UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ SETOR DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES – SCHLA DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS - DECISO MARCIA CRISTINA DOS SANTOS POLÍTICAS PÚBLICAS DE AÇÃO AFIRMATIVA: O IMPACTO DAS COTAS RACIAIS NA UFPR (2005 – 2012) Curitiba 2013 MARCIA CRISTINA DOS SANTOS POLÍTICAS PÚBLICAS DE AÇÃO AFIRMATIVA: O IMPACTO DAS COTAS RACIAIS NA UFPR (2005 – 2012) Trabalho de apresentado Conclusão como requisito de Curso parcial à obtenção do grau de Bacharel em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Paraná. Orientador: Profº. Drº. Emerson Urizzi Cervi Curitiba 2013 AGRADECIMENTOS O caminho percorrido até aqui foi possibilitado por inúmeras participações especiais, foram muitas palavras de apoio, muitos momentos de diversão, muitas risadas, muitas festas, muitos telefonemas, e-mails, mensagens, vários ombros emprestados e muitas lágrimas amparadas. Às atitudes singelas e às grandes concessões tenho muito que agradecer e muitos a quem agradecer. Aos meus pais, meus primeiros mestres, que não tiveram acesso nem a educação básica e com toda a sua sabedoria me ensinaram a amar, respeitar e aceitar as pessoas como elas são. Ao meu pai, Gentil de França dos Santos, que sempre foi um exemplo de otimismo, confiança e dedicação, que me ensinou o valor do trabalho e da perseverança. À minha mãe Maria Lucia da Glória Santos, que sempre esteve disposta a me ouvir, aconselhar, defender e até chorar comigo, mesmo por telefone e de madrugada. Aos meus irmãos e irmãs: Fá, Fran, Willian e Alexandre, que de alguma forma me motivaram a chegar até aqui, entrei na universidade com intenção de mostrá-los que a educação seria o melhor caminho para mudar a nossa realidade. ` Aos meus sobrinhos e sobrinhas: Allan, Jean, Ellen, Heitor, Alex, Luis Otávio e Aléxia, por existirem e por todo carinho recebido que renova as minhas energias. Ao Wellingthon Wilhans da Silva, meu marido e companheiro de todas as horas, por estar ao meu lado e por me apoiado durante todo o período de elaboração deste trabalho. Ao Afroatitude e ao NEAB por terem me inserido na discussão da temática racial e me auxiliado na construção de uma identidade, por te me proporcionado a oportunidade de conviver com histórias de vida semelhantes, trocar experiências e dividir aflições. A convivência nesses grupos foi fundamental para minha formação. Ao Professor Emerson Urizzi Cervi que aceitou me orientar e sem o qual esse trabalho não seria finalizado. Ao Professor Marcos Silva da Silveira, por todo o apoio prestado enquanto orientador de projeto de pesquisa no NEAB e por ter aceitado participar da minha banca. À Kaciane Daniella de Almeida, pela amizade e por estar presente em momentos importantes da minha vida acadêmica, foi quem leu o primeiro texto escrito por mim quando mudei para o curso de Ciências Sociais, que estava bem ruim, lembro até hoje da cara que ela fez, e agora que aceitou participar da minha banca. Espero ter melhorado! Ao queridíssimo Daniel Carlos Santos da Silva, pela companhia em momentos tão sublimes regados ao som de Cazuza, pelo carinho e amizade, apesar de termos nos visto pouco ultimamente, e principalmente por revisar meu texto em tempo recorde. Aos amigos que são a minha segunda família, mesmo que eu tenha passado um tempo distante, Giovane e Claudia, pelo carinho, apoio, pelas broncas e por muitas vezes acreditar mais em mim do que eu mesma. Michele e Celso, compadres queridos, especialmente à Mi, pela bela amizade que construímos nesses 10 anos, pelas conversas mirabolantes, por me ensinar a gostar de Rock e por me dar de presente a Bianca que é a afilhada mais linda do mundo e o Vinícius criança que eu gosto muito. Às amigas amadas Camila Valore Godoy, Aline Maria Dalabona e Priscila Ogassawara, pela preocupação constante, pelo apoio e pelo carinho. Aos meus corações Júlio Cezar Marques e José Roberto Souza de Oliveira presentes que a UFPR e o Afroatitude me deram a 8 anos atrás, por terem me acolhido e cuidado de mim sempre. Às queridas Lívia Fernanda Morales, Flávia Bozza e Júlia Tadra Ribeiro, Pelas conversas, pelos conselhos, pelos cafés, pela convivência dentro e fora da academia que foi fundamental durante a minha graduação. Por um mundo onde sejamos socialmente iguais, humanamente diferentes e totalmente livres. Rosa Luxemburgo RESUMO As políticas públicas de ação afirmativa são políticas compensatórias que visam tratar os desiguais como desiguais, oferecendo grupos excluídos a oportunidade de inclusão, como é o caso das cotas raciais que tem como objetivo inserir grupos étnicos até então excluídos ou com pouca representatividade nas universidades públicas federais. Quando as discussões sobre a necessidade dessas políticas iniciaram os números mostravam que o ambiente acadêmico era um espaço de maioria branca, sendo que estes representavam 96% dos universitários brasileiros; apesar de, na época 45% da população do país ser negra, apenas 2% dos universitários brasileiros eram negros. As políticas públicas de ação afirmativa no Brasil surgiram com intuito de alterar essa realidade e inserir os negros no ensino superior. Assim, a pesquisa busca verificar o impacto destas políticas na UFPR, principalmente no sentido de constatar se elas foram capazes de inserir negros e produzir maior diversidade racial na instituição, através da comparação com outras seis universidades que adotaram políticas semelhantes. Palavras chave: Políticas públicas de ação afirmativa. cotas raciais. UFPR LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Negros e Brancos na educação básica ....................................... 12 Quadro 1- Principais características das cotas nas universidades............... 48 Tabela 2 - Percentual de aprovados nos processos seletivos da UFPR entre 2004 e 2010, de acordo com autoclassificação racial .................................. 55 Tabela 3 - Aprovados por cotas no vestibular da UFPR entre 2005 e 2012 56 Quadro 2 - Principais características das cotas na UFPR ........................... 59 LISTA DE SIGLAS ADPF Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental APUFSC Sindicato dos Professores da UFSC CEAO Centro de Estudos Afro-orientais CED Centro de Ciências da Educação CEFET Centro Federal de Educação Tecnológica CEPE Conselho de Ensino e Pesquisa CNCD Conselho Nacional de Combate a Discriminação CNPIR Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial Conapir Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial CONSEPE Conselho de Ensino Pesquisa e Extensão COUN Conselho Universitário CTC Centro Tecnológico CUN Conselho Universitário DCE Diretório Central dos Estudantes DEM Partido Democratas DEM Partido Democratas FCP Fundação Cultural Palmares FCP Fundação Cultural Palmares FIPIR Fórum Intergovernamental de Promoção da Igualdade Racial GTAA Grupo de Trabalho para as Ações Afirmativas GTEGC Grupo de Trabalho de Etnia, Gênero e Classe GTI Grupo de Trabalho Interministerial IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada MDA Ministério do Desenvolvimento Agrário MEC Ministério da Educação MJ Ministério da Justiça MRE Ministério das Relações Exteriores MTE Ministério do Trabalho e Emprego MTE Ministério do Trabalho e emprego NEN Núcleo de Estudos Negros ONU Organização das Nações Unidas PNAA Programa Nacional de Ações Afirmativas PNDH Programa Nacional de Direitos Humanos PNPIR Política Nacional de Promoção da Igualdade Racial PROUNI Programa Universidade para Todos REUNI Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e expansão das universidades federais SDH Secretaria de Direitos Humanos SEDH Secretaria de Direitos humanos Seppir Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial SINTUFSC Sindicato dos Trabalhadores da UFSC SPM Secretaria Para Mulher STF Superior Tribunal Federal TEN Teatro Experimental do Negro UFBA Universidade Federal da Bahia UFJF Universidade Federal de Juiz de fora UFPR Universidade Federal do Paraná UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFSC Universidade Federal de Santa Catarina UFSM Universidade Federal de Santa Maria UNB Universidade de Brasília USP Universidade de São Paulo SUMÁRIO Introdução..................................................................................................... 12 1. Fatos relevantes no contexto histórico de criação das políticas públicas de ação afirmativa. ................................................................................... 16 1.1 As políticas públicas de ação afirmativa na educação superior. .... 24 2. Políticas públicas de ação afirmativa no ensino superior: as cotas raciais nas universidades federais brasileiras. ....................................................... 32 UNB .............................................................................................................. 34 UFBA ............................................................................................................ 35 UFJF ............................................................................................................. 38 UFSM ........................................................................................................... 39 UFRGS ......................................................................................................... 41 UFSC ............................................................................................................ 45 3. As cotas Raciais na UFPR ................................................................. 51 Considerações finais .................................................................................... 61 Referências Bibliográficas ............................................................................ 