10. exploração do homem pelo homem, acredita que isso possa ser revertido e transmite alguma esperança, como se pode constatar nos versos “... crê no porvir, na mocidade / Sol brilhante do céu da liberdade”. Qorpo Santo, pseudônimo do gaúcho José Joaquim Campos Leão (1829-1883), foi contemporâneo de Castro Alves. Como o poeta baiano, ele também criticou o cinismo da sociedade do seu tempo. Leia os trechos abaixo e responda: 11. Qorpo Santo, “Eu sou a vida; eu não sou a morte”. Disponível em: www.bibvirt.futuro.usp.br/index.php/content/view/full/16128 Acesso em julho de 2007. ALVES, Castro. “Adeus meu canto”. In: O navio negreiro e outros poemas. São Paulo: Saraiva, 2007 (Clássicos Saraiva). Apesar de os dois trechos se referirem à ameaça que o homem é para o próprio homem – a exploração da humanidade pela própria humanidade –, há uma diferença na maneira como os autores abordam o tema. Que diferente ênfase é dada pelos autores a esse tema? Qorpo Santo não apresenta qualquer esperança, conforme fica claro nos versos “Dos que te fazem carinho, / Crê que te devoram / Os lobos; e não coram!”. Castro Alves, por sua vez, apesar de combater a O trecho a seguir caracteriza o impulso emocional do Romantismo, a alma, por assim dizer, do movimento. O trecho abaixo situa Castro Alves e o momento romântico do qual participou. 7 O século XIX brasileiro é caracterizado por quatro tônicas: Nacionalismo, Liberalismo, Retórica e Revolução, não se podendo com toda a certeza precisar onde termina a primeira para dar lugar à segunda e onde a terceira fronteia a última, pois que o espírito que exacerba o Nacionalismo vive de liberdade e esta se exprime sob a forma de discurso ou de tiro de canhão. (...) A Revolução por que se ansiava era preponderantemente a liberal. E Castro Alves, mais do que qualquer outro, foi o poeta da liberdade. Nele a liberdade amplia as asas e, atravessando rios selvagens e cordilheiras, acoberta a terra americana; esplende como coluna de fogo num momento de exaltação à independência baiana; coroa de um halo de heroísmo, imperecível, a fronte de Pedro Ivo; procura ser o ácido que vai dissolver as gargalheiras do escravo; sonha com a alforria republicana. É a liberdade de Lord Byron e de Victor Hugo. A liberdade dos pronunciamentos revolucionários e das lojas maçônicas. A liberdade dos panfletos subversivos e a dos regicídios. A liberdade dos comícios de rua e das aulas discursadas na Academia. A Liberdade total: a Liberdade política de que seria em nosso meio o mais significativo representante, a encarnação mais poderosa. A Liberdade religiosa; a Liberdade econômica (...). HADDAD, Jamil Almansur. In: ALVES, Castro. Poesias completas, 2. ed. São Paulo: Saraiva, 1960. Como você situaria Castro Alves com relação às aspirações do momento histórico do qual participou? Castro Alves foi um porta-voz das aspirações do seu tempo, difundindo propostas de liberdade republicana, e questionou posições – como A NOVA DO CADÁVER - A SUA ENTREVISTA IMAGINÁRIA 12. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA Ind’assim, toma sentido! Vê que é tudo fingido; Não creias algum louvor: Sabei: – Te trará dor! (...) Não te fies, meu Lindinho, Dos que te fazem carinho, Crê que te devoram Os lobos; e não coram! Assim, quando essa turba horripilante, Hipócrita sem fé, bacante impura, Possa curvar-te a fronte de gigante, Possa quebrar-te as malhas da armadura, Tu deixarás na liça o férreo guante Que há de colher a geração futura... Mas, não... crê no porvir, na mocidade, Sol brilhante do céu da liberdade. a abolição da escravidão – que apenas começavam a ser debatidas. 8 O Romantismo assinala, em todo caso, uma separação profunda, relativamente às concepções precedentes. Ele representa as reivindicações do indivíduo, da sua personalidade móvel, sensibilidade, emoção e dos valores interiores. Ao abstracionismo dos princípios, ele contrapõe a concretização instável da vida, a pulsação infinita da Natureza, o fluir imanente e dramático da História. Ao frio domínio da razão, opõe a força dos sentimentos, das paixões, da fantasia. Aos absolutos imutáveis opõe o relativismo inquieto e sofrido da subjetividade. É um constante apelo ao “eu”, que, em relação a tudo e a todos, se contrapõe como sendo a alternativa mais autêntica. Modificando-se, com isto, as próprias concepções da arte. O significado de livre criação – fundada esta sobre valores emocionais subjetivos e fantásticos – passa para o primeiro plano. Ao passo que o Neoclassicismo, fundado na imitação dos antigos e na inspiração de um “belo ideal” elaborado, atestava que a forma nobre e o conteúdo sublime possuem mais valor do que a expressão individual e os fatos contingentes; o Romantismo, ao contrário, refuta tudo isto, e contrapõe, polemicamente, o seu próprio subjetivismo expressivo, mais a pesquisa, às vezes ostensiva, do sentimento. PISCHEL, Gina. “O oitocentismo: Romantismo e Realismo”. In: História universal da arte, v. III. São Paulo: Melhoramentos, s.d., p. 126, 128. O Romantismo busca explorar e revelar elementos que repercutem a atenção dada ao indivíduo a partir das idéias de liberdade e igualdade preconizadas pelos filósofos do século XVIII. Cite alguns desses elementos psicológicos explorados pela arte romântica. Por exemplo, o individualismo e o subjetivismo. Para os artistas românticos, o mundo pessoal, interior, torna-se palco para a criação – sempre repleta de emoções pessoais. A consciência da solidão confere ao romântico um sentimento de inadequação, de deslocamento no mundo real, levando-o a buscar refúgio no próprio “eu”. 9 Agora é com você, caro leitor. Valendo-se das orientações desta edição e das suas respostas às atividades de leitura, elabore uma nova entrevista com o autor, mais ou menos como a Entrevista Imaginária do final do livro. Que perguntas você faria, se tivesse a oportunidade de conversar com Castro Alves? Com base na obra e na vida do poeta, dê asas à criatividade e imagine as respostas que ele daria. Você pode perguntar, por exemplo, sobre sua paixão pela atriz portuguesa Eugênia da Câmara, para quem o poeta compôs alguns dos melhores exemplos da sua produção lírico-amorosa. “Quem era Eugênia da Câmara?”, “Quando você a viu pela primeira vez?”, “O que a atriz significou para você?” são algumas questões que poderão ser formuladas. Um assunto imprescindível na sua conversa com Castro Alves é a defesa ao abolicionismo. Conforme você leu nos Diários de um Clássico, o poeta baiano foi pioneiro na luta pelo fim da escravidão, numa época em que praticamente não se falava a favor dos cativos. Há exemplos belíssimos do pensamento de Castro Alves nos versos que compõem O navio negreiro e outros poemas. Neles, o autor não defende apenas os africanos, mas todos os povos injustiçados, cantando também, como em “O século”, o sofrimento de poloneses, gregos e húngaros. Uma boa idéia é indagá-lo a respeito das idéias que o influenciaram. Provavelmente, ele mencionaria os acontecimentos que o envolviam na época e faria referência às suas leituras. A morte é outro tema importante em Castro Alves. Sua mãe sucumbiu à tuberculose e ele mesmo contraiu a doença com apenas 16 anos. Mas não se sinta desconfortável por abordar esse tema, pois o próprio Castro Alves compôs diversos poemas sobre a morte. Além desses, há muitos outros assuntos, como os passatempos que o poeta cultivava, sua carreira de declamador, suas viagens etc. Use o conhecimento adquirido com a leitura de O navio negreiro e outros poemas e sua criatividade. Bom trabalho e boa diversão! SUPLEMENTO DE ATIVIDADES 10 1 NOME: NO: ESCOLA: C SÉRIE: onhecido como “poeta dos escravos”, Castro Alves foi o maior expoente da chamada geração condoreira do Romantismo brasileiro. Defensor da causa abolicionista e da igualdade entre os homens, morreu precocemente, deixando, entre outros, “O navio negreiro”, considerado por muitos o mais belo poema da língua portuguesa. As atividades a seguir pretendem ampliar a compreensão de O navio negreiro e outros poemas e de seu tempo. Desenvolva-as após a leitura do livro, dos Diários de um Clássico, da Contextualização Histórica e da Entrevista Imaginária. UMA OBRA CLÁSSICA RECURSOS DO POETA 1. Que artifício Castro Alves usa para despertar no leitor simpatia pela causa que defendia? Dê exemplo, citando um dos poemas que você leu. Enquanto os poemas de O navio negreiro enfatizam o aspecto social, a fase do Ultra-Romantismo ou “mal do século“ é representada por poemas onde se destacam, num universo de pessimismo e angústia, o individualismo, a solidão, a melancolia, a frustração e a morte. O poeta busca criar uma identificação entre o leitor e o tema. Em, por exemplo, “A mãe do cativo”, o poeta emprega imagens que remetem ao presépio e ao martírio de Cristo. Com habilidade, Castro Alves constrói uma cena que traduz a iconografia cristã do nascimento e maternidade, associando-a diretamente à causa abolicionista. 2. A exemplo de Victor Hugo, que influenciou sobremaneira Castro Alves, muitos dos poemas de O navio negreiro buscam a vingança como forma de aplacar as injustiças sofridas. Destaque os versos onde esse elemento, isto é, a vingança, aparece no poema “Tragédia no lar”. Justifique. “Entram três negros possantes, / Brilham punhais traiçoeiros... / Rolam por terra os primeiros / Da morte nas contorções”. Nessa estrofe, os mercadores que querem vender o filho da escrava são mortos. Embora os escravos sejam punidos, conforme a última estrofe deixa claro, eles defendem a mãe que teria seu filho roubado pelos mercadores. 