ISBN 978-85-8015-053-7 Cadernos PDE VOLUME I I Versão Online 2009 O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE Produção Didático-Pedagógica LENI ROSANE SCHWENGBER SAGGIN TENDÊNCIAS EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES DAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL: uma experiência com o uso da modelagem matemática. CAPANEMA 2010 LENI ROSANE SCHWENGBER SAGGIN TENDÊNCIAS EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES DAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL: uma experiência com o uso da modelagem matemática. Produção didática apresentado ao Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE. Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE – Campus Cascavel - PR, orientado pela Profa Dra Dulcyene Maria Ribeiro. CAPANEMA 2010 SUMÁRIO 1. APRESENTAÇÃO .................................................................................................. 5 2. OBJETIVOS ............................................................................................................ 6 2.1. Objetivo Geral ................................................................................................... 6 2.2. Objetivos Específicos........................................................................................ 6 3. METODOLOGIA ..................................................................................................... 7 4.PESQUISA NOS CADERNOS DE ESTÁGIO PARA DIAGNOSTICAR METODOLOGIAS USADAS PELOS PROFESSORES DAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL DO MUNICÍPIO DE CAPANEMA. ................................... 9 5.ENSINAR E APRENDER MATEMÁTICA ................................................................ 9 5.1.História............................................................................................................... 9 5.2. Atividades ....................................................................................................... 12 6.TENDÊNCIAS EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA ................................................... 13 6.1. INTRODUÇÃO ................................................................................................ 13 6.2.RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS ..................................................................... 15 6.2.1.Raciocínio e aplicabilidade ........................................................................ 15 6.2.2. Exemplos ................................................................................................. 16 6.2.3. Atividades ................................................................................................. 17 6.3 ETNOMATEMÁTICA ....................................................................................... 20 6.3.1. História e conceito .................................................................................... 20 6.3.2. Exemplo ................................................................................................... 30 6.3.3. Atividades ................................................................................................. 31 6.4 MÍDIAS TECNOLÓGICAS ............................................................................... 32 6.4.1 O que é e como devem ser utilizadas as Mídias na educação ................. 32 6.4.2. Exemplos ................................................................................................. 35 6.4.3.Atividade ................................................................................................... 36 6.5.HISTÓRIA DA MATEMÁTICA ......................................................................... 37 6.5.1. Importância da História para o ensino e a aprendizagem ........................ 37 6.5.2.Exemplos da utilização da História na sala de aula .................................. 39 6.5.3. Atividades ................................................................................................. 42 6.6. INVESTIGAÇÕES MATEMÁTICAS ................................................................ 43 6.6.1. O que é Investigar em Matemática........................................................... 43 6.6.3. Atividades ................................................................................................. 46 6.7. MODELAGEM MATEMÁTICA ....................................................................... 48 6.7.1. História e conceito .................................................................................... 48 6.7.2.Modelagem Matemática como estratégia de ensino na formação de professores ........................................................................................................ 49 6.7.3.Exemplos de atividades envolvendo modelagens matemáticas realizados por pesquisadores em educação. ...................................................................... 52 7. EXPERIÊNCIA COM O USO DA MODELAGEM MATEMÁTICA A SER REALIZADA NA INTERVENÇÃO ............................................................................ 55 7.1.MODELAGEM COM PIPAS............................................................................. 55 7.1.1.Pesquisa e escolha do modelo ................................................................. 56 7.1.2.Momento lúdico, apresentação dos resultados em plenária e relatório ..... 56 7.1.3.Considerações .......................................................................................... 56 7.2.MODELAGEM COM DADOS COLETADOS NA MADEIREIRA ...................... 57 7.2.1.Visita à madeireira para coleta de informações ........................................ 57 7.2.2.Pesquisa e escolha do modelo ................................................................. 58 7.2.3.Considerações .......................................................................................... 58 8. AVALIAÇÃO DE AMBAS AS ATIVIDADES DE MODELAGEM MATEMÁTICA . 59 9.CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 59 10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... 61 1. APRESENTAÇÃO Quem de nós que possui filhos não se preocupa se a escola que eles frequentam está proporcionando o conhecimento adequado para sua formação? Quem de nós, como educadores, não está sempre em busca de conhecimentos que facilitem a aprendizagem e dessa forma torne a escola mais atrativa? Conseguimos imaginar uma pessoa nos dias de hoje alcançar sucesso sem passar pela instituição escolar? Sim, essas são preocupações de pais, educadores, órgãos governamentais e outros, mas também estamos cientes da crise na educação profissional e da escola em si, o que não é novidade na sociedade capitalista. Todo ano falamos em grade curricular, conteúdos prioritários, e entramos na discussão de sempre que é a de que precisamos de mudanças. Mas, saber o que realmente é importante para nosso aluno é difícil, e estabelecer o modelo de escola que a sociedade requer é mais difícil ainda. Para aliviar todas essas preocupações, pensamos em nosso dia-a-dia, mais especificamente na Matemática utilizada e percebemos que entre outros cálculos, fazemos comparações de grandezas, estimativas e probabilidades. Até quando vamos atravessar uma rua movimentada e o semáforo já está aberto para o pedestre, fazemos um cálculo mental para verificar se haverá ou não tempo suficiente para atravessarmos antes da abertura do sinal para os automóveis. Também nas brincadeiras, jogos, história de vida e outros, a Matemática está envolvida. Logo ela é uma ciência que provém da construção humana, é parte integrante de nossas raízes culturais, pois seus conceitos surgiram da necessidade do homem compreender e resolver situações-problema. Então, essa produção didática, intitulada Caderno Pedagógico, conceitua e estuda propostas de atividades que utilizam as Tendências em Educação Matemática, considerando-as como fundamento teórico-metodológico para direcionar a prática docente do futuro professor e dessa forma permitir que o aluno interprete situações do mundo real intervindo em sua formação, por meio do raciocínio lógico e da formulação de hipóteses, relacionando a teoria e a prática na solução de problemas cotidianos. 5 O material elaborado atende à ementa de Metodologia do Ensino de Matemática, disciplina da Terceira Série do Curso de Formação de Docentes que contempla as Tendências em Educação Matemática. Nas aulas dessa disciplina é que se fará a intervenção. Esse material destina-se a professores de Matemática e Pedagogos das escolas como suporte teórico-metodológico. Logo, contemplamos nesse Caderno Pedagógico, conceitos, exemplos e atividades de Tendências em Educação Matemática: Resolução de Problemas, Etnomatemática, Modelagem Matemática, Alfabetização Tecnológica, História da Matemática e Investigação Matemática e optamos em vivenciar na prática a Modelagem Matemática. 2. OBJETIVOS 2.1. Objetivo Geral Proporcionar a integração entre teoria e prática dos conteúdos curriculares, a serem ensinados na disciplina de Metodologia do Ensino de Matemática, conceituando, exemplificando, diferenciando e utilizando as Tendências em Educação Matemática, com ênfase em Modelagem Matemática. 2.2. Objetivos Específicos Pesquisar qual a metodologia usada na disciplina de Matemática para a apresentação dos conteúdos e resolução de atividades que fazem parte do currículo pelos professores de primeiro ao quinto ano do Ensino Fundamental, da cidade de Capanema (zona urbana); Conceituar e utilizar propostas de atividades que fazem uso das Tendências em Educação Matemática, na disciplina de Metodologia do Ensino de Matemática; Fornecer subsídios para que os educandos do Curso de Formação de Docentes preparem planos de aula tendo como base o currículo das escolas 6 de 1º ao 5º ano, usando as Tendências em Educação Matemática como estratégia para aplicarem em sua prática docente; Vivenciar atividades práticas com o uso de Modelagem Matemática como a construção de pipas e visita a uma madeireira; Promover um encontro com professores da disciplina de Matemática e Pedagogos do Colégio Rocha Pombo para divulgar a produção didáticopedagógica. 3. METODOLOGIA A produção didático-pedagógica será utilizada em situações próprias do processo de ensino e aprendizagem da Matemática para futuros professores das séries iniciais do Ensino Fundamental, atualmente, alunos da Terceira Série do Curso de Formação de Docentes. A implementação dar-se-á em uma turma de aproximadamente 30 alunos, no período matutino na disciplina de Metodologia do Ensino de Matemática, que tem em sua grade curricular apenas duas aulas semanais de aproximadamente 90 minutos, nas quais se fará a execução do projeto, respeitando as Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná, o Projeto Político Pedagógico da Escola, o Currículo Municipal de Primeiro ao Quinto Ano e o planejamento feito com colegas professores da disciplina. O colégio oferece Laboratório de Informática com 20 monitores conectados à Internet no sistema Paraná Digital. Também há um datashow e em cada sala de aula aparelho de TV que permite o uso de vídeo ou pen drive, além da biblioteca. Em um segundo momento pretende-se estender os conhecimentos científicos adquiridos, viabilizando um encontro de estudos com os professores das áreas de Matemática e Pedagogia do Colégio Rocha Pombo, para a apresentação e ou divulgação do Caderno Pedagógico. Será reproduzido para os alunos o caderno pedagógico, que conterá os textos, atividades e indicações de sites de pesquisa referente às Tendências em Educação Matemática. Os textos e as atividades propostas serão lidos e executados 7 individualmente ou em grupos, na sala de aula, havendo sempre ao término do estudo de cada Tendência, discussão coletiva e pesquisa em internet ou livros. Nos momentos em que os alunos tiverem dúvidas serão auxiliados pelos colegas e pela professora da turma. A Modelagem Matemática na geometria será o tema norteador e facilitador na aprendizagem de área e perímetro. Sendo a geometria conteúdo integrante na formação do aluno das séries iniciais e a Modelagem Matemática conteúdo integrante na Formação de Professores, podemos unir teoria com prática. Ao aliar as aplicações matemáticas do dia-a-dia com a construção de modelos, vinculando-os ao conteúdo programático, oferecemos ao aluno a oportunidade de conviver com um conteúdo real, portanto com significado. Dessa forma esperamos despertar nos educandos novos olhares sobre os conteúdos geométricos abordados. Para efetivarmos o proposto acima vivenciaremos Modelagem Matemática com a construção de pipas. Essa atividade será realizada em grupos e os alunos terão que chegar a um modelo de área e perímetro. Ao término da atividade em sala haverá o momento lúdico, o de “empinar as pipas”, que será executado no pátio da escola, espaço onde não há rede elétrica. Também faremos visita à Madeireira Menin, localizada no município de Capanema, com o propósito de os alunos observarem as toras (cilindros), as tábuas (prismas) e chegarem a um modelo para área total e perímetro dos prismas e “desenho” com identificação do sólido observado, pois os alunos das séries iniciais não têm em sua grade curricular área e perímetro dos cilindros. Durante a visita será observado também à questão ambiental, como por exemplo, saber se a madeira utilizada é madeira de reflorestamento, discutir as espécies de madeira, a utilidade e de onde provém. O registro das leituras, atividades e discussões será por meio de descrições após cada aula, das interações dos alunos nas atividades em grupo, dos meios utilizados por eles para a resolução das atividades propostas, dos resultados das plenárias e debates. O período de implementação será de aproximadamente 5 meses, dois bimestres e meio. 8 4.PESQUISA NOS CADERNOS DE ESTÁGIO PARA DIAGNOSTICAR METODOLOGIAS USADAS PELOS PROFESSORES DAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL DO MUNICÍPIO DE CAPANEMA. Finalidade: investigar as metodologias usadas no Ensino da Matemática nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental Por se tratar de uma Terceira Série do Curso de Formação de Docentes, de alunos que fizeram estágio de observação nos dois primeiros anos e atualmente fazem docência em duplas, deverão retomar as apostilas de estágio dos anos anteriores, onde constam os relatórios e em grupos de 3 ou 4 alunos juntarão as informações obtidas referentes as metodologias utilizadas, listarão as mesmas em forma de texto e em seguida farão uma análise das respostas obtidas. Para isso disporão de uma a duas hora-aula. Após as conclusões efetivadas, será feito um debate para socialização dos resultados, terminando com um relatório final realizado pela turma toda no quadro e anotado em seus cadernos. Com base nos dados levantados far-se-á os estudos a seguir. 5.ENSINAR E APRENDER MATEMÁTICA 5.1.História Antigamente, na época de nossos pais e avós, a formação básica ou inicial era suficiente, assim como ensinar usando vivencias do aluno não era feito, mas com a evolução dos tempos, surge à necessidade de relacionarmos os conteúdos curriculares com o cotidiano do educando. 