66 12 INTRODUÇÃO O objeto de análise deste trabalho é o sistema de cotas raciais da Universidade Federal do Paraná, que estudaremos com o intuito de apresentar o processo de implantação, mas principalmente do impacto produzido pela adoção dessa política afirmativa no sentido de alterar ou não a diversidade racial no quadro discente da instituição, para tanto descreveremos os mesmos pontos em outras seis IES federais. A adoção de políticas públicas de ação afirmativa pelas universidades brasileiras mostrou-se uma necessidade, de acordo com Carvalho (2005) o Brasil possui a segunda maior população afrodescendente do mundo, ficando atrás apenas da Nigéria, trata-se de uma população de composta por 45% de negros 1. No Brasil, 22 milhões de pessoas vivem abaixo da linha da pobreza, 70% são negros, 53 milhões de milhões de pessoas vivem na pobreza, 63% são negros, no Brasil em geral a pobreza tem a cor negra (CARVALHO, 2005, p. 27); ainda de acordo com esse autor, com base em pesquisa feita pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), ser negro no Brasil significa ter menos acesso à educação. A tabela a seguir mostra dados utilizados por Carvalho (2005)2: Tabela 1 - Brancos e negros na educação básica Brancos Negros Analfabetos com mais de 15 anos 8,30% 20% Analfabetos funcionais (adultos) Não concluíram o Ensino Fundamental (adultos) Não concluíram o Ensino Médio (18 a 23 anos) Completaram o Ensino Médio Fonte: (CARVALHO, 2005) 26,40% 57% 63% 13% 46,90% 75,30% 84% 3% 1 No entanto, o censo 2010 mostrou um aumento considerável da população negra que passou a representar 50,7% da população do país 2 Em 2012, 36,8% dos estudantes negros entre 18 e 24 anos estavam no ensino superior, contra 65,7% dos brancos. “O aumento da frequência observada para os jovens pretos ou pardos no ensino superior, nível educacional adequado para essa faixa etária, não foi suficiente para alcançar a mesma proporção apresentada pelos jovens brancos dez anos antes” (IBGE, 2012, p. 116). 13 Carvalho (2005) insiste que a desigualdade no Brasil é crônica e os números mostram que uma melhora universalista no ensino básico não é suficiente para resolvê-las, segundo o autor as melhorias na educação da população brasileira ao longo do século XX são evidentes, no entanto, em relação aos negros não houve mudanças, a diferença de 2,2 anos referente á média de frequência escolar entre negros e brancos é a mesma do final do século XIX. “Apesar de a Universidade pública brasileira ser um dos poucos redutos de exercício do pensamento crítico em nosso país, se a observarmos a partir da perspectiva da justiça racial impressiona a indiferença e o desconhecimento do mundo acadêmico a respeito da exclusão racial com que, desde sua origem convive.” (CARVALHO, 2005, p. 19). Segundo Carvalho (2005), no período de realização de sua pesquisa 96% dos universitários brasileiros eram brancos, 2% negros e 1% amarelo, comparando ao percentual dessas populações os números são assustadores. Além de mostrar números que comprovam o posicionamento marginal em relação à sociedade ocupado pela população negra, Carvalho (2005), mostra a baixa representatividade em cargos considerados de alto prestígio e as diferenças de evidente preconceito racial que comparam pessoas de mesma classe social e escolaridade e ainda assim o negro fica numa condição inferior. A Universidade Federal do Paraná (UFPR) foi a segunda universidade federal a aprovar o plano de metas responsável pela inserção dessas medidas como forma de democratizar o acesso ao ensino superior, o nosso interesse nesse trabalho consiste em identificar a efetividade das cotas raciais no período de 2005 a 2012, considerando que em 2005 começou a vigorar a política de cotas da UFPR e 2012, além de tratar-se do ano anterior à finalização deste trabalho é também o ano de aprovação da Lei Federal 12711/12 que estabelece a adoção de cotas em todas as universidades públicas3 e muda significativamente o quadro das políticas afirmativas no Brasil, além de determinar que todas as instituições públicas federais devem adotar um sistema de reserva de vagas (sociais e étnicas), a lei padroniza a 3 Trataremos mais detalhes referentes á Lei no decorrer do texto. 14 maneira como isso deve ser feito, alterando alguns processos já vigentes, como é o caso da UFPR, que para adequar-se à Lei passará por mudanças que não serão tratadas aqui. Acreditamos que a abordagem dos resultados produzidos pelas políticas públicas podem identificar perdas e ganhos, mostrando pontos a serem tratados para alcançar melhores resultados. Partimos do pressuposto que a política de cotas da UFPR ainda possui diversos pontos que necessitam de revisão e que o processo seletivo adotado pela universidade não foi o mais adequado para garantir a eficácia da política de cotas, porém, o número de negros na Universidade aumentou se comparado aos anos anteriores à implantação do sistema, para verificar se a nossa hipótese se confirma, falaremos do processo de implantação do sistema de cotas explicando as discussões prévias à implantação e o processo seletivo com base nos texto de Silva, 2008; Bevilaqua, 2005a e 2005b; posteriormente apresentaremos dados relativos ao ingresso de alunos e a identificação dos prós e contras da adoção do sistema de cotas nas perspectivas de Souza, 2007; Porto, 2011; Porto et al, 2012; Cervi, 2013 e Marçal, 2012. O trabalho faz um apanhado da produção bibliográfica a respeito do assunto apresentando os principais resultados obtidos. Tratamos especificamente da UFPR apenas no terceiro capítulo, antes disso, no primeiro capítulo procuramos fazer uma síntese do contexto histórico das políticas públicas de ação afirmativa no Brasil, com intuito de mostrar como a necessidade de criar políticas compensatórias chegou ao âmbito governamental, mostrando as primeiras políticas voltadas para população negra, alguns projetos de lei e as resistências sofridas, numa segunda parte do primeiro capítulo falamos diretamente da Educação superior e de como apesar de não haver obrigatoriedade da adoção das políticas afirmativas o número de universidades que adotaram sistemas próprios de seleção foi crescente, além de comentarmos a tramitação dos projetos de lei que somente anos mais tarde resultaram na sanção da lei de cotas em 2012. O segundo capítulo vai tratar de seis casos específicos de universidades que adotaram sistemas de cotas raciais Universidade de Brasília (UNB), a Universidade Federal da Bahia (UFBA), a Universidade Federal de Juiz de fora (UFJF), a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), e a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), vamos apresentar um pouco do processo de implantação e impacto nessas universidades 15 para finalmente comparar com os resultados apresentados sobre a UFPR. Poderíamos nos limitar a analisar os resultados da UFPR, contudo a comparação com outros casos aumenta as perspectivas de análise facilitando a identificação de aspectos positivos e negativos. No capítulo 3 apresentaremos dados referentes à UFPR, é importante ressaltar que as pesquisas realizadas por Porto, 2011; Porto (et al., 2012); Cervi (2013) e Silva (2008) que foram baseadas em dados fornecidos pelo Núcleo de concursos da UFPR4, alicerçaram nosso trabalho e nos deram condições de constatar as alterações ocorridas no quadro discente da UFPR a partir da implantação do sistema de cotas em 2005. Neste capítulo apresentaremos as dados numéricos que evidenciam os resultados das políticas afirmativas na UFPR, além de mostrar os problemas da política apontados por essas pesquisas, assim como proposições de mudanças que podem interferir positivamente nos resultados. A metodologia utilizada foi revisão de textos e documentos que continham dados e informações das universidades analisadas. 4 Agradecemos ao NC pelo fornecimento dos dados de possibilitaram a elaboração dos trabalhos que embasaram nossa pesquisa. 16 1. FATOS RELEVANTES NO CONTEXTO HISTÓRICO DE CRIAÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS DE AÇÃO AFIRMATIVA. As discussões sobre ações afirmativas no Brasil são norteadas pela ideia de igualdade presente na democracia, visam oferecer a grupos discriminados e excluídos um tratamento diferenciado para compensar as desvantagens devido a sua situação de vítimas do racismo e de outras formas de discriminação. São conhecidas também pelas terminologias “ação afirmativa, ação positiva, discriminação positiva ou política compensatória” (MUNANGA, 2003) Segundo Moehlecke (2002), as ações afirmativas para população negra tiveram origem nos Estados Unidos na década de 1960 e se difundiram pelo mundo produzindo ações semelhantes em diversos países, variando o público-alvo de acordo com as situações existentes em cada um deles. As principais áreas afetadas foram o mercado de trabalho, o sistema educacional e a representação política. São políticas de promoção da representação de grupos inferiorizados na sociedade, como minorias étnicas, raciais e de gênero, concedendo-lhes uma preferência com objetivo de assegurar o acesso a determinados bens, econômicos ou não. As políticas públicas surgem da necessidade de assegurar determinados direitos de cidadania de forma generalizada ou a determinados grupos específicos da sociedade, são ações que partem direta ou indiretamente do Estado nos âmbitos federal, estadual e municipal, com participação de entidade pública ou privada. Suas ações são baseadas na Constituição. Elas coexistem com as políticas universalistas, mantendo o princípio da igualdade sem deixar de respeitar as diferenças entre os diversos grupos presentes na sociedade. As políticas públicas de Ação Afirmativa têm a finalidade de inserir os grupos excluídos proporcionando igualdade de oportunidades e a diversidade cultural e social nos diversos espaços institucionais, são vistas como políticas compensatórias destinadas a reparar injustiças históricas e possuem um caráter temporário. No Brasil, as políticas públicas foram criadas com características peculiares, resultantes do processo histórico de formação da sociedade, principalmente por 17 conta da ideia de igualdade introduzida pelo mito da democracia racial5, possuíam caráter generalista e assistencialista, eram destinadas a combater a pobreza como um todo sem considerar a alteridade. Essa formação social com base numa cultura de negação de diferenças e da convivência pacífica entre as raças dificultou a inserção de qualquer tipo de ação que visasse a equiparação entre grupos étnicos, porém em consequência da intensa luta travada pelo Movimento Negro6, o conceito de ação afirmativa foi inserido no debate sobre políticas públicas no país. Em 1980, é formulado o primeiro projeto de lei inerente ao que pode ser definido como ação afirmativa, o Projeto de Lei nº 1332 de 1983, apresentado pelo então deputado federal Abdias do Nascimento7, que propunha uma “ação compensatória”, que estabeleceria mecanismos de compensação para afrobrasileiros após séculos de discriminação (MOEHLECKE, 2002). Como militante do Movimento Negro brasileiro, Abdias do Nascimento conhecia a demanda da população e tentou com o projeto de Lei sanar as desigualdades, principalmente no que se refere ao acesso ao mercado de trabalho e à educação. O projeto não foi aprovado, mas as reivindicações foram mantidas. A primeira instituição governamental voltada para os negros no Brasil foi a Fundação Cultural Palmares (FCP) em 1988, com o objetivo de promover e preservar a influência negra na sociedade brasileira, na época foi uma grande conquista, mas o fato de estar submetida ao Ministério da Cultura explicitava uma perspectiva cultural das relações raciais. Suas ações não tinham como objetivo sanar as distâncias entre negros e brancos na sociedade. Apesar de tratar certas demandas do Movimento Negro, foram impostas outras atribuições por parte do 5 Ideia introduzida no Brasil a partir de 1930, geralmente atribuída a Gilberto Freire, que exaltava a convivência pacífica entre negros e brancos com intuito de negar a existência de desigualdade. 