As pequenas prometem
Por Karla Spotorno e Antonio Perez | De São Paulo
Os investidores em ações de empresas de pequeno valor de mercado começaram o ano
com uma dúvida tão grande quanto a rentabilidade que conquistaram em 2012. Ainda dá
para lucrar com as chamadas small caps? Após altas de até 150% somente entre os
papéis do segmento reunidos em um índice da BM&FBovespa, é natural - e saudável que o aplicador questione o fôlego deste universo de companhias. Segundo
especialistas, ainda existem oportunidades em setores como o de educação, por
exemplo, mas, de forma geral, será necessário redobrar a atenção, o que implica uma
seletividade ainda maior do que no passado.
Uma prova desse desafio é que duas companhias de educação, Kroton e Estácio, foram
justamente as campeãs de rentabilidade em 2012. Garimpar nesta área, portanto, não
será tarefa fácil. Outros destaques ficaram por conta da fabricante de calçados
Grendene, do frigorífico Minerva e de Valid, companhia de sistemas de identificação e
certificação. Na média, esses papéis subiram praticamente quatro vezes mais que as
ações das grandes empresas. O índice da bolsa que reúne as small caps (SMLL) fechou
o ano passado com alta de 28,67%. O Ibovespa, indicador mais relevante do mercado,
subiu 7,40% no mesmo período.
Os
gestores
de
fundos
especializados em small caps
estão otimistas para 2013.
Dizem que ainda dá para ganhar
e, em alguns casos, com as
mesmas apostas do passado. "O
fato de uma ação ter subido
muito não significa que ficou
cara", afirma Werner Roger,
sócio da Victoire Brasil
Investimentos e gestor do fundo
líder em rentabilidade no
segmento em 2012, com
52,21%. Uma dessas apostas é
Marcopolo. A ação preferencial
da fabricante de ônibus e microônibus avançou 87,03% no ano
passado e tende a subir mais
com o financiamento a juros maternais do Programa do BNDES de Sustentação do
Investimento e outras medidas do governo para estimular a produção industrial, diz
Roger. "Cerca de 65% das posições do fundo têm se mantido iguais nos últimos três
anos. Neste período, a carteira teve uma alta de 98,1% e o Ibovespa caiu 11,1%."
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Ajustes no portfólio também podem ser necessários, afirmam alguns especialistas. É o
caso de Frederico Tralli, chefe da área de renda variável da gestora do banco BNP
Paribas, cujo fundo de small caps subiu 37,01% em 2012. Tralli diz que foram
reduzidas as posições em construção e infraestrutura. Já os papéis de companhias de
saúde, que, ao lado de educação, foram uns dos destaques do fundo em 2012, deixaram
a carteira. "Não vejo mais potencial de alta do setor [de saúde], que pode sofrer com
queda das margens este ano", diz Tralli, que segue otimista com educação e vê
oportunidades em consumo. "As small devem dar um bom retorno, mas o investidor terá
que ser mais seletivo."
Natalia Kerkis, diretora de renda variável da HSBC Global Asset Management, também
ressalta que a seletividade será fundamental neste ano. Ela atribui parte da valorização
expressiva das small caps em 2012 ao fato de muitos investidores terem buscado refúgio
em ações do mercado doméstico em meio à crise externa e ao tombo das elétricas,
tradicional alternativa defensiva.
A busca por empresas com negócios ligados à economia local, diz, provavelmente se
repetirá neste ano, mas com menos intensidade. Muitos investidores podem preferir
garimpar oportunidades em papéis ligados ao mercado global, que sofreram muito em
2012. "Isso pode prejudicar o desempenho das 'small' em alguns momentos", afirma
Natalia. "No entanto, para quem pensa no longo prazo, essas empresas continuam mais
interessantes que as grandes."