9 Quando se trata do ensino da Matemática, percebe-se que a pergunta “como ensinamos” tem como resposta, de uma maneira geral, “pelo concreto”. Segundo Nacarato (2004-2005), isso não é recente. O uso de materiais manipuláveis no ensino foi destacado pela primeira vez por Pestalozzi, no século XIX, ao defender que a educação deveria começar pela percepção de objetos concretos, com a realização de ações concretas e experimentações. No Brasil o discurso em defesa da utilização de recursos didáticos nas aulas de Matemática surgiu na década de 1920. Esse período foi marcado pelo surgimento de uma tendência no ensino de Matemática que ficou conhecida como empírico-ativista, decorrente dos ideais escolanovistas que se contrapunham ao modelo tradicional de ensino no qual o professor era tido como elemento central do processo de ensino. O ensino seria baseado em atividades desencadeadas pelo uso de jogos, materiais manipuláveis e situações lúdicas e experimentais (NACARATO, 2005, p. 1). Apesar do esforço na época nada mudou no ministério das aulas da disciplina e a dicotomia continuava. Nos anos 1970 a 1990, voltou-se a discutir a questão do fracasso do ensino da Matemática e com isso a construção de materiais manipuláveis. Paralelo a isso houve incentivo por parte do governo ao uso do livro didático. Na década de 90, surgem recursos didáticos como as calculadoras e computadores, mas, o foco deixou de ser os materiais manipuláveis e passou-se a discutir sobre as Tendências: Resolução de Problemas, Modelagem Matemática, História da Matemática, Investigações Matemáticas, dentre outras. Ao longo do tempo observamos a busca por caminhos ou formas que auxiliam na compreensão do processo de ensino e aprendizagem. Sabemos que não existe uma forma milagrosa, mas temos a plena convicção que ao ampliarmos as possibilidades de escolha haverá maior chance de a aprendizagem acontecer e acima de tudo devemos ter: [...] sempre claro que o ensino não depende somente do professor, bem como a aprendizagem não é algo apenas do aluno. Segundo Freire (1996) não há docência sem discência, as duas se explicam, e seus sujeitos, embora as diferenças que os conotam, não se reduzem à condição de objeto um do outro. Quem ensina aprende ao ensinar, e quem aprende ensina ao aprender (FREIRE apud SIQUEIRA, 2007, p.12). Por outro lado a parte que cabe ao professor é primordial, e sobre a mesma há uma reflexão crítica de seu desempenho na escola e na sociedade, pois no decorrer do processo de ensino e aprendizagem aparecem problemas como a relação professor-aluno, a repetência, o desestímulo aos estudos e outros. Uma das 10 causas apontadas e que interfere significativamente é a metodologia adotada pelo docente, um dos principais fatores que rege a motivação pelo aprender por parte do discente em formação. Visando combater os problemas citados acima o professor vai à prática da sala de aula, propondo ensinar de tal forma que teoria e prática formem uma unidade. Nesse sentido estão as Diretrizes Curriculares da Rede Pública de Educação Básica do Estado do Paraná (DCEs) que: Propõe-se articular os Conteúdos Estruturantes com os conteúdos específicos em relações de interdependências que enriqueçam o processo pedagógico de forma a abandonar abordagens fragmentadas, como se os conteúdos de ensino existissem em patamares distintos e sem vínculos [...] (PARANÁ, 2008, p. 62). Logo, para ensinarmos os conceitos de escalas, por exemplo, que fazem parte do conteúdo específico, podemos associá-la a outro conteúdo específico como geometria plana e introduzir razão e proporção ao realizarmos atividades de ampliação e redução de figuras geométricas (ibidem, p.62), o que vem ao encontro do que propõe a Proposta Pedagógica Curricular do Curso de Formação de Docentes da Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental, em Nível Médio, na Modalidade Normal que leva em consideração a formação de um jovem para uma profissão, a de ser professor-educador: O currículo não deve ser dicotômico, pois o “fazer e saber sobre o fazer” deverão ser elementos integrados ao processo de formação dos alunos. Os saberes disciplinares não poderão ser independentes dos saberes profissionais. Ao ensinar química, biologia, matemática, português, ou outra disciplina, os docentes deverão ter presente o compromisso com aqueles conhecimentos, no sentido de que eles serão ensinados pelos futuros professores das crianças de 0 a 10 anos de idade. Os alunos, por sua vez, deverão estar comprometidos com o processo de aprendizagem porque estão se preparando para um trabalho com características especiais – a educação de crianças [...] Desta forma, propõe-se a composição curricular articulada aos saberes disciplinares e específicos do “saber fazer” da profissão de professor. Isso significa que o núcleo fundamental da formação do professor pressupõe por um lado o domínio dos conteúdos que serão objetos do processo ensino-aprendizagem e, por outro, o domínio das formas através das quais se realiza esse processo (PARANÁ, 2006, p.24). Diante disso, dar um significado, não significa aprendizado. É necessário que o futuro professor relacione o conhecimento matemático com o cotidiano, isto é, seja um agente de conhecimentos que usa como metodologia de ensino os mais variados temas e valores, ou seja, ensino voltado para a formação de sujeitos pensantes e críticos. Deverá destacar em suas investigações as metodologias pelas quais os alunos aprendem a internalizar conceitos e habilidades do pensar, modos e 11 atitudes que se constituam em instrumentos para lidar praticamente com a realidade: resolver problemas, enfrentar dilemas, tomar decisões. Logo a prática docente deve ser no sentido da práxis, que quer dizer: [...] compreendem-se os processos de conhecimento cientifico e de todos os tipos de conhecimentos a partir de sua natureza social, como produto coletivo de relações amplas entre objeto-coletividade e não de individuoobjeto, numa dimensão tipicamente individualista (ibidem, 2006, p. 25). Nesse contexto, entende-se que a formação de professores deve contemplar uma disciplina que enfoca as Tendências da Educação Matemática, as quais priorizam a formação de alunos críticos e reflexivos, sendo essas transformações no campo educacional, construídas a partir da realidade de cada escola e das mudanças que o professor pretende obter no campo social. Se o objetivo é uma mudança não só em âmbito escolar, mas também no entorno dela, deverá haver mudanças nas práticas dos professores e da escola como um todo. Para obtenção desse êxito é imprescindível uma ação pedagógica inovadora que implica considerar os alunos como indivíduos únicos, respeitados em sua singularidade e com formação voltada para uma abordagem teórica e prática, pois dessa forma poderá ser feito uma análise elaborada e crítica da realidade. Logo a formação do professor deve estar pautada em teoria e prática, as duas somadas formam um educador reflexivo, dinâmico, cooperativo, produtivo, que busca superar a fragmentação escolar. 5.2. Atividades Finalidade: Diferenciar trabalhar com o concreto e as Tendências em Educação Matemática. 5.2.1. Descreva em poucas linhas, o que você, enquanto futuro educador pensa ser “trabalhar com o concreto”. 5.2.2. Pesquise mais sobre a história (surgimento) das Tendências em Educação Matemática em seguida compartilhe suas descobertas em uma plenária. Obs: a síntese do resultado das questões acima será disponibilizada no site < http://www.leni.swa.com.br/ > 12 LEITURAS COMPLETARES: NACARATO, A. M. Eu Trabalho Primeiro no Concreto. Revista de Educação Matemática - SBEM. Ano 9. n. 9-10. p. 1-6. 2005. Disponível em: <http://www.sbempaulista.org.br/RevEdMatVol9.pdf >. Acesso em: 15 dez. 2009. SIQUEIRA, R. A. N. Tendência da educação matemática na formação de professores. Ponta Grossa: UTFPR, 2007. 49 f. Monografia - Especialização em educação Científica e Tecnológica. Universidade Tecnológica do Paraná, Campus de Ponta Grossa. Ponta Grossa – 2007. PARANÁ. Secretaria do Estado da Educação. Superintendência da Educação. Departamento da Educação Profissional. Proposta pedagógica curricular do Curso de Formação de Docentes da Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino Fundamental, em Nível Médio, na Modalidade Normal. Curitiba: SEED – Pr., 2006. 6.TENDÊNCIAS EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA 6.1. INTRODUÇÃO Sabemos que a Matemática foi uma das formas que o ser humano encontrou ao longo da história para explicar, compreender e “controlar” a realidade que nos circunda, dentro de um contexto natural e cultural. As Tendências em Educação Matemática são vistas como estratégia de ensino e aprendizagem na disciplina de Matemática por adotarem na sua individualidade metodologias diferenciadas das convencionalmente utilizadas pela maioria dos educadores. Ao utilizá-las na prática, despertamos no professor e no aluno a criatividade e instigamos a pesquisa por meio da investigação. 13 Segundo Pavanello (SBEM, 2003, p.8) o professor deve ter mais conhecimento do que aquilo que vai ensinar, vai muito além daquilo que aprendemos nos diversos níveis de escolarização, pois, a aprendizagem interdisciplinar é apenas uma parte, precisamos sim ser e formar profissionais capazes de superar os obstáculos eminentes e para isso precisamos utilizar-nos de novas metodologias de ensino. Logo, para obtermos e transmitirmos tais conhecimentos precisamos mediar os conteúdos matemáticos e as disciplinas do currículo, proporcionando entendimento e compreensão do contexto no qual está inserido. Muitas são as contribuições destas metodologias para a construção e efetivação do conhecimento matemático, pois elas trazem muitos benefícios ao processo de ensino e aprendizagem, visto que objetivam inserir em âmbito escolar a realidade dos alunos, fazendo-os perceber que realidade e Matemática estão ligadas, levando-os dessa forma a quererem conhecer mais as normas e os procedimentos matemáticos capazes de sanar dificuldades que se apresentam cotidianamente em suas vidas. Na DCE de Matemática (PARANÁ, 2008, p.62-68) as Tendências são apresentadas uma a uma, devidamente conceituadas e apontadas como sugestão de encaminhamento metodológico para os professores da rede. Na ementa da Disciplina de Metodologia do Ensino de Matemática no Curso de Formação de Docentes (PARANÁ, 2006, p. 78), aparecem para serem estudadas e nas Universidades, na Formação de Matemática algumas Tendências já aparecem como disciplina acadêmica. Logo, a proposta da pesquisa a seguir consiste em enfatizar conceitos e experiências que venham revelar opiniões relacionadas a cada Tendência, buscando também aprofundamentos teóricos acerca da utilização destas metodologias de ensino especificamente no curso Formação de Docentes – Modalidade Normal. Minudenciando, quer-se com este trabalho conhecer e divulgar propostas de utilização efetiva das Tendências como metodologias de ensino, almejando-se, contudo exemplificar e questionar cada uma na sua essência. 14 6.2.RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS 6.2.1.Raciocínio e aplicabilidade Dante afirma que “um dos principais objetivos do ensino de Matemática é fazer o aluno pensar produtivamente e, para isso, nada melhor que apresentar-lhe situações-problema que o envolvam, o desafiem e o motivem a querer resolvê-las” (DANTE, 2005. p.11). Baseando-nos nessa perspectiva sabemos que a Matemática desempenha papel decisivo, pois permite resolver problemas cotidianos, sendo de suma importância em outras áreas do conhecimento, visto que para resolução é preciso desenvolver no aluno habilidade do raciocínio lógico bem como a utilização eficaz dos recursos disponíveis. O pensar e o fazer se mobilizam e se desenvolvem quando o indivíduo está empenhado no enfrentamento de desafios. Segundo Medeiros (2001, p.32-33), os problemas matemáticos são utilizados como exercícios repetidos e de maneira padronizada. São problemas que possuem o mesmo raciocínio, isto é, o aluno procura palavras no texto que indicam a operação a ser usada. De maneira geral servem para fixar os conteúdos que foram estudados. Na perspectiva da autora “Essa forma de trabalhar os problemas matemáticos não contribui para um melhor aproveitamento dessa atividade, particularmente importante para o desenvolvimento da matemática, na sala de aula” (MEDEIROS, 2001, p.33). Não há dúvida, que ensinar Matemática por meio de problemas, não é fácil, o professor precisa ter um planejamento minucioso, com tarefas planejadas ou selecionadas a cada aula, levando sempre em consideração as dificuldades dos alunos e o currículo. Mas, sabemos que a Resolução de Problemas não deve estar limitada a uma definição convencional de problemas com palavras. Tanto quanto a nova tecnologia o torne possível, os problemas devem ser apresentados em situações naturais ou em simulações de condições reais. Entretanto, Onuchic e Allevato (2004, p.223-224) listam razões para usarmos a Resolução de Problemas como metodologia de ensino, dentre elas destacamos: coloca o foco da atenção dos alunos sobre as ideias e sobre o “dar sentido”, desenvolve o “poder matemático”, que estão descritos nos Standards 2000: Resolução de Problemas; raciocínio e prova; comunicação, conexões e representação que é o fazer Matemática e ainda permite não só a compreensão do 15 conteúdo proposto, mas além do que está sendo proposto. Faz com que o aluno acredite que sabe fazer Matemática e de que a mesma faz sentido. Professores que fazem essa experiência de ensino, não deixam de usá-la mais, pois alegam que “a excitação de desenvolver a compreensão dos alunos através de seu próprio raciocínio vale todo esforço e, de fato, é divertido, também para os alunos”. (ONUCHIC e ALLEVATO, 2004, p. 224). Logo, é nítida a importância segundo Siqueira (2007, p. 37) de formarmos professores que sejam capazes de ensinar conteúdos novos por meio da Resolução de Problemas. Portanto, a Resolução de Problemas baseia-se em fazer o aluno pensar, desenvolver o raciocínio, enfrentar situações novas, dar oportunidade de se envolver com as aplicações da Matemática como também dar base e equipar os alunos com estratégias e além de tudo isso, tornar as aulas mais interessantes e desafiadoras, como assegura Dante (2005, p.11-15). 6.2.2. Exemplos Exemplos para serem aplicados nas séries iniciais do Ensino Fundamental: Ao preencher um cheque, Joana Inverteu o algarismo das dezenas com os das centenas. Em virtude desse fato acabou pagando a importância de R$ 270,00 a mais pelo valor da compra. A informação que temos é que os dois algarismos estão entre si na razão de 1 para 2. Com os dados apontados acima calcule o algarismo, no cheque, que foi escrito na casa das dezenas.1 Pedro e Paulo sobem uma escada rolante juntos. Pedro sobe um degrau de cada vez, enquanto Paulo sobe dois degraus por vez. Chegando no topo, 1 Problema adaptado do material do Professor Marcelo C. Rodrigues do Colégio Estadual Gilberto Alves do Nascimento de Piraquara. Disponível em: <http://www.matematica.seed.pr.gov.br/modules/conteudo n/conteudo.php?conteudo=58>. Acesso em: 3 abr. 2010. 