3. Os poemas de O navio negreiro e outros poemas são textos dispersos reunidos em torno de um tema principal, isto é, a abolição da escravidão. Cite três outros temas abordados e descreva sobre o que tratam. Por exemplo, em “O sol e o povo”, o autor canta a soberania do povo, comparando-o ao Sol; em “O remorso”, Castro Alves lembra que os atos escusos cobrem de arrependimento aquele que os cometeu, mesmo que ele consiga fugir da punição imposta pela justiça humana; em “Canto do Bug-Jargal”, traduzido de Victor Hugo, o poeta baiano defende a miscigenação racial. 6. Grande parte dos textos que compõem O navio negreiro e outros poemas foi escrita para ser declamada, utilizando recursos retóricos que quase sempre criavam uma identificação entre o leitor e o tema. Castro Alves ficou famoso ainda em vida como declamador. Como um personagem teatral, ele encarna o próprio eupoético, isto é, a voz dos seus poemas. Para aumentar o efeito dramático dos seus versos, ele lançava mão de recursos de palco dignos dos atores. Qual era a postura cênica que lhe valeu a fama? 5. 2 O eu-poético em muitos dos poemas de O navio negreiro se apresenta como um porta-voz da liberdade para os injustiçados. Destaque fragmentos de pelo menos duas instâncias onde isso pode ser constatado. Em, por exemplo, “Confidência”: “Oh!, por isso, Maria, vês, me curvo / Na face do presente escuro e turvo / E interrogo o porvir; / ou levantando a voz por sobre os montes, / ‘Liberdade’, pergunto aos horizontes, / ‘Quando enfim hás de vir?’”; ou em “O vidente”: “Mas, ai! longos gemidos de míseros cativos, / Tinidos de mil ferros, soluços convulsivos, / Vêm-me bradar nas sombras, como fatal vedeta: / ‘Que pensas, moço triste? que sonhas tu, poeta?’ / Então curvo a cabeça de raios carregada, / E, atando a brônzea corda à lira amargurada, / O canto de agonia arrojo a terra, aos céus, / E ao vácuo povoado de tua sombra, ó Deus!”; ou, ainda, em “Fábula”: “Vai, Poeta... Rompe os ares, / Cruza a serra, o vale, os mares, / Deus ao chão não te amarrou! / Eu calo-me – tu descantas, / Eu rojo – tu te levantas, / Tu és livre – escrava eu sou!...” 3 Nas suas declamações, muitas delas em teatros, Castro Alves costumava se apresentar todo vestido de negro, com uma flor na lapela e com o rosto coberto de pó-de-arroz, de forma a acentuar a aparência melancólica de quem sofre com as injustiças de seu povo. PERSONAGENS 7. Os poemas que constituem O navio negreiro trazem pequenas histórias, ficções, com as quais o poeta busca envolver o leitor na causa abolicionista e libertária. Os personagens desses poemas espelham, como a mãe de “Tragédia no lar” ou o rei Bug-Jargal, os conflitos envolvidos na realidade que o poeta retrata. Destaque uma dessas tramas poéticas e trace um perfil do seu protagonista. O que Castro Alves buscou transmitir através do protagonista do poema que você escolheu? Em, por exemplo, “Tragédia no lar”, a protagonista é uma escrava ameaçada de ser separada do seu filho pequeno, a única alegria que ela possui na sua triste vida. Com a história da escrava cujo filho vai ser vendido, o poeta quer mostrar o crime que é roubar a criança de sua mãe, fato perfeitamente legal no Brasil escravocrata do século XIX. O Byron retratado no poema assemelha-se a Castro Alves por ser melancólico, amante sensual, mas, acima de tudo, por dedicar-se completamente à liberdade. ALVES, Castro. “Vozes d’África”. In: O navio negreiro e outros poemas. São Paulo: Saraiva, 2007 (Clássicos Saraiva). Castro Alves foi muito influenciado pelo poeta inglês Lord Byron. Em seu poema “O derradeiro amor de Byron”, Castro Alves faz de Byron um personagem através do qual transmite sua própria voz. Quais traços em comum você pode identificar entre Castro Alves e o personagem desse poema? 4. Quais diferenças você pode traçar entre a obra de Castro Alves O navio negreiro e outros poemas e a geração romântica anterior à sua, o Ultra-Romantismo ou “mal do século”? 8. Hoje em meu sangue a América se nutre: – Condor, que transformara-se em abutre, Ave da escravidão. Ela juntou-se às mias... irmã traidora! Qual de José os vis irmãos, outrora, Venderam seu irmão! a) Que características comuns você pode apontar nesses três trechos? INTERTEXTUALIDADE A linguagem e a forma dos três poemas são formais, seguindo métrica e rima; os três poemas exprimem o pessimismo característico dos românticos. 9. 4 Compare os seguintes trechos de três dos principais representantes do Romantismo brasileiro: Fagundes Varela, Machado de Assis e Castro Alves (nota: Machado de Assis, embora pertença ao Realismo, tem uma fase romântica, no início da carreira literária). Depois, responda às perguntas a seguir. E pouco a pouco se esvaece a bruma, Tudo se alegra à luz do céu risonho E ao flóreo bafo que o sertão perfuma. Porém minh’alma triste e sem um sonho Murmura olhando o prado, o rio, a espuma: Como isto é pobre, insípido, enfadonho! VARELA, Fagundes. “Enojo”. In: Livro dos sonetos. Porto Alegre: L&PM, 1997. Querida, ao pé do leito derradeiro em que descansas dessa longa vida, aqui venho e virei, pobre querida, trazer-te o coração do companheiro ASSIS, Machado de. “Carolina”. In: Livro dos sonetos. Porto Alegre: L&PM, 1997. 6 5 b) Que diferenças você observa nos trechos mencionados? Enquanto Castro Alves é engajado, protestando contra a indecência de se vender e comprar outros seres humanos, Fagundes Varela revela tédio e Machado de Assis, que quase nunca se preocupou com questões sociais e que, normalmente, se apresenta sarcástico, canta nesse trecho sua tristeza, por ocasião da morte da esposa com quem viveu por 35 anos. UMA OBRA CLÁSSICA RECURSOS DO POETA 1. Que artifício Castro Alves usa para despertar no leitor simpatia pela causa que defendia? Dê exemplo, citando um dos poemas que você leu. Enquanto os poemas de O navio negreiro enfatizam o aspecto social, a fase do Ultra-Romantismo ou “mal do século“ é representada por poemas onde se destacam, num universo de pessimismo e angústia, o individualismo, a solidão, a melancolia, a frustração e a morte. O poeta busca criar uma identificação entre o leitor e o tema. Em, por exemplo, “A mãe do cativo”, o poeta emprega imagens que remetem ao presépio e ao martírio de Cristo. Com habilidade, Castro Alves constrói uma cena que traduz a iconografia cristã do nascimento e maternidade, associando-a diretamente à causa abolicionista. 2. A exemplo de Victor Hugo, que influenciou sobremaneira Castro Alves, muitos dos poemas de O navio negreiro buscam a vingança como forma de aplacar as injustiças sofridas. Destaque os versos onde esse elemento, isto é, a vingança, aparece no poema “Tragédia no lar”. Justifique. “Entram três negros possantes, / Brilham punhais traiçoeiros... / Rolam por terra os primeiros / Da morte nas contorções”. Nessa estrofe, os mercadores que querem vender o filho da escrava são mortos. Embora os escravos sejam punidos, conforme a última estrofe deixa claro, eles defendem a mãe que teria seu filho roubado pelos mercadores. 3. Os poemas de O navio negreiro e outros poemas são textos dispersos reunidos em torno de um tema principal, isto é, a abolição da escravidão. Cite três outros temas abordados e descreva sobre o que tratam. Por exemplo, em “O sol e o povo”, o autor canta a soberania do povo, comparando-o ao Sol; em “O remorso”, Castro Alves lembra que os atos escusos cobrem de arrependimento aquele que os cometeu, mesmo que ele consiga fugir da punição imposta pela justiça humana; em “Canto do Bug-Jargal”, traduzido de Victor Hugo, o poeta baiano defende a miscigenação racial. 6. Grande parte dos textos que compõem O navio negreiro e outros poemas foi escrita para ser declamada, utilizando recursos retóricos que quase sempre criavam uma identificação entre o leitor e o tema. Castro Alves ficou famoso ainda em vida como declamador. Como um personagem teatral, ele encarna o próprio eupoético, isto é, a voz dos seus poemas. Para aumentar o efeito dramático dos seus versos, ele lançava mão de recursos de palco dignos dos atores. Qual era a postura cênica que lhe valeu a fama? 5. 2 O eu-poético em muitos dos poemas de O navio negreiro se apresenta como um porta-voz da liberdade para os injustiçados. Destaque fragmentos de pelo menos duas instâncias onde isso pode ser constatado. Em, por exemplo, “Confidência”: “Oh!, por isso, Maria, vês, me curvo / Na face do presente escuro e turvo / E interrogo o porvir; / ou levantando a voz por sobre os montes, / ‘Liberdade’, pergunto aos horizontes, / ‘Quando enfim hás de vir?’”; ou em “O vidente”: “Mas, ai! longos gemidos de míseros cativos, / Tinidos de mil ferros, soluços convulsivos, / Vêm-me bradar nas sombras, como fatal vedeta: / ‘Que pensas, moço triste? que sonhas tu, poeta?’ / Então curvo a cabeça de raios carregada, / E, atando a brônzea corda à lira amargurada, / O canto de agonia arrojo a terra, aos céus, / E ao vácuo povoado de tua sombra, ó Deus!”; ou, ainda, em “Fábula”: “Vai, Poeta... Rompe os ares, / Cruza a serra, o vale, os mares, / Deus ao chão não te amarrou! / Eu calo-me – tu descantas, / Eu rojo – tu te levantas, / Tu és livre – escrava eu sou!...” 3 Nas suas declamações, muitas delas em teatros, Castro Alves costumava se apresentar todo vestido de negro, com uma flor na lapela e com o rosto coberto de pó-de-arroz, de forma a acentuar a aparência melancólica de quem sofre com as injustiças de seu povo. PERSONAGENS 7. Os poemas que constituem O navio negreiro trazem pequenas histórias, ficções, com as quais o poeta busca envolver o leitor na causa abolicionista e libertária. Os personagens desses poemas espelham, como a mãe de “Tragédia no lar” ou o rei Bug-Jargal, os conflitos envolvidos na realidade que o poeta retrata. Destaque uma dessas tramas poéticas e trace um perfil do seu protagonista. O que Castro Alves buscou transmitir através do protagonista do poema que você escolheu? Em, por exemplo, “Tragédia no lar”, a protagonista é uma escrava ameaçada de ser separada do seu filho pequeno, a única alegria que ela possui na sua triste vida. Com a história da escrava cujo filho vai ser vendido, o poeta quer mostrar o crime que é roubar a criança de sua mãe, fato perfeitamente legal no Brasil escravocrata do século XIX. O Byron retratado no poema assemelha-se a Castro Alves por ser melancólico, amante sensual, mas, acima de tudo, por dedicar-se completamente à liberdade. ALVES, Castro. “Vozes d’África”. In: O navio negreiro e outros poemas. São Paulo: Saraiva, 2007 (Clássicos Saraiva). Castro Alves foi muito influenciado pelo poeta inglês Lord Byron. Em seu poema “O derradeiro amor de Byron”, Castro Alves faz de Byron um personagem através do qual transmite sua própria voz. Quais traços em comum você pode identificar entre Castro Alves e o personagem desse poema? 4. Quais diferenças você pode traçar entre a obra de Castro Alves O navio negreiro e outros poemas e a geração romântica anterior à sua, o Ultra-Romantismo ou “mal do século”? 8. Hoje em meu sangue a América se nutre: – Condor, que transformara-se em abutre, Ave da escravidão. Ela juntou-se às mias... irmã traidora! Qual de José os vis irmãos, outrora, Venderam seu irmão! a) Que características comuns você pode apontar nesses três trechos? INTERTEXTUALIDADE A linguagem e a forma dos três poemas são formais, seguindo métrica e rima; os três poemas exprimem o pessimismo característico dos românticos. 9. 4 Compare os seguintes trechos de três dos principais representantes do Romantismo brasileiro: Fagundes Varela, Machado de Assis e Castro Alves (nota: Machado de Assis, embora pertença ao Realismo, tem uma fase romântica, no início da carreira literária). Depois, responda às perguntas a seguir. E pouco a pouco se esvaece a bruma, Tudo se alegra à luz do céu risonho E ao flóreo bafo que o sertão perfuma. Porém minh’alma triste e sem um sonho Murmura olhando o prado, o rio, a espuma: Como isto é pobre, insípido, enfadonho! VARELA, Fagundes. “Enojo”. In: Livro dos sonetos. Porto Alegre: L&PM, 1997. Querida, ao pé do leito derradeiro em que descansas dessa longa vida, aqui venho e virei, pobre querida, trazer-te o coração do companheiro ASSIS, Machado de. “Carolina”. In: Livro dos sonetos. Porto Alegre: L&PM, 1997. 6 5 b) Que diferenças você observa nos trechos mencionados? Enquanto Castro Alves é engajado, protestando contra a indecência de se vender e comprar outros seres humanos, Fagundes Varela revela tédio e Machado de Assis, que quase nunca se preocupou com questões sociais e que, normalmente, se apresenta sarcástico, canta nesse trecho sua tristeza, por ocasião da morte da esposa com quem viveu por 35 anos. UMA OBRA CLÁSSICA RECURSOS DO POETA 1. Que artifício Castro Alves usa para despertar no leitor simpatia pela causa que defendia? Dê exemplo, citando um dos poemas que você leu. Enquanto os poemas de O navio negreiro enfatizam o aspecto social, a fase do Ultra-Romantismo ou “mal do século“ é representada por poemas onde se destacam, num universo de pessimismo e angústia, o individualismo, a solidão, a melancolia, a frustração e a morte. O poeta busca criar uma identificação entre o leitor e o tema. Em, por exemplo, “A mãe do cativo”, o poeta emprega imagens que remetem ao presépio e ao martírio de Cristo. Com habilidade, Castro Alves constrói uma cena que traduz a iconografia cristã do nascimento e maternidade, associando-a diretamente à causa abolicionista. 2. A exemplo de Victor Hugo, que influenciou sobremaneira Castro Alves, muitos dos poemas de O navio negreiro buscam a vingança como forma de aplacar as injustiças sofridas. Destaque os versos onde esse elemento, isto é, a vingança, aparece no poema “Tragédia no lar”. Justifique. “Entram três negros possantes, / Brilham punhais traiçoeiros... / Rolam por terra os primeiros / Da morte nas contorções”. Nessa estrofe, os mercadores que querem vender o filho da escrava são mortos. Embora os escravos sejam punidos, conforme a última estrofe deixa claro, eles defendem a mãe que teria seu filho roubado pelos mercadores. 3. Os poemas de O navio negreiro e outros poemas são textos dispersos reunidos em torno de um tema principal, isto é, a abolição da escravidão. Cite três outros temas abordados e descreva sobre o que tratam. Por exemplo, em “O sol e o povo”, o autor canta a soberania do povo, comparando-o ao Sol; em “O remorso”, Castro Alves lembra que os atos escusos cobrem de arrependimento aquele que os cometeu, mesmo que ele consiga fugir da punição imposta pela justiça humana; em “Canto do Bug-Jargal”, traduzido de Victor Hugo, o poeta baiano defende a miscigenação racial. 6. Grande parte dos textos que compõem O navio negreiro e outros poemas foi escrita para ser declamada, utilizando recursos retóricos que quase sempre criavam uma identificação entre o leitor e o tema. Castro Alves ficou famoso ainda em vida como declamador. Como um personagem teatral, ele encarna o próprio eupoético, isto é, a voz dos seus poemas. Para aumentar o efeito dramático dos seus versos, ele lançava mão de recursos de palco dignos dos atores. Qual era a postura cênica que lhe valeu a fama? 5. 2 O eu-poético em muitos dos poemas de O navio negreiro se apresenta como um porta-voz da liberdade para os injustiçados. Destaque fragmentos de pelo menos duas instâncias onde isso pode ser constatado. Em, por exemplo, “Confidência”: “Oh!, por isso, Maria, vês, me curvo / Na face do presente escuro e turvo / E interrogo o porvir; / ou levantando a voz por sobre os montes, / ‘Liberdade’, pergunto aos horizontes, / ‘Quando enfim hás de vir?’”; ou em “O vidente”: “Mas, ai! longos gemidos de míseros cativos, / Tinidos de mil ferros, soluços convulsivos, / Vêm-me bradar nas sombras, como fatal vedeta: / ‘Que pensas, moço triste? que sonhas tu, poeta?’ / Então curvo a cabeça de raios carregada, / E, atando a brônzea corda à lira amargurada, / O canto de agonia arrojo a terra, aos céus, / E ao vácuo povoado de tua sombra, ó Deus!”; ou, ainda, em “Fábula”: “Vai, Poeta... Rompe os ares, / Cruza a serra, o vale, os mares, / Deus ao chão não te amarrou! / Eu calo-me – tu descantas, / Eu rojo – tu te levantas, / Tu és livre – escrava eu sou!...” 3 Nas suas declamações, muitas delas em teatros, Castro Alves costumava se apresentar todo vestido de negro, com uma flor na lapela e com o rosto coberto de pó-de-arroz, de forma a acentuar a aparência melancólica de quem sofre com as injustiças de seu povo. PERSONAGENS 7. Os poemas que constituem O navio negreiro trazem pequenas histórias, ficções, com as quais o poeta busca envolver o leitor na causa abolicionista e libertária. Os personagens desses poemas espelham, como a mãe de “Tragédia no lar” ou o rei Bug-Jargal, os conflitos envolvidos na realidade que o poeta retrata. Destaque uma dessas tramas poéticas e trace um perfil do seu protagonista. O que Castro Alves buscou transmitir através do protagonista do poema que você escolheu? Em, por exemplo, “Tragédia no lar”, a protagonista é uma escrava ameaçada de ser separada do seu filho pequeno, a única alegria que ela possui na sua triste vida. Com a história da escrava cujo filho vai ser vendido, o poeta quer mostrar o crime que é roubar a criança de sua mãe, fato perfeitamente legal no Brasil escravocrata do século XIX. O Byron retratado no poema assemelha-se a Castro Alves por ser melancólico, amante sensual, mas, acima de tudo, por dedicar-se completamente à liberdade. ALVES, Castro. “Vozes d’África”. In: O navio negreiro e outros poemas. São Paulo: Saraiva, 2007 (Clássicos Saraiva). Castro Alves foi muito influenciado pelo poeta inglês Lord Byron. Em seu poema “O derradeiro amor de Byron”, Castro Alves faz de Byron um personagem através do qual transmite sua própria voz. Quais traços em comum você pode identificar entre Castro Alves e o personagem desse poema? 4. Quais diferenças você pode traçar entre a obra de Castro Alves O navio negreiro e outros poemas e a geração romântica anterior à sua, o Ultra-Romantismo ou “mal do século”? 8. Hoje em meu sangue a América se nutre: – Condor, que transformara-se em abutre, Ave da escravidão. Ela juntou-se às mias... irmã traidora! Qual de José os vis irmãos, outrora, Venderam seu irmão! a) Que características comuns você pode apontar nesses três trechos? INTERTEXTUALIDADE A linguagem e a forma dos três poemas são formais, seguindo métrica e rima; os três poemas exprimem o pessimismo característico dos românticos. 9. 4 Compare os seguintes trechos de três dos principais representantes do Romantismo brasileiro: Fagundes Varela, Machado de Assis e Castro Alves (nota: Machado de Assis, embora pertença ao Realismo, tem uma fase romântica, no início da carreira literária). Depois, responda às perguntas a seguir. E pouco a pouco se esvaece a bruma, Tudo se alegra à luz do céu risonho E ao flóreo bafo que o sertão perfuma. Porém minh’alma triste e sem um sonho Murmura olhando o prado, o rio, a espuma: Como isto é pobre, insípido, enfadonho! VARELA, Fagundes. “Enojo”. In: Livro dos sonetos. Porto Alegre: L&PM, 1997. Querida, ao pé do leito derradeiro em que descansas dessa longa vida, aqui venho e virei, pobre querida, trazer-te o coração do companheiro ASSIS, Machado de. “Carolina”. In: Livro dos sonetos. Porto Alegre: L&PM, 1997. 