Saúde Coletiva
ISSN: 1806-3365
[email protected]
Editorial Bolina
Brasil
Salvador Ferronato, Camile Cristina; Pinheiro de Sousa, Dalvelena Josefa; Yokoyama Xavier,
Elizabete Kazue; Saturada, Lurico; Bandeira de Jesus, Maria do Socorro
Laqueadura tubária em mulheres entre 20 a 25 anos de idade atendidas em uma UBS de Pimenta no
Bueno - RO no período de 2005 a 2006
Saúde Coletiva, vol. 6, núm. 31, 2009, pp. 150-154
Editorial Bolina
São Paulo, Brasil
Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=84212136006
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saúde da mulher
Ferronato CCS, Sousa DJP, Xavier EKY, Saturada L, Jesus MSB. Laqueadura tubária em mulheres entre 20 a 25 anos de idade atendidas em uma UBS de
Pimenta no Bueno - RO no período de 2005 a 2006.
Laqueadura tubária em mulheres entre
20 a 25 anos de idade atendidas em
uma UBS de Pimenta no Bueno - RO no
período de 2005 a 2006
Este estudo de caráter descritivo e abordagem quantitativa objetivou analisar a frequência da laqueadura tubária nas mulheres com idade entre 20 e 25 anos atendidas na Unidade Básica de Saúde Pastor Jonas, Pimenta Bueno - RO, nos anos
de 2005 e 2006; traçar o perfil sociodemográfico, bem como verificar os motivos da opção pelo método e as consequências na vida das mesmas. A população estudada foi composta por 18 mulheres que se submeteram a laqueadura tubária.
Dentre as mulheres pesquisadas, 55,55% tinham ensino fundamental; 77,77% viviam em união estável; 66,66% com renda
familiar de um a trés salários. Quanto aos motivos para escolha da laqueadura, 88,89% referiram a dificuldade financeira
e, na mesma proporção, a satisfação com o número de filhos já existentes; 77,78% das mulheres participaram de reunião
de planejamento familiar e 72,22% tiveram a participação do parceiro na decisão pela laqueadura, e a maioria referiu satisfação com o resultado. Os resultados mostram a necessidade de uma melhor organização da estrutura de serviços de
saúde que atenda a população de forma universal e com equidade, no que tange ao programa de planejamento familiar,
principalmente entre a população jovem.
Descritores: Laqueadura tubária, Saúde da mulher, Planejamento familiar.
This descriptive study, with a quantitative approach, aimed to analyze the frequency of the tubal ligation on women aging
between 20 and 25 years, attended of in the Basic Health Unit of Pastor Jonas, Pimenta Bueno/RO, Brazil, from 2005 to
2006. It also aimed to trace the social demographic profile, as well as verifying the reasons for the option of the method
and the consequences in their lives. The studied population was composed by 18 women who had done the tubal ligation.
Amongst them, 55,55% had basic education; 77,77% had a steady union; 66,66% had a familiar income varying from 1
up to 3 minimum salaries. Considering the reasons to choose the ligation, 88,89% related financial difficulties and, in the
same ratio, the satisfaction with the number of children; 77.78% participated in meetings to discuss family planning and
72.22% had the participation of the partner in the decision to sterilization, and most of them referred to be satisfied with
the procedure. The results show the need for a better organization on the health services structure in order to cover all the
population with equity regarding the family planning program, especially among young people.
Descriptors: Tubal Ligation; Women’s health; Family planning.
Este estudio de carácter descriptivo y cuantitativo objetivo analizar la frecuencia de la ligadura de trompas en mujeres con
edad entre los 20 y 25 años, atendidas en la Unidad Básica de Salud Pastor Jonas, Pimenta Bueno/RO, Brasil, en los años
de 2005 y 2006. Otro objetivo es trazar el perfil socio demográfico, así como la verificación de las razones de la opción
por el método y las consecuencias en la vida de las mujeres. La población estudiada fue 18 mujeres que habían hecho
ligadura de trompas. De las investigadas, 55,55% tenían educación básica; 77,77% tenían unión familiar estable, 66,66%
tenían ingresos familiares de 1 a los 3 salarios mínimos. Cuánto a las razones para la elección de la ligadura, 88,89% tenían dificultades financieras e, en la misma proporción, satisfacción con el número de niños ya existentes; 77,78% de las
mujeres participaron de la reunión de planificación familiar, y 72,22% tuvo la participación del pareja en la decisión de la
esterilización. Cuanto a las consecuencias de la esterilización, la mayoría estaba satisfecha. Los resultados muestran la
necesidad de una mejor organización en la estructura de los servicios de salud y que responda a la población con equidad,
en términos del programa de planificación familiar, especialmente entre los jóvenes.