16 Pedro contou 21 degraus e Paulo 28 degraus. Quantos degraus são visíveis nessa escada rolante? (obs: a escada está andando).2 Os problemas a seguir foram extraídos de Dante (2005):3 Annelise tinha apenas moedas de R$ 1,00 e notas de R$ 5,00 e de R$ 10,00. Mostre todas as maneiras que ela poderia usar para pagar um livro que custava R$ 25,00. Para prender 5 camisas no varal, mamãe usou 6 prendedores. Quantos serão necessários para prender 17 camisas? Há três cartões numerados virados de costas. Descubra que número fica formado pelos cartões. Sugestões: Primeiro cartão: o menor número ímpar que existe. Segundo cartão: soma do número do primeiro cartão com o número do terceiro. Terceiro cartão: numero que representa meia dúzia. 1o 2o 3o 6.2.3. Atividades Finalidade: identificar série, conteúdo e objetivos dos problemas abordados. 2 Problema adaptado do Portal Dia a Dia. Disponível em:<http://matematica.seed.pr.gov.br/modules/conte udo/conteudo.php?conteudo=36>. Acesso em: 3 abr. 2010. 3 DANTE, L. R. Didática da Resolução de Problemas de Matemática. 12 ed. São Paulo: Ática, 2005. p.85 e 88 17 6.2.3.1. Em duplas façam uma leitura minuciosa dos exemplos citados acima e em seguida relatem da forma que achar conveniente, agrupando ou não os problemas, para que séries podem ser aplicados, os objetivos e os conteúdos abordados. Obs: Após a correção, os planos de aula estarão disponíveis no site <http://www.leni.swa.com.br/>. Para a realização da próxima atividade vamos analisar a síntese dos objetivos da Resolução de Problemas, segundo Dante (2005. P. 11-15): Em primeiro lugar o autor coloca que ensinar por meio da Resolução de Problemas leva o aluno a pensar produtivamente, pois lhe serão apresentadas situações problemas que o envolve, desafie e consequentemente torna motivador à resolução das atividades propostas. O segundo objetivo é que ensinar por meio dessa Tendência desenvolve o raciocínio do aluno. O aluno precisará de estratégias e formas de resolução que sejam criativas e eficazes para a solução dos problemas cotidianos da escola ou exteriores a ela. O Terceiro é que por meio da Resolução de Problemas ensinamos o aluno a enfrentar situações novas, pois, vivemos em um mundo que se transforma continuamente, no campo da ciência, da tecnologia e automaticamente socialmente e em virtude dessas rápidas mudanças precisamos adaptar o currículo à realidade dos alunos e da sociedade como um todo, para que dessa forma preparemos cidadãos capazes de lidar com situações novas, sejam quais forem. Outro objetivo colocado por Dante é dar ao aluno condições para que se envolva com as aplicações da Matemática nos problemas da vida diária: [...] Apesar da grande e reconhecida importância da Matemática, quer pelo desenvolvimento de raciocínio que proporciona ao aluno, quer por suas aplicacões nos problemas da vida diária, em geral os alunos, logo nos primeiros contatos com essa ciência, começam a detestá-la ou tornam-se indiferentes a ela. Isso pode ser atribuído ao exagero no treino de algoritmos e regras desvinculados de situações reais, além do pouco envolvimento do aluno com aplicações da Matemática que exijam o raciocínio e o modo de pensar matemático para resolvê-las.A oportunidade de usar os conceitos matemáticos no seu dia-a-dia favorece o desenvolvimento de uma atitude positiva do aluno em relação à Matemática. Não basta saber fazer mecanicamente as operações de adição, subtração, multiplicação e divisão. E preciso saber como e quando 18 usá-las convenientemente na resolução de situações-problema (ibidem, 2005, p.13). Também referencia que a Resolução de Problemas faz que aula fique interessante e desafiadora, pois provoca a curiosidade e desenvolve um comportamento de pesquisa, além de equipar os alunos com estratégias para resolver problemas, levando a encontrar a solução ou várias possíveis respostas e a analisar as mesmas para encontrar a solução do problema procurado. E por último, tem por objetivo dar uma boa base de Matemática às pessoas, tornandoas ativas e participantes, capazes de tomar decisões próprias, inteligentes de forma precisa. Isto é precisamos “formar rápidas e cidadãos matematicamente alfabetizados, que saibam como resolver, de modo inteligente, seus problemas de comércio, economia, administração, engenharia, medicina, previsão do lempo e outros da vida diária” (ibidem, 2005, p.15). Logo a Resolução de Problemas é uma forma de enfrentar desafios significativos desde cedo, aprendendo a encontrar solução. Finalidade: Por meio da pesquisa, identificar problemas que se encaixem na proposta de Dante e montar uma lista de problemas para serem utilizados pelos professores para inserir conteúdos nas séries iniciais do Ensino Fundamental. 6.2.3.2.Em grupos, façam a leitura da síntese dos objetivos da Resolução de Problemas acima e em seguida monte uma lista de aproximadamente 15 problemas com o auxílio da Internet ou livros que encaixam na proposta. Como fazer: Escolha 15 problemas, por meio de pesquisa, separados por nível, por exemplo primeiro ano, segundo ano... Imprima e cole em papel cartão de aproximadamente 6cm x 10cm, lembrando que o problema deve ficar disposto nesse espaço. Em seguida pegue uma caixa que caiba essas fichas. Também faça cartões iguais com as soluções que podem ficar na mesma caixa, separadas com 19 um cartão em branco. Essa é apenas uma sugestão, você pode usar de criatividade! 6.2.3.3. Baseado em um dos problemas de sua lista prepare um plano de aula4 para introduzir um conteúdo em uma das turmas de primeiro ao quinto ano do ensino de nove anos. Obs: Após a correção, os planos de aula serão disponibilizados no site <http://www.leni.swa.com.br/>. 6.3 ETNOMATEMÁTICA 6.3.1. História e conceito Com base nos trabalhos de Ubiratan D`Ambrósio, o campo de pesquisa da Etnomatemática vem sendo configurado no Brasil e no mundo a partir da década de 70. Hoje, etno é aceito como algo muito amplo, contexto cultural, linguagens específicas, comportamentos, simbologias, práticas sociais, matema tende à direção de explicar, de conhecer, de entender; lidar com e tica vem do techne que é arte, modos, estilos e técnica. Logo, o cotidiano das pessoas é identificado através de estilos de comportamentos e de conhecimentos para sobreviver e assim transcender, nos diferentes ambientes que ela ocupa. Então, precisamos ter em mente que nosso aluno traz consigo experiências familiares e da comunidade na qual está inserido. Ele não vem para a escola como uma folha em branco, mas com um mundo de informações. Nesse contexto D’Ambrosio afirma que há estudos sobre a Etnomatemática cotidiana: “É uma Etnomatemática não aprendida nas escolas, mas no ambiente familiar, no ambiente dos brinquedos e de trabalho, recebida de amigos e de colegas” (D’AMBROSIO, 2005, p.22). Todas as culturas e povos desenvolvem método próprio para modificar a realidade e fica claro que a cultura, as ideias estão enraizadas e constantemente sofrem alterações e as soluções dos problemas são exclusivas para cada realidade. 4 Exemplo de roteiro de plano de aula, disponível em: <http://www.slideshare.net/guest1c37d0/planode-trabalho-docente-2010>. 20 É por meio dessa Tendência que se visa o entendimento do mundo, espaço e tempo de cada cultura. Etnomatemática é a matemática praticada por grupos culturais, tais como comunidades urbanas e rurais, grupos de trabalhadores, classes profissionais, crianças de certa faixa etária, sociedades indígenas, e tantos grupos que se identificam por objetivo e tradições comuns aos grupos (ibidem, 2005. p.9). Então essa Tendência Metodológica procura justamente mostrar a possibilidade de valorizar o conhecimento do aluno, da sua cultura, do seu meio social para uma aprendizagem significativa e crítica da Matemática. Para tanto precisamos ter uma visão transdisciplinar, para além dos muros escolares. Nas páginas subsequentes disponibilizamos trechos do texto5 de D’Ambrósio disponível em seu site para explicar a Etnomatemática enquanto programa: O Programa Etnomatemática O Programa Etnomatemática teve sua origem na busca de entender o fazer e o saber matemático de culturas marginalizadas. Intrínseco a ele há uma proposta historiográfica que remete à dinâmica da evolução de fazeres e saberes que resultam da exposição mútua de culturas. Em todos os tempos, a cultura do conquistador e do colonizador evolui a partir da dinâmica do encontro. O encontro cultural assim reconhecido, que é essencial na evolução do conhecimento, não estava subordinado a prioridades coloniais como aquelas que estabeleceram posteriormente. A melhor explicação para adotar o Programa Etnomatemática como central para um enfoque mais abrangente aos estudos de história e filosofia está na própria construção do termo. Embora haja uma vertente da Etnomatemática que busca identificar manifestações matemáticas nas culturas periféricas tomando como referência a matemática ocidental, o Programa Etnomatemática tem como referências categorias próprias de cada cultura, reconhecendo que é própria da espécie humana a satisfação de pulsões de sobrevivência e transcendência, absolutamente integrados, como numa relação de simbiose. 5 D’AMBROSIO, O Programa Etnomatemática. <http://vello.sites.uol.com.br/program.htm>. Acesso em: 26 fev. 2010. 21 Disponível em: O pensamento abstrato, próprio de cada indivíduo, é uma elaboração de representações da realidade e é compartilhado graças à comunicação, dando origem ao que chamamos cultura. Os instrumentos [materiais e intelectuais] essenciais para essa elaboração incluem, dentre outros, sistemas de quantificação, comparação, classificação, ordenação e linguagem. O Programa Etnomatemática tem como objetivo entender o ciclo do conhecimento em distintos ambientes. A exposição acima sintetiza a motivação teórica que serve de base a um programa de pesquisa sobre a geração, organização intelectual, organização social e difusão do conhecimento. Na linguagem acadêmica, poder-se-ia dizer que se trata de um programa interdisciplinar, abarcando o que constitui o domínio das chamadas ciências da cognição, da epistemologia, da história, da sociologia e da difusão. Naturalmente, em todas as culturas e em todos os tempos, o conhecimento, que é gerado pela necessidade de uma resposta a problemas e situações distintas, está subordinado a um contexto natural, social e cultural. Indivíduos e povos têm, ao longo de suas existências e ao longo da história, criado e desenvolvido técnicas de reflexão, de observação, e habilidades (artes, técnicas, techné, ticas) para explicar, entender, conhecer, aprender para saber e fazer como resposta a necessidades de sobrevivência e de transcendência (matema), em ambientes naturais, sociais e culturais (etnos) os mais diversos. Desenvolveu, simultaneamente, os instrumentos teóricos associados a essas técnicas e habilidades. Daí chamarmos o exposto acima de Programa Etnomatemática. O nome sugere o corpus de conhecimento reconhecido academicamente como Matemática. De fato, em todas as culturas encontramos manifestações relacionadas e mesmo identificadas com o que hoje se chama Matemática (processos de organização, classificação, contagem, medição, inferência), geralmente mescladas ou dificilmente distinguíveis de outras formas, hoje identificadas como Arte, Religião, Música, Técnicas, Ciências. Em todos os tempos e em todas as culturas, Matemática, Artes, Religião, Música, Técnicas, Ciências foram desenvolvidas com a finalidade de explicar, de conhecer, de aprender, de saber/fazer e de predizer (artes divinatórias) o futuro. Todas, que aparecem, num primeiro estágio da história da humanidade e da vida de cada um 22 de nós, são indistinguíveis, na verdade mescladas, como formas de conhecimento. O Programa Etnomatemática e a educação atual Estamos vivendo um período em que os meios de captar informação e o processamento da informação de cada indivíduo encontram nas comunicações e na informática instrumentos auxiliares de alcance inimaginável em outros tempos. A interação entre indivíduos também encontra, na teleinformática, um grande potencial, ainda difícil de aquilatar, de gerar ações comuns. Nota-se em alguns casos o predomínio de uma forma sobre outra, algumas vezes a substituição de uma forma por outra e mesmo a supressão e a eliminação total de alguma forma, mas na maioria dos casos o resultado é a geração de novas formas culturais, identificadas com a modernidade. Ainda dominadas pelas tensões emocionais, as relações entre indivíduos de uma mesma cultura (intraculturais) e, sobretudo, as relações entre indivíduos de culturas distintas (interculturais) representam o potencial criativo da espécie. Assim como a biodiversidade representa o caminho para o surgimento de novas espécies, na diversidade cultural reside o potencial criativo da humanidade. As consequências dessas mudanças na formação de novas gerações exigem reconceituar a educação. A pluralidade dos meios de comunicação de massa, facilitada pelos transportes, levou as relações interculturais a dimensões verdadeiramente planetárias. Inicia-se assim uma nova era, que abre enormes possibilidades de comportamento e de conhecimento planetários, com resultados sem precedentes para o entendimento e harmonia de toda a humanidade. Tem havido o reconhecimento da importância das relações interculturais. Mas lamentavelmente ainda há relutância no reconhecimento das relações intraculturais na educação. Ainda se insiste em colocar crianças em séries de acordo com idade, em oferecer o mesmo currículo numa mesma série, chegando ao absurdo de se propor currículos nacionais. E ainda maior absurdo de se avaliar grupos de indivíduos com testes padronizados. Trata-se efetivamente de uma tentativa de pasteurizar as novas gerações! Não se pretende a homogeneização biológica ou cultural da espécie, mas sim a convivência harmoniosa dos diferentes, através de uma ética de respeito mútuo, solidariedade e cooperação. 23 Naturalmente, sempre existiram maneiras diferentes de explicar e de entender, de lidar e conviver com a realidade. Agora, graças aos novos meios de comunicação e transporte, essas diferenças serão notadas com maior evidência, criando a necessidade de um comportamento que transcenda mesmo as novas formas culturais. Eventualmente, o tão desejado livre arbítrio, próprio de ser [verbo] humano, poderá se manifestar num modelo de transculturalidade que permitirá que cada ser [substantivo] humano atinja a sua plenitude. Um modelo adequado para se facilitar esse novo estágio na evolução da nossa espécie é a chamada Educação Multicultural, que vem se impondo nos sistemas educacionais de todo o mundo. Sabemos que no momento há mais de 200 estados e aproximadamente 6.000 nações indígenas no mundo, com uma população totalizando entre 10%15% da população total do mundo. Embora não seja o meu objetivo discutir Educação Indígena, os aportes de especialistas na área têm sido muito importantes para se alertar sobre os perigos de uma educação que se torne um instrumento de reforço dos mecanismos de exclusão social. Dentre os vários questionamentos que levam à preservação de identidades nacionais, muitas se referem ao conceito de conhecimento e às práticas associadas a ele. Talvez a mais importante a se destacar seja a percepção de uma dicotomia entre saber e fazer, própria dos paradigmas da ciência moderna iniciada por Galileu, Descartes, Newton e outros, e que prevalece no mundo chamado "civilizado". A ciência moderna surgiu, praticamente, ao mesmo tempo em que se deram as grandes navegações, que resultaram na conquista e na colonização, e na imposição do cristianismo a todo o planeta. A ciência moderna, originada das culturas mediterrâneas e substrato da eficiente e fascinante tecnologia moderna, foi logo identificada como protótipo de uma forma de conhecimento racional. Definiram-se, assim, a partir das nações centrais, conceituações estruturadas e a dicotômica do saber [conhecimento] e do fazer [habilidades]. Nada poderia ser mais claro nesta declaração que o reconhecimento da subordinação dos conteúdos programáticos à diversidade cultural. Igualmente, o reconhecimento de uma variedade de estilos de aprendizagem está implícito no apelo ao desenvolvimento de novas metodologias. 