6 Foi o primeiro movimento social do Brasil, surgiu na década de 1930 - lutavam por igualdade de direitos e acesso a educação para os negros libertos proporcionando-lhes condições de participar ativamente da sociedade. 7 Militante do Movimento Negro, idealizador do Teatro Experimental do Negro (TEN) que surgiu com o objetivo de valorizar o negro no teatro e criar um novo tipo de dramaturgia, além do ensaio de peças promovia a alfabetização de adultos. Trabalhava a cidadania e a valorização social do negro através da conscientização, da alfabetização, da cultura e da arte. 18 Estado que a afastavam do propósito principal, um exemplo foi a delegação da responsabilidade pela identificação e delimitação de áreas quilombolas que lhe deu um novo perfil e fez com que estivesse diretamente ligada ao Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). É importante destacar que ainda em 1988, surgiu o primeiro marco legal brasileiro para criminalização da discriminação, a Constituição Federal que condena a prática do racismo e o considera crime inafiançável. Somente a partir de 1990 as reivindicações relacionadas às questões raciais começaram a ganhar força perante o governo, destacando-se a Marcha “Zumbi dos Palmares, contra o Racismo pela Cidadania e a Vida”, que aconteceu em 1995 e impulsionou o tratamento das questões raciais no país. A marcha contou com a presença de mais de 30 mil pessoas, durante a manifestação foi entregue ao Presidente da República um relatório sobre a situação do negro no Brasil e um programa de ações para superação do racismo e das desigualdades raciais. Em resposta às demandas apresentadas pelos manifestantes e com o intuito de discutir e propor ações de combate à discriminação, no dia 20 de novembro de 1995 foi instituído por decreto presidencial o Grupo de Trabalho Interministerial (GTI) de valorização da população negra, ligado ao ministério da justiça. Pesquisadores brasileiros e americanos foram convocados para um seminário internacional intitulado: “Multiculturalismo e Racismo: o papel da ação afirmativa nos estados democráticos contemporâneos”, essa foi a primeira ação do governo brasileiro no sentido de discutir políticas públicas específicas para a população negra no Brasil. Para o GTI, as ações afirmativas podem surgir tanto no âmbito do Estado quanto da iniciativa privada, tem objetivo de eliminar desigualdades historicamente acumuladas, garantir a igualdade de oportunidade e tratamento, além de compensar perdas advindas da discriminação (IPEA, 2003). Em 1996 foi criada a Secretaria de Direitos Humanos, responsável pela elaboração do Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH), cujo objetivo é propor políticas públicas para promoção dos direitos humanos no país. Apesar do caráter generalista, o PNDH tem um espaço destinado ao tratamento das questões raciais, dentre as propostas apresentadas destacam-se as seguintes: “formular políticas compensatórias que promovam social e economicamente a comunidade negra; apoiar a definição de ações de valorização para a população negra e com 19 políticas públicas; aperfeiçoar as normas de combate à discriminação contra a população negra; apoiar as ações da iniciativa privada que realizem discriminação positiva” (BRASIL,1996). Essa é primeira manifestação institucional destinada a implementação de ações afirmativas. Outra ação importante no sentido de promover a igualdade racial se deu em 1997, com o lançamento do Programa “Brasil Gênero e Raça” pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), cuja ação principal foi criar núcleos de promoção da igualdade de oportunidades e de combate à discriminação no emprego e na profissão. Os núcleos ficavam nas delegacias e subdelegacias regionais do Trabalho, porém apesar da proposta inicial seus trabalhos foram direcionados mais especificamente para pessoas com deficiência. A década de 90 foi muito significativa para as relações raciais no Brasil, Embora não tendo alcançado grandes resultados, os esforços voltados para a implantação de uma política pública foram a primeira conquista no campo institucional. Nos anos 2000 e 2001 a temática racial ganhou muita força no Brasil como consequência da III Conferência Mundial de Combate ao Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata, que se realizou entre 31 de agosto e 07 de setembro de 2001. O evento foi promovido pela Organização das Nações Unidas (ONU) e realizado em Durban, na África do Sul, tendo participação de 600 representantes brasileiros. Houve grande mobilização no país com o intuito de preparar a participação no evento, no ano de 2000 foi criado um comitê que tinha a responsabilidade de organizar e preparar a participação brasileira em Durban, o grupo foi composto por representantes de organizações governamentais e não governamentais. Uma das ações preparatórias foi a organização de reuniões pré-conferência e encontros que pudessem dar subsídio aos trabalhos do comitê, essas reuniões aconteceram em todo o país e os encontros foram organizados tanto pela SDH quanto pela Fundação Palmares. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) teve papel de destaque não apenas nesta etapa, foi o responsável pelo fornecimento de diagnósticos inéditos que retratavam a amplitude da desigualdade no Brasil. Os dados serviram para subsidiar as discussões e posteriormente foram 20 reconhecidos como oficiais pelo governo que os utilizou como base para ações futuras. Ainda nesse interim foi realizada a I Conferência Nacional Contra o Racismo e Intolerância, na cidade do Rio de Janeiro, em julho de 2001 contou com a participação de aproximadamente 1700 delegados de todas as regiões do país e foi um evento de grande destaque nesse período que antecedeu a Conferência Mundial. Simultaneamente aos eventos que precederam a participação do Brasil em Durban, o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) criou portaria, que reservava 20% das vagas para negros na estrutura institucional do Ministério e do INCRA, ação que deveria ser adotada também pelas empresas terceirizadas que prestavam serviços para o órgão e o Ministro da Justiça. Este assinou portaria que determinava a contratação de 20% de negros, 20% de mulheres e 5% de portadores de deficiência física para os cargos de assessoramento do Ministério. Em 2002 o Ministério das Relações Exteriores (MRE) determinou a concessão de 20 bolsas de estudo federais a afrodescendentes que se preparam para o concurso de admissão ao Instituto Rio Branco (MOEHLECKE). Após a conferência em Durban foi criado no âmbito do Governo Federal o Conselho Nacional de Combate à Discriminação (CNCD), ligado a Secretaria de Estado de Direitos humanos e vinculada ao Ministério da Justiça (MJ), com o objetivo de incentivar a criação de políticas públicas afirmativas de promoção da igualdade racial. O conselho exerceu essa função até a mudança de governo. Em 2002 foi lançado o II PNDH, que além de reconhecer os males causados pela escravidão e a necessidade de medidas compensatórias que possam combater seus efeitos, ampliou as metas dedicadas à valorização da população negra e introduziu o termo “afrodescendente”, proveniente da declaração e do plano de ação de Durban. Em maio de 2002 a Secretaria de Direitos humanos criou o Plano Nacional de Ações Afirmativas que tinha a função de criar medidas específicas de inclusão de afrodescendentes, mulheres e pessoas portadoras de deficiência no âmbito da administração pública. No mesmo ano, o então presidente Fernando Henrique Cardoso, propôs através do Decreto 4228 a criação do Programa Nacional de Ações Afirmativas (PNAA), com o objetivo de realizar metas percentuais de participação de afrodescendentes, mulheres e pessoas com deficiência em cargos de direção da 21 administração pública federal (IPEA, 2010), porém não houve tempo hábil para efetivação do programa, nem foi dado continuidade pelo governo posterior. As ações ocorridas entre os anos de 1995 e 2002 foram muito importantes para as relações raciais no Brasil, asseguraram a inserção da temática no espaço governamental, no entanto devido a falta de uma estrutura que cumprisse o papel de coordenar e assegurar a sua continuidade, muitas acabaram se dissipando ou se desviando do objetivo inicial, não atingindo o resultado esperado Em 2003, Luiz Inácio Lula da Silva tomou posse como presidente, seu plano de governo tinha despertado esperança de avanços nas questões raciais. A novidade trazida pelo governo Lula foi a proposta de criar uma estrutura administrativa diretamente ligada à Presidência da República, que seria responsável por promover a igualdade e proteção de grupos raciais e étnicos afetados pela discriminação, com foco principal na população negra. A Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) foi criada em 21 de março de 2003, com status de ministério, tendo o objetivo de assessorar, articular, formular e coordenar políticas de promoção da igualdade. Ela não é uma instituição que dedicada à “atividade fim”. Seu trabalho deve estar associado a outras instituições para obtenção de resultados, pode mobilizar toda a máquina pública, especialmente aquelas ligadas à política social para seus fins. Logo após a criação da Seppir foram criados por meio de decretos o Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial (CNPIR), a Política Nacional de Promoção da Igualdade Racial (PNPIR), regulamentação de procedimentos relacionados à comunidades quilombolas, e o Fórum Intergovernamental de Promoção da Igualdade Racial (FIPIR). O CNPIR é responsável pela proposição de políticas de promoção