Saúde Coletiva ISSN: 1806-3365 [email protected] Editorial Bolina Brasil Salvador Ferronato, Camile Cristina; Pinheiro de Sousa, Dalvelena Josefa; Yokoyama Xavier, Elizabete Kazue; Saturada, Lurico; Bandeira de Jesus, Maria do Socorro Laqueadura tubária em mulheres entre 20 a 25 anos de idade atendidas em uma UBS de Pimenta no Bueno - RO no período de 2005 a 2006 Saúde Coletiva, vol. 6, núm. 31, 2009, pp. 150-154 Editorial Bolina São Paulo, Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=84212136006 Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc Sistema de Informação Científica Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto saúde da mulher Ferronato CCS, Sousa DJP, Xavier EKY, Saturada L, Jesus MSB. Laqueadura tubária em mulheres entre 20 a 25 anos de idade atendidas em uma UBS de Pimenta no Bueno - RO no período de 2005 a 2006. Laqueadura tubária em mulheres entre 20 a 25 anos de idade atendidas em uma UBS de Pimenta no Bueno - RO no período de 2005 a 2006 Este estudo de caráter descritivo e abordagem quantitativa objetivou analisar a frequência da laqueadura tubária nas mulheres com idade entre 20 e 25 anos atendidas na Unidade Básica de Saúde Pastor Jonas, Pimenta Bueno - RO, nos anos de 2005 e 2006; traçar o perfil sociodemográfico, bem como verificar os motivos da opção pelo método e as consequências na vida das mesmas. A população estudada foi composta por 18 mulheres que se submeteram a laqueadura tubária. Dentre as mulheres pesquisadas, 55,55% tinham ensino fundamental; 77,77% viviam em união estável; 66,66% com renda familiar de um a trés salários. Quanto aos motivos para escolha da laqueadura, 88,89% referiram a dificuldade financeira e, na mesma proporção, a satisfação com o número de filhos já existentes; 77,78% das mulheres participaram de reunião de planejamento familiar e 72,22% tiveram a participação do parceiro na decisão pela laqueadura, e a maioria referiu satisfação com o resultado. Os resultados mostram a necessidade de uma melhor organização da estrutura de serviços de saúde que atenda a população de forma universal e com equidade, no que tange ao programa de planejamento familiar, principalmente entre a população jovem. Descritores: Laqueadura tubária, Saúde da mulher, Planejamento familiar. This descriptive study, with a quantitative approach, aimed to analyze the frequency of the tubal ligation on women aging between 20 and 25 years, attended of in the Basic Health Unit of Pastor Jonas, Pimenta Bueno/RO, Brazil, from 2005 to 2006. It also aimed to trace the social demographic profile, as well as verifying the reasons for the option of the method and the consequences in their lives. The studied population was composed by 18 women who had done the tubal ligation. Amongst them, 55,55% had basic education; 77,77% had a steady union; 66,66% had a familiar income varying from 1 up to 3 minimum salaries. Considering the reasons to choose the ligation, 88,89% related financial difficulties and, in the same ratio, the satisfaction with the number of children; 77.78% participated in meetings to discuss family planning and 72.22% had the participation of the partner in the decision to sterilization, and most of them referred to be satisfied with the procedure. The results show the need for a better organization on the health services structure in order to cover all the population with equity regarding the family planning program, especially among young people. Descriptors: Tubal Ligation; Women’s health; Family planning. Este estudio de carácter descriptivo y cuantitativo objetivo analizar la frecuencia de la ligadura de trompas en mujeres con edad entre los 20 y 25 años, atendidas en la Unidad Básica de Salud Pastor Jonas, Pimenta Bueno/RO, Brasil, en los años de 2005 y 2006. Otro objetivo es trazar el perfil socio demográfico, así como la verificación de las razones de la opción por el método y las consecuencias en la vida de las mujeres. La población estudiada fue 18 mujeres que habían hecho ligadura de trompas. De las investigadas, 55,55% tenían educación básica; 77,77% tenían