24 Essencialmente, essas considerações determinam uma enorme flexibilidade tanto na seleção de conteúdos quanto na metodologia. A Matemática no Programa Etnomatemática A abordagem a distintas formas de conhecer é a essência do Programa Etnomatemática. Na verdade, diferentemente do que sugere o nome, Etnomatemática não é apenas o estudo de "matemáticas das diversas etnias". Repetindo, lembro que para compor a palavra Etno-matema-tica, utilizei as raízes tica, matema e etno com a finalidade de enfatizar que há várias maneiras, técnicas, habilidades (ticas) de explicar, de entender, de lidar e de conviver com (matema) distintos contextos naturais e sócio-econômicos da realidade (etnos). A disciplina denominada Matemática é, na verdade, uma Etnomatemática que se originou e se desenvolveu na Europa, tendo recebido importantes contribuições das civilizações do Oriente e da África, e que chegou à forma atual nos séculos XVI e XVII. A partir de então, nessa forma estruturada, foi levada e imposta a todo o mundo. Hoje, essa matemática adquire um caráter de universalidade, sobretudo devido ao predomínio da ciência e tecnologia modernas, que foram desenvolvidas a partir do século XVII na Europa. Essa universalização é um exemplo do processo de globalização que estamos testemunhando em todas as atividades e áreas de conhecimento. Falava-se muito das multinacionais. Hoje, as multinacionais são, na verdade, empresas globais, para as quais não é possível identificar uma nação ou grupo nacional dominante. Essa idéia de globalização já começa a se revelar no início do cristianismo e do islamismo. Diferentemente do judaísmo, do qual essas religiões se originaram, bem como de inúmeras outras crenças nas quais há um povo eleito, o cristianismo e o islamismo são essencialmente religiões de conversão de toda humanidade à mesma fé, com o ideal de subordinar todos os povos a uma mesma autoridade religiosa. Isso fica evidente nos processos de expansão do Império Romano cristianizado e do Islão. O processo de globalização da fé cristã se aproxima do seu ideal com as grandes navegações. O catecismo, elemento fundamental da conversão, é levado a todo o mundo. Assim como o cristianismo é um produto do Império Romano, levado a um caráter de universalidade com o colonialismo, também o são a matemática, a ciência e a tecnologia. 25 No processo de expansão, o cristianismo foi se modificando, absorvendo elementos da cultura subordinada e produzindo variantes notáveis do cristianismo original do colonizador. Esperar-se-ia que, igualmente, as formas de explicar, conhecer, lidar, conviver com a realidade sócio-cultural e natural, obviamente distintas de região para região, e que são as razões de ser da Matemática, das ciências e da tecnologia, também passassem por esse processo de "aclimatação", resultado de uma dinâmica cultural. No entanto, isso não se deu e não se dá e esses ramos do conhecimento adquiriram um caráter de absoluto universal. Não admitem variações ou qualquer tipo de relativismo. Isso se incorporou até no dito popular "tão certo quanto dois mais dois são quatro". Não se discute o fato, mas sua contextualização na forma de uma construção simbólica que é ancorada em todo um passado cultural. A Matemática tem sido conceituada como a ciência dos números e das formas, das relações e das medidas, das inferências, e suas características apontam para precisão, rigor, exatidão. Os grandes heróis da Matemática, isto é, aqueles indivíduos historicamente apontados como responsáveis pelo avanço e consolidação dessa ciência, são identificados na Antigüidade grega e, posteriormente, na Idade Moderna, nos países centrais da Europa, sobretudo Inglaterra, França, Itália, Alemanha. Os nomes mais lembrados são Descartes, Galileu, Newton, Leibniz, Hilbert, Einstein, Hawkings. São idéias e homens originários de nações ao Norte do Mediterrâneo. Portanto, falar dessa Matemática em ambientes culturais diversificados, sobretudo em se tratando de nativos ou afro-americanos ou outros não europeus, de trabalhadores oprimidos e de classes marginalizadas, além de trazer a lembrança do conquistador, do escravista, enfim do dominador, também se refere a uma forma de conhecimento que foi construído por ele, dominador, e da qual ele se serviu e se serve para exercer seu domínio. Muitos dirão que isso também se passa com calças "jeans", que se mescla com as vestes tradicionais, ou com a "Coca-Cola", que aparece como uma opção para o guaraná, ainda preferido por muitos, ou com o rap, que está se popularizando e, junto com o samba, produzindo um novo ritmo. As formas tradicionais [do dominado] permanecem e, naturalmente, se modificam pela presença das novas [do dominador]. Mas também as formas novas, do dominador, são modificadas no encontro com as formas tradicionais, do 26 dominado. A religião e a língua do dominador se modificaram ao incorporar as tradições do dominado. Mas a Matemática, com seu caráter de infalibilidade, de rigor, de precisão e de ser um instrumento essencial e poderoso no mundo moderno, teve sua presença firmada excluindo outras formas de pensamento. Na verdade, ser racional é identificado com dominar a Matemática. A Matemática se apresenta como um deus mais sábio, mais milagroso e mais poderoso que as divindades tradicionais e outras tradições culturais. Se isto pudesse ser identificado apenas como parte de um processo perverso de aculturação, através do qual se elimina a criatividade essencial ao ser [verbo] humano, eu diria que essa escolarização é uma farsa. Mas é muito pior, pois na farsa, uma vez terminado o espetáculo, tudo volta ao que era. Enquanto na educação o real é substituído por uma situação que é idealizada para satisfazer os objetivos do dominador. Nada volta ao real ao terminar a experiência educacional. No processo, o aluno tem suas raízes culturais, parte de sua identidade, eliminadas. Essa eliminação produz o excluído. Isto é evidenciado, de maneira trágica, na Educação Indígena. O índio passa pelo processo educacional e não é mais índio [...] mas tampouco branco. Sem dúvida a elevada ocorrência de suicídios entre as populações indígenas está associado a isso. Ora, isso se passa da mesmíssima maneira com as classes populares, mesmo não índios. Exatamente isso se dá com uma criança, com um adolescente e mesmo com um adulto ao se aproximar de uma escola. Se os índios praticam suicídio, o que nas suas relações intraculturais não é impedido, a forma de suicídio praticada nas outras camadas da população é uma atitude de descrença, de alienação, e mesmo niilismo, tão bem mostrado nos filmes recentes Kids e Beleza Americana. Uma pergunta natural depois dessas observações pode ocorrer: seria melhor, então, não ensinar matemática aos nativos e aos marginalizados? Essa pergunta se aplica a todas as categorias de saber/fazer próprios da cultura do dominador, com relação a todos os povos que mostram uma identidade cultural. Não se questiona a conveniência e mesmo a necessidade de ensinar aos dominados a língua, a matemática, a medicina, as leis do dominador, sejam esses índios e brancos, pobres e ricos, crianças e adultos. Chegamos a uma estrutura de sociedade e a conceitos de cultura, de nação e de soberania que impõem essa 27 necessidade. O que se questiona é a agressão à dignidade e à identidade cultural do dominado. A responsabilidade maior dos teóricos da educação é alertar para os danos irreversíveis que se podem causar a uma cultura, a um povo e a um indivíduo se o processo for conduzido levianamente, muitas vezes até com boa intenção, e fazer propostas para minimizar esses danos. Muitos educadores não se dão conta disso. A dimensão política do Programa Etnomatemática Naturalmente, há um importante componente político nessas reflexões. Apesar de muitos dizerem que isso é jargão ultrapassado de esquerda, é claro que continuam a existir as classes dominantes e subordinadas, tanto nos países centrais e quanto nos periféricos. Faz sentido, portanto, falarmos de uma "matemática dominante", que é um instrumento desenvolvido nos países centrais e muitas vezes utilizado como instrumento de dominação. Essa matemática e os que a dominam se apresentam com postura de superioridade, com o poder de deslocar e mesmo eliminar a "matemática do dia-a-dia". O mesmo se dá com outras formas culturais. Particularmente interessantes são os estudos de Basil Bernstein sobre a linguagem. São conhecidas inúmeras situações ligadas ao comportamento, à medicina, à arte e à religião. Todas essas manifestações são referidas como cultura popular. A cultura popular, embora seja viva e praticada, é muitas vezes ignorada, menosprezada, rejeitada, reprimida e, certamente, diminuída. Isto tem como efeito desencorajar e até eliminar o povo como produtor e mesmo como entidade cultural. Isso não é menos verdade com a Matemática. Em particular na Geometria e na Aritmética se notam violentas contradições. Por exemplo, a geometria do povo, dos balões e dos papagaios, é colorida. A geometria teórica, desde sua origem grega, eliminou a cor. Muitos leitores a essa altura estarão confusos. Estarão dizendo: mas o que isso tem a ver com Matemática? Papagaios e balões? Cores? Tem tudo a ver, pois são justamente essas as primeiras e mais notáveis experiências geométricas. E, todos concordam, que a reaproximação de Arte e Geometria não pode ser alcançada sem o mediador cor. Na Aritmética, o atributo do número na quantificação é essencial. Duas laranjas e dois cavalos são "dois" 28 distintos. Chegar aos “dois" sem qualificativo, abstrato, assim como à Geometria sem cores, é o ponto crítico na elaboração de uma Matemática teórica. O cuidado com a passagem do concreto para o abstrato é fundamental na Educação. Trabalhar adequadamente esse momento talvez sintetize tudo que há de importante nos programas de Matemática Elementar. O resto do que constitui os programas são técnicas que pouco a pouco vão se tornando interessantes e necessárias, para uns e menos interessantes e necessárias para outros. O que justifica o papel central das idéias matemáticas em todas as civilizações [Etnomatemática] é o fato de ela fornecer os instrumentos intelectuais para lidar com situações novas e definir estratégias de ação. Portanto a Etnomatemática do indígena serve, é eficiente e adequada para as coisas daquele contexto cultural, naquela sociedade. Não há porque substituí-la. A Etnomatemática do branco serve para outras coisas, igualmente muito importantes, propostas pela sociedade moderna e não há como ignorá-la. Pretender que uma seja mais eficiente, mais rigorosa, enfim melhor que a outra é, se removida do contexto, uma questão falsa e falsificadora. O domínio de duas Etnomatemática, e possivelmente de outras, oferece maiores possibilidades de explicações, de entendimentos, de manejo de situações novas, de resolução de problemas. É exatamente assim que se faz boa pesquisa matemática -- e na verdade pesquisa em qualquer outro campo do conhecimento. O acesso a um maior número de instrumentos e de técnicas intelectuais dá, quando devidamente contextualizadas, muito maior capacidade de enfrentar situações e problemas novos, de modelar adequadamente uma situação real para, com esses instrumentos, chegar a uma possível solução ou curso de ação. Isto é aprendizagem por excelência, isto é, a capacidade de explicar, de apreender e compreender, de enfrentar, criticamente, situações novas. Aprender não é o mero domínio de técnicas, habilidades e nem a memorização de algumas explicações e teorias. A adoção de uma nova postura educacional é a busca de um novo paradigma de educação que substitua o já desgastado ensino-aprendizagem, que é baseado numa relação obsoleta de causa-efeito. Procura-se uma educação que estimule o desenvolvimento de criatividade desinibida, conduzindo a novas formas de relações interculturais e intraculturais. 29 Essas relações caracterizam a educação de massa e proporcionam o espaço adequado para preservar a diversidade e eliminar a desigualdade discriminatória, dando origem a uma nova organização da sociedade. Fazer da Matemática uma disciplina que preserve a diversidade e elimine a desigualdade discriminatória é a proposta maior de uma Matemática Humanística. A Etnomatemática tem essa característica. Então, a Etnomatemática traz uma proposta que valoriza a cultura e a matemática presente no cotidiano das pessoas. E por abranger diversas dimensões: conceitual, histórica, cognitiva, desafios do cotidiano, epistemológica, política, educacional, privilegiando um raciocínio qualitativo, torna-se um grande facilitador para o processo de ensino e aprendizagem. 6.3.2. Exemplo 6.3.2.1 Síntese do exemplo relatado por Domingues no artigo 6: A aula de Matemática numa perspectiva Etnomatemática. Os professores das disciplinas de matemática, ciências e educação física, preocupados coma obesidade e sedentarismo dos alunos aliado ao interesse dos mesmos pelo assunto, resolveram desenvolver um projeto sobre obesidade e diabetes infantil. Os alunos pesquisaram sobre as doenças em hospitais com médicos e enfermeiras, internet, bibliotecas e consultaram familiares e amigos. A área de ciências trabalhou os conceitos de obesidade e diabetes e suas prevenções; a área de educação física desenvolveu a conscientização sobre a importância da prática esportiva para um corpo saudável; a área de Matemática foi responsável pela pesquisa de receitas culinárias saudáveis, trabalhando com medidas de massa, volume, capacidade, transformações e relações dessas medidas a partir das medidas usadas diariamente pelos alunos como “um dedo de”, “uma colher de”, “uma xícara de” que estão inseridas em nossa cultura e que não são valorizadas na escola. Essa divisão de tarefas citada foi uma mera formalidade, 6 Síntese do exemplo relatado por Domingues no artigo: A aula matemática numa perspectiva Etnomatemática. Disponível em: <http://www.sbempaulista.org.br/epem/anais/grupos_trabalho/gdt01Katia.doc>. Acesso em: 12 dez. 2009. 30 pois os assuntos foram abordados globalmente, uma matéria complementou a outra durante todo o projeto. Em grupos e com a ajuda dos pais os alunos desenvolveram receitas saudáveis como saladas, vitaminas, lanches naturais, sucos e outros. Tiraram fotos e fizeram síntese das informações obtidas com familiares ou pessoas ligadas sobre o que conheciam das doenças e concluíram com a organização de um livro. De modo geral, todos os alunos se envolveram nessa atividade com dedicação e entusiasmo. Ao preparar um lanche, o aluno pôde mensurar as calorias existentes no mesmo, além de verificar semelhanças de medidas como uma pitada de sal ou um punhado de tomates com as medidas de massa que constam nos livros didáticos, ampliando o conhecimento sem desvalorizar a cultura da criança. 