CRÔNICA: GÊNERO MOTIVADOR DAS PRÁTICAS ESCOLARES DA LEITURA E DA ESCRITA NO ENSINO MÉDIO Sandra Araujo Lima (UFAL) [email protected] Introdução Neste artigo, é levada em consideração a abordagem de gênero textual, que tem como finalidade contribuir ao ensino efetivo da lectoescrita na escola, por isso, conforme Antunes (2009, p. 57), “vale tomar os gêneros como referência ao desenvolvimento de competências em leitura e escrita dos fatos verbais com que interagimos socialmente”. Trata-se de uma pesquisa de natureza qualitativa, pois visa analisar o desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita no ensino médio, tendo como base empírica o gênero textual crônica. O trabalho tem relevância, visto que, atualmente, muito se discute o baixo nível de compreensão, bem como de produção de textos dos alunos que se encontram no ensino médio. Mediante essa situação, várias ações visando à erradicação de problemas relacionados à leitura e escrita, nessa etapa escolar, têm surgindo; no entanto, parece que cada vez mais essa problemática tende a crescer. A importância de se desenvolver um trabalho voltado às práticas escolares da leitura e da escrita é tratada neste artigo, levando em consideração refletir sobre a crônica, enquanto gênero textual, com possibilidades de despertar, no aluno do ensino médio, o interesse pelo texto escrito. A esse respeito, Silveira (2009, p.237) acrescenta: “[...] a crônica se presta muito bem ao uso de oficinas de leitura e produção de texto e, se o professor fizer uma boa seleção de crônicas, ela poderá despertar no aluno o tão desejado prazer do texto”. É possível afirmar também que uma metodologia voltada, tanto à leitura quanto à escrita, a partir de um trabalho desenvolvido com o gênero crônica, tem possibilidades de conduzir os alunos à apreciação de outros gêneros ( a exemplo do miniconto, artigo de opinião e ponto de vista), tendo em vista a sua característica híbrida. Além disso, a crônica é um gênero frequentemente encontrado nos livros didáticos do ensino médio, o que já facilita o desenvolvimento da atividade do professor em sala de aula. A discussão ancora-se nas teorias de Bazerman, Marcuschi, Schneuwly e Dolz, Koch, Rojo e Batista, Bunzen e Mendonça, Bender e Laurito, além das já citadas, Antunes e Silveira, entre outros. Os momentos de discussão envolvem uma abordagem sobre os gêneros textuais; a crônica e a formação de leitores e produtores de texto no ensino médio, e a análise das entrevistas com professores do ensino médio sobre o tratamento voltado ao gênero crônica. 1. Os Gêneros Textuais: breve comentário No que se refere à construção e compreensão dos textos, um ponto merece destaque: os gêneros textuais. Segundo Kress (1993, p.36) apud Silveira (2005, p. 39), “a linguagem sempre acontece em forma de texto; e como texto, ela inevitavelmente ocorre numa determinada forma genérica. Essa forma genérica emerge da ação dos sujeitos sociais em determinadas ações sociais”. Inicialmente, a palavra “gênero” remetia apenas ao estudo dos gêneros literários: lírico, épico e dramático. Mas estes, tanto na Antiguidade como na época contemporânea, sempre foram estudados pelo ângulo artístico-literário de sua especificidade, das distinções diferenciais intergenéricas (nos limites da literatura), e não enquanto tipos peculiares de enunciados que se diferenciam de outros tipos de enunciados com os quais contudo têm a natureza verbal (lingüística) ( BAKHTIN, 1997, p. 280). Atualmente, a palavra gênero aparece não somente relacionada ao literário, mas também a textos com uma determinada função e intenção para um determinado receptor; logo, esses textos apresentam características que os determinam. “Como leitores, usamos o gênero para demarcar o tipo de mundo em que entramos em cada texto [...]” (BAZERMAN, 2009, p.47); ademais, quando nos referimos a gêneros, inegavelmente, também, nos remetemos tanto à leitura quanto à escrita, que conduzem os sujeitos à interação por meio de práticas sociais discursivas. Por isso, “ os gêneros textuais, por seu caráter genérico, são um termo de referência intermediário para a aprendizagem” (SCHNEUWLY e DOLZ, 2010, p. 64). Daí a necessidade de se enfatizar a prática pedagógica voltada ao texto, a partir da utilização de gêneros que circulam tanto na escola quanto fora dela. A bem da verdade, determinados gêneros, levados à sala de aula, já foram apreciados pelos alunos, em algum momento, em algum lugar, e terão possibilidades de nova apreciação a partir de outro contato. Todo texto – tanto na sua forma composicional quanto discursiva – constitui-se pelo gênero que o caracteriza. Em alguns, é possível observar a presença de outros gêneros sem que nem sempre o leitor atente para isso. Koch (2007, p.114) afirma que “a hibridização ou a intertextualidade intergêneros é o fenômeno segundo o qual um gênero pode assumir a forma de um outro gênero, tendo em vista o propósito da comunicação”. No entanto, para que se efetive o reconhecimento do gênero predominante, necessita-se da experiência do sujeito enquanto leitor; para isso, é importante que as práticas de compreensão e, por conseguinte, de produção de textos escritos na escola visem a um sujeito que detenha, sobretudo, conhecimentos sobre determinados gêneros textuais, ou seja, aqueles mais frequentes na sua prática leitora e que – na maior parte das vezes – ele desconhece quanto à classificação. No dizer de Silveira (2005, p.37): Os gêneros estão presentes, portanto, em todas as circunstâncias da vida, em que as ações humanas são mediadas pela atividade discursiva. Talvez por serem tão freqüentes e tão “naturais” em todos os níveis e situações da vida humana, não nos damos conta de sua existência. É