6 5 b) Que diferenças você observa nos trechos mencionados? Enquanto Castro Alves é engajado, protestando contra a indecência de se vender e comprar outros seres humanos, Fagundes Varela revela tédio e Machado de Assis, que quase nunca se preocupou com questões sociais e que, normalmente, se apresenta sarcástico, canta nesse trecho sua tristeza, por ocasião da morte da esposa com quem viveu por 35 anos. UMA OBRA CLÁSSICA RECURSOS DO POETA 1. Que artifício Castro Alves usa para despertar no leitor simpatia pela causa que defendia? Dê exemplo, citando um dos poemas que você leu. Enquanto os poemas de O navio negreiro enfatizam o aspecto social, a fase do Ultra-Romantismo ou “mal do século“ é representada por poemas onde se destacam, num universo de pessimismo e angústia, o individualismo, a solidão, a melancolia, a frustração e a morte. O poeta busca criar uma identificação entre o leitor e o tema. Em, por exemplo, “A mãe do cativo”, o poeta emprega imagens que remetem ao presépio e ao martírio de Cristo. Com habilidade, Castro Alves constrói uma cena que traduz a iconografia cristã do nascimento e maternidade, associando-a diretamente à causa abolicionista. 2. A exemplo de Victor Hugo, que influenciou sobremaneira Castro Alves, muitos dos poemas de O navio negreiro buscam a vingança como forma de aplacar as injustiças sofridas. Destaque os versos onde esse elemento, isto é, a vingança, aparece no poema “Tragédia no lar”. Justifique. “Entram três negros possantes, / Brilham punhais traiçoeiros... / Rolam por terra os primeiros / Da morte nas contorções”. Nessa estrofe, os mercadores que querem vender o filho da escrava são mortos. Embora os escravos sejam punidos, conforme a última estrofe deixa claro, eles defendem a mãe que teria seu filho roubado pelos mercadores. 3. Os poemas de O navio negreiro e outros poemas são textos dispersos reunidos em torno de um tema principal, isto é, a abolição da escravidão. Cite três outros temas abordados e descreva sobre o que tratam. Por exemplo, em “O sol e o povo”, o autor canta a soberania do povo, comparando-o ao Sol; em “O remorso”, Castro Alves lembra que os atos escusos cobrem de arrependimento aquele que os cometeu, mesmo que ele consiga fugir da punição imposta pela justiça humana; em “Canto do Bug-Jargal”, traduzido de Victor Hugo, o poeta baiano defende a miscigenação racial. 6. Grande parte dos textos que compõem O navio negreiro e outros poemas foi escrita para ser declamada, utilizando recursos retóricos que quase sempre criavam uma identificação entre o leitor e o tema. Castro Alves ficou famoso ainda em vida como declamador. Como um personagem teatral, ele encarna o próprio eupoético, isto é, a voz dos seus poemas. Para aumentar o efeito dramático dos seus versos, ele lançava mão de recursos de palco dignos dos atores. Qual era a postura cênica que lhe valeu a fama? 5. 2 O eu-poético em muitos dos poemas de O navio negreiro se apresenta como um porta-voz da liberdade para os injustiçados. Destaque fragmentos de pelo menos duas instâncias onde isso pode ser constatado. Em, por exemplo, “Confidência”: “Oh!, por isso, Maria, vês, me curvo / Na face do presente escuro e turvo / E interrogo o porvir; / ou levantando a voz por sobre os montes, / ‘Liberdade’, pergunto aos horizontes, / ‘Quando enfim hás de vir?’”; ou em “O vidente”: “Mas, ai! longos gemidos de míseros cativos, / Tinidos de mil ferros, soluços convulsivos, / Vêm-me bradar nas sombras, como fatal vedeta: / ‘Que pensas, moço triste? que sonhas tu, poeta?’ / Então curvo a cabeça de raios carregada, / E, atando a brônzea corda à lira amargurada, / O canto de agonia arrojo a terra, aos céus, / E ao vácuo povoado de tua sombra, ó Deus!”; ou, ainda, em “Fábula”: “Vai, Poeta... Rompe os ares, / Cruza a serra, o vale, os mares, / Deus ao chão não te amarrou! / Eu calo-me – tu descantas, / Eu rojo – tu te levantas, / Tu és livre – escrava eu sou!...” 3 Nas suas declamações, muitas delas em teatros, Castro Alves costumava se apresentar todo vestido de negro, com uma flor na lapela e com o rosto coberto de pó-de-arroz, de forma a acentuar a aparência melancólica de quem sofre com as injustiças de seu povo. PERSONAGENS 7. Os poemas que constituem O navio negreiro trazem pequenas histórias, ficções, com as quais o poeta busca envolver o leitor na causa abolicionista e libertária. Os personagens desses poemas espelham, como a mãe de “Tragédia no lar” ou o rei Bug-Jargal, os conflitos envolvidos na realidade que o poeta retrata. Destaque uma dessas tramas poéticas e trace um perfil do seu protagonista. O que Castro Alves buscou transmitir através do protagonista do poema que você escolheu? Em, por exemplo, “Tragédia no lar”, a protagonista é uma escrava ameaçada de ser separada do seu filho pequeno, a única alegria que ela possui na sua triste vida. Com a história da escrava cujo filho vai ser vendido, o poeta quer mostrar o crime que é roubar a criança de sua mãe, fato perfeitamente legal no Brasil escravocrata do século XIX. O Byron retratado no poema assemelha-se a Castro Alves por ser melancólico, amante sensual, mas, acima de tudo, por dedicar-se completamente à liberdade. ALVES, Castro. “Vozes d’África”. In: O navio negreiro e outros poemas. São Paulo: Saraiva, 2007 (Clássicos Saraiva). Castro Alves foi muito influenciado pelo poeta inglês Lord Byron. Em seu poema “O derradeiro amor de Byron”, Castro Alves faz de Byron um personagem através do qual transmite sua própria voz. Quais traços em comum você pode identificar entre Castro Alves e o personagem desse poema? 4. Quais diferenças você pode traçar entre a obra de Castro Alves O navio negreiro e outros poemas e a geração romântica anterior à sua, o Ultra-Romantismo ou “mal do século”? 8. Hoje em meu sangue a América se nutre: – Condor, que transformara-se em abutre, Ave da escravidão. Ela juntou-se às mias... irmã traidora! Qual de José os vis irmãos, outrora, Venderam seu irmão! a) Que características comuns você pode apontar nesses três trechos? INTERTEXTUALIDADE A linguagem e a forma dos três poemas são formais, seguindo métrica e rima; os três poemas exprimem o pessimismo característico dos românticos. 9. 4 Compare os seguintes trechos de três dos principais representantes do Romantismo brasileiro: Fagundes Varela, Machado de Assis e Castro Alves (nota: Machado de Assis, embora pertença ao Realismo, tem uma fase romântica, no início da carreira literária). Depois, responda às perguntas a seguir. E pouco a pouco se esvaece a bruma, Tudo se alegra à luz do céu risonho E ao flóreo bafo que o sertão perfuma. Porém minh’alma triste e sem um sonho Murmura olhando o prado, o rio, a espuma: Como isto é pobre, insípido, enfadonho! VARELA, Fagundes. “Enojo”. In: Livro dos sonetos. Porto Alegre: L&PM, 1997. Querida, ao pé do leito derradeiro em que descansas dessa longa vida, aqui venho e virei, pobre querida, trazer-te o coração do companheiro ASSIS, Machado de. “Carolina”. In: Livro dos sonetos. Porto Alegre: L&PM, 1997. 6 5 b) Que diferenças você observa nos trechos mencionados? Enquanto Castro Alves é engajado, protestando contra a indecência de se vender e comprar outros seres humanos, Fagundes Varela revela tédio e Machado de Assis, que quase nunca se preocupou com questões sociais e que, normalmente, se apresenta sarcástico, canta nesse trecho sua tristeza, por ocasião da morte da esposa com quem viveu por 35 anos. UMA OBRA CLÁSSICA RECURSOS DO POETA 1. Que artifício Castro Alves usa para despertar no leitor simpatia pela causa que defendia? Dê exemplo, citando um dos poemas que você leu. Enquanto os poemas de O navio negreiro enfatizam o aspecto social, a fase do Ultra-Romantismo ou “mal do século“ é representada por poemas onde se destacam, num universo de pessimismo e angústia, o individualismo, a solidão, a melancolia, a frustração e a morte. O poeta busca criar uma identificação entre o leitor e o tema. Em, por exemplo, “A mãe do cativo”, o poeta emprega imagens que remetem ao presépio e ao martírio de Cristo. Com habilidade, Castro Alves constrói uma cena que traduz a iconografia cristã do nascimento e maternidade, associando-a diretamente à causa abolicionista. 2. A exemplo de Victor Hugo, que influenciou sobremaneira Castro Alves, muitos dos poemas de O navio negreiro buscam a vingança como forma de aplacar as injustiças sofridas. Destaque os versos onde esse elemento, isto é, a vingança, aparece no poema “Tragédia no lar”. Justifique. “Entram três negros possantes, / Brilham punhais traiçoeiros... / Rolam por terra os primeiros / Da morte nas contorções”. Nessa estrofe, os mercadores que querem vender o filho da escrava são mortos. Embora os escravos sejam punidos, conforme a última estrofe deixa claro, eles defendem a mãe que teria seu filho roubado pelos mercadores. 3. Os poemas de O navio negreiro e outros poemas são textos dispersos reunidos em torno de um tema principal, isto é, a abolição da escravidão. Cite três outros temas abordados e descreva sobre o que tratam. Por exemplo, em “O sol e o povo”, o autor canta a soberania do povo, comparando-o ao Sol; em “O remorso”, Castro Alves lembra que os atos escusos cobrem de arrependimento aquele que os cometeu, mesmo que ele consiga fugir da punição imposta pela justiça humana; em “Canto do Bug-Jargal”, traduzido de Victor Hugo, o poeta baiano defende a miscigenação racial. 