6.3.3. Atividades Finalidade: Compreender e interpretar Etnomatemática para que com os conceitos apreendidos elaborarem um plano de aula ou projeto utilizando-a como metodologia. 6.3.3.1. Da história e conceito do Programa Etnomatemática, retire por meio da leitura, cinco frases ou parágrafos que lhe chamaram atenção pela importância ou pela não compreensão. Dado tempo para essa atividade, ao sinal da professora, junte-se com outros dois colegas e compartilhe o que ressaltou e das sugestões do grupo escolha cinco para discutir em plenária com as(os) demais colegas da turma. 6.3.2.2. No laboratório de informática pesquise o texto de LUCENA, I. C. R.de.; BRITO, M. A. R. Minicurso: Etnomatemática nas séries iniciais. Disponível em: <http://www.ufpa.br/npadc/gemaz/downloads/Artigos%20 Publicados/IVEPAEM%20mc%2002%20Etnomatematica%20nas%20serie s%20iniciais.pdf> e obtenha algumas sugestões de trabalho sob a perspectiva Etnomatemática. Em seguida, em trios, baseado nos exemplos elabore um projeto que envolva essa Tendência metodológica. 31 6.4 MÍDIAS TECNOLÓGICAS 6.4.1 O que é e como devem ser utilizadas as Mídias na educação Segundo DCEs (2008) o uso de Mídias tem levantado novas questões em relação ao currículo, e à experimentação matemática, pois se tem acesso a muita informação e de maneira rápida, podendo dessa forma surgir novas teorias matemáticas. Muitas atividades que na década passada levavam tempo para serem executadas, hoje por um comando faz-se em poucos segundos. Referencia nesse documento os recursos tecnológicos como “o software, a televisão, as calculadoras, os aplicativos da Internet, entre outros” (PARANÁ, 2008. p.65), pois estes favorecem as experimentações matemáticas e aumentam as formas de resolução de problemas. Com o surgimento da internet, o usuário tem a possibilidade de interagir, comunicar-se e também produzir conteúdos e publicá-los na rede. O usuário comunica-se por meio de correio eletrônico, pode participar de salas de discussões ou bate-papo, criar comunidades virtuais de aprendizagem, como também pode criar grupos ou fóruns, pois há uma traça de informações durante essas ações. Tem acesso a sites de domínio público como o portal Dia a dia Educação ou a sites como o YouTube que permitem a divulgação de vídeos produzidos pelos usuários, acesso a rádios web por meio dos podcasts (forma de publicação de arquivos de mídia digital: áudio, vídeo, foto, PPS, etc.), além de blogs, fotologs e videologs. Devemos também salientar a importância do uso da TV pen drive, DVD e data show nas aulas dos educadores. “O trabalho com as mídias tecnológicas insere diversas formas de ensinar e aprender, e valoriza o processo de produção de conhecimentos” (ibidem, p.66). Borba e Penteado (2001, p. 11-18) descrevem em seu livro Informática e Educação Matemática, sobre o debate a respeito das mídias nas duas últimas décadas no Brasil e em outros lugares do mundo. Segundo os autores: Talvez ainda seja possível lembrar dos discursos sobre o perigo que a utilização da informática poderia trazer para a aprendizagem dos alunos. Um deles era o de que o aluno iria só apertar teclas e obedecer a orientação dada pela máquina. Isso contribuiria ainda mais para torná-lo um mero repetidor de tarefas (BORBA e PENTEADO, 2001, p. 11). 32 Conforme leitura do livro, citado acima, constatamos que essa preocupação ainda existe por parte de alguns educadores e em especial na comunidade de educaçao matemática, pois, sempre há um pré-conceito de que no momento que o raciocinio passa a ser realizado por uma ferramenta tecnológica, seja computador, calculadora ou outros, o aluno não precisa mais raciocinar e dessa forma não desenvolverá mais sua inteligência. Como analisar essas considerações: Uma forma de refletirmos sobre essas perguntas seria reformulá-los dentro do contexto do uso de lápis e papel. Perguntamos: será que o aluno deveria evitar o uso intensivo de lápis e papel para que não fique dependente dessas mídias? Em geral, as pessoas ficam perplexas diante de tal questão. “Como assim?” Parece que não consideram o lápis e o papel como tecnologias, da mesma forma que o fazem com o computador. Para elas, o conhecimento produzido quando o lápis e papel estão disponíveis não causa dependência. É como se a caneta, por exemplo, fosse “transparente” para os que advogam essa posição. Para nós, entretanto, sempre há uma dada mídia envolvida na produção de conhecimento. Dessa forma, essa dependência sempre existirá e estará bastante relacionada ao contexto educacional em que nos encontremos Esse contexto está sempre geográfica e historicamente determinado e sua constituição depende também da disponibilidade de mídias como a oralidade, lápis e papel e a informática. Em matemática, por exemplo, as demonstrações são fruto da disponibilidade da escrita em diversas sociedades (ibidem, 2001, p. 13). Além dos problemas apontados acima, Borba e Penteado (2001) alegam que muitos professores julgam uma utopia a informática na escola devido a questão econômica, pois, como comprar computadores para as instituições escolares, se em algumas delas não há giz e os professores são mal remunerados? De acordo com esses educadores primeiro precisamos melhorar o salário e as condições de infraestrutura das escolas para depois pensar em tecnologia. Mas quem garante que o dinheiro destinado para aquisiçao de tecnologia possa ser desviado e aplicado em salários e infraestrutura? Vejamos um acontecimento recente: o governo privatiza as empresas de telecomunicações, com preços e juros abaixo do mercado, subsidiados pelo contribuinte e impõe uma cláusula nos contratos de privatização que faz com que as novas empresas separem uma parcela de seus faturamentos para o Fundo de Universalização do Sistema de Telecomunicações (FUST) que será utilizado para a compra de equipamento de informática. É dessa fonte que o governo federal utiliza recursos para a compra de computadores para escolas do Ensino Médio em programa lançado em fevereiro de 2001. Em outras palavras, se o dinheiro não for utilizado para comprar computadores e acesso à Internet para as escolas, ele será utilizado para outros fins, relacionados à telecomunicação, mas não para “giz” ou salário (BORBA e PENTEADO, 2001, p.13-14). 33 Não há possibilidades de “desviar” uma verba disponível para aquisição de computadores, internet, enfim tecnologia em nossas escolas para melhoria de salário do professor ou da infraestrutura escolar. Segundo Borba e Penteado (2001), existem educadores que apontam a informática como um poderoso recurso para a solução dos problemas educacionais, esquecendo-se porém de apontar para quais problemas seria a solução. Nessa perspectiva vejamos o que Moran diz: Como em outras épocas, há uma expectativa de que as novas tecnologias nos trarão soluções rápidas para o ensino. Sem dúvida as tecnologias nos permitem ampliar o conceito de aula, de espaço e tempo, de comunicação audiovisual, de estabelecer pontes novas entre o presencial e o virtual, entre o estar juntos e o estarmos conectados a distância. Mas se ensinar dependesse só de tecnologias já teríamos achado as melhores soluções há muito tempo. Elas são importantes, mas não resolvem as questões de fundo. Ensinar e aprender são os desafios maiores que enfrentamos em todas as épocas [...] (MORAN, 2000, p. 137). Segundo Borba e Penteado (2001, p.15), os adeptos à tecnologia salientam que a sua inserção estimula o aperfeiçoamento profissional para que os professores possam trabalhar com a informática, abrindo novas perspectivas para a profissão docente. Outros defendem a utilização do computador devido a motivação que ele traz a sala de aula que é dada pelas cores e o dinamismo. Vahlensieck (2005) exemplifica o uso do computador afirmando que: O professor pode demonstrar um procedimento aos alunos "ao vivo", no computador. Por exemplo, como preencher uma folha de exercícios ou como acessar a Internet [...]. O professor pode criar uma apresentação com um software, como o PowerPoint, para ser usada durante a aula [...]. O professor pode publicar apresentações e outras informações na Internet para que os alunos possam acessá-las. A rede de PCs é igualmente adequada para trabalho em grupo, projetos e workshops (VAHLENSIECK, 2005, p.3). Então podemos utilizar as ferramentas tecnológicas de diversas maneiras e de forma criativa, basta o educador se dispor a fazer a diferença. Segundo Moran (2000, p.137-143) o professor tem muitas opções metodológicas para preparar suas aulas, introduzir um conteúdo, seja presencial ou virtual, inclusive inúmeras formas de avaliá-los. De acordo com o autor não há modelos, pois, “cada caso é um caso”, então: É importante que cada docente encontre o que lhe ajuda mais a sentir-se bem, a comunicar-se bem, ensinar bem, ajudar os alunos que aprendam melhor. É importante diversificar as formas de dar aula, de realizar atividades, de avaliar (MORAN, 2000, p. 137). 34 Logo é necessário mostrarmos aos alunos o que temos a oferecer e o que irão receber ao longo do semestre ou ano. E incentivá-los para o processo de aula e pesquisa e para as tecnologias que iremos utilizar entre elas a internet. Para isso podemos criar uma página pessoal na Internet, onde se cria um espaço virtual de encontro e divulgação das ideias e propostas do professor e do aluno. É importante esse espaço além do presencial. Segundo Moran (ibidem, 2000), o professor pode ainda utilizar-se de ferramentas simples da Internet para melhorar a interação e promover aulas-pesquisa, onde ambos (professor e aluno) procuram novas informações. Por meio da utilização dos recursos tecnológicos citados acima e outros haverá uma integração maior das tecnologias e das metodologias que é trabalhar com o oral, a escrita e o audiovisual, ganhando com isso alunos, professores, enfim a sociedade educacional. 6.4.2. Exemplos No primeiro exemplo descrevemos como Borba e Penteado (2001, p. 39-42) exemplificam uma aula com o uso de mídias com e de modelagem. Descreveram sobre um grupo de alunos de 1995 que escolheram analisar a germinação de sementes de melão. Os alunos poderiam escolher diferentes temas para serem investigados que estavam ligados à música, à Biologia e à Matemática dentre outros. O grupo tentou relacionar temperatura com a quantidade em percentagem de sementes que germinaram. A coleta de dados gerou uma função quadrática. Os alunos utilizaram muito a calculadora no enfoque experimental e chegaram à equação y = 0,15(x-27)2 + 98. Depois de concluída a fase experimental, foi feito o ajuste da curva, com uma função quadrática, para a concretização da experiência. A turma combinou argumentos da Biologia com a Matemática e dessa forma decidiram pela função. Para o feitio dos gráficos utilizou-se de softwares que fazem ajuste das curvas de uma forma simples. Para que todo esse processo acontecesse, foi fundamental o acesso à tecnologia, e dessa forma chegaram a um modelo. No segundo exemplo Vahlensieck (2005, p.6-7), em seu artigo uma aula com uso do software Vision como ferramenta de instrução em um laboratório de Informática. Em primeiro lugar expõe aos alunos técnicas apropriadas de pesquisa na Internet usando computador para a apresentação. Para que todos tenham acesso 35 ao conteúdo aperta uma tecla intitulada Demo no programa e todos visualizam o que professor vê e os teclados e mouses dos alunos são bloqueados para que os alunos prestem atenção ao que professor quer transmitir, após a apresentação da aula os alunos podem minimizar a apresentação e fazer uso da mesma quando houver dúvidas. Os exemplos acima são apenas uma das inúmeras formas de utilização das tecnologias em nossas aulas, que com certeza serão mais criativas e crítica. Autonomia e cooperação ganham espaço cada vez mais significativo, mas, convém salientar que para isso é imprescindível que se tenha uma teoria que oriente a prática num modelo que valorize o ser humano como um ser em construção e em interação com o outro, tendo claros os objetivos com relação ao cidadão que se quer formar e um olhar mais amplo do papel do ser humano na sociedade atual. 6.4.3.Atividade Finalidade: diferenciar metodologia de tecnologia e detectar a importância das mídias tecnológicas no ensino e aprendizagem. Após a leitura “O que é e como devem ser utilizadas as mídias na educação?” e a descrição dos exemplos com uso das mídias assista aos vídeos do youtube: Apresentando o livro: <http://www.youtube.com/watch?v=M1NbUI1TQpo>. Tecnologia ou metodologia:< http://www.youtube.com/watch?v=xLRt0mvvpBk>. Aprende a aprender: <http://www.youtube.com/watch?v=onQrYYFf2to>. Em seguida escreva o que é tecnologia? O que é metodologia? Para que ambas servem? Dificuldades em utilizá-las. (mínimo de uma lauda). Obs: Após a correção, os textos <http://www.leni.swa.com.br/>. 36 serão disponibilizados no site PARA REFLETIR: CORTELLA, M. S. Aprendendo na escola e na ONG. (CORTELLA, M. S. Disponível em: <http://www.auniaofazavida.com.br/websiteufv/upload/files/4865_ Aprendendo_na_escola_e_ na_ONG___Cortella.pdf >. Acesso em: 27 fev. 2010. Unidade 3 – Refletindo sobre as mídias na Educação a Distância. Disponível em:<http://anapaula.pbworks.com/f/Unidade_3.pdf> acesso em: 24 mai. 2010. MORAN, J. M. Desafios da televisão e do vídeo à escola. Disponível em: <htt://www.eca.usp.br/prof/moran/desafio.htm>>. Acesso em: 10 mar. 2008. _____. A integração das tecnologias na educação. Disponível em: <http://www.eca.usp.br/prof/moran/integracao.htm > Acesso em: 10 mar. 2008. 