necessário, pois, conduzir o produtor/leitor a encontrar o caminho exato para a compreensão/produção de textos, a partir do conhecimento da função e classificação dos gêneros. Agir assim facilita tanto ao locutor quanto ao interlocutor situarem-se durante as respectivas práticas discursivas. Os gêneros textuais tornaram-se discurso adotado, praticamente, em todas as formações de professores de Língua Portuguesa, cuja finalidade é a de levá-los (os gêneros) à sala de aula, ou seja, transformá-los em prática pedagógica rotineira. No entanto, para o exercício dessa prática contemplar as reais necessidades de leitura e escrita na escola, especialmente no ensino médio, tendo em vista os alunos se encontrarem em uma etapa escolar que já requer deles uma certa competência leitora, deve-se considerar o trabalho em sala de aula voltado a um gênero que, a bem da verdade, venha contribuir inicialmente ao interesse do aluno pelo texto e, posteriormente, ao exercício da leitura e produção textual. 2. Gênero textual e livro didático Os gêneros textuais contribuem à construção de textos, que sempre se fixam em algum suporte e, na sala de aula, principalmente na escola pública, o suporte textual mais próximo do aluno é o livro didático (LD). Marcuschi (2008, p.179) acrescenta que “o livro didático é nitidamente um suporte textual [...] particularmente o livro didático de língua portuguesa é um suporte que contém muitos gêneros [...]”, trazendo, com certa frequência, o gênero crônica, que, por suas propriedades e características, pode motivar as práticas escolares da leitura e da escrita, principalmente no ensino médio, pelo fato de nessa fase escolar muitos alunos – ainda – apresentarem – conforme constatado – deficiências de compreensão referentes à leitura e produção textual, necessitando, portanto, do contato com textos que os motivem a ler e escrever. Durante muito tempo, os autores dos livros didáticos de português preocuparam-se, especialmente, com conteúdos e exercícios de gramática, os textos que apareciam nesse material direcionavam-se, em primeiro plano, ao estudo das regras gramaticais e, quando voltados à produção, visavam apenas às tipologias textuais (narração, descrição e dissertação). No entanto, ultimamente, observa-se que, mediante a urgência de as escolas desenvolverem metodologias de trabalho objetivando a formação de leitores/produtores de textos, alguns autores de livros didáticos – ancorados em teorias linguísticas e seguindo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), que também partem dessas teorias – trazem em seus manuais capítulos pertinentes à leitura e produção de textos a partir de estudos com gêneros textuais, reforçando, assim, os vários discursos de que “[...] a noção de gênero, constitutiva de texto, precisa ser tomada como objeto de ensino [...]”, PCNs (2001, p.23). Mesmo havendo uma preocupação pedagógica mais direcionada ao ensino fundamental, principalmente no que concerne à escolha e distribuição do livro didático, mediante a seleção de conteúdos presentes nesse material, é notório, ultimamente, haver certa preocupação relacionada aos livros didáticos para o ensino médio, preferencialmente no que diz respeito ao trabalho voltado aos gêneros textuais. É importante salientar que a palavra “gênero”, quando relacionada a textos, era conhecida pelos estudantes somente a partir do momento em que eles ingressavam no atual ensino médio e relacionava-se apenas aos gêneros literários, os quais eram abordados nos livros de literatura e em alguns de língua portuguesa que também contemplavam uma parte destinada aos estudos literários. Hoje, no entanto, a referência a gêneros, nos livros didáticos do ensino médio, contempla um estudo voltado tanto à leitura quanto à produção de diversos textos que circulam socialmente. Apesar de algumas queixas, apresentadas por alguns professores, em relação ao livro didático de Língua Portuguesa, vê-se a necessidade de não negligenciar o seu uso na sala de aula, pois trata-se de um suporte que contém uma variedade de gêneros textuais. Sendo assim, é responsabilidade do professor, inicialmente, selecionar os gêneros que mais se aproximem das necessidades e preferências dos seus alunos para, dessa forma, motivá-los à leitura e, posteriormente, à escrita. 3. O gênero crônica e a formação de leitores e produtores de textos escritos no ensino médio Há algum tempo, as discussões sobre a importância de se valorizar aulas voltadas às habilidades de leitura e escrita, na última etapa da educação básica, já se tornaram práticas rotineiras nos encontros entre professores de Língua Portuguesa, ao se levar em consideração o fato de os alunos constantemente apresentarem problemas relacionados ao ato de ler e escrever. Eles não conseguem compreender os gêneros textuais que circulam na escola e fora dos seus muros, além de não apresentarem condições de produzir, com relativo conhecimento e facilidade, textos coerentes e significativos. O que fazer então? Como orientação, vê-se que o primeiro passo é conduzir o aluno a uma atividade prazerosa direcionada às atividades relacionadas ao texto escrito: inicialmente, leitura; em seguida, escrita. Com essa finalidade, é necessário, como dito anteriormente, levar à sala de aula textos que motivem os jovens ao ato de ler. A crônica é um exemplo, por conquistar a cada dia um público considerável, visto ter aproximação maior com o leitor, através da forma pela qual relata ou narra os acontecimentos, isto é, uma conversa fiada. E, mesmo sendo considerada um gênero menor, trata dos mais variados assuntos, seja nas páginas de jornal, revista ou livro, encaminhando o leitor à reflexão, ou seja, o que parece menor, por atrair mais leitores, torna-se