6. Grande parte dos textos que compõem O navio negreiro e outros poemas foi escrita para ser declamada, utilizando recursos retóricos que quase sempre criavam uma identificação entre o leitor e o tema. Castro Alves ficou famoso ainda em vida como declamador. Como um personagem teatral, ele encarna o próprio eupoético, isto é, a voz dos seus poemas. Para aumentar o efeito dramático dos seus versos, ele lançava mão de recursos de palco dignos dos atores. Qual era a postura cênica que lhe valeu a fama? 5. 2 O eu-poético em muitos dos poemas de O navio negreiro se apresenta como um porta-voz da liberdade para os injustiçados. Destaque fragmentos de pelo menos duas instâncias onde isso pode ser constatado. Em, por exemplo, “Confidência”: “Oh!, por isso, Maria, vês, me curvo / Na face do presente escuro e turvo / E interrogo o porvir; / ou levantando a voz por sobre os montes, / ‘Liberdade’, pergunto aos horizontes, / ‘Quando enfim hás de vir?’”; ou em “O vidente”: “Mas, ai! longos gemidos de míseros cativos, / Tinidos de mil ferros, soluços convulsivos, / Vêm-me bradar nas sombras, como fatal vedeta: / ‘Que pensas, moço triste? que sonhas tu, poeta?’ / Então curvo a cabeça de raios carregada, / E, atando a brônzea corda à lira amargurada, / O canto de agonia arrojo a terra, aos céus, / E ao vácuo povoado de tua sombra, ó Deus!”; ou, ainda, em “Fábula”: “Vai, Poeta... Rompe os ares, / Cruza a serra, o vale, os mares, / Deus ao chão não te amarrou! / Eu calo-me – tu descantas, / Eu rojo – tu te levantas, / Tu és livre – escrava eu sou!...” 3 Nas suas declamações, muitas delas em teatros, Castro Alves costumava se apresentar todo vestido de negro, com uma flor na lapela e com o rosto coberto de pó-de-arroz, de forma a acentuar a aparência melancólica de quem sofre com as injustiças de seu povo. PERSONAGENS 7. Os poemas que constituem O navio negreiro trazem pequenas histórias, ficções, com as quais o poeta busca envolver o leitor na causa abolicionista e libertária. Os personagens desses poemas espelham, como a mãe de “Tragédia no lar” ou o rei Bug-Jargal, os conflitos envolvidos na realidade que o poeta retrata. Destaque uma dessas tramas poéticas e trace um perfil do seu protagonista. O que Castro Alves buscou transmitir através do protagonista do poema que você escolheu? Em, por exemplo, “Tragédia no lar”, a protagonista é uma escrava ameaçada de ser separada do seu filho pequeno, a única alegria que ela possui na sua triste vida. Com a história da escrava cujo filho vai ser vendido, o poeta quer mostrar o crime que é roubar a criança de sua mãe, fato perfeitamente legal no Brasil escravocrata do século XIX. O Byron retratado no poema assemelha-se a Castro Alves por ser melancólico, amante sensual, mas, acima de tudo, por dedicar-se completamente à liberdade. ALVES, Castro. “Vozes d’África”. In: O navio negreiro e outros poemas. São Paulo: Saraiva, 2007 (Clássicos Saraiva). Castro Alves foi muito influenciado pelo poeta inglês Lord Byron. Em seu poema “O derradeiro amor de Byron”, Castro Alves faz de Byron um personagem através do qual transmite sua própria voz. Quais traços em comum você pode identificar entre Castro Alves e o personagem desse poema? 4. Quais diferenças você pode traçar entre a obra de Castro Alves O navio negreiro e outros poemas e a geração romântica anterior à sua, o Ultra-Romantismo ou “mal do século”? 8. Hoje em meu sangue a América se nutre: – Condor, que transformara-se em abutre, Ave da escravidão. Ela juntou-se às mias... irmã traidora! Qual de José os vis irmãos, outrora, Venderam seu irmão! a) Que características comuns você pode apontar nesses três trechos? INTERTEXTUALIDADE A linguagem e a forma dos três poemas são formais, seguindo métrica e rima; os três poemas exprimem o pessimismo característico dos românticos. 9. 4 Compare os seguintes trechos de três dos principais representantes do Romantismo brasileiro: Fagundes Varela, Machado de Assis e Castro Alves (nota: Machado de Assis, embora pertença ao Realismo, tem uma fase romântica, no início da carreira literária). Depois, responda às perguntas a seguir. E pouco a pouco se esvaece a bruma, Tudo se alegra à luz do céu risonho E ao flóreo bafo que o sertão perfuma. Porém minh’alma triste e sem um sonho Murmura olhando o prado, o rio, a espuma: Como isto é pobre, insípido, enfadonho! VARELA, Fagundes. “Enojo”. In: Livro dos sonetos. Porto Alegre: L&PM, 1997. Querida, ao pé do leito derradeiro em que descansas dessa longa vida, aqui venho e virei, pobre querida, trazer-te o coração do companheiro ASSIS, Machado de. “Carolina”. In: Livro dos sonetos. Porto Alegre: L&PM, 1997. 6 5 b) Que diferenças você observa nos trechos mencionados? Enquanto Castro Alves é engajado, protestando contra a indecência de se vender e comprar outros seres humanos, Fagundes Varela revela tédio e Machado de Assis, que quase nunca se preocupou com questões sociais e que, normalmente, se apresenta sarcástico, canta nesse trecho sua tristeza, por ocasião da morte da esposa com quem viveu por 35 anos. 10. exploração do homem pelo homem, acredita que isso possa ser revertido e transmite alguma esperança, como se pode constatar nos versos “... crê no porvir, na mocidade / Sol brilhante do céu da liberdade”. Qorpo Santo, pseudônimo do gaúcho José Joaquim Campos Leão (1829-1883), foi contemporâneo de Castro Alves. Como o poeta baiano, ele também criticou o cinismo da sociedade do seu tempo. Leia os trechos abaixo e responda: 11. Qorpo Santo, “Eu sou a vida; eu não sou a morte”. Disponível em: www.bibvirt.futuro.usp.br/index.php/content/view/full/16128 Acesso em julho de 2007. ALVES, Castro. “Adeus meu canto”. In: O navio negreiro e outros poemas. São Paulo: Saraiva, 2007 (Clássicos Saraiva). Apesar de os dois trechos se referirem à ameaça que o homem é para o próprio homem – a exploração da humanidade pela própria humanidade –, há uma diferença na maneira como os autores abordam o tema. Que diferente ênfase é dada pelos autores a esse tema? Qorpo Santo não apresenta qualquer esperança, conforme fica claro nos versos “Dos que te fazem carinho, / Crê que te devoram / Os lobos; e não coram!”. Castro Alves, por sua vez, apesar de combater a O trecho a seguir caracteriza o impulso emocional do Romantismo, a alma, por assim dizer, do movimento. O trecho abaixo situa Castro Alves e o momento romântico do qual participou. 7 O século XIX brasileiro é caracterizado por quatro tônicas: Nacionalismo, Liberalismo, Retórica e Revolução, não se podendo com toda a certeza precisar onde termina a primeira para dar lugar à segunda e onde a terceira fronteia a última, pois que o espírito que exacerba o Nacionalismo vive de liberdade e esta se exprime sob a forma de discurso ou de tiro de canhão. (...) A Revolução por que se ansiava era preponderantemente a liberal. E Castro Alves, mais do que qualquer outro, foi o poeta da liberdade. Nele a liberdade amplia as asas e, atravessando rios selvagens e cordilheiras, acoberta a terra americana; esplende como coluna de fogo num momento de exaltação à independência baiana; coroa de um halo de heroísmo, imperecível, a fronte de Pedro Ivo; procura ser o ácido que vai dissolver as gargalheiras do escravo; sonha com a alforria republicana. É a liberdade de Lord Byron e de Victor Hugo. A liberdade dos pronunciamentos revolucionários e das lojas maçônicas. A liberdade dos panfletos subversivos e a dos regicídios. A liberdade dos comícios de rua e das aulas discursadas na Academia. A Liberdade total: a Liberdade política de que seria em nosso meio o mais significativo representante, a encarnação mais poderosa. A Liberdade religiosa; a Liberdade econômica (...). HADDAD, Jamil Almansur. In: ALVES, Castro. Poesias completas, 2. ed. São Paulo: Saraiva, 1960. Como você situaria Castro Alves com relação às aspirações do momento histórico do qual participou? Castro Alves foi um porta-voz das aspirações do seu tempo, difundindo propostas de liberdade republicana, e questionou posições – como A NOVA DO CADÁVER - A SUA ENTREVISTA IMAGINÁRIA 12. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA Ind’assim, toma sentido! Vê que é tudo fingido; Não creias algum louvor: Sabei: – Te trará dor! (...) Não te fies, meu Lindinho, Dos que te fazem carinho, Crê que te devoram Os lobos; e não coram! Assim, quando essa turba horripilante, Hipócrita sem fé, bacante impura, Possa curvar-te a fronte de gigante, Possa quebrar-te as malhas da armadura, Tu deixarás na liça o férreo guante Que há de colher a geração futura... Mas, não... crê no porvir, na mocidade, Sol brilhante do céu da liberdade. a abolição da escravidão – que apenas começavam a ser debatidas. 