unión familiar estable, 66,66% tenían ingresos familiares de 1 a los 3 salarios mínimos. Cuánto a las razones para la elección de la ligadura, 88,89% tenían dificultades financieras e, en la misma proporción, satisfacción con el número de niños ya existentes; 77,78% de las mujeres participaron de la reunión de planificación familiar, y 72,22% tuvo la participación del pareja en la decisión de la esterilización. Cuanto a las consecuencias de la esterilización, la mayoría estaba satisfecha. Los resultados muestran la necesidad de una mejor organización en la estructura de los servicios de salud y que responda a la población con equidad, en términos del programa de planificación familiar, especialmente entre los jóvenes. Descriptores: Ligadura de trompas, Salud de la mujer, Planificación familiar. Recebido: 22/04/2008 Aprovado: 15/02/2009 150 Saude da mulher.indd 150 Saúde Coletiva 2009;06 (31):150-154 26.06.09 15:42:41 Ferro saúde da mulher Ferronato CCS, Sousa DJP, Xavier EKY, Saturada L, Jesus MSB. Laqueadura tubária em mulheres entre 20 a 25 anos de idade atendidas em uma UBS de Pimenta no Bueno - RO no período de 2005 a 2006. Camile Cristina salvador Ferronato: Enfermeira. Especialista em Enfermagem Obstétrica. Especializanda em Saúde da Família. Enfermeira do Programa de Saúde da Família (Chupinguaia-RO). - [email protected] dalvelena Josefa Pinheiro de sousa: Enfermeira. Especialista em Saúde Coletiva. Especializanda em Saúde da Família. Coordenadora do Serviço de Epidemiologia de Pimenta Bueno-RO. elizabete Kazue Yokoyama Xavier : Enfermeira. Especialista em Saúde Pública. Especialista em Gerenciamento em Unidade de Saúde – GERUS. Especializanda em Saúde da Família. Enfermeira do Programa de Saúde da Família de Pimenta Bueno-RO. lurico saturada: Enfermeira. Especialista em Saúde Pública. Especialista em Gerenciamento em Unidade de Saúde – GERUS. Especializanda em Saúde da Família. Enfermeira do Programa de Saúde da Família de Pimenta Bueno-RO. Maria do socorro Bandeira de Jesus: Enfermeira. Mestre em Doenças Tropicais. Professora Assistente do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de Rondônia. iNtRoduÇÃo alta prevalência de laqueadura no Brasil está provocando muita preocupação e discussão, principalmente quando analisadas as distorções que provocam esse fenômeno, como a realização da esterilização cirúrgica precocemente na vida das mulheres, ou seja, quando elas ainda são bastante jovens e têm poucos filhos; a associação entre a realização da laqueadura e as altas taxas de partos cirúrgicos; a necessidade de recursos financeiros extras para realização do procedimento em serviços privados pela dificuldade de acesso em serviços públicos1. Hoje o planejamento familiar é considerado questão de saúde pública em todo mundo e recebe atenção da comunidade de saúde, tanto em países desenvolvidos quanto naqueles em desenvolvimento. Diferentes métodos contraceptivos estão disponíveis, porém a esterilização tubária ainda é um dos mais utilizados, sendo realizado inclusive em mulheres com idade inferior a 25 anos, grupo que frequentemente manifesta arrependimento posterior2. A grande controvérsia sobre a utilização da laqueadura como método anticoncepcional no Brasil, e a falta de estudos sobre esta prática em mulheres com menos de 25 anos, cuja procura vem crescendo a cada ano, motivaram a busca de mais dados acerca de como a laqueadura está, ou vem modificando a vida das mulheres nesta faixa etária. A indiscutível eficácia e conveniência por um lado, e a irreversibilidade por outro, leva a necessidade de uma reflexão sobre as consequências da cirurgia na vida das mulheres, ao longo dos anos. Segundo dados do IBGE, a mulher brasileira em 1970 tinha em média 5,8 filhos, 30 anos depois esta media é de 2,3 filhos. No ano de 2000, com exceção da região Norte, as demais regiões apresentaram taxas de fecundidade próximas à taxa média nacional2,3. Na Pesquisa Nacional sobre Demografia e Saúde, realizada em 1996, observa-se que há concentração no uso de dois métodos contraceptivos: a laqueadura tubária e a pílula (40% e 