da igualdade racial, possui um caráter consultivo que possibilitou a inserção da sociedade civil nos debates e é presidido pelo titular da Seppir. O conselho conta com a participação de representantes dos governos estaduais, entidades da sociedade civil, principalmente as identificadas com o Movimento Negro, três personalidades conhecidas no âmbito das relações raciais, designadas pela presidência da República e o Presidente da Fundação Palmares que fica 22 previamente convidado para as reuniões do conselho. Os objetivos da PNPIR são: a “eliminação de qualquer fonte de discriminação e desigualdade raciais direta ou indireta, mediante a geração de oportunidades; articulação temática de raça e gênero e adoção de políticas que objetivem o fim da violação dos direitos humanos.” (BRASIL, 2003). Para alcançar seus objetivos conta com a cooperação de órgãos gestores de programas “finalísticos” que serão capazes de por em prática as suas decisões, trabalha em conjunto com outros ministérios, assim como articula ações junto a órgãos governamentais de âmbito municipal e estadual e sociedade civil (IPEA 2004). O FIPIR surge com objetivo de reunir esforços em prol da causa racial, implementando estratégias que possibilitem a incorporação da Política Nacional de Promoção da Igualdade Racial pelos estados e municípios. Houve um avanço progressivo nas conquistas pela igualdade racial no Brasil, mas as verdadeiras políticas públicas de ação afirmativa voltadas para a população negra surgiram somente após a criação da Seppir. Em 2005, o governo federal cogitou a possibilidade de extinguir a Seppir, assim como as outras secretarias especiais - Secretaria Para Mulher (SPM) e Secretaria de Direitos humanos (SEDH) - por considerar a existência de problemas na gestão das instituições. Os resultados ficaram abaixo do esperado e houve necessidade de maior racionalidade do uso de recursos na máquina estatal e uso dos recursos federais. A possibilidade mobilizou diversos setores da sociedade, principalmente os movimentos sociais que defenderam a preservação da grande conquista alcançada com o surgimento desses órgãos cuja prioridade era o tratamento das questões de raça, gênero e direitos humanos, em resposta às pressões o governo abandonou a ideia de extinguir as secretarias, mas submeteu a SEDH à Secretaria Geral da República (IPEA, 2004-11). Entre 30 de junho e 02 de julho de 2005, realizou-se a I Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial (I Conapir), que reuniu representantes do governo e da sociedade para definição do PNPIR sobre o tema “Estado e sociedade – juntos promovendo a igualdade racial”. Em novembro de 2005 o governo criou o GTI para elaboração do PNPIR, o grupo contou com a participação de representantes de ministérios e secretarias ligadas ao governo federal e entre suas atribuições tinham a responsabilidade de sistematizar as diretrizes propostas 23 na I Conapir. Em 2006 foram realizadas no Brasil duas conferências internacionais que debateram temas relevantes para as políticas públicas. A II Conferência de Intelectuais Africanos e da Diáspora, realizada na cidade de Salvador, teve o objetivo de estreitar as relações entre o Brasil e o continente africano. A conferência debateu estudos e experiências com temas diversificados, entre eles ações afirmativas e políticas de combate ao racismo, à xenofobia e a outras formas correlatas de discriminação. Por sua vez, a Conferência Regional das Américas sobre Avanços e Desafios no Plano de Ação contra o Racismo, a discriminação Racial, a Xenofobia e as Intolerâncias Correlatas, aconteceu em Brasília. Foi organizada pela Seppir em conjunto com o governo do Chile e teve como objetivo discutir políticas de combate ao racismo com base no plano de ação da conferência de Durban realizada em 2001. Os documentos gerados por essas conferências serviram para reforçar diretrizes da intervenção do governo brasileiro no combate ao racismo e discriminação (IPEA, 2007). A intensificação de esforços direcionados à promoção da igualdade racial no Brasil aconteceu após a conferência realizada em Durban, no ano de 2001. Tanto as ações preparatórias quanto às intervenções posteriores ao evento foram de extrema importância para as mudanças que ocorreram no tratamento das questões raciais no Brasil. No ano de 2009, aconteceu em Genebra, na Suíça, um novo encontro com o intuito de reafirmar os compromissos assumidos em Durban. A Conferência de revisão de Durban evidenciou os resultados alcançados em diversos países, mas pediu a intensificação de ações de combate à discriminação nas áreas da saúde, educação, trabalho, moradia e políticas administrativas, além de salientar a importância da adoção de políticas e planos de ação nacionais para prevenir, combater e erradicar o racismo, a discriminação racial e outras formas correlatas de intolerância (IPEA, 2010-18). Em 20 de julho de 2010 entrou em vigor a Lei nº 12288/10 que instituiu o Estatuto da Igualdade Racial, proveniente do Projeto de Lei 213/2003, destinado a garantir à população negra a efetivação da igualdade de oportunidades, a defesa dos direitos étnicos individuais, coletivos e difusos e o combate à discriminação e às demais formas de intolerância étnica (BRASIL, 2010). Mais uma conquista atribuída 24 ao Movimento Negro, que visa garantir os direitos da população afrodescendente e reafirma o compromisso público/institucional em relação à causa. 1.1 AS POLÍTICAS PÚBLICAS DE AÇÃO AFIRMATIVA NA EDUCAÇÃO SUPERIOR. É notório que o acesso e a permanência dos afro-brasileiros no sistema educacional brasileiro, em qualquer dos seus níveis, nunca se deu de forma tranquila, e também é notório sua exclusão do ensino superior. (SISS, 2003, pag 17) A inserção dos negros na educação sempre foi um tema controverso na sociedade brasileira. Carvalho (2005) na proposta de cotas para estudantes negros na UNB, fala da condição histórica da universidade brasileira servir de abrigo para a elite branca que a criou. Segundo dados apresentados no documento, em 2002, do total de universitários brasileiros, 97% eram brancos, 2% negros e 1% amarelos, o que comprova a situação de desigualdade nas condições de acesso, principalmente se consideramos que, segundo o IBGE, em 2000, a proporção de pessoas autodeclaradas negras na população brasileira era de 41,7%. A temática racial ganhou muita força no país principalmente a partir do período pré-conferência de Durban, que além de acalorar as discussões relacionadas ao assunto interferiu na produção acadêmica despertando o olhar da academia para o tema. A primeira política pública de ação afirmativa voltada para área da educação no Brasil foi a Lei 10639/038, que determina a obrigatoriedade do ensino de história e cultura africana e afro-brasileira no ensino fundamental e médio. Essa lei foi o primeiro passo dado no âmbito da educação e até hoje enfrenta muitas dificuldades na sua implementação. Posteriormente foi alterada pela Lei nº 11.645/08, que inclui a história indígena também como temática obrigatória na educação básica, não 8 Como o ensino básico não é o foco do trabalho citamos a lei apenas para contextualização. 25 obstante à importância dessa lei, não trataremos maiores detalhes devido ao foco do trabalho. Dentre as ações do governo com objetivo de incluir os negros no ensino superior, há três programas que se destacam: o Programa Diversidade na universidade, que se dedica a preparação dos negros através da oferta de cursos pré-vestibulares gratuitos e bolsa de estudo para aumentar as chances de ingresso na universidade; há também a iniciativa de aumentar a quantidade de negros nas IES particulares através do Programa Universidade para Todos (PROUNI) e a reserva de vagas nas universidades públicas por meio do sistema de cotas. O governo Lula foi o precursor das políticas afirmativas no Brasil, porém mesmo diante da sua posição declaradamente favorável à política de cotas nas universidades, na prática a execução dos planos relacionados a essa política não foram tão simples. Em dezembro de 2003 a Seppir recomendou ao MEC implementação de cotas raciais nas Instituições de Ensino Superior (IES), entretanto o ministro da educação ignorou a informação por considerar que não havia consenso sobre a matéria na sociedade (IPEA, 2004-9). Em 2004 seu sucessor manifestou-se a favor da implantação de medidas direcionadas às populações mais pobres, mas que não fossem exclusivamente raciais. As dificuldades de acesso ao ensino superior vão além da pobreza, apesar de os negros representarem maioria entre os pobres no país, a discriminação racial traz outras consequências como baixa autoestima e alto índice de marginalização que impossibilita uma política destinada à pobres interferir na desigualdade que atinge a população negra, apesar da relevância das políticas voltadas aos mais carentes, elas não são capazes de resolver distorções raciais (IPEA 2004-9). As cotas raciais no ensino superior são as mais polêmicas. Desde o início houve muita manifestação contrária, principalmente por parte da mídia. A inclusão no ensino superior é a maneira mais rápida de acabar com certos aspectos das desigualdades raciais, além de atuarem em espaços particularmente privilegiados da vida social (IPEA, 2010). Afora sua função formativa, a educação gera oportunidades que ampliam as opções de acesso ao mercado de trabalho e de ascensão social, nesse sentido as políticas afirmativas são incômodas para certos 26 grupos por representar a possibilidade de estabelecer mudanças significativas na estrutura da sociedade. Em 1999 foi apresentado à Câmara do Deputados, pela Deputada Nice Lobão o Projeto de Lei nº 73/99 que propunha regulamentação para políticas de cotas nas instituições públicas, reservando uma parcela das vagas para a população negra e indígena. O projeto tramitou na Câmara durante anos sem ser aprovado. Em 2003, por determinação da presidência da República, foi constituído sob o comando da Seppir em trabalho conjunto com o MEC, o Grupo de Trabalho responsável por formular medidas de acesso e permanência de estudantes afrodescendentes no ensino superior. Em dezembro do mesmo ano, os especialistas do grupo encaminharam ao presidente um relatório que mostrava a necessidade de adoção de cotas para acesso ao ensino superior. Em maio de 2004 foi encaminhado ao legislativo federal dois projetos de lei de ações afirmativas, um relativo às universidades federais e outro às universidades particulares. As