III Workshop de Análise Ergonômica do Trabalho na UFV, 18 de outubro de 2007.
ELABORAÇÃO DE CHECK LIST PARA DESENVOLVIMENTO
DE LAYOUT EFICIENTE PARA BANHEIRO
Daniela Cristina de Paula
Estudante de Arquitetura e Urbanismo da UFV –
Simone Caldas Tavares Mafra
Professora Adjunta do Departamento de Economia Doméstica da UFV – [email protected]
Vania Eugênia da Silva
M. Sc. em Economia Doméstica pela UFV – [email protected]
Aline Constantino Rodrigues
Estudante do curso de Economia Doméstica da UFV – [email protected]
RESUMO
A partir do conhecimento dos diferentes métodos de elaboração de projetos de interiores
tais como Constelação de Atributos, Escala Likert e Mapas Mentais, procedeu-se o estudo de
caso buscando, com a aplicação dos mesmos, elaborar um Check List para avaliação de
banheiros residenciais. Estes métodos foram aplicados numa determinada população composta
por mulheres residentes em repúblicas na cidade de Viçosa – MG. Após a obtenção dos dados
referentes aos métodos citados, estruturou-se o Check List para análise de banheiros, seguindo
a proposta de Mafra (1999). O Check List é formado por um questionário, facilmente aplicável e
eficiente na dissolução de dúvidas em relação à projetos para banheiros. Dando ênfase às
necessidades da população escolhida, que são mulheres estudantes, residentes em repúblicas
femininas, é apresentada, ao final, uma proposta de projeto condizente com as observações
levantadas durante o processo.
Palavras-chave: Check List; Layout; Banheiro.
ABSTRACT
Starting from the knowledge of the different methods of elaboration of projects of such
interiors as Constellation of Attributes, Scale Likert and Mental Maps, she proceeded the case
study looking for, with the application of the same ones, to elaborate a Check List for evaluation
of residential bathrooms. These methods were applied in a certain population composed by
resident women in republics in the city of Viçosa - MG. After the obtaining of the data regarding
the mentioned methods, Check List was structured for analysis of bathrooms, following the
proposal of Mafra (1999). Check List is formed by a questionnaire, easily applicable and
efficient in the dissolution of doubts in relation to projects for bathrooms. Giving emphasis to the
needs of the chosen population, that you/they are women students, residents in feminine
republics, it is presented, at the end, a proposal of in keeping with project the lifted up
observations during the process.
Key-words: Check List; Layout; Bathroom.
1. INTRODUÇÃO
Desde o modernismo observa-se no processo projetual uma maior preocupação com a
funcionalidade. Porém esta se dá apenas no seu significado semântico de atender a uma função,
ao fim prático (ALMEIDA, 1995).
Na produção de arquitetura contemporânea, já se observa uma tendência a satisfazer em
maior grau a funcionalidade emocional, que consiste no que o usuário percebe de funcional
dentro de um espaço, ou seja, que atenda as suas necessidades pessoais.
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É crescente esta noção de projeto conceitual, que atua diretamente com as necessidades
impostas pelo usuário. Neste sentido, surgiram métodos com o intuito de diagnosticar estas
percepções subjetivas e aplicá-las de modo racional na estruturação do espaço. São exemplos, a
Constelação de Atributos (MAFRA, 1996), o Mapa Mental e a Escala Likert (MAFRA, 1999).
Com intuito de esclarecer as mudanças ocorridas na casa brasileira, em especial no
banheiro, por ser este de grande mobilidade no decorrer da história, este estudo de caso propõe
um questionário para melhor percepção da funcionalidade emocional deste espaço.
O banheiro que por tanto tempo ficou degradado, devido aos costumes dos colonizadores
europeus, ultimamente experimenta um status como local de relaxamento, privacidade, e outras
sensações que se transformaram ao longo do tempo.
As primeiras habitações brasileiras não apresentavam um compartimento destinado à
higiene, raramente este existia nos quintais. Havia a utilização do “banheiro portátil”, nas formas
de urinóis e outros recipientes, na área rural nem isto existia. O hábito de tomar banho era
criticado devido às tradições religiosas e morais dos europeus, a higiene era feita nos quartos e
alcovas com panos úmidos.
Apenas no século XIX, com a oferta de materiais adequados (tubulações e louças),
devido à abertura dos portos aos produtos europeus, a valorização da higiene e da preocupação
com o corpo se intensificou, e aos poucos o banheiro foi incorporado a casa.