6.5.HISTÓRIA DA MATEMÁTICA 6.5.1. Importância da História para o ensino e a aprendizagem Um dos objetivos de ensinarmos por meio da História da Matemática é buscar na história dos povos desde a sua origem até os dias atuais, conhecimentos matemáticos entendidos de diferentes formas, para assim compreendermos a importância do pensamento matemático que diz respeito à lógica, intuição, formalização, dedução, abstração, axiomatização, teoremas, sistematização, descoberta, generalização e outros. O desafio é relacionar tudo isso com o cotidiano, com a prática e desta forma fazer sentido para a compreensão dos conteúdos que compõe a disciplina e que faz parte de um currículo escolar. Segundo a DCEs (2008): A história deve ser o fio condutor que direciona as explicações dadas aos porquês da Matemática. Assim, pode promover uma aprendizagem significativa, pois propicia ao estudante entender que o conhecimento matemático é construído historicamente a partir de situações concretas e 37 necessidades reais (MIGUEL e MIORIM, apud PARANÁ, 2008, p. 66). Nesse sentido, por exemplo, a geometria plana, também chamada geometria elementar ou Euclidiana pode ser ensinada, narrando seu início na Grécia antiga, e que esta, analisava as diferentes formas de objetos, baseando-se no ponto, reta e plano. Em seguida fazer a demonstração, falar sobre os papiros, sobre Euclides e assim, dando sequência, chegar aos dias atuais. Dessa forma haverá maior entendimento do porque e para que estudar geometria. Logo a história “possibilita ao aluno analisar e discutir razões para aceitação de determinados fatos, raciocínios e procedimentos” (ibidem, p.66). Todavia devemos ter cautela quando propomos atividades em sala de aula, com a utilização da História da Matemática, ela é muito mais que um simples instrumento metodológico, é uma área do conhecimento matemático, um campo de investigação. De acordo com Baroni e Nobre: A necessidade de se pensar a História da Matemática como área de investigação científica nos leva a reflexões outras, que dizem respeito à História da Matemática e suas relações com a Educação Matemática, pois somente a formação do pesquisador em História não basta, pois esse deve ter também o compromisso com a formação de novos pesquisadores, ou seja, a educação (BARONI e NOBRE, 1999, p.130). Fauvel (1997, p.17-18) sustenta que há algumas razões que têm sido apresentadas para justificar o uso da história no ensino de Matemática, dentre elas: ajuda a aumentar a motivação para aprender; humaniza a Matemática; comparara o antigo e o moderno, ajudando a valorizar o moderno; torna a Matemática menos assustadora; proporciona formas de investigações e os alunos percebem que não são os únicos a terem dificuldades, os obstáculos do passado explicam as dificuldades do presente. Dando sequência a leitura, sugere formas de usar a História da Matemática na sala de aula como: mencionar episodicamente os matemáticos antigos; fazer introduções históricas aos conceitos novos; encorajar os educandos a compreender os problemas históricos, dos quais os conceitos atuais que estão aprendendo são resposta; dar aulas de “História da Matemática”, dar atividades baseadas em textos antigos, bem como encorajá-los a fazerem cartazes com a história para que pelo desenho e ou visualização ou outras atividades a compreendam; realizar projetos sobre a atividade matemática do passado do local e usar exemplos críticos do passado para mostrar técnicas e métodos; optar por uma 38 abordagem pedagógica de um tópico em sintonia com o seu desenvolvimento histórico e ordenar e estruturar os temas do programa tendo em consideração o seu enquadramento histórico. Do ponto de vista de Fauvel (1997) vamos à sugestão para professores de D’Ambrósio: Qualquer individuo, durante todo o seu dia, calcula, mesmo sem se aperceber disso, tempo e espaço, e traça planos de ação. Identificar essa matemática do cotidiano é algo que pode ser muito bem explorado pelos professores. É atual, interessante e útil. Um outro exercício interessante, de natureza histórica, é o levantamento de fatos matemáticos numa comunidade. Desde o traçado da cidade (em alguns casos as cidades brasileiras foram planejadas) até a construção e localização de monumentos (D’Ambrósio, 2000, p.255). Segundo Swetz (1997), a História deve ser ensinada de tal forma que o jovem adquira consciência de sua origem, tradição e assim haja sua inserção na sociedade. Diz que quando trazemos a história em nossas aulas de matemática, diminuímos a sua mística absurda, pois “a matemática não é algo mágico e ameaçadoramente estranho, mas sim um corpo de conhecimento naturalmente desenvolvido por pessoas durante 5000 anos” (SWETZ, 1997, p.21). Ainda para o autor com a História percebemos que pessoas cometem erros e encontram soluções para seus problemas, concluem fazendo um registro dos mesmos e dessa forma nos beneficiam com as informações. Diante dos fatos abordados até então, diagnosticamos que ensino da Matemática, pode ser desmistificado e humanizado pela inclusão da História nas discussões em aula. Então, professores e alunos envolvidos em utilizar a História para apontar e compreender a Matemática do cotidiano se empenham de uma forma ou outra seja fazendo planejamentos, modelos ou projetos, levando em consideração o entorno da escola, ou seja, o cotidiano do aluno como uma vasta fonte de pesquisa. 6.5.2.Exemplos da utilização da História na sala de aula Abaixo contemplamos um fragmento de experiências com a História da Matemática no artigo7 “História da Matemática como instrumento para a interdisciplinaridade na educação básica” de Gasperi e Pacheco 7 GASPERI W.N. H.; PACHECO, E. R. História da Matemática como instrumento para a interdisciplinaridade na educação básica. 2008,p.10-13 Disponível em: 39 ATIVIDADE I – Leitura de livros paradidáticos que mencionam tópicos da História da Matemática relativamente aos conteúdos trabalhados. Foram utilizados os livros “O Idioma da Álgebra” e “Equações do 2º Grau” (GUELLI, 1994), entre outros. Cada grupo de quatro ou cinco alunos recebeu um capítulo do livro para ler e estudar. Os alunos deveriam ler e interpretar a história descrita, refazer as atividades apresentadas no livro e confeccionar o material prático sugerido nas questões. Cada grupo fez a apresentação para a turma, do que tinha estudado do livro. ATIVIDADE II – Projeto de Contação de Histórias (da Matemática): Nessa atividade mensal, cada dupla de aluno recebeu uma reportagem de uma revista de circulação mensal a qual contém uma seção sobre um breve tópico da história da matemática. Após a leitura, interpretação e discussão do texto, os alunos fizeram o relato escrito do que leram e, na seqüência, contaram para a turma. ATIVIDADE III – Resolução de problemas históricos: Foram trabalhados “enigmas” como a lápide de Diofante, o desafio da Índia Antiga e o problema da Babilônia. Foi proposto aos alunos que explicassem os seus procedimentos de resolução. ATIVIDADE IV – Textos históricos para introdução de um conteúdo: O professor organizou textos sobre a construção histórica dos conceitos a serem trabalhados, segundo o plano de ensino da série, como: sistema de numeração decimal, funções, matrizes e determinantes, matemática financeira, análise combinatória, etc. Como por exemplo: “Construção histórica do conceito de função, apresentado no material didático – Folhas – produzido, para a 1ª série do ensino médio. Apresentou-se esse material para leitura, interpretação e debate sobre o contexto temporal e abordando os nomes que contribuíram para que se chegassem ao atual conceito, fórmulas, métodos para resolução dos conteúdos trabalhados. ATIVIDADE V – Pesquisa sobre os matemáticos da história: Efetuada após a apresentação do texto histórico, utilizado na atividade IV, citando os matemáticos que contribuíram para a elaboração de alguns conceitos. Em duplas, e numa brincadeira de “amigo secreto”, os alunos sortearam um nome de matemáticos <http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/701-4.pdf?PHPSESSID=20090 71515422567> Acesso em: 04 mar. 2010. 40 citados no texto da atividade anterior. Cada dupla deveria fazer uma síntese de sua história e depois apresentá-la para a turma. ATIVIDADE VI – Uma cronologia da História da Matemática: Foram elaborados alguns slides apresentando a cronologia da História da Matemática, possibilitando a observação da presença de mulheres na história, a contribuição de cada nome para o desenvolvimento dos conceitos atuais, os espaços de tempos compreendidos entre um trabalho e outro em relação à produção matemática do século XIX. A leitura e análise da cronologia abriram um leque de questionamentos que se tornaram passíveis a muitos tipos de pesquisas e discussões. ATIVIDADE VII – Os primórdios da matemática: “Uma viagem pelo Túnel do Tempo”. Alguns slides foram elaborados sobre a evolução, desde o Big-bang (teoria da grande explosão), formação das galáxias, da Via-Láctea, do Sistema Solar, da Terra, a origem da vida, a evolução dos seres vivos, os primatas, o homo sapiens, a revolução agrícola e a revolução urbana, para que os alunos pudessem retirar dali, indícios sobre origem da matemática. ATIVIDADE VIII – A História da Matemática na antigüidade: Civilização Grega. Dividiu-se a turma em grupos de quatro ou cinco alunos. A cada grupo, coube a leitura dos textos previamente elaborados ou a pesquisa sobre as questões abaixo: 1) a história da civilização grega, 2) a filosofia, a economia 3) aspecto religioso, aspecto político 4) geográfico, 5) arte e cultura, 6) contexto matemático (contexto comunitário), 7) matemáticos da época (contexto individual, pessoal). Cada grupo deveria ler e interpretar seu texto ou fazer a pesquisa sobre o tema solicitado e organizar uma forma de apresentação ao coletivo. No final, o professor conduziu um debate, ressaltando a importância da civilização grega como base da matemática, desenvolvimento dos povos e também elucidando como o conhecimento matemático está interligado com outras áreas. 41 6.5.3. Atividades Finalidade: identificar a importância da utilização da História no ensino da Matemática, bem como, elaborar planos de aula que contemplem os conteúdos das séries iniciais do Ensino Fundamental, utilizando a história como estratégia metodológica. 6.5.3.1. Em duplas: Faça leitura do texto sobre a “Importância da História para o ensino e a aprendizagem”, em seguida elenque três justificativas para se ensinar por meio dela. Analise os exemplos tratados nos textos e em seguida pesquise mais sugestões de aplicações e sugira outros exemplos possíveis de serem aplicados de primeiro ao quinto ano. Após a conclusão das atividades acima, fazer um círculo e propiciar um debate visando troca de informações. 6.5.3.2. Em trios elaborar um plano de aula com o uso da história e que contemple um conteúdo de uma das séries iniciais do Ensino Fundamental. Obs: Após a correção, os planos de aula serão disponibilizados no site <http://www.leni.swa.com.br/ > CURIOSIDADES: Vídeo sobre a participação da mulher na Matemática: A Prova - Números Primos de Sophie Germain. Disponível em: <http://www.diaadia.pr.gov.br/tvpendrive/modules/debaser/singlefile.php?id=1553 8> Acesso em: 13 de mar. 2010. 42 Vídeo sobre a História da Matemática: Cifras – parte 1. História da Matemática: Cifras – parte 1. Disponível em: <http://www.diaadia.pr.gov.br/tvpendrive/modules/debaser/singlefile.php?id=1490 9> Acesso em: 13 mar. 2010. Vídeo sobre a História da Matemática: Cifras – parte 2. História da Matemática: Cifras – parte 2. Disponível em: <http://www.diaadia.pr.gov.br/tvpendrive/modules/debaser/singlefile.php?id=149 10 > Acesso em: 13 mar. 2010. 6.6. INVESTIGAÇÕES MATEMÁTICAS 6.6.1. O que é Investigar em Matemática A Investigação surge de perguntas ou dúvidas no grupo de estudo, trabalho ou na sala de aula. O objeto de investigação é o que o grupo tem em mãos. Segundo as DCEs (2008) o que diferencia as investigações matemáticas de outro problema ou dos exercícios é: [...] um problema é uma questão para a qual o aluno precisa estabelecer uma estratégia heurística, isto é, ele não dispõe de um método que permita a sua resolução imediata; enquanto que um exercício é uma questão que pode ser resolvida usando um método já conhecido. Em ambos os casos, todavia, há uma expectativa do professor de que o aluno recorra a conteúdos já desenvolvidos em sala de aula. Além disso, exercícios e problemas são expressos por meio de enunciados que devem ser claros e não darem margem a dúvidas. A solução de ambos e a resposta do aluno, esteja ela certa ou errada, são conhecidas e esperadas pelo professor. Uma investigação é um problema em aberto e, por isso, as coisas acontecem de forma diferente do que na resolução de problemas e exercícios. O objeto a ser investigado não é explicitado pelo professor, porém o método de investigação deverá ser indicado através, por exemplo, de uma introdução oral, de maneira que o aluno compreenda o significado de investigar [...] Na investigação matemática, o aluno é chamado a agir como um matemático, não apenas porque é solicitado a propor questões, mas, principalmente, porque formula conjecturas a respeito do que está investigando (PARANÁ, 2008, p.67). Para tanto uma “investigação é uma viagem ao desconhecido (FONSECA, BRUNHEIRA E PONTE, 2000, p. 4). O aluno fará o possível para encontrar a 43 solução por caminhos não convencionais, muitas vezes ao tentar fazer uma determinada tarefa ou desafio matemático, começará a traçar diversos caminhos com inúmeras hipóteses de soluções de modo a criar verdadeiros cenários de investigação matemática. Logo há somente a certeza do ponto de origem, mas não o de chegada. Enfim as tarefas investigativas promovem a problematização de conceitos matemáticos, levando professores e alunos a serem produtores do conhecimento. Com isso são levados a uma autonomia intelectual, pois terão que explorar, formular, pesquisar e testar hipóteses por meio de pesquisas, então terão que ir em busca do desconhecido pelo conhecido. Segundo Fonseca, Brunheira e Ponte (2000, p. 9-10) para que uma atividade de Investigação Matemática seja realmente significativa, contribuindo realmente com a aprendizagem para os educandos, o educador deve preparar com cuidado suas aulas, definir bem os objetivos, e conforme palavras dos autores “torna-se também necessária uma atitude por parte do professor que deve ser também ela, de carácter investigativo e uma reflexão sobre os objectivos que se pretendem atingir com a realização de actividades de investigação” (FONSECA, BRUNHEIRA e PONTE, p.9). Segundo os autores o professor deve estar inserido no contexto da escola, onde a prioridade é participar na integra da elaboração do currículo em todas as suas instâncias. Ele precisa decidir sobre qual será a nota atribuída às atividades de investigação, bem como a relação das mesmas com o conteúdo do currículo a ser estudado. Sendo de relevância decidir se os conteúdos surgirão a partir das atividades ou depois delas. Logo, baseada em Fonseca, Brunheira e Ponte (2000) concluímos que preparar uma aula que usa a Investigação Matemática como metodologia, requer preparo das aulas quanto a selecionar e reformular para adaptar ou construir a tarefa, além disso, ainda existe a questão do desafio que é estimular o aluno a investigação. Então às questões devem ser abertas, interessantes, baseadas em pesquisa em vários materiais, mídias, livros e outros. Além de ter que desenvolver a criatividade para dar vida a tarefa ainda há a questão que deve ser levado em conta que é a faixa etária, o nível matemático, interesses e outros fatores. Ainda conforme os autores (ibidem) há três fases distintas onde a primeira é a introdução da tarefa que deve ser breve e envolver a gestão do trabalho da equipe, podendo também falar em linhas gerais da atividade. A segunda trata-se da realização da tarefa onde 44 deverão ser dadas dicas que poderão auxiliá-los e por último a discussão e o envolvimento de todos na mesma. 6.6.2. Exemplos de atividades investigativas 6.6.2.1. O primeiro exemplo é de Fonseca, Brunheira e Ponte (2000, p.5) é relativo a uma aula de duas horas, aplicada numa turma de 5º ano de Portugal, em que foi proposta uma tarefa de investigação, em grupos, intitulada “Potências e Regularidades”. 1. O número 729 pode ser escrito como uma potência de base 3. Para verificá-lo basta escrever uma tabela com as sucessivas potências de 3: 32= 9 33 = 27 34 = 81 35 = 243 36 = 729 a) Procura escrever como uma potência de base 2 64 = 128 = 200 = 256 = 1000 = b) Que conjecturas podes fazer acerca dos números que podem ser escritos como potências de base 2? E como potências de base 3? 