8 O Romantismo assinala, em todo caso, uma separação profunda, relativamente às concepções precedentes. Ele representa as reivindicações do indivíduo, da sua personalidade móvel, sensibilidade, emoção e dos valores interiores. Ao abstracionismo dos princípios, ele contrapõe a concretização instável da vida, a pulsação infinita da Natureza, o fluir imanente e dramático da História. Ao frio domínio da razão, opõe a força dos sentimentos, das paixões, da fantasia. Aos absolutos imutáveis opõe o relativismo inquieto e sofrido da subjetividade. É um constante apelo ao “eu”, que, em relação a tudo e a todos, se contrapõe como sendo a alternativa mais autêntica. Modificando-se, com isto, as próprias concepções da arte. O significado de livre criação – fundada esta sobre valores emocionais subjetivos e fantásticos – passa para o primeiro plano. Ao passo que o Neoclassicismo, fundado na imitação dos antigos e na inspiração de um “belo ideal” elaborado, atestava que a forma nobre e o conteúdo sublime possuem mais valor do que a expressão individual e os fatos contingentes; o Romantismo, ao contrário, refuta tudo isto, e contrapõe, polemicamente, o seu próprio subjetivismo expressivo, mais a pesquisa, às vezes ostensiva, do sentimento. PISCHEL, Gina. “O oitocentismo: Romantismo e Realismo”. In: História universal da arte, v. III. São Paulo: Melhoramentos, s.d., p. 126, 128. O Romantismo busca explorar e revelar elementos que repercutem a atenção dada ao indivíduo a partir das idéias de liberdade e igualdade preconizadas pelos filósofos do século XVIII. Cite alguns desses elementos psicológicos explorados pela arte romântica. Por exemplo, o individualismo e o subjetivismo. Para os artistas românticos, o mundo pessoal, interior, torna-se palco para a criação – sempre repleta de emoções pessoais. A consciência da solidão confere ao romântico um sentimento de inadequação, de deslocamento no mundo real, levando-o a buscar refúgio no próprio “eu”. 9 Agora é com você, caro leitor. Valendo-se das orientações desta edição e das suas respostas às atividades de leitura, elabore uma nova entrevista com o autor, mais ou menos como a Entrevista Imaginária do final do livro. Que perguntas você faria, se tivesse a oportunidade de conversar com Castro Alves? Com base na obra e na vida do poeta, dê asas à criatividade e imagine as respostas que ele daria. Você pode perguntar, por exemplo, sobre sua paixão pela atriz portuguesa Eugênia da Câmara, para quem o poeta compôs alguns dos melhores exemplos da sua produção lírico-amorosa. “Quem era Eugênia da Câmara?”, “Quando você a viu pela primeira vez?”, “O que a atriz significou para você?” são algumas questões que poderão ser formuladas. Um assunto imprescindível na sua conversa com Castro Alves é a defesa ao abolicionismo. Conforme você leu nos Diários de um Clássico, o poeta baiano foi pioneiro na luta pelo fim da escravidão, numa época em que praticamente não se falava a favor dos cativos. Há exemplos belíssimos do pensamento de Castro Alves nos versos que compõem O navio negreiro e outros poemas. Neles, o autor não defende apenas os africanos, mas todos os povos injustiçados, cantando também, como em “O século”, o sofrimento de poloneses, gregos e húngaros. Uma boa idéia é indagá-lo a respeito das idéias que o influenciaram. Provavelmente, ele mencionaria os acontecimentos que o envolviam na época e faria referência às suas leituras. A morte é outro tema importante em Castro Alves. Sua mãe sucumbiu à tuberculose e ele mesmo contraiu a doença com apenas 16 anos. Mas não se sinta desconfortável por abordar esse tema, pois o próprio Castro Alves compôs diversos poemas sobre a morte. Além desses, há muitos outros assuntos, como os passatempos que o poeta cultivava, sua carreira de declamador, suas viagens etc. Use o conhecimento adquirido com a leitura de O navio negreiro e outros poemas e sua criatividade. Bom trabalho e boa diversão! SUPLEMENTO DE ATIVIDADES 10 1 NOME: NO: ESCOLA: C SÉRIE: onhecido como “poeta dos escravos”, Castro Alves foi o maior expoente da chamada geração condoreira do Romantismo brasileiro. Defensor da causa abolicionista e da igualdade entre os homens, morreu precocemente, deixando, entre outros, “O navio negreiro”, considerado por muitos o mais belo poema da língua portuguesa. As atividades a seguir pretendem ampliar a compreensão de O navio negreiro e outros poemas e de seu tempo. Desenvolva-as após a leitura do livro, dos Diários de um Clássico, da Contextualização Histórica e da Entrevista Imaginária. 10. exploração do homem pelo homem, acredita que isso possa ser revertido e transmite alguma esperança, como se pode constatar nos versos “... crê no porvir, na mocidade / Sol brilhante do céu da liberdade”. Qorpo Santo, pseudônimo do gaúcho José Joaquim Campos Leão (1829-1883), foi contemporâneo de Castro Alves. Como o poeta baiano, ele também criticou o cinismo da sociedade do seu tempo. Leia os trechos abaixo e responda: 11. Qorpo Santo, “Eu sou a vida; eu não sou a morte”. Disponível em: www.bibvirt.futuro.usp.br/index.php/content/view/full/16128 Acesso em julho de 2007. ALVES, Castro. “Adeus meu canto”. In: O navio negreiro e outros poemas. São Paulo: Saraiva, 2007 (Clássicos Saraiva). Apesar de os dois trechos se referirem à ameaça que o homem é para o próprio homem – a exploração da humanidade pela própria humanidade –, há uma diferença na maneira como os autores abordam o tema. Que diferente ênfase é dada pelos autores a esse tema? Qorpo Santo não apresenta qualquer esperança, conforme fica claro nos versos “Dos que te fazem carinho, / Crê que te devoram / Os lobos; e não coram!”. Castro Alves, por sua vez, apesar de combater a O trecho a seguir caracteriza o impulso emocional do Romantismo, a alma, por assim dizer, do movimento. O trecho abaixo situa Castro Alves e o momento romântico do qual participou. 7 O século XIX brasileiro é caracterizado por quatro tônicas: Nacionalismo, Liberalismo, Retórica e Revolução, não se podendo com toda a certeza precisar onde termina a primeira para dar lugar à segunda e onde a terceira fronteia a última, pois que o espírito que exacerba o Nacionalismo vive de liberdade e esta se exprime sob a forma de discurso ou de tiro de canhão. (...) A Revolução por que se ansiava era preponderantemente a liberal. E Castro Alves, mais do que qualquer outro, foi o poeta da liberdade. Nele a liberdade amplia as asas e, atravessando rios selvagens e cordilheiras, acoberta a terra americana; esplende como coluna de fogo num momento de exaltação à independência baiana; coroa de um halo de heroísmo, imperecível, a fronte de Pedro Ivo; procura ser o ácido que vai dissolver as gargalheiras do escravo; sonha com a alforria republicana. É a liberdade de Lord Byron e de Victor Hugo. A liberdade dos pronunciamentos revolucionários e das lojas maçônicas. A liberdade dos panfletos subversivos e a dos regicídios. A liberdade dos comícios de rua e das aulas discursadas na Academia. A Liberdade total: a Liberdade política de que seria em nosso meio o mais significativo representante, a encarnação mais poderosa. A Liberdade religiosa; a Liberdade econômica (...). HADDAD, Jamil Almansur. In: ALVES, Castro. Poesias completas, 2. ed. São Paulo: Saraiva, 1960. Como você situaria Castro Alves com relação às aspirações do momento histórico do qual participou? Castro Alves foi um porta-voz das aspirações do seu tempo, difundindo propostas de liberdade republicana, e questionou posições – como A NOVA DO CADÁVER - A SUA ENTREVISTA IMAGINÁRIA 12. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA Ind’assim, toma sentido! Vê que é tudo fingido; Não creias algum louvor: Sabei: – Te trará dor! (...) Não te fies, meu Lindinho, Dos que te fazem carinho, Crê que te devoram Os lobos; e não coram! Assim, quando essa turba horripilante, Hipócrita sem fé, bacante impura, Possa curvar-te a fronte de gigante, Possa quebrar-te as malhas da armadura, Tu deixarás na liça o férreo guante Que há de colher a geração futura... Mas, não... crê no porvir, na mocidade, Sol brilhante do céu da liberdade. a abolição da escravidão – que apenas começavam a ser debatidas. 8 O Romantismo assinala, em todo caso, uma separação profunda, relativamente às concepções precedentes. Ele representa as reivindicações do indivíduo, da sua personalidade móvel, sensibilidade, emoção e dos valores interiores. Ao abstracionismo dos princípios, ele contrapõe a concretização instável da vida, a pulsação infinita da Natureza, o fluir imanente e dramático da História. Ao frio domínio da razão, opõe a força dos sentimentos, das paixões, da fantasia. Aos absolutos imutáveis opõe o relativismo inquieto e sofrido da subjetividade. É um constante apelo ao “eu”, que, em relação a tudo e a todos, se contrapõe como sendo a alternativa mais autêntica. Modificando-se, com isto, as próprias concepções da arte. O significado de livre criação – fundada esta sobre valores emocionais subjetivos e fantásticos – passa para o primeiro plano. Ao passo que o Neoclassicismo, fundado na imitação dos antigos e na inspiração de um “belo ideal” elaborado, atestava que a forma nobre e o conteúdo sublime possuem mais valor do que a expressão individual e os fatos contingentes; o Romantismo, ao contrário, refuta tudo isto, e contrapõe, polemicamente, o seu próprio subjetivismo expressivo, mais a pesquisa, às vezes ostensiva, do sentimento. PISCHEL, Gina. “O oitocentismo: Romantismo e Realismo”. In: História universal da arte, v. III. São Paulo: Melhoramentos, s.d., p. 126, 128. O Romantismo busca explorar e revelar elementos que repercutem a atenção dada ao indivíduo a partir das idéias de liberdade e igualdade preconizadas pelos filósofos do século XVIII. Cite alguns desses elementos psicológicos explorados pela arte romântica. Por exemplo, o individualismo e o subjetivismo. Para os artistas românticos, o mundo pessoal, interior, torna-se palco para a criação – sempre repleta de emoções pessoais. A consciência da solidão confere ao romântico um sentimento de inadequação, de deslocamento no mundo real, levando-o a buscar refúgio no próprio “eu”. 