No século XX há a sofisticação deste cômodo, que é ditado pela moda vigente, art
nouveau no princípio, art déco nos anos 20 (quando se torna indelicado usar o banheiro das casas
visitadas). Nos anos 60 há a possibilidade de se ter mais de um banheiro, e este passa a ser
convidativo a uma permanência maior (uso de duchas, azulejos decorados, louças coloridas). Na
década seguinte surge a febre das suítes e este cômodo mais do que nunca, confere status. Seu
projeto pode incluir jardim interno, banheiras com hidromassagens, espelhos grandes, carpetes, e
nos anos 80 há até mesmo aparelho de ginástica (BITTAR; VERÍSSIMO, 1999). Esta maneira
de cuidar do corpo e da higiene se consolida, transforma os velhos hábitos, onde o próprio ato de
tomar banho; que para os europeus e os primeiros brasileiros era secundário; hoje caracteriza
este cômodo da casa.
2. METODOLOGIA
Sendo estudante de graduação em Arquitetura e Urbanismo, e percebendo as inúmeras
críticas e necessidades que, principalmente, as mulheres têm em relação ao banheiro, optei por
desenvolver um estudo que objetivasse elaborar um questionário prático e acessível que
viabilizasse a estruturação de uma metodologia que promova a elaboração de projetos de
banheiros mais próximos da realidade dos usuários.
Foi definido que toda a pesquisa se daria com estudantes moradoras em repúblicas. Ao
todo, foram entrevistadas 15 usuárias, entre 19 e 26 anos, residentes em três apartamentos
próximos à UFV, variando entre quatro e seis pessoas em cada um deles.
A primeira fase do trabalho, com intuito de elaborar a metodologia a ser usada no estudo
de caso, foi à utilização do método denominado “Constelação de Atributos”. Em um primeiro
momento, fez-se uma pergunta a oito usuárias (chamada população 1). A referida pergunta foi: O
que lhes vêm à cabeça quando pensam em um banheiro funcional? Desta pergunta obteve-se
uma lista de itens e comentários que serviram de base para a segunda etapa, denominada de
características induzidas. A partir dos itens coletados foram retirados os mais citados e
organizados por assunto. Com isso um novo questionário foi aplicado às sete restantes (chamada
população 2), pedindo para que grifassem três itens realmente essenciais, conseguindo-se ao
final, uma lista de variáveis consideradas consenso para as 15 entrevistadas, e que, permitiram a
construção do questionário da Escala Likert, compreendendo esta a terceira etapa da pesquisa de
campo.
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Esta etapa consistiu de um questionário contendo afirmações sugeridas a partir dos dados
da primeira metodologia e aplicada na população 1. Este questionário seguiu o formato de teste,
contendo diferentes graus de concordância tais como: Concordo muito, Concordo, Discordo,
Discordo muito, Indeciso. Juntamente com a Escala Likert, fez-se a aplicação de um método
chamado Mapa Mental, que consistiu na representação gráfica do banheiro atual e do idealizado
para os entrevistados. Concluída a pesquisa de campo, fez-se a contagem dos itens da Escala
Likert que obtiveram grau de concordância Concordo ou Concordo muito. Restando uma lista
dos que foram citados quatro ou mais vezes. Esta lista foi dividida em dois itens que
compuseram o Check List: estrutura e componentes.
Com base nos métodos utilizados, foram elaborados três croquis, propondo um banheiro
ideal. Estas propostas foram apresentadas às entrevistadas para obtermos o croqui favorito
(Figura 1).
Os três métodos, além de colaborarem na elaboração dos itens do layout e dos detalhes
referentes ao mesmo, viabilizaram a estruturação do Check List. O Check List pode ser
considerado, para o estudo em questão, como um método que permitiu uma análise específica
sobre o grau de satisfação e insatisfação dos usuários em relação à estrutura e aos componentes
existentes no banheiro.
3. RESULTADOS E DISCUSSÕES
O Check List foi estruturado dentro de duas temáticas, um sobre estrutura e outro sobre
os componentes, e, em seguida, aplicado às 15 usuárias, pedindo-lhes que a cada especificação
de itens críticos, estas assinalassem sim ou não, e fizessem comentários à respeito do item
analisado. Após a pesquisa de campo, foi feita a contagem, através de uma fórmula (Anexo 1),
obtendo-se ao final a porcentagem de satisfação das usuárias com relação aos problemas e
soluções apresentados no Check List.