Mas há também notas dissonantes entre os gestores quando o tema são as pequenas da
bolsa. Para Roque Sut Ribeiro, sócio-gestor da Fides Asset Management, papéis de
setores como consumo e varejo subiram exageradamente no ano passado. "Está tudo
muito caro, essas ações do índice de small caps 'andaram' muito, e não conseguimos ver
potencial de alta", afirma. "O que vemos como interessante são ações de empresas
grandes que estão muito depreciadas, como Banco do Brasil, que pode se beneficiar este
ano da abertura de capital de sua seguradora."
Para Ribeiro, quem quer realmente aplicar em ações de empresas menores tem que
esquecer o índice de small caps. Apesar do nome, o referencial, diz, abriga papéis de
companhias de porte elevado e bastante liquidez, o que distorce a percepção do
comportamento das pequenas. O sócio da Fides vê bom potencial para as ações da
incorporadora imobiliária JHSF, que congrega desenvolvimento de shopping, edifícios
residenciais e comerciais. Apesar de ter subido 62,33% ano passado, Ribeiro afirma que
o papel está barato. "A empresa está construindo um aeroporto (em São Roque, a cerca
de 60 quilômetros de São Paulo), o que vai trazer bons retornos."
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Os especialistas de corretoras de
valores
também
mantêm
o
otimismo com as small caps em
2013. "Assim como no ano
passado, o mercado interno tende a
ser o principal motor da bolsa neste
ano. Por isso, alguns setores que se
beneficiaram
em
2012
têm
potencial de crescer em 2013", diz
José Francisco Cataldo, estrategista
para varejo das corretoras Bradesco
e Ágora. Ele vê oportunidade de
ganhos adicionais na área de
educação,
dada
a
demanda
reprimida por ensino superior e a
continuidade de um horizonte de
consolidação entre os grupos.
O analista Mario Bernardes Junior, do BB Investimentos, faz a mesma avaliação. No
segmento, aponta a Abril Educação como uma boa aposta. É a única companhia aberta
do segmento de educação básica e a mais verticalizada. Além de colégio, possui escolas
de idiomas, ensino a distância, produz sistemas de ensino e livros. A unit (uma cesta
formada por uma ação ordinária e duas preferenciais) da Abril subiu 95,74% em 2012 e
não integra a carteira teórica do índice de small caps da BM&FBovespa.
Cataldo, da Bradesco e Ágora, vê chances de bons retornos também no controverso
setor imobiliário. Neste caso, as empresas não podem, entretanto, ser avaliadas
conjuntamente. O comportamento das ações de construtoras e incorporadoras em 2012 é
bastante diverso. Sugere, inclusive, que algumas colecionaram investidores muito
satisfeitos - casos da Helbor, Eztec e Even - e outros sem motivo algum para
comemorar, como os que investiram em PDG, Rossi e Tecnisa, por exemplo.
A mesma seletividade o investidor precisa ter ao analisar as oportunidades na indústria
de bens de capital. Para Bernardes Junior, analista do BB Investimentos, o setor oferece
boas chances de repetir os ganhos de 2012 - caso da Randon e da Metal Leve - e
também apostas arriscadas - como a Lupatech, que tem negócios ligados ao setor de
petróleo. Bernardes concorda com Roger, da Victoire, sobre a provável reação da
demanda por máquinas, equipamentos e veículos pesados em 2013. "Existe muito
espaço para crescer, especialmente por causa dos incentivos do governo", afirma
Bernardes.
Para William Alves, analista da XP Investimentos, o investidor também deve olhar para
casos diferenciados - como SLC Agrícola, que subiu 32,53% em 2012, e se favorece do
bom momento da agricultura, e Banrisul. A ação do banco do Estado do Rio Grande do
Sul teve uma queda de 18,24%, o que gera uma oportunidade de compra, na avaliação
de Alves. "É um banco com uma capilaridade relevante no Estado, facilidade para
captação financeira e lidera o mercado de adquirência [captura de transações no varejo],
ultrapassando Cielo e Redecard no Rio Grande do Sul", afirma Alves.
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