maior. Bender e Laurito (1993, p. 44) dizem que [...] um leitor de gênero menor não seria um leitor menor, e sim um leitor a mais. E a crônica, principalmente por ser tão difundida nos livros didáticos, acaba sendo a principal fonte de texto literário para a maioria dos nossos jovens, quando não a única, [...] então por que estigmatizá-la, tachando-a de menor? Por meio de uma crônica pode-se conhecer particularidades de várias culturas, manifestações de um povo, de uma época, numa miscigenação entre o jornalismo e o literário, além da abordagem de temas mais próximos dos leitores, especialmente daqueles que ainda não fizeram da leitura uma prática. Levando-se em consideração a urgência na inserção dos estudantes, em especial os do curso médio, nas práticas escolares da leitura e da escrita, é possível vislumbrar ainda no gênero crônica situações discursivas que apresentam condições significativas de conduzir – sem exigências – o educando ao interesse pelo texto escrito, principalmente porque a crônica “elabora uma linguagem que fala de perto ao nosso modo de ser mais natural” (CÂNDIDO, p.13, 1992). A respeito, Ferreira (2008, p.37) acrescenta: “o cronista recorta o assunto em um dos seus aspectos mais peculiares e dá a ele um tratamento subjetivo e mais ‘humanizado’, comunicando-se com o leitor de maneira íntima, estabelecendo com ele um diálogo direto”. Apesar de o referido gênero ser considerado típico do jornalismo, seu objetivo não é jornalístico, mas – conforme já mencionado – reflexivo. Ao cronista cabe direcionar o leitor aos fatos, mas de forma diferente da notícia, ao apresentar-lhe o cotidiano com uma leveza que somente a crônica possui. O jornalista apresenta o fato informando-o ou divulgando-o, enquanto o cronista dele aproveita-se para, com toda uma graça e leveza, levá-lo ao público. Além disso, “O espaço em que acontece o fato analisado pelo cronista não fica no mundo real que nos rodeia. Mesmo quando há verdade inquestionável no que diz, as entrelinha e as analogias é que interessam” (BENDER e LAURITO, 1993, p.44). Mediante uma série de alternativas que a crônica oferece ao trabalho com textos na sala de aula, tornar-se-á possível, a partir dela, montar e desenvolver, nesse espaço escolar, atividades voltadas à leitura e à produção do texto escrito. Primeiro, porque ao produzir textos tendo como ponto de partida outro(s) do qual (is) os alunos gostam, facilitará a tarefa inicial da escrita; além disso, o gênero aqui tratado apresenta uma linguagem próxima ou igual à dos nossos jovens; segundo, estando estes já habituados ao exercício da leitura e escrita de crônicas, poderão partir para as peculiaridades de outros gêneros, haja vista – conforme já mencionado – ser a crônica um gênero híbrido. Levando em consideração as palavras de Marcuschi (2002, p.36), quando este ressalta que “[...] o trabalho com gênero será a forma de dar conta do ensino dentro de um dos vetores da proposta oficial dos Parâmetros Curriculares Nacionais que insistem nessa perspectiva”, é a crônica, pois, o gênero textual com possibilidades de abrir o caminho para esse trabalho. 4. A crônica e o ensino da leitura e da escrita: um análise das entrevistas com os professores do ensino médio Tendo em vista a crônica ser aqui considerada um gênero com grandes possibilidades de promover a interação texto/leitor/ouvinte, foi realizada em quatro escolas (duas públicas e duas particulares) da cidade de Arapiraca, no estado de Alagoas, uma investigação a respeito do referido gênero, enquanto motivador das práticas de leitura e escrita no ensino médio. Este artigo traz, portanto, a análise das entrevistas realizadas com quatro professores de Língua Portuguesa, que lecionam em turmas do primeiro ano do ensino médio nas mencionadas instituições. Vale salientar que, nas duas instituições privadas, a referida disciplina é tripartida, ou seja, Gramática, Redação e Literatura não são – cada uma – ministradas pelo mesmo professor. Por isso, nessas instituições, foram entrevistados os professores que trabalham com cada uma dessas modalidades. No entanto, por neste trabalho constar apenas um recorte das entrevistas, os quadros abaixo, em relação às escolas particulares, apresentam trechos das entrevistas com os professores de Redação, bem como as respectivas análises. Para critério de informação, denominamos as escolas públicas de A e B, da mesma forma são denominadas as escolas particulares. Os falantes são marcados pelas siglas P1, P2, P3 e P4 para professor e P para pesquisadora. Escola pública A P- para você... como anda a prática de leitura entre os jovens? P1-ain::da... ainda deixa a desejar... tá:?... eles poderiam eh::: / ainda leem menos do que deviam... eh:: mais tem melhorado... eu eu observo isso P- seus alunos gostam de ler? P1- a questão da leitura ain::da é um problema... né? ma::s ho::je eu percebo uma melhora... né? alguns:: já despertaram... não / eh:: talvez não tanto quanto deveriam... né? an:tes eu observava que a leitura / havia pouca leitura... ho::je já está mais ampla... já tem um pouco mais de consciência P- quem gosta mais de ler... os meninos ou as meninas? P1- as meninas... sem/ sempre as meninas eu eu percebo isso P- seus alunos gostam de escrever? P1- eh... a escrita eles têm mais dificuldade do que a leiTUra... estão associadas né... leitura e esCRIta... mas:::... eles ainda preferem mais ler que a escrita P- como anda a produção escrita deles? P1- eles têm produzido sim... com di / ainda com dificuldades... mas:::: a produção... eh:::... eles produ::zem (...) P- o livro didático... qual a sua opinião sobre ele...o livro didático que vocês utilizam? P1- olhe... eh::... o livro didático... principalmente na escola pública... eu