Perfil nutricional de crianças de 6 a 10 anos de idade das escolas municipais na cidade de Picos/PI. Professor Assistente da Universidade Federal do Piauí Gilvo de Farias Júnior Nutricionistas: Francilany Antonia R Martins Laila Alencar Luz Paula Feitosa de Araújo Moura Justificativa: O estado de saúde de uma criança pode ser um reflexo das condições socioeconômicas e de saúde em que vive uma população considerando-se que a criança normalmente é preservada, ou seja, na falta de alimento dentro de uma família os demais membros podem até sofrer privação, mas normalmente o que é da criança procura-se poupar. Nos países em desenvolvimento, como o Brasil, grande parte dos problemas de saúde e nutrição infantil está relacionada com o consumo alimentar inadequado e a reincidência de infecções, ambas refletindo o padrão de vida da população como o acesso a alimentação, a moradia e a assistência à saúde. Portanto, conhecendo e acompanhando a situação nutricional infantil, além de medir as condições de saúde deste grupo específico também é uma medida indireta da qualidade de vida da população. Caracterizar o perfil nutricional de crianças na faixa etária de 6 a 10 anos de idade permitirá a intervenção precoce, tendo em vista os riscos nutricionais na vida destas crianças e das repercussões a curta e em longo prazo para a saúde pública do município. Metodologia: A pesquisa foi realizada nas escolas municipais da cidade de Picos. Cidade localizada na região centro-sul do Estado do Piauí da macrorregião do semi-árido no vale do rio Guaribas, e, segundo estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, com uma população de 73.023 pessoas. Trata-se de um estudo transversal. Após autorização da Secretaria de Educação e do Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Piauí-UFPI (CAAE: 0083.0.045.000-10), a direção das escolas municipais foi convidada a fazerem parte da pesquisa. Segundo a secretaria de educação 2.110 crianças estavam matriculadas na ocasião. Participaram da pesquisa 1.320 crianças na faixa etária de 6 a 10 anos de idade. Correspondendo em termos estatísticos a uma margem de erro de 95%, intervalo de confiança de 2% para a amostra (Launch Epi Info 7 versão 7.0.8.3 de 2011 do Center for Disease Control). Para o cálculo das frequências e relações das variáveis sexo e idade (anos) com o EN por meio do teste do qui-quadrado (com nível de significância de 5%) utilizou-se o a versão 3.5.1 do mesmo programa. Utilizando-se a antropometria pode-se classificar o estado nutricional de crianças considerando-se informações sobre peso, estatura, idade e sexo que quando combinadas originam os índices antropométricos peso para a idade, estatura para a idade e índice de massa corpórea. Portanto, o peso e a altura foram obtidos para a posterior a avaliação do estado nutricional dos alunos, mediante os indicadores peso/idade, altura/idade e Índice de massa corpórea (IMC). As descrições das técnicas para a aferição de peso e altura seguem o preconizado pela literatura, a saber: O peso foi coletado utilizando-se balança antropométrica digital (capacidade de até 150 kg e precisão de 100g), com as crianças descalças e usando o mínimo de roupas possível (fardamento escolar: calção e camiseta), posicionadas sobre o centro da plataforma da balança. Para a estatura utilizou-se uma fita métrica maleável convencional não elástica afixada numa parede ou porta bem lisa, sem rodapé, estando as crianças descalças, encostando a cabeça, dorso, glúteos e calcanhares na superfície da parede, junto à fita métrica. Os braços estendidos ao longo do corpo, os calcanhares unidos e as plantas dos pés apoiadas totalmente no chão. O esquadro foi encostado no ponto mais alto da cabeça formando um ângulo de 90 graus com a fita métrica. Após cada medida a fita métrica foi conferida para a certificação de que se mantém na posição correta. A