2. Observa as seguintes potências de base 5: 51 = 5 52 = 25 53 = 125 54 = 625 a) O último algarismo de cada uma destas potências é sempre 5. Será que isso também se verifica para as potências de 5 seguintes? b) Investigar o que se passa com as potências de 6. c) Investigar também as potências de 9 e as de 7. 45 6.6.2.2 O segundo exemplo é uma síntese de uma atividade Investigativa realizada com os alunos da 1a série do Ensino Médio, em 2006, com 43 alunos, aplicado pelo Professor Paulo e acompanhado pela Dra Edda Curi. Quando souberam que iriam investigar, a turma ficou agitada pelo fato de ser uma atividade diferente e com um atenuante, nunca haviam feito relatório na aula de Matemática. A opção para iniciar a tarefa foi um diálogo que abordava a proposta das atividades levando em consideração o tempo de aplicação, nota, organização dos grupos, bem como esclarecia as dúvidas para a execução das mesmas. Os alunos foram distribuídos em grupos de três alunos e todos receberam a tarefa ao mesmo tempo, para que efetuassem a leitura, fizessem uma análise e descrevesse na própria folha, da forma que achasse conveniente, sem a preocupação de apagar por falta de espaço, com direito a mais folhas se houvesse necessidade. A seguir, a atividade investigativa proposta para os alunos intitulada “Exploração com números”: Atividade 1- Exploração com números Procure descobrir relações entre os números: 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 Registre todas as conclusões que for obtendo. 6.6.3. Atividades Finalidade: Compreender a importância da Investigação Matemática para o processo de ensino e aprendizagem e vivenciá-la ao elaborar um plano de aula com essa Tendência Matemática. 46 Investigando a proporcionalidade8 6.6.3.1. No calçadão de Cascavel, um quiosque possui a seguinte tabela de preço para pão de queijo: Numero de Pães R$ 1 0,25 3 0,50 6 1,00 8 1,50 12 2,00 Um grupo de três amigos pretende comprar pães de queijo. Observando os valores da tabela e suas respectivas porções. Pergunta-se: a) Supondo que cada um coma no máximo 6 pães de queijo, investigue qual a porção mais econômica? Justifique a sua escolha. b) E se fossem dois amigos na mesma situação anterior? c) E se fosse apenas uma pessoa? Escrevam suas conclusões. 6.6.3.2. Em equipes de três alunos elabore um plano de aula9, detalhando cada passo, para uma das séries iniciais do ensino de nove anos, utilizando a Investigação Matemática como metodologia para o ensino e aprendizagem. Em seguida utilize uma mídia tecnológica e apresentem o plano para os demais colegas, que deverão ao término da explanação, avaliar, bem como sugerir ideias ou tópicos se assim preciso for. 8 Questão elaborada pelas Professoras PDEs Vera B. dos Santos, Marinez Peccin, Jaqueline Vazzoller e Leni R. S. Saggin em curso de Capacitação. 9 A correção será disponibilizada no site: <http://www.leni.swa.com.br/ >. 47 6.7. MODELAGEM MATEMÁTICA 6.7.1. História e conceito No século XXI vivenciamos tecnologia de ponta, avanços na medicina que sequer imaginávamos, ficamos surpreendidos com as descobertas a cerca do cosmos e o avanço da genética, bem como seus processos de clonagem entre outros. Nessa constante evolução e, na consequência dela, a Matemática se faz presente, sendo fundamental para compreensão do mundo que nos rodeia. Nesse prisma entra a Modelagem Matemática, enquanto estratégia de ensino, num ambiente contextualizado que inclui vivências sócio-escolares, construção e fortalecimento do conhecimento, garantindo uma aprendizagem significativa e proporcionando ao aluno uma visão global de seu entorno. De acordo com BIEMBENGUT : [...] Aristides C.Barreto, foi o primeiro a realizar experiências com modelagem na educação brasileira e, ainda, a representar o Brasil em congressos internacionais apresentando trabalhos sobre o tema, além de divulgar seus trabalhos em cursos de pós-graduação, artigos em revistas e anais de congressos; e Rodney C. Bassanezi, um dos maiores disseminadores, em especial por meio dos cursos de formação continuada que ministrou e de pós-graduação de modelagem que coordenou em diversas instituições de quase todos estados brasileiros. [...] esses dois precursores, em particular, deram impulso significativo para a implantação e a disseminação da modelagem matemática na educação brasileira. Os resultados de suas experiências inspiraram neles uma atmosfera de otimismo sobre as possibilidades da modelagem. Ao passarem a divulgar suas atividades ou pesquisas realizadas por meio de preleção, despertaram o interesse de muitos professores, que a partir de seus entendimentos os levaram a novas atividades e até novas pesquisas. Pesquisas ou atividades que divulgadas, em outra instância, em processo cíclico, despertaram novos interesses (BIEMBENGUT, 2009, p.4). Depois dos precursores destacados acima surgiram vários pesquisadores adeptos à Modelagem Matemática. Conceituaremos essa Tendência baseando-nos em alguns desses autores. Bassanezi diz que “A modelagem consiste, essencialmente, na arte de transformar situações da realidade em problemas matemáticos cujas soluções devem ser interpretadas na linguagem usual” (BASSANEZI, 2002, p.24). Biembengut acrescenta que: Modelagem Matemática é o processo que envolve a obtenção de um modelo “[...] a Modelagem Matemática é, assim, uma arte ao formular, resolver e elaborar expressões que valham não apenas para uma solução particular, mas que também sirvam, posteriormente, como suporte para outras aplicações e teorias (BIEMBENGUT, 2005, p. 13). 48 Reforçando Veronez diz que “Modelagem Matemática é um processo que parte de uma situação real, passa pela obtenção de um modelo e pela análise e interpretação de sua solução, confrontado-a com a situação estudada” (VERONEZ, 2009, p.1014). “Para Burak (1987), a Modelagem Matemática resume-se a um conjunto de procedimentos para tentar explicar, matematicamente, os fenômenos do cotidiano do homem que irão ajudá-lo na tomada de decisões” (BURAK apud SCHEFFER,1999, p.12). D’ Ambrósio (1996) tem como visão da Modelagem Matemática uma interação do conteúdo a ser ensinado com o que o aluno vivencia no cotidiano, quer dizer associar com a realidade. “a Modelagem é um processo muito rico de encarar situações reais, e culmina com a solução efetiva do problema real e não com uma simples resolução formal de um problema artificial” (D’AMBRÓSIO apud SILVA, 2007, p. 219). Baseada nas definições acima se percebe claramente que a Modelagem Matemática possui uma linguagem matemática, que envolve símbolos e situações do cotidiano, que tem como objetivo a obtenção de um modelo que venha resolver o proposto e que valha como suporte para diversas aplicações. 6.7.2.Modelagem Matemática como estratégia de ensino na formação de professores Rompermos com o isolamento que se observa na escola em relação ao mundo que a rodeia é um dos objetivos almejados por muitos educadores. O fracasso escolar de alguns alunos é frequentemente atribuído aos métodos pedagógicos inadequados que reduzem a motivação dos alunos e em pouco contribuem para a aprendizagem. Para combatermos esse insucesso citado acima buscamos maneiras diferenciadas para ensinar e uma delas é por meio da Modelagem Matemática. Podemos dizer segundo Biembengut e Hein (2005) que a Matemática e a realidade são ligadas pela Modelagem Matemática. Segundo Biembengut e Hein (2005), a Modelagem Matemática é o processo que envolve a obtenção de um modelo, e este, de certa forma é artístico, pois ao elaborarmos um modelo, usamos além da Matemática, criatividade, imaginação, um 49 jogo com a simbologia. Poderíamos dizer que há uma dose de intuição na elaboração do modelo, pois, ao tomarmos uma decisão é preciso escolher a melhor maneira ou caminho, só dessa forma encontrar-se-á a solução para o problema evidenciado. Então: [...] modelagem matemática no ensino pode ser um caminho para despertar no aluno o interesse por tópicos matemáticos que ele ainda desconhece, ao mesmo tempo em que aprende a arte de modelar, matematicamente. Isso porque é dado ao aluno a oportunidade de estudar situações-problema por meio de pesquisa, desenvolvendo seu interesse e aguçando seu senso crítico ( BIEMBENGUT e HEIN, 2005, p. 18). Para Scheffer (1999, p 11-16), a Modelagem Matemática é uma estratégia que se utiliza de ações que envolvem a realidade Matemática, levando o educando a pensar, proporcionando escolhas e desenvolvendo atitudes positivas no desenvolvimento do conteúdo. Logo a Modelagem Matemática abrange a problematização que busca uma situação interesse dos alunos, o cognitivo, pois leva o aluno a pensar num modelo para encontrar a solução, o afetivo, pois o envolve integralmente com a atividade proposta. Ainda ressalta que considerada como uma alternativa, a Modelagem Matemática, aplicada de maneira inovadora, com a participação de todos os alunos, conduz, num primeiro momento, à valorização da matemática contextualizada e, num segundo instante, à vontade de conhecê-la, explorá-la, redescobri-la e, principalmente, sentir o gosto pelo aprender. Desta forma os alunos irão sentir-se motivados para o estudo, pois vivenciam a aplicabilidade da Matemática e com a dinâmica terão facilidade em compreender as ideias matemática e associá-las a outros assuntos, além de desenvolverem a habilidade de encontrar soluções para problemas do dia a dia tornando-se sujeito atuante na sociedade. No entanto, o processo educacional vai muito além da transmissão do conhecimento. Além de adquirirem conhecimento matemático, os alunos devem ter uma noção de responsabilidade em relação aos outros e a sociedade, saber conviver com justiça, respeito e solidariedade, praticar a participação democrática efetiva, entre outras atitudes e comportamentos, e também adquirir, através da formação escolar, habilidades para um contínuo aprendizado (FERREIRA e WODEWOTZKI, 2007, p.115). D’Ambrosio (2002) lembra que um grande desafio de professores de Matemática é o de aliar a Matemática aos tempos modernos e menciona que uma das soluções para enfrentar esse desafio é a Modelagem Matemática, tendo em vista que a mesma leva o educando a vivenciar os conteúdos do currículo, dando 50 mais significado aos argumentos matemáticos. Também convém salientar que essa metodologia pressupõe o ensino pela pesquisa, possibilitando que se tragam para a sala de aula os mais diversos temas possíveis, sempre vinculados à realidade do aluno. Logo verificamos que a modelagem é a ligação entre o mundo que circunda a escola, do conhecimento informal com o conhecimento formal e cientifico das instituições escolares, pois cria situações para que o aluno aprenda conceitos matemáticos e sociais, desenvolvendo senso crítico e muita criatividade, tudo isso no contexto real e escolar. É imprescindível que a escola assuma um papel mais significativo na formação de professores oferecendo-lhes muito mais que conceitos, teoremas e definições, pois dessa forma repassarão os conhecimentos que a sociedade pratica e atenderão o que ela busca que é a formação de pessoas que participem das decisões da comunidade, com equidade social, consciência política e ambiental. Os futuros professores devem receber subsídios teóricos aliados à prática que os levem à reflexões de suas práticas educativas, para que dessa forma não repassem conhecimento de forma mecânica, rotineira, conteudista. Então, haverá uma superação de paradigmas e surgirão novas formas de educar, respaldadas na reflexão e consciência crítica. Para aquisição desses conhecimentos é necessário uma prática educativa democrática em que todos possam participar. Segundo Dias e Almeida: A modelagem matemática na formação docente visa alcançar, de certa forma, uma autonomia em relação ao conhecimento profissional, pois quando aplicada em sala de aula em qualquer nível de ensino, pode implicar processos complexos de pensamento. O que certamente uma atividade de modelagem matemática requer é o envolvimento e a criatividade dos alunos [...] Deste modo, coloca-se a necessidade de proceder a alterações ao processo de ensino e aprendizagem da Matemática, nomeadamente, no que diz respeito à mudança dos seus objetivos, das estratégias e das tarefas a propor aos alunos em situação escolar. Estas alterações devem ser absorvidas pelo professor [...]. portanto, no que se refere à prática docente e as inovações ou mudanças é preciso e necessário que o professor vá processando a própria dinâmica de operacionalização das novas idéias, assumindo a postura que o aprendizado é melhor construído à medida que mais se caminha na direção do conhecimento (DIAS e ALMEIDA, 2004, p.7). Logo, a Modelagem Matemática na formação de educadores das séries iniciais tem um importante papel na sociedade, ao desenvolver reflexões durante o 51 processo do fazer, sobre as soluções encontradas e também sobre a prática docente futura. Dias e Almeida (2004) relacionam a Formação de Professores e Modelagem Matemática enfatizando que: O professor assume um papel diferenciado em um ambiente de Modelagem Matemática. Nesse contexto, o professor deve incentivar o espírito crítico, a reflexão e a procura de argumentos e razões que permitam aos alunos confirmar ou não as suas conjeturas. Durante a fase de discussão cabe ao professor estimular a comunicação entre os alunos. Ao organizar a fase de discussão coletiva o professor deve conhecer bem os trabalhos de todos os grupos de alunos de modo a valorizar tanto as descobertas mais interessantes como as mais modestas. Por vezes, pode ser útil o professor proporcionar um momento de discussão durante a realização da tarefa com o objetivo de ajudar os alunos a ultrapassar certas dificuldades, de motiválos em fases mais críticas do trabalho, ou mesmo de enriquecer a investigação sobre a atividade a ser realizada. A discussão final sobre a atividade e conclusões dos alunos é também uma boa ocasião para promover a reflexão sobre o trabalho (DIAS e ALMEIDA, 2004, p. 6- 7). Ainda salientam (ibidem) que na profissão de professor alguns gostam de situações problemas desafios e outros a rejeitam. Então é necessário propiciar uma formação que objetiva experiência positiva com o uso da Modelagem Matemática. O educador só colocará em prática na sala de aula o conteúdo que adquiriu conhecimento e com isso segurança, assim devem vivenciar situações de modelagem durante sua formação. 