Dia Internacional contra a Violência sobre Trabalhadores do Sexo Comunicado De Imprensa A Rede sobre Trabalho Sexual representa em Portugal a maioria de organizações nacionais que intervêm directamente com trabalhadores do sexo e constituiu-se, pelas seguintes entidades e pessoas individuais: Acompanha, APDES, Associação Existências, Associação Novo Olhar, APF, GAT, Obra Social das Irmãs Oblatas do Santíssimo Redentor, Liga Portuguesa Contra a Sida, Médicos do Mundo, Programa Autoestima, Positivo e Umar, Alexandra Oliveira, Filipa Alvim e Jó Bernardo. O Dia Internacional Contra a Violência sobre os Trabalhadores do Sexo comemora-se, em todo o mundo, há 8 anos, no dia 17 de Dezembro. Foi neste dia, em 2003, que Gary Leon Ridgway foi considerado culpado do homicídio de 48 mulheres nos Estados Unidos da América, sendo a maioria delas trabalhadoras do sexo. Posteriormente, foi condenado a prisão perpétua. Ridgway declarou que escolheu deliberadamente as trabalhadoras do sexo como vítimas porque “provavelmente, ninguém iria fazer queixa à polícia. Escolhi prostitutas porque pensava que podia matar quantas quisesse sem ser apanhado.” Assim, este passou a ser o dia em que as associações de trabalhadores do sexo, bem como as organizações que intervêm nesta área, lembram a violência de que são alvo os trabalhadores de sexo. A violência contra os trabalhadores do sexo assume diversas formas, atinge todos os sectores da indústria do sexo e é praticada por clientes, pessoas que se fazem passar por clientes, parceiros, comunidade em geral, autoridades policiais ou pelo Estado. A vitimização dos trabalhadores do sexo é um fenómeno global perpetrado, legitimado e aceite por muitos. A ausência de legislação, bem como as leis que regulam ou proíbem esta actividade têm, em alguns casos, aumentado o risco de violência contra os trabalhadores do sexo, em vez de os proteger. No caso português, tal como em outros países, a vitimação sobre os trabalhadores do sexo atinge níveis bastante elevados encontrando o seu máximo entre as pessoas que se prostituem na rua. Alguns 1 2 estudos indicam que, destas, entre 80% e 90% afirma já ter sido vítima de alguma forma de agressão, 1 Oliveira, A. (2004). Prostituição, exclusão e violência. Estudo empírico da vitimação sobre prostitutas de rua. Actas do II Congresso Internacional de Investigação e Desenvolvimento Sócio-cultural (ISBN 972-99404-0-1) – 28 a 30 de Outubro Centro Cultural de Paredes de Coura. 1 sendo a violência verbal a mais referida, seguida das agressões físicas (traduzidas em acções como ser batida, esmurrada, pontapeada ou atirada ao chão). Em outros contextos, como apartamentos, casas de massagens ou bares, é também frequente ouvir relatos de histórias de agressão praticadas quer por 3 clientes, quer por homens que se fazem passar por clientes e principalmente pela comunidade em geral. Contudo, a violência não é inerente ao trabalho sexual, acontece mas não encerra a sua definição. A imagem vitimizante que muitas vezes vemos associada à globalidade das pessoas que exercem trabalho sexual é parcial, simplista, não dignifica a pessoa, nem tampouco assume a capacidade de escolha das mulheres, homens ou transsexuais que se dedicam a esta actividade. Esta leitura redutora, não ilustra a esmagadora maioria dos casos e apenas mantém na sombra da marginalidade e reforça o estigma e os episódios de discriminação de que são alvo estas pessoas. 4 A Rede sobre Trabalho Sexual associa-se às comemorações do Dia Internacional contra a Violência sobre os Trabalhadores do Sexo para homenagear os trabalhadores do sexo e chamar a atenção para todas as agressões a que estão sujeitos, por considerarmos que, apesar de remetidos para as margens da sociedade e socialmente invisibilizados, merecem o mesmo respeito, os mesmos direitos e a mesma igualdade que qualquer outra pessoa. Já é tempo dos trabalhadores do sexo serem considerados membros da nossa sociedade e, como tal, usufruir de todos os Direitos Humanos consagrados, entre os quais, a protecção e a cidadania. 2 Teixeira, J. A. (2010). Ideação suicida em prostitutas de rua. (Tese de Mestrado). Porto: Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar. 3 De acordo com um estudo realizado no âmbito de um projecto europeu – Indoors: support and empowerment of female sex workers and trafficked women working in hidden places – promovido em Portugal pela APDES, 19% das trabalhadoras do sexo de interior da cidade do Porto entrevistadas declararam já ter sido vítimas de alguma forma de violência. 4 A Rede sobre Trabalho Sexual representa em Portugal a maioria de organizações nacionais que intervêm directamente com trabalhadores do sexo e constituiu-se, pelas seguintes entidades e pessoas individuais: Acompanha, APDES, Associação Existências, Associação Novo Olhar, APF, GAT, Obra Social das Irmãs Oblatas do Santíssimo Redentor, Liga Portuguesa Contra a Sida, Médicos do Mundo, Programa Autoestima, Positivo e Umar, Alexandra Oliveira, Filipa Alvim e Jó Bernardo. 2