Foi constatado que a média de satisfação apresentada pelo Check List sobre estrutura, foi
de 43% ficando 57% para o grau de insatisfação. Para o Check List sobre componentes, obtevese o mesmo resultado como pode ser observado nas Tabelas 1 e 2.
Tabela 1 - Nível de satisfação dos usuários em relação ao item Estrutura. Viçosa – MG
Usuários
Grau de Satisfação
(%)
1
38
2
35
3
40
4
53
5
50
6
38
7
38
8
59
9
50
10
46
11
65
12
25
13
40
14
33
15
30
43
Média
Fonte: Dados da pesquisa.
Grau de Insatisfação
(%)
62
65
60
47
50
62
62
41
50
54
35
75
60
67
70
57
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Tabela 2 - Nível de satisfação dos usuários em relação ao item Componentes. Viçosa - MG
Usuários
Grau de Satisfação
(%)
1
49
2
35
3
35
4
64
5
49
6
42
7
35
8
71
9
27
10
38
11
71
12
35
13
35
14
25
15
33
43
Média
Fonte: Dados da pesquisa.
Grau de Insatisfação
(%)
51
65
65
36
51
58
65
29
73
62
25
65
65
75
67
57
Um item de avaliação do Check List sobre estrutura questionava a necessidade ou não de
se definirem variáveis antropométricas, e foi constatado que para 80% das usuárias existe esta
necessidade. Buscando reduzir esta deficiência, foram coletados os dados para cada usuária
envolvida no estudo (Tabela 3).
Tabela 3 - Variáveis antropométricas definidas para a população do estudo. Viçosa - MG
Usuários
Peso (kg)
Altura (m)
1
54
1,635
2
47
1,55
3
47,5
1,66
4
47
1,55
5
57
1,71**
6
58
1,68
7
53,5
1,65
8
60
1,70
9
52
1,59
10
70**
1,705
11
48,2
1,56
12
49
1,55
13
41*
1,465*
14
56,5
1,69
15
54
1,65
52,98
1,623
Média
Nota: *Variáveis extremas mais consideradas nas dimensões: altura dos olhos, altura do cotovelo, extensão nádegasrótula, extensão nádegas-calcanhar, altura alcançada sentado, alcance do braço esticado, alcance do
antebraço, inclinação do polegar, profundidade máxima, relacionadas ao percentil 5% da população.
**Variáveis mais consideradas nas dimensões: largura do quadril e largura máxima, relacionadas ao percentil
95% da população (PANERO; ZELNIK, 1979).
Fonte: Dados da pesquisa.
Com isso foi possível apresentar uma proposta de projeto que considerasse peculiaridades
dimensionais, de acordo com as características físicas desta população. Outros itens interessantes
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constataram que, para esta população a estrutura do banheiro ideal deve ter facilidade de
limpeza, por isso a necessidade de texturas lisas (Figura 2); ser amplo; ser claro, mas sem ter
grandes aberturas, pois estas tiram a privacidade (Figura 3); possuir banheira (essencial para
80% das entrevistadas); e considerar o número de usuários que utilizariam este espaço ao mesmo
tempo.
Percebeu-se que as características de um banheiro ideal, expressadas através do Check
List, tiveram uma grande coerência com o modo de vida desta população, que tem um cotidiano,
por vezes sobressaltado, sem disponibilidade de tempo para a limpeza do espaço, além do hábito
que a maioria das entrevistadas possui de se arrumarem no banheiro, inclusive, várias ao mesmo
tempo, necessitando de amplo espaço organizado para tal fim.
O Check List que analisou itens críticos sobre os componentes também possibilitou a
constatação de aspectos interessantes como: a visão de vegetação, propiciada pelo banheiro; a
existência de um espelho grande que promova a visão do corpo todo (Figura 4); e a instalação de
chuveiros considerando a pressão da água, que configuraram a opinião consenso dos usuários
entrevistados. De um modo geral, esta população tem, em comum, uma preocupação com a
privacidade, com as sensações de alívio e relaxamento, bem como com a organização. Estes
conceitos subjetivos é que permearam e delimitaram toda a construção do Check List.
4. CONCLUSÃO
Os métodos apresentados possibilitaram a elaboração de um Check List condizente com
os diferentes aspectos constatados nesta análise de banheiros, para a população estudada.