propostas apresentadas visavam a criação de reserva de vagas de caráter social, com uma parcela dessas vagas destinadas às populações negras, pretos e pardos (IPEA, 2004). O Projeto de lei nº 3627/2004 determina que 50% das vagas das universidades federais sejam destinadas a alunos que concluíram o ensino médio integralmente em escola pública e uma parte dessas vagas a candidatos negros e indígenas conforme a proporção desses grupos nas unidades federativas. Com base no último censo do IBGE, em caso de não preenchimento desse contingente as vagas serão completadas por estudantes de escolas públicas. De acordo com esse projeto a maioria das vagas serão ocupadas por estudantes brancos, no entanto mesmo sendo “cota da cota” o projeto do Ministério da Educação (MEC), assegura maior acesso dos estudantes negros ao ensino superior (IPEA, 2004). Em 2005 o Projeto de Lei 3627/04 foi apensado ao Projeto de Lei 73/99. Em 2006 foi aprovado pela comissão de direitos humanos da Câmara dos Deputados um substitutivo do Projeto de lei nº 3627/2004, ao invés de ser imediato como no anterior, concede prazo de 4 anos de implementação do sistema de reserva de 27 vagas. No entanto, após ser encaminhado ao Senado Federal o projeto não teve aprovação imediata, levou mais alguns anos para que produzisse algum resultado. Um ponto positivo das políticas de ação afirmativa no Brasil é que independente da existência de uma lei federal que regulasse as cotas, houve adesão das universidades ao sistema de reserva de vagas, algumas por resoluções internas e outras em obediência a leis estaduais. Em 2006 o total de universidades públicas que possuíam sistema de cotas raciais era 22, sendo 9 federais e 13 estaduais (IPEA, 13 p302). Cada universidade implantou um sistema autônomo respondendo a deliberações de seus conselhos universitários. Algumas apresentaram mudanças mais significativas, como a Universidade Federal da Bahia (UFBA), que antes considerava apenas o desempenho na primeira e na segunda fase do vestibular. Critérios como cor, gênero, renda ou origem escolar não interferiam nesse processo. Após implantação do sistema de reserva, candidatos oriundos do sistema público de ensino que obtivessem pontuação mínima na primeira fase passavam a ter condições de concorrer na segunda (REIS, 2007). Já a Unicamp, que inicialmente se mostrou contrária às cotas, adotou um sistema de pontuação extra no vestibular para alunos de escola pública, entre eles negros e indígenas (CARVALHO, 2005). No ano de 2007 o IPEA identificou 38 instituições de ensino que adotaram algum tipo de política de ação afirmava para negros. Essa pesquisa mostra a existência de diversos formatos de programas, sendo que a principal modalidade de ações afirmativas são as cotas, implantadas em 33 universidades, as outras cinco que aparecem na pesquisa introduziram sistema de bônus em seus vestibulares (JACCOUD, 2008). Em 21 e 22 de agosto de 2006, a UNB realizou o Seminário de Políticas Afirmativas para a Inclusão Racial no Ensino Superior, para discutir as experiências de instituição de cotas raciais nas universidades públicas brasileiras, Entre os resultados do seminário podemos destacar que na maioria das universidades não existe problema de mérito, em alguns casos os alunos cotistas acabam apresentando desempenho acima da média, além de ter baixo índice de evasão e desistência antes de efetivar a matrícula. Dentre os pontos negativos o que merece maior destaque é a dificuldade enfrentada pelos alunos para permanência no curso. Outra constatação importante desse seminário foi a falta de acompanhamento 28 sistemático por parte da Seppir e do MEC das experiências de implantação das cotas nas universidades, nem apoio aos alunos ou às instituições. (IPEA, 13, p303). Os resultados do seminário foram bons, já que as preocupações com possíveis problemas que permearam as discussões prévias à implantação dos sistemas apresentaram um resultado positivo, porém a preocupação com a permanência continua até hoje como um problema a ser superado. Cabe destacar um esforço aplicado com o objetivo de contribuir para a permanência dos alunos cotistas raciais em nível federal. Em 2004, a partir da parceria entre o Programa Nacional de DST/ Aids e universidades que possuíam programas de ação afirmativa para negros, foi lançado o Programa Brasil Afroatitude, que concedia bolsas de estudo aos alunos cotistas de 10 universidades públicas. Eram 50 bolsas para cada universidade financiadas pelo Ministério da Saúde, com duração de 2 anos. Para ter direito ao recebimento das bolsas os alunos desenvolviam atividades de extensão, pesquisa e monitoria sobre DST/ Aids, racismo e população negra. O benefício foi concedido até o final de 2006 e o Programa está inativo desde 2007, por falta de recursos, segundo o MS (IPEA, 2009). Com o intuito de ampliar o número de vagas nas instituições públicas, reduzir a evasão e ocupar vagas ociosas, em 24 de abril de 2007 foi instituído através do decreto 6096 o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), através da adoção de medidas que criam condições de expandir a estrutura física, acadêmica e pedagógica das universidades federais. Apesar de expressar preocupação com acesso e permanência de alunos o programa não faz nenhuma referência às cotas raciais. As cotas raciais no ensino superior foram um grande passo para a população afro-brasileira que durante muito tempo foi privada até mesmo do acesso à educação básica9 e aos poucos foi ganhando espaço através das reivindicações 9 O acesso do negro à educação no Brasil foi dificultado pelo próprio sistema, algumas das leis vigentes no século XIX evidenciam condição que lhes foi imposta e comprova que estes foram “legalmente” privados do ingresso na educação formal. Alguns exemplos são o artigo 6º da Constituição de 1854 e a Reforma Couto Ferraz. 29 do movimento negro. Nos últimos anos, principalmente após a conferência de Durban, as políticas de ação afirmativa tem encontrado muito espaço para debate, principalmente no meio acadêmico onde a desigualdade racial era predominante. São muitas pesquisas, trabalhos e grupos de discussão abordando o conteúdo, isso sem dúvida é uma grande conquista, principalmente no nosso país, que durante muito tempo se baseou em uma política universalista, incapaz de superar desigualdades e baseada na ideia de inexistência de racismo. Atualmente a discriminação racial é um fato, são diversos estudos abordando, comparando condições e situações da vida cotidiana da perspectiva racial, como expectativa de vida, renda, salários, níveis educacionais, entre outros índices que não podem ser atribuídos apenas à situação de pobreza, mas estão relacionados claramente a processos discriminatórios. Paixão (Et Al, 2012), por meio de dados relativos ao ano de 2010, mostra que em comparação com o total de vagas nas universidades o número de beneficiários de cotas ainda é pequeno. A maioria das vagas destinadas às cotas nas universidades foram ocupadas por optantes das cotas sociais e uma minoria por cotistas étnicos, além disso aponta insuficiência de programas de assistência estudantil, identificando o aumento do número de ingressantes por reserva de vaga e a adoção de políticas de apoio estudantil como desafio para as políticas afirmativas até 2010. De acordo com Lázaro (Et Al, 2012), considerando jovens entre 18 e 24 anos o número de negros no ensino superior passou de 4% em 1997 para 19,8% em 2011. A mudança é significativa e certamente resultante das políticas de ação afirmativa, mas ainda há um grande contingente de negros excluídos do ensino superior, 80% segundo os autores, esse número significativo aponta para a necessidade de políticas que invistam no percurso escolar, principalmente no ensino médio, preparando o aluno para disputar uma vaga em curso superior. Assim como Lázaro (et al,2012), Cunha, (2012) acredita que é preciso estimular a cultura do ensino superior desde o ensino fundamental, para isso sugere a parceria entre IES públicas e institutos federais e as escolas públicas. Para o autor as políticas com recorte étnico-racial criam um ambiente favorável para as lutas antirracistas. 30 Uma década após o polêmico início das discussões acerca da implantação do sistema de cotas raciais na primeira universidade federal brasileira, a UNB, em 29 de agosto de 2012 finalmente foi sancionada pela Presidente Dilma Rousseff a lei de cotas, cuja origem pode ser atribuída aos projetos de lei 73/99, 3627/04 e outros que foram apensados a eles. A Lei 12711/2012, regulamentada pelo Decreto 7824/12 de 19 de outubro de 2012, dispõe sobre o ingresso nas Universidades Federais e Instituições Federais de ensino técnico de nível médio. Determina que as instituições federais que ofertam vagas para curso superior devem reservar 50% das vagas para estudantes que tenham cursado integralmente o ensino médio em escola pública, proporção de vagas no mínimo igual a de pretos, pardos e indígenas que compõe a população da unidade da Federação onde a instituição estiver localizada, segundo o último Censo Demográfico divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, que será reservada, por curso e turno, aos autodeclarados pretos, pardos e indígenas (Brasil, 2012). Esta lei aponta caminhos para maior equidade e diversidade na educação superior e respeita a demanda do Movimento Negro não confundindo racismo e pobreza, no entanto os indígenas ficam em desvantagem, já que a lei prevê a consideração da proporção dos grupos étnicos nos estados, apenas 0,43% da população brasileira é formada por indígenas (LÁZARO et al, 2012). Para Heringer (2012) no cenário favorável proporcionado pela promulgação da lei e o respaldo constitucional unânime das políticas afirmativas, torna-se ainda mais importante analisar experiências em curso e avaliações realizadas, para descobrirmos o quanto caminhamos e quais são os aprendizados indispensáveis e os limites a serem superados para uma efetiva democratização do ensino superior. Santos (2012) acredita que a lei representa uma conquista no respeito à democratização do acesso ao ensino superior público, mas não é suficiente para sanar todos os problemas da educação brasileira, nesse sentido concorda com Lázaro (Et al., 2012) e Cunha (2012) defendendo a necessidade de intervenção na educação básica e especialmente no ensino médio. A luta e o combate a todo tipo de discriminação, melhoria na distribuição de renda, entre outros, são mecanismos indispensáveis à promoção da verdadeira inclusão (SANTOS, 2013, p. 305). 