21%, respectivamente). A prevalência da ligadura tubária é maior nas regiões onde as mulheres têm condições socioeconômicas mais precárias3. A A Constituição Federal, aprovada pelo congresso Nacional em 1988, inclui no seu Artigo 226, Parágrafo 7°, a responsabilidade do Estado nos seguintes termos: “fundado nos princípios de dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável, o planejamento familiar é de livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos para o exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas”. Frente a experiências profissionais na área de saúde da mulher no município de Pimenta Bueno - RO, observou-se, nos últimos tempos, um aumento do número de mulheres com início de atividade sexual e maternidade precoce, gravidez não planejada e consequentemente, demanda por laqueaduras tubárias por essas mulheres jovens. Diante de tal realidade, considera-se importante estudar essa temática, principalmente percebendo a deficiência no Programa de Planejamento Familiar, no que diz respeito à prática das ações educativas. Por esses motivos, o presente estudo pretende contribuir para implementar as ações conjuntas entre os diver- Gráfico 1. Laqueadura em mulheres entre 20 e 25 anos acompanhadas na UBSPJ. Pimenta Bueno-RO, 2005/2006. 300 246 Saúde Coletiva 2009;06 (31):150-154 Saude da mulher.indd 151 225 150 100 (n) 75 18 (%) Universo de mulheres 7 0 Frequência 151 26.06.09 15:42:43 saúde da mulher Ferronato CCS, Sousa DJP, Xavier EKY, Saturada L, Jesus MSB. Laqueadura tubária em mulheres entre 20 a 25 anos de idade atendidas em uma UBS de Pimenta no Bueno - RO no período de 2005 a 2006. Tabela 1. Perfil das mulheres submetidas à laqueadura tubária, UBSPJ. Pimenta Bueno - RO, 2005/2006. Idade das mulheres 20 – 21 anos 22 – 23 anos 24 – 25 anos Escolaridade em anos de estudo 1 – 3 anos 4 – 7 anos 8 anos e mais Estado civil Casada União estável Renda Familiar Até 1 salário De 1 – 3 salários Mais de 3 salários Número de gestação 2 gestações 3 gestações 4 gestações ou mais Número de filhos vivos 2 filhos 3 filhos 4 filhos ou mais Conhecimento sobre métodos contraceptivos Diu Contraceptivo hormonal Preservativo masculino Laqueadura Métodos naturais Frequência de uso dos métodos contraceptivos Contraceptivo hormonal Preservativo Métodos naturais Nenhum (n) 3 5 10 (%) 16,66 27,77 55,55 3 11 4 16,66 61,11 22,22 4 14 22,22 77,77 5 12 1 27,77 66,66 5,55 2 8 11,11 44,44 8 44,44 3 7 8 16,66 38,38 44,44 1 6 6 3 2 5,55 33,33 33,33 16,66 11,11 12 4 1 1 66,66 22,22 5,55 5,55 Tabela 2. Motivos que influenciaram na realização de laqueadura tubária, UBDPJ. Pimenta Bueno - RO, 2005 e 2006. Motivos Renda familiar Satisfação com o número de filhos Patologias associadas (n) 16 16 4 (%) 88,89 88,89 22,22 sos segmentos sociais, visando melhorar a disponibilização dos diversos métodos contraceptivos e o acesso às informações pertinentes ao planejamento familiar. O objetivo geral deste estudo foi conhecer a situação da laqueadura tubária em mulheres com idade entre 20 a 25 anos, atendidas no Programa de Atenção Integral à Saúde da Mulher 152 Saude da mulher.indd 152 – PAISM, da Unidade Básica de Saúde Pastor Jonas – UBSPJ/Pimenta Bueno - RO, nos anos de 2005 e 2006, tendo como objetivos específicos: • Determinar a frequência da laqueadura tubária em mulheres entre 20 e 25 anos atendidas na UBSPJ no período de 2005 e 2006; • Caracterizar o perfil das mulheres submetidas à laqueadura tubária; • Identificar os motivos que levaram as mulheres a optar pela laqueadura tubária; • Descrever as consequências da laqueadura na vida das mulheres que optaram por esse método definitivo. Metodologia Trata-se de um estudo de caráter descritivo retrospectivo com abordagem quantitativa. Do universo de 246 mulheres entre 20 a 25 anos atendidas no PAISM da UBSPJ, foram selecionadas e participaram do estudo 18 mulheres submetidas a laqueaduras tubárias nos anos de 2005 e 2006. A pesquisa somente foi iniciada após a permissão do Gestor Municipal de Saúde de Pimenta Bueno, RO e autorização do Comitê de Ética da Faculdade de Ciências Biomédicas de Cacoal – FACIMED. Ao identificar uma mulher elegível para o estudo, esta era contatada através de visita domiciliar e convidada a participar da pesquisa. Mediante aceitação as mulheres assinavam o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, em conformidade com a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de saúde, e só assim a pesquisa era realizada. Como instrumento para a coleta de dados foi utilizado um questionário com questões fechadas e abertas direcionados aos objetivos do estudo. Os dados foram codificados e digitados em planilha eletrônica, em forma de bancos de dados excel for windows, e analisados pelo programa “Statistical Package for the Social Science (SPSS)”, bem como comparados com a literatura que versa sobre o assunto. Resultados O gráfico 1, mostra em número e percentual o universo de mulheres entre 20 a 25 anos atendidas na Unidade Básica de Saúde Pastor Jonas - UBSPJ e as que se submeteram a laqueadura tubária. Resultados de outros estudos mostram que a prevalência da laqueadura tem aumentado no país. No Estado de São Paulo, entre os anos de 1978 e 1988, esse aumento foi de mais de 100%. Além disso, as mulheres estão se submetendo a laqueadura tubária em uma idade precoce. As mulheres sem filhos e menores que 25 anos têm prevalência de 2,5%4. A tabela 1 mostra o perfil das mulheres pesquisadas. Das 18 mulheres participantes do estudo que se submeteram ao procedimento cirúrgico de laqueadura, 55,55% tinham entre 24 – 25 anos; 27,77,% entre 22 – 23 anos; e 16,66,% entre 20 – 21 anos de idade. A idade média para laqueadura foi de 24 anos. É preocupante a precocidade na utilização da laqueadura como método contraceptivo, e é questionável sua implicação no futuro destas mulheres. Quanto à escolaridade, observou-se que quanto menos tempo de estudo maior a percentagem de mulheres laqueadas. Das mulheres pesquisadas, 11 (61,11%) tinham entre quatro e sete anos de estudo, ou seja, ensino fundamental incompleto e apenas quatro (22,22%) tinham mais de oito anos de estudo. Com Saúde Coletiva 2009;06 (31):150-154 26.06.09 15:42:43 Ferro saúde da mulher Ferronato CCS, Sousa DJP, Xavier EKY, Saturada L, Jesus MSB. Laqueadura tubária em mulheres entre 20 a 25 anos de idade atendidas em uma UBS de Pimenta no Bueno - RO no período de 2005 a 2006. exceção das que referiram ter entre um e três anos de estudo, todas referiram que tinham pretensão de continuar ou recomeçar os estudos, objetivando uma melhor colocação no mercado de trabalho, sendo que o fator filhos implicava em maior dificuldade para concretizar este sonho. Verificou-se que, entre as mulheres esterilizadas, 14 (77,77%) viviam em união estável e quatro (22,22%) eram casadas. Percebeu-se que a instabilidade no relacionamento, a responsabilidade em criar seus filhos, não ter com quem deixá-los para trabalhar, dificuldade de arrumar um emprego e mesmo um outro relacionamento, entre outros fatores, levou as mulheres à opção pela laqueadura tubária. Encontramos ainda situações onde o novo relacionamento implicava em cuidar também dos filhos do companheiro, o que aumentava o desgaste da mulher. Quanto à situação financeira das mulheres, 12 (66,66%) delas afirmaram receberem de um a três salários mínimos, cinco (27,77%) menos de um salário e uma (5,55%) mais de três salários. As famílias com menos de um salário fazem parte do grupo de trabalhadoras braçais ou diaristas. Independente da renda familiar todas as mulheres referiram almejar melhores condições de vida e que o número de filhos implicava diretamente sobre a situação. Em relação ao número de gestações, duas (11,11%) afirmaram terem sido submetidas à laqueadura com apenas dois filhos vivos, oito (44,44%) com três filhos, e oito (44,44%) com quatro ou mais filhos. Considerado a laqueadura tubária como um método irreversível, a realização desta com apenas dois filhos e ainda com idade precoce pode implicar em arrependimento, em momento posterior. Analisando o comportamento reprodutivo feminino, nota-se que houve uma diminuição ou redução do tamanho da família, ao longo dos últimos anos. A mudanças no tamanho da família de onde se tinha muitos filhos, para a atual, que considera três filhos o ideal, tem levado diversos estudiosos a refletirem esse declínio da fecundidade. A diminuição no ritmo de crescimento populacional e a mudança na estrutura da população em direção ao envelhecimento populacional são aspectos bastante conhecidos e discutidos como consequências da queda da fecundidade ocorrida em todo país5. Quanto aos métodos contraceptivos, as mulheres referiram conhecimento de mais de um método e algumas faziam uso intercalado ou concomitante dos mesmos. Estudos têm demonstrado que mulheres esterilizadas têm maior probabilidade de não utilizar práticas de sexo seguro, em particular o preservativo6, ficando mais suscetíveis a intercorrências ginecológicas, a exemplo das neoplasias de colo uterino e das infecções sexualmente transmissíveis. A pílula prevaleceu como método contraceptivo mais utilizado anteriormente, pois 12 das mulheres utilizavam apenas este método, enquanto seis alternavam a pílula, o preservativo masculino e a tabelinha (método natural) independente de nível de instrução, idade e outras variáveis. Apenas uma mulher respondeu não ter feito uso de nenhum tipo de contraceptivo. Os dados mostram que o conhecimento e a prática de métodos contraceptivos naturais ou de barreira é limitado, semelhante aos resultados das pesquisas realizadas por Almeida7 em Salvador, sobre status social e contracepção e Costa et al.8, ao analisar o padrão da contracepção no Rio de Janeiro. Conforme a tabela 2, 16 (88,89%) mulheres citaram como Tabela 3. Participação nas reuniões do Programa de Planejamento Familiar e influência na decisão pela laqueadura, UBSPJ. Pimenta Bueno - RO, 200 e 2006. Participou da reunião Sim Não Influiu na decisão O parceiro A própria mulher O genitor/genitora (%) 77,78 22,22 13 3 2 72,22 16,67 11,11 Tabela 4. Mudanças na vida das mulheres após a laqueadura, UBSPJ. Pimenta Bueno - RO, 2005 e 2006. Mudanças Vida sexual Relacionamento com parceiro Aumento e/ou irregularidade do fluxo menstrual, dismenorreia Trabalho fora de casa Situação econômica Melhor (n) (%) 15 83,33 10 55,55 6 33,33 11 11 61,11 61,11 Pior (n) 3 8 12 (%) 16,66 44,44 66,66 7 7 38,88 38,88 Gráfico 2. Situação de arrependimento, UBSPJ. Pimenta Bueno-RO, 2005/2006. 11% 89% Sim Não motivos, que influenciaram a decisão pela laqueadura, a renda familiar e também a satisfação com número de filhos. Nota-se também que quatro (22,22%) das participantes do estudo mencionaram como motivo para decisão a existência de doença. Para Rodrigues9, em nota publicada no Correio Brasiliense em 2003, a esterilização só deveria ser feita por mulheres com propensão à gravidez de alto risco; aquelas com possibilidade de ter uma gestação normal deveriam optar sempre por contraceptivos reversíveis. A tabela 3 mostra que 14 (77,78%) das mulheres participaram da reunião do planejamento familiar, condição indispensável para realização da cirurgia na instituição pública, onde o casal recebe esclarecimentos sobre os diversos métodos contraceptivos cientificamente comprovados e aceitos e, após discus- Saúde Coletiva 2009;06 (31):150-154 Saude da mulher.indd 153 (n) 14 4 153 26.06.09 15:42:44 saúde da mulher Ferronato CCS, Sousa DJP, Xavier EKY, Saturada L, Jesus MSB. Laqueadura tubária em mulheres entre 20 a 25 anos de idade atendidas em uma UBS de Pimenta no Bueno - RO no período de 2005 a 2006. CoNClusÃo são pelo casal ou pelos responsáveis, retornam para assinarem o Os resultados mostram que 55,55% das candidatas à esterilização termo de solicitação para autorização da laqueadura tubária ou têm idade média de 24 anos, são de relacionamentos considerados vasectomia, conforme o protocolo do Programa de Planejamento estáveis, de baixa renda e escolaridade, com uma média de três gesFamiliar do Ministério da Saúde. tações e três filhos ou mais. Todas tinham conhecimento dos métoTreze (72,22%) mulheres relataram que a decisão por laquedos contraceptivos e 66,66% faziam uso de pílula anticoncepcional adura foi influenciada pelo parceiro, independente do estado ciantes da laqueadura. Os principais motivos relatados para encerrar vil, três (16,67%) responderam que a decisão foi própria e duas a carreira reprodutiva foram a satisfação com o número de filhos, (11,11%) mencionaram que houve a participação dos pais na baixa renda familiar e presença de patologias. decisão pela cirurgia. Sabe-se que a implantação da oferta de métodos cirúrgicos pelo De acordo com a tabela 4, nota-se satisfação em relação à Sistema Único de Saúde (SUS) veio atender ao direito constitucional opção pela esterilização definitiva em dide limitar o número de filhos, contemplando versas áreas da vida das mulheres, princios indivíduos que têm problemas para tê-los, palmente na vida sexual. A despreocupação ou não querem mais reproduzir, bem como com uma possível gravidez proporcionou aqueles que não podem pagar para ter acesso "A INDISCUTÍVEL EFICÁCIA E uma maior liberdade sexual, segundo relaao procedimento. CONVENIÊNCIA POR UM LADO, tos das entrevistadas. Porém, quando as muDas mulheres pesquisadas, 77,78% relheres atribuem à laqueadura uma melhora feriram participação nas reuniões de esclaE A IRREVERSIBILIDADE POR em sua vida sexual, estariam se referindo a recimento do Programa de Planejamento OUTRO, LEVA A NECESSIDADE algo bem menos abrangente que uma libeFamiliar. O aconselhamento oferecido não ração sexual; estariam, quiçá, fazendo refefoi analisado neste estudo com ênfase, para DE UMA REFLEXÃO SOBRE AS rência a que a laqueadura, pela segurança verificar sua eficácia em relação aos seus obCONSEQUÊNCIAS DA CIRURGIA de não engravidar, lhes daria uma vida sejetivos, mesmo porque a inconstância no forxual menos atemorizada10. necimento dos métodos reversíveis dificulta NA VIDA DAS MULHERES, AO a adesão aos mesmos. Os resultados apresentados no gráfico 2 LONGO DOS ANOS" Com relação às consequências da laqueamostram que no grupo de mulheres em esdura sobre a vida das mulheres, a maioria retudo, 16 (88,89%) referem não ter se arrelatou uma melhora em alguns aspectos de suas pendido pela opção pelo método definitivo. vidas, principalmente na vida sexual. Quanto à É preciso lembrar que a opção dessas muinsatisfação, algumas mulheres relataram aumento do fluxo, dismelheres pela laqueadura se deu após receberem orientação adequanorreia e irregularidades no ciclo. da acerca da mesma e as possíveis alternativas contraceptivas. As As ações voltadas à melhoria das condições de vida e saúde das mulheres que afirmaram ter se arrependido, duas (11,11%), são as mulheres deveriam ser buscadas de forma articulada com setores que não participaram de nenhuma reunião de aconselhamento e governamentais e não-governamentais; condição básica para a conainda tiveram participação dos pais na decisão pela laqueadura. figuração de redes integradas de atenção à saúde da mulher e para Análises sobre o arrependimento entre mulheres esterilizadas, em a obtenção dos resultados esperados. outros estudos, apontam à necessidade de se considerar o “temEste estudo trouxe importantes informações para a melhoria da po de esterilização” como variável importante. Pesquisas apontam qualidade da assistência à saúde da mulher, em particular da conque depois de seis anos da laqueadura a possibilidade de detectracepção. Existe espaço para o aprimoramento da oferta de contração de um “verdadeiro” arrependimento aumentaria, sugerindo cepção reversível, principalmente em nível primário. Outras invesessa periodicidade como um parâmetro mais seguro para diferentigações com o objetivo de acompanhar a satisfação dos usuários e ciar o arrependimento entendido como pretensão de reversibilidaos candidatos que não retornaram ao programa podem, contribuir de de outros tipos de insatisfações, por exemplo desconforto e fase fornecendo mais subsídios na atenção à saúde da mulher. de adaptação ao novo estado11. Referências 1. Bemfam & Macro International INC. Pesquisa Nacional sobre Demografia e Saúde (PNDS), Brasil, 1996. Rio de Janeiro: Bemfam/Macro International Inc; 1997. 2. Fernandes MAS. 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