acho importante... o NO::SSO... ESte... eh::... eu acho que tem contribuído bastante... não é? não... eu ( ) usar só o livro didático... mas ELE... principalmente nas escolas/ na escola estadual... é necessário... né? e:: eu acho que dependendo da escolha do LIVRO... o livro que se use... ele é importante sim P- você gosta de crônicas? P1- gosto muito de crônicas... né? por ser um texto BRE::ve e::: que retrata... né... como saber o dia-a-di::a... bom de:: trabalhar com o alu:no e e eu pessoalmente gosto muito P- qual é a contribuição que a crônica pode dar para motivação da leitura em sala de aula? P1-ah:: contribui bastante... eh:::... o aluno::... hãn::: ele ainda tem::... eh:: vamos dizer assim... a questão da leitura... ele ainda não tem muito esse hábito... e a crônica por ser BREVE e::: ser a temática do dia-a-dia... eles se identificam bem... eu acho que contribui bastante por essa questão... é porque através daí que desperta pra outros textos... um texto menor mais le::ve... não é? P- você já fez alguma experiência de ensino visando à produção escrita de algum gênero especifico? P1-já.. já... já fiz com poe::mas... CRÔ::nica... bastante com crô::nica e eles produ::zem a partir do que foi ensina::do... do que foi estuda::do... né? eles produzem sim... eh::: (...) P- e como foi essa experiência? o que você achou? P1- eu ache::i posit:iva na medida que eles:... eh::::... tiveram motivação e:: e criAram... né? houve cla::ro eh::: muita::: / a crônica / muita confusão entre o con/ o conto tal... mas eles tenTAram... TENtam e sempre fazem... eh::... e houve assim... com a produção... houve assim... melhora da parte deles em:: eh:... em trabalhar o gênero... eu acho que eles trabalharam... estão produzindo (...) P- mas a a produção... a experiência ... você tem uma experiência maior com o poema ou foi com a crônica... qual foi assim desses dois gêneros que a experiência foi maior... o::u os dois foram do mesmo.. (...) P1- eu acho que os dois (...) P- do mesmo (...) P1- é... é... agora assim::... com os poemas eles tinham mais:::... eles conhecem mais né? fazem mais parte... a crônica eles estão conhecendo bem melhor e estão melhorando bastante... faltava conhecer mais né? ser trabalhado mais na sala... a partir do momento que foi trabalhado... está sendo MAis trabalhado... eles estão se identificando e gostando muito P- no caso do ensino-aprendizagem da literatura... que importância você atribui à crônica e aos crônistas? P1- assim... é mais um::::... vamos dizer... mais um::: um subsí::dio... algo assim... né? mais um:: um supor::te eh:: para que eles desenvo:lvam esse gosto pela leitura e pela escrita... a crônica eu acho que é um dos caminhos que podem despertar no aluno eh:::... maior vonTAde... maior / de ler e escrever P- e aos cronistas? P-1 eu acho que... assim... pode ser trabalhado como tex:to pedagógico / diDÁtico... pode ser trabalhado na sala de aula... porque::: trabalha assim as língua::gens... e pode ser assim... utilizado de diversas formas... né?... tanto a escri::ta... a temá::tica... co:mo:: (...) Escola pública B P- para você... como anda a prática de leitura entre os jovens? P2- têm... têm lido... tem dia que eu tenho observado muito que eles têm vindo pra aqui pra sa pra biblioteca... que eles gostam... pedem muitos livros...ficam interessados... eu acho estou achando interessante isso... P- seus alunos gostam de ler? P2 – alguns... alguns... eles fazem: fazem questão de fazer de fazer a leitura quando eu peço pra algum deles fazer a leitura... eles fazem questão... mas os outros alunos ficam - - professora deixe pra depois depois - - e ficam protelando... adiando... gaguejam muito também... tem isso também de gaguejar bastante P- quem gosta mais de ler... os meninos ou as meninas? P2- as meninas... as meninas são (...) ((risos)) P- seus alunos gostam de escrever ? P2- não... não gostam...são preguiçosos P- como anda a produção escrita deles? eles têm produzi:do? P2- têm... têm... têm produzido P- o livro didático... qual a sua opinião sobre o livro didático da escola... que vocês utilizam? P2- eu não gostei desse livro... esse livro que nós estamos trabalhando... eu acho ele muito muito tá falta muita coisa... não sei... tem alguma coisa de (( a professora gagueja um pouco))diferente eu não... não me adaptei com esse livro não P- você gosta de crônicas? P2- mais ou menos (...) por que na realidade a crônica é o quê? é a opinião que eles vão dar sobre algum assunto e: na normalmente é isso que a gente quer né? quando a gente pede um um uma redação um texto que eles escrevam na verdade eles vão dizer o que eles pensam... e a crônica é isso... né? P- qual é a contribuição que:: a crônica pode dar para motivação da leitura em sala de aula? P2- pode pode pode ajudar bastante porque aí eles vão vão aprender mais... eh:: como é que diz? vão ter mais assunto pra comentar... né? aí a leitura é importante P- você já fez alguma experiência de ensino visando à produção escrita de algum gênero específico? P2- às vezes assim... quando eu peço pra eles fazerem ((gagueja bastante)) um tipo de redação mas na realidade não é uma redação... pra eles escreverem alguma coisa eu peço que eles façam o que eles quiserem... aí pode ir qualquer um desses aí(...) P- e em relação à crônica... você já utilizou ou pensou em utilizá-la de alguma forma na sala de aula? P2- eh... na realidade é o que a gente vem comentando... só assim...que eles falem do que eles acham de alguma coisa... um comentário que eles fazem... que é expressar a opinião própria deles né? na crônica... né? P- no caso do ensino aprendizagem da literatura... que importância você atribui à crônica e aos cronistas? P2- tem importância tem né? porque o