31 A referida lei é sem dúvida um grande êxito, principalmente pela atenção específica dedicada aos grupos étnicos, no entanto, insere as cotas raciais dentro da reserva de vagas para alunos de escolas públicas, além de estipular renda mínima para alunos que optarem por concorrer às vagas reservadas. No que se refere às cotas para o grupo racial negro (pretos e pardos), simboliza uma grande conquista cujo mérito deve ser atribuído ao Movimento Negro cuja participação foi essencial em todos os processos que culminaram nessa conquista. Contudo, acreditamos que impõe certa padronização do processo de seleção como a inserção das cotas raciais dentro da reserva de vagas para egressos de escolas públicas, assim como a autodeclaração e esses podem ser pontos problemáticos, a autonomia no estabelecimento dos critérios na adoção de políticas afirmativas que, em alguns casos podem ser alterados drasticamente com a adequação à lei. Acreditamos que deveria estar assegurada a possibilidade de cada instituição analisar a viabilidade da mudança e se adequar da melhor forma possível para não retroceder nos resultados já alcançados. Muitas universidades adotam algum tipo de comprovação em seus processos seletivos como apresentação de fotos e bancas de identificação racial. Com a autodeclaração esses processos serão alterados, podendo trazer problemas para essas instituições. Até o momento procuramos apresentar o percurso das políticas públicas de ação afirmativa no Brasil, ressaltando os fatos que consideramos mais relevantes para a compreensão do processo, na sequência vamos explicitar alguns resultados obtidos. 32 2. POLÍTICAS PÚBLICAS DE AÇÃO AFIRMATIVA NO ENSINO SUPERIOR: AS COTAS RACIAIS NAS UNIVERSIDADES FEDERAIS BRASILEIRAS. Dentre as políticas públicas de ação afirmativa adotadas no Brasil, as cotas raciais foram as mais polêmicas. De acordo com José Jorge de Carvalho (2005), houve muita resistência por parte de algumas instituições, principalmente as mais renomadas do país e uma polarização de opiniões em torno do tema. Entre os episódios que evidenciaram posições contrárias podemos destacar dois que tiveram repercussão nacional e ocuparam espaço na mídia por algum tempo, o primeiro deles foi o manifesto contra cotas, documento intitulado “Cidadãos Antirracistas Contra as Leis Raciais”10, que também ficou conhecido como “manifesto dos 113 cidadãos antirracistas”, documento elaborado por artistas, intelectuais, empresários e ativistas de movimentos sociais, que apresentavam argumentos contra a adoção de cotas, que de acordo com Silveira (2012, p. 140) ignoravam a ressignificação da noção de raça elos movimentos negros e banalizavam a legitimidade de suas reivindicações, além de apresentar uma crença, que o autor qualifica como ingênua de que o aparato jurídico legal do Estado poderia alterar a estrutura sociocultural. Para Silveira (2012) o tipo de crítica utilizada no documento esvaziava o debate, afastando os agentes sociais envolvidos nas questões substantivas das políticas afirmativas, além de banalizar a evidente exclusão dos afrodescendentes do ensino superior não contribuía para a alteração do quadro vigente na universidade pública no sentido de torná-lo mais plural. Outro episódio importante foi a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) nº 186, movida pelo Partido Democratas (DEM) em 2009 que juntamente com o Recurso Extraordinário (RE) 597.285/RS, movido por um aluno da UFRGS, que alegava ter sido prejudicado pelo sistema de cotas, resultou na Audiência Pública sobre a Constitucionalidade de Políticas de Ação Afirmativa de Acesso ao Ensino Superior, convocada pelo relator Ministro Ricardo Lewandowski entre os dias 3 e 5 de março de 2010, no Superior Tribunal Federal (STF). Essa 10 O documento pode ser consultado na íntegra no seguinte link: http://www1.folha.uol.com.br/folha/educacao/ult305u401519.shtml (acesso em 02/07/2013). 33 audiência foi extremamente importante para o debate sobre políticas afirmativas no Brasil, não apenas por ter dado espaço à manifestação de opiniões favoráveis e contrárias que fomentaram o debate sobre o assunto, mas principalmente pelo resultado final, já que foi julgada improcedente por unanimidade, dando forças às políticas de ação afirmativa com recorte racial, não apenas na UNB, mas em todo o país. Mesmo diante das controvérsias sobre o assunto, desde 2002 foi crescente o número de IES públicas que aderiram a algum tipo ação afirmativa. Em 2012 já havia mais de cem instituições que possuíam algum tipo de reserva de vagas, apesar desse número nem todas divulgaram os dados referentes ao acesso e permanência dos estudantes que ingressaram através desses sistemas (SANTOS, 2013). Jocélio Teles dos Santos (2013) acredita que as razões para a não divulgação dos resultados podem ser diversas, porém destaca três possibilidades: o receio de publicizar dados que possam ser considerados negativos devido à reação da mídia; a falta de tradição em pesquisa sobre relações raciais e, por fim, por problemas burocráticos internos das próprias instituições. A falta de acesso a dados relevantes, assim como a falta de padronização de processos, impossibilitam a elaboração de um estudo sistemático capaz de abranger todas as instituições, portanto trabalharemos apenas com algumas delas. Selecionamos seis que apresentaram informações relevantes e atualizadas para a nossa pesquisa, além de possuírem análises publicadas que podem ser utilizadas como referência. Apresentaremos informações relativas à implantação dos sistemas como forma de contextualização e algumas informações do impacto, principalmente no que se refere ao quadro de alteração da diversidade racial pós-implantação das políticas de ação afirmativa. Para comparação com a Universidade Federal do Paraná (UFPR), as instituições selecionadas para este capítulo são as seguintes: Universidade de Brasília (UNB), a Universidade Federal da Bahia (UFBA), a Universidade Federal de Juiz de fora (UFJF), a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), e a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). 34 UNB Dentre as universidades federais brasileiras, a primeira a implantar um sistema de reserva de vagas foi a UNB, a primeira proposta foi apresentada em 1999 e ganhou muita força em 2001, após a conferência de Durban, como afirma Carvalho (2012). Em 2002, os professores José Jorge de Carvalho e Rita Segatto, reescreveram o documento que haviam preparado em 1999 e apresentaram uma versão revisada e ampliada do texto “Uma proposta de cotas para estudantes negros na Universidade de Brasília”11, ao Conselho de Ensino Pesquisa e Extensão (CEPE). A primeira parte tratava das diferenças entre negros e brancos no Brasil e da quase ausência dos negros no ensino superior, apresentava dados das ações afirmativas que já estavam em curso no país e justificava à necessidade de cotas. A segunda parte comentava as reações ao sistema, a eficácia e a necessidade de órgãos de apoio e acompanhamento das medidas. É interessante ressaltar que o texto não trata apenas do corpo discente das universidades brasileiras, mas aborda também a inexpressiva participação de negros no corpo docente dessas instituições e em cargos públicos em geral. Como exemplifica Carvalho (2002), a Universidade de São Paulo (USP), uma das maiores universidades do país, possuía um total de 504 professores e destes apenas 3 eram negros, sendo que um deles era nascido no Zaire e tinha formação no exterior. Finalmente, após cinco anos de debate, foi instituído o sistema de cotas da UNB, aprovado pelo CEPE. A partir do primeiro semestre de 2004, foram reservados 20% das vagas de todos os cursos para candidatos negros, a proposta inicial era que essa política seria mantida por 10 anos. Após esse período seria avaliada com o intuito de verificar o impacto e a satisfação dos objetivos propostos, as vagas destinadas à reserva que não fossem preenchidas voltava para a concorrência geral. Os candidatos negros teriam que atingir uma nota mínima estabelecida pela UNB para serem aprovados, a redação e habilidades específicas continuariam sendo eliminatórias, os ingressantes negros integrariam as mesmas turmas que os 11 O texto integral está disponível no link: http://afrolatinos.palmares.gov.br/_temp/sites/000/6/download/biblioteca/arquivos/PROJETO_DE_CO TAS_Proposta%20de%20JJCarvalcho.pdf (Acesso em 02/07/2013) 35 brancos, cursariam as mesmas disciplinas e seriam avaliados da mesma forma (CARVALHO, 2002). As condições propostas descartavam a possibilidade de uma formação de qualidade inferior para negros, deixando claro que independente da forma de ingresso ao se formarem teriam cumprido todas as exigências necessárias de maneira satisfatória. De acordo com o Relatório de autoavaliação institucional da UNB – 201212, do total de candidatos aprovados no vestibular de 2004, 19% ingressaram pelo sistema de cotas, apenas 1% das vagas reservadas não foram preenchidas retornando para a concorrência geral. Desde o primeiro ano da política foram 6891 cotistas matriculados na universidade e no aniversário de oito anos do sistema, em 2012 haviam 1452 cotistas formados. O mesmo relatório comenta que, em 2011 a UNB sediou uma audiência pública para avaliar resultados e debater ampliação de políticas públicas de ação afirmativa e os dados apresentados confirmaram os benefícios dessas políticas. UFBA A primeira proposta de implementação de ações afirmativas na UFBA foi elaborada pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE) e encaminhada à Reitoria em 2003, que solicitou ao Centro de Estudos Afro-orientais (CEAO) que coordenasse as atividades destinadas à análise da proposta (REIS, 2007). Em outubro de 2002 foi entregue ao Reitor o “Documento preliminar para o debate sobre a adoção de mecanismos de ampliação do acesso e permanência de negros na UFBA”. A proposta inicial era reservar 40% das vagas do vestibular de 2003 para estudantes negros (SANTOS e QUEIROZ, 2012). De acordo com Jocélio Teles dos Santos e Delcele Mascarenhas de Queiroz (2012), em 21 de outubro de 2002 foi deliberada pelo Conselho de Ensino Pesquisa e Extensão (CONSEPE) a constituição de um grupo de trabalho cujo objetivo era “estudar, sistematizar e apresentar um documento proposta sobre estratégia de inclusão social”. Com o passar do tempo houve alteração na composição do grupo, mas o objetivo foi mantido, uma