Descriptores: Ligadura de trompas, Salud de la mujer, Planificación familiar.
Recebido: 22/04/2008
Aprovado: 15/02/2009
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Ferronato CCS, Sousa DJP, Xavier EKY, Saturada L, Jesus MSB. Laqueadura tubária em mulheres entre 20 a 25 anos de idade atendidas em uma UBS de
Pimenta no Bueno - RO no período de 2005 a 2006.
Camile Cristina salvador Ferronato: Enfermeira. Especialista em Enfermagem Obstétrica. Especializanda em Saúde da
Família. Enfermeira do Programa de Saúde da Família (Chupinguaia-RO). - [email protected]
dalvelena Josefa Pinheiro de sousa: Enfermeira. Especialista em Saúde Coletiva. Especializanda em Saúde da Família.
Coordenadora do Serviço de Epidemiologia de Pimenta Bueno-RO.
elizabete Kazue Yokoyama Xavier : Enfermeira. Especialista em Saúde Pública. Especialista em Gerenciamento em Unidade
de Saúde – GERUS. Especializanda em Saúde da Família. Enfermeira do Programa de Saúde da Família de Pimenta Bueno-RO.
lurico saturada: Enfermeira. Especialista em Saúde Pública. Especialista em Gerenciamento em Unidade de Saúde – GERUS.
Especializanda em Saúde da Família. Enfermeira do Programa de Saúde da Família de Pimenta Bueno-RO.
Maria do socorro Bandeira de Jesus: Enfermeira. Mestre em Doenças Tropicais. Professora Assistente do Departamento de
Enfermagem da Universidade Federal de Rondônia.
iNtRoduÇÃo
alta prevalência de laqueadura no Brasil está provocando muita preocupação
e discussão, principalmente
quando analisadas as distorções
que provocam esse fenômeno,
como a realização da esterilização
cirúrgica precocemente na vida das
mulheres, ou seja, quando elas ainda são bastante
jovens e têm poucos filhos; a associação entre a realização da laqueadura e as altas taxas de partos cirúrgicos; a necessidade de recursos financeiros extras para
realização do procedimento em serviços privados pela
dificuldade de acesso em serviços públicos1.
Hoje o planejamento familiar é considerado questão
de saúde pública em todo mundo e recebe atenção da
comunidade de saúde, tanto em países desenvolvidos
quanto naqueles em desenvolvimento. Diferentes métodos
contraceptivos estão disponíveis, porém a esterilização tubária
ainda é um dos mais utilizados, sendo realizado inclusive em
mulheres com idade inferior a 25 anos, grupo que frequentemente manifesta arrependimento posterior2.
A grande controvérsia sobre a utilização da laqueadura como
método anticoncepcional no Brasil, e a falta de estudos sobre
esta prática em mulheres com menos de 25 anos, cuja procura
vem crescendo a cada ano, motivaram a busca de mais dados
acerca de como a laqueadura está, ou vem modificando a vida
das mulheres nesta faixa etária. A indiscutível eficácia e conveniência por um lado, e a irreversibilidade por outro, leva a necessidade de uma reflexão sobre as consequências da cirurgia na
vida das mulheres, ao longo dos anos.
Segundo dados do IBGE, a mulher brasileira em 1970 tinha
em média 5,8 filhos, 30 anos depois esta media é de 2,3 filhos.
No ano de 2000, com exceção da região Norte, as demais regiões apresentaram taxas de fecundidade próximas à taxa média nacional2,3. Na Pesquisa Nacional sobre Demografia e Saúde, realizada em 1996, observa-se que há concentração no uso
de dois métodos contraceptivos: a laqueadura tubária e a pílula
(40% e 21%, respectivamente). A prevalência da ligadura tubária
é maior nas regiões onde as mulheres têm condições socioeconômicas mais precárias3.