que eles fazem... eu estou trabalhando literatura agora... fazendo um seminário...que a gente está trabalhando... e eles estão descobrindo o os nossos escritores... nossos autores e estão fazendo pecinhas teatrais... então é isso... eu estou achando interessante P- mas tem trabalhado com alguns cronistas... tem identificado alguns cronistas? P2- não Escola particular A – Professor de Redação P- como anda a prática de leitura entre os jovens? P3- eu lhe digo com toda sinceridade... péssima... porque:: a INTERNET ela eh:: uma faca /eu costumo dizer que a internet é uma faca de dois gumes... aju::da e atrapalha... porque: o aluno quando chega na internet... ele esquece do MUN::DO e é só aquele mundo DELE... P- seus alunos gostam de ler? ((risos)) P3- essa aí é uma é uma consequência da questão anterior... numa classe digamos de:: quarenta alu::nos... cinquenta alunos... eu acho que se tiver DEZ que goste de ler:: pra mim já:::... eu já me sinto vitoriosa P- quem gosta mais de ler... os meninos ou as meninas? P3- não aí o / aí o eh::: eu não vejo assim meninos e meninas... as vezes eu eu vejo alunos que gostam bem mais de ler do que as meninas... entendeu? Eu tenho alunos que eles gostam mesmo de ler... mas do que as meninas... e aí isso aí depende... depende:: de cada um depende da sala... não é da sala...mas depende de cada um... eu não tenho eh: esse diagnostico preciso P- seus alunos gostam de escrever? P3- olha a questão da leitura / da escrita é quase a mesma da leitura... porque quem gosta ((pesquisadora interrompe)) porque quem gosta de ler... gosta de escrever... quem gosta de escrever... gosta de ler... então um leva / a leitura leva à escrita... a escrita leva à leitura... quer dizer uma coisa depende da outra... quem não gosta de ler... DETESTA escrever... P- como anda a produção escrita deles? P3- a produção escrita... mais ou menos... eh:::... existe um:: um VÍCIO de IN-TERNET na escrita enor:me... porque eles:: ouvem... eles:: escrevem muito... e aquilo que eles escrevem e ouvem... a memória deles já está assim eh::... digamos o seguinte acostuMAda... então muitas vezes flui normalmente... eles nem percebem que escreveram errado... porque... porque... né? P- o livro didático... no caso... eh:: são os módulos... não é isso? Qual a sua opinião sobre ele? P3- não esse livro é muito bom... eu gostei dele... gostei agora eu acho que teria que ter mais exercício { P- bem elabora::do P- você gosta de crônicas? P3- é eu gosto muito de ler crônicas não leio mais por falta de tempo... porque assim... eu tenho muita coisa do colégio pra fazer e:: eu preciso entregar e eu preciso dar conta e:: e:: quando eu vou ler geralmente eu estou com sono... eu tenho que falar a verdade... mas assim... quando eu pego um jornal... um livro ou alguma coisa... a primeira coisa que eu olho é se tem alguma crônica... que a crônica ela passa assim uma lição de vida pra você mui::to grande e é um texto gosto:so pra ler P- qual é a contribuição que a crônica pode dar à motivação da leitura em sala de aula? P3- ah:: bom:... eu gosto de trabalhar crônicas porque...assim... geralmente as crônicas são textos pequenos... textos pequenos e esses textos ((algum aluno entra no recinto e interrompe a entrevista)) e esse texto eh:: muitas vezes ele... ele traz até assim... uma lição de vida... tem determinadas crônicas que a / você passa pro aluno e às vezes tem aluno até que se identiFIca com as crônicas e isso é gostoso pra gente como professor: passar isso pra eles... eu gosto P- então a crônica pode dar essa contribuição à motivação da leitura? P3- para motivação da leitura... motivar o aluno... porque as vezes você ver uma crônica...aí o aluno se identificou...aí pergunta... professora... tem outra crônica dessa? tem... vou trazer pra você tal... isso é importante pra eles... ESTIMULAR à leitura P- você já fez alguma experiência de ensino visando à produção escrita de algum gênero especifico? P3-já já fiz de artigo de opinião P- e em relação à crônica... você já utilizou ou pensou em utilizá-la de alguma forma na sala de aula? P3- não... já utilizei... mas assim... não detalhes... esporadicamente... eu não usei no sentido de::... digamos o seguinte... de fazer um trabalho diferenciado... eu trouxe um tex::to... eu trouxe uma crô::nica que fala:va:: assim... como uma lição de vida pra eles... e daí foi bom porque eu trabalhei... eh:::... trabalhei o ser diferenciar do ter... que a gente vive numa sociedade onde as pessoas valorizam muito o ser e escolhe / esquece o ter... isso aí pra um aluno... pra um adolescente (...) P- no caso do ensino aprendizagem da literatura... que importância você atribui à crônica e aos cronistas? P3- bom porque a literária ela é...a crônica literária é totalmente voltada pra:: mais assim... para o aspecto literal...né? de você trabalhar / o aluno do segundo grau ele já tem uma base e ele ele já sabe diferenciAR né? e assim... com relação aos cronistas... aquelas pessoas que que::: que produzem... porque a crônica é uma inspiração... né? é você se inspirar:... é você produzir:... é você colocar no papel o seu sentimentali:::smo... sua maneira de ser... de agir e aí através das palavras... não é?então a crônica é::: o extravasar do ser... do croNISta... não é? muitas vezes a a pessoa... a própria pessoa ele está até... não está bem consigo mesmo e ele começa a produzir e ele começa a a fazer aquilo ali e de uma maneira que eu acho que até depois que ele produz ele olha e diz... foi eu que fiz? não é? então isso eh:: no sentido da valorização do cronista da da da pessoa que produziu... eu eu acho importante e eu valorizo... eu não trabalho mais em sala de aula porque eu tenho que ter outros... eu tenho outras atividades