6.7.3.Exemplos de atividades envolvendo modelagens matemáticas realizados por pesquisadores em educação. No primeiro exemplo parafraseamos o exemplo de Modelagem Matemática aplicado por Carvalho, Queiroz e Rezende (2005. p.1), envolvendo embalagens, percebemos que foi possível trabalhar geometria plana e espacial, funções e cálculo de área e volume com os alunos da educação básica. Os alunos da primeira série trabalharam a proposta do Ensino Fundamental, ao analisar o custo das embalagens de biscoitos de forma cilíndrica e paralelepípedos de base quadrada. Os autores relatam que no primeiro momento houve dificuldade por parte dos alunos em responder qual a forma de embalagem mais econômica e compreender a planificação das mesmas, mas efetuados os cálculos de função, área, perímetro e volume, a dúvida foi se dissipando e tornando a aprendizagem, conforme palavras dos autores, “prazerosa”. Os alunos da terceira série trabalharam a proposta do 52 Ensino Médio que era volume máximo a partir de uma placa plana para construir uma caixa sem tampa de um material disponível, envolvendo geometria plana e espacial. Ao término da modelagem obtiveram êxito e chegaram a um modelo capaz de solucionar a pergunta inicial. Pela modelagem acima constatamos que a ligação da Matemática escolar com a Matemática da vida cotidiana do aluno tem um papel importante no processo de escolarização do indivíduo, pois dá sentido e significado ao conteúdo estudado. No segundo exemplo temos a problematização do tema “A erva Mate”: a Prática de Modelagem Matemática desenvolvida com alunos de 5 série e professores do ensino fundamental; envolveu desde técnicas do plantio e colheita da erva mate até sua industrialização e comercialização. Os alunos foram até uma ervateira para estudar todo o processo de industrialização, os diferentes tipos de erva-mate produzida e o processo de embalagem para comercialização, possibilitando assim o estudo do custo na produção e do lucro nas vendas (SCHEFFER, 1999, p.11-16). Logo por meio da modelagem proposta e vivenciada acima a autora descreve uma das formas de encarar o ensino de matemática de forma agradável para ambas as partes, professor e aluno, pois o interesse pela disciplina não pode ser restrito a definições e ao fato de mais tarde ser aplicada. No terceiro exemplo relatamos em síntese o percurso em que Dias e Almeida (2004, p. 8-10) descrevem encontrar o modelo matemático para o peso das mochilas. É uma pesquisa de campo com professores que fizeram grupos estudos orientada pelas autoras Dias e Almeida, logo após desenvolveram atividades de Modelagem Matemática. O relato a seguir é do trabalho de Modelagem Matemática de uma Professora que realizou com uma da 5a série. Devido à ênfase na divulgação dos meios de comunicação sobre os fatores prejudiciais do peso das mochilas que as crianças carregavam o objetivo foi encontrar um modelo para o cálculo da massa das mesmas. Os alunos da 5 a série foram divididos em grupos e uma das informações repassadas e obtidas de orientações médicas foi de que a massa da mochila não ultrapasse a 10% da massa do aluno. Para dar início ao estudo foi preciso coletar alguns dados sobre a gramatura da folha de papel, caderno e livro bem como as dimensões das folhas de ambas e a massa do estojo. Depois de coletada as informações passou-se a fase de levantamento de hipóteses, para definir as variáveis do problema. Analisaram-se os 53 dados coletados por meio de regra de três proporcionalidades, e dessa forma foi possível encontrar a massa de cada folha e caderno. Após diagnosticar que os cadernos pesquisados tinham 96 folhas e duas capas, encontrou-se a massa de um caderno por meio do modelo “96 folhas. 3,136g + 2 capas . 6,72g = 314,496g. Sabendo a quantidade de caderno e folhas dos livros encontrou-se a massa total que o aluno carrega diariamente pelo seguinte modelo: M = 300 + 314,496 . x + 171, 0072 . y + 3,024 . z, sendo que x é a quantidade de cadernos universitários, y são os cadernos de brochura e z a quantidade de livros. Por meio desse trabalho a professora pode abordar vários conteúdos curriculares, além da conscientização dos malefícios que o excesso de peso nas mochilas traz para saúde. No quarto exemplo nos reportamos a Biembengut e Hein (2005, p. 31-124) que sugerem em seu livro “sete propostas-modelos para ensinar Matemática”, intitulados: embalagens, construção de casas, a arte de construir e analisar ornamentos, razão áurea, abelhas, cubagem de madeira e criação de perus. Todos os temas abordados foram trabalhados pelos autores seguindo as três etapas fundamentais da modelagem no ensino – modelação: interação (síntese do tema ou informações essenciais, do qual saíra a questão norteadora), matematização (formulação e resolução do problema para chegar a um modelo) e modelo. Das propostas acima escolho construção de casas para descrever, pois são apresentados fatos importantes para construção de uma casa, e sugere-se que os alunos façam uma planta baixa e uma maquete. Os conteúdos matemáticos abordados são geometria plana, espacial, sistemas de medidas, produtos notáveis, relações métricas do triangulo retângulo, porcentagem, dentre outros. Pode começar-se com uma discussão informal, para saber o que os alunos sabem sobre construção de casa, em seguida pedir que façam uma planta baixa de casa, de forma livre, para saber em que nível de conhecimento o aluno se encontra, a partir desses esboços podemos apresentar os primeiros elementos da geometria. Passo a passo orientam-se os alunos dependendo do grau de escolaridade, sobre proporção, sobre quanto do terreno a casa ocupará, escala e, em seguida pode-se pedir que façam uma nova planta baixa de acordo com as especificações exigidas, e depois a maquete, relatando, discutindo e comentando cada item. Vale à pena lembrar que o grau de profundidade de conhecimento depende da série que se efetivará a modelagem. 54 7. EXPERIÊNCIA COM O USO DA MODELAGEM MATEMÁTICA A SER REALIZADA NA INTERVENÇÃO O QUE PRETENDEMOS: Estabelecer significado para o conteúdo curricular escolar. Utilizar diferentes fontes de informação e recursos tecnológicos para adquirir e construir conhecimentos. Estimular o interesse, a curiosidade e o espírito de investigação e pesquisa; 7.1.MODELAGEM COM PIPAS PROBLEMÁTICA: Para ensinar conteúdos curriculares de Geometria básica um professor pretende confeccionar pipas simples com os seus alunos. Quais modelos de pipas são os mais adequados para obter o melhor aproveitamento da folha de papel?(papel seda) Finalidade: Com essa atividade espera-se que os alunos sejam capazes de: Interagir com os colegas de modo cooperativo; Identificar a simbologia matemática ao dispor ideias a respeito das formas e polígonos encontrados, levando em consideração os lados e ângulos; Transformar as informações obtidas na confecção e na análise dos polígonos que formam a pipa em conhecimento científico. Resgatar com o lúdico uma brincadeira popular. 55 7.1.1.Pesquisa e escolha do modelo Os alunos em duplas, acompanhados da professora dirigir-se-ão ao laboratório de Informática para efetuar pesquisa sobre: História das pipas; Dicas para empiná-las e normas de segurança; Modelos de pipas, acessórios e materiais para confeccioná-la. Depois de efetivada a pesquisa, cada dupla juntar-se-á com outras duas duplas para trocarem informações a respeito da pesquisa realizada e socialização dos mesmos. Em seguida as duplas unir-se-ão com outras duas, formando equipes de 6 alunos para tabelar os modelos de pipas e materiais necessários obtidos durante a pesquisa, logo após, dar-se-á início a confecção. À medida que as pipas forem sendo confeccionadas, a equipe deverá tabelar as medidas dos lados, das varetas e do barbante, bem como, transpor as pipas em forma de desenho (planta baixa) livremente, numa escala menor para o caderno, colocando as medidas reais da pipa. 7.1.2.Momento lúdico, apresentação dos resultados em plenária e relatório Terminado essa etapa, a turma dirigir-se-á para o pátio do Colégio, mais precisamente ao campo de futebol, onde não há rede elétrica, para o momento lúdico, o de empinar as pipas. Ao término da atividade lúdica os alunos individualmente ou em grupo deverão apresentar suas expectativas e relatar a experiência de todo o processo. Logo após, em uma plenária, haverá a exposição dos resultados e discussão dos pontos positivos e negativos. 7.1.3.Considerações Com a modelagem proposta objetiva-se escolher o modelo e tamanho de pipa simples que efetivamente empine e que a folha de papel seda usada para o feitio 56 seja aproveitada da melhor forma, tabelar os resultados e transpor as pipas em forma de desenho (planta baixa) livremente, numa escala menor para o caderno, colocando as medidas reais da pipa. Ao propor essa modelagem pretendemos chegar aos conteúdos curriculares das séries iniciais do ensino básico referenciados a seguir: área, perímetro, diagonais, retas paralelas, retas concorrentes e ângulos. Lembramos que farão o experimento alunos da terceira série do Curso de Formação de Docentes, logo, pode-se trabalhar semelhança de polígonos e bem como outros conteúdos que possam surgir. 7.2.MODELAGEM COM DADOS COLETADOS NA MADEIREIRA Problemática: Qual a melhor maneira de dispor toras ou tábuas no caminhão da Empresa Menin de forma a transportar o máximo possível de madeira? Finalidade: Com essa atividade espera-se que os alunos sejam capazes de: Visualizar um objeto tridimensional para representá-lo no plano; Encontrar um modelo para: os cilindros, empilhamento de cilindros, tábuas e outros; Pesquisar a origem e a finalidade de cada espécie de madeira (questão ambiental); 7.2.1.Visita à madeireira para coleta de informações A turma de aproximadamente 30 alunos deslocar-se-á de ônibus para a madeireira Menin que fica no interior do município, aproximadamente 10 km, onde proprietário junto da esposa e filhos (já que se trata de uma empresa gerenciada pela família), previamente avisados os esperará e os acompanhará durante toda a visita. Os alunos comparecerão com papel e caneta para efetuarem as anotações/observações, com perguntas previamente estabelecidas, além das que podem surgir durante o passeio. 57 7.2.2.Pesquisa e escolha do modelo Nas primeiras aulas da disciplina após a visita, formarão equipes de 3 a 4 alunos e unirão as informações em forma de relatório. Acompanhados da professora irão ao Laboratório de Informática para pesquisar a respeito das espécies de madeira e da sua utilidade, para confirmarem as informações obtidas na madeireira. Essa parte da pesquisa também deverá constar no relatório. Após o retorno do laboratório de informática, com os dados coletados, os alunos farão os desenhos de todos os tipos de sólidos vistos durante a visita e elaborarão um modelo para área total, volume e perímetro dos prismas. Em seguida por meio de hipóteses e tentativas encontrarão um modelo da melhor maneira de dispor toras e tábuas no caminhão da Empresa Menin de forma a transportar o máximo possível de madeira. 7.2.3.Considerações Com a modelagem proposta na madeireira objetiva-se a melhor maneira de dispor toras ou tábuas no caminhão da Empresa Menin de forma a transportar o máximo possível de madeira. Durante a visita será coletado dados como diâmetro e comprimento das toras de reflorestamento e da madeira já beneficiada o comprimento, largura e altura, para depois em aula, tabelar os dados pesquisados, transpor os sólidos para o caderno em forma tridimensional ou desenho (planta baixa) livremente, numa escala menor para o caderno, colocando as medidas reais das madeiras (cilindros e prismas). Por se tratar de uma turma de terceiro ano profissionalizante de futuros professores, os alunos deverão chegar a um modelo de volume e área total, mas, devemos lembrar que nas séries iniciais do Ensino Fundamental esse conteúdo não é abordado, levando apenas a modelagem às formas dos sólidos e a transposição dos mesmos em forma de desenho com as medidas e identificação em seu caderno. 58 8. AVALIAÇÃO DE AMBAS AS ATIVIDADES DE MODELAGEM MATEMÁTICA As atividades serão avaliadas por meio: Da participação dos grupos nos estudos propostos, bem como na elaboração dos planos de aula; No relato das experiências; No modelo encontrado; No relatório impresso e apresentado em plenária. 9.CONSIDERAÇÕES FINAIS Para que sejam superadas as dificuldades de aprendizagem manifestadas nas turmas das séries iniciais do ensino de nove anos, propõe-se que os futuros professores utilizem as Tendências em Educação Matemática. Para que isso ocorra é necessário que esse “professor” desenvolva práticas pedagógicas diferenciadas. Isso implica na aquisição de conhecimento teórico/prático e na vivência de experiências de ensino e aprendizagem. Mais do que utilizar uma abordagem, o professor deve refletir sobre sua prática e perceber que a utilização das abordagens é capaz de auxiliá-lo nesse processo, tornando-o um profissional consciente de sua postura e apto a adaptar sua prática de intervenção às verdadeiras necessidades dos alunos, passando de uma Matemática acrítica para uma Matemática contextualizada, em que o propósito maior é que o aluno consiga desenvolver-se de maneira reflexiva e consciente. De acordo com Siqueira (2007, p. 45), a formação de professores deve visar não treinadores ou repassadores de conteúdo, mas sim educadores que estimulem o pensamento e o despertar para o conhecimento. Conhecimentos que não precisam ser realizados ou adquiridos necessariamente em uma sala de aula, mas sim, em torno do nosso aluno. Respeitar e utilizar o conhecimento adquirido pelos alunos já é uma grande estratégia de intervenção, e tentar fazer os alunos participarem do processo de concepção de sua aprendizagem pode ser um caminho para dar à Matemática uma contextualização muito mais evidente. 59 Quando analisamos os conceitos e exemplos propostos no caderno pedagógico percebemos que as Tendências possuem ligação, por exemplo, na Resolução de Problemas recaímos em uma modelagem no momento que encontramos um modelo para a solução ou dependendo do caso em uma Investigação Matemática. Os problemas que mais chamam atenção são aqueles que refletem ligação com a realidade social e cultural, logo, temos a Etnomatemática. As tendências em si utilizam-se da Informática para pesquisa, resolução, registro e outros. A certeza que temos é que no contexto didático é importante e urgente que mudemos nossa forma de ensinar. Pensando nesse processo de construção do conhecimento, os alunos serão muito mais participativos nas aulas. Poderão participar das discussões, trocarem ideias, participar da prática (vivência da Modelagem Matemática), será uma excelente reflexão. Os alunos terão a oportunidade de inserirem-se ao grupo de forma participativa, compreendendo mais a importância da atividade e colaborando, assim, com seu aprendizado. Logo para que tenhamos êxito em Metodologia da Matemática com os alunos do Terceiro Ano do Curso de Formação de Docentes – Modalidade Normal e, consequentemente, estes com seus futuros aprendizes, a formação tanto dos futuros professores, quando de seus próximos alunos deve estar pautada nas Tendências da Educação Matemática. Para isso, é preciso contextualizar o ensino e a aprendizagem de uma maneira geral, fazendo com que os alunos percebam o significado de tudo que realizam, sejam atividades teóricas ou práticas. Este caderno pedagógico se propõe a contribuir com reflexões referentes às Tendências em Educação Matemática para futuros professores dos anos iniciais do Ensino Fundamental e vivenciar a Modelagem, pois entendemos que formando alunos reflexivos, criativos, críticos, isto é, se a formação como um todo estiver sendo bem feita no processo de formação inicial do professor, o processo de ensino e aprendizagem encontrará sucesso nas aulas de Matemática, desde os primeiros anos da escolarização. 60 10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARONI, R. L. S.; NOBRE, S.A Pesquisa em História da Matemática e suas Relações com a Educação Matemática. In: BICUDO, M. A. V. Pesquisa em Educação Matemática: concepções e perspectivas. São Paulo: Editora da Unesp, 1999. Capítulo 7, p. 129-136. BASSANEZI, R. C. 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