Podendo direcionar os profissionais de projetos de interiores na criação de banheiros, não só para
populações similares a esta em estudo, mas também a outras um pouco divergentes. Visto que o
Check List se trata de um método flexível, baseado em afirmações racionais que permitem
definir questões subjetivas do espaço, buscando auxiliar na interação que se acredita deva existir
entre o ambiente e seu usuário.
Figura 1 - Croquis feitos a partir dos métodos apresentados, o primeiro foi o escolhido
pelas entrevistadas (Esc: 1:100).
Fonte: Dados da pesquisa.
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Figura 2 - Textura rugosa que dificulta na manutenção, além de causar desconforto
visual.
Figura 3 - Peitoril baixo que reduz a privacidade.
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Figura 4 - Espelho pequeno e alto para algumas entrevistadas.
Fonte: Dados da pesquisa.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, M. M. de. Análise de interação entre o homem e o meio ambiente. Estudo
de Caso em agência bancária. Florianópolis: UFSC. 1995. (Dissertação, Mestrado em
Engenharia de Produção). Universidade Federal de Santa Catarina, 1995.
BITTAR, W. S. M.; VERÍSSIMO, F. S. 500 anos da Casa no Brasil. Rio de Janeiro: Ediouro,
1999.
MAFRA, S. C. T. Analisando a funcionalidade a partir da afetividade. Um estudo de
caso em cozinhas residenciais. Florianópolis: UFSC. 1996. 70p. (Dissertação, Mestrado em
Engenharia de Produção). Universidade Federal de Santa Catarina, 1996.
______.Elaboração de Check List para desenvolvimento de projetos eficientes de cozinhas
a partir de Mapas Mentais e Escala Likert. Florianópolis: UFSC. 1999. 189p. Tese
(Doutorado em Engenharia de Produção). Universidade Federal de Santa Catarina, 1999.
PANERO, J.; ZELNIK, M. Human Dimension & Interior Space. New York: Watson-Guptill
Publications, 1979.
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Anexo 01: Check List aplicado no desenvolvimento de projetos de banheiros de repúblicas femininas. Definição de itens críticos.
Item estrutura
Itens de Avaliação
1- Analisar a Estrutura quanto à:
1.1- Distância que se encontra o papel higiênico do vaso
definir variáveis antropométricas
1.2- Cores do revestimento:
sensação de alívio
sensação de relaxamento
claras nas paredes
louças claras
claras no piso
facilidade de limpeza
1.3- Tamanho do banheiro:
números de usuários
número de usuários que usam ao mesmo tempo
amplo
grande
pequeno
organizado
dimensionar variáveis antropométricas
sensação de alívio
sensação de privacidade
sensação de relaxamento
1.4- Iluminação:
sensação de privacidade
natural
artificial
cor do revestimento
Conceito
Sim
Não
1
5
Comentários
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1.5- Aberturas:
amplas
visão do entorno (natureza)
com batente largo
sensação de privacidade
1.6- Dimensão do box:
sensação de relaxamento
quantidade de chuveiros
número de usuários
existência de banheira
definir variáveis antropométricas
1.7- Textura do revestimento:
lisa
rugosa
Critério de Avaliação Parcial
A - Pontuação Máxima possível
B - Soma Total dos pontos
Plano de Ação - Parecer conclusivo
Pontos que necessitam de correção:
Item
Avaliadores
1- Projetista
2- Usuário
B / A x 100 = ___________%
Ação
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Check List aplicado no desenvolvimento de projetos de banheiros de repúblicas femininas. Definição de itens críticos.
Item Componentes
Itens de Avaliação
Conceito
Sim
Não
1
5
Comentários
2- Avaliar os componentes quanto à (ao):
2.1- Tamanho do espelho:
grande
pequeno
visão do corpo todo
dimensionar as variáveis antropométricas
conforme número de usuários
2.2- Tipo de chuveiro:
em relação à pressão
em relação ao tipo de instalação da caixa d'água
em relação ao sistema hidráulico
quantidade
2.3-Presença de vegetação:
visão
vasos no banheiro
Critério de Avaliação Parcial
A 2- Pontuação Máxima possível
B 2- Soma Total dos pontos
Plano de Ação - Parecer conclusivo
Pontos que necessitam de correção:
Item
B2 / A2 x 100 = ___________%
Ação
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Avaliadores
1- Projetista
2- Usuário
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