para ser exploradas... mas sempre que posso eu trabalho crônicas... acho muito importante Escola particular B – Professor de Redação P- como anda a prática de leitura entre os jovens? P4- olha eles gostam MU::ito de ler.. agora qualquer coisa que não tenha sido mandado pelo professor... o professor mandou ler... aí já fica aquela coisa por obrigaçã:::o... muitos depois de estarem na leitu::ra já que o professor pediu... aí já está tudo bem... está tranquilo... porque está gostando... mas a partir do momento que você pa:ssa um livro... passa qualquer coisa pra eles lerem... aí eles já sentem um pouco de repúdio P- seus alunos gostam de ler? P4- gostam... a maioria sim P- quem gosta mais de ler... os meninos ou as meninas? P4- ah acho que... com certeza... as meninas... né... por que desde os li:vros mesmos que elas encontram por aí... até revis:::tas - - é mu::ito raro encontrar um menino com uma revista... né? - - já menina não... está sempre lendo P- e os seus alunos gostam de escrever? P4- em parte... acho que varia muito também... meni:na gosta mais do que menino pela questão do diá:::rio né? é aquilo mais pessoa::... então as meninas gostam mais P- como anda a produção escrita deles? P4- em andamento ((risos)) eles aos pouquinhos vão pegando o rí::tmo e aí termina acostumando e termina virando rotina e já não é mais tão chocante como nas primeiras aulas P- e o livro didático... qual é a sua opinião sobre ele? você não utiliza não é? P4- não eu não tenho um livro adotado mes::mo... até porque é o meu segundo ano com eles em redação... na verdade no ano passado eu trabalhei só o restinho do quarto bimestre... então não tinha muito como opinar (...) P- é geralmente a escola não adota um {livro de redação P4- só que esse a::no... aí como a editora... quando veio no finalzinho do ano passado... deixou um livro comigo que então eu decidi o seguinte... que esse ano eu trabalharia o livro e que aí eu julgaria... se eu achasse que o livro realmente era bom... que dava pra você trabalhar em sala de aula... eu adotaria no próximo ano... que no caso é o que eu pretendo realmente fazer em dois mil e onze (...) P- você gosta de crônicas? ((risos)) P4- gosto... gosto... acho interessante... trabalhei algumas com eles esse ano P- e qual é a contribuição que a crônica pode dar para motivação da leitura em sala de aula? P4- olhe... eu penso o seguinte... como a crônica inicialmente é um texto CURTO... né... você não dá pra comparar o tamanho de uma cônica com um livro em si... né? então fica mais fácil pra os alunos lerem na própria sala de a::ula e por serem questões cotidia::nas fica mais fácil também deles opina::rem... então eu acho que a crônica dá essa facilidade pra eles participarem mais também durante a aula P- e você já fez alguma experiência de ensino visando à produção escrita de algum gênero especifico? P4- pronto olhe só... eu trabalho no decorrer do a::no... vario bastante com a produção textual... então sempre de acordo com o gênero que está sendo trabalhado... eles fazem produções de acordo com aquele gênero do momento... então eles já produziram car:::tas... bula de remé::dio... eles se divertiram muito com a produção da bula porque tem uma dinâmica bem diferente com eles... então... dependendo do gênero... eles estão sempre produzindo de acordo com o que esta sendo trabalhado P- mas desses gêneros... qual foi o que você mais trabalhou este ano? P4- olhe o foco mesmo... não tem como sair... é a dissertação... né? dissertação é o que pega mesmo... especialmente nas turmas de terceiro a:no... então terceiro ano TOdos os bimestres eles veem redação... já no primeiro ano... por exemplo... não... eu reservo o quarto bimestre... porque eu vou ter trabalhado todos os três primeiros bimes::tres a questão dos outros gê::neros... a questão da escri::ta... deles desenvolverem mais essa escrita e aí por isso que eu deixo a dissertação... no primeiro... ano só para o quarto bimestre P- e em relação à crônica... já utilizou ou pensou em utilizá-la de alguma forma na sala de aula? P4- olhe eu trabalhe::i... eu gosto muito das crônicas do:: Luís Fernando VeRÍssimo e de Rubem Braga e aí eu sempre trabalho muito a questão de::/ da biografi:a de:les... porque tem mu:::ita... especialmente a do Rubem Braga que eu gosto mais na verdade... tem muito haver com o que ele escre::ve... então faço muito essa relação de... a biografia do autor... será que tem a ver com o que ele escreve? será que a crônica é só ficção e não pode tirar nada pra nossa vida... porque nada dá pra usufruir? e aí: eles vão percebendo que a crônica tem realmente a ver... agora é aquela coisa... né... eu traba::lho a crô::nica meio que de acordo com o seu período... não passo o ano inteiro trabalhando crônica... até pra poder variar nos tipos de textos P- no caso do ensino-aprendizagem da literatura... que importância você atribui à crônica e aos cronistas? P4- olhe só... justamente a questão... né? é um texto mais simples não é? podemos dizer assim... está mais na língua:gem dos alu:nos... então termina CONTRIbuindo pra ele aprender mais a ler::... né? porque na verdade muitos têm o habito de só LER e quando chega no final não sabe nem o que é que leu... não entende o que é que leu...então por ser um texto cur:to... por ter oportunidade até na aula de debater o tex:to... eles terminam aprendendo a ler com mais atenção e facilita... consequentemente... pra leitu:ra mesmo deles e pra o gosto pela literatura... ok? A análise das entrevistas, com os professores das quatro instituições de ensino, em relação à prática da leitura entre os jovens, revela certa divergência nas informações obtidas por parte das professoras das duas instituições públicas, A e B. A primeira, da escola A, demonstra a necessidade de melhorar a leitura entre os jovens e acrescenta que, mesmo sendo esse um problema de sala de aula, alguns dos seus alunos vêm se conscientizando da importância de inserir a leitura ao próprio cotidiano. A segunda informante, ao contrário da primeira, mostra-se otimista em relação à prática leitora dos jovens da escola B, especialmente, dos seus alunos, ao levar em consideração o fato de os mesmos comparecerem – com certa frequência – à biblioteca da escola. Todavia, quando indagada sobre os alunos gostarem de ler, a professora equivoca-se ao levar em consideração apenas o ato de ler em voz alta na sala de aula. Nesse quesito, relacionado à prática leitora dos jovens, as informantes das instituições privadas, A e B, também divergem um pouco: a primeira define “péssima” a leitura entre os jovens, atribuindo esse fracasso, em parte, à influência negativa da internet e acrescenta que, entre os seus alunos, o descaso à leitura dá-se também mediante o fato de os mesmos negligenciarem o texto escrito. Já nas palavras da informante da escola B, percebe-se o interesse dos jovens pela leitura; no entanto, por uma leitura não imposta pelo professor, levantando a hipótese de que, para os alunos, esse tipo de leitura – mesmo quando interessante – consta apenas como avaliação de conteúdo. Em relação ao ato de ler ser mais frequente entre meninos ou meninas, as professoras das escolas públicas afirmam ser uma ação mais perceptível entre as meninas. Essa unanimidade não aparece nas respostas das informantes das escolas privadas, tendo em vista a professora da escola A não apresentar um diagnóstico preciso quanto a essa informação. Em contrapartida, a professora da escola B vê as meninas liderando o grupo de leitores; essa percepção, segundo a docente, dá-se mediante o contato das alunas com alguns livros e revistas, ao que tudo indica revistas direcionadas ao público jovem feminino. Quando indagada sobre o interesse dos alunos pela escrita e sobre o andamento da produção escrita dos mesmos, a professora da escola pública A informou haver entre os estudantes dificuldade maior em relação a essa categoria, quando comparada à leitura. Mas, segundo ela, mesmo com dificuldade, eles têm produzido. A professora da escola pública B corrobora com essa informação, ao referir-se aos próprios alunos; no entanto, vai além ao justificar a situação, acrescentando que os estudantes são “preguiçosos” para escrever. Mesmo assim, “eles têm produzido.” Em relação às instituições particulares, a professora da escola A detém o mesmo diagnóstico das professoras das instituições públicas, informando que a produção escrita dos alunos não anda bem e o motivo para isso é o vício adquirido através de diálogos mantidos pela internet, resultando, portanto, em erros de grafia. Considerando-se o discurso dessa professora, infere-se, pois, que ela não contemplou a produção escrita, aqui colocada, enquanto construção de sentidos, mas exercício de grafia. Essa observação por parte da docente, evidencia que “[...] a formação de leitores – produtores que saibam avaliar e analisar seus próprios textos e os de outros autores [...]” (BUNZEN e MENDONÇA, 2006, p. 17) vem sendo negligenciada. Já, para a professora da escola B, uma parte dos alunos gosta de escrever, sendo mais perceptível nas meninas, a exemplo da referência à leitura. A docente atribui o interesse ser maior em relação às meninas, pela prática de escrita que elas mantêm nos diários; ao tratar da produção, a professora usa uma forma velada de revelar que esta também necessita ser melhorada entre os seus alunos. Um outro ponto questionado foi o uso do livro didático. Tratando-se das escolas públicas, a professora da escola A demonstra total adesão a esse material, ressaltando a importância do mesmo, principalmente, nas escolas públicas. Em favor dessa resposta, é importante considerar as colocações de Rojo e Batista (2003), quando acrescentam a importância do livro didático no processo de letramento dos alunos do Ensino Fundamental, pelo fato de ser esse, muitas vezes, o único material de leitura disponível aos discentes em suas casas. Essa informação adéqua-se, pois, aos estudantes do ensino médio, quando em instituições públicas, levando em consideração o fato de grande parte deles também em casa apoiar-se apenas no livro didático para efetivar suas leituras. No entanto, a resposta da professora da escola B apresenta divergência em relação à resposta atribuída pela professora da escola A, ela nega a importância do livro didático de Língua Portuguesa adotado aos alunos do primeiro ano do ensino médio, ressaltando não haver se adaptado ao material (o mesmo adotado pela escola A), sem revelar o motivo para isso. No tocante às escolas particulares, a escola A não utiliza especificamente livro didático, mas apostilas que são trabalhadas por módulos. A professora diz gostar muito desse material, contudo pontua a carência de haver nele mais exercícios. Em se tratando da escola B, não há um livro específico para Redação, a docente, quando entrevistada, estava seguindo um livro, como experimento, recomendado por uma editora e já demonstrava pretensão em adotá-lo durante o ano letivo de 2011. Dentre a variedade de gêneros a serem trabalhados no ensino médio, as informantes foram indagadas sobre a crônica. As quatro professoras responderam que veem nesse gênero a motivação ao aluno do ensino médio para o desenvolvimento da leitura e da escrita. A professora da escola pública A demonstrou prazer em relação ao gênero, enfatizando, inclusive, a importância de este ser trabalhado em sala de aula, levando em consideração o fato de o aluno se identificar com o mesmo. A informante ainda ratificou uma colocação já feita no início deste artigo: a crônica desperta os jovens ao contato com outros gêneros. Esse é um dado importante para o nosso estudo, ao se levar em consideração também o fato de a professora haver – no início do ano letivo de 2010 – realizado atividades voltadas tanto à leitura quanto à produção de crônicas em turmas do primeiro ano do ensino médio, atendendo a uma solicitação da Olimpíada de Língua Portuguesa, edição 2010. Em se tratando da escola B, percebe-se que a professora, mesmo colocando a importância da crônica ao desenvolvimento de trabalhos direcionados à lectoescrita, respondeu gostar do gênero apenas em parte. A bem da verdade, ao ser indagada se já havia levado crônicas à sala de aula, a docente demonstrou insegurança quanto ao conhecimento do gênero em questão. Ela, ainda, informou que, ao direcionar os alunos à produção escrita, não o faz a partir de um gênero especificamente, ao contrário, permite que a escolha aconteça individualmente, a critério de cada aluno. Ao contemplar a importância da leitura de crônicas, a professora da escola particular A atribui à “falta de tempo” uma leitura não frequente do citado gênero. Ressalta a relevância das crônicas ao estímulo à leitura entre os estudantes, levando em consideração esse gênero apresentar peculiaridades que despertam o interesse dos jovens ao texto escrito. Todavia, na sala de aula da informante, a crônica foi trabalhada de forma breve, apenas com o intuito de abordar uma temática necessária à discussão em determinado momento. Mesmo assim, ela acrescenta ser perceptível o interesse dos alunos pelas crônicas, quando, após a leitura, eles solicitam ao professor mais leitura do gênero. A docente continua, explicando que o motivo de não desenvolver um trabalho nesse sentido, na sala de aula, dá-se por haver outras atividades que precisam ser exploradas. Infere-se, portanto, que as atividades das quais trata a informante estejam relacionadas aos conteúdos a serem trabalhados durante o ano letivo. A explicação da professora da escola particular B, relacionada ao gênero mencionado, revela que a docente já o levou algumas vezes à sala de aula. Ela também acrescenta que, por tratar-se de um texto curto e apresentar fatos cotidianos, torna-se mais fácil aos alunos opinarem sobre temas abordados numa crônica, facilitando e, por conseguinte, oportunizando a participação dos estudantes nas possíveis discussões voltadas ao tema ali tratado. No entanto, as entrelinhas de sua resposta revelam que a informante não se dedicou, na sala de aula, a um trabalho voltado a esse gênero, cujos traços constitutivos, nas palavras de Cândido (1992, p.19), “são um veículo privilegiado para mostrar de modo persuasivo muita coisa que, divertindo, atrai, inspira e faz amadurecer a nossa visão das coisas”. Considerações finais A formação de leitores competentes e capacitados à produção escrita da diversidade de gêneros textuais, que circulam no âmbito social, é uma tarefa a ser seriamente pensada e repensada pela escola, visto que ainda é notória a resistência de alguns educadores a um trabalho seriamente direcionado ao texto escrito. Cabe, pois, ao professor, enquanto mediador do saber, a tarefa de conduzir os estudantes ao contato com gêneros que estimulem o interesse pelos textos escritos, pois somente ele (o professor) é capaz de fazer um diagnóstico das necessidades de aprendizagem dos seus alunos e, assim, promover estratégias de ensino adequadas à situação identificada. Nas palavras de Schneuwly e Dolz (2004, p. 45), essas estratégias “supõem a busca de intervenções no meio escolar que favoreçam a mudança e a promoção dos alunos a uma melhor mestria dos gêneros e da situação de comunicação que lhes correspondem”. Um gênero adequado a despertar, a priori, a curiosidade do aluno pelo texto e – por extensão – sua adesão a esse objeto, proporcionará ao professor condições de efetivar um trabalho cujo resultado poderá ser gratificante. O ensino, quando direcionado dessa forma, possibilitará significativas alterações nos métodos de orientação à aprendizagem da leitura e produção do texto escrito que ora observamos. As respostas das professoras entrevistadas, por exemplo, evidenciam a real situação dos nossos jovens em relação à leitura e escrita em nosso contexto. Além do mais, nesse quesito, não se visualizou um hiato entre instituições públicas e privadas, apesar de algumas informantes procurarem abrandar, em relação aos seus alunos, a situação identificada. Isso leva a perceber que o problema aqui tratado não está somente nas escolas públicas, ou seja, os alunos das escolas particulares também demonstram desinteresse pelos textos escritos. Em vista dessa situação, o resultado da investigação colaborou para se constatar, por meio do discurso das professoras entrevistadas, a crônica como gênero eficaz ao propósito de despertar o aluno que se encontra na etapa final da educação básica ao interesse pelo texto escrito. Portanto, diante das dificuldades de comunicação pelas quais passa boa parte dos brasileiros, e sendo a escola o alicerce dessa competência comunicativa, as orientações à leitura e produção de texto – mediadas pelo gênero crônica – contribuirão de forma significativa para o bom andamento do trabalho docente na sala de aula. REFERÊNCIAS ANTUNES, Irandé. Língua, texto e ensino: outra escola possível. São Paulo: Parábola, 2009. BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1997. BAZERMAN, Charles. Gêneros textuais, tipificação e interação. Orgs. DIONÍZIO, Angela Paiva; HOFFNAGEL, Judith Chambliss. Trad. HOFFNAGEL, Judith Chambliss. São Paulo: Cortez, 2009. BENDER, Flora; LAURITO, Ilka. 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