“ÉTICA DA RESPONSABILIDADE” E “EDUCAÇÃO AMBIENTAL
CRÍTICA”: RELAÇÕES CONTRADITÓRIAS?
Goulart, A. O. F.
1 Instituto
1* &
Bomfim, A. M.1
Federal do Rio de Janeiro, Nilópolis, RJ, Brasil.
Palavra-chave: Educação Ambiental Crítica
INTRODUÇÃO
A “Ética da Responsabilidade Ambiental” e a “Educação Ambiental (EA) Crítica” não são
imediatamente complementares e podem até ser contraditórias, por conta dos conteúdos
teórico-político-ideológicos que as cercam. A primeira, quando apresentada sem considerações,
vincula-se à tradição conservadora-preservacionista para a Questão Ambiental; enquanto que a
segunda, à problematização da própria EA e desta em relação aos interesses dos diferentes
grupos no interior da Sociedade Capitalista (cf. BOMFIM, 2010, CHESNAIS; SERATI, 2003,
LOWY, 2005). A cultura hegemônica que se encontra no mundo atual gera hábitos que só visam
extrair do ambiente o lucro necessário à manutenção do sistema, sem a preocupação com a
manutenção dos bens naturais. A educação ambiental crítica, pode ser considerada contrahegemônica, por buscar a quebra da supremacia capitalista e criticar o atual modelo. Talvez a
busca de uma homeostase natural dos organismos, onde signifique viver de forma saudável,
proporcionando já às gerações atuais (e por consequência às gerações futuras) um ambiente
melhor, redefinindo hábitos culturais e discutindo o capitalismo, possa ser um caminho para
“condutas responsáveis”. É possível repensar hábitos individuais sem abandonar uma
perspectiva crítica sobre a questão do meio ambiente?
OBJETIVO
O presente trabalho ensaia sobre uma Educação Ambiental Crítica, a partir de uma perspectiva
teórica que considere a ética da responsabilidade, apesar desta estar tradicionalmente vinculada
a uma perspectiva conservadora de EA.
METODOLOGIA
Aqui tem-se como proposta introduzir uma linha de pensamentos críticos acerca desses efeitos
na sociedade e na vida do homem. Este estudo é o início de uma reflexão teórica que não
pretende indicar ações comportamentais aos indivíduos, mas sim elevar a compreensão de Ética
a um patamar para além dos indivíduos. Quer dizer, um ensaio teórico (pelo menos para esse
primeiro momento) onde se procura entender o “ecologicamente correto” não como um rol de
atitudes a ser assumido pelos indivíduos, mas a implementação de uma postura avaliativa que
julga interminavelmente a eficácia das ações humanas (coletivas ou individuais) em relação ao
aspecto ambiental.
Página
A Educação Ambiental (EA) crítica propõe reflexões sobre os papéis sociais, sua relevância,
condutas estabelecidas e não repensadas. A “EA Crítica” analisa os efeitos do capitalismo na
natureza e no homem. Aponta que o capitalismo interfere na vida do homem e no seu meio, seja
através da exploração do seu trabalho, seja através da exploração de recursos naturais. JONAS
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DISCUSSÃO
(2006, p. 19) cita que “o Prometeu definitivamente desacorrentado, ao qual a ciência confere
forças antes inimagináveis e a economia o impulso infatigável, clama por uma ética que, por
meio de freios voluntários impeça o poder dos homens de se transformar em uma desgraça para
eles mesmos.” O homem se transformou em seu próprio algoz. Condutas responsáveis são
consideradas atitudes éticas, de acordo com MORIN (2006, p.21): “a ética manifesta-se para
nós, de maneira imperativa, como exigência moral”, ele ainda destaca o aspecto da religação que
embasa esta proposta dizendo que “todo olhar sobre a ética deve perceber que o ato moral é um
ato individual de religação (ibid, p.24)”. Esta religação não poderia ser o caminho para unir o
homem ao ambiente? Através da ação crítica percebe-se a estrutura social que gera a crise
ambiental atual e através de reflexões éticas pode-se refletir sobre ações de responsabilidades
que envolvem os atores do cenário socioambiental. A EA Crítica e a ética da responsabilidade
não estão evidentemente conciliadas, pois, por uma passa a temática ambiental através da
problematização da estrutura e pela outra passa a indicação de entender como o indivíduo, em
seu comportamento, afeta o meio. Não obstante, não poderia haver um equilíbrio de forças
entre as duas? LOWY (2005) propõe uma leitura de Marx onde é possível enxergar um
“Princípio da Responsabilidade” (igualmente caro a Hans Jonas) associada à importância de que
cada geração respeite o meio ambiente – melhor condição de existência das próximas gerações.
A EA Crítica mostra os interesses de classe na discussão dos encaminhamentos de solução à
questão ambiental, mas o que cabe aos indivíduos?
CONCLUSÃO
Criticar os modelos do mercado capitalista pode oferecer parâmetros para a discussão dos
motivos pelos quais a crise ambiental encontra-se estabelecida. Entender sua estrutura, os
efeitos do capitalismo na sociedade, de forma atuante e reflexiva pode mapear o quadro deste
momento de crise, mas aliar o princípio da responsabilidade pode estabelecer um novo viés de
condutas éticas e responsáveis. Esse é o lugar de estudo desta pesquisa.
BIBLIOGRAFIA
BOMFIM, A. M.. O (Sub)Desenvolvimento (In)Sustentável: A Questão Ambiental nos países
periféricos latino-americanos. In: Trabalho Necessário, Rio de Janeiro, ano 8, n° 10. Rio de
Janeiro, UFF, 2010.
CHESNAIS, François; SERFATI, Claude. “Ecologia” e condições físicas de reprodução social:
alguns fios condutores marxistas. Crítica Marxista. n° 16. São Paulo: Editora Bontempo, 2003.
DELUIZ, N.; NOVICKI, V. Trabalho, meio ambiente e desenvolvimento sustentável: implicações
para uma proposta de formação crítica. Boletim Técnico do Senac, Rio de Janeiro, v. 30, n. 2, p.
19-29, maio/ago. 2004.
JONAS, H. O princípio responsabilidade: Ensaio de uma ética para a civilização tecnológica. Rio
de Janeiro: Contraponto: Ed. PUC-Rio, 2006.
LÖWY, M. Ecologia e Socialismo. São Paulo: Cortez, 2005.
Página
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MORIN, E. El Método 6: Ética. 1ª ed. Madri: Cátedra, 2006.
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E “EDUCAÇÃO AMBIENTAL CRÍTICA”