9 Agora é com você, caro leitor. Valendo-se das orientações desta edição e das suas respostas às atividades de leitura, elabore uma nova entrevista com o autor, mais ou menos como a Entrevista Imaginária do final do livro. Que perguntas você faria, se tivesse a oportunidade de conversar com Castro Alves? Com base na obra e na vida do poeta, dê asas à criatividade e imagine as respostas que ele daria. Você pode perguntar, por exemplo, sobre sua paixão pela atriz portuguesa Eugênia da Câmara, para quem o poeta compôs alguns dos melhores exemplos da sua produção lírico-amorosa. “Quem era Eugênia da Câmara?”, “Quando você a viu pela primeira vez?”, “O que a atriz significou para você?” são algumas questões que poderão ser formuladas. Um assunto imprescindível na sua conversa com Castro Alves é a defesa ao abolicionismo. Conforme você leu nos Diários de um Clássico, o poeta baiano foi pioneiro na luta pelo fim da escravidão, numa época em que praticamente não se falava a favor dos cativos. Há exemplos belíssimos do pensamento de Castro Alves nos versos que compõem O navio negreiro e outros poemas. Neles, o autor não defende apenas os africanos, mas todos os povos injustiçados, cantando também, como em “O século”, o sofrimento de poloneses, gregos e húngaros. Uma boa idéia é indagá-lo a respeito das idéias que o influenciaram. Provavelmente, ele mencionaria os acontecimentos que o envolviam na época e faria referência às suas leituras. A morte é outro tema importante em Castro Alves. Sua mãe sucumbiu à tuberculose e ele mesmo contraiu a doença com apenas 16 anos. Mas não se sinta desconfortável por abordar esse tema, pois o próprio Castro Alves compôs diversos poemas sobre a morte. Além desses, há muitos outros assuntos, como os passatempos que o poeta cultivava, sua carreira de declamador, suas viagens etc. Use o conhecimento adquirido com a leitura de O navio negreiro e outros poemas e sua criatividade. Bom trabalho e boa diversão! SUPLEMENTO DE ATIVIDADES 10 1 NOME: NO: ESCOLA: C SÉRIE: onhecido como “poeta dos escravos”, Castro Alves foi o maior expoente da chamada geração condoreira do Romantismo brasileiro. Defensor da causa abolicionista e da igualdade entre os homens, morreu precocemente, deixando, entre outros, “O navio negreiro”, considerado por muitos o mais belo poema da língua portuguesa. As atividades a seguir pretendem ampliar a compreensão de O navio negreiro e outros poemas e de seu tempo. Desenvolva-as após a leitura do livro, dos Diários de um Clássico, da Contextualização Histórica e da Entrevista Imaginária. 10. exploração do homem pelo homem, acredita que isso possa ser revertido e transmite alguma esperança, como se pode constatar nos versos “... crê no porvir, na mocidade / Sol brilhante do céu da liberdade”. Qorpo Santo, pseudônimo do gaúcho José Joaquim Campos Leão (1829-1883), foi contemporâneo de Castro Alves. Como o poeta baiano, ele também criticou o cinismo da sociedade do seu tempo. Leia os trechos abaixo e responda: 11. Qorpo Santo, “Eu sou a vida; eu não sou a morte”. Disponível em: www.bibvirt.futuro.usp.br/index.php/content/view/full/16128 Acesso em julho de 2007. ALVES, Castro. “Adeus meu canto”. In: O navio negreiro e outros poemas. São Paulo: Saraiva, 2007 (Clássicos Saraiva). Apesar de os dois trechos se referirem à ameaça que o homem é para o próprio homem – a exploração da humanidade pela própria humanidade –, há uma diferença na maneira como os autores abordam o tema. Que diferente ênfase é dada pelos autores a esse tema? Qorpo Santo não apresenta qualquer esperança, conforme fica claro nos versos “Dos que te fazem carinho, / Crê que te devoram / Os lobos; e não coram!”. Castro Alves, por sua vez, apesar de combater a O trecho a seguir caracteriza o impulso emocional do Romantismo, a alma, por assim dizer, do movimento. O trecho abaixo situa Castro Alves e o momento romântico do qual participou. 7 O século XIX brasileiro é caracterizado por quatro tônicas: Nacionalismo, Liberalismo, Retórica e Revolução, não se podendo com toda a certeza precisar onde termina a primeira para dar lugar à segunda e onde a terceira fronteia a última, pois que o espírito que exacerba o Nacionalismo vive de liberdade e esta se exprime sob a forma de discurso ou de tiro de canhão. (...) A Revolução por que se ansiava era preponderantemente a liberal. E Castro Alves, mais do que qualquer outro, foi o poeta da liberdade. Nele a liberdade amplia as asas e, atravessando rios selvagens e cordilheiras, acoberta a terra americana; esplende como coluna de fogo num momento de exaltação à independência baiana; coroa de um halo de heroísmo, imperecível, a fronte de Pedro Ivo; procura ser o ácido que vai dissolver as gargalheiras do escravo; sonha com a alforria republicana. É a liberdade de Lord Byron e de Victor Hugo. A liberdade dos pronunciamentos revolucionários e das lojas maçônicas. A liberdade dos panfletos subversivos e a dos regicídios. A liberdade dos comícios de rua e das aulas discursadas na Academia. A Liberdade total: a Liberdade política de que seria em nosso meio o mais significativo representante, a encarnação mais poderosa. A Liberdade religiosa; a Liberdade econômica (...). HADDAD, Jamil Almansur. In: ALVES, Castro. Poesias completas, 2. ed. São Paulo: Saraiva, 1960. Como você situaria Castro Alves com relação às aspirações do momento histórico do qual participou? Castro Alves foi um porta-voz das aspirações do seu tempo, difundindo propostas de liberdade republicana, e questionou posições – como A NOVA DO CADÁVER - A SUA ENTREVISTA IMAGINÁRIA 12. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA Ind’assim, toma sentido! Vê que é tudo fingido; Não creias algum louvor: Sabei: – Te trará dor! (...) Não te fies, meu Lindinho, Dos que te fazem carinho, Crê que te devoram Os lobos; e não coram! Assim, quando essa turba horripilante, Hipócrita sem fé, bacante impura, Possa curvar-te a fronte de gigante, Possa quebrar-te as malhas da armadura, Tu deixarás na liça o férreo guante Que há de colher a geração futura... Mas, não... crê no porvir, na mocidade, Sol brilhante do céu da liberdade. a abolição da escravidão – que apenas começavam a ser debatidas. 8 O Romantismo assinala, em todo caso, uma separação profunda, relativamente às concepções precedentes. Ele representa as reivindicações do indivíduo, da sua personalidade móvel, sensibilidade, emoção e dos valores interiores. Ao abstracionismo dos princípios, ele contrapõe a concretização instável da vida, a pulsação infinita da Natureza, o fluir imanente e dramático da História. Ao frio domínio da razão, opõe a força dos sentimentos, das paixões, da fantasia. Aos absolutos imutáveis opõe o relativismo inquieto e sofrido da subjetividade. É um constante apelo ao “eu”, que, em relação a tudo e a todos, se contrapõe como sendo a alternativa mais autêntica. Modificando-se, com isto, as próprias concepções da arte. O significado de livre criação – fundada esta sobre valores emocionais subjetivos e fantásticos – passa para o primeiro plano. Ao passo que o Neoclassicismo, fundado na imitação dos antigos e na inspiração de um “belo ideal” elaborado, atestava que a forma nobre e o conteúdo sublime possuem mais valor do que a expressão individual e os fatos contingentes; o Romantismo, ao contrário, refuta tudo isto, e contrapõe, polemicamente, o seu próprio subjetivismo expressivo, mais a pesquisa, às vezes ostensiva, do sentimento. PISCHEL, Gina. “O oitocentismo: Romantismo e Realismo”. In: História universal da arte, v. III. São Paulo: Melhoramentos, s.d., p. 126, 128. O Romantismo busca explorar e revelar elementos que repercutem a atenção dada ao indivíduo a partir das idéias de liberdade e igualdade preconizadas pelos filósofos do século XVIII. Cite alguns desses elementos psicológicos explorados pela arte romântica. Por exemplo, o individualismo e o subjetivismo. Para os artistas românticos, o mundo pessoal, interior, torna-se palco para a criação – sempre repleta de emoções pessoais. A consciência da solidão confere ao romântico um sentimento de inadequação, de deslocamento no mundo real, levando-o a buscar refúgio no próprio “eu”. 