das 12 Disponível 19/07/2013) em http://www.unb.br/unb/cpa/relatorio_autoavaliacao.pdf (Acesso em 36 estratégias para elaboração da proposta foi analisar as que já haviam sido aprovadas em outras universidades brasileiras, entre elas a UNB e a UFPR. Os autores comentam que o texto inicial apresentado pelo DCE e responsável pela criação do grupo demonstrava a falta de acesso dos estudantes negros e egressos de escolas públicas ao ensino superior através de dados coletados na universidade entre os anos de 1998 e 2001. Esses dados também apontavam para uma diferença ainda mais significativa em cursos de alto prestígio, um exemplo apresentado é que dentre as 160 vagas do curso de medicina, no máximo 7 eram ocupadas por estudantes oriundos de escolas públicas (SANTOS e QUEIROZ, 2012). A partir da análise dos dados o grupo concluiu que o problema de exclusão na UFBA estava relacionado à má qualidade do ensino fundamental e médio público, que não era um problema centrado no estado, mas do país como um todo. Essa constatação serviu de base para a primeira proposta, dividida em quatros eixos: 1) preparação: ações que visavam a melhoria da escola pública e preparação para o ingresso; 2) Ingresso: isenção de taxas e reserva de vagas para pobres, afrodescendentes e “índiodescendentes”; 3) Permanência: acompanhamento e reforço de políticas, oferta de bolsas; 4) Assistência pós-formação: preparação para pós graduação e mercado de trabalho. As três primeiras propostas foram amplamente discutidas, mas apresentavam divergências sobre o percentual de vagas a ser reservado, para os integrantes do GT seria necessário um percentual superior à 40%. Conforme Santos e Queiroz, (2012), a ideia de reserva de vagas para grupos excluídos considerando sua origem na escola pública foi reforçada por documento encaminhado ao GT pelo Comitê Pró-Cotas. Na tentativa de evitar mal entendidos as vagas restantes seriam destinadas a negros que tivessem estudado em escola privada. Em 2004 o Comitê rejeitou a proposta que reservaria vagas para alunos de escolas públicas, que 37 tivessem cursado da 5ª série do ensino fundamental ao ensino médio, sendo 80% do total para negros, e 20% para não-negros. Para Santos e Queiroz (2012), os professores viam as cotas sociais como indício de maior possibilidade de adesão em conselhos superiores, além de defenderem o fato de a instituição ser pública e a situação servir como reforço na possibilidade de processos judiciais. Diante do impasse a discussão foi estendida para outros estudantes e membros da sociedade civil. O debate alcançou inclusive o campo virtual, mas chegando ao consenso 13, ficou estipulado que 43% do total de vagas da universidade seriam destinadas às cotas sendo dividido da seguinte forma: 85% desse total para negros e 15% para não negros, como nos mostram SANTOS e QUEIROZ (2012). Em 2004 a UFBA tornou-se a terceira universidade federal brasileira a aprovar um sistema de reserva de vagas seguindo a UNB e a UFPR. Em relação aos impactos do sistema de cotas na UFBA, podemos considerar os resultados positivos. A pesquisa apresenta diversos dados, mas selecionaremos apenas os mais relevantes. Segundo Santos e Queiroz (2013) o maior impacto ocorreu nos cursos considerados de alto prestígio e de maior concorrência14. Entre 1998 e 2004 o índice de alunos egressos de escolas públicas variou entre 39,2% e 49,8%, considerando a participação nos vestibulares o percentual de brancos cai de 48,2%, em 1998, para 27,3%, em 2004, o que indica maior procura de estudantes negros (SANTOS e QUEIROZ, 2013). Em 2005 pretos e pardos já totalizam 70% dos inscritos, sendo constatado um aumento de pretos em relação aos pardos entre os inscritos, também foi possível perceber na UFBA redução de estudantes cujos pais possuem instrução superior e elevação do número de estudantes com pais que nunca frequentaram a escola ou tem curso primário 13 SANTOS E QUEIROZ (2012a) descrevem o debate virtual em torno do assunto com maiores detalhes. 14 Dentre os selecionados para esses cursos nos últimos nove anos mais de 50% são do sexo masculino, atingindo 63% em 2007. Os autores justificam a situação com o fato de a maioria desses cursos serem engenharias, profissões tradicionalmente ocupadas por homens, mas consideram a evidência do padrão desigual entre homens e mulheres na apropriação de espaços de prestígio social. 38 incompleto (SANTOS e QUEIROZ, 2013). Assim, como outras universidades que optaram por adotar políticas afirmativas, a UFBA enfrentou polêmicas durante o processo de implantação, mas apresentou resultados positivos em relação às ações afirmativas adotadas. UFJF Tentando seguir uma ordem cronológica na apresentação de informações das instituições selecionadas, o próximo caso a ser exposto é o da UFJF, a partir dos estudos de implantação e impacto do sistema de cotas. Segundo BERALDO e MAGRONE (2012) as discussões a respeito de cotas na UFJF iniciaram em 2004, quando o Conselho Superior da Universidade (CONSU) designou uma comissão que seria responsável pela apresentação de sugestões para a implantação de um sistema de cotas na instituição que estivesse de acordo com o Projeto de lei nº 3627/2004. A comissão tinha uma composição heterogênea, presidida pelo Professor Ignácio Godinho Delgado, contava com a participação de outros professores, acadêmicos, sindicalistas, representantes de movimentos sociais e outras entidades estudantis públicas e particulares. Após pouco mais de um mês de discussões a comissão divulga relatório, publicado pela Editora UFJF e distribuído para a comunidade universitária. Em 04 de novembro de 2004 o CONSU aprovou o relatório e editou a Resolução 16/2004 baseado no mesmo, em 24 de fevereiro de 2005 após discussão das condições de implantação do sistema é elaborada a Resolução 05/2005 que disciplina a anterior e estabelece a adoção do sistema de cotas (BERALDO e MAGRONE, 2012). A proposta aprovada apresentava as seguintes condições: prazo de 10 anos, com previsão de revisão após os três primeiros. Nesse período a condição para ingresso seria ter cursado pelo menos sete séries do ensino básico em escolas públicas, após isso os candidatos deveriam ter cursado pelo menos 4 séries do ensino fundamental e todo o ensino médio em escolas públicas. Os percentuais de vagas seriam crescentes 30% em 2006 até 50% a partir de 2008, sendo 25% destes percentuais reservados para candidatos autodeclarados negros (BERALDO e MAGRONE, 2012). Em relação aos resultados, a efetividade da política de cotas se destacou nos cursos mais concorridos como medicina, direito e engenharia civil, no que se 39 refere à inclusão de alunos de escolas públicas. Entre 2006 e 2011 apenas 30% das vagas fixadas às cotas foram preenchidas por alunos egressos de escolas públicas e 8% por alunos negros. Apesar de ser ofertado o número previsto de vagas não houve demanda para supri-las, desta forma voltaram para a concorrência geral conforme estava previsto nas regras (BERALDO e MAGRONE, 2013). Outra constatação importante é que ao comparar as médias de rendimento acadêmico dos alunos, apesar de estarem muito próximas, as dos cotistas raciais são inferiores às dos cotistas sociais e dos não cotistas. Beraldo e Magrone (2013) concluem que no caso da UFJF há necessidade de mudanças para a elaboração de uma política eficaz, identificam diversos problemas que precisam ser corrigidos, como por exemplo, o ingresso de alunos de escolas públicas com altos rendimentos como egressos dos colégios de aplicação e dos Centros Federais de Educação Tecnológica (CEFET’s). Para os autores estes alunos deveriam se enquadrar na condição de não cotistas. Do período em que as cotas foram adotadas até 2011, “de cada 100 alunos ingressantes apenas 23 ingressaram na UFJF dentro do espírito que orientou a política de cotas” (BERALDO e MAGRONE, 2013). UFSM Em sua análise acerca da implantação do sistema de cotas na UFSM, Paulo Roberto Cardoso da Silveira e Maria Íris C. Messias da Silveira (2012) atribuem a conquista a dois fatores: uma pressão do movimento social negro, associado a outras entidades, e uma pressão governamental exercida sobre as IES para adotarem mecanismos de acesso à universidade para grupos historicamente prejudicados, pressão essa atribuída ao REUNI (Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e expansão das universidades federais), que visava ampliar o acesso e a permanência ao ensino superior. Assim como em outras universidades a resistência a esse tipo de política, principalmente a racial, era muito grande. Os autores acreditam que o sistema de reserva de vagas só foi possível a partir do momento que houve o apoio institucional unido a pressão exercida pelos movimentos sociais, apontam ainda como outra conquista do movimento negro alcançada em reunião com o reitor e a ministra da SEPPIR, Matilde Ribeiro, que foi a criação de comissão consultiva responsável por debater as polêmicas relacionadas à proporção que deveria ser destinada à reserva de vagas para pretos 40 e pardos e a construção de argumentação em defesa das cotas raciais e não apenas sociais. Ao analisar dados a partir de 2004 a comissão constatou as mesmas divergências constantes em outras universidades, a população negra no RS era de 17%, na instituição estes representavam apenas 2% do total de alunos. Durante os diversos eventos realizados para discutir ações afirmativas foi possível notar a posição contrária da universidade, principalmente em relação às cotas raciais (SILVEIRA e SILVEIRA, 2012), os autores acreditam que uma das evidências disso foi ao grande número de ausentes em 11 de agosto de 2007, dia em que foi aprovada no Conselho de Ensino e Pesquisa (CEPE) a Resolução 011/200715. A resolução estabelecia a adoção de política de cotas na UFSM pelo prazo de 10 anos e determinava a reserva de 20% para alunos que concluíram o total do ensino fundamental e médio em escolas públicas. No vestibular de 2008 10% das vagas de cada curso foram destinadas a afrodescendentes, aumentando um por cento ao ano e chegando ao máximo de 15% em 2013, 5 vagas para indígenas em 2008 e 10 nos anos posteriores e 5% para portadores de necessidades especiais. Apesar de existir um extenso banco de dados sobre os alunos da UFSM, a maneira como eles estão disponíveis impossibilita uma análise aprofundada sobre a adoção do sistema de cotas sobre seus alunos. No período entre 2008 e 2011 a média geral dos alunos que ingressaram pela concorrência universal