A
A Constituição Federal,
aprovada pelo congresso
Nacional em 1988, inclui
no seu Artigo 226, Parágrafo 7°, a responsabilidade
do Estado nos seguintes termos: “fundado nos princípios
de dignidade da pessoa humana
e da paternidade responsável, o planejamento familiar é de livre decisão do casal, competindo ao
Estado propiciar recursos para o exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de
instituições oficiais ou privadas”.
Frente a experiências profissionais na área de saúde da mulher no município de Pimenta Bueno - RO,
observou-se, nos últimos tempos, um aumento do número de mulheres com início de atividade sexual e
maternidade precoce, gravidez não planejada e consequentemente, demanda por laqueaduras tubárias por essas mulheres jovens.
Diante de tal realidade, considera-se importante estudar essa
temática, principalmente percebendo a deficiência no Programa de Planejamento Familiar, no que diz respeito à prática das
ações educativas. Por esses motivos, o presente estudo pretende
contribuir para implementar as ações conjuntas entre os diver-
Gráfico 1. Laqueadura em mulheres entre 20 e 25 anos
acompanhadas na UBSPJ. Pimenta Bueno-RO, 2005/2006.
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Universo de mulheres
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Frequência
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Pimenta no Bueno - RO no período de 2005 a 2006.
Tabela 1. Perfil das mulheres submetidas à laqueadura
tubária, UBSPJ. Pimenta Bueno - RO, 2005/2006.
Idade das mulheres
20 – 21 anos
22 – 23 anos
24 – 25 anos
Escolaridade em anos de estudo
1 – 3 anos
4 – 7 anos
8 anos e mais
Estado civil
Casada
União estável
Renda Familiar
Até 1 salário
De 1 – 3 salários
Mais de 3 salários
Número de gestação
2 gestações
3 gestações
4 gestações ou mais
Número de filhos vivos
2 filhos
3 filhos
4 filhos ou mais
Conhecimento sobre métodos contraceptivos
Diu
Contraceptivo hormonal
Preservativo masculino
Laqueadura
Métodos naturais
Frequência de uso dos métodos contraceptivos
Contraceptivo hormonal
Preservativo
Métodos naturais
Nenhum
(n)
3
5
10
(%)
16,66
27,77
55,55
3
11
4
16,66
61,11
22,22
4
14
22,22
77,77
5
12
1
27,77
66,66
5,55
2
8
11,11
44,44
8
44,44
3
7
8
16,66
38,38
44,44
1
6
6
3
2
5,55
33,33
33,33
16,66
11,11
12
4
1
1
66,66
22,22
5,55
5,55
Tabela 2. Motivos que influenciaram na realização de
laqueadura tubária, UBDPJ. Pimenta Bueno - RO, 2005 e
2006.
Motivos
Renda familiar
Satisfação com o número de filhos
Patologias associadas
(n)
16
16
4
(%)
88,89
88,89
22,22
sos segmentos sociais, visando melhorar a disponibilização dos
diversos métodos contraceptivos e o acesso às informações pertinentes ao planejamento familiar.
O objetivo geral deste estudo foi conhecer a situação da laqueadura tubária em mulheres com idade entre 20 a 25 anos,
atendidas no Programa de Atenção Integral à Saúde da Mulher
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– PAISM, da Unidade Básica de Saúde Pastor Jonas – UBSPJ/Pimenta Bueno - RO, nos anos de 2005 e 2006, tendo como objetivos específicos:
• Determinar a frequência da laqueadura tubária em mulheres
entre 20 e 25 anos atendidas na UBSPJ no período de 2005 e
2006;
• Caracterizar o perfil das mulheres submetidas à laqueadura
tubária;
• Identificar os motivos que levaram as mulheres a optar pela
laqueadura tubária;
• Descrever as consequências da laqueadura na vida das mulheres que optaram por esse método definitivo.
Metodologia
Trata-se de um estudo de caráter descritivo retrospectivo com
abordagem quantitativa. Do universo de 246 mulheres entre 20
a 25 anos atendidas no PAISM da UBSPJ, foram selecionadas e
participaram do estudo 18 mulheres submetidas a laqueaduras
tubárias nos anos de 2005 e 2006. A pesquisa somente foi iniciada após a permissão do Gestor Municipal de Saúde de Pimenta
Bueno, RO e autorização do Comitê de Ética da Faculdade de
Ciências Biomédicas de Cacoal – FACIMED.
Ao identificar uma mulher elegível para o estudo, esta era
contatada através de visita domiciliar e convidada a participar
da pesquisa. Mediante aceitação as mulheres assinavam o Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido, em conformidade com a
Resolução 196/96 do Conselho Nacional de saúde, e só assim a
pesquisa era realizada.
Como instrumento para a coleta de dados foi utilizado um
questionário com questões fechadas e abertas direcionados aos
objetivos do estudo. Os dados foram codificados e digitados
em planilha eletrônica, em forma de bancos de dados excel for
windows, e analisados pelo programa “Statistical Package for the
Social Science (SPSS)”, bem como comparados com a literatura
que versa sobre o assunto.
Resultados
O gráfico 1, mostra em número e percentual o universo de mulheres entre 20 a 25 anos atendidas na Unidade Básica de Saúde Pastor Jonas - UBSPJ e as que se submeteram a laqueadura tubária.
Resultados de outros estudos mostram que a prevalência da
laqueadura tem aumentado no país. No Estado de São Paulo, entre os anos de 1978 e 1988, esse aumento foi de mais de 100%.
Além disso, as mulheres estão se submetendo a laqueadura tubária em uma idade precoce. As mulheres sem filhos e menores
que 25 anos têm prevalência de 2,5%4.
A tabela 1 mostra o perfil das mulheres pesquisadas. Das 18
mulheres participantes do estudo que se submeteram ao procedimento cirúrgico de laqueadura, 55,55% tinham entre 24 – 25
anos; 27,77,% entre 22 – 23 anos; e 16,66,% entre 20 – 21 anos
de idade. A idade média para laqueadura foi de 24 anos.
É preocupante a precocidade na utilização da laqueadura
como método contraceptivo, e é questionável sua implicação no
futuro destas mulheres.
Quanto à escolaridade, observou-se que quanto menos tempo de estudo maior a percentagem de mulheres laqueadas. Das
mulheres pesquisadas, 11 (61,11%) tinham entre quatro e sete
anos de estudo, ou seja, ensino fundamental incompleto e apenas quatro (22,22%) tinham mais de oito anos de estudo. Com
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exceção das que referiram ter entre um e três anos de estudo,
todas referiram que tinham pretensão de continuar ou recomeçar
os estudos, objetivando uma melhor colocação no mercado de
trabalho, sendo que o fator filhos implicava em maior dificuldade para concretizar este sonho.
Verificou-se que, entre as mulheres esterilizadas, 14 (77,77%)
viviam em união estável e quatro (22,22%) eram casadas. Percebeu-se que a instabilidade no relacionamento, a responsabilidade em criar seus filhos, não ter com quem deixá-los para trabalhar, dificuldade de arrumar um emprego e mesmo um outro
relacionamento, entre outros fatores, levou as mulheres à opção
pela laqueadura tubária. Encontramos ainda situações onde o
novo relacionamento implicava em cuidar também dos filhos do
companheiro, o que aumentava o desgaste da mulher.
Quanto à situação financeira das mulheres, 12 (66,66%) delas afirmaram receberem de um a três salários mínimos, cinco (27,77%) menos de um salário e uma (5,55%) mais de três
salários. As famílias com menos de um salário fazem parte do
grupo de trabalhadoras braçais ou diaristas. Independente da
renda familiar todas as mulheres referiram almejar melhores
condições de vida e que o número de filhos implicava diretamente sobre a situação.
Em relação ao número de gestações, duas (11,11%) afirmaram terem sido submetidas à laqueadura com apenas dois filhos
vivos, oito (44,44%) com três filhos, e oito (44,44%) com quatro ou mais filhos. Considerado a laqueadura tubária como um
método irreversível, a realização desta com apenas dois filhos e
ainda com idade precoce pode implicar em arrependimento, em
momento posterior.
Analisando o comportamento reprodutivo feminino, nota-se
que houve uma diminuição ou redução do tamanho da família,
ao longo dos últimos anos. A mudanças no tamanho da família
de onde se tinha muitos filhos, para a atual, que considera três
filhos o ideal, tem levado diversos estudiosos a refletirem esse
declínio da fecundidade. A diminuição no ritmo de crescimento
populacional e a mudança na estrutura da população em direção
ao envelhecimento populacional são aspectos bastante conhecidos e discutidos como consequências da queda da fecundidade
ocorrida em todo país5.
Quanto aos métodos contraceptivos, as mulheres referiram
conhecimento de mais de um método e algumas faziam uso intercalado ou concomitante dos mesmos.
Estudos têm demonstrado que mulheres esterilizadas têm
maior probabilidade de não utilizar práticas de sexo seguro, em
particular o preservativo6, ficando mais suscetíveis a intercorrências ginecológicas, a exemplo das neoplasias de colo uterino e
das infecções sexualmente transmissíveis.
A pílula prevaleceu como método contraceptivo mais utilizado anteriormente, pois 12 das mulheres utilizavam apenas este
método, enquanto seis alternavam a pílula, o preservativo masculino e a tabelinha (método natural) independente de nível de
instrução, idade e outras variáveis. Apenas uma mulher respondeu não ter feito uso de nenhum tipo de contraceptivo.
Os dados mostram que o conhecimento e a prática de métodos contraceptivos naturais ou de barreira é limitado, semelhante
aos resultados das pesquisas realizadas por Almeida7 em Salvador, sobre status social e contracepção e Costa et al.8, ao analisar
o padrão da contracepção no Rio de Janeiro.
Conforme a tabela 2, 16 (88,89%) mulheres citaram como
Tabela 3. Participação nas reuniões do Programa de
Planejamento Familiar e influência na decisão pela
laqueadura, UBSPJ. Pimenta Bueno - RO, 200 e 2006.
Participou da reunião
Sim
Não
Influiu na decisão
O parceiro
A própria mulher
O genitor/genitora
(%)
77,78
22,22
13
3
2
72,22
16,67
11,11
Tabela 4. Mudanças na vida das mulheres após a
laqueadura, UBSPJ. Pimenta Bueno - RO, 2005 e 2006.
Mudanças
Vida sexual
Relacionamento com parceiro
Aumento e/ou irregularidade do
fluxo menstrual, dismenorreia
Trabalho fora de casa
Situação econômica
Melhor
(n)
(%)
15 83,33
10 55,55
6 33,33
11
11
61,11
61,11
Pior
(n)
3
8
12
(%)
16,66
44,44
66,66
7
7
38,88
38,88
Gráfico 2. Situação de arrependimento, UBSPJ. Pimenta
Bueno-RO, 2005/2006.
11%
89%
Sim
Não
motivos, que influenciaram a decisão pela laqueadura, a renda
familiar e também a satisfação com número de filhos. Nota-se
também que quatro (22,22%) das participantes do estudo mencionaram como motivo para decisão a existência de doença.
Para Rodrigues9, em nota publicada no Correio Brasiliense em
2003, a esterilização só deveria ser feita por mulheres com propensão à gravidez de alto risco; aquelas com possibilidade de
ter uma gestação normal deveriam optar sempre por contraceptivos reversíveis.
A tabela 3 mostra que 14 (77,78%) das mulheres participaram da reunião do planejamento familiar, condição indispensável para realização da cirurgia na instituição pública, onde o
casal recebe esclarecimentos sobre os diversos métodos contraceptivos cientificamente comprovados e aceitos e, após discus-
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CoNClusÃo
são pelo casal ou pelos responsáveis, retornam para assinarem o
Os resultados mostram que 55,55% das candidatas à esterilização
termo de solicitação para autorização da laqueadura tubária ou
têm idade média de 24 anos, são de relacionamentos considerados
vasectomia, conforme o protocolo do Programa de Planejamento
estáveis, de baixa renda e escolaridade, com uma média de três gesFamiliar do Ministério da Saúde.
tações e três filhos ou mais. Todas tinham conhecimento dos métoTreze (72,22%) mulheres relataram que a decisão por laquedos contraceptivos e 66,66% faziam uso de pílula anticoncepcional
adura foi influenciada pelo parceiro, independente do estado ciantes da laqueadura. Os principais motivos relatados para encerrar
vil, três (16,67%) responderam que a decisão foi própria e duas
a carreira reprodutiva foram a satisfação com o número de filhos,
(11,11%) mencionaram que houve a participação dos pais na
baixa renda familiar e presença de patologias.
decisão pela cirurgia.
Sabe-se que a implantação da oferta de métodos cirúrgicos pelo
De acordo com a tabela 4, nota-se satisfação em relação à
Sistema Único de Saúde (SUS) veio atender ao direito constitucional
opção pela esterilização definitiva em dide limitar o número de filhos, contemplando
versas áreas da vida das mulheres, princios indivíduos que têm problemas para tê-los,
palmente na vida sexual. A despreocupação
ou não querem mais reproduzir, bem como
com uma possível gravidez proporcionou
aqueles que não podem pagar para ter acesso
"A INDISCUTÍVEL EFICÁCIA E
uma maior liberdade sexual, segundo relaao procedimento.
CONVENIÊNCIA POR UM LADO,
tos das entrevistadas. Porém, quando as muDas mulheres pesquisadas, 77,78% relheres atribuem à laqueadura uma melhora
feriram
participação nas reuniões de esclaE A IRREVERSIBILIDADE POR
em sua vida sexual, estariam se referindo a
recimento do Programa de Planejamento
OUTRO, LEVA A NECESSIDADE
algo bem menos abrangente que uma libeFamiliar. O aconselhamento oferecido não
ração sexual; estariam, quiçá, fazendo refefoi analisado neste estudo com ênfase, para
DE UMA REFLEXÃO SOBRE AS
rência a que a laqueadura, pela segurança
verificar sua eficácia em relação aos seus obCONSEQUÊNCIAS DA CIRURGIA
de não engravidar, lhes daria uma vida sejetivos, mesmo porque a inconstância no forxual menos atemorizada10.
necimento dos métodos reversíveis dificulta
NA VIDA DAS MULHERES, AO
a adesão aos mesmos.
Os resultados apresentados no gráfico 2
LONGO DOS ANOS"
Com relação às consequências da laqueamostram que no grupo de mulheres em esdura sobre a vida das mulheres, a maioria retudo, 16 (88,89%) referem não ter se arrelatou uma melhora em alguns aspectos de suas
pendido pela opção pelo método definitivo.
vidas, principalmente na vida sexual. Quanto à
É preciso lembrar que a opção dessas muinsatisfação, algumas mulheres relataram aumento do fluxo, dismelheres pela laqueadura se deu após receberem orientação adequanorreia e irregularidades no ciclo.
da acerca da mesma e as possíveis alternativas contraceptivas. As
As ações voltadas à melhoria das condições de vida e saúde das
mulheres que afirmaram ter se arrependido, duas (11,11%), são as
mulheres deveriam ser buscadas de forma articulada com setores
que não participaram de nenhuma reunião de aconselhamento e
governamentais e não-governamentais; condição básica para a conainda tiveram participação dos pais na decisão pela laqueadura.
figuração de redes integradas de atenção à saúde da mulher e para
Análises sobre o arrependimento entre mulheres esterilizadas, em
a obtenção dos resultados esperados.
outros estudos, apontam à necessidade de se considerar o “temEste estudo trouxe importantes informações para a melhoria da
po de esterilização” como variável importante. Pesquisas apontam
qualidade da assistência à saúde da mulher, em particular da conque depois de seis anos da laqueadura a possibilidade de detectracepção. Existe espaço para o aprimoramento da oferta de contração de um “verdadeiro” arrependimento aumentaria, sugerindo
cepção reversível, principalmente em nível primário. Outras invesessa periodicidade como um parâmetro mais seguro para diferentigações com o objetivo de acompanhar a satisfação dos usuários e
ciar o arrependimento entendido como pretensão de reversibilidaos candidatos que não retornaram ao programa podem, contribuir
de de outros tipos de insatisfações, por exemplo desconforto e fase
fornecendo mais subsídios na atenção à saúde da mulher.
de adaptação ao novo estado11.
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26.06.09 15:42:44
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