classificação do estado nutricional das crianças foi em percentis adotados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) os quais são derivados da distribuição em ordem crescente dos valores de um parâmetro, observados para uma determinada idade ou sexo que permite estimar quantas crianças de mesma idade e sexo são maiores ou menores em relação ao parâmetro avaliado. O estado nutricional em relação a tais percentis baseou-se na seguinte classificação: Valores Percentis < 0,1 > 0,1 e < 3 > 3 e < 15 > 15 e < 85 > 85 e < 97 > 97 e < 99,9 > 99,9 Indicadores Estatura/Idade Peso/Idade Muito baixa estatura/ Muito baixo peso/ idade idade Baixa estatura/ idade Baixo peso/ idade Estatura adequada para a idade Peso adequado para a idade Peso elevado para a idade Para a classificação do índice de massa corporal segue-se abaixo: Valor de percentil < 0,1 ≥ 0,1 e < 3 ≥ 3 e < 15 ≥ 15 e ≤ 85 >85 e ≤ 97 >97 e ≤ 99,9 >99,9 IMC para idade Magreza acentuada Magreza Eutrofia Sobrepeso Obesidade Obesidade grave Resultados e Análises: Após a limpeza dos dados obteve-se 1.203 (586 meninos e 617 meninas) de crianças para o indicador peso/idade, 1.208 (592 meninos e 616 meninas) para o indicador altura/idade e 1.206 (589 meninos e 617 meninas) para o IMC. Para todos os indicadores os meninos totalizaram em torno de 49% e as meninas 51% e a média de idade foi de 8 anos e 2 meses e uma mediana de 7 anos e 9 meses. O estado nutricional segundo o indicador peso/idade (gráfico 1) 68,7% (827) das crianças apresentaram eutrofia, chamando atenção para 17,5% (210) com baixo peso na ocasião da coleta. Situação também constatada por Motta, M. E. F. A; Silva, G. A. P. da, (2001) em que as prevalências encontradas foram 3,8% de peso baixo para a idade e 24% de risco para peso baixo para a idade. Apesar do crescimento do sobrepeso e da obesidade ainda é possível constatar uma prevalência de desnutrição aguda e crônica de 8,64% e 1% respectivamente e de baixo peso (1,66%). Com prevalência de obesidade entre préescolares de 15,78% e de excesso de peso de 38,37% (ANA, L. R. F.; JULIANA, A. D. B. C., 2010). Estudos diversos têm demonstrado que a transição nutricional e a epidemiológica brasileira apresentam-se contrária a preconizada, ou seja, ao mesmo tempo em que aumentam a prevalência de sobrepeso e obesidade decrescendo os casos de desnutrição convivemos com as carências nutricionais, sendo a anemia a mais citada, e, com as doenças não transmissíveis (MENDONÇA, C. P.; ANJOS, L. A, 2004; FILHO, M. B. et al, 2008; SCHRAMM, J. M. A. et al, 2004; ). De acordo com o indicador altura/idade (gráfico 2) praticamente nenhuma criança (1.078) apresentou déficit de altura na ocasião da coleta de dados. Em estudo Lima, A.L.L. et al. (2010) constata que em três décadas (1986-1996-2006) a prevalência de déficit de altura para a idade que era bastante elevada na primeira década (33,9%) diminui evidenciando-se declínio de 34,3% até 73,4%. Declínio este resultante da evolução favorável do poder aquisitivo familiar, da escolaridade materna, da disponibilidade de serviços de saneamento e de assistência à saúde e dos antecedentes reprodutivos das mães. Resultados semelhantes ao de Monteiro, C.A. et al. (2009) também estudando o declínio da desnutrição no período de 1996 a 2007 observa uma redução da prevalência do déficit da estatura para a idade de 13,5% para 6,8%. Quanto ao índice de massa corpórea 70% das crianças apresentaram estado nutricional dentro dos parâmetros de normalidade. O peso acima para a idade ultrapassou os casos de déficit nutricional, considerando obesidade grave, obesidade e sobrepeso (19,1%). Estes resultados estão condizentes com os estudos de Farto, A.S.S. (2006) em que ao avaliar o estado nutricional entre escola ricas e pobres (crianças entre 8 a 13 anos de idade) constatou a prevalência de excesso de peso/obesidade de 31,4% e 16,6% nas