na universidade é 7,27, a média dos cotistas raciais é 6,35, dos portadores de necessidades especiais 6,19 e dos cotistas sociais 7,29. A média dos cotistas sociais é equivalente a dos ingressantes pelo sistema universal, situação que separa a ideia que liga dificuldade de acesso à dificuldade de aprendizagem e desmistifica o discurso da meritocracia relacionado à classificação e desempenho no vestibular (SILVEIRA Et al., 2013). O maior problema encontrado desde a implantação do sistema de cotas na UFSM é a falta de um programa de permanência, afinal é insuficiente apenas inserir o aluno no ambiente acadêmico, pois dificuldades econômicas e culturais podem resultar na evasão desses alunos. Os dados apontam 15 Disponível no Link: http://w3.ufsm.br/prograd/afirmativas/res011_2007.pdf (acesso em 05/07/2013) 41 para um índice de 7,61% de abandono entre os cotistas raciais e 6,75% entre os sociais (SILVEIRA Et al., 2013). De acordo com o Relatório do Programa de ações afirmativas de inclusão racial e social da UFSM (2008 – 2011) as vagas destinadas aos alunos negros não foram totalmente ocupadas. Nesse período foram ofertadas nos concursos vestibulares 1510 vagas para cotistas raciais, 826 foram classificados e 808 se matricularam, o relatório não apresenta o índice de abandono para o ano de 2011, mas até 2010 era 68 o número de alunos evadidos dentre os que tinham ingressado a partir do sistema de cotas raciais. UFRGS A disponibilidade de informações sobre o processo de implantação de reserva de vagas da UFRGS foi o que mais nos chamou atenção até o momento, talvez pela descrição detalhada e rica de elementos sociológicos apresentados por José Carlos Gomes dos Anjos16. O autor afirma que houve intensificação das discussões a partir da formação do Grupo de Trabalho para as Ações Afirmativas (GTAA), em 2006, que surgiu da iniciativa de um grupo de alunos que o procuraram com esse objetivo. Houve muita discussão no interior da academia com participação de representantes de movimentos sociais17, porém quando foi oficializada pela reitoria a Comissão Especial Ações Afirmativas, que seria responsável pela elaboração de uma proposta de políticas afirmativas para a UFRGS, foi formada apenas por membros do Conselho de Extensão e Pesquisa (CEPE) e do Conselho Universitário (CONSUN). Apesar de as primeiras reuniões serem abertas, apenas os membros internos da universidade tinham direito a voz (ANJOS, 2012). Ao descrever uma reunião em que um representante do movimento negro foi impedido de se manifestar e comentar a estruturação de uma comissão formada por uma minoria negra - apenas três pessoas (ANJOS, 2012) - demonstra claramente seu inconformismo com o fato de uma comissão de maioria branca ser responsável por 16 ANJOS, José Carlos Gomes dos. A religiosidade afro-brasileira e política de reserva de vagas na Universidade federal do Rio Grande do Sul. In: SANTOS, Jocélio Teles (org.). Cotas nas Universidades: análises dos processos de decisão. Salvador CEAO, 2012. p. 183-207 17 Segundo o autor o movimento negro de Porto Alegre já debatia políticas afirmativas desde os anos 90. 42 decidir sobre a inserção de negros numa das maiores universidades brasileiras. Assim como em outras universidades, a comissão tinha preferência por adoção de políticas sociais, a primeira proposta pensada pelo GTAA e pela comissão era de reserva de 15% para estudantes negros e 15% para oriundos de escolas públicas, porém, prevendo a reprovação dos conselheiros a comissão solicitou adiamento da reunião do dia 15 para o dia 29 de junho com o intuito de adiar a proposta. No dia 15 os professores do CONSUN passaram por um corredor, onde manifestantes gritavam “quem é contra cotas é racista” e no dia 29, de acordo com ANJOS (2012) a especificidades das relações sociais e políticas estabelecidas entre os estudantes integrantes do GTAA, militantes do Movimento negro e lideranças religiosas afrobrasileiras possibilitou um fato que ele chamou de inusitado. Lideranças religiosas foram convocadas pelos estudantes para fazer um axé e receberem os integrantes do CONSUN com pipocas (como parte de um ritual que simboliza limpeza), inclusive o reitor18. Nesta data foi aprovada a Resolução 134/2007 do CONSUN que estipula a reserva de 30% das vagas do vestibular para estudantes que concluíram pelo menos metade do ensino fundamental e totalidade do médio em escolas públicas, sendo metade destinada a candidatos autodeclarados negros e a criação de 10 vagas para estudantes indígenas indicados por suas comunidades, que prestam prova especial. As particularidades do processo seletivo19 se mostraram de extrema importância para a compreensão dos impactos da adoção de políticas de ação afirmativa na UFRGS, por isso optamos por descrevê-los para facilitar o entendimento da análise feita por Monsma (Et al., 2013). Como em outras universidades as políticas afirmativas da UFRGS tinham prazo previsto de 5 anos, sendo avaliada anualmente com possibilidade de renovação. Todos os candidatos 18 A exclusão de dos movimentos dos estudantes e de integrantes de movimentos sociais imposta pela instituição foi suprida de maneira surpreendente através de um ritual religioso carregado de simbolismo. 19 Apesar de resumidas as informações apresentadas foram extraídas do Artigo: As consequências das ações afirmativas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul uma análise preliminar. Escrito por Karl Monsma, João Vicente Silva Souza e Fernanda Oliveira 43 ao vestibular da UFRGS a partir do ano de 2008 (exceto os indígenas) fazem as mesmas provas, nas quais os pesos variam de acordo com os cursos 20. Dentre os não eliminados pelos critérios anteriores é aplicado um ponto de corte para préclassificação, estes serão ordenados por curso de acordo com o escore, sendo préclassificados o total de candidatos referente a quatro vezes o número de vagas oferecidas, os outros serão eliminados sem terem suas redações corrigidas. Os préclassificados devem atingir 30% da nota máxima na correção da redação, caso contrário serão eliminados; os que permanecem tem as notas somadas à pontuação anterior para obtenção de escore e classificação final. Após a classificação final, o que define se o candidato foi aprovado ou não é o número de vagas para cada modalidade. Para o “Acesso universal” são reservadas 70% do total de vagas de cada curso, que serão ocupadas pelos candidatos com melhores escores, independente da modalidade escolhida no ato da inscrição. No caso da modalidade “Ensino público” há reserva de 15% de alunos oriundos de escolas públicas, cuja pontuação foi insuficiente para se classificar na modalidade “Acesso universal”, incluindo candidatos negros e não negros. A última modalidade é a “Ensino público autodeclarado negro” com reserva de 15%, não há garantias de ocupação do total dessas vagas por candidatos negros, já que para chegar a essa fase do processo precisam atingir a nota de corte e não ser eliminados pelos outros critérios apresentados, assim, as vagas passam a ser destinas a candidatos da modalidade “Ensino Público” e ainda se não tiverem candidatos aptos neste grupo, as vagas podem ser destinadas à modalidade “Acesso universal”. Com o intuito de aumentar o número de cotistas negros aprovados no vestibular a partir de 2012, foi revista a Resolução que deu origem ao sistema, com ampliação das vagas para cotistas raciais nas listas de pré-classificação. Entre 2007 e 2008 houve aumento de 31,8% para 41,1% de alunos oriundos de escola pública que se identificam como brancos ou amarelos. Dos que se identificam como negros o número foi maior, de 3,6% para 11,6%. Dentro desse 20 Serão desclassificados de imediato os alunos que não acertarem pelo menos uma questão em cada uma das provas objetivas e pelo menos 30% de todas as questões dessas provas e os candidatos que obtiverem escore mais de cinco desvios padrões abaixo da média na prova. 44 grupo houve maior proporção de pretos, de 1,0% para 6,4%, enquanto os pardos aumentaram de 2,6% para 5,2% (MONSMA et al., 2013). Esses dados apresentados pelos autores podem ser considerados reflexos de um problema a ser superado no que se refere às cotas raciais. Ao observarem o censo 2010 percebem que a proporção de pardos no Rio Grande do Sul é quase o dobro da proporção de pretos e constatam que os dados dos vestibulares de 2005 a 2007 refletem essa proporção. Porém, nos anos posteriores o número de aprovados pretos oriundos de escolas públicas superou o de pardos e mesmo ao incluir os alunos pardos de escolas particulares o número continua um pouco superior. Segundo os autores a discrepância de dados pode ser atribuída à confusão e falta de informações na hora de escolher a modalidade de ingresso e desconsideram a possibilidade dos alunos não optarem pela modalidade “Ensino público autodeclarado negro” por receio de sofrerem algum tipo de preconceito, mas desconfiam que a maioria não saiba que pode escolher tal modalidade, visto que para além da academia e dos movimentos sociais, ser negro é ser preto (MONSMA et al., 2013). A permanência também é um problema na UFRGS, há reclamações de pouca oferta de bolsa, de pagarem pouco e exigirem trabalhos mecânicos, além de haver segregação dos alunos cotistas, já que uma das regras da universidade é que as matrículas sejam feitas por ordem de classificação no vestibular (MONSMA et al., 2013). Apesar de as políticas de ações afirmativas na UFRGS terem partido de um grupo de negros, Anjos (2012) conclui que os maiores beneficiados foram alunos brancos egressos de escolas públicas, mas afirma que essa também era uma demanda dos negros em 2007, no entanto, não havia expectativa que houvesse uma diferença esmagadora. De acordo com Monsma (Et al., 2013) houve aumento na diversidade social e racial entre os alunos de graduação da UFRGS, porém a mudança é menos evidente nos cursos mais disputados. A complexidade do sistema prejudicou a ocupação do total de vagas destinadas para alunos negros nos primeiros anos de vigência da política, mas após a alteração na Resolução no ano de 2012 foi possível aos negros ocuparem todas as vagas que lhes eram de direito. 45 UFSC O programa de políticas de ações afirmativas da UFSC foi resultante de um longo processo de discussão iniciado em 2002 após a conferência de Durban, com o Grupo de Trabalho de Etnia, Gênero e Classe (GTEGC) da Associação dos Professores da UFSC. As discussões se mantiveram de maneira difusa durante muito tempo (TