhame..., a batata doce, não é..., o coentro, as verdura, é..., cebola, frutas, bastantes frutas, [...] A qualidade são boas. É..., às vezes..., às vezes chega assim, um pouco..., muito madura, né? [...] Mai..., a deixa assim..., o quarto abafado, procura aventilar o mais..., o mais ventilação..., quanto mais ventilação é melhor né! Aí, a gente..., qualidade são boa! A conservação é..., a gente coloca sempre num..., na geladeira, não é..., na escola mermo [...] não sempre conserva ele dentro da geladeira. Muita qualidade e conservado, bem conservado. As crianças aqui, ha! Adora. (GEPM4) Pela fala deste participante, observa-se uma carência de informação quanto à matéria debatida, o que demonstra uma necessidade de capacitação e reciclagem, pois se trata de um gestor escolar, indivíduo responsável pela socialização do conhecimento. Desta forma, para que haja um progresso quanto à garantia da Segurança Alimentar e Nutricional e Soberania Alimentar e, por consequência, uma superação das violações ao Direito Humano à Alimentação Adequada, é necessário um apoderamento da informação e dos instrumentos existentes por parte da sociedade civil organizada, como dos titulares de direitos, para que se observem os direitos humanos. Faz-se mister, um fortalecimento das competências das instituições governamentais e seus agentes públicos, dos membros de conselhos de políticas públicas e direitos humanos e de outros atores, para o desenvolvimento das ações necessárias ao cumprimento de suas obrigações e responsabilidades, visando ao respeito, à proteção, à promoção e ao provimento do Direito Humano à Alimentação Adequada – DHAA, no Contexto da Segurança Alimentar e Nutricional. (BURITY, et al., 2010) Num contexto geral, estes atores tentaram demonstrar o seu conhecimento sobre a origem dos alimentos fornecidos para a merenda escolar do município. Em algum momento, descrevem alguns alimentos adquiridos por meio de licitação, em outros, citam alguns alimentos de origem agrícola, fazendo referência às comunidades produtoras locais. Esta postura tenta passar que a origem desses produtos vem da agricultura familiar, o que não está errado, porém, surgem algumas dúvidas, quanto à região produtora, uma vez que foi ventilada a hipótese de serem oriundos de outros municípios. Quando se indaga quanto à origem alimentar, um dos aspectos a ser investigado é se é proveniente das atividades agropecuárias locais. Vale lembrar que o espaço local, de acordo com os estudos da nova geografia socioeconômica, além de ser dimensão do desenvolvimento endógeno, é o locus privilegiado onde tudo 72 acontece, por conter dimensão histórica e cultural, que serve de alicerce para as possibilidades futuras de transformação da realidade, com a participação dos atores e do uso dos próprios recursos existentes no local, sem a necessidade de dependência externa. (ANDION, 2003) 4.1.2 Percepções pelos Gestores Públicos sobre a alimentação e nutrição escolar. Na análise do grupo dos Gestores Públicos é possível identificar que mesmo fazendo uma diferenciação entre a aquisição dos produtos adquiridos via licitação e os adquiridos dos agricultores locais, via chamada pública, já é mais evidente o entendimento quanto ao que determina o PNAE, com relação à aquisição de alimentos vindos da agricultura familiar, como pode ser visto nas transcrições que seguem. No que se refere à qualidade e a conservação dos alimentos fornecidos nas escolas da rede pública municipal de Glória do Goitá - PE e os que reconhecem as dificuldades enfrentadas referentes a esses pontos, já é bem sutil o entendimento diante da perspectiva segurança alimentar, como se observa nas falas infra: Os que têm conhecimento sobre a alimentação e nutrição escolar: Os produtos da agricultura familiar sim. Nós organizamos todo o processo da chamada pública pelo Programa Nacional da Alimentação Escolar. [...] colocamos 49% da merenda da agricultura familiar daqui do local, no ano passado. [...] nós contemplamos três associações rurais, então dentro dessas três associações, uma média de quatro a sete produtores rurais, todos aqui do nosso município. [...] Todos esses produtos são acompanhados pela nutricionista da secretaria de educação [...] então, a gente acompanha também toda a entrega. No dia da entrega, nós vamos lá dar acompanhamento para saber com relação à qualidade do produto. Outra coisa que a gente faz com relação à qualidade é no início do ano passado o SEBRAE, esse produtores receberam capacitação pelo SEBRAE, como manusear o alimento, como vender, como planejar, [...] então nós estamos tendo este cuidado de oferecer um produto de qualidade. [...] Fizemos um evento, chamamos professores, alunos para fazer degustação do produto que estava indo para a merenda. Então tudo está dentro dessa rigorosidade para manter a qualidade do produto. (GP2) Quando se refere à qualidade da alimentação escolar, este ator aponta a participação de uma nutricionista, conforme previsto no PNAE, que faz o acompanhamento do processo estudado, bem como, a participação do SEBRAE junto aos agricultores familiares, prestando orientações quanto à manipulação da produção agrícola. 73 Sendo a qualidade e a conservação requisitos para se atender as exigências da segurança alimentar para atender a um público vulnerável, que é o dos estudantes das redes públicas de ensino, segundo Chaves et al (2009) aduz que é por esta razão que a alimentação escolar está prevista na política pública que visa compensar a insegurança alimentar, como garantia universal do direito humano à alimentação. Sim [...] Com relação à origem, nós fazemos anualmente licitação pra compra de gêneros básicos, perecíveis e não perecíveis. E da licitação em geral, nós temos dois tipos de licitação, um para a aquisição de gêneros básicos e outro para hortifrutis, os hortis são adquiridos aqui do município, dos agricultores do município de Glória. [...] Com relação à qualidade [...] durante a licitação, especificamos que o..., o fornecedor tem que deixar amostras pra a gente analisar esta qualidade e temos uma equipe na secretaria de educação que recebe estes produtos e distribui para as escolas. Então, essa equipe tá é..., orientada, com relação à qualidade dos gêneros que agente está recebendo. Quanto à conservação dos hortifrútis, [...] nós tivemos a preocupação de escolher já aqueles hortifrútis que têm uma maior durabilidade, até porque a gente não tem uma..., uma, vamos dizer assim, armazenamento correto nas escolas. E até para distribuir também, a gente tem uma dificuldade com relação a isso. [...] escolhemos aqueles que têm uma maior durabilidade para não ter tanto prejuízo. Mas um..., um po..., problema que agente tem atualmente é a questão de armazenamento nas escolas. Tem uma dificuldade pra a gente tentar assim..., conservar o produto com mais..., um período maior. Então um problema que a gente está tendo atualmente com relação à alimentação nas escolas é esse, a conservação. Os alimentos hortifrútis quem fornece pra a gente são os agricultores do município. [...] Vimos à vocação agrícola do município, introduzimos esses produtos que os produtores daqui fornecem pra gente na..., no cardápio da merenda escolar. [...] É levado em conta o hábito alimentar da população e a vocação agrícola. O que eles mais produzem aqui pra a gente introduzir no nosso cardápio, assim dessa forma a gente está beneficiando o agricultor do município. (GP5) É possível perceber que esses atores ao se referirem à origem dos alimentos servidos na merenda escolar, leva em consideração o fato de ser a mesma fornecida pela agricultura familiar, através do mecanismo da chamada pública pautada pelo PNAE, seguindo o que determina a Lei nº 11.947, de 16 de junho de 2009, que dispõe sobre o atendimento da alimentação escolar e do Programa Dinheiro Direto na Escola aos alunos da educação básica. Essa percepção pode ser interpretada com base na compreensão de atender as diretrizes da alimentação escolar, conforme determinação infra: o 2 São diretrizes da alimentação escolar: [...] V - o apoio ao desenvolvimento sustentável, com incentivos para a aquisição de gêneros alimentícios diversificados, produzidos em âmbito 74 local e preferencialmente pela agricultura familiar e pelos empreendedores familiares rurais, priorizando as comunidades tradicionais indígenas e de remanescentes de quilombos; [...] (BRASIL, 2009). Observa-se, à primeira vista, que já existe uma percepção, por parte destes atores, da valorização da produção local, conforme a previsão contida no art. 2º, da Lei nº 11.947/2009, o que é bastante positivo, apesar de que, em momento algum ter sido citado à questão da sustentabilidade. Porém, o entendimento geral demonstra uma predisposição para a inclusão deste tema. Não se restringir ao aspecto econômico do desenvolvimento local sustentável, revela uma necessidade presente. Essa percepção pode ser interpretada com base na compreensão de que entender o desenvolvimento local sustentável como a auto-sustentabilidade econômica por parte de alguns, é primeiro passo a ser atingido, porém, não devendo ser esquecido os aspectos sociais, ambientais e culturais contidos nesse novo paradigma de desenvolvimento. Os que não têm conhecimento sobre a alimentação e nutrição escolar: [...] Atualmente, não posso dizer, com segurança, que tipo de alimentação eles estão oferecendo. Mas antes, sim..., a gente atendia os alunos com frutas, verduras e origem animal também, [...] era bem diversificada. [...] Inclusive a associação [...] que ganhou na licitação, [...] também tinha uma relação com a APORG, a Associação de Palmeira. Eles tinham, eles davam assistência a eles. A alimentação da merenda escolar vinha exclusivamente de Palmeira. [...]. A qualidade muito boa, a qualidade do material que a gente recebia. Mesmo material que a gente recebeu da agricultura familiar, do PNAE, que era comprado, quanto à alimentação que a prefeitura também comprava em licitação, a gente tinha o maior cuidado. [...] E a gente armazenava num espaço onde tinha..., adequadamente os espaços eram bem organizados. No começo a gente teve muito problema porque a gente não tinha..., por exemplo: as escolas não tinham uma geladeira para armazenar esses produtos [...]. Aí nós compramos..., nós deixamos todas as escolas rurais com geladeira para armazenar esse material. [...] A qualidade dos alimentos da APRUP era muito boa [...] como era muito próximo, a gente, assim que chegasse, levávamos direto para a escola, o que desse para levar, o que não a gente ficava..., armazenado no..., na secretaria, no depósito. Das associações rurais que existem em Glória, só quem fornecia os produtos hortifrutigranjeiros era a de Palmeira, porque as outras não estavam habilitadas para, é..., participar, entendeu! [...] No último ano nós já vimos..., a do Araçá também se integrou. (GP4) Observa-se pela fala do gestor GP4 que as escolas municipais não eram equipadas com eletrodomésticos essenciais para a conservação de alguns tipos de alimentos perecíveis, pois não tinham uma geladeira para armazenar esses produtos. E que a gestão municipal passada adquiriu geladeiras e freezers, deixando todas as escolas rurais equipadas para armazenar esse tipo de material. 75 Visualiza-se um progresso nesta seara, evitando intoxicações e infecções alimentares em decorrência da má conservação. Apesar de apenas um dos gestores público ter sinalizado uma resposta, assegurando que está tudo dentro de uma rigorosidade para manter a qualidade do produto, informando a contratação de consultoria para orientar os agricultores, quanto ao manuseio correto dos produtos da agricultura familiar a serem adquirido pelo município, é possível perceber que a visão deste é divergente da opinião do gestor GP5, que reconhece que algumas dificuldades como não se ter um armazenamento adequado nas escolas, bem como, com a distribuição dos alimentos escolares, o que tem interferido, até mesmo na escolha de alguns produtos produzidos pela agricultura familiar local, visando à conservação dos mesmos. De acordo com Gabriel et al (2012), os cardápios escolares devem ser elaborados dentro das diretrizes do PNAE, para sirvam de instrumento para a satisfação das necessidades nutricionais e a formação de hábitos alimentares saudáveis, o que contribui pra o surgimento de uma nova cultura alimentar e para a promoção da saúde. Observa-se, que já havia na gestão anterior, esta prática de aquisição local de produtos, vindos da agricultura familiar, apesar da aquisição de alimentos provenientes de outras fontes. Embora, o fornecimento dos produtos agrícolas tenham sido provenientes de uma única comunidade, este fato sinaliza o início de um processo que tende a ser aprimorado, com a inclusão de outras comunidades. Esse opinativo do gestor público sugere que o programa precisa passar a ser observado quanto às questões ambientais, pois não foi feita nenhuma referência quando das falas sobre a origem da alimentação escolar, o que denota a necessidade de capacitação dos gestores públicos locais, principalmente, os ligados à gestão das escolas, no que diz respeito à educação ambiental, para que possa haver um aprimoramento do processo ligado à segurança alimentar e nutricional. Nesta linha de raciocínio, Azevedo e Pelicioni (2011), ao discutir sobre promoção da saúde, sustentabilidade e agroecologia, numa ótica intersetorial, afirma que o conceito de sustentabilidade vem sendo estudado sob vários ângulos, o que tem contribuído para sua construção, citando como exemplo a ótica da Agroecologia e do sistema agroalimentar, a partir da discussão que envolve a promoção da saúde. Sendo assim, tornou-se um desafio acadêmico relacionar saúde e sistema 76 agroalimentar, o que não é tão fácil, apesar do fortalecimento dos movimentos da Reforma Sanitária Brasileira e de Promoção de Saúde, na década de 1980, que observaram os diferentes determinantes e condicionantes do processo saúdedoença, não foi levado em conta na área da saúde pública, as repercussões socioambientais do padrão produtivo dominante. De acordo com as autoras, tal comportamento torna mais instigante, se observarmos que o Brasil ainda é um país com perfil agrícola e que a população urbana, na sua maioria possui um liame com o meio rural. Logo, as intervenções da Saúde Pública parecem ter sido, essencialmente, encontrar soluções para muitas mazelas urbanas que se originaram no meio rural. Logo, o fornecimento de alimentos para a merenda escolar, tem que observar a questão do desenvolvimento sustentável em sua plenitude, principalmente porque o consumidor dessa relação comercial, são crianças e adolescentes em formação, que se encontram numa zona de risco, quanto à segurança nutricional e alimentar, o que vem a fortalecer o que está previsto no PNAE, ou seja, não basta comprar a produção agrícola da agricultura familiar, mas também, deve ser observado o sistema de produção agroecológica, por ser mais nutritivo, natural e ecologicamente correto. [...] os alimentos fornecidos para as escolas, através do PNAE deveria ser de uma qualidade aquela que nós desejamos [...] E nós acreditamos piamente [...] de que esses alimentos são classificados como convencionais, onde deveria ter uma grande parte da produção orgânica e da agricultura familiar [...] Nós temos um indicativo bem forte de que esses alimentos são adquiridos pelas prefeituras [...] nas áreas de produção locais e os alimentos e..., os produtos, os itens não produzidos [...] na localidade são adquiridos pela CONAB, de acordo com a..., a disponibilidade de..., dos produtos que são ofertados para a comercialização [...] A CONAB, como órgão de controle de abastecimento, ela tem [...] a atribuição de adquirir esses produtos..., [...] e faz o repasse, o abastecimento para as instituições e os comerciantes e..., e o mercado de uma forma geral. [...] Nós acreditamos que dentro dos armazéns da CONAB..., é..., a..., o sistema de armazenamento e de comercialização e de refrigeração esteja dentro [...] dos padrões exigidos pela ANVISA [...]. De Glória do Goitá nós temos uma informação [...] que é o berço da produção orgânica, onde se encontra sediado o SERTA, [...] nós temos cinco ou seis OCS..., OCS é a Organização de Controle Social, que estão credenciadas, estão cadastradas aqui no Ministério da Agricultura para a produção de alimentos orgânicos, na venda direta ao consumidor. Leia-se nesse caso, a venda direta ao..., ao... , a venda institucional, ao caso, o PNAE e o PAA e nas feiras orgânicas, então Glória do Goitá é um centro de referência na produção orgânica e agricultura sustentável dentro da região da Zona da Mata de Pernambuco. (GP7) 77 É possível observar que, embora os gestores mencionados não se posicionem claramente sobre o conhecimento quanto à qualidade e a conservação dos alimentos fornecidos nas escolas públicas, e o relatem como o todo, as suas afirmações apontam para as questões ligadas a qualidade dos mesmos. O GP7 fez referência à Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA e a Companhia Nacional de Abastecimento - CONAB e seus papéis institucionais, acreditando que estes alimentos estejam dentro dos padrões aceitáveis. Mais adiante cita o SERTA como paradigma, ligado a produção orgânica no município de Glória do Goitá, o que induz a uma leitura, de que o sistema orgânico de produção desses alimentos deve ser levado em conta, na aquisição dos mesmos via PNAE, com o intuito de atender aos preceitos da sustentabilidade do processo estudado. Inserir os orgânicos nessa discussão faz refletir as consequências sociais e ambientas no modo de produzir, contribuindo para o desenvolvimento sustentável local e planetário, neste sentido, necessita-se de uma nova visão administrativa. Para Jara (1998), o problema fundamental da sociedade nordestina e, principalmente de Pernambuco, é a escolha de uma estratégia de mudança das estruturas, e não a formulação de planos regionais ou estaduais de desenvolvimento convencional. Atualmente, a ideia é adotar uma nova filosofia de desenvolvimento, baseada numa nova visão holística antagônica aos modelos economicistas, onde tudo deve ser quantificado em de dólares ou reais. A nova visão é inclusive na dimensão social, bem como resgata a matriz antagônica implícita no modelo de crescimento linear prevalecente, hoje governado pelo valor da competitividade. Essas novas idéias se fundamentam no conceito de desenvolvimento sustentável. A percepção da prática agronômica do gestor GP07 é de suma importância, para que se possa avaliar como está sendo executado o PNAE. Observa-se, pelas falas, que já se adquire alimentos produzidos localmente pela agricultura familiar, porém, é salutar que estes alimentos sejam livres de contaminantes, como asseverou este entrevistado. É importante que fique claro o porquê do questionamento a respeito da origem dos alimentos fornecidos para as escolas. Com tal questionamento, investiga-se o local onde está sendo produzida a alimentação, se é no próprio município onde esta localizada as unidades educacionais municipais, se é produzido pela agricultura familiar e por fim, se é proveniente do sistema de produção agroecológico ou orgânico. Se confirmados tais questionamentos, está se 78 promovendo o desenvolvimento local através de uma compra institucional justa, socialmente falando, e ecologicamente correta, ou seja, o PNAE está servindo de instrumento propulsor para o desenvolvimento sustentável. Os gestores públicos que têm conhecimento parcial sobre a alimentação e nutrição escolar: [...] as demais, eu não tenho conhecimento. A alimentação proveniente dos agricultores vem da agricultura familiar, agora as outras que são compradas pela gestão atual, em não sei de onde vem. [...] Quanto à qualidade e a conservação dos alimentos, não tenho conhecimento. Eu sei até na entrega. Eu sei que o IPA, junto com os dois programas de governo federal, PNAE e PAA, recebem toda esta alimentação e é distribuída. Depois desta distribuição eu não sei o que acontece com elas não. Atualmente quem recebe toda a alimentação fornecida pelos agricultores para a merenda escolar é o IPA a do PAA e a Secretaria de Educação do município a do PNAE, mas eu não sei até chegar a eles, eu sei, conheço o produto, agora depois, eu não sei dizer como é armazenada não. Quanto à qualidade e conservação dos produtos agrícolas, eu sei que a do PNAE é de qualidade boa, é da agricultura familiar, de pessoas assistida pelo IPA, e sempre estão participando das reuniões do Conselho de Desenvolvimento Municipal, aí, eu tenho conhecimento, agora como é o armazenamento não sei não. (GP1) Podem-se perceber de acordo com a fala do GP1, que as políticas públicas de inserção social e econômica já estão presentes em grande parte do território nacional, o que precisa, na realidade, é criar meios para viabilizá-las de forma correta, para que se possa atingir a filosofia das mesmas. Segundo Assis (2006), no Brasil, apesar das dificuldades para uma difusão ampliada de sistemas agroecológicos de produção, é possível superá-las, nas variadas organizações sociais de produção. Cabe ao Estado a difusão deste modo de produção, exercendo, assim, um papel essencial ao estabelecer políticas públicas específicas, nas diferentes hierarquias de poder, dentro das suas competências específicas, particularmente, nas áreas de crédito, pesquisa e extensão e, principalmente, criando mercados e fomentando a produção. O poder estatal tem que agir no sentido de dar apoio às associações e cooperativas de agricultores familiares, por serem os principais atores que possuem maior potencial para participarem ativamente do processo de desenvolvimento rural sustentável, movidos pelas práticas agroecológicas. Ao analisar essas assertivas, conclui-se que a comunidade necessita de ter mais acesso às informações ligadas ao PNAE, pois os atores sociais participantes do processo não têm um conhecimento seguro sobre a origem dos 79 alimentos fornecidos para a merenda escolar do município. Quando se refere aos produtos alimentícios vindo do campo, pode-se perceber que a uma afirmação no sentido de que é proveniente da agricultura familiar, o que vem a consolidar posicionamentos de atores, de outros grupos de estudo, refletindo que o processo está no caminho certo, precisando só de alguns ajustes, que com a implantação no município estudado, de um arranjo produtivo local focado na produção agrícola sustentável viabilizará. [...] nós começamos a perceber que houve tanto a inserção maior dos produtos vindos da agricultura familiar, sobre tudo, os produtos vindos da produção orgânica para as escolas, como ao mesmo tempo, essas escolas passaram a ofertar para os seus alunos, um alimento mais adequado pra aquela realidade, como é o caso, por exemplo: é..., de..., da contribuição que o Município de Glória do Goitá [...] esses alimentos fornecidos têm duas vantagens: primeiro, que são alimentos mais saudáveis pra quem está produzindo, ou seja, pelos agricultores e também quem vai se alimentar com esse produto, que são os alunos, os estudantes das escolas..., dos municípios. E ao mesmo tempo que tem esse alimento mais saudável, com valor nutricional, respeitando a cultura local [...] e aí não, aí você tem um vínculo com a realidade local e ao mesmo tempo você melhora a condição de renda..., é..., do agricultor. [...] é preciso que os municípios, sobre tudo no que diz respeito à qualidade e a conservação [...] possam ter suas centrais de recebimentos, [...] também nós estamos trabalhando alguns projetos pra incentivar o beneficiamento, [...] É..., transportar em equipamentos adequados, como é o caso dos contentores plásticos. [...] ou seja, há toda uma orientação para que haja o cuidado com o manuseio desses alimentos, até porque quem vai se alimentar são as nossas crianças [...] Ao mesmo tempo também, estamos orientando os municípios que possam, ou nos abatedouros regionais, ou nos municipais, [...] ou seja, sendo [...] nestes equipamentos públicos, pra poder atender à legislação de manuseio desses alimentos, [...] como é o caso de Glória do Goitá, e ao mesmo tempo, [...] melhorando também a sua qualidade, levando em consideração a primeira etapa, que é a produção, [...] que nós estamos ainda num regime de transição, mas o nosso desafio é fazer com que a produção que vá para as escolas seja seguramente, aquela produção saudável, com eu já disse, pra quem tá produzindo e pra quem vai consumir. No Brasil, ainda é muito alto o índice de agrotóxico, de veneno, que é utilizado nas produções [...] e isso pode colocar em risco o programa..., e consequentemente a vida dessas crianças. [...] a qualidade desses alimentos passa primeiro por um processo de produção..., nós também estamos incentivando, no caso, ali da Zona da Mata, [...] o que nós estamos chamando de assistência técnica específica pra produção de alimentos pro PAA, que é o Programa de Aquisição de Alimentos e o PNAE, que é esse programa, não é..., pra que possa [...] gradativamente, ir substituindo o modelo convencional da produção, pra uma produção orgânica e ao mesmo tempo pra esse processo de beneficiamento, pra assegurar a qualidade e a conservação desses produtos. (GP8) De acordo com este ator, a origem da alimentação escolar é consequência de uma parceria entre o Governo Federal, o Estado e os Municípios, como gestores locais do Programa Nacional de Alimentação Escolar. Dessa forma, 80 começa a se perceber que houve tanto a inserção maior dos produtos vindos da agricultura familiar, principalmente, os produtos vindos da produção orgânica para as escolas, como ao mesmo tempo, essas escolas passaram a ofertar para os seus alunos, um alimento mais adequado pra aquela realidade, como é o caso do Município de Glória do Goitá. Dentro desta linha, para Triches e Schneider (2010) o Estado passou a criar políticas públicas nessa área, com base nos modelos estruturantes ditados pelos conceitos de Segurança Alimentar e Nutricional sustentável (SAN). Tais políticas, decorrentes dessa abordagem compreendem dois componentes básicos, de acordo com o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional CONSEA de 2004: o componente alimentar, relacionado à produção, disponibilidade, comercialização e acesso ao alimento, e o componente nutricional, relacionado às práticas alimentares e à utilização biológica do alimento, e, portanto, ao estado de nutrição da população. Ambos os componentes propõem um modelo de produção e consumo de alimentos mais sustentável, que aproxime a produção de pequenos agricultores familiares e o consumo de alimentos, contribuindo para a reconexão da cadeia alimentar e de uma relação mais estreita entre campo e cidade. (TRICHES e SCHNEIDER, 2010) O PNAE cria esse liame entre os atores da cadeia de produção e comercialização: o agricultor familiar e a comunidade estudantil, atendendo assim, às diretrizes contidas na Política Nacional da Segurança Alimentar e Nutricional, oferecendo uma alimentação de boa qualidade para os estudantes, ao mesmo tempo, viabilizam os meios, de forma integrada com a Política Nacional da Agroecologia, para o surgimento de um arranjo produtivo local, onde os agricultores orgânicos, associados, farão a vez das empresas dentro deste processo produtivo. É possível perceber na fala do GP8, a sua preocupação, quanto à qualidade e conservação dos alimentos produzidos pela agricultura familiar, quando se refere às parcerias com o Ministério do Desenvolvimento Social, sobretudo com a Secretaria de Segurança Alimentar e Nutricional, com o foco na criação das centrais de recebimento dos alimentos, vindo da agricultura familiar, para apoiar o PNAE, nos municípios do Estado de Pernambuco, ao mesmo tempo, quando se refere ao beneficiamento de alimentos e a orientação no manejo dos alimentos. Chama a atenção também, para o transporte e o acondicionamento adequado da produção. É 81 de se destacar, a importante percepção deste ator, quanto ao consumo de agrotóxicos, quando afirma que no Brasil, ainda é muito alto o índice de agrotóxico, de veneno, que é utilizado nas produções, o que pode colocar em risco o programa, e, consequentemente, a vida dessas crianças, comprometendo a qualidade da alimentação escolar, em razão dos contaminantes químicos. A fala do GP8 é ratificada, pelas informações trazidas por Spadotto e Gomes (2007), quando aduzem que, anualmente são consumidos mundialmente em torno de 2,5 milhões de toneladas de agrotóxicos. E no Brasil, o consumo anual de agrotóxicos tem sido superior a 300 mil toneladas de produtos comerciais. Expresso em quantidade de ingrediente-ativo (i.a.), são consumidas anualmente, cerca de 130 mil toneladas no país; o que indica um aumento no consumo de agrotóxicos de 700% nos últimos quarenta anos, enquanto a área agrícola aumentou 78% no mesmo período. Deve-se ressaltar, que o respondente GP8 conseguiu manter a linha de raciocínio, quanto à qualidade e conservação dos alimentos e das problemáticas ambientais locais e globais, quanto ao uso indiscriminado de agrotóxicos, na produção agrícola convencional, o que acarreta grandes problemas ambientais. Para Siqueira (2008), as diferenças nas diversas formas de se encarar os problemas ambientais são também afetadas, pelas peculiaridades da percepção e interpretação do indivíduo, como também pelos diversos grupos sociais e profissionais. Tais peculiaridades, muitas vezes, fazem com que a população perceba determinados aspectos do ambiente, como prioridade a serem solucionados do que os problemas ambientais que realmente são ameaças, mas que não são perceptíveis pelos órgãos sensoriais. Dentro da contextualização investigada, quando da análise das percepções dos gestores, das escolas públicas municipais (GEPM), quando comparados aos gestores públicos (GP), é possível diagnosticar, que estes mostram um conhecimento mais aprofundado, sobre a temática trazida à baila, ou seja, mais da metade desse grupo conhece a origem da alimentação escolar do município estudado. Observa-se que há uma carência quanto à educação ambiental e a segurança alimentar por parte dos gestores das escolas municipais, apesar de serem estes os responsáveis pelo planejamento do que vai ser repassado pelos professores, que têm a atribuição de tratar das matérias aqui ventiladas, de forma transversal e multidisciplinar. 82 4.1.3 Percepções pelos Gestores Privados (GPR) sobre a alimentação e nutrição escolar. Nesse grupo serão observadas, as opiniões da sociedade organizada, que contribui para esse processo, por possuírem também, uma função fiscalizadora do PNAE. É importante analisar as opiniões de fontes diferentes, respeitando-se sempre as divergências, pois é no debate das diferenças, que surgem as soluções para as limitações observadas, e é nessa visão, que se construirão sugestões que venham a aglutinar os atores envolvidos, direta ou indiretamente, na pesquisa, com o desiderato de se atingir o tão almejado desenvolvimento local sustentável. Na análise do grupo dos Gestores Privados Municipais, Estaduais e Federais, nos quais se incluem os Gestores do SERTA, da APRUP, da APORG, bem como Técnicos e Consultores do ICEI e do SEBRAE, é possível identificar que, apesar de não ser predominante, há gestores privados que conhecem a origem dos alimentos fornecidos, via PNAE, para as escolas da rede municipal de ensino e que já compreendem a importância do programa alimentar, criado de forma institucional, para o desenvolvimento local, como pode ser visto nas opiniões abaixo. Os que têm conhecimento sobre o tipo de alimentação que é fornecida nas escolas: Hoje nas escolas, temos uma diversidade de produtos, como mamão, melancia, batata doce, melão, alface, com outras folhosas, no geral, vindo dos agricultores situados na zona rural de Glória do Goitá. [...] Quanto à conservação destes alimentos é muito decorrente de entregas imediatas. São entregas no depósito da Secretaria de Educação pela manhã, e sendo distribuídos na parte da tarde, ou no mais tardar, no dia seguinte. (GPR2) O GPR2 considera de forma simplória, que a conservação dos alimentos é muito decorrente de entregas imediatas, quando na verdade, observa-se que há uma variante bastante ampla, que interfere na conservação dos alimentos. No entanto, é possível constatar que, no posicionamento deste entrevistado, ele destaca o tempo da colheita até o fornecimento. Ab initio, ao analisar as falas dos gestores privados, participantes do processo de fornecimento de alimentos para as escolas municipais de Glória do Goitá, observa-se uma certa liberdade de expressão, talvez, por não estarem os mesmos vinculados diretamente ao poder público local. As respostas são bastante diversificadas e ricas de informações, saindo de um discurso padronizado e 83 vinculado ao poder do estado. Por isso, é de suma importância, considerar os opinativos divergentes, na coleta de informações voltadas para a construção do saber. Outro diagnóstico estampado e bem visível são os posicionamentos mais extensos, sem serem comedidos. Pode-se observar também, que os opinativos quanto à matéria in tela são mais envolventes, porque tem um quê de sensibilização cultural e educacional, demonstrando que a participação destes atores sociais no processo analisado, não acontece somente em virtude de uma imposição legal, mas por uma identidade com a causa, o qual demonstra um sentimento de pertencimento, que acontece de forma espontânea e não somente como cumprimento do dever funcional ou institucional. Esta análise é importante que seja feita, porque demonstra claramente uma necessidade de que seja promovida pela administração municipal, uma capacitação, ou até mesmo uma reciclagem, no que tange as práticas de gestão ambiental. Temos. Inclusive quero registrar que o PNAE favoreceu demais a melhoria da qualidade nutricional dos alunos não é [...] hoje nós temos uma alimentação bem mais saudável, ainda não é o desejável, mas já é um grande avanço, e o PNAE foi o grande responsável por esta mudança. Esta alimentação vem muito regionalmente, mais vem coisa muito de fora. [...] Então nós temos, por exemplo, produtos que vem de Condado até Glória do Goitá [...]. E nós..., mas pelo menos regionalmente, agente já vê uma luz vindo muito boa, porque essas culturas que estão aflorando após a monocultura da cana já estão dando um norte a nossa comercialização. [...] Quanto à qualidade e conservação destes alimentos, bom, não é muito boa, primeiro porque existem ainda resquícios daquela má conservação [...], outro aspecto também é o transporte, que a maioria vem por estradas vicinais que não são próprias para o transporte adequado, a falta de embalagem dos produtores, muitos com máquinas de embalagem, mas não tem condições técnicas de embalar a produção, de cortar a produção. Isso aí nos coloca muito em condição desvantagem, mas pouco a pouco vai se resolvendo isso com a aproximação dos produtores dos locais de consumo. A perda de alguns produtos lá da nossa região chega até 60%, é uma perda muito grande, principalmente quanto mais é..., dificuldade você tem de transportar, é mais alimento propenso à perda [...], isso é..., favorece o apodrecimento, o descarte e a contaminação de muitos lotes de produtos. Ali nós temos um clima que propicia muito a predadores naturais [...] Então, quanto mais nós melhorarmos [...] a nível de embalagens, de tecnologia, a nível de transporte, a nível de aproveitamento rápido, refrigeração, nós vamos reduzir drasticamente essas perdas. Já existe algum tipo de estrutura, a maioria das escolas, houve aquele programa PDDL – Dinheiro Direto na Escola favoreceu muito a aquisição de freezer, de geladeira, então já tem nas escolas um bom acondicionamento, e olhe que as escolas até pouco tempo só trabalhava com enlatados. [...] (GPR4) 84 Pela fala destes atores, a origem da alimentação escolar, proveniente do PNAE, leva em conta a aquisição local, observando o direito constitucional à alimentação escolar, com vistas à garantia do acesso ao alimento, de forma igualitária, que deve respeitar os hábitos alimentares de cada localidade, considerados as práticas tradicionais, que fazem parte da cultura local e a preferência por alimentos saudáveis, priorizando o desenvolvimento sustentável. Esta deve ser oferecida de forma ininterrupta, de acordo com o princípio da continuidade, propiciando aos alunos, o acesso regular e permanente à alimentação saudável e adequada, sendo o sistema orgânico de produção de alimentos o mais indicado, para atender as necessidades vitais destes alunos, em fase de desenvolvimento físico e mental. O ator GPR4 quando aponta algumas dificuldades do processo no município estudado afirma que a qualidade e a conservação dos alimentos servidos nas escolas de Glória do Goitá não são boas, aponta vários fatores que interferem na conservação dos alimentos, ao mesmo tempo em que afirma que já houve um avanço, quanto ao acondicionamento dos alimentos, nas unidades escolares, e por fim, traz várias sugestões, para o aperfeiçoamento do fornecimento da alimentação escolar, dentro do tópico analisado. Quanto à qualidade e conservação dos alimentos, servidos nas escolas, além dos fatores apontados pelo GPR4, Cunha, Sousa e Machado (2010) visualizam como objetivo do PNAE, que é gerenciado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), a melhoria na qualidade nutricional propiciado pela inserção dos alimentos orgânicos, na merenda escolar, o que vai refletir de forma positiva na aprendizagem e no rendimento escolar dos estudantes, bem como na formação de hábitos alimentares saudáveis, devido a sua abordagem, no processo de aprendizagem. Por consequência, o PNAE vem contribuir para uma nova visão pedagógica, dentro das ações desenvolvidas na escola, desenvolvendo uma nova importância no papel institucional, com novas práticas educativas que promovem mudanças nos hábitos alimentares dos escolares. Seguindo o raciocínio, o PNAE contribui com as suas diretrizes para a promoção da educação em saúde e nutrição, numa perspectiva mais ampla, contribui para a construção da cidadania dentro do contexto, através das práticas de educação alimentar e nutricional. A função transformadora desta política pública, por ser transdisciplinar, tem uma importância de grande relevância social, uma vez que a proposta 85 apresenta, pode ser observada não só nos limites da escola, mas junto aos familiares dos estudantes, que estão participando deste processo educativonutricional. Com tais práticas, constrói-se uma nova concepção de desenvolvimento e de saúde preventiva, de forma harmônica, através das relações existentes entre os atores sociais que podem fazer parte de um APL, viabilizado pela política em discussão. [...] a alimentação escolar do Município de Glória, do ponto de vista da produção orgânica, a gente tem o conhecimento que vem da comunidade de Palmeiras, vem também da comunidade do Araçá e vem também da comunidade Chã das Amoras, que são as três comunidades que tem uma produção orgânica. E também alguns produtos da comunidade de Cortesia. [...] pela primeira vez, a escola passa a discutir e a conversar sobre alimentos da agricultura familiar, porque quando a alimentação escolar vinha de fora, [...] então não tinha nada haver com a relação local. A partir do momento que o alimento, que os filhos dos agricultores vê seus pais produzindo e que eles produzem e vê os produtos aqui na escola, então esta relação escola e comunidade se aproxima, não é..., quer dizer, começa a ter uma interação, uma relação da escola com a comunidade. [...] Mas a relação da escola com a alimentação, ela consegue aproximar a vida das crianças, dos estudantes com a vida da escola. A partir do momento que aqueles produtos que os estudantes estão consumindo na escola foram suas próprias famílias que produziram, e aí..., hoje se diz..., hoje um dos..., um dos dados mundiais está mostrando que o Brasil é um dos países que mais consome agrotóxico. E já estão..., os dados comprovam que o nosso maior inimigo é alimentação. [...] a produção orgânica, não é..., a produção limpa, [...] ela trabalha tanto a qualidade biológica do solo, como também a qualidade biológica dos seres humanos. Então..., quem come e quem consome produto orgânico, acima de tudo está consumindo vida, não é..., [...] você está também consumindo outra filosofia de vida, uma outra relação com a natureza, uma outra relação com o meio ambiente, uma outra relação com o mercado, um mercado mais justo..., um mercado mais igualitário. Então, a produção orgânica, do ponto de vista da qualidade não se relaciona só do ponto vista da qualidade biológica, mais também a qualidade política, uma outra forma de fazer política, que seja mais dialogada com o local, ela dialoga com a outra qualidade do ponto de vista da organização produtiva dos agricultores familiares, porque pra produzir, comercializar, exige que os agricultores trabalhem coletivo, né..., associativismo..., cooperativismo. A produção orgânica exige uma outra relação dos agricultores com o meio ambiente, então a natureza deixa de ser objeto, não é..., e passa a ser um ator importante no processo produtivo, então..., a relação de exploração não existe, é muito mais uma relação de cooperação. A qualidade da produção orgânica exige que o consumidor tenha uma outra forma de relação com o produtor e o produtor com o consumidor. Porque não é mais aquela relação fria como a gente vê no supermercado, onde você não tem uma relação com quem tá produzindo, quem tá consumindo. [...] Então é justamente isso né..., essa qualidade..., ela não é só do ponto de vista da..., da qualidade biológica do produto orgânico que não tem agrotóxico, [...] Essa relação da qualidade produtiva, não é..., com a, com as relações sociais, a relação com o meio ambiente, da relação com a política pública, da relação com a escola. (GPR5) 86 O gestor GPR5 demonstra conhecimento prático, profissional e teórico, sobre a temática estudada, numa visão que envolve a gestão e a educação ambiental, ressaltando o aspecto da sustentabilidade albergado pelo PNAE, quando se refere à aquisição institucional da produção orgânica local. Almeida (2003) lembra que a experimentação de "novas" tecnologias, mais adaptadas às necessidades e à situação da pequena agricultura, de caráter familiar, v.g., o sistema de produção orgânico, de forma sistemática e organizada, bem como, as reivindicações de racionalização dos recursos naturais não renováveis, ou seja, os movimentos ecologista e ambientalista são algumas das orientações que fundamentam o movimento de contestação à agricultura convencional. Os que não têm conhecimento sobre o tipo de alimentação que é fornecida nas escolas: [...] No momento, eu não tenho informação [...] porque no momento que mudou de gestão, aí agente não teve acesso nenhum mais, o grupo do..., da associação dos agricultores. Porque na gestão anterior, eles pegavam produto orgânico da associação e nessa gestão, agora, não tá pegando nenhuma mais. [...] Quanto ao fornecimento de alimentos orgânicos fornecidos através do PNAE para a merenda escolar lá de Glória do Goitá [...] agente teve dois anos botando mercadoria e teve uma renda [...] Quanto à qualidade e a conservação desses alimentos, no momento eu não sei dizer. (GPR1) Observa-se, da análise da percepção do ator GPR1, que apesar dele não saber informar quanto à qualidade e a conservação dos alimentos fornecidos para rede municipal de ensino na gestão atual, ressalta que fornecia alimentos orgânicos para as escolas através do PNAE, o que demonstra que quanto ao aspecto ambiental e social da sustentabilidade, além do econômico, a gestão passada observava as recomendações contidas no art. 20 da Resolução/CD/FNDE nº 38, de 16 de julho de 2009, que dispõe sobre o atendimento da alimentação escolar, aos alunos da educação básica no Programa Nacional de Alimentação Escolar – PNAE, ao tratar da aquisição de gêneros alimentícios da agricultura familiar e do empreendedor familiar rural, conforme redação infra, que: Art.20. Os produtos da Agricultura Familiar e dos Empreendedores Familiares Rurais a serem fornecidos para Alimentação Escolar serão gêneros alimentícios, priorizando, sempre que possível, os alimentos orgânicos e/ou agroecológicos. (BRASIL, 2013g) 87 O art. 20 da Resolução/CD/FNDE n º 38/09, ao tratar da aquisição de gêneros alimentícios da agricultura familiar, é claro e objetivo, quanto à qualidade dos alimentos que devem ser servidos para os estudantes, destacando que são aqueles prioritariamente de origem orgânica, sendo este um dos principais sistemas agroecológicos. Não, o conhecimento que eu tenho em relação à gestão passada, eu sei que..., até pelo um trabalho dos próprios técnicos da APORG, que é uma instituição parceira do ICEI, que atua mais diretamente na comunidade, eu seu que houve aquisição por parte da prefeitura de alimentos através do PNAE. Então eu sei que a partir dessa aquisição, como a gente trabalha com agricultura orgânica né..., incentiva os agricultores a plantarem dessa maneira, eu sei que havia uma alimentação, boa parte dela realmente se comprava orgânico, então, daí, eu imagino que era uma alimentação de qualidade [...] Quanto à qualidade e conservação destes alimentos eu não saberia te informar não. Olha..., assim, eu sinceramente confio no trabalho dos agricultores, no trabalho dos técnicos, eu acredito que eram fornecidas coisas de qualidade, que eram bem armazenados, tudo mais. [...] E nesta gestão, realmente a gente sabe que tá tendo um pouquinho de dificuldade em relação à aquisição, principalmente a que é adquirida a comunidade que principalmente a gente trabalha lá, que é Palmeira, que a gente sabe que é orgânico [...]. Então, a gente sabe que nesta gestão não houve aquisição por parte da prefeitura dessa comunidade, então, eu acredito que isso pode ter influenciado, e caído um pouquinho a qualidade, e né..., a relação à saúde da alimentação que está sendo fornecida [...] Sei que da comunidade que a gente tem mais conhecimento que produz orgânico não está sendo adquirido. Imagino que talvez tenha caído a qualidade. Basicamente as dificuldades são as questões políticas, as divergências políticas, isso é que tem dificultado é... [...] Basicamente assim, realmente bem claro a questão é essa, são divergências políticas. (GPR3) Este ator ao responder quanto à origem da alimentação escolar, demonstra a importância do terceiro setor neste processo, que vai desencadear no surgimento de um APL, quando reconhece o trabalho dos próprios técnicos da APORG, que é uma instituição parceira do ICEI Brasil, que atua mais diretamente na comunidade. Afirma que houve aquisição por parte da prefeitura de alimentos através do PNAE, da produção proveniente da agricultura orgânica, o que é determinante como incentivo para os agricultores optarem por este sistema. Segundo ele, boa parte da alimentação era orgânica, o que colabora para a qualidade da merenda escolar. Como se pode observar, além dos demais atores sociais envolvidos na criação dos APLs, as ONGs têm o seu papel reconhecido mundialmente, sendo objeto de políticas específicas para tratar da matéria, sendo alvo de incentivos e 88 reconhecimento do seu papel para a sociedade, e numa nova visão para a economia local, foco do desenvolvimento local sustentável. Há mais de uma década, ações de apoio a atividades produtivas, com foco no território, passaram a ser organizadas a partir da noção de APLs. Em todo o país, iniciativas públicas do governo federal, dos estados e municípios, além dos esforços privados, pautam-se na abordagem de arranjos produtivos, com destaque, também, para a atuação dos bancos, públicos e privados, que reconhecem a importância da disponibilização de crédito em APLs (BRASIL, 2013i). Pode-se perceber que a postura do gestor GPR3 se coaduna perfeitamente com as informações prestadas pelo gestor GPR1, reforçando o seu discurso, e, por conseguinte, a análise já feita anteriormente. Por fim, na sua percepção quanto à qualidade dos alimentos fornecidos para as escolas, imagina que talvez tenha caído a mesma, e, ao final, traz à baila uma reflexão quanto às dificuldades, acreditando que são basicamente as questões políticas, as divergências políticas, que tem dificultado os processos analisados. Ressalta-se que esta é uma opinião que contribui no resultado da pesquisa, que é qualitativa, e essas impressões refletem o conhecimento sobre o fornecimento da alimentação escolar municipal, apresentando um comparativo entre as gestões municipais, anterior e atual, com relação ao desenvolvimento sustentável local. A maioria dos gestores privados demonstra conhecer a origem da alimentação fornecida nas escolas do município, de forma que, ou na gestão administrativa municipal anterior, ou na atual, os atores envolvidos, pelas suas falas, percebem, de forma sutil, as diretrizes traçadas pelo Programa Nacional da Alimentação Escolar, que dentre outros, visa fomentar o desenvolvimento sustentável, conforme se depreende da determinação contida no art. 2º da RESOLUÇÃO/CD/FNDE N º 38, de 16 de julho de 2009, que reza: I - DOS PRINCÍPIOS E DAS DIRETRIZES DO PROGRAMA Art. 2º São princípios do PNAE: [...] IV – a sustentabilidade e a continuidade, que visam ao acesso regular e permanente à alimentação saudável e adequada; V - o respeito aos hábitos alimentares, considerados como tais, as práticas tradicionais que fazem parte da cultura e da preferência alimentar local saudáveis [...] (BRASIL, 2013g). 89 Dentro da complexidade que envolve o presente estudo, observa-se que a administração local, busca respeitar o direito humano à alimentação adequada, de forma universal e equitativa, com o desiderato de garantir a segurança alimentar e nutricional dos alunos matriculados na rede pública municipal de educação básica. É possível observar, que embora os gestores mencionados não se posicionem claramente sobre meio ambiente como vertente a ser observada para que se atinja o desenvolvimento local sustentável, mas de forma ainda superficial, já se observa no relato como conjunto, que as suas afirmações apontam também para essas questões. O GPR1 quando afirma que, “na gestão anterior, eles pegavam produto orgânico da associação e nessa gestão, agora, não tá pegando nenhuma mais.”, está observando a questão ambiental do desenvolvimento sustentável, quanto ao fornecimento de alimentos orgânicos, adquiridos através do PNAE para a merenda escolar de Glória do Goitá. 4.1.4 Percepções pelos técnicos e pesquisadores em agricultura sobre a alimentação e nutrição escolar. Em consideração às percepções grupo de Técnicos e Pesquisadores em Agricultura, observa-se que existem conhecimentos distintos no que se refere ao tipo de alimentação que é fornecida nas escolas. Nenhum dos entrevistaram demonstrou que têm conhecimento sobre o tipo de alimentação que é fornecida nas escolas. Os que não têm conhecimento sobre o tipo de alimentação que é fornecida nas escolas: Eu não tenho conhecimento com relação à alimentação que é fornecida, nem de onde vem. Eu não tenho essa informação. [...] Agora a qualidade..., também nós fiscalizamos apenas essa parte de controle de resíduo. Então essa parte de produção, de controle como..., de qualidade, essas coisas, eu não tenho essa informação. Com relação aos resíduos no que está sendo oferecidos pelos agricultores para a merenda escolar, nós não coletamos assim o..., para a gente dar essa informação, teria que coletar é..., diretamente na recepção, na escola, na hora que recebe a alimentação, o produto não é..., então nós não fizemos ainda..., é..., nenhuma coleta em algum produto destinado as escolas. É interessante também que se faça isso, não é..., porque é uma confirmação do que se tá produzindo e entregando como se propõe, não é [...] (TPA3) 90 Este ator, na sua fala, quanto à qualidade e conservação da alimentação escolar, chama a atenção quanto à fiscalização e do controle de resíduos tóxicos. Dentro do processo de fornecimento da alimentação escolar é necessário que se faça esse tipo de controle de resíduos, observando-se a questão da logística reversa quanto à produção agrícola proveniente da agricultura familiar que adquire agrotóxicos para as suas atividades. Neste sentido, ressaltam Araújo e Juras (2011), a questão da logística reversa, prevista no do art. 33, dando destaque para a questão das embalagens de agrotóxicos, no inciso I do mesmo artigo, da Lei de Resíduos Sólidos (Lei nº 12.305, de agosto de 2010), infra: “São obrigados a estruturar e implementar sistemas de logística reversa, mediante retorno dos produtos após o uso pelo consumidor, de forma independente de serviço público de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, os fabricantes, importadores e comerciantes de: I – agrotóxicos, seus resíduos e embalagens, assim como outros produtos cuja embalagem, após o uso, constitua resíduo perigoso, observadas as regras de gerenciamento de resíduos perigosos previstas em lei ou regulamento, em normas estabelecidas pelos órgãos do Sinasa, do SNVS e do Suasa, ou em normas técnicas;... (BRASIL, 2013f) A questão dos resíduos tóxicos ligados à agricultura convencional, praticada também pela agricultura familiar e oferecidas nas escolas, deve ser observada quanto à qualidade e conservação da mesma. Apesar atividade do ator TPA3 está inserida na área da pesquisa e a sua instituição ter um papel importantíssimo no fomento, tanto da agricultura familiar, como, principalmente, da agricultura orgânica, o mesmo não conhecia a produção orgânica do município estudado, vez que a sua instituição atua no controle do uso indiscriminado de agrotóxicos e na produção de resíduos tóxicos, por parte da agricultura. O PNAE é um programa que busca proteger a saúde das crianças e dos adolescentes matriculados na rede de ensino público, o qual tem por objetivo: contribuir para o crescimento e o desenvolvimento biopsicossocial, a aprendizagem, o rendimento escolar e a formação de práticas alimentares saudáveis dos alunos, por meio de ações de educação alimentar e nutricional e da oferta de refeições que cubram as suas necessidades nutricionais, durante o período letivo. (BRASIL,2013d) 91 É importante que se destaque as práticas agrícolas sustentáveis, v.g. a produção orgânica de alimentos, prevista dentre os sistemas agroecológicos que devem ser priorizados na aquisição da merenda escolar, por respeitar os ciclos naturais, dentre outras diretrizes contidas na lei regulamenta a matéria. Segundo a Lei dos Alimentos Orgânicos, Lei nº 10.831/2003, no seu art.1º, § 1º, a finalidade de um sistema de produção orgânico é: I – a oferta de produtos saudáveis isentos de contaminantes intencionais; II – a preservação da diversidade biológica dos ecossistemas naturais e a recomposição ou incremento da diversidade biológica dos ecossistemas modificados em que se insere o sistema de produção [...] (BRASIL, 2013e) Os que têm conhecimento parcial sobre o tipo de alimentação que é fornecida nas escolas: [...] a alimentação da escola é feita pelo PNAE, através da prefeitura junto com a CONAB, ou é o MDS [...]. Para o estudante, no semestre passado, nós tivemos o PAA fornecido à educação, à saúde, certo? E ao hospital. É o programa de aquisição de alimentos, dezoito produtores forneciam parte de estudantes, parte para o PRÓ-JOVEM, que também são estudantes, que é uma ação social, e parte para o hospital, que é a saúde. [...] Quanto à qualidade e conservação desses alimentos, veja..., [...] O governo do Estado, o governo federal passa a verba para o IPA, o IPA compra o material e a gente recebe e repassa para as instituições. O IPA compra pago pelo governo e passa para a instituição, faz o reparse [...] Recebemos, colocamos, é, trazemos do município o agente sanitário, pra da vigilância, no caso a nutricionista, o vigilante sanitário, para ver a qualidade, se ele achar que não está no padrão e até pela visualização nossa que trabalhamos, aconselhamos que todo produto seja colhido recente, para que ele venha em boa qualidade. (TPA1) O TPA1 aponta a participação de uma equipe multidisciplinar que faz o controle da alimentação escolar, quando da sua recepção, o que demonstra outro avanço no sentido dos critérios da qualidade e conservação da alimentação escolar, visando atender as determinações da PNSAN. [...] Com o advento do PNAE, uma pequena parcela já tá sendo adquirido da produção orgânica familiar [...] dos próprios agricultores das regiões, produtoras. [...] Então, esse alimento vem dessas áreas que a gente chama brejos..., não é..., são geralmente..., é..., clima de altitude [...] em Glória do Goitá, eu conheço o trabalho realizado pelo SERTA..., e pela APORG, que são parceiras, nós somos entidades participantes da Comissão da Produção Orgânica de Pernambuco, que é vinculada ao Ministério da Agricultura. Qualidade e conservação dos alimentos orgânicos [...] ele tem que ser utilizado de imediato [...] e a qualidade, [...] são considerados bons, tem sido feito com essas entidades que acompanham [...], outras ONGS que trabalham também, acompanhando esses produtores ou grupos de produtores. Então a qualidade é boa, agora precisa aumentar é a 92 quantidade [...] Então, eu acho que a gente precisava crescer em capacitação, não só em capacitação, mais também em aumento de área, pra aumentar a..., a quantidade de produtos. E a qualidade, eles são acompanhadas, eles são monitoradas pela..., por esses órgãos e também quando se tem alguma denúncia, a gente tem o apoio da ADAGRO [...], coletando produtos e fazendo análises no ITEP, [...]. (TPA4) É perceptível pela fala deste entrevistado, quando afirma que alimentação escolar, através do PNAE, passou a ser adquirida no local onde é produzida, porém, não detalha qual a sua origem. Na sua percepção, os alimentos orgânicos são perecíveis, mas são de boa qualidade. Vislumbra uma possível ampliação de mercado em razão de eventos de grande porte que acontece no Estado e o possível fornecimento desse tipo de produção de alimentos, para uma rede de restaurantes, sendo necessária para isso, a capacitação. É nítida a importância deste processo de aquisição dos alimentos a serem servidos nas escolas, uma vez que, dependendo da sua origem se estará sendo observado um direito garantido pela Constituição Federal, conforme preceito contido no art. 208, verbis: Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: [...] VII - atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica, por meio de programas suplementares de material didático escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde. [...] (BRASIL, 2013b) De modo geral, é possível perceber, que os vinte e cinco atores envolvidos, direta ou indiretamente, com o fornecimento da alimentação escolar, através do PNAE, divididos em grupos de acordo com similitudes das suas atividades, nove deles tem conhecimento sobre a sua origem, oito não tem conhecimento e oito tem conhecimento parcial. Análises a cerca das percepções por parte dos sujeitos da pesquisa quanto à qualidade e conservação da alimentação que é fornecida nas escolas, é possível verificar que os gestores se posicionam de forma distinta, o que é bom para o município estudado, pois com as diversidades que surgem um crescimento harmônico. As divergências são salutares, para que se amadureçam as ideias. Para isso, é necessária a utilização de ferramentas adequadas para o alcance do desenvolvimento local sustentável. Como exemplo dessas ferramentas, segundo Buarque (1999), o planejamento local e municipal, seria uma opção, onde a aplicação para subespaços 93 de pequena escala dos métodos e técnicas, consagrados na teoria e na prática do planejamento governamental, viabiliza o desenvolvimento. Estes métodos e técnicas devem ser adaptados e ajustados à visão moderna de planejamento e de desenvolvimento, onde se inclui os postulados do planejamento estratégico e do desenvolvimento sustentável. O que implica numa visão de longo prazo, com uma abordagem sistêmica, através de um tratamento multidisciplinar, bem como, através da negociação política e participação social. 4.2 PERCEPÇÕES SOBRE AS QUESTÕES RELACIONADAS AO PNAE E O FORNECIMENTO DE ALIMENTOS POR PARTE DOS AGRICULTORES FAMILIARES LOCAIS PARA AS ESCOLAS MUNICIPAIS Esta questão busca elucidar como os demais atores percebem as questões que envolvem o fornecimento de alimentos produzidos pelos agricultores do locus da pesquisa e as determinações contidas no PNAE, ou seja, avaliar como percebem a problemática do fornecimento e consumo de alimentos escolares, levando-se em conta os princípios determinantes do PNAE. Sendo assim, uma maneira de lincar, de forma lógica, a questão anterior, analisando se a percepção do desenvolvimento sustentável é compatível com o entendimento sobre a produção dos alimentos orgânicos visando uma melhoria tanto da produção, ambientalmente correta, como da qualidade da alimentação produzida, observando-se sempre os sistemas agroecológicos. O levantamento, quanto à referida questão encontra-se representado no quadro sinóptico abaixo. Quadro sinóptico dos resultados 02 - Percepções sobre as questões relacionadas ao PNAE e o fornecimento de alimentos por parte dos agricultores familiares locais para as escolas municipais. PNAE E O FORNECIMENTO DE ALIMENTOS POR PARTE DOS AGRICULTORES FAMILIARES LOCAIS. GEPM GP GPR TPA Total Percebem Não percebem 7 0 7 0 4 0 1 3 19 3 Percebem parcialmente 2 1 1 0 4 Total 9 8 5 4 26 Fonte: pesquisa de campo, o autor. 94 4.2.1 Percepções pelos Gestores das Escolas Públicas Municipais quanto às questões relacionadas ao PNAE e o fornecimento de alimentos por parte dos agricultores familiares locais. Pelas falas dos gestores escolares do município, percebe-se que os mesmos carecem de informação de base ambiental, bem como, de esclarecimentos quanto ao sistema de produção de alimentos orgânicos e por fim, das diretrizes contidas no Programa Nacional da Alimentação Escolar, visto que a minoria tem um conhecimento muito superficial sobre a temática ventilada. - Como vão gerir a execução da alimentação escolar nas suas unidades de ensino? Como vão repassar para os professores e a comunidade escolar, as questões ligadas à Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, se desconhecem o assunto? Como o PNAE pode instrumentalizar o desenvolvimento local sustentável, sem um envolvimento de quem é ator neste processo? Os que não percebem as questões relacionadas ao PNAE, quanto ao fornecimento de alimentos por parte dos agricultores familiares locais para as escolas municipais: Sim. [...] Assim, na hora da reunião, onde eles apresentaram as licitações de preço e tudo, e eu estava lá presente, lá os pessoal, assim..., os fornecedores dos sítios, entendeu? Tinha de..., de..., Chão de Amoras..., lá do Araçá e lá de Palmeiras. [...] Conheço os alimentos orgânicos. Não..., não, não só quando o próprio agricultor fala. Estão sendo fornecidos alimentos orgânicos produzidos aqui no município porque o Secretário de Agricultura, não é? [...] Ele..., ele..., ele fica assim..., bem a par desse assunto..., ele acompanha, justamente. (GEPM2) É. Fornece. Que são os bolo, tapioca..., é bolo, a tapioca e as verdura é daqui mesmo da cidade. Tem um fornecimento de alimentos orgânicos, tem como é o nome... Mas tem, eu esqueci o nome agora, mas tem. (GEPM3) Como assim? Não. Eu não sou, eu não sou assim..., é bem assim alterada pra responder essa pergunta. Mais eu creio que autóxico não tem não. Agora eles são bem conservado e vem da região! É..., eles não são autóxico, eu acho que não tem não! Acho exatamente que eles cumprem com o PNAE, eu acho que eles cumprem muito bem, sobre os alimento. (GEPM4) Sim. Acredito que sim! A porque ele vende é..., pelo que..., o pedido que eles solicitam vem tudo certinho. [...] (GEPM5) Adquire. Adquire, tem..., as frutas, os legumes..., não é... Tem o bolo que é servido pelo PNAIC. É... Tem o colorau, [...]. a batata, o inhame, às vezes vem a macaxeira. Quanto ao fornecimento de alimentos orgânicos produzidos pelos agricultores de Glória, olhe..., no vê, sim. Eu não sei assim..., porque a gente num..., mais assim..., quando... Fizeram a reunião que passaram pra agente, era que os alimentos era orgânicos, que era dos 95 agricultores que plantavam dentro do município e ia fornecer para as escolas, esse produto. (GEPM6) Não né? Pelo PNAE? É [...] pelo PNAE, isso? Não! Eu não seu informar isso não. É justamente porque já vem fornecido da Secretaria da Educação pra a escola. A gente já recebe tudo aqui. (GEPM7) Olhe..., isso eu não sei. Não sei o que é PNAE. Acho que sim, porque as verduras duram! Demoram a se estragar e as frutas também. E a escola aqui não é tão grande, ai vem muitas fruta, muitas verdura e demora. Eu coloco ali, dou um jeitinho, conservo. Eu coloco assim..., na geladeira, o não dar, eu coloco assim..., num ambiente assim..., onde ficam frescos e eles duram bastante. (GEPM8) A maioria dos gestores das escolas municipais demonstra não conhecer a complexidade que envolve o PNAE, mostrando-se propensos a não vislumbrarem as questões ambientais, sob a ótica da sustentabilidade, envolvendo a agricultura orgânica e a agroecologia, entre outros aspectos. Assim, a maior parte afirma que, a origem dos alimentos é proveniente da agricultura familiar local, ou seja, busca uma visão que atende a um dos pilares do desenvolvimento sustentável, primado pelo PNAE, o que demonstra uma necessidade de ser trabalhada a matéria, para que o PNAE se torne realmente um instrumento de mudança na gestão municipal focada no desenvolvimento local sustentável. Neste contexto vê-se a necessidade da agricultura fazer frente às demandas contidas nas diretrizes do PNAE, principalmente aumentando a produção das terras atualmente exploradas e evitando a exaustão ainda maior, de terras que só marginalmente são apropriadas para o cultivo. (BRASIL, 2013a) Os gestores das unidades de ensino municipal que percebem parcialmente as questões relacionadas ao PNAE quanto ao fornecimento de alimentos por parte dos agricultores familiares locais para as escolas municipais: Adquirem [...] a merenda é adquirida de forma de forma centralizada, aqui no município a gente faz a distribuição, o núcleo é a Secretaria de Educação, aqui a gente se encarrega de distribuir nas escolas. Com relação à aquisição dos alimentos orgânicos, é através de..., porque existe aquele processo né! A própria merenda dá o direito né..., o dinheiro da merenda né... Existem dois tipos. Aquele tipo você pode comprar, no caso, essa aquisição da merenda orgânica, que é a batata, o inhame, a macaxeira. [...] Existem pessoas aqui em Glória que já tem plantio mesmo, a gente tem em Glória do Goitá, a gente tem um percentual de dez por cento dos agricultores que vivem dessa mão-de-obra, que já é renda para o município. Esses agricultores participam desse processo de venda para o Município. A comunidade que participa..., a gente tem mais em Palmeira Velha, em PauD’arco, a gente tem em Chão de Pedra, pra aquele lado, sempre daquele lado que segue pra Vitória, através de associação. Temos a associação de Araçá, a gente também tem..., associação lá de Viração, Poças, pra aquele 96 lado também [...] quem dá garantia que o produto é orgânico é o Secretário de Desenvolvimento de..., que hoje a gente não pode mais chamar Secretário de Cultura..., de Agricultura... Tem um outro nome. É de Planejamento e um dizerzinho..., [...] É o Secretário e ele se preocupa muito com isso, esse é o controle que é feito, é de responsabilidade dessa secretaria. (GEPM1) O entrevistado GEPM1, ao afirmar que fornecimento de alimentos por parte dos agricultores locais, para as escolas municipais, observa as questões relacionadas ao PNAE faz referência à aquisição desses, junto aos agricultores familiares do município, participantes de associações. No entanto, pela sua fala é possível perceber que o entendimento do mesmo, quanto ao PNAE, está limitado à questão econômica e social, quanto ao aspecto ambiental, nota-se que o mesmo não apresenta compreensão do conceito da produção agroecológica ou orgânica. É válido ressaltar, que no entendimento geral deste ator, quanto aos procedimentos, para se ter a garantia de que os alimentos são orgânicos, não estão em conformidade sobre as regulamentações que tratam da matéria, porém, demonstra uma certa abertura para a discussão deste tema. Não se pode restringir a responsabilidade da qualidade dos alimentos orgânicos, ao gestor de agricultura. A escolha por alimentos saudáveis deve ser preocupação de quem compra e consome, pois a questão do consumo de agrotóxicos, por crianças em idade escolar é algo muito sério, principalmente, por estarem numa faze de se criar novos hábitos alimentares. Segundo Kugler (2012), seja na agricultura familiar ou nas grandes propriedades rurais, “os impactos dos agrotóxicos na saúde pública abrangem vastos territórios e envolvem diferentes grupos populacionais”, afirma dossiê publicado em abril pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO). Milhares de casos de contaminação são registrados todos os anos pelo Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas, gerido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e pelo Sistema de Notificações em Vigilância Sanitária, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Mas, segundo a Organização Mundial da Saúde, de cada cinquenta casos de intoxicação por agrotóxico no mundo, apenas um é notificado. O que chama a atenção é que além dos agricultores e suas famílias, milhares de profissionais envolvidos no comércio e manipulação dessas substâncias correm risco vida por intoxicação. É fundamental para as escolas que 97 aderiram ao PNAE, conhecer a origem e a forma de produção dos alimentos produzidos de forma saudável. Sim, devido à qualidade dos alimentos né..., porque também é um Órgão Federal, não é..., que já envia essa verba, e nós temos que..., é..., ir de encontro ao que nos é oferecido. Então se..., se o PNAE nos oferece um recurso, então ele está sendo bem utilizado em relação à alimentação dos nossos alunos. Sim, no meu consentimento a gestão ela visa, é..., a compra da merenda nesse sentido, não é? No local da própria cidade, então Glória do Goitá, ela tem os supermercados, não é..., que oferecem, os representantes que oferecem os materiais é..., tanto de limpeza, como de alimentos, não é..., e também os nossos agricultores pra fazer parte de todo o nosso processo e ajudar na renda do nosso município. Os agricultores estão participando desse processo devido à qualidade das verduras que vêm. Elas sempre vêm bem verdinhas, elas não têm vestígios nenhum que foram usados agrotóxicos. (GEPM9) Quando questionados, se a escola adquire alimentos nos moldes previstos pelo PNAE, os atores envolvidos nesta questão focam sempre no fornecimento local junto aos agricultores, que é a compra por meio das associações da agricultura familiar do próprio município, segundo informação passada em reunião com os gestores escolares. Embora os entrevistados não caracterizem o que são os alimentos orgânicos, fizeram menção aos mesmos, acreditando não serem contaminados por produtos tóxicos. Tais considerações apresentam uma preocupação principalmente com a questão de uma alimentação natural, visto que, em ambas as falas, foram citadas questões ligadas à origem da produção agrícola. Um aspecto relevante a considerar está na aquisição local, afirmada por esses respondentes, quando abordam a questão, se a escola adquire alimentos nos moldes previstos pelo PNAE. 4.2.2 Percepções pelos Gestores Públicos quanto às questões relacionadas ao PNAE e o fornecimento de alimentos por parte dos agricultores familiares locais. Os gestores públicos que percebem as questões relacionadas ao PNAE quanto ao fornecimento de alimentos por parte dos agricultores locais para as escolas municipais: Sim. É..., todos nos moldes do PNAE, agora sim..., a gente tem dois produtos que a gente compra do agricultor. É o PNAE que daria uma articulação, a prefeitura que organiza todo o processo e o PAA, através de uma parceria com o IPA. Também a gente recebe os produtos do IPA, através de doação, também vai para as escolas. Então temos o PNAE e o 98 PAA, temos os dois programas. O PAA é uma comercialização individual. Pelo PNAE o agricultor deve obrigatoriamente ser via associação. Pela PAA, ele como produtor rural, desde que ele tenha DAP, ele pode fornecer direto ao Estado. O Estado compra, ele recebe um cartão, o Estado deposita o dinheiro direto na conta dele e ele se compromete a entregar a quantidade de produtos durante o semestre. E aí o IPA recebe esse produto, a gente vai junto com o IPA no ponto de entrega, recebe e ai faz a doação para as escolas municipais e a creche. [...] Todos os produtos fornecidos pelo PNAE, a maioria dos produtos são orgânicos, e ai tem porcentagem de 30% do valor agregado do produto que é orgânico, ele tem um valor que é mais caro 30%. Só que aí a gente, como tinha produtos que são mistos, nós fizemos um acordo entre os próprios produtores, e todos comercializarem todos os produtos, priorizando o produto orgânico, mais aí por um valor que todos pudessem ser contemplados de forma igualitária. Com relação os orgânicos quem dá a garantia de que eles são orgânicos, tem a associação de palmeira que eu acredito que ela tem certificação, as outras associações não têm certificação de produto orgânico. Mas pelo acompanhamento que a gente dá, a gente sabe que o produto é sem a utilização de agrotóxicos. [...] O SERTA tem participação nenhuma nesse processo. Temos parcerias com todas as associações rurais, com a APORG, com as instituições que participam do conselho, mas depende também das necessidades das associações. (GP2) De acordo com a fala do GP2, ele achou que poderia tratar os desiguais de forma igual, pagando o mesmo valor para o alimento produzido pelo sistema orgânico e o produzido de forma convencional. Assegura que prioriza o produto orgânico, pagando um valor que todos pudessem ser contemplados de forma igualitária. Sabe-se que o custo para produzir de forma orgânica não é o mesmo do convencional, e que as exigências agronômicas, ambientais, sociais de toda a legislação que tratam daquele tipo de produção são bem maiores, logo, não se deve confundir o princípio da isonomia, pois nunca desiguais serão iguais, devendo os produtos produzidos dentro dos sistemas agroecológicos serem pagos pelo preço justo, pois, é justamente um dos fatores que motivam a ampliação do mercado inclusivo, nos programas institucionais de aquisição de alimentos. A compra local promove a racionalização nos custos e na logística, o que também viabiliza a eficácia das diretrizes traçadas pelo PNAE, focada na promoção de uma agricultura sustentável. Sim. Adquirem. A gente fez pública né? Do..., para fazer dessa agricultura. E segue esse, os padrões do PNAE. A gente teve toda uma consultoria, quando a gente entrou, a gente não tinha muita experiência, a gente fez a do ano passado e aí a gente fez toda nos moldes do PNAE. - com relação ao fornecimento de alimentos orgânicos, com é que tem acontecido? Bem..., orgânicos, a gente não tem. Inclusive a gente é... Aqui em Glória a gente tem o SERTA né? Que produz isso aí e faz o acompanhamento, mais o nosso, ele não é orgânico. A APORG não está participando do processo, é, realmente, o SERTA só intermedia né? Mas, existe a possibilidade de que 99 essa associação venha a participar, porque é de interesse nosso que seja usada a..., produtos a..., produtos orgânicos. (GP3) Da perspectiva do gestor GP3, ao afirmar a adequação das compras da alimentação escolar, aos preceitos elencados no PNAE, informa que recebeu consultoria quando iniciou no processo, pois não tinha muita experiência. No que se refere ao fornecimento de alimentos orgânicos para as escolas municipais, informou que não tem e que alimentação escolar não é orgânica. Chaves et al (2009), lembra que a construção de políticas públicas que garantam os direitos do cidadão é um compromisso de quem defende a educação, a consolidação da democracia e o combate às injustiças da sociedade contemporânea. Dentro desta linha, encontra-se o PNAE, que é financiado através de transferência de recursos financeiros de forma suplementar para garantir, no mínimo, 15% das necessidades diárias dos alunos do ensino infantil e fundamental. Além do desiderato nutricional dos alunos, visa contribuir para a criação de novos hábitos alimentares saudáveis, atendendo aos princípios positivados pela Lei nº 11.947/09, que regulamenta o PNAE, contribuindo para a preservação dos hábitos alimentares regionais, que faz parte da cultura de uma comunidade, através de cardápios elaborados com a participação de um profissional da área de nutrição, que é o técnico responsável pelo programa. A gente tinha que escolher né! Só se não tivesse..., por exemplo, no primeiro ano, 2009, não conseguimos, justamente porque o agricultor familiar, as associações não estavam habilitadas para fornecer isso. Porque você sabe, depende de uma documentação que o município exige. Então eles não tinham como participar. Então, no primeiro ano nós não conseguimos fazer isso, comprar essa merenda, do PNAE, a que eles pede que compre, parece que é vinte ou trinta por cento. É uma exigência do Ministério que compre isso. Inclusive nós chegamos até a comprar mais de trinta por cento depois, não posso te quantificar com certeza, mais a gente chegou a comprar mais. A aquisição desses alimentos era feita de acordo com a legislação que rege o PNAE, [...] os orgânicos, a gente comprava o que eles tinham de orgânico..., e Palmeira geralmente ele trabalha com orgânico, então, a gente recebia esse alimento..., como a gente estava trabalhando a questão da sustentabilidade nas escolas também, mostra isso pra eles, a importância de comprar esse alimento, da escola, como..., trabalhar com educação, trabalha esse..., a sustentabilidade e mostrar que ela pode participar oferecendo esse tipo de alimento. Como é que você trabalha a sustentabilidade, se você tem no próprio município e você não oferece isso? Quer dizer, a gente não oferecia antes porque tem o entrave da questão burocrática, que as próprias associações que são produtoras desse..., não estão habilitadas. A gente só tinha praticamente quem? Palmeiras que tinham o apoio dos meninos da APORG. Os alunos sabiam o que estava sendo servido, o que se comprava no município e o que a gente recebia fora, porque a gente não tinha ainda... A..., o município não estava..., como é que eu posso te falar..., preparado pra..., porque você 100 sabe que é um volume significativo não é! Então eles não estavam preparados para atender a demanda, e mesmo porque era uma coisa nova, porque ninguém comprava isso do próprio agricultor, se comprasse, era a um atravessador, e a gente não tinha atravessador. O atravessador não existia, eliminou o atravessador. [...] Nós não..., nós comprávamos ao próprio produtor. (GP4) No que se refere a este aspecto, o GP4 focou na gestão passada da qual participou, o que possibilita uma análise das limitações e dificuldades vivenciadas quando da implantação do PNAE no município locus da pesquisa. Lembra que no ano de 2009, não conseguiram cumprir a determinação da compra mínima local porque os agricultores familiares, bem como, as associações, não estavam habilitados para participarem do processo. Quanto aos orgânicos, estes vinham da comunidade de Palmeira. Mantendo a mesma linha de raciocínio, o GP4, afirmando que a questão burocrática é um entrave no processo. Registra-se, no geral, um posicionamento dicotômico entre as falas do gestor GP2 com a dos gestores GP3 e GP4. A fala deste gestor se coaduna com a afirmação de Triches e Schneider (2010), ao afirmarem que os programas públicos alimentares são potenciais reintegradores entre os atores sociais do campo, representados pelo agricultor familiar e o homem da cidade, que é formado pelo consumidor escolar, visando aprimorar a relação de consumo e a produção de alimentos como consequência da integração de políticas públicas que buscam melhorar à saúde dos estudantes, bem como, a criação de um mercado socialmente justo e ecologicamente correto. Sim. Na verdade o PNAE diz o que? Que trinta por cento do que..., da verba que vem do FNE deve ser é..., aqui..., a..., utilizado pra aquisição desses produtos né..., da agricultura familiar. Atualmente, a gente está utilizando mais que trinta por cento dessa verba. O ano passado, a gente utilizou em torno de quarenta..., quarenta e um pouquinho. Porque eu tenho uma verba que vem mensalmente em torno de R$ 36.000,00 (trinta e seis mil) que vem do FNDE pra aquisição de alimentos para a merenda escolar. Então desse quantitativo a gente usa mais que trinta por cento, que é o..., o valor que o FNDE recomenda pra a gente utilizar do..., na aquisição dos hortifrútis. [...] Com relação aos alimentos orgânicos, a gente não tem assim..., um..., um..., um quantitativo estabelecido porque a gente não tem produtor com o selo que produz alimento orgânico. É..., então a gente não tem..., essa..., esse..., quantitativo estabelecido, não..., orgânico..., ou não é orgânico, a gente não tem esse controle atualmente. Veja só, eu já sabia que tinha algumas associações já produziam e tinham esse selo, o problema é que se a gente compra esses produtos com selo, eles são mais caros, realmente são mais caros e lógico tem a qualidade melhor. Só que no momento da..., da chamada, da organização da chamada, tinha um produtor que tinha e outro que não tinha. Então pra beneficiar todos os produtores, a gente escolheu até então, não especificar se era agrícola ou não, na verdade, se era agroecológico ou não, pra beneficiar todo mundo. Todo mundo poder 101 participar, mais dessa forma, a gente sabe que realmente tem produtores com selo, agora não..., não..., em..., em larga escala. (GP5) Quando da análise da participação do respondente GP5, observa-se uma harmonia com a fala do GP2, quanto à observação do quantitativo mínimo a ser observado, na aquisição de produtos oriundos da produção da agricultura familiar local. Com relação aos alimentos orgânicos informou “não ter um quantitativo estabelecido porque a gente não tem produtor com o selo que produz alimento orgânico.” Mais adiante, contraditoriamente, afirma que já sabia que tinha algumas associações que produziam e que tinham esse selo, porém eles não são adquiridos em razão do preço destes produtos com selo, porque eles são mais caros, apesar de terem uma qualidade superior. Então para beneficiar todos os produtores orgânicos e não orgânicos, decidiram não especificar se era agroecológico ou não, o que vem de certa forma, a confirmar a informação da gestora GP3, de que não se adquire alimentos orgânicos, mesmo eles sendo produzidos conforme a previsão legal, para atender o viés da compra institucional sustentável de alimentos produzidos pelos agricultores orgânicos existente no município estudado. É importante que se observe as diretrizes contidas no PNAE, quando da aquisição dos alimentos produzidos pela agricultura familiar local para atender as necessidades sustentáveis dos cardápios. De acordo com Gabriel et al (2012), é necessário o planejamento adequado e o acompanhamento da execução dos referidos cardápios para a eficácia do programa. Embora o PNAE possua uma longa trajetória, existem poucos estudos sobre importante política pública e suas diretrizes. Deveria ser. Nós..., nós estamos lutando [...] junto com os nossos parceiros da CEPORG [...] e nós estamos com um..., um trabalho..., de conscientização..., de esclarecimento, vamos dizer assim..., aos compradores institucionais, especificamente as prefeituras e o Governo do Estado, dentro dos programas do PNAE e do PAA, que estabelece a aquisição de produtos orgânicos de origem familiar e de produtos orgânicos para o fornecimento a estes programas, estes programas básico de alimentos. Então [...] nós estamos trabalhando para que essa realidade seja efetivada dentro desses dois programas de aquisição de alimentos do governo, [...] uma comercialização efetivas dos produtos orgânicos, para a alimentação das..., das crianças, dos adolescentes, no programa de alimentação escolar. (GP7) Deve-se considerar que o GP7 ao fazer a sua explanação, expressou a sua preocupação com a inserção dos alimentos orgânicos, na merenda escolar 102 municipal para atender as determinações contidas no PNAE, visando o desenvolvimento sustentável. Denota-se, portanto, um entendimento bastante relevante sobre a temática trazida para discussão, visto que ao esclarecer as suas afirmações, aponta para os pontos de extrema importância para o sucesso do PNAE, quais sejam: a conscientização e o esclarecimento dos compradores institucionais, especificamente as prefeituras e o Governo do Estado, quanto à importância da produção orgânica para atender as determinações contidas na Política nacional da Segurança Alimentar e Nutricional. O diagnóstico do contexto sob análise, é de que existem, na localidade, vários atores que fazem parte do processo de fornecimento de alimentos para as escolas municipais via PNAE, no entanto, estão atuando de forma desordenada, o que dificulta a promoção do desenvolvimento local sustentável. Observa-se ainda, quanto aos agricultores familiares, que seria interessante intensificar as atividades de apoio diferenciado aos mesmos, incluindo o sistema de produção orgânica para atender o viés ambiental da sustentabilidade, o qual está também previsto no PNAE. Um APL focado na produção orgânica familiar vai promover a articulação e a complementaridade do PNAE, bem como, de outros projetos e atividades de apoio à agricultura familiar, promovendo a nível local o desenvolvimento rural sustentável. Para este desiderato, deve-se integrar o PRONAF, dando o apoio necessário para a viabilidade econômica da agricultura familiar. Nesta linha de raciocínio, foi elaborada a Lei de Assistência Técnica e Extensão Rural, Lei nº 12.188/2010, que instituiu a Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural para a Agricultura Familiar e Reforma Agrária - PNATER e o Programa Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural na Agricultura Familiar e na Reforma Agrária - PRONATER, que entre as suas principais diretrizes determina: o Art. 3 São princípios da Pnater: I - desenvolvimento rural sustentável, compatível com a utilização adequada dos recursos naturais e com a preservação do meio ambiente; II - gratuidade, qualidade e acessibilidade aos serviços de assistência técnica e extensão rural; III - adoção de metodologia participativa, com enfoque multidisciplinar, interdisciplinar e intercultural, buscando a construção da cidadania e a democratização da gestão da política pública; IV - adoção dos princípios da agricultura de base ecológica como enfoque preferencial para o desenvolvimento de sistemas de produção sustentáveis; V - equidade nas relações de gênero, geração, raça e etnia; e VI - contribuição para a segurança e soberania alimentar e nutricional. (BRASIL, 2014d). 103 Ab initio, da interpretação do inciso I, do artigo supracitado, como corolário das políticas públicas focadas na produção de alimentos, prever que o alcance do almejado desenvolvimento rural sustentável deve ser compatível com a utilização adequada dos recursos naturais e com a preservação do meio ambiente. Tal diretriz serve de lume, para a execução de qualquer programa nesta seara. A agricultura familiar ao inserir a produção orgânica como meta, para se adequar a nova visão de gestão e de economia, precisa adotar uma metodologia participativa, através das associações rurais, sindicato e ONGS, bem como das demais instituições públicas e privadas, com enfoque multidisciplinar, interdisciplinar e intercultural, buscando a construção da cidadania e a democratização da gestão das políticas públicas, conforme previsão contida no inciso III supra. Destaca-se mais uma vez, que a visão do GP7 se coaduna com a adoção dos princípios da agricultura de base ecológica, como enfoque preferencial, para o desenvolvimento de sistemas de produção sustentáveis, visando à adequação para com a segurança e soberania alimentar e nutricional das crianças e adolescentes, em formação físico e psicossocial, que devem ser cumpridos a risca pelo município pesquisado, sob as penas previstas na lei. [...] O programa prevê que o município tem que no mínimo comprar..., adquirir 30% da agricultura familiar. [...] Agora aqui, nós estamos incentivando através do programa mais produtivo, que incentiva a armazenagem de água, não pro consumo humano, mais também pra produção de alimentos, tendo um caráter produtivo e que essa produção que vai ser..., é..., através do processo de produção agroecológico, também possa ser ofertado pra escola, das hortaliças, em fim [...] Nós temos exemplos em Pernambuco, aonde o município já adquire 70% (setenta por cento), da alimentação que vai pra escola, da agricultura familiar, [...] esse alimento não é só um tipo de alimento, porque a agricultura familiar também tem essa vantagem, que é a diversificação, até pra a gente estimular e retomar aqueles hábitos saudáveis de alimentação [...] Nós vivemos e temos esse privilégio de viver em uma região onde tem uma diversidade enorme [...], tudo isso são produtos que podem ser ofertados, portando, [...] é claro que ainda precisamos dar mais paços, por exemplo: o programa que prever a venda de R$ 20.000,00 (vinte mil reais) por agricultor, ele precisa ampliar, por que nós vamos ter aí o teto..., nós vamos ter aí agricultores que podem dar mais passos. [...] Através de um documento chamado DAP Jurídico, que é a declaração de aptidão do produtor rural, [...] a gente tem incentivado [...] a participação das associações, das cooperativas, ou seja..., dos instrumentos organizativos dessas comunidades, a gente também quer incentivar que através desse documento, de DAP Jurídico, os agricultores possam através das suas associações, também ofertar mais produtos. [...] Na medida que a gente faz isso, a gente melhora a economia local, porque é um dinheiro que deixa de sair do município..., mas ainda sobretudo, ele potencializa a renda desses agricultores [...] (GP8) 104 Observa-se na fala do GP8 o desejo de expansão do processo de produção agroecológico, como também, da sua oferta para as escolas públicas, através do PNAE, defendendo o incentivo para que a agricultura familiar passe a produzir esses alimentos e que o município adquira os mesmos, além do mínimo previsto na legislação. A visão deste gestor encontra-se em sintonia com a ampliação da agricultura familiar e o sistema de produção de alimentos sustentáveis, visando o desenvolvimento rural. Neste sentido, devem-se somar as ações do PRONAF, com a participação dos demais parceiros do setor público e privado, de forma harmônica e concatenada, sempre priorizando os agricultores familiares de menor renda, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida de quem vive da produção agrária, a maior responsável pela elevação do PIB, dentro de um conceito que observe o desenvolvimento sustentável. É nessa contextualização que o sistema de produção de alimentos orgânicos, a partir do conhecimento científico, empírico e tradicional, vai agregar valores culturais, socioeconômicos e ambientais, em conjunto com a participação de vários agentes, angariando novas fontes de recursos para projetos de apoio à agricultura familiar, promovendo o desenvolvimento local, principalmente aqui no Nordeste, observando as potencialidades locais. Neste sentido, a Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural para a Agricultura Familiar e Reforma Agrária - PNATER e o Programa Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural na Agricultura Familiar e na Reforma Agrária - PRONATER, veio justamente instrumentalizar a agricultura familiar, conforme determinação infra da Lei nº 12.188, de 11 de janeiro de 2010: o Art. 4 São objetivos da Pnater: I - promover o desenvolvimento rural sustentável; II - apoiar iniciativas econômicas que promovam as potencialidades e vocações regionais e locais; III - aumentar a produção, a qualidade e a produtividade das atividades e serviços agropecuários e não agropecuários, inclusive agroextrativistas, florestais e artesanais; IV - promover a melhoria da qualidade de vida de seus beneficiários; V - assessorar as diversas fases das atividades econômicas, a gestão de negócios, sua organização, a produção, inserção no mercado e abastecimento, observando as peculiaridades das diferentes cadeias produtivas; VI - desenvolver ações voltadas ao uso, manejo, proteção, conservação e recuperação dos recursos naturais, dos agroecossistemas e da biodiversidade; 105 VII - construir sistemas de produção sustentáveis a partir do conhecimento científico, empírico e tradicional; VIII - aumentar a renda do público beneficiário e agregar valor a sua produção; IX - apoiar o associativismo e o cooperativismo, bem como a formação de agentes de assistência técnica e extensão rural; X - promover o desenvolvimento e a apropriação de inovações tecnológicas e organizativas adequadas ao público beneficiário e a integração deste ao mercado produtivo nacional; XI - promover a integração da Ater com a pesquisa, aproximando a produção agrícola e o meio rural do conhecimento científico; e XII - contribuir para a expansão do aprendizado e da qualificação profissional e diversificada, apropriada e contextualizada à realidade do meio rural brasileiro. (BRASIL, 2014d) Como se denota da letra da lei, a promoção do desenvolvimento rural sustentável é o principal objetivo a ser alcançado pela Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural - PNATER e o Programa Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural na Agricultura Familiar e na Reforma Agrária PRONATER, nesse sentido devem ser apoiadas as iniciativas que promovam as potencialidades locais, sempre observando a vocação agrícola das diferentes cadeias produtivas, onde a assistência técnica deve assessorar as diversas fases das atividades econômicas. Nesse sentido, as ações desenvolvidas devem ser voltadas para as práticas agroecológicas. Numa análise geral sobre a percepção dos atores da pesquisa quanto às questões a adequação da aquisição dos alimentos para as escolas e as determinações previstas pelo PNAE, deve-se considerar o aspecto destoante do que estes percebem quanto à aquisição de alimentos orgânicos ou agroecológicos, onde três dos sete gestores municipais, afirmaram que é observada a aquisição dos mesmos, observando, assim os princípios e das diretrizes do programa, conforme previsão contida na Resolução/CD/FNDE n º 38, de 16 de julho de 2009, que reza: Art. 2º São princípios do PNAE: I - o direito humano à alimentação adequada, visando garantir a segurança alimentar e nutricional dos alunos; (...) IV – a sustentabilidade e a continuidade, que visam ao acesso regular e permanente à alimentação saudável e adequada; V - o respeito aos hábitos alimentares, considerados como tais, as práticas tradicionais que fazem parte da cultura e da preferência alimentar local saudáveis (...) (BRASIL, 2013g) 106 Do contexto, eles, de forma unânime afirmaram a aquisição de alimentos provenientes da agricultura familiar, porém, para cumprir a diretriz da sustentabilidade, existindo, no município, a produção de alimentos orgânicos por parte de agricultores familiares, organizados em associação, teria que os mesmos estarem fazendo parte do processo, como forma de se observar o princípio da sustentabilidade e da segurança alimentar previstos na legislação que traça o programa alimentar institucionalizado em todo o país, visto que, é fácil de observar quando se manifestaram sobre a aquisição dos mesmos, houve divergências entre os atores pesquisados. Os produtos da Agricultura Familiar a serem fornecidos para alimentação escolar devem ser gêneros alimentícios, priorizando, sempre que possível, os alimentos orgânicos e/ou agroecológicos, o que não está acontecendo no município estudado. A aquisição preferencial da alimentação local saudável, além de promover a segurança alimentar das crianças, promove o desenvolvimento local sustentável, conforme está previsto no próprio programa nacional. Registra-se, então, o caráter destoante das afirmações de alguns gestores pesquisados, com exceção apenas quanto às práticas apresentadas pelo GP4, que manteve uma coerência entre os conceitos, as diretrizes e princípios que norteiam o PNAE e as práticas administrativas locais, focadas na promoção do desenvolvimento local sustentável. Numa tentativa de aprofundar as percepções dos atores sobre o contexto que envolve a aquisição dos alimentos para as escolas do município ora estudado, e as normas previstas no PNAE, foi analisado o entendimento e a compreensão destes sobre o tema, com foco na promoção do desenvolvimento sustentável. Ressalta-se que a maioria das respostas demonstra uma superficialidade sobre o conhecimento da matéria. Dentro desta avaliação junto aos atores entrevistados, foi observado que nenhum se enquadra neste grupo que não percebem as questões relacionadas ao PNAE e o fornecimento de alimentos por parte dos agricultores locais para as escolas municipais. Na visão de Lima e Sousa (2011), existe na literatura científica uma carência de informações e pesquisas sobre a gestão do processo de produção de refeições em escolas, principalmente no que concerne à introdução de alimentos orgânicos. Os estudos se atem às análises das vantagens desse tipo de alimento e análises decorrentes, com foco no produtor orgânico, ficando a perspectiva do 107 consumidor institucional carentes de análises e discussões sobre a matéria hora ventilada. Os gestores públicos que percebem parcialmente as questões relacionadas ao PNAE, quanto ao fornecimento de alimentos por parte dos agricultores familiares locais para as escolas municipais: Fornecem. São os agricultores aqui da comunidade Palmeira, da comunidade Chã das Amoras e da comunidade Araçá. Nenhuma das comunidades de agricultores fornece a produção produzida de forma agroecológica, orgânica. A produção é da agricultura convencional porque são agricultores familiares. Não fornecimento de alimentos orgânicos para o PNAE, mas não sei lhe dizer por quê. (GP1) De forma bem transparente, este gestor é um dos raros que assumem claramente o desconhecimento sobre o fornecimento de alimentos orgânicos por parte dos agricultores familiares, pertencentes às associações de agricultores sediadas em Glória do Goitá, para as escolas municipais, através do PNAE. É notório que os gestores entrevistados, das unidades educacionais do referido município, que exercem os papéis de educadores, não podem repassar as informações e viabilizar a aquisição do conhecimento sobre a alimentação saudável e o desenvolvimento sustentável, nem tem como fazê-lo acreditar numa prática ambientalmente correta, se os seus professores sequer sabem o que significam os conceitos básicos sobre a matéria trazida á baila. Acredita-se que é por isso que se questiona tanto a alimentação saudável e o desenvolvimento sustentável, pois são tão sem nexo as opiniões externadas, devido, principalmente, pela insipiência dos atores deste grupo estudado, quanto à temática trazida para o simpósio. 4.2.3 Percepções pelos Gestores Privados quanto às questões relacionadas ao PNAE e o fornecimento de alimentos por parte dos agricultores familiares locais para as escolas municipais. Os que percebem as questões relacionadas ao PNAE quanto ao fornecimento de alimentos por parte dos agricultores familiares locais para as escolas municipais: Agora no momento eu não sei lhe dizer, não sei lhe dizer. Por que..., pela relação que eu tive em 2012, todo município tem a obrigação de comprar 108 trinta por cento da merenda escolar e principalmente orgânico. Então a Associação de Palmeira, é uma associação que tá em dia e no momento, não teve proposta nenhuma, não vendemos nenhum real até agora, nesta gestão, aí eu não sei dizer como é que tá. É porque em tudo que mudou de gestão, é..., tem duas pessoas que é contra esse novo governo, questão política, então, ele agora não permite mais. Eu não sei se somente por questão política, ou se tem algo mais que a gente não sabe. (GPR1) Apesar do GPR1 afirmar que não sabe informar qual a relação atual da agricultura local com a aquisição de alimentos, através do PNAE, para a rede municipal de ensino de Glória do Goitá na atual gestão municipal, porém, é possível perceber que o mesmo enxerga de forma objetiva o critério essencial que deve ser obedecido para que a compra institucional no município promova o desenvolvimento local sustentável de forma plena. Revela conhecimento sobre o tema, uma vez que a sustentabilidade deve está aportada sobre os vieses da economia, ecologia e da sociedade, não podendo ser restringido a meras práticas mercantilistas, pois, se assim o for, é tão nocivo quanto o desconhecimento total. Para Buarque (1999), um novo conceito de desenvolvimento, conhecido como desenvolvimento sustentável é consequência dos debates e as reflexões sobre novos modelos e alternativas que sejam capazes de enfrentar os desafios e os problemas econômicos, sociais e ambientais contemporâneos. O desenvolvimento local e municipal tem incorporado, de alguma forma, os postulados de sustentabilidade, com o desiderato de salvaguardar a permanência e a continuidade na almejada melhoria da qualidade de vida, no avanço da organização econômica e na conservação do meio ambiente. Segundo o mesmo autor o desenvolvimento sustentável, na definição conhecida da Comissão Brundtland, é “aquele que satisfaz as necessidades do presente, sem comprometer a capacidade de as gerações futuras satisfazerem as suas próprias necessidades” (CMMAD, 1987). Observa-se que existe uma preocupação com as desigualdades sociais, bem como, com o processo de degradação ambiental, gerado pelo crescimento convencional, que não se preocupa com as gerações futuras. As possibilidades de desenvolvimento e a qualidade de vida da população das populações presentes e futuras podem ser afetadas pelo modelo de crescimento econômico que não leva em conta a questão da sustentabilidade do planeta, agravado pelo crescimento populacional, que consome os recursos naturais não renováveis de forma exaustiva, além dos renováveis que estão sendo consumidos numa intensidade superior ao 109 seu próprio ritmo de auto reprodução, provocando um desequilíbrio no meio ambiente. O incentivo às práticas agrícolas sustentáveis contribui não só para a geração de renda para o agricultor orgânico, mas também para a preservação dos recursos naturais, uma vez que tais práticas do ponto de vista ecológico são menos impactante para os ecossistemas. Sim. Temos hoje quatro ou cinco associações que são contempladas pelo PNAE no município de Glória do Goitá, onde cada uma apresenta suas particularidades quanto às questões de tubérculos, frutíferas e folhosas. E esses produtos são fornecidos para a Secretaria de Educação para que sejam destinados para a alimentação escolar dos alunos de Glória do Goitá. Em relação aos orgânicos hoje temos uma limitação decorrente de algumas questões políticas por parte da nova gestão municipal, que não chegou realmente até as comunidades que estão desenvolvendo as práticas de agricultura agroecológicas, porém nos anos anteriores fornecemos produtos agroecológicos para as escolas municipais. (GPR2) O GPR2 além de perceber qual a relação atual da agricultura local com a aquisição de alimentos, através do PNAE, para as escolas municipais de Glória do Goitá, na gestão municipal atual, é possível visualizar que o mesmo destaca, também de forma objetiva, os critérios essenciais, que devem ser obedecidos, para que a compra institucional no município, promova o desenvolvimento sustentável. Revelando, também, conhecimento sobre o tema, quando confirma o fornecimento de produtos agrícolas provenientes da agricultura familiar local, porém, sem a aquisição dos mesmos das comunidades que praticam, de forma já bastante difundida, o sistema orgânico de produção agroecológica. [...] É..., eu lembro que na gestão passada teve até um pouco, um apoio, um incentivo por parte dos técnicos, do pessoal da APORG pra que essa legislação fosse cumprida né. E aí sim, era nos moldes do PNAE. Nessa gestão eu não sei te informar como está sendo feito. [...] Tem até uma experiência num município próximo, que é Feira Nova, [...] lá é quase que cem por cento local, sabe? O prefeito de Feira Nova adquire quase que a totalidade do que pode ser adquirido no município, do que é produzido. Não todo orgânico, obviamente, mas agricultura familiar local. [...] Só assim, eu acho importante que ele valorize essa questão do orgânico, né..., e que tentasse, até se ele quer atingir esse objetivo né..., claro, Glória do Goitá tem uma área rural muito grande, muitos produtores. Acho que mais de cinquenta por cento da população é área rural, então tem muito agricultor. Mas acho que seria uma referência melhor ainda se fosse né..., tentando adquirir o máximo possível de produtos da agricultura orgânica, agroecológica, por uma questão de saúde mesmo, de valorizar a produção local, de também incentivar outros agricultores do município a se converterem para o orgânico né, eu acho que é uma maneira de incentivar mesmo [...]. (GPR3) 110 Inicialmente, pela fala do GPR3, já dá para observar que a mesma percebe a relação trazida à baila para discussão, quando na sua afirmativa, traz a observação e como se dava o processo na gestão municipal passada, salientando a participação da APORG, no sentido de fazer cumprir os ditames legais que tratam do fornecimento da alimentação escolar institucionalizada em toda a federação. Na continuação da sua explanação, afirma não saber como está sendo conduzido o processo in tela, fazendo um apelo para que se observe a questão da aquisição dos orgânicos, quando das compras feitas através do PNAE pela gestão municipal atual. De acordo com Caporal, Costabeber e Paulus (2011) a Agroecologia vai além do manejo ecologicamente responsável dos recursos naturais, por ser um campo do conhecimento científico que, partindo de um enfoque holístico e de uma abordagem sistêmica, visa ajudar as sociedades a redirecionar o curso da coevolução social e ecológica, nas suas variadas inter-relações e influência. Este novo campo de estudo busca a integração e a articulação de conhecimentos e saberes, relativos a múltiplas disciplinas e a diversas ciências. Dentro deste enfoque, a agroecologia se relaciona de forma muito intrínseca com a segurança alimentar e nutricional, uma vez que dentro dos seus objetivos, encontra-se a saúde do homem e dos ecossistemas. As técnicas e estudos, adotados na sua base científica, observam a questão de uma produção de alimentos através da manipulação dos recursos naturais de forma mais saudável, respeitando nas suas relações, não só o consumidor, mais de forma ética, a própria natureza. Neste sentido, Caporal, Costabeber e Paulus (2011), afirmam que a ética ambiental está focada na reflexão sobre comportamentos e atitudes adequadas, voltadas para os processos e os seres de relevância, de forma contextualizada, no caso o nosso ecossistema, onde praticamos nossas atividades agrícolas. [...] O PNAE é um Programa Nacional de Alimentação Escolar, então ele exige que trinta por cento da alimentação dos agricultores, quer dizer..., trinta por cento da alimentação da escola seja da agricultura familiar. [...] então quer dizer que aquela agricultura que sempre foi tratada como marginal, não é..., marginalizada, inferiorizada, que não tinha mercado direcionado para aquele tipo de produção, com o PNAE..., as famílias começam a ter um mercado direto. [...] Fora essa dimensão..., se..., esses produtos, eles forem comprovados, que eles são orgânicos ou agroecológicos, tem uma porcentagem a mais..., né..., de preço, vinte por cento a mais daquele valor, esse produto eles são agregado. Então..., o PNAE..., ele permite isso..., essa relação da escola. Qual é a outra coisa? A 111 outra coisa é que..., se ele é da agricultura familiar, então ele parte do princípio de que [...] a nutricionista do município, que vai montar o cardápio para os alunos..., eles vão montar o cardápio a partir dos produtos existentes naquela época da agricultura familiar, do local, diferente..., de quando a escola compra a merenda escolar a um fornecedor externo, [...] quer dizer..., se torna um padrão. O que é que a agricultura familiar traz nesse debate? Traz que a gente respeite os ciclos naturais da natureza. [...] Então..., isso leva uma relação da escola, do produtor, do professor, do aluno..., com os ciclos naturais da natureza. Então..., o PNAE, ele possibilita isso [...], estabelecer essa relação com a..., com as escolas e ele também, estimula a produção e distribuição de renda no local, porque você esta produzindo e a sua produção é distribuída naquele próprio local. Então baixa o custo..., diminui o custo, por exemplo, de você..., se for comercializar o seu produto lá em Recife, numa feira agroecológica..., na CEASA. Então o desenvolvimento local [...] se torna mais próximo, se torna mais evidente. [...] Uma vez que a escola se preocupa com a produção local..., então começa a reconstruir um outro paradigma de educação, porque nosso paradigma de educação estabelecida é que o local não é objeto de preocupação da ciência, não é objeto de preocupação da escola. A partir do momento que a política pública do PNAE exige de que..., a merenda escolar..., trinta por cento seja comprada no mesmo local, seja pela comprado pelos pais dos estudantes que produzem..., então ela começa a reconstruir esse modelo tradicional de ciência e começa a repensar a relação da escola com a comunidade, a relação da escola com a produção, a relação da escola com a qualidade da produção..., então eu acho que o PNAE possibilita isso..., essa relação..., essa reconstrução de paradigma de ciência, um paradigma que antes não dialogava com o local e agora ele passa a dialogar [...] (GPR5) Deve-se ser levado em conta que o GPR5 conceituou de forma ampla e pormenorizada a produção orgânica local, a relação da escola com a agricultura, promovida pelo PNAE, bem como a importância desse programa de aquisição de alimentos para o desenvolvimento local sustentável, o que demonstra na sua fala, um entendimento bastante aprofundado sobre a temática discutida, uma vez que exemplifica de forma muita rica e esclarece as suas afirmativas de forma embasada no contexto e na vivência da própria localidade. A agricultura orgânica é uma das várias práticas agroecológicas que visam o desenvolvimento sustentável das comunidades locais. Dentro desta perspectiva, Caporal, Costabeber e Paulus (2011) partindo da noção de sustentabilidade, numa visão multidimensional, de acordo com alguns autores, agrupam os elementos centrais da Agroecologia em três dimensões: a) ecológica e técnico-agronômica; b) socioeconômica e cultural; e c) sócio-política. Estas dimensões estão interligadas, interagindo entre si constantemente, razão pela qual os agroecólogos levam em conta os conhecimentos empíricos, somados aos conhecimentos oriundos da Física, da Economia Ecológica e Ecologia Política, da 112 Agronomia, da Ecologia, da Biologia, da Educação e Comunicação, da História, da Antropologia e da Sociologia, dentre outros saberes. Os gestores privados que percebem parcialmente as questões relacionadas ao PNAE, quanto ao fornecimento de alimentos por parte dos agricultores familiares locais para as escolas municipais: Sim, isso é uma característica interessante, os moldes que são previstos, porque a escola procura o máximo é atender ao edital, as demandas, as qualidades que às vezes ela não consegue pela condição é..., física, inclusive onde está esta produção, a questão de transporte, a questão da temperatura, a questão do nível de amadurecimento das matérias primas, dos produtos, dos insumos. Mais eu..., digamos que de oitenta a noventa por cento é molde propagado pelo PNAE. A previsão prevista no PNAE, salvo engano no artigo 13, que prevê a aquisição de 30% dos alimentos produzidos no local onde se encontram as escolas, preferencialmente produzidos de forma agroecológica ou orgânica, remunerando 30% sobre o valor de mercado, não, aí não acontece em Glória do Goitá, inclusive até mesmo pela própria qualificação do agricultor, que desconhece a prática orgânica. São agricultores que não tiveram o devido preparo, muitos já vieram diretamente da cana-de-açúcar, muitos também de assentamentos de programa do INCRA, que não tem a devida qualificação, mais é..., em algumas cidades como Vicência, por exemplo, que passa por uma capacitação mais adequada, ele já tem esse tipo de preocupação. [...]Tem um investimento forte em orgânicos e a gente acha que isso é uma coisa que vai crescer a partir de agora, porque a pressão da sociedade por alimentos orgânicos é inclusive o recuo de alguns produtores de implementos agrícolas nocivos saúde, desativaram suas bases de comercialização na região, isso vai favorecer que a busca por orgânicos se amplie e aceitação também pela população de produtos que tem a qualidade e a pureza que o orgânico pode dá. Os agricultores de Glória do Goitá não recebem alguma assistência técnica, ou orientação, certificação e controle voltados para a produção de alimentos orgânicos, no nosso diagnóstico é muito aquém do que é necessária, a Secretaria de Agricultura lá, ela não tem uma estrutura condizente com o tamanho do território de Glória do Goitá e as especificidades de lá, então a gente ainda acha muito precário isso aí. Apesar de hoje já ter uma preocupação de capacitar esses agricultores a melhores práticas agrícolas, porque é..., a própria parte de colheita se perdia muito, no transporte mais ainda, com embalagem inexistente [...] (GPR4) Percebe-se que o GPR4 é bem informado quanto à logística e à infraestrutura necessárias para a viabilização do PNAE no município sob exame, o qual inclusive fez menção ao desaparelhamento da Secretaria de Agricultura local, para poder viabilizar o desenvolvimento sustentável, tanto do ponto de vista físico, como o nível do conhecimento. Quanto à questão dos produtores orgânicos, estes existem, são pertencentes à comunidade de Palmeira, associados à APRUP e cadastrados no Ministério da Agricultura, os quais recebem orientação técnica através da APORG, inclusive já forneceram a sua produção para a merenda escolar do município estudado, nos moldes do PNAE, porém, atualmente não fazem parte 113 do processo de segurança alimentar voltada para a rede de escolas municipais, só lhes restando fornecer para as feiras orgânicas situadas em Recife. Quanto à capacitação e à assistência técnica, estas podem ser prestadas em parceria com os órgãos estaduais que trabalham com a pesquisa e a extensão rural, v.g., o IPA, pautando-se na Lei de Assistência Técnica e Extensão Rural, Lei nº 12.188, de 11 de janeiro de 2010, que instituiu a Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural para a Agricultura Familiar e Reforma Agrária - PNATER e o Programa Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural na Agricultura Familiar e na Reforma Agrária - PRONATER, que entre as suas principais diretrizes determina: o Art. 2 Para os fins desta Lei, entende-se por: I - Assistência Técnica e Extensão Rural - ATER: serviço de educação não formal, de caráter continuado, no meio rural, que promove processos de gestão, produção, beneficiamento e comercialização das atividades e dos serviços agropecuários e não agropecuários, inclusive das atividades agroextrativistas, florestais e artesanais (...) (Brasil, 2014d). Como se denota Assistência Técnica e a Extensão Rural – ATER é um tipo de serviço de educação não formal, na qual se inclui a educação ambiental, que deve ser repassada continuamente, de forma transdisciplinar, para os agricultores, nas comunidades rurais, visando incentivar processos de gestão, produção, beneficiamento e comercialização das atividades e dos serviços agropecuários e não agropecuários, para que dessa forma possa agregar valores ao desenvolvimento almejado. Outro aspecto a se ressaltar são os resultados alcançados através de assistência técnica eficaz quanto à qualidade dos alimentos a serem produzidos para atenderem as demandas do PNAE. Numa análise ampla quanto às explanações expostas pelos gestores privados, envolvidos no processo, pode-se perceber uma melhor visão deste grupo, visto que, além da diversidade quanto à representatividade dos que conhecem o tema, estes, em sua maioria, lidam de forma mais sensibilizada com a questão da produção agroecológica, com um sentimento de pertencimento ao processo discutido, sem o ranço das questões político-partidárias apontadas por vários atores, o que pode contribuir muito para o aprimoramento das ações já implantadas, pelos gestores públicos locais, voltadas para o sucesso do PNAE no município estudado. 114 4.2.4 Percepções pelos técnicos e pesquisadores em agricultura quanto às questões relacionadas ao PNAE e o fornecimento de alimentos por parte dos agricultores familiares locais para as escolas municipais. Os que percebem as questões relacionadas ao PNAE quanto ao fornecimento de alimentos por parte dos agricultores locais para as escolas municipais: Com certeza [...] a escola o ano passado, através de um convênio junto de um consultor [...] conseguiu fazer com que Glória do Goitá fosse inserida no PNAE pela CONAB, certo. Então, tem realmente a distribuição. São vários agricultores que estão cadastrados na agricultura familiar, entregando produto entregando produtos através do PNAE para as escolas em Glória do Goitá. Dentre estes agricultores cadastrados, tem algumas comunidades que estão fornecendo alimentos orgânicos, tem, por exemplo, a região de Chão de Amora, a região de Palmeira e de Canavieira trabalha com produto orgânico e fornecem para as escolas. (TPA1) O sujeito da pesquisa TPA1 ao analisar o presente questionamento, afirmou que houve a contratação de um consultor, quanto a este ponto, confirmando a informação prestada pelo gestor GP3. Aduz o mesmo que são vários agricultores cadastrados, que fornece alimentos, via PNAE, para as escolas do município estudado e quanto ao fornecendo alimentos orgânicos, “tem algumas comunidades que trabalham com produtos orgânicos e que as mesmas fornecem para as escolas”, o que neste ponto, contraria o que foi afirmado pelos gestores GPM3 e GPM5. Os que percebem as questões relacionadas ao PNAE quanto ao fornecimento de alimentos por parte dos agricultores familiares locais para as escolas municipais: [...] Agora aí eu desconheço, porque eu não sei, eu não tenho essa formação de..., de..., acadêmica de escola, de..., como é que chama isso? É..., como funciona esse trabalho lá da..., das escolas, como é que são feitas as aquisições. Não tenho como informar. (TPA4) O gestor TPA4, da mesma forma que os gestores TPA2 e TPA3, nas suas explanações afirmaram não conhecer da matéria hora ventilada, apesar de estarem de forma direta ou indireta inclusos no processo de produção de alimentos. Mais uma vez, demonstra-se a necessidade da criação de um APL, focado na produção agrícola do município estudado, para que os técnicos tenham uma visão holística 115 que promova o desenvolvimento local sustentável, e assim, sejam implementados os programas de combate à pobreza, no meio rural do município pesquisado. Faz-se então, numa ótica que não seja apenas assistencialista, necessário integrar e interpretar os Programas oriundos das Políticas Públicas, de forma que se possa criar um arcabouço harmônico, que sirva de norte para as práticas construídas a partir da cooperação dos diversos setores da sociedade, utilizando-se dos instrumentos científicos, técnicos e empíricos para a construção de alternativas que venham a viabilizar o combate à miséria rural, das comunidades vulneráveis, passando para um processo de desenvolvimento endógeno. Observa-se, dentro deste grupo estudado, pela análise das falas apresentadas, que nenhum ator se enquadra dentro dos que percebem parcialmente as questões relacionadas ao PNAE quanto ao fornecimento de alimentos por parte dos agricultores locais para as escolas municipais. 4.3 PERCEPÇÕES ALIMENTOS SOBRE PRODUZIDOS A RELAÇÃO LOCALMENTE DO PARA FORNECIMENTO AS ESCOLAS DE E O DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL. Esta questão tem como fim a elucidação como os participantes da pesquisa percebem as questões relacionadas ao fornecimento de alimentos produzidos localmente para as escolas e a sua contribuição para o desenvolvimento local sustentável, tais entendimentos irão dar uma sequência às demais questões de forma concatenada, contribuindo para emissão de conclusões que possam viabilizar sugestões para o aperfeiçoamento do processo, dando maior viabilidade aos fins previstos no próprio PNAE, conforme ilustrado no quadro sinóptico a seguir. Quadro sinóptico dos resultados 03 - Percepções sobre a relação do fornecimento de alimentos produzidos localmente para as escolas e o desenvolvimento local sustentável. FORNECIMENTO DE ALIMENTOS PRODUZIDOS LOCALMENTE PARA AS ESCOLAS E O GEPM GP GPR TPA Total DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL. Percebem Não percebem 2 0 2 0 3 0 2 0 9 0 Percebem parcialmente 7 6 2 2 17 Total 9 8 5 4 26 Fonte: pesquisa de campo, o autor 116 4.3.1 Percepções pelos Gestores das Escolas Públicas Municipais sobre a relação do fornecimento de alimentos produzidos localmente para as escolas e o desenvolvimento local sustentável. Existe uma confusão por parte de alguns gestores entre desenvolvimento sustentável e algo que é autossustentável, por isso, algumas respostas destoam do que realmente representa a sustentabilidade. Isto mostra o desconhecimento sobre a matéria por boa parte dos gestores, que confundem o conceito e desta forma não podem favorecer e promover algo que desconhecem. Já outros, resumem o conceito de desenvolvimento sustentável ao viés econômico, sem levar em conta os aspectos socioambientais. Muito. Contribui bastante! Já pensou a acriança vem pra escola com fome? Não é? E... Tem muita criança aqui..., aqui mesmo nessa escola tem muita criança carente, muita! Então tem criança que sai de casa num..., num..., num almoça. Então, no dia que tem merenda, ave Maria! Eles fica feliz. [...] Este programa contribui muito para o desenvolvimento intelectual das crianças, contribui muito... Aqui nessa escola contribui muito mermo. Aprendizagem..., já pensou uma criança com fome! Como é que ela vai aprender? Não é? A escola comprando os alimentos dos agricultores daqui isso é bom para a economia local, com certeza! É bom pra todos não é! É bom pro município e bom pra quem fornece o..., o..., não é! Os alimento. [...] Isso tem alguma interferência na questão do meio ambiente com certeza! Eu creio que tem. Por que..., o ambiente é o que? Você tem que valorizar o seu município, se você... Se é do município, tem qui..., que ser daquele município. A renda tem que ser daquele próprio município. Para o próprio município. Sustentável é..., é não faltar merenda nas escola. [...] (GEPM4) A princípio o gestor reconhece a importância do processo analisado, destacando a questão social e nutricional através dos seus relatos. Chama a atenção para a questão da importância do PNAE para o desenvolvimento intelectual das crianças, ao mesmo tempo em que faz girar a economia local e a interferência da atividade agrícola no meio ambiente. Esta gestora ao afirmar que tem criança na idade escolar que sai de casa para a escola sem ter comida em casa, chamando a atenção para a carência das crianças da comunidade quanto à satisfação das suas necessidades básicas alimentares, não supridas no seio da sua própria família, sendo atentada a dignidade da pessoa humana. Em pleno século XXI, isto ainda acontece na nossa região. É dever de todo cidadão fiscalizar de perto, como estão sendo aplicados os recursos provenientes do FNDE destinados à execução de um programa de alimentação escolar, que observa a questão da sustentabilidade local, além de contribuir para a redução da evasão escolar. 117 A opinião do gestor GEPM4 se coaduna com a proposta de servir alimentos orgânicos nas escolas municiais de Glória do Goitá, com o objetivo pedagógico, devido as suas práticas possuírem um caráter educativo, econômico e social, o que via além da simples oferta de alimentos. De acordo com Cunha, Sousa e Machado (2010), a utilização do alimento orgânico como um dos instrumentos pedagógicos, numa visão holística, pode servir como meio para um novo paradigma de educação para todos os atores envolvidos no processo educacional. Essa nova forma de educar está respaldada nas Diretrizes dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) do Ministério da Educação, bem como, na Estratégia Global para Alimentação Saudável, Atividade Física e Saúde da Organização Mundial da Saúde, nas recomendações da Portaria Interministerial nº 1.010 de 8 de maio de 2006, as quais dão as diretrizes para a promoção da alimentação saudável nas escolas de educação infantil, fundamental e nível médio das redes públicas e privadas. [...] comprando assim..., os produtos que os agricultores do município plantam e colhem, eu acho que ele está contribuindo. Eu acho que o desenvolvimento local é sustentável, quando eles plantam e eles mesmo colhem aquele alimento e..., do jeito que eles estão fazendo no próprio município, é..., aproveitando o meio ali e protegendo o meio ambiente. [...] Sustentabilidade, eu acho que é muito importante né..., só que nós devemos melhorar mais. Nós professores mesmo..., os coordenadores... E a gente vê muito isso na faculdade né..., desenvolvimento sustentável, agora temos que por mais em prática né..., nas escolas, a gente fala, sempre a gente fala, só que a gente tem que por mais em prática. (GEPM8) Este gestor acha importante o desenvolvimento sustentável. De forma sintética, expos o seu entendimento quanto ao viés econômico, ao social e ambiental. A proteção do meio ambiente citada pela GEPM8, quando se refere à agricultura, deve adotar o sistema de produção de alimentos orgânicos, dentre outros agroecológicos. Pelas explanações apresentadas pelo grupo de gestores das escolas públicas municipais, todos percebem a questão abordada. Demonstrando assim, mesmo que a conceituação do desenvolvimento sustentável não esteja compatível com as elencadas pela teoria, ou mesmo pela cátedra, um destaque quanto ao fornecimento de alimentos produzidos localmente para as escolas contribuir para o desenvolvimento local sustentável. 118 Os que percebem parcialmente a relação do fornecimento de alimentos produzidos localmente para as escolas e o desenvolvimento local sustentável. É como eu falei: se vim diretamente do município, sim [...]. Se o alimento é produzido na própria região, dá trabalho, que fornece... Trabalho pras pessoas, pros pais de família... Né..., aí sim. Mas se vim diretamente, você pegar o dinheiro da escola e for buscar em outro lugar, vai dá lucro à outra cidade, a outro município, né... O desenvolvimento local sustentável é isso aí, é o trabalho do homem do campo, ali mesmo é..., ele fornecer pra... , pra outros setores o que ele planta, é... , ai vai se desenvolvendo, aparece emprego pros pais dos alunos, pros alunos trabalhar dentro do município mesmo, ter uma renda familiar dali, de dentro do município, é isso. [...] (GEPM5) Pela fala do GEPM5, observa-se que o mesmo apresenta na sua percepção uma visão do desenvolvimento sustentável que inclui a geração de renda e emprego para a população local, além de uma movimentação da economia local, em razão da comercialização da produção advinda da agricultura familiar. Falta uma abordagem quanto à questão ambiental, talvez em razão das práticas da atual gestão que reflete no conhecimento sobre a matéria junto aos profissionais da educação municipal. Dentro desta perspectiva, o Guia Alimentar para População Brasileira recomenda o consumo de alimentos orgânicos como uma prática alimentar saudável. Em adição, o modo de produção de alimentos orgânicos vem ao encontro do conceito de Segurança Alimentar e Nutricional adotado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) ao destacar que as práticas alimentares promotoras de saúde devem ser social, econômica e ambientalmente sustentáveis. (LIMA e SOUSA, 2011) Com certeza, contribui. Favorece muito e ajuda muito os agricultores do município. Então ajuda muito. A partir do momento que ele não agride o meio ambiente, porque não tem queimada, não é... Ele já prepara a terra e já aproveita aquele mato pra servir de estrumo pra terra, não é... A partir do momento que tem a queimada ai já destrói o adubo da terra. E eles aproveitam tudo isso pra terra, pra beneficiar o produto, não é... Esse alimento é importante, esse PNAIC é importante dentro da educação pra os estudante, não é..., para as escolas porque ele vai beneficiar os alunos. [...]. (GEPM6) De forma bem diversificada, porém não completa, o GEPM6 inicia afirmando a importância da aquisição da alimentação escolar dentro do próprio município, devido à contribuição que traz para a qualidade de vida dos agricultores. Ressalta a importância de algumas práticas orgânicas e conservacionistas no 119 manejo do solo, para a produção de alimentos saudáveis. Por fim, chama a atenção para a importância do PNAIC, que no caso, trata-se do PNAE, para a educação e a criação de novos hábitos alimentares. Neste contexto, Cunha, Sousa e Machado (2010) aduz que o PNAE tem uma dimensão dialética, podendo ser considerado um meio que viabilize as possibilidades de emancipação, colaborando também para o aprendizado, não só por atender as necessidades fisiológicas, mas por instrumentalizar através do saber sistematizado e dessa forma, o estudante conscientizado da sua realidade, como ator social, passa a desenvolver um agir crítico e transformador. Através da Alimentação Orgânica na merenda escolar, além do aspecto nutricional, e do processo ensino-aprendizagem, outros aspectos devem ser observados no processo escolar, possibilitando o acesso uma qualidade de vida não só para os estudantes, mas também para toda a comunidade, através de uma abordagem multidisciplinar que contemple aspectos sociais, além da educação em saúde e nutrição. Eu acredito que ele contribui [...] Se, gera renda local, há uma tendência de um incentivo, que a gente não pode deixar a agricultura morrer, não é. A cada dia ela tem que ser reativada e através de que, de um incentivo desse, de uma produtividade de renda. Então se a gente compra local e há essa produtividade, algum pode se interessar cada dia mais, e a gente ter realmente uma probabilidade de uma sustentabilidade maior para os comerciantes locais e os agricultores. (GEPM1) Para este gestor, o fato da compra de alimentos produzidos no próprio município gera renda para os agricultores e por isso configura a promoção do desenvolvimento local sustentável. O desenvolvimento local sustentável é bem mais amplo do que gerar renda local, como é sabido, envolve mudanças de atitudes que vão refletir na sociedade como um todo e em vários aspectos que influenciam na qualidade de vida das gerações presentes e futuras, não se referindo a automanutenção econômica. Nesta linha de raciocínio, Almeida (2003) argumenta que a proposta agroecológica se apresenta como aspiração geral de outro paradigma de desenvolvimento, a qual se baseia no uso potencial da diversidade social e dos sistemas agrícolas mais próximos dos "modelos" camponês e indígena. Os mentores desse tipo de agricultura têm motivos que para este tipo de raciocínio, uma vez que interage com um projeto de desenvolvimento local descentralizado, o qual observa a diversidade em cada meio, emitindo novas aspirações, novas formas de 120 sociabilidade, que promove outros modos de desenvolvimento econômico e social, sendo mais "controláveis" e aceitos no âmbito local, levando em conta os aspectos culturais e tecnicamente fundados na "experiência do tempo", absorvendo o conhecimento empírico. Dessa forma, muitas das iniciativas de grupos e organizações sociais, tanto no âmbito institucional, como no não governamental, visão a criação de alternativas tecnológicas aos sistemas produtivos “convencionais”, tidos como esgotados, por serem impactantes, antieconômicos, não promovendo a autonomia dos agricultores familiares envolvidos. Contribui com certeza. Porque eles são da própria cidade, a gente comprando aqui não é..., claro que eles vão ter um rendimento não é..., vai ser melhor do que comprar fora não é..., vai ajudar esse pessoal do campo, vai..., vai..., ajuda. A empresa mesmo de bolo lá no Araçá trabalha muita gente, já é uma grande ajuda para o município não é. Quanto à questão do meio ambiente, olhe, eu não vou..., assim, eu não tenho certeza que eu não acompanho, tá entendendo? [...] Quanto ao desenvolvimento sustentável aplicável na merenda, não, eu acho que com relação à merenda, eu acho que..., tudo certo, assim..., é um negócio que a gente num..., num fica muito assim, porque já tem uma equipe que trabalha com isso aí, tá entendendo? A gente só faz receber. Aí a gente não tem assim..., por dentro das coisas assim muito não, tá entendendo? E os alunos não têm tanto conhecimento não, como os alimentos são produzidos. (GEPM3) O gestor GEPM3 afirma que o processo contribui para o desenvolvimento local sustentável, uma vez que os agricultores são da mesma cidade e a compra local vai gerar renda para os mesmos. Porém, quando se refere à questão ambiental e ao próprio desenvolvimento sustentável, ela demonstra total desconhecimento. Quando se fala em desenvolvimento local sustentável, deve-se observar se as práticas desenvolvimentistas respeitam o meio ambiente. E neste sentido, de acordo com Szabó Júnior (2009) meio ambiente é a circunvizinhança, em que uma organização exerce as suas atividades, levando-se em conta o ar, a água, o solo, os recursos naturais, a fauna e a flora, bem com o homem e suas inter-relações, devendo o mesmo ser visto com uma grande teia, onde ocorrem as inter-relações bióticas e abióticas. Para Faver (2004), o desenvolvimento econômico afeta os ecossistemas e reduz a sua biodiversidade. Quando o desenvolvimento observa a sustentabilidade, os processos de transformação e de exploração dos recursos naturais visando os investimentos, bem como, o avanço tecnológico e as mudanças decorrentes, ocorrem de forma mais harmônica, a fim de atender às necessidades e aspirações do homem. A pobreza não contribui para a sustentabilidade, acarretando 121 uma maior pressão sobre o meio ambiente, devido ao mau uso dos recursos naturais. Claro! [...] vai ajudar também o pessoal também da comunidade. Como aqui, agente compra o bolo..., a tapioca..., na associação aqui dos moradores do araçá, é... Em parceria com o município, pronto resolvido! [...] a parceria com a secretaria de educação e é distribuído para todas as escolas do município, todas que são no geral trinta e oito escolas que a gente tem. É bom assim..., porque além de gerar..., porque gera empregos, ajuda a população do próprio município, quer dizer..., o comércio cresce..., né..., e nós temos uma mercadoria de qualidade, principalmente para os alunos do município. [...] E ajuda também na alimentação dessas crianças da escola, ajuda, porque assim..., às vezes em casa, às vezes não tem, tá entendendo? Tem famílias que são muito carente e quando chegam aqui, eles consome um prato, dois. (GEPM7) Este gestor afirma que o processo analisado promove o desenvolvimento local, uma vez que possui sua função social, gerando emprego e renda para as comunidades localizadas no município, o que movimenta a sua economia. Ressalta ainda a questão do sabor da alimentação servida nas escolas, bem como o envolvimento dos profissionais que fazem a merenda. Por fim, chama a atenção mais uma vez para a questão carência nutricional e alimentar dessa faixa de risco da população local. Justamente para atender a necessidade dessa faixa da população carente, o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA, 2013) ressalta que: “O Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica busca integrar suas ações com o Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, o Plano Nacional de Políticas para as Mulheres e o Plano Nacional de Direitos Humanos, assim como o Código Florestal, o Plano de Ação Nacional de Combate à Desertificação e o Plano Nacional sobre Mudança do Clima, a partir de processo de convivência, mitigação e adaptação, diminuindo a vulnerabilidade dos agricultores que se encontram em situação de fragilidade econômica e social no campo.” (BRASIL, 2014c) Na percepção do gestor GEPM9, o desenvolvimento local sustentável está sendo atingido, uma vez que, pelo processo de fornecimento de alimentos para as escolas, por parte dos agricultores sediados no local, está permitindo parcerias entre eles e o poder público. Outra questão ligada à promoção da sustentabilidade está presente nas práticas de reaproveitamento dos resíduos provenientes da merenda, os quais são fornecidos para os criadores de animais da localidade, conforme sua fala: Sim, não é? Uma vez que nós estamos dando oportunidade, não é..., as pessoas do local de terem acesso a tá trabalhando em conjunto com a 122 prefeitura. Então é um desenvolvimento bastante sustentável, uma vez que estamos dando oportunidade a essas pessoas. Na questão geral, [...] o que fica de restante, nós procuramos reaproveitar de uma outra forma né! [...] alguma pessoa vem pra escola e recolhe aquela comida que ficou estragada, ou resíduo e já vai servir para uma terceira pessoa que vai fazer a alimentação de alguns animais! Então isso tá contribuindo para o nosso desenvolvimento. (GEPM9) Além das práticas apontadas pelo GEPM9, o fornecimento de alimentos produzidos localmente para as escolas, através do PNAE, contribui para o desenvolvimento local sustentável, se observar as diretrizes da PNAPO contidas no art. 3º do Decreto Nº 7.794/2012, que institui a Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica, conforme elenco infra: Art. 3º São diretrizes da PNAPO: I - promoção da soberania e segurança alimentar e nutricional e do direito humano à alimentação adequada e saudável, por meio da oferta de produtos orgânicos e de base agroecológica isentos de contaminantes que ponham em risco a saúde; II - promoção do uso sustentável dos recursos naturais, observadas as disposições que regulem as relações de trabalho e favoreçam o bemestar de proprietários e trabalhadores; III - conservação dos ecossistemas naturais e recomposição dos ecossistemas modificados, por meio de sistemas de produção agrícola e de extrativismo florestal baseados em recursos renováveis, com a adoção de métodos e práticas culturais, biológicas e mecânicas, que reduzam resíduos poluentes e a dependência de insumos externos para a produção; IV - promoção de sistemas justos e sustentáveis de produção, distribuição e consumo de alimentos, que aperfeiçoem as funções econômica, social e ambiental da agricultura e do extrativismo florestal, e priorizem o apoio institucional aos beneficiários da Lei nº 11.326, de 2006; V - valorização da agrobiodiversidade e dos produtos da sociobiodiversidade e estímulo às experiências locais de uso e conservação dos recursos genéticos vegetais e animais, especialmente àquelas que envolvam o manejo de raças e variedades locais, tradicionais ou crioulas; VI - ampliação da participação da juventude rural na produção orgânica e de base agroecológica; e VII - contribuição na redução das desigualdades de gênero, por meio de ações e programas que promovam a autonomia econômica das mulheres. Ou seja, a aquisição da alimentação escolar, quando observa a oferta de produtos orgânicos e de base agroecológica isentos de contaminantes, produzidos pelas comunidades de agricultores familiares da localidade, promove a soberania e segurança alimentar e nutricional e o direito humano à alimentação adequada e saudável, pois estes alimentos não põe em risco a saúde das crianças e adolescentes que irão consumi-los dentro do processo pedagógico gerador de multiplicadores do conhecimento. 123 4.3.2 Percepções pelos Gestores Públicos sobre a relação do fornecimento de alimentos produzidos localmente para as escolas e o desenvolvimento local sustentável. Os gestores públicos que percebem que o fornecimento de alimentos produzidos localmente para as escolas contribui para o desenvolvimento local sustentável. [...] Contribui. [...] A gente preza tanto pela questão da comercialização local, no sentido de beneficiar o agricultor, porque [...] ele tem mercado garantido para a comercialização. Inclusive, nós estamos dando esse apoio para que outras associações consigam comercializar para o PNAE. Então, [...] já com experiência do ano passado, a gente está dando este acompanhamento, né..., tanto pelo valor nutricional dos alimentos que vão para a merenda escolar, então ele contribui não só para esta questão do desenvolvimento local, mas contribui para uma merenda de qualidade para as crianças do município. A gente esta tendo todo o cuidado para essa valorização do homem do campo [...] inclusive, nós estamos participando de duas redes produtivas, que é a rede produtiva de raízes e tubérculos e a rede produtiva de horticultura agroecológica. São duas redes que estão reunindo vários municípios, e aí, pela característica do Município, nós fazemos parte destas duas redes que é o projeto do Estado. É estamos fazendo a elaboração do projeto com a participação das associações [...] O Pro-Rural formou 56 redes produtivas dentro da potencialidade de cada região. Então dentro da nossa realidade, nós estamos construção de duas redes, as raízes e tubérculos e horticultura agroecológica [...] É outra coisa é toda a iniciativa da abertura que nós estamos tendo para apoiar o homem do campo. Só que tem algumas dificuldades que interferem, por exemplo, a questão do acesso à água [...] Glória está no final da Zona da Mata e no início da Zona do Agreste, então área de transição é muito difícil o acesso à água, [...]. Então Palmeiras é uma região do município bastante favorável porque lá não tem problema de água [...]. (GP2) Novamente o desenvolvimento sustentável é percebido de forma simplista, focado apenas no aspecto econômico. Quando o gestor, na sua abordagem, separa o desenvolvimento sustentável da segurança alimentar, distorce o conceito de sustentabilidade, uma vez que a própria Política Nacional da Segurança Alimentar e Nutricional traz no seu bojo, de forma entrelaçada com outras políticas que fomentam a produção de alimentos provenientes da agropecuária, a preocupação com o desenvolvimento sustentável, conforme se depreende do normativo da referida política, a Lei nº 11.346/06, que cria o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional – SISAN, com vistas em assegurar o direito humano à alimentação adequada: 124 o Art. 2 A alimentação adequada é direito fundamental do ser humano, inerente à dignidade da pessoa humana e indispensável à realização dos direitos consagrados na Constituição Federal, devendo o poder público adotar as políticas e ações que se façam necessárias para promover e garantir a segurança alimentar e nutricional da população. o § 1 A adoção dessas políticas e ações deverá levar em conta as dimensões ambientais, culturais, econômicas, regionais e sociais. o § 2 É dever do poder público respeitar, proteger, promover, prover, informar, monitorar, fiscalizar e avaliar a realização do direito humano à alimentação adequada, bem como garantir os mecanismos para sua exigibilidade. o Art. 3 A segurança alimentar e nutricional consiste na realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras de saúde que respeitem a diversidade cultural e que sejam ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentáveis. (BRASIL, 2014c) No § 1º, do art. 2º, supramencionado, observa-se a determinação de que deverá levar em conta as dimensões ambientais, culturais, econômicas, regionais e sociais, ou seja, não se restringe apenas ao aspecto econômico, como boa parte dos gestores tem se pronunciado, o conceito de sustentabilidade é bem mais amplo. Dando sequência, de forma harmônica e concatenada com o sistema legislativo pátrio, que tem com norte a Constituição Federal do Brasil de 1988, o art. 3º da Lei nº 11.346/06 aduz que a segurança alimentar deverá tomar como base as práticas alimentares promotoras de saúde, que respeitem a diversidade cultural e que sejam ambiental, cultural, econômica e socialmente sustentáveis, ou seja, o sistema de produção de alimentos escolares tem que observar a aquisição da produção de alimentos orgânicos local, via PNAE, para que promova o desenvolvimento local sustentável do município de Glória do Goitá - PE. Sim. [...] Porque, é..., dos produtos da agricultura familiar que temos no cardápio, todos são dos agricultores do município. Dessa forma, [...] a gente tá deixando dinheiro que vem federal no município e beneficiando a..., a economia do próprio município. Com relação ao social, o que eu posso te dizer..., um..., a gente corta aquela questão do [...] atravessador não é? No caso se a gente compra do próprio fornecedor aqui do município, a gente tá comprando, [...] mais barato do que se eu fosse comprar na CEASA, em outro local, então, acho que também vai beneficiar a agricultura, [...] será mais barato pro Município. [...] Com relação à parte ambiental do desenvolvimento sustentável, comprando alimentos do município, via PNAE, promove o desenvolvimento sustentável porque estamos, no caso, como eu posso falar..., com relação ao ambiental..., rapaz eu tou..., fugiu. Eu acho importante, interessante, a questão da..., da agricultura familiar na merenda escolar por vários fatores, um deles é a questão de beneficiar o produtor local, deixar o dinheiro né..., [...]. É a alimentação vai ser mais saudável, se a gente está introduzindo os alimentos é... agroecológicos não é..., atualmente a gente não tem essa questão..., mas a gente tá pensando futuramente introduzir..., seria um próximo passo né! O primeiro, a primeira 125 chamada pública o ano passado, nós conseguimos adquirir da agricultura familiar, em torno de quarenta por cento dessa verba federal [...] e..., [...] a gente tá querendo introduzir outros produtos, dependendo também, vai depender também um pouco da vocação agrícola da..., da..., do Município e introduzir essa questão de..., do agroecológico né..., daqueles alimentos mais saudáveis, porque são produzidos sem agrotóxicos. (GP5) As considerações, quanto à problemática do fornecimento de alimentos produzidos, localmente, para as escolas contribuir para o desenvolvimento local sustentável, estão com o foco no aspecto econômico e no social, no sentido de geração de renda e movimentação da economia local. Estes aspectos foram os mais citados pelos gestores públicos municipais, o que aparentemente pode ser uma tendência não compreensível, visto que, eles estão construindo o argumento, nas suas áreas de atuação profissional, onde a maior parte lida com os recursos naturais, de forma direta ou indireta, e outros, labutam com a educação, um instrumento transformador da realidade, onde deveria estar presente à educação ambiental, não havendo justificativa para este direcionamento. De acordo com este profissional, na sua fala aduz que a alimentação vai ser mais saudável se for introduzido os alimentos de origem agroecológica; porém em seguida, confessa que atualmente esta questão não está sendo observada. E conclui que, depende também, um pouco, da vocação agrícola do Município, para que haja a introdução de alimentos agroecológicos, reconhecendo que são alimentos mais saudáveis, porque são produzidos sem agrotóxicos. Neste sentido, Marques (2012), lembra que a ideia é, além de despertar o interesse do estudante pela alimentação que é oferecida, também movimentar a economia agrícola local. As ações do governo, ainda, não se restringem a esfera pública, pois foi firmado um acordo entre o Ministério da Saúde e a Federação Nacional das Escolas Particulares, com 18 mil colégios associados, para adotar alimentos e hábitos mais saudáveis nas cantinas, visando a substituição de frituras por assados e a redução de produtos industrializados, dando-se preferência aos alimentos produzidos de forma mais natural. É importante destacar a opinião do GP5, que, de forma clara e bastante harmoniosa, descreveu sucintamente e revelou a importância ambiental, quando afirma que os agroecológicos não se utilizam de contaminantes, bem como o aspecto nutricional, ao afirmar que são alimentos mais saudáveis, só destoando o 126 seu discurso ao afirmar que depende da vocação agrícola da região, a questão da compra destes alimentos, quando se sabe que é mais uma questão de gestão pública ambiental. Com o objetivo de criar condições que permitam o desenvolvimento rural e agrícola sustentável, verifica-se a necessidade de efetuar importantes ajustes nas políticas para a agricultura, o meio ambiente e a macroeconomia, tanto no nível nacional, como internacional, nos países desenvolvidos e nos países em desenvolvimento. O principal objetivo do desenvolvimento rural e agrícola sustentável é aumentar a produção de alimentos de forma sustentável e incrementar a segurança alimentar. Isso envolverá iniciativas na área da educação, o uso de incentivos econômicos e o desenvolvimento de tecnologias novas e apropriadas, dessa forma assegurando uma oferta estável de alimentos, nutricionalmente adequados, o acesso a essas ofertas por parte dos grupos vulneráveis, paralelamente à produção para os mercados; emprego e geração de renda para reduzir a pobreza; e o manejo dos recursos naturais juntamente com a proteção do meio ambiente. (BRASIL, 2013a) O desenvolvimento rural e agrícola sustentável, para serem alcançados, precisa de um aumento na produção de alimentos, dentro dos princípios e diretrizes da agroecologia, bem como do seu escoamento visando incrementar a segurança alimentar, principalmente para assegurar uma oferta estável de alimentos nutricionalmente adequados, para uma população que se encontra nos grupos vulneráveis, qual seja os estudantes da rede pública de ensino. Para que isto aconteça, precisa que os gestores públicos estejam conscientizados e sensibilizados através da educação ambiental, só assim, poderá se promover o desenvolvimento local sustentável, aumentando o número dos postos de emprego com a geração de renda para reduzir a pobreza, sem se esquecer de se aplicar nas práticas agrícolas o manejo racional dos recursos naturais, visando à proteção e preservação do meio ambiente para as gerações presentes e futuras. Quanto à afirmação do gestor GP5, de que os alimentos orgânicos ou agroecológicos serem mais saudáveis do que os produzidos de forma convencional, dessa forma, Silva e Sousa (2013), chamam a atenção no sentido de o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) é uma das estratégias de Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) que se orientam pelos princípios do Direto Humano à Alimentação Adequada (DHAA). Ou seja, quando foi normatizado, buscaram-se, de 127 forma evidenciada, as orientações nutricionais para as crianças e adolescentes matriculados nas escolas, visando estimular, não só o seu crescimento e seu desenvolvimento, mas também, a aprendizagem e o rendimento escolar, bem como, uma educação focada na promoção de hábitos alimentares saudáveis. Embora os posicionamentos dos gestores públicos não estejam totalmente dentro do que é proposto especificamente pelo desenvolvimento sustentável, é possível perceber que as perspectivas apresentadas estão focadas na questão de oferecer uma alimentação de qualidade para a população dos estudantes da rede municipal de ensino de Glória do Goitá. No entanto, o PNAE só estará contribuindo para o desenvolvimento local sustentável, se for observado o equilíbrio entre o social, o econômico e o ecológico, necessitando para isso que as ações dos atores envolvidos estejam harmonicamente inter-relacionadas na busca da qualidade vida de toda a coletividade. Os gestores públicos, os quais percebem parcialmente que o fornecimento de alimentos produzidos localmente para as escolas contribui para o desenvolvimento local sustentável. Contribui, por que dessa forma existia uma preocupação do agricultor quanto à comercialização. E se eles estão fornecendo e já tem sabedoria e sabe e tem consciência de que quando termina o mês que o seu produto já está sendo vendido, tá sendo comercializado e que eles vão ter recursos para poder se tornarem alto-sustentáveis. (GP1) Na opinião do GP1, o fornecimento de alimentos produzidos pela agricultura familiar, das comunidades rurais do município para as escolas, contribui para o desenvolvimento local sustentável. No entanto, ele foca apenas num dos aspectos favorecidos pelo PNAE, que é justamente a garantia de mercado através das vendas institucionais. É bem sabido que a aquisição de alimentos para as escolas, promovida pelo PNAE, vai além da garantia de um mercado para o agricultor familiar, pois o referido programa alimentar visa contribuir também, com a promoção do uso sustentável dos recursos naturais. Vale salientar que o desenvolvimento, para ser considerado sustentável, tem que atentar para as disposições que regulem as relações de trabalho e favoreçam o bem-estar de proprietários, bem como, dos seus trabalhadores, o que tem reflexo nos aspectos social e econômico. 128 Segundo Altieri (2004), as distorções que ameaçam o desenvolvimento sustentável parecem lógicas, quando a sustentabilidade agrícola não é levada em conta pela política econômica. Dessa forma, o que parece ter uma chancela socialmente justa, quando os subsídios que incentivam o uso ineficiente de insumos e recursos, as práticas agrícolas que causam impactos ambientais, degradando os recursos naturais, como se não bastasse os programas de apoio à renda que restringem as rotações de cultura, na verdade, geram um grande equívoco quanto à sustentabilidade. Logo, a análise econômica deve ser modificada, levando-se em conta os custos ambientais, para que se promova a sustentabilidade agrícola, tendo de contabilizar o uso dos recursos naturais e refletir o real valor da produção e da política agrícola, o que não está previsto na ótica econômica tradicional. Sim, porque as associações são daqui, não é? E aí a gente esta sempre ajudando, sim. Não tem como explicar, elas são daqui de Glória, a gente compra a maioria, não acho que tem..., acho não. Tem uma empresa que não é daqui, ela é de Feira Nova, que é a de poupa, de frutas, mais o resto é tudo daqui, toda nossa fruta, toda nossa verdura, os legumes são comprados aqui, nas associações de Glória. As compras são feitas através da Secretaria, é centralizada e temos a participação de uma nutricionista. O cardápio precisa levar em conta as características locais, a vocação da agricultura da região, se não levar há uma rejeição, não é. [...] (GP3) Pela percepção da GP3, o fornecimento de alimentos produzidos localmente para as escolas contribui para o desenvolvimento local sustentável, uma vez que adquirido junto às associações dos agricultores do município, salvo exceções, mas é observada a vocação agrícola local e o hábito alimentar da própria comunidade, o que reflete os aspectos econômicos, sociais, nutricionais e culturais, previstos dentro do PNAE. Pela fala deste gestor, deduz-se que está sendo observada parte das diretrizes contidas no art. 3º do Decreto Nº 7.794/12, que institui a Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica, no que se refere à valorização da agrobiodiversidade e dos produtos da sociobiodiversidade e estímulo às experiências locais. Porém, é salutar um aperfeiçoamento do processo de aquisição da alimentação servida na rede pública municipal, quanto à promoção de sistemas justos e sustentáveis de produção, distribuição e consumo de alimentos, que aperfeiçoem não só as funções econômica, social, mas principalmente a ambiental da agricultura e priorize o apoio institucional aos beneficiários da Lei nº 11.326/06, criou a Política Nacional da Agricultura Familiar e Empreendimentos Familiares 129 Rurais, a qual tem como princípio a sustentabilidade ambiental, social e econômica, conforme previsão literal do art. 4º, infra: o Art. 4 A Política Nacional da Agricultura Familiar e Empreendimentos Familiares Rurais observará, dentre outros, os seguintes princípios: (...) II - sustentabilidade ambiental, social e econômica; (...) (BRASIL, 2014b). É necessário que se faça um trabalho de educação ambiental formal e não formal junto aos gestores públicos municipais, gestores das escolas públicas municipais, bem como, junto aos professores da rede municipal de ensino, para que se sensibilize quanto ao aspecto ambiental nas práticas alimentares dos alunos matriculados na rede de ensino municipal. Com certeza. Contribui porque [...] está fomentando aquele trabalho naquela região. O trabalhador vai ter para quem vender isso e não existe outro melhor comprador do que a prefeitura. E não tem outro consumidor do que o aluno da escola, da escola pública. Ele vai ter uma merenda de qualidade, você sabe a procedência. [...] Acredito que agora, não sei agora, não posso falar de agora, porque realmente não tenho conhecimento. Pelo o que eu ouvi falar, eles não estão mais nesse processo. [...] De ouvir falar, ela sofreu uma alteração, não sei se eles oferecem nem esse tipo de material que a gente servia verdura, frutas..., não sei se eles servem ainda. (GP4) De acordo com este gestor o processo de aquisição alimentar, via PNAE, favorece o desenvolvimento local sustentável, uma vez que está fomentando o trabalho na localidade, bem como, cria-se um mercado para o produtor do próprio município. Observa-se que o conceito de desenvolvimento sustentável para este gestor, está, também, focado no viés econômico. Nesta visão, não se contempla o custo ambiental para a produção de alimentos, nem mesmo, as práticas agrícolas, que possam contribuir para a preservação dos recursos naturais, viés ambiental do desenvolvimento sustentável. Neste raciocínio, Altieri (2004) ressalta que há evidências de que a produtividade dos recursos agrícolas não é estática. Processos de degradação dos recursos naturais podem ser acentuados, v.g. a erosão e a salinização, podem ter enormes impactos sobre a produtividade dos solos agricultáveis, vai depender do manejo que se dar ao solo. A agricultura é processo que interfere enormemente nos recursos naturais, podendo provocar a deterioração e a contaminação, danificando também, os recursos hídricos, assim como, os poluentes lixiviados dos cultivos 130 podem reduzir drasticamente a produtividade dos ecossistemas e afetar a vida dos mananciais hídricos. Lembra Altieri (2004), que não estão sendo computadas essas perdas. Pode o solo ser erodido, os recursos hídricos contaminados, a vida silvestre envenenada e os reservatórios entulhados com sedimentos, não têm um impacto aparente sobre o valor privado ou público da agricultura, não há uma contabilidade ambiental efetiva. Se a sustentabilidade é compreendida como a capacidade de um sistema de manter sua produtividade, quando submetido a estresses e perturbações, então, de acordo com princípios básicos de contabilidade, os sistemas de produção que danificam a estrutura do solo ou exaurem seus nutrientes, matéria orgânica ou biota, são insustentáveis. Se o solo fosse depreciado como outros recursos, a sustentabilidade agronômica poderia ser quantitativamente determinada. Práticas produtivas que degradassem a produtividade do solo resultariam em rendimentos reduzidos, e seriam, portanto, depreciativas. Inversamente, as práticas que aumentassem a produtividade do solo seriam apreciativas. (ALTIERI, 2004) Para que o fornecimento de alimentos provenientes das comunidades para a alimentação escolar promova o desenvolvimento local sustentável, tem que se observar as práticas agrícolas realizadas no município, não sendo suficiente apenas que sejam produzidas pela agricultura familiar in locu. Eu acredito que ele contribui [...] Se, gera renda local, há uma tendência de um incentivo, que agente não pode deixar a agricultura morrer, não é. A cada dia ela tem que ser reativada e através de que, de um incentivo desse, de uma produtividade de renda. Então se agente compra local e há essa produtividade, algum pode se interessar cada dia mais, e a gente ter realmente uma probabilidade de uma sustentabilidade maior para os comerciantes locais e os agricultores. (GP6) Observa-se a preocupação na fala deste gestor com a agricultura, ao mesmo tempo em que reconhece o papel da aquisição da produção agrícola local pelo mercado institucional criado pelo PNAE, no sentido de promover o desenvolvimento local sustentável. Nesse sentido, é necessário que se implementem as políticas públicas, voltadas para desenvolvimento rural e agrícola sustentáveis, que servem de instrumentos para a transformação fundiária do nosso país. Assim, deve-se destacar a implantação da reforma da política agrícola e da reforma agrária. 131 Tais processos de transformação devem ser realizados de forma participativa, observando-se as diversidades existentes num país continental como é o nosso, levando-se em conta as peculiaridades de cada microrregião, pois, para que seja sustentável, é mister que se observe as características de cada comunidade, bem como, a vocação agrícola de cada região. Jesus (2007) afirma que o desenvolvimento local deve ser entendido como um processo que envolve tanto pessoas, como instituições, com o objetivo de transformar a economia e a sociedade local, tendo como consequências benéficas à geração de renda e de novos postos de trabalho, ultrapassando os limites e obstáculos, com o desiderato de se propiciar a qualidade de vida para a comunidade local. Para isso acontecer, tem que haver uma articulação das instituições e das lideranças locais, juntando esforços no sentido de viabilizar um meio, em que as atividades econômicas, que venham a garantir melhores condições de vida para os cidadãos, sempre levando em conta a valorização e ativação das potencialidades e efetivos recursos locais. Nesse desiderato, não se pode esquecer um aspecto fundamental que é a aplicação correta das técnicas agronômicas e agroecológicas, levando-se em conta o conhecimento empírico do agricultor, que nasceu e sempre viveu no meio rural, visando a conservação do solo, através do devido manejo e utilização dos insumos adequados à boa prática da produção de alimentos, de uma forma mais saudável para o agricultor, o consumidor final e o meio ambiente. Para que esse novo tipo de gestão se implante é salutar que se observe também, uma interação na participação das comunidades rurais, de forma organizada, bem como das instituições públicas, do terceiro setor e da cooperação internacional, através da cooperação técnica e científica. Segundo Campos e Carvalho (2011), no Nordeste, as atividades agropecuárias são exercidas principalmente por agricultores familiares, pois, de acordo com o estudo do INCRA/FAO (2000), a região aglutina o maior número de estabelecimentos familiares do nosso país, apresentando a menor renda proveniente destas atividades, pois, dos 149.506 estabelecimentos familiares, da categoria “proprietários de terra”, 70.846, ou 47,4%, enquadram-se na tipologia de “quase sem renda”, que compreende aqueles agricultores com renda total por hectare/ano de R$ 23,00. Além do tradicionalismo das técnicas utilizadas que provocam baixo desempenho produtivo, a baixa fertilidade dos solos e o uso 132 inadequado das tecnologias disponíveis, bem como a escassez pluviométrica, a falta de recursos financeiros e de escoamento da produção, somando-se as arcaicas relações sociais de produção e os baixos níveis de escolaridade, são determinantes para o baixo desempenho das atividades produtivas. [...] Bom, sob todos os aspectos. Primeiro, que é a verticalização do consumo, ou seja, o que é produzido aqui é consumido aqui, comercializado, isso retroalimenta todo o sistema sustentável. O governo..., as instituições adquirem os produtos orgânicos, devem adquirir produzidos localmente, dentro dos padrões aceitáveis e dentro do..., dentro do que estabelece a produção orgânica, é comercializado..., é..., é fornecido para uma alimentação saudável para os alunos em formação, e isso é [...] o que nós chamamos da sustentabilidade do sistema, ou seja, a gente verticalizar a produção e o consumo dos produtos, produzidos e comercializados localmente. Eu acredito que seja a base de nós chegarmos a um ponto que toda a sociedade deseja. (GP7) De acordo com o Ministério da Agricultura, no sistema de produção orgânica de alimentos, é fundamental que exista uma relação de confiança entre produtor e consumidor, bem como, um controle de qualidade. É possível perceber pelas considerações deste gestor que a verticalização do consumo, ou seja, o que é produzido aqui, é consumido aqui, retroalimenta todo o sistema sustentável. Logo, as instituições adquirem os produtos orgânicos produzidos localmente dentro das previsões do PNAE, favorecendo uma alimentação saudável para os alunos em formação. Esta opinião mostra-se bastante relevante, pois ela aborda as questões ligadas à economia local, à segurança alimentar, bem como, à questão ambiental, previstas no programa alimentar estudado. O PNAE estará sendo bem executado se observar não só a questão econômica com o aumento da produtividade, mas, necessariamente se estiver levando em conta os aspectos sociais e ambientais. Neste sentido, Scotto, Carvalho e Guimarães (2007) ao analisar o relatório de Brundtland (CMMAD, 1998), observa que de acordo com o seu sumário, o mesmo abrange grandes partes que visam incluir as questões econômica, social e ambiental, para se alcançar a sustentabilidade do desenvolvimento, recomendando a adoção de políticas públicas focadas no social e ambiental. De acordo com MDA (2013) o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), administrado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), adquiriu, cerca de R$ 520 milhões em produtos da agricultura familiar nos 133 anos de 2011 e 2012. Apenas em 2012, foram adquiridos produtos orgânicos e de base agroecológica em 1.733 municípios, equivalendo a 31% do total de registros de compra no ano. Outro aspecto que deve ser mencionado é a falta de conhecimento de gestores públicos no âmbito estadual e municipal sobre a operação do PAA e do PNAE. É necessário ampliar a troca de informação para orientar as políticas. O MAPA pode disponibilizar o cadastro de produtores orgânicos aos gestores para orientar as políticas PAA e PNAE, mas é necessário fazer cruzamento para identificar os agricultores familiares. (MDA, 2014e) [...] Quando você produz localmente, levando em consideração os aspectos da sustentabilidade, que é o aspecto social, o aspecto cultural. O aspecto econômico e o ambiental, não tou aí escalando por nível de importância. Mas na medida que você leva em consideração esses quatro fatores como instrumentos é..., determinantes para o desenvolvimento sustentável, então esse programa, ele contribui sim, porque do ponto de vista cultural [...], do ponto de vista da saúde, é muito mais importante. Do ponto de vista ambiental..., a preservação da natureza se dá, sobre tudo da nossa..., da nossa fauna e da nossa flora..., à medida que eu conheço, e os agricultores conhece muito bem a importância que tem..., preservar uma mata, preservar uma nascente de água. Então do ponto de vista ambiental, também esse programa ele incentiva..., na medida que possibilita que o agricultor não precisa, por exemplo, ter que fazer um carvão, ter que tirar uma mata, pra poder melhorar a sua renda..., porque a sua renda tá assegurada a partir da produção..., e uma produção que nós incentivamos que é a produção orgânica, que é a produção em harmonia entre eu produzir e conservar os recursos naturais, então, isso significa do ponto de vista ambiental também uma ação correta. Do ponto de vista econômico [...], ele promove tanto a melhoria de renda do agricultor, mas também, a economia local começa a ser aquecida. E por último, por fim, do ponto de vista social, ele possibilita a participação, ele tem o controle da sociedade muito maior, principalmente, através dos conselhos municipais. Então ele é um programa, que [...] a gente pretende que ele se amplie [...], pra que cada vez mais, mais escolas tem esse alimento, e isso sirva como estímulo para que a nossa criançada, nossa juventude..., não aconteça a evasão escolar. Por que a gente sabe que na verdade a sustentabilidade, as transformações sociais que o país ainda precisa, um dos itens fundamentais é a educação, e esse programa contribui pra que esse processo de educação possa permitir o acesso ao saber a maioria das nossas crianças e a juventude. (GP8) O GP8 demonstra um posicionamento bastante pertinente, revelando uma visão holística da importância do PNAE na promoção do desenvolvimento local sustentável, quando aborda de forma ampla os reflexos deste programa alimentar na agricultura familiar, com mudanças nas práticas agrícolas, sedimentadas na agroecologia. Esta visão traz um aspecto diferencial, ao demonstrar como o município deve operacionalizar o PNAE, para que se possa promover o 134 desenvolvimento local sustentável, não observando apenas o aspecto econômico, mas todos os aspectos que estão em voga dentro do contexto em que este está inserido. Sendo assim, Seiffert (2011) aduz que existe uma grande interrelação entre os pressupostos econômico e ecológico, visto que a origem de grande parte da degradação ambiental observada na atualidade é consequência de uma ultização econômica não racionalizada dos recursos naturais dentro dos processos produtivos. Logo, é necessária uma gestão eficiente dos recursos naturais, para que se alcance o pressuposto econômico desse novo modelo de desenvolvimento, o que implica na incorporação de valor do bem ambiental no processo produtivo, observando-se uma valoração mais adequada dos recursos naturais. 4.3.3 Percepções pelos Gestores Privados sobre a relação do fornecimento de alimentos produzidos localmente para as escolas e o desenvolvimento local sustentável. Os gestores privados que percebem que o fornecimento de alimentos produzidos localmente para as escolas contribui para o desenvolvimento local sustentável. Sim, porque aí já vai ser um dinheiro extra pros agricultores. E cada agricultore vai ter os seus filho, sabendo que tá comendo um produto bom de boa qualidade. Porque hoje em dia, a maioria vem de..., eu tava assistindo uma reportagem, 60% dos câncer, hoje é os produto irregular que é comido hoje em dia. Que é muita e muita substância química, então a gente gostaria assim que..., a prefeitura junto com o governo tudinho..., olhassem mais a parte de orgânico e fosse uma lei que botasse mesmo pra a gente vender os trinta por cento de produtos orgânicos, da escola. Outro benefício que o trabalhador rural traz para ele e para a família dele é principalmente de tudo..., saúde. Que a gente com saúde é melhor. Hoje em dia, eu vi lá o meu vizinho, distante de mim um pouquinho, ele planta produto é..., convencional, então ele usa muito veneno. Então ele é sujeito diretamente tá com gripe, cansaço, porque ele lida diretamente com o veneno. Já nós..., é sem o veneno, [...] é somente saúde [...]. Os meninos da gente entra dentro da horta, como tomate, [...] tudo na hora, assim arrancando e comendo e não tem doença, porque nossos produtos é sem veneno, aí..., é uns produto que eu aconselho todo mundo a comer, é o produto orgânico. A gente trabalha junto com o orgânico e com a natureza, então o meio ambiente..., o meio ambiente precisa de limpeza, ar limpo. Então se a gente colocar veneno..., o ar vai ficar poluído, as nascente do rio vai sofrer e os bicho vai morrer devido o veneno no solo. Então..., é uma coisa vai levando a outra. Então..., bom mesmo é a gente não usar veneno. Sempre usar produto sem veneno, que é o produto orgânico [...] no momento nós temos sessenta e dois agricultore associados, com orgânico trabalha quarenta e seis. Se os agricultores orgânicos vendessem para as 135 escolas traria saúde para as crianças, divulgação do nosso produto e ajudava mais nós agricultore, [...] era um dinheirinho extra e nós ia investir mais ainda na nossa produção. Olhe..., a opinião que eu queria dizer era isso: prefeitura..., secretário..., prefeito..., tudinho, deixasse essa discussão de divergência de partido. No momento agora, a gente tem sim, é de olhar o futuro, olhar nossas criança, que nossas criança não pode diretamente tá comendo veneno e a gente com um produto saudável, um produto de primeira qualidade..., jogando fora, não pode! A gente tem que botar esses produtos de boa qualidade pras crianças, nas escola. Então, as prefeitura tem que parar com isso, esse negócio de política, porque política é bom pra eles, agora pra criança não! Criança tem que crescer forte, saudável. (GPR1) De modo geral, é possível perceber que quanto maior o envolvimento e sentimento de pertencimento do ator participante do processo, maior o conhecimento sobre o que representa o processo de inserção dos alimentos provenientes da agricultura orgânica na alimentação escolar, repercutindo no desenvolvimento sustentável, onde os gestores privados, no nível estratégico, conseguem discernir melhor o que representa esse paradigma de desenvolvimento, bem como, quais os seus reflexos benéficos na comunidade local. Pela fala do GPR, ele consegue perceber de forma sensibilizada vários benefícios, decorrentes da adoção do sistema de produção agroecológico, provenientes da agricultura orgânica. Observa-se a sua preocupação com a saúde ambiental e seus reflexos na saúde de todos os atores envolvidos direta ou indiretamente com o processo de aquisição institucional de alimentos. Ressalta a questão da intoxicação do meio ambiente, do homem que lida com agrotóxicos e dos consumidores deste tipo de alimentos convencionais. Aborda as questões econômica, social, associativista, cultural e político- partidária que interferem na filosofia das políticas públicas desenvolvimentistas. Observa-se que o gestor privado demonstra esclarecimento sobre o que representa o conceito do desenvolvimento sustentável, visto que, na sua fala se destaca vários elementos ligados a esta seara do conhecimento. Assim, pode-se inferir que os atores que pertencem ao processo de produção de orgânicos conhecem o que representa a sustentabilidade para a comunidade local, bem como, a sua repercussão no planeta. Por consequência, sabendo-se que o conhecimento e o acesso às informações são essenciais para uma ação pensada e refletida, considera-se que a aquisição da produção orgânica, através do PNAE, promove o desenvolvimento sustentável de Glória do Goitá, se for levado em conta o opinativo deste gestor 136 privado, que representa a fala dos agricultores associados à produção orgânica local, o que se coaduna com a afirmativa de Ferreira (2011), ao se referir ao desenvolvimento sustentável, como uma nova forma de desenvolvimento, que leva em conta a inclusão social, as gerações futuras e o meio ambiente. Neste contexto, Faver (2004) aduz que a Agricultura Orgânica é um dos sistemas de produção de alimentos, que estão inseridos dentro da Agroecologia. São princípios norteadores da agroecologia a menor dependência possível de insumos externos e a conservação dos recursos naturais, para tal, ela maximiza a reciclagem de energia e nutrientes, reduzindo as perdas destes recursos durante os ciclos de produtivos. Destaca-se a Agricultura Orgânica pela sua importância, como sistema de produção agrícola, o qual se encontra dentro do conceito da agroecologia, pois tem um enorme cuidado com a biodiversidade. Este sistema agrícola considera o agricultor como o sujeito da ação e a razão de ser do desenvolvimento sustentável, o qual privilegia os recursos naturais locais e preserva a saúde do meio ambiente, contribuindo para a qualidade de vida de toda a coletividade, bem como, observando a dignidade da pessoa humana, viabilizando a conquista da cidadania das comunidades dos agricultores e de suas famílias, fomentando uma sociedade mais democrática e humanizada. Com certeza. Eu acho que quanto mais à gente poder cortar o intermediário, melhor, né... Eu acho que se você incentiva a economia local, principalmente incentiva o agricultor a ser um ator autônomo dentro desse processo né..., que ele consiga produzir e comercializar ali mesmo, né... [...] Não ter também, até cortar o fato dele ter que vir a comercializar em Recife, já tem a questão da logística, à distância né..., é um trabalho a mais, essa coisa de ter de acordar de madrugada, tudo mais. Então quanto mais a gente incentivar as pessoas que elas consumam localmente é benefício para o planeta todo, em relação a tudo. Não é..., a logística, a gerar a economia local, é..., a incentivar o agricultor a ser autônomo mesmo, né..., e conseguir viver daquilo ali, de maneira digna, porque, na verdade essas políticas públicas de aquisição de alimentos né..., eu acho até que elas são muito bem estruturadas no sentido que não é para que o agricultor fique dependente daquilo, mas seria uma renda complementar, tanto é que tem um teto não é..., anual que pode ser vendido. Mas eu acho que é um complemento ótimo, um incentivo maravilhoso não é..., do governo e também reflete de uma maneira positiva nas instituições que recebem esses alimentos, sejam escolas, seja outras, no caso o PAA. E assim, eu acho que de uma maneira geral é a coisa mais benéfica que pode ser feita para o desenvolvimento local sustentável né..., você sempre incentivar a economia local. A única coisa que me preocupa realmente, acho que isso é uma questão mesmo a nível, acho que Pernambuco, eu não gosto generalizar, mas posso dizer que a nível Nordeste, são entraves político né..., que assim, falta nesses gestores uma visão holística, de continuidade do processo, de uma coisa mais humana e integral, assim, todo mundo tem essa coisa da disputa política que dificulta todos os processos. A gente tem uma legislação tão bacana que é referência mundial como essa legislação 137 de agricultura familiar que tem no Brasil todo o incentivo e você às vezes se perde nos processos por disputas políticas, e isso sim, é uma pena realmente, porque se a legislação funcionasse de uma maneira para além desses interesses né..., seria assim, realmente é uma referência, só falta que seja colocada em prática de uma maneira pra além desses interesses, pra que seja efetuada de uma maneira que realmente funcione e que não venha prejudicar a população por interesses políticos né..., principalmente o agricultor. E é uma legislação realmente de referência, [...] (GPR3) Foi possível, a partir dos conteúdos das afirmativas externadas por este ator social, perceber dentro desta categoria de análise, entre aqueles que enxergam o PNAE como indutor do desenvolvimento sustentável. É válido observar as suas considerações, quando se refere aos incentivos da economia local, principalmente quanto ao agricultor, como um ator autônomo dentro desse processo, na medida em que ele consiga produzir e comercializar a sua produção, na própria localidade, quanto maior o consumo local, maior o benefício para todo o planeta, em relação a tudo. Neste sentido, Gehlene (2004) aduz que algumas transformações recentes na agropecuária brasileira são consequência das políticas públicas e sociais, v.g, a que trata da agricultura familiar, interfere no modo de vida e de produção rural, centrado no trabalho não assalariado e na organização da unidade de produção. Nesta seara, a referida política pública traça estratégias visando à qualidade de vida e a eficiência no uso do espaço rural e das tecnologias adaptadas para esta realidade. Neste sentido, contribui para a constituição de sociedades locais estruturadas e integradas por valores de cidadania e identidade. É dentro deste raciocínio, que autonomia do agricultor é alcançada, através de estímulos que não causem a dependência econômica e social, porém, o PNAE, vai servir para garantir um mercado institucional, o qual servirá de suporte para o agricultor familiar exercer o seu papel social, ambiental e econômico, não só dentro da comunidade local, mas com reflexos na sustentabilidade planetária. Quanto às políticas públicas de aquisição de alimentos, no caso analisado o PNAE, o entrevistado chama a atenção para a elaboração das mesmas, aduzindo que são muito bem estruturadas, no sentido que não cria uma dependência institucional, mas gera uma renda complementar para os agricultores familiares, que serve como um maravilhoso incentivo por parte do governo, refletindo de maneira positiva nas instituições que participam do processo, recebendo esses alimentos e 138 movimentando a economia local, promovendo assim, o desenvolvimento sustentável. Na ótica das políticas públicas voltadas para a questão alimentar, Gehlene (2004) aduz que numa nova a abordagem sobre o rural complexificado, resgata o cidadão agricultor familiar, para que se envolva de forma participativa, não só nas questões locais, mas também nas nacionais e internacionais, num processo de diferenciação e profissionalização. Dentro desta nova visão sobre o meio ambiente rural, observam-se transformações profundas, bem como o dinamismo social presentes nas lutas por interesses específicos e pela construção de um novo paradigma, que dentro de uma visão holística, reflete nas sociedades local, regional, nacional e mesmo global. Nesta linha, as políticas públicas, construídas de forma participativas e dirigidas para segmentos específicos, v.g. a Política Nacional da Agricultura Familiar, mesmo promovendo as mudanças necessárias, tendem a fortalecer os que apresentam racionalidade “moderna” e embasada na ética do trabalho e da competitividade, que aproveitam as oportunidades. É possível observar, na percepção de GPR3, a mesma preocupação externada pelo GPR1, quanto à questão das políticas partidárias que estão agindo como movimentos estanques ao processo de desenvolvimento local, promovido pelas Políticas Públicas tão bem idealizadas. Ele afirma que, sem generalização, falta, nesses gestores, uma visão holística de continuidade do processo, de uma coisa mais humana e integral, quando se tem as disputas políticas que dificultam todos os processos. Finaliza o seu discurso, afirmando que a legislação, que trata da temática, é referência mundial, destacando a que regulamenta a agricultura familiar no Brasil. Prossegue chamando a atenção, mais uma vez, no sentido de que existe todo um incentivo que às vezes se perde nos processos por disputas políticas. Aduz que se a legislação funcionasse, além desses interesses, seria uma referência. Só falta que seja colocada em prática e que não venha prejudicar a população por interesses políticos, principalmente o pequeno agricultor. Tais práticas, para Gehlene (2004), estão atreladas as políticas públicas que viabilizam o financiamento às atividades rurais, a descentralização da sua execução por intermédio dos Conselhos Municipais, especialmente os de Desenvolvimento Rural, entre outros incentivos, estão propiciando o surgimento de novos atores sociais, representados pelo agricultor familiar profissionalizado e do 139 granjeiro. A profissionalização prevê uma competitividade embasada numa referência ideológica fomentada por mecanismos econômicos que colocam produtor e consumidor como duas faces de uma mesma moeda. Com isso os conceitos passam por uma nova roupagem, como o de identidade sociocultural, que inclui a noção e o “lugar” do trabalho, e o de cidadania, que inclui as relações de trabalho e com o meio ambiente, tudo em decorrência dos impactos gerados por estas transformações. Tal processo cria na concepção dos produtores, os conceitos de trabalho e de competitividade nos seus aspectos de qualidade e de produtividade, cujos impactos interferem na reelaboração da identidade socioprofissional. Ainda de acordo com ibidem (2004), estas transformações não alcançaram cerca de 12% da população do meio rural brasileiro que vive em condições abaixo da chamada “linha de pobreza”. Sim [...]. Quando a gente chegou nessa região de Glória do Goitá, a gente fez uma pesquisa..., na época o salário mínimo era de R$ 140,00 (cento e quarenta reais), e a gente fez uma pesquisa..., e a renda..., é..., a média da renda familiar dos agricultores era R$94,00 (noventa e quatro reais), então a produção local..., a produção orgânica, agroecológica tendo um mercado direto que é o PNAE, ele eleva o nível, não é..., da localização [...] é a produção para o mercado local. E aí, hoje a gente tem agricultores [...] que estão tendo uma média de r$ 500,00 (quinhentos reais)..., R$ 600,00 (seiscentos reais)..., R$ 700,00 (setecentos reais)..., tem agricultores que chegam até R$ 1.000,00 (mil reais) por semana, nesse processo produtivo. Isso eu estou falando do ponto de vista econômico, do que eles vendem, eu não tou falando do que eles consomem [...]. Eu não tou falando do solo que [...] não tá mais prejudicado e eu [...] Eu não estou [...] computando [...] o desmatamento que [...] o outro modelo de produção [...] estimula. [...] O PNAE [...] estimula o desenvolvimento local quando [...] começa a pensar a família, porque num processo produtivo pra a escola..., o estudante..., que está se alimentando daquele produto na escola, ele começa [...] a discutir quais são os produtos, por exemplo [...] que os estudantes da escola querem comer. [...] E essa relação do filho dele, por estar em sala de aula e está vendo estes comentários na sala de aula..., leva para dentro de casa e os agricultores começam a se organizarem pra atender aquela demanda da merenda escolar. Provoca o desenvolvimento local porque o custo da produção diminui [...] então tudo que é produzido ali..., vai pra escola que está ali ao seu entorno. O PNAE gera essa série de elementos que provoca [...] o desenvolvimento local, meche nas relações familiares, meche na relação do produtor com a terra, meche na relação do produtor com os recursos naturais, meche na relação do produtor com as políticas públicas locais, meche na relação do produtor com a escola e a escola com o produtor, então de fato é um dos melhores programas hoje, que a gente avalia como um programa que ele fortalece a agricultura familiar, ele fortalece o desenvolvimento local. (GPR5) 140 É possível identificar pelo pronunciamento deste respondente, que assim como a maioria, cita diretamente a geração de renda como forma de promoção ao desenvolvimento sustentável, além de apontar aspectos ligados à logística e a redução de custos na comercialização da produção, o que demonstra claramente que o PNAE exerce a sua função quanto a este viés. Neste sentido Paiva, Freitas e Santos (2012) asseveram que a administração da aquisição da alimentação escolar através dos municípios, descentralizou a sua administração trazendo vários benefícios, dentre eles a racionalização da logística e dos custos de distribuição dos alimentos, o que favoreceu a economia local, quando o comércio e os pequenos produtores do agronegócio local passaram a participar do processo de fornecimento dos referidos alimentos. Em seguida, ele ressalta o consumo dos alimentos orgânicos diretamente por quem produz, bem como pelas famílias dos agricultores orgânicos, o que reflete uma melhoria na qualidade da alimentação das comunidades rurais, dentro da perspectiva da segurança alimentar e nutricional, convertida em mais saúde para os agentes sociais participantes do processo. Com muita sensibilidade ainda, de quem tem o sentimento de pertencimento do processo analisado, aponta algumas das repercussões do PNAE na agricultura familiar, com ênfase nos produtores de alimentos orgânicos, quando se refere aos aspectos do manejo do solo e seus benefícios ambientais. De forma consciente, aponta os aspectos sociais que envolvem as famílias dos produtores e dos estudantes consumidores, num feedback social, de forma positiva. Finaliza, avaliando a operacionalização do PNAE, trazendo algumas das transformações provocadas nas relações familiares, na relação do produtor com a terra, na relação do produtor com os recursos naturais, na relação do produtor com as políticas públicas locais, na relação do produtor com a escola e a escola com o produtor, e conclui afirmando que o PNAE é um dos melhores programas na atualidade, o qual fortalece a agricultura familiar e promove o desenvolvimento local sustentável. Dentro desta linha de raciocínio, Assis (2006) ao analisar os princípios teóricos da agroecologia, em paralelo às características da agricultura familiar, observou que a aquela, com seus sistemas de produção, é a mais indicada para a realidade dos sistemas de organização da agricultura familiar, devido à diversidade 141 apresentada na sua estrutura de produção, bem como, em razão do nível de complexidade desejado, viabilizando as atividades de supervisão e controle do processo de trabalho. O que não ocorre para os grandes produtores patronais. Mesmo não se considerando que a agricultura orgânica com base agroecológica seja inviável, observa-se que as dificuldades são maiores, especialmente quanto à diversificação exigida para os agroecossistema. Nestes casos, consegue-se trabalhar próximo das diretrizes exigidas pela agroecologia, visando assegurar a sustentabilidade. Observa-se que os sujeitos da pesquisa percebem a operacionalização do PNAE no Município de Glória do Goitá, como instrumento indutor da promoção do desenvolvimento local sustentável. Foi possível, a partir dos conteúdos das afirmativas externadas pelos atores participantes do processo, concluir que dentro desta categoria de análise, não houve entre eles quem não enxergasse o PNAE como indutor do desenvolvimento sustentável. Os gestores privados que percebem parcialmente que o fornecimento de alimentos produzidos localmente para as escolas contribui para o desenvolvimento local sustentável. Sim. Olhando sempre as questões econômicas, culturais e sociais promovidas pelos recursos que circulam dentro do município. As técnicas e planejamentos realizados focados para atender estas demandas do PNAE e as questões culturais que hoje estão num momento de transição, porque antigamente não tínhamos este programa público. Está mudando este hábito cultural do agricultor que antigamente só vendia mais para os atravessadores, onde o qual descaracterizava os preços dos produtos, hoje os agricultores têm um preço mais justo e solidário, inclusive, o que veio melhorar as questões sociais, econômicas e culturais, proporcionando melhor qualidade de vida para os agricultores, porque é uma política pública direcionada para o pequeno agricultor, inclusive é uma lei federal. (GPR2) De início se observa na boa visão do GPR2, quando da sua fala, que o mesmo percebe parcialmente que o fornecimento de alimentos produzidos localmente para as escolas contribui para o desenvolvimento local sustentável, uma vez que o mesmo fez referência às questões econômicas, culturais e sociais promovidas pelos recursos que circulam dentro do município, advindos do PNAE, bem como, continuando a sua abordagem sobre a temática trazida a baila, ressaltou a eliminação do atravessador, no momento da comercialização da produção agrícola; o que veio garantir um preço justo sobre os produtos ofertados. No entanto, 142 chama atenção, a não observância no seu discurso da questão ambiental, tão importante para a conceituação do desenvolvimento local sustentável. Dentro do conceito do desenvolvimento local sustentável, Buarque (1999) afirma que a compatibilização entre os objetivos sociais, econômicos e ambientais torna-se viável devido aos avanços científicos e tecnológicos, que servem de instrumental, nas relações da economia e da sociedade com a natureza, bem como de uma consciência ambiental da humanidade. Para este pensador, a partir de uma combinação destes dois fatores, surge uma nova maneira de interagir, entre a dinâmica econômica, a estrutura social e os ecossistemas, o que viabiliza um novo modelo de desenvolvimento. Sendo assim, a consciência ambiental garante uma sustentação política para as mudanças, e as inovações tecnológicas redefinem e diminuem as tensões (trade-offs) entre a economia e a natureza. Segundo Buarque (1999), o desenvolvimento sustentável consiste numa transição para um novo estilo de organização da economia e da sociedade e das suas relações com a natureza, prenunciando uma sociedade com equidade social e conservação ambiental, para que isso ocorra, demandam tempo e iniciativas transformadoras da base da organização da sociedade e da economia. Com certeza, inclusive é um dos parâmetros do desenvolvimento local, [...] tem um programa chamado Zoneamento Territorial Local, que a gente coloca a aquisição número um, público-governamentais, é a maior empresa que cada cidade da Mata Norte tem, é sua prefeitura, é o grande consumo hoje Secretaria de Educação, então, em termos de alimentação são os grandes consumidores. Para você ter ideia, toda a rede de restaurantes instalados na Mata Norte consome cerca de dezoito por cento da produção agrícola. Então veja que sobra todo esse resto para ser consumido pela merenda escolar, pelas escolas estaduais e escolas municipais. [...] Glória hoje está muito bem, porque está próximo de um grande fornecedor de tubérculos e raízes, que ela ali, ela também faz parte. Ela tá próxima daquela região de verduras, ali de Inatuba, de Vitória de Santo Antão. Ela está próxima à área de fruticultura, banana, uva. Então Glória tem todas as condições de receber alimento de boa qualidade. Inclusive, existe hoje uma feira orgânica em Lagoa de Itaenga, cidade vizinha à Glória, que dizer essa agricultura já passa por uma qualificação, e a gente vê que é o caminho natural, [...] é onde os órgãos ligados à agricultura vai insistir, e o consumo governamental é a chave do desenvolvimento local. Então, se escola, também a rede de hospitais também deve consumir. [...] esses editais, nós precisamos simplificar esses editais da CONAB, de aquisição de produtos. O nosso agricultor não tem cultura, [...] porque ninguém sabe vender para o governo porque é complicado. É um edital que exige certidões. Um agricultor daquele, não entende muito disso, principalmente aquele pessoal de assentamento, é muito complicado. [...] Então..., [...] primeiro fortalecer este programas que já está em andamento, como o PNAE e PAA. Trabalhar forte a questão dos editais da CONAB. Fazer com que os outros órgãos governamentais também consumam. [...] É necessário descentralizar também esse tipo de aquisição [...] para estimular a economia local. O 143 grande problema [...] se o valor econômico que é gerado na Mata Norte fosse gasto na Mata Norte, nós teríamos uma região desenvolvida. O problema é que tem cidade lá, como Nazaré que noventa por cento da renda produzida na cidade vai embora. (GPR4) É possível identificar que este respondente, na maior parte da sua explanação, cita diretamente ferramentas ligadas ao mercado consumidor, propiciado pela compra via PNAE, como forma de promoção do desenvolvimento local sustentável, o que sem dúvida é um importante aspecto que reflete na qualidade de vida da comunidade. No entanto, na sua fala, não se vislumbra qualquer referência às questões socioambientais previstas no programa alimentar sob discussão. Quanto aos aspectos socioambientais promovidos pelo PNAE, Melão (2012) aduz que como política pública de inclusão, de garantia de direitos e controle social, só terá confirmado esses propósitos se houver a participação efetiva dos atores envolvidos, bem como pelo modo de execução de suas ações. Neste sentido, os gestores públicos devem buscar o atendimento à alimentação escolar oferecendo produtos de “base ecológica”, dando prioridade aos produtos locais, visando à promoção da Agricultura Familiar. Nessa linha, deverá viabilizar o consumo destes alimentos no contexto da Segurança Alimentar e Nutricional (SAN), no que se refere às práticas alimentares e à nutrição da população (BRASIL, 2004) – no caso, os estudantes da rede de ensino público. A aquisição de alimentos pelo PNAE deve apoiar o desenvolvimento sustentável, incentivando a aquisição de alimentos diversificados, preferencialmente produzidos e comercializados em âmbito local. Pela fala do entrevistado, conclui-se que o município locus apesar de bem situado geograficamente, levando-se em conta os referenciais apontados, para que a aquisição da alimentação escolar, através do PNAE, promova o desenvolvimento local, antes de tudo, precisa implantar medidas que incluam os atores sociais envolvidos neste processo, através de uma sensibilização que envolva os fatores econômicos, sociais e ambientais, numa dialética que leve ao equilíbrio na exploração dos recursos naturais. Para Jara (1998), o desenvolvimento sustentável trata-se do nascimento de um novo paradigma, que servirá de norte para os processos, quando serão reavaliadas as relações existentes entre a economia e a sociedade com a natureza, bem como, as relações do estado com a sociedade civil. Onde estes processos de mudança sociopolítica, socioeconômica e institucional, buscam garantir a satisfação das 144 necessidades básicas da população e a equidade social das gerações presentes e futuras, gerando oportunidades de bem-estar econômico que observem os processos ecológicos a longo prazo. 4.3.4 Percepções pelos técnicos e pesquisadores em agricultura sobre a relação do fornecimento de alimentos produzidos localmente para as escolas e o desenvolvimento local sustentável. Os que percebem que o fornecimento de alimentos produzidos localmente para as escolas contribui para o desenvolvimento local sustentável. Com certeza. Glória do Goitá está fortalecendo a agricultura familiar através do PAA e do PNAE e a tendência é de a gente ampliar muito mais, porque Glória do Goitá, por exemplo, através do PAA, a gente já dobrou o valor com relação aos outros municípios. E eu tenho certeza que o PNAE ele será muito mais fortalecido diante da demanda que vai surgir dos agricultores familiares produzindo para abastecer o PNAE, até porque [...] o PNAE e o PAA que são as instituições do MDS e da CONAB, ele tem um preço, que a nível de mercado, na ponta final do consumidor, evitando assim o atravessador. Então um agricultor, ele sai muito mais fortalecido com essa linha do PNAE. (TPA1) O entrevistado TPA1, de forma bastante objetiva, traz na sua percepção as questões ligadas ao fortalecimento da agricultura, através do fomento dos programas PAA e do PNAE que garantem um preço justo para a produção familiar, além de eliminar a figura indesejável do atravessador. Nesta visão, Assis (2006), aduz que na busca de autoregulação dos agroecossistemas visando à sustentabilidade, a agroecologia não só destaca a importância dos parâmetros agronômicos e ecológicos, mas também os parâmetros socioeconômicos, demonstrando assim, que a agricultura não se resume apenas aos processos ecológicos, estando intimamente interligada ao processo social, onde a tecnologia presta-se ao desenvolvimento rural que inclua os vieses econômicos e sociais. Sim, porque [...] quando a escola oferece ao aluno e até mesmo tem escola que chega a ter hortas, não é..., visando à educação alimentar, eu acho que ela tá contribuindo porque o aluno, a criança, o estudante, é..., nós precisamos mudar esse hábito. A gente vê hoje..., as crianças passaram de um quadro de desnutrição para obesidade. Muitas doenças precoces nas escolas e isso, a gente vê que é uma alimentação desequilibrada. E quando eles vão é..., saber da origem daquele produto, saber de como é produzido, talvez isso despertasse o maior consumo, a criança se interessasse mais 145 em comer uma hortaliça, uma fruta, que hoje a gente não vê muito isso. Eu acho que [...] essa alimentação saudável, equilibrada, permite também [...] a formação dele como cidadão bom, porque ele tá vendo que ali tá havendo preservação do meio ambiente, tá contribuindo também socialmente e sobre o ponto de vista também econômico, porque hoje [...] a gente tem que agregar valor aos produtos pra que o agricultor não fique sempre um agricultor pobrezinho..., coitadinho..., a gente sabe que a renda..., é o alimento orgânico agrega valor e ele tem uma renda melhor do que se ele produzir..., é..., no sistema convencional. (TPA3) Este entrevistado TPA3 demonstra um conhecimento mais aprofundado quanto à temática trazida à baila, considerando que a vislumbra num contexto geral, visando à educação alimentar, à segurança alimentar e nutricional, enxergando a complexidade que envolve o PNAE, como instrumento transformador do cidadão, que se preocupa com o meio ambiente, através das práticas adotadas pela agricultura orgânica, visando promover a sustentabilidade local, com reflexos no global. De acordo com Jara (1998), a agricultura sustentável, nas suas práticas, observa o uso dos recursos biofísicos e econômicos de acordo com a sua capacidade; dentro de espaços geográficos determinados, utilizando-se de tecnologias compatíveis com a agroecologia, visando à obtenção de bens e serviços para atender as necessidades das comunidades. Assevera ainda, que todo estilo de desenvolvimento que não adote práticas conservacionistas e preservacionistas do solo, que seja excludente e mantenha as concentrações marginalizastes precisa ser questionado. Nesse raciocínio, a aquisição institucional de alimentos via PNAE, para que possa ser sustentável, tem que observar tal posicionamento. Quanto aos que não percebem que o fornecimento de alimentos produzidos localmente para as escolas contribui para o desenvolvimento local sustentável, observa-se, pelos posicionamentos externados pelos atores participantes do processo, que dentro desta categoria de análise, não houve dentre eles quem não enxergasse o PNAE como indutor do desenvolvimento sustentável. Os que percebem parcialmente que o fornecimento de alimentos produzidos localmente para as escolas contribui para o desenvolvimento local sustentável: ... É uma questão de comercialização, é um dos gargalos da produção agrícola. Se você tem já uma garantia de que parte do que é produzido, você já tem pra quem entregar, já é uma forma de incentivar essa produção. Eu acho muito válido e muito importante que isso seja, é..., feito nas áreas de produção. (TPA3) 146 O sujeito TPA3 foi superficial na sua consideração, dissertou sobre a sua opinião, mas não conseguiu produzir um conteúdo suficiente sobre o fornecimento de alimentos produzidos localmente para as escolas e a sua contribuição para o desenvolvimento local sustentável, assim, pode-se interpretar como um conhecimento parcial do tema por este respondente, uma vez que se ateve apenas à questão da comercialização da produção agrícola. Em posição complementar ao que considera o entrevistado, Jara (1998) considera que para viabilizar o desenvolvimento sustentável, é mister trilhar tanto pela teoria como por métodos inexplorados, saindo do convencional, visando harmonizar os postulados econômicos e sociais com os princípios ambientais e leis naturais. Pois o futuro depende de uma visão holística de mundo, por consequência, de uma gestão do desenvolvimento, à luz de postulados interdependentes de equidade social, equilíbrio ambiental, bem-estar econômico e autodeterminação política. [...] Desconheço essa informação. Não tenho conhecimento não. O desenvolvimento local sustentável, no caso, é a..., as famílias dos agricultores né..., que..., que podem vender a sua produção..., no caso pro PNAE, pra se desenvolverem, ter tipo..., ter uma renda fixa, né? [...] Até o meu conhecimento sobre o PNAE, o valor que eles pagam, é um valor bom pelos produtos, eu acredito que sim, que ajudaria bastante. (TPA2) O entrevistado TPA2, apesar de suas atividades serem de suma importância para a viabilização não só do PNAE, como também para a agricultura orgânica local como um todo, inicia sua fala afirmando que desconhece a temática abordada no questionamento apresentado, porém, logo em seguida, aborda benefícios relacionados à comercialização e à renda dos agricultores familiares propiciados pelo PNAE, o que demonstra um conhecimento superficial do programa contextualizado. Demonstra então, certo desconhecimento, quanto ao conceito do desenvolvimento sustentável. Neste sentido, Jara (1998) aduz que o conceito de desenvolvimento sustentável tem dimensões ambientais, econômicas, sociais, políticas e culturais, o que demonstra uma atenção com o presente e o futuro das pessoas; com a produção e o consumo de bens e serviços; com as necessidades básicas de subsistência; com os recursos naturais, bem como, com o equilíbrio ecossistêmico; com as práticas decisórias e a distribuição do poder e com os valores pessoais e a cultura. 147 Como se percebe, o conceito é amplo e complexo e, necessariamente, diferenciado, quando aplicado às diversas formações sociais e realidades históricas. A maioria dos entrevistados consegue enxergar e fundamentar a relação entre o PENAE e o desenvolvimento local sustentável, o que demonstra a grande relevância dessa temática para o município, uma vez que estes são responsáveis pela gestão para o desenvolvimento sustentável, pois estão direta ou indiretamente inseridos no processo pesquisado, por isso entendendo que o PNAE contribui para o apoio ao arranjo produtivo local sustentável. Para que se concretize o desenvolvimento sustentável em nível municipal, com as diversas dimensões apontadas, são imprescindíveis, além da modernização da institucionalidade local, a mobilização e a organização da sociedade; a formação de recursos humanos; novos instrumentos que concorram para orientar e subsidiar as decisões sobre o desenvolvimento; mecanismos flexíveis de financiamento; uma estratégia participativa de administração pública e; o fortalecimento de sistemas de parceria e corresponsabilidade entre atores públicos e privados. Nessa perspectiva, o desenvolvimento municipal diz respeito ao processo de mudança social, promovido no conjunto das comunidades urbanas e rurais que conformam a sociedade local, dirigido à satisfação das necessidades humanas e elevação da qualidade de vida, mediante a criação de alternativas e oportunidades que possam compatibilizar o bem-estar econômico, a equidade social e política, maximizando a qualidade ecológica. (JARA, 1998) De modo geral, nas suas entrevistas, os sujeitos da pesquisa conseguem perceber a relação existente, entre desenvolvimento local sustentável e as diretrizes previstas no Programa Nacional de Alimentação Escolar, sendo que a maioria vislumbra este contexto, de forma superficial, o que pressupõe o desconhecimento dos temas, demonstrando incipiência quanto à temática ambiental, num Município que está em franco processo de desenvolvimento, o qual deveria observar sustentabilidade como um todo, não se focando apenas no desenvolvimento econômico convencional. 148 5. PRÁTICAS E PERCEPÇÕES DO PNAE Ao analisar as práticas e percepções acerca do PNAE quanto a sua operacionalização no Município de Glória do Goitá e se existe uma fomentação para o surgimento de um APL sustentável, foi possível constatar alguns aspectos importantes referentes aos objetos de estudo. Quando se buscou verificar o conhecimento acerca dos alimentos orgânicos, parte dos atores pesquisados os compreende como aqueles livres de toxinas químicas. Tal conceito não é suficiente, dada à complexidade que envolve este sistema de produção agroecológica. Vale à pena fazer os seguintes questionamentos: será que o que se entende por agricultura orgânica é mesmo o todo contextual? E sendo positivo, por que as práticas nos conteúdos não foram possíveis para confirmar as afirmações anteriores? Será que o conceito de sustentabilidade é entendido apenas no seu viés econômico? Ou não se tem o conhecimento sobre tais práticas? Alguma coisa não tem lógica. De acordo com Assis e Romeiro (2002), os sistemas de produção de base agroecológica têm em comum adoção de tecnologias que respeitem a natureza, visando manter o equilíbrio entre os organismos participantes no processo de produção, bem como do ecossistema. Como base na utilização destes princípios, surgiram diferentes correntes de produção, entre as quais a agricultura orgânica, que tem sido a mais difundida. A agroecologia e agricultura orgânica não são sinônimos, aquela é uma ciência que possui limites teóricos bem definidos, procurando inter-relacionar os saberes de diferentes áreas do conhecimento, visando criar um encaminhamento para uma agricultura, cujas práticas respeitem as condicionantes ambientais impostas pela natureza a esta atividade econômica, que observa o desenvolvimento social e econômico de forma sustentável. No segundo caso, de acordo com ibidem (2002), a agricultura orgânica, trata-se de uma prática agrícola, que envolve um processo social, que apresenta alguns vieses expressos com encaminhamento tecnológico e uma inserção no mercado, que dependendo de suas práticas, os limites teóricos da agroecologia são respeitados em maior ou menor grau. De acordo com Altieri (2008), a produção sustentável, em um agroecossistema, é consequência do equilíbrio entre plantas, solos, nutrientes, luz 149 solar, umidade e outros organismos coexistentes, de forma produtiva e saudável, observando a preservação e ampliação da biodiversidade dos mesmos. Verificou-se que entre os sujeitos estudados, não há compreensão sobre a relação entre a produção orgânica e a segurança alimentar e nutricional albergada pelo PNAE, nem tão pouco à questão do desenvolvimento sustentável, na sua plenitude, em que a atividade de produção orgânica tem influência sobre aspectos locais nos contextos ambientais, sociais e econômicos, como defendido por Ramos (2011), ao enfatizar que uma alimentação saudável depende de uma agricultura saudável. Nesse sentido, a Alimentação Escolar tem contribuído para a construção de cardápios saudáveis e sustentáveis, observando a saúde coletiva na refeição oferecida aos estudantes, bem como as estratégias de desenvolvimento rural sustentáveis, quando compra da Agricultura Familiar, de forma preferencialmente local e agroecológica. A visão fragmentada sobre a temática estudada, demonstrada por parte de alguns atores, onde a simples exclusão do uso do agrotóxico já representa, na visão dessas pessoas, que o aquilo que produzem é um produto orgânico. Nota-se que ainda não conseguem enxergar o liame entre a alimentação orgânica e a qualidade, conservação e origem da alimentação escolar, prevista na Política Nacional da Segurança e Alimentar e Nutricional. Observa-se uma carência, quanto ao conhecimento do desenvolvimento sustentável e do sistema orgânico de produção de alimentos. Neste contexto, Capra (2011), chama a atenção de que todos os sistemas vivos se desenvolvem e todo desenvolvimento envolve a aprendizagem. A nível de espécies, tanto o desenvolvimento, como a aprendizagem se manifestam no desdobramento inventivo vivo ao longo da nossa evolução. Tanto os indivíduos, como o meio se adaptam simultaneamente. Não sendo linear o desenvolvimento, a evolução, não dá para prevê de que maneira os processos iniciados irão se desenvolver. Ou seja, se os alunos, numa horta escolar, passarem a produzir e a provar a sua própria produção, isto implicará numa mudança de hábitos alimentares, que refletirá na criação de um novo mercado para os agricultores locais, com reflexos sustentáveis nas suas famílias. Apenas um terço dos entrevistados demonstra ter algum conhecimento sobre a origem ou o tipo de alimentação que é fornecida nas escolas municipais. Na 150 maioria, fazem referência à agricultura familiar local, não apresentando uma certeza quanto à região produtora destes alimentos, ou à forma como o mesmo é produzido. De acordo com Ramos (2011), o PNAE é uma política estruturante da segurança alimentar e nutricional, não se limitando a uma ação assistencialista de distribuição de alimentos, pois promove a consolidação da produção interna de alimentos diversificados, com identidade local/regional, através de um mercado institucionalizado para a agricultura familiar, dando-se preferência por aqueles alimentos orgânicos produzidos nas próprias localidades e regiões. Quando se traz à baila a percepção sobre o desenvolvimento sustentável, observa-se uma incipiência, quanto ao conhecimento sobre as questões ambientais dos entrevistados, principalmente os gestores das escolas municipais, demonstrando desconhecimento total ou parcial sobre a temática. Como gestores educacionais que lidam com planejamento pedagógico dos facilitadores da aprendizagem, esta realidade constatada demonstra-se destoante com o papel que exerce na comunidade. Quanto à transmissão do conhecimento, este processo fica comprometido, pois não se pode ensinar o que não se conhece, maculando assim o papel do educador. É possível perceber que o entendimento quanto ao PNAE está limitado à questão econômica e social. Quanto ao aspecto ambiental, nota-se não apresentarem compreensão do conceito da produção agroecológica ou orgânica. Para gerir a execução do PNAE e repassar as informações para as comunidades escolares é salutar que se apropriem destas informações, instrumentalizando-se assim, do desenvolvimento local sustentável. Quando foi necessário que os sujeitos revelassem como percebiam a relação entre o desenvolvimento local sustentável e o PNAE, as opiniões mostraram-se destoantes, visto que, não se conseguiu mostrar a relação direta entre os temas. Existe uma confusão por parte de alguns gestores escolares entre desenvolvimento sustentável e algo que é autossustentável, por isto, algumas respostas destoam do que realmente representa a sustentabilidade, demonstrando desconhecimento sobre a matéria, por boa parte desses gestores. Já outros, resumem o conceito de desenvolvimento sustentável ao viés econômico. Vale salientar, que foram destacadas as questões sociais e nutricionais do PNAE para o desenvolvimento intelectual das crianças, além da contribuição para a redução da evasão escolar. Observa-se ainda, que uma das percepções 151 apresentada, inclui a geração de renda e emprego para a população local, além de uma movimentação da economia local e a contribuição que traz para a qualidade de vida dos agricultores. Na análise do grupo dos Gestores Públicos é possível identificar que já é mais evidente o conhecimento sobre o PNAE, com relação à aquisição de alimentos vindos da agricultura familiar. No que se refere à qualidade e a conservação dos alimentos fornecidos nas escolas e os que reconhecem as dificuldades enfrentadas, referentes a esses pontos, já é bem sutil o entendimento diante da perspectiva da segurança alimentar. Quanto à qualidade da alimentação escolar, foi apontada a participação de uma nutricionista, conforme previsto no PNAE, bem como, a participação do SEBRAE, junto aos agricultores familiares, assim como os gestores das escolas municipais. No que se refere à conservação da alimentação escolar, há nas escolas municipais geladeiras e freezers. Mesmo assim, foram identificadas algumas dificuldades como a falta de ambiente adequado, para armazenamento dos alimentos nas escolas e com a distribuição dos alimentos escolares, o que tem interferido, até mesmo na escolha de alguns produtos produzidos pela agricultura familiar local, visando à conservação dos mesmos. É possível observar, que embora não haja um posicionamento claro sobre o conhecimento quanto à qualidade e a conservação dos alimentos fornecidos nas escolas públicas, houve referência à ANVISA e a CONAB e seus papéis institucionais. Mais adiante foi citado o SERTA como paradigma, ligado à produção orgânica no Município, o que induz a uma leitura de que o sistema orgânico de produção desses alimentos deve ser levado em conta, quando da aquisição dos mesmos via PNAE, com o intuito de atender aos preceitos da sustentabilidade do processo estudado. Outro aspecto a se observar, é que a comunidade necessita de ter mais acesso às informações ligadas ao PNAE, pois os atores sociais participantes do processo não têm um conhecimento seguro sobre a origem dos alimentos, fornecidos para a merenda escolar do município. O processo de aquisição da alimentação escolar está no caminho certo, precisando de alguns ajustes, que com a implantação de um arranjo produtivo local focado na produção agrícola sustentável será aprimorado. 152 Dentro da contextualização é possível diagnosticar que os gestores públicos demonstram um conhecimento mais aprofundado sobre a temática trazida à baila. Quanto aos gestores privados foram observadas as opiniões da sociedade organizada e a sua contribuição para o processo estudado, por possuírem também, uma função fiscalizadora do PNAE. Na análise deste grupo é possível identificar que apesar de não ser predominante, mas há gestores privados que conhecem, mesmo que de forma superficial, a origem dos alimentos fornecidos via PNAE e que já compreendem a importância desse programa alimentar para o desenvolvimento local sustentável. Foram apontadas algumas dificuldades no processo, quanto à qualidade e a conservação dos alimentos servidos nas escolas, em razão de vários fatores que interferem na conservação dos alimentos, ao mesmo tempo, aduz que houve um avanço quanto ao acondicionamento dos mesmos nas unidades escolares. Ficou evidente a importância do terceiro setor no processo que vai desencadear no surgimento de um APL, ao se reconhecer o trabalho dos próprios técnicos da APORG, que é uma instituição parceira do ICEI Brasil, que atua mais diretamente na comunidade, quando aduz que houve aquisição por parte da gestão passada do PNAE da produção proveniente da agricultura orgânica, o que é determinante como incentivo para os agricultores optarem por este sistema. Quando boa parte da alimentação é orgânica, ocorre melhoria da qualidade na merenda escolar. A maioria dos gestores privados demonstra conhecer a origem da alimentação fornecida nas escolas do município, de forma que os atores envolvidos percebem que as diretrizes traçadas pelo PNAE visam fomentar o desenvolvimento sustentável. Devem ser levados em conta os conceitos sobre a produção orgânica local, a relação da escola com a agricultura promovida pelo PNAE, bem como a importância desse programa de aquisição de alimentos para o desenvolvimento local sustentável, uma vez embasada no contexto e na vivência da própria localidade. Foi bem informada à logística e a infraestrutura necessárias para a viabilização do PNAE, quando foi mencionado o desaparelhamento da Secretaria de Agricultura (Desenvolvimento Econômico) local, para poder viabilizar o desenvolvimento sustentável, tanto do ponto de vista físico, como o nível do conhecimento. Numa análise ampla, quanto às explanações expostas pelos gestores privados envolvidos no processo, pode-se perceber uma melhor visão deste grupo, 153 visto que, além da diversidade quanto à representatividade dos que conhecem o tema, estes, em sua maioria, lidam de forma mais sensibilizada, com a questão da produção agroecológica, com um sentimento de pertencimento ao processo discutido, sem o ranço das questões político-partidárias, apontadas por vários atores, o que pode contribuir muito para o aprimoramento das ações já implantadas pelos gestores públicos locais, voltadas para o sucesso do PNAE no município estudado. De modo geral, foi possível perceber que quanto maior o envolvimento e sentimento de pertencimento do ator participante do processo, maior o conhecimento sobre o que representa o processo de inserção dos alimentos provenientes da agricultura orgânica na alimentação escolar, repercutindo no desenvolvimento sustentável, onde os gestores privados, no nível estratégico, conseguem discernir melhor o que representa esse paradigma de desenvolvimento, bem como quais os seus reflexos benéficos na comunidade local. Foi abordada a questão da intoxicação ambiental do homem que lida com agrotóxicos e dos consumidores deste tipo de alimentos convencionais, além da questão econômica, social, associativista, cultural e político-partidária que interferem na filosofia das políticas públicas desenvolvimentistas. A questão do consumo dos alimentos orgânicos, diretamente, por quem produz, bem como, pelas famílias dos agricultores orgânicos, reflete uma melhoria na qualidade da alimentação das comunidades rurais, dentro da perspectiva da segurança alimentar e nutricional convertida em mais saúde para os agentes sociais participantes do processo. Os aspectos sociais que envolvem as famílias dos produtores e dos estudantes consumidores refletem um feedback social de forma positiva. O PNAE foi avaliado numa perspectiva que traz algumas transformações nas relações, sendo visto como um dos melhores programas na atualidade, o qual fortalece a agricultura familiar e promove o desenvolvimento local sustentável. Foram feitas referências às questões econômicas, culturais e sociais promovidas pelos recursos que circulam dentro do município, advindos do PNAE. Pela fala de um entrevistado conclui-se que o município locus, apesar de bem situado geograficamente, antes de tudo, precisa implantar medidas que incluam os atores sociais envolvidos neste processo, através de uma sensibilização que envolva os 154 fatores econômicos, sociais e ambientais, numa dialética que leve ao equilíbrio na exploração dos recursos naturais. Apesar das atividades de alguns técnicos estarem inseridas na área da pesquisa e a sua instituição ter um papel importantíssimo no fomento, tanto da agricultura familiar, como da agricultura orgânica, os mesmos não conheciam a produção orgânica do município estudado. Já outros técnicos apontam a participação de uma equipe multidisciplinar que faz o controle da alimentação escolar quando da sua recepção, o que demonstra outro avanço no sentido dos critérios da qualidade e conservação da alimentação escolar, visando atender as determinações da Política Nacional da Segurança Alimentar e Nutricional. Ex expositis, revela-se que a percepção quanto ao aspecto ambiental do desenvolvimento sustentável, na visão dos sujeitos envolvidos na pesquisa é incipiente, o que demonstra uma lacuna a ser trabalhada, com o desiderato de se transformar esta realidade, sendo um dos aspectos a serem lapidados através do surgimento de um APL que venha viabilizar a gestão do desenvolvimento sustentável nos municípios. Quando se analisam as práticas de aquisição dos alimentos para atender as diretrizes previstas no próprio PNAE, percebe-se a falta de prioridade no que se refere à produção ecologicamente correta, que venha a garantir a segurança alimentar e nutricional do alunado matriculado na rede de ensino do município, evitando-se a contaminação pela ingestão de alimentos provenientes da agricultura familiar, sem a devida fiscalização dos resíduos tóxicos contaminantes da saúde humana e ambiental. Percebe-se a necessidade urgente da ampliação da produção de alimentos orgânicos, por vários fatores ligados aos aspectos ambientais, econômicos e sociais que concretizam o desenvolvimento sustentável. Há apenas uma aquisição da produção local familiar que está carente de uma extensão rural focada na conscientização ambiental, que não seja trabalhada apenas com ações pontuais de educação ambiental. O fornecimento da alimentação escolar tem que dar espaço para a participação da sociedade civil, de forma organizada, visando à promoção dos seres humanos, agricultores orgânicos e os estudantes do município e da sociedade como agentes e beneficiários do desse processo de desenvolvimento. Assim, depreende-se que as aquisições via PNAE condizem com as percepções dos sujeitos que a envolvem, visto que, se mostra incipiente quanto ao 155 aspecto ambiental, requisito essencial a ser observado no desenvolvimento local sustentável. É um ciclo onde um é causa do outro, as aquisições agroecológicas não acontecem, pois uma grande parte dos atores sociais participantes do processo não percebe o viés ambiental da sustentabilidade prevista nas políticas públicas envolvidas e o desenvolvimento sustentável instrumentalizado pelo PNAE não ocorre devido a não aquisição dos alimentos orgânicos produzidos no município, o que impede uma ampliação do potencial deste polo orgânico local, sendo necessária uma intervenção através de um APL para que se viabilize o desenvolvimento sustentável, alicerçado numa agricultura familiar ecologicamente correta, transformando a realidade local. As percepções trazem um diagnóstico numa visão holística e aponta como salutar a criação de APL com os atores que participam do processo do fornecimento da alimentação escolar visando à promoção do desenvolvimento endógeno-sustentável. Figura 04: Relação entre as práticas e percepções do PNAE / Glória do Goitá - PE Fonte: o autor, 2014 156 6. PROPOSTA DA CRIAÇÃO DE UM APL SUSTENTÁVEL DA AGRICULTURA FAMILIAR EM GLÓRIA DO GOITÁ - PE De acordo com o MDA (Brasil, 2014e), com o novo mercado que se abre para a agricultura familiar, através das aquisições institucionalizadas destinadas a alimentação escolar, é preciso se organizar para aproveitar as oportunidades de comercialização de forma segura e rentável, uma vez que as políticas públicas para o setor dão prioridade para o associativismo e o cooperativismo, com o fim de viabilizar o escoamento da produção. Demonstra-se assim, que a produção proveniente da agricultura familiar é diversificada e possui boa qualidade. Prossegue o MDA (Brasil, 2014e), reconhecendo a importância da articulação dos atores envolvidos em cada esfera administrativa. O encontro da alimentação escolar com a agricultura familiar tem promovido uma verdadeira transformação, nas escolas de nosso país, quando oferta uma alimentação saudável, regional aos estudantes. Para que o PNAE viabilize o desenvolvimento local sustentável em Glória do Goitá – PE, faz-se necessário a criação de um APL, onde a questão ambiental seja observada, numa visão moderna de se administrar, de forma sistêmica, levando-se em conta as comunidades onde está inserida a rede das instituições envolvidas no processo, utilizando-se dos recursos naturais de forma racional, minimizando os impactos ambientais provocados pelas atividades econômicas, adotando-se tecnologias sustentáveis no sistema de produção. O arranjo produtivo local, atuando de forma concatenada em rede, com a participação das instituições públicas e privadas, pode aprimorar os programas e projetos previstos nas políticas públicas, com linhas de crédito rural específicas, estimulará a agroecologia e a logística necessária ao empreendedorismo por parte dos pequenos produtores rurais. Neste contexto, é importante que a gestão municipal ofereça uma infraestrutura e serviços condizentes com as necessidades apontadas. A assistência técnica, a extensão rural, a pesquisa agropecuária, a capacitação, a profissionalização e a inserção no mercado dos produtos orgânicos, dependem de ações conjuntas das instituições envolvidas no processo de produção destes alimentos. De acordo com Lastres, Cassiolato e Campos (2006), o termo arranjo produtivo local atingiu certa popularidade entre os pesquisadores que visam 157 compreender o processo de desenvolvimento, dentro de um modelo capitalista, com a participação de diferentes agências públicas e privadas de políticas. Na proporção que se observa o crescimento do processo de globalização, aumentando as diferenças entre regiões do planeta, surge também uma revalorização da dimensão espacial com ênfase no desenvolvimento local. No processo de produção de alimentos orgânicos, o PNAE vai servir como um estímulo a essa nova forma de produzir. De forma indireta, o Estado exerce o seu papel no desenvolvimento local, com o incremento de novas tecnologias e de novos conhecimentos multidisciplinares que venham a calhar com a preservação dos recursos naturais e a minimização dos impactos ambientais gerados pela agricultura convencional. A agricultura familiar passará de um modelo de produção ultrapassado para um novo paradigma de desenvolvimento, acarretando transformações de diversas ordens, que se transformará em qualidade de vida. Necessita-se de uma profunda participação dos diversos atores sociais, envolvidos no processo, de forma articulada, para que haja uma ampliação do número de agricultores familiares que passarão a adotar as novas tecnologias presentes na agroecologia, de forma empreendedora e inovadora, modificando toda a cadeia produtiva dessa heterogenia agricultura. Através da assistência técnica e da extensão rural será inoculado os conhecimentos científicos e tecnológicos visando melhora a produção sustentável de alimentos de forma inovadora, levandose sempre em conta os fatores locais e suas características próprias. Neste sentido, Lastres, Cassiolato e Campos (2006), ressaltam a importância da especificidade local para o progresso do conhecimento, dos processos de aprendizagem e da capacitação, devendo-se ter cautela com o uso de tipologias e modelos utilizados em outros contextos. Aduz ainda que a capacidade inovadora de uma determinada região é decorrente do envolvimento e das relações entre os diversos atores econômicos, políticos e sociais, refletindo a sua identidade cultural e institucional. Os autores destacam a sua natureza sistêmica, a importância da análise das dimensões econômicas, levando-se em consideração as características nas searas produtivas, financeiras, sociais, institucionais e políticas. Deve-se, portanto, levar em conta as especificidades dos diferentes contextos e atores locais, principalmente em regiões subdesenvolvidas, quando da sua análise. Os Sistemas 158 Produtivos e Inovativos Locais (Aspils) dizem respeito a um conjunto de atores econômicos, políticos e sociais em um território, focado em um conjunto de atividades econômicas específicas, onde há interação, cooperação e aprendizagem, essenciais para a geração e mobilização de capacitações produtivas e inovativas. Já os APLs correspondem àqueles casos fragmentados, sem a devida articulação entre os atores, o que os diferencia dos sistemas. No caso estudado, existe um programa alimentar que pode ser utilizado como um indutor do desenvolvimento local sustentável, desde que seja bem executado. No locus pesquisado existem atores que fazem às vezes das pequenas e microempresas no contexto de um APL, seriam os agricultores familiares orgânicos e suas associações. Estes agricultores familiares encontram-se vinculados a mais de trinta associações de produtores rurais, onde através da competitividade e do dinamismo apresentado entre elas, absorveriam as novas técnicas, os conhecimentos e as capacitações oferecidas por atores estatais ou do terceiro setor, estimulando-se assim, o empreendedorismo rural. Nesse processo, é possível observar que os atores econômicos e as cadeias e complexos produtivos, somados as peculiaridades dos demais atores sociais e políticos das três esferas administrativas, dentro do ambiente onde estão inseridos favorecem o surgimento de APL que venha a consolidar o desenvolvimento local sustentável. Tem-se na localidade um conjunto de diversos atores e atividades conexas entre a produção orgânica e a aquisição desta via PNAE, que promoverá um sistema produtivo local de forma inovativa, com o apoio e participação do terceiro setor, das universidades estatais e privadas promovendo a capacitação e as novas pesquisas na área, com a presença do estado financiando todo o processo. De acordo com o Centro SEBRAE de Sustentabilidade, SEBRAE/Mato Grosso e SEBRAE/Mato Grosso do Sul (2014), ao contratar produtos ou serviços que observam a proteção do meio ambiente e o desenvolvimento sustentável local, o município cria benefícios, que vão além da relação comercial, assegurando também a qualidade de vida das gerações futuras. O empreendedor cria impactos positivos para toda a sociedade, quando mesmo almejando a lucratividade, procura resolver problemas ambientais ou aproveitar os recursos da biodiversidade. O SEBRAE poderá exercer o seu pape,l quanto ao empreendedorismo no espaço geográfico local, assim como fez em Brasília, coordenando um APL que 159 envolve a agricultura orgânica, criando capacitações produtivas e inovativas, somando-se a criatividade proveniente da cultura local. Neste sentido, poderá se valer das políticas públicas entrelaçadas nesta seara estudada, para que possa promover junto ao poder público local o aprendizado, a inovação e a criação de competências, onde a vertente ambiental seja o norte de todo desenvolvimento a ser implantado. Neste novo modelo de produção agrícola, voltado para a agricultura familiar, toda a economia local pode sofrer influências positivas, que só vem a somar, facilitando a infra-estrutura necessária para a viabilização do processo. Em rede, surgirão outras atividades ligadas direta ou indiretamente, não tendo como base o individualismo, mais sim uma visão coletiva de produzir, compreende o clusters, que por consequência alcançará outros municípios, ou região, incluindo as diversidades sociopolíticas, de forma complementar às econômicas, onde a inovação e a produção encontram-se interligados no mesmo contexto. Segundo Celso Furtado (1998) apud Lastre et al (2006) a adoção de políticas uniformes não considera as diferenças decorrentes de vários fatores, além dos econômicos, que estão presentes nas matrizes sociopolíticas e nas particularidades históricas. Nesta linha, devem ser escolhidos os principais atores participantes dos clusters, bem como investigar e aprofundar todas as informações que venham a contribuir para o sucesso do novo paradigma de desenvolvimento a ser implantado na localidade, absorvendo as políticas públicas disponíveis nesta seara. Deve-se sempre observar as vocações naturais decorrentes dos seus espectros históricos e culturais, que influenciarão na absorção das inovações que irão refletir na produtividade agrícola do sistema agroecológico a ser adotado, que seria a agricultura orgânica. Como exemplo de APL envolvendo a agricultura orgânica, tem-se a experiência do Distrito Federal, que segundo SEBRAE/DF (2007), as primeiras atividades no sistema Orgânico ocorreram na década de oitenta, com poucos produtores e uma produção incipiente. No final da década de noventa a atividade cresceu dentro das tendências nacionais. Em 2000, várias instituições locais, atuando junto com o SEBRAE/DF, passaram a desenvolver novas práticas, de forma mais incisivas, com foco na Agricultura Orgânica, que à época existiam cerca de 30 produtores que praticavam este sistema agroecológico na produção de hortaliças. 160 De acordo com SEBRAE/DF (2007), em 2005, foi diagnosticada a expansão constante da atividade e das demandas, inclusive a necessidade de organização A.O., o que fez surgir uma proposta de trabalho alicerçada na formação de um APL para abrigar os grupos dessa produção local, que foi aceita pelos agricultores que absorveram a metodologia e passaram a construir o APL da produção orgânica do Distrito Federal. Diante deste caso, observam-se as similitudes com a produção orgânica de Glória do Goitá – PE, onde o surgimento de um APL serve como instrumental na promoção do DLS envolvendo a agricultura familiar, com a participação dos demais atores sociais, dentro deste novo modelo de desenvolvimento, com a interação das diversas instituições públicas e privadas presentes no território, de forma intensa, visando uma sincronização das práticas, entre atores participantes do processo. De acordo com Faver (2004), ao analisar o APL da produção da agricultura orgânica do Município de Petrópolis, no Estado do Rio de Janeiro, é muito comum para os técnicos e profissionais que trabalham com o setor primário apresentarem algumas preocupações quanto aos processos produtivos, e conseguinte, com o mercado. Ressalta que além dos fatores operacionais dos processos produtivos, os agricultores devem buscar dados, informações e parcerias que façam a sua atividade ser mais eficiente. Lembra ainda, que os aspectos mercadológicos e outros parâmetros dos APLs, contribuem para o sucesso das atividades do setor agrícola, principalmente para a agricultura orgânica, promovendo o DLS. Faver (2004) lembra que em relação à sustentabilidade social, tanto a agricultura orgânica como os arranjos produtivos locais buscam o processo de desenvolvimento endógeno, que implica uma valorização dos atores sociais locais, aproximando produtores e consumidores, fortalecendo a economia local com uma boa distribuição das rendas. A sustentabilidade econômica é alcançada através das negociações locais e por diversas ações coletivas fomentadas pelo poder público, com a criação de uma infra-estrutura, bem como, através das regulamentações, nas aquisições institucionais. Lembra o pesquisador que pode se aproximar os estabelecimentos financeiros, a pesquisa, a assistência técnica, entre outros, viabilizando o desenvolvimento de conhecimentos e até inovações com reflexos no mercado. 161 Além desses aspectos apresentados por Faver, o surgimento de um APL sustentável dentro deste contexto em Glória do Goitá - PE promoverá a sustentabilidade cultural, pois será observada vocação da agricultura local, em conjunto com a sustentabilidade ecológica, devido às práticas da agricultura orgânica, que minimiza os impactos ambientais e os hábitos alimentares regionais. Com o aumento na produtividade, ocorrerão reflexos na fixação dos agricultores no campo, com qualidade de vida para toda a comunidade. 162 7. CONCLUSÃO As aquisições institucionais de alimentos destinados à merenda escolar da rede municipal de ensino, executadas pela Secretaria de Educação do Município de Glória do Goitá – PE contemplam os aspectos econômicos e sociais do desenvolvimento. Limitando-se, apenas, à aquisição de alimentos provenientes da agricultura familiar local, não se atinge os objetivos traçados no PNAE, que visa à segurança alimentar e nutricional dos estudantes e a promoção do desenvolvimento local sustentável, pois não há nenhum indicativo de aquisição de alimentos orgânicos por parte do Município para atender as diretrizes ambientais contidas no referido programa alimentar. Quando o foco volta-se para as percepções quanto à origem, qualidade e conservação dos alimentos é possível inferir que os sujeitos da pesquisa avaliados apresentam superficialidade na compreensão e percepção quanto à segurança alimentar e nutricional, à alimentação orgânica e a sua importância no contexto do PNAE. Muitos sujeitos demonstram o desconhecimento dos aspectos ambientais gerais, principalmente no que concerne ao desenvolvimento sustentável. Ainda, foi possível diagnosticar que mesmo quando as percepções revelam-se favoráveis aos temas abordados, estas são construídas numa perspectiva muito superficial, sem qualquer aprofundamento. Foi possível verificar que as aquisições dos alimentos são compatíveis com as percepções dos gestores públicos locais, onde as práticas restringem-se aos aspectos sociais e econômicos do desenvolvimento, não sendo observado o aspecto ambiental, nem mesmo quanto às práticas pedagógicas, uma vez que o processo apresenta um contexto totalmente desconectado quanto aos atores sociais participantes do processo. Os sujeitos da pesquisa reconhecem a relevância da aquisição produção proveniente da agricultura familiar, quanto aos aspectos econômicos e sociais, para a promoção do desenvolvimento local sustentável, o que se confirma sob a ótica das percepções. Quanto à agricultura orgânica e das aquisições da produção agrícola local para o desenvolvimento sustentável, admitem a sua importância, mas não 163 agem de acordo com suas percepções, principalmente os gestores púbicos locais e os gestores das escolas municipais. A agricultura orgânica familiar ainda não assumiu, em Glória do Goitá – PE, o seu papel frente à perspectiva do desenvolvimento local sustentável, o que implica na necessidade de maior investimento na capacitação e na formação dos gestores públicos locais, bem como dos gestores das escolas públicas municipais, visto que é verídica a relação de que só existirá desenvolvimento sustentável previsto nas aquisições institucionais do PNAE, se for observada a aquisições de alimentos produzidos preferencialmente pelos sistemas agrecológicos. É vital que se incentive as práticas agrícolas ecologicamente corretas. No caso, a agricultura orgânica seria a opção mais indicada, uma vez que a mesma já está dentro contexto local, promovendo a valorização humana através da participação política junto aos demais atores da sociedade, atendendo aos anseios das organizações sociais, bem como dos consumidores, com a transparência e a parceria necessárias a realização do processo de forma responsável, uma vez que não serão oferecidos para as crianças em formação, alimentos contaminados, provenientes da agricultura convencional. Como alternativa de planejamento, para as aquisições dos alimentos orgânicos produzidos pela agricultura familiar do município com vistas à sustentabilidade, sugere-se a criação de um APL, como instrumento que promove a articulação dos agentes que já estão presentes no lócus da pesquisa, bem como, de outros que poderão ser incluídos no processo, estimulando o ecoempreendedorismo, como já acontece em outras localidades do nosso país. Dentro deste raciocínio, em Glória do Goitá existem instituições, como a APORG - Associação dos Profissionais Orgânicos, ou a ONG SERTA - Serviço de Tecnologia Alternativa, dedicadas às práticas ora estudadas, dentre outros atores na seara pública e no setor privado, que impulsionados pelo PNAE, propiciarão o surgimento de um arranjo produtivo local, promovendo, assim o desenvolvimento local sustentável da agricultura familiar, com reflexos positivos para toda a comunidade local. Pode-se inferir que a criação de um APL voltado para a produção e a aquisição dos alimentos orgânicos por parte do município, para atender as demandas previstas no PNAE, funciona como instrumento indutor do 164 desenvolvimento local sustentável, ideal previsto nas políticas públicas citadas neste trabalho, a ser alcançado também no Município estudado. 165 REFERÊNCIAS ALIGLERI, Lilian; ALIGLERI, Luiz Antônio e KRUGLIANSKAS, Isak: Gestão Socioambiental: Responsabilidade e Sustentabilidade do Negócio. 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