escolas ricas e pobres respectivamente, e, os estudos de OLBRICH, J. et al. em que os casos de obesidade foram mais frequentes do que os de desnutrição. L.V. Guimarães, et al. encontraram uma prevalência de 14,4% de sobrepeso. Assim como em outro estudo como Brasil, L.M.P. et al. (2007) Em relação aos gêneros e faixas etárias, não houve diferenças estatisticamente significativa para nenhum dos indicadores utilizados. Resultados semelhantes aos de Olbrich, J. et al. (2010) estudando crianças entre 4 a 11 anos de idade de instituições de ensino e Neves, O.M.D. et al. (2006). Importante frisar que a criança do ponto de vista psicológico, sócio-econômico e cultural é dependente do ambiente onde vive, de forma que suas atitudes o refletem, ou seja, intervenções positivas ou negativas neste ambiente repercutirão inclusive no estado nutricional infantis (OLIVEIRA, A. M. A. DE, 2003). Frente ao exposto, dados recentes divulgados pelo Ministério da Saúde que ao estudar cerca de 54 mil adultos em todas as capitais e distrito federal, reafirma o crescimento da obesidade em todo o país a saber: em 2006 a proporção de pessoas acima do peso passou de 42,7% para 48,5% em 2011, enquanto o percentual de obesos subiu de 11,4% para 15,8% no mesmo período (Brasil, 2012). Além dos déficits com suas consequências, observa-se ao mesmo tempo o excesso, caracterizando-se a obesidade, a qual nenhuma faixa etária está protegida segundo Heymsfield, S. B. (2004). Dentre os fatores determinantes da mesma estão à maior disponibilidade e acesso aos alimentos dentro da família, em particular um aumento no consumo de leite pelas crianças, tem favorecido ao incremento da obesidade contrastando com a prevalência de anemia neste grupo (BATISTA FILHO, M. et al, 2008). Esta alimentação basicamente láctea, e, inclusive rica em açúcar e gordura, pode melhorar o estado nutricional da criança em termos de indicadores antropométricos, porém, comprometer os indicadores bioquímicos pela predisposição à anemia e a hipovitaminose A, ou excessos de nutrientes, como a glicose e o colesterol (FARIAS JUNIOR, G., 2003). Observando-se nas últimas décadas uma elevação das doenças crônicas não transmissíveis como hipertensão arterial, diabetes mellitus tipo 2, câncer e a obesidade, associadas ao estilo de vida não saudável, doenças que requerem um alto custo no tratamento e na reabilitação (PEÑA, M.; BACALLAO, J., 2001). Tais interpretações estão baseadas em padrões de referência e pontos de corte definidos. Estes indicadores antropométricos sozinhos não serão capazes de identificar carências nutricionais como a anemia, a hipocalcemia ou a hipovitaminose A, apenas quando associados a exames bioquímicos, pelo menos não diretamente, mas sim como fator que predispõe a este quadro de déficit (SIGULEM, D.M.; DEVINCENZI, M.U.; LESSA, A.C, 2000; CONDE, L. W. et al, 2007). Conclusões: Apesar de existirem diversos métodos para a avaliação do estado nutricional, todos têm suas limitações. Não existindo um melhor, e sim o mais adequado para a população em estudo ou aqueles em que os pesquisadores possuem maior familiaridade. Normalmente o método antropométrico é o mais utilizado devido à facilidade de execução, o baixo custo e o fato de não ser invasivo. Por meio dele é possível constatar a frequência e a intensidade dos agravos nutricionais. Todos os indicadores atestaram eutrofia, queda da desnutrição e aumento do peso para este grupo etário. Não apresentando diferenças estatisticamente significativas com relação aos gêneros ou faixas etárias. Apesar de ser fato o aumento da obesidade infantil, demonstrado em inúmeros estudos, e com este não foi diferente, importante a continuidade de pesquisa com este enfoque para a intervenção precoce, tendo em vista os riscos nutricionais na vida destas crianças e das repercussões a curta e em longo prazo para a saúde pública do município.