9 Agora é com você, caro leitor. Valendo-se das orientações desta edição e das suas respostas às atividades de leitura, elabore uma nova entrevista com o autor, mais ou menos como a Entrevista Imaginária do final do livro. Que perguntas você faria, se tivesse a oportunidade de conversar com Castro Alves? Com base na obra e na vida do poeta, dê asas à criatividade e imagine as respostas que ele daria. Você pode perguntar, por exemplo, sobre sua paixão pela atriz portuguesa Eugênia da Câmara, para quem o poeta compôs alguns dos melhores exemplos da sua produção lírico-amorosa. “Quem era Eugênia da Câmara?”, “Quando você a viu pela primeira vez?”, “O que a atriz significou para você?” são algumas questões que poderão ser formuladas. Um assunto imprescindível na sua conversa com Castro Alves é a defesa ao abolicionismo. Conforme você leu nos Diários de um Clássico, o poeta baiano foi pioneiro na luta pelo fim da escravidão, numa época em que praticamente não se falava a favor dos cativos. Há exemplos belíssimos do pensamento de Castro Alves nos versos que compõem O navio negreiro e outros poemas. Neles, o autor não defende apenas os africanos, mas todos os povos injustiçados, cantando também, como em “O século”, o sofrimento de poloneses, gregos e húngaros. Uma boa idéia é indagá-lo a respeito das idéias que o influenciaram. Provavelmente, ele mencionaria os acontecimentos que o envolviam na época e faria referência às suas leituras. A morte é outro tema importante em Castro Alves. Sua mãe sucumbiu à tuberculose e ele mesmo contraiu a doença com apenas 16 anos. Mas não se sinta desconfortável por abordar esse tema, pois o próprio Castro Alves compôs diversos poemas sobre a morte. Além desses, há muitos outros assuntos, como os passatempos que o poeta cultivava, sua carreira de declamador, suas viagens etc. Use o conhecimento adquirido com a leitura de O navio negreiro e outros poemas e sua criatividade. Bom trabalho e boa diversão! SUPLEMENTO DE ATIVIDADES 10 1 NOME: NO: ESCOLA: C SÉRIE: onhecido como “poeta dos escravos”, Castro Alves foi o maior expoente da chamada geração condoreira do Romantismo brasileiro. Defensor da causa abolicionista e da igualdade entre os homens, morreu precocemente, deixando, entre outros, “O navio negreiro”, considerado por muitos o mais belo poema da língua portuguesa. As atividades a seguir pretendem ampliar a compreensão de O navio negreiro e outros poemas e de seu tempo. Desenvolva-as após a leitura do livro, dos Diários de um Clássico, da Contextualização Histórica e da Entrevista Imaginária. 10. exploração do homem pelo homem, acredita que isso possa ser revertido e transmite alguma esperança, como se pode constatar nos versos “... crê no porvir, na mocidade / Sol brilhante do céu da liberdade”. Qorpo Santo, pseudônimo do gaúcho José Joaquim Campos Leão (1829-1883), foi contemporâneo de Castro Alves. Como o poeta baiano, ele também criticou o cinismo da sociedade do seu tempo. Leia os trechos abaixo e responda: 11. Qorpo Santo, “Eu sou a vida; eu não sou a morte”. Disponível em: www.bibvirt.futuro.usp.br/index.php/content/view/full/16128 Acesso em julho de 2007. ALVES, Castro. “Adeus meu canto”. In: O navio negreiro e outros poemas. São Paulo: Saraiva, 2007 (Clássicos Saraiva). Apesar de os dois trechos se referirem à ameaça que o homem é para o próprio homem – a exploração da humanidade pela própria humanidade –, há uma diferença na maneira como os autores abordam o tema. Que diferente ênfase é dada pelos autores a esse tema? Qorpo Santo não apresenta qualquer esperança, conforme fica claro nos versos “Dos que te fazem carinho, / Crê que te devoram / Os lobos; e não coram!”. Castro Alves, por sua vez, apesar de combater a O trecho a seguir caracteriza o impulso emocional do Romantismo, a alma, por assim dizer, do movimento. O trecho abaixo situa Castro Alves e o momento romântico do qual participou. 7 O século XIX brasileiro é caracterizado por quatro tônicas: Nacionalismo, Liberalismo, Retórica e Revolução, não se podendo com toda a certeza precisar onde termina a primeira para dar lugar à segunda e onde a terceira fronteia a última, pois que o espírito que exacerba o Nacionalismo vive de liberdade e esta se exprime sob a forma de discurso ou de tiro de canhão. (...) A Revolução por que se ansiava era preponderantemente a liberal. E Castro Alves, mais do que qualquer outro, foi o poeta da liberdade. Nele a liberdade amplia as asas e, atravessando rios selvagens e cordilheiras, acoberta a terra americana; esplende como coluna de fogo num momento de exaltação à independência baiana; coroa de um halo de heroísmo, imperecível, a fronte de Pedro Ivo; procura ser o ácido que vai dissolver as gargalheiras do escravo; sonha com a alforria republicana. É a liberdade de Lord Byron e de Victor Hugo. A liberdade dos pronunciamentos revolucionários e das lojas maçônicas. A liberdade dos panfletos subversivos e a dos regicídios. A liberdade dos comícios de rua e das aulas discursadas na Academia. A Liberdade total: a Liberdade política de que seria em nosso meio o mais significativo representante, a encarnação mais poderosa. A Liberdade religiosa; a Liberdade econômica (...). HADDAD, Jamil Almansur. In: ALVES, Castro. Poesias completas, 2. ed. São Paulo: Saraiva, 1960. Como você situaria Castro Alves com relação às aspirações do momento histórico do qual participou? Castro Alves foi um porta-voz das aspirações do seu tempo, difundindo propostas de liberdade republicana, e questionou posições – como A NOVA DO CADÁVER - A SUA ENTREVISTA IMAGINÁRIA 12. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA Ind’assim, toma sentido! Vê que é tudo fingido; Não creias algum louvor: Sabei: – Te trará dor! (...) Não te fies, meu Lindinho, Dos que te fazem carinho, Crê que te devoram Os lobos; e não coram! Assim, quando essa turba horripilante, Hipócrita sem fé, bacante impura, Possa curvar-te a fronte de gigante, Possa quebrar-te as malhas da armadura, Tu deixarás na liça o férreo guante Que há de colher a geração futura... Mas, não... crê no porvir, na mocidade, Sol brilhante do céu da liberdade. a abolição da escravidão – que apenas começavam a ser debatidas. 8 O Romantismo assinala, em todo caso, uma separação profunda, relativamente às concepções precedentes. Ele representa as reivindicações do indivíduo, da sua personalidade móvel, sensibilidade, emoção e dos valores interiores. Ao abstracionismo dos princípios, ele contrapõe a concretização instável da vida, a pulsação infinita da Natureza, o fluir imanente e dramático da História. Ao frio domínio da razão, opõe a força dos sentimentos, das paixões, da fantasia. Aos absolutos imutáveis opõe o relativismo inquieto e sofrido da subjetividade. É um constante apelo ao “eu”, que, em relação a tudo e a todos, se contrapõe como sendo a alternativa mais autêntica. Modificando-se, com isto, as próprias concepções da arte. O significado de livre criação – fundada esta sobre valores emocionais subjetivos e fantásticos – passa para o primeiro plano. Ao passo que o Neoclassicismo, fundado na imitação dos antigos e na inspiração de um “belo ideal” elaborado, atestava que a forma nobre e o conteúdo sublime possuem mais valor do que a expressão individual e os fatos contingentes; o Romantismo, ao contrário, refuta tudo isto, e contrapõe, polemicamente, o seu próprio subjetivismo expressivo, mais a pesquisa, às vezes ostensiva, do sentimento. PISCHEL, Gina. “O oitocentismo: Romantismo e Realismo”. In: História universal da arte, v. III. São Paulo: Melhoramentos, s.d., p. 126, 128. O Romantismo busca explorar e revelar elementos que repercutem a atenção dada ao indivíduo a partir das idéias de liberdade e igualdade preconizadas pelos filósofos do século XVIII. Cite alguns desses elementos psicológicos explorados pela arte romântica. Por exemplo, o individualismo e o subjetivismo. Para os artistas românticos, o mundo pessoal, interior, torna-se palco para a criação – sempre repleta de emoções pessoais. A consciência da solidão confere ao romântico um sentimento de inadequação, de deslocamento no mundo real, levando-o a buscar refúgio no próprio “eu”. 9 Agora é com você, caro leitor. Valendo-se das orientações desta edição e das suas respostas às atividades de leitura, elabore uma nova entrevista com o autor, mais ou menos como a Entrevista Imaginária do final do livro. Que perguntas você faria, se tivesse a oportunidade de conversar com Castro Alves? Com base na obra e na vida do poeta, dê asas à criatividade e imagine as respostas que ele daria. Você pode perguntar, por exemplo, sobre sua paixão pela atriz portuguesa Eugênia da Câmara, para quem o poeta compôs alguns dos melhores exemplos da sua produção lírico-amorosa. “Quem era Eugênia da Câmara?”, “Quando você a viu pela primeira vez?”, “O que a atriz significou para você?” são algumas questões que poderão ser formuladas. Um assunto imprescindível na sua conversa com Castro Alves é a defesa ao abolicionismo. Conforme você leu nos Diários de um Clássico, o poeta baiano foi pioneiro na luta pelo fim da escravidão, numa época em que praticamente não se falava a favor dos cativos. Há exemplos belíssimos do pensamento de Castro Alves nos versos que compõem O navio negreiro e outros poemas. Neles, o autor não defende apenas os africanos, mas todos os povos injustiçados, cantando também, como em “O século”, o sofrimento de poloneses, gregos e húngaros. Uma boa idéia é indagá-lo a respeito das idéias que o influenciaram. Provavelmente, ele mencionaria os acontecimentos que o envolviam na época e faria referência às suas leituras. A morte é outro tema importante em Castro Alves. Sua mãe sucumbiu à tuberculose e ele mesmo contraiu a doença com apenas 16 anos. Mas não se sinta desconfortável por abordar esse tema, pois o próprio Castro Alves compôs diversos poemas sobre a morte. Além desses, há muitos outros assuntos, como os passatempos que o poeta cultivava, sua carreira de declamador, suas viagens etc. Use o conhecimento adquirido com a leitura de O navio negreiro e outros poemas e sua criatividade. Bom trabalho e boa diversão! SUPLEMENTO DE ATIVIDADES 10 1 NOME: NO: ESCOLA: C SÉRIE: onhecido como “poeta dos escravos”, Castro Alves foi o maior expoente da chamada geração condoreira do Romantismo brasileiro. Defensor da causa abolicionista e da igualdade entre os homens, morreu precocemente, deixando, entre outros, “O navio negreiro”, considerado por muitos o mais belo poema da língua portuguesa. As atividades a seguir pretendem ampliar a compreensão de O navio negreiro e outros poemas e de seu tempo. Desenvolva-as após a leitura do livro, dos Diários de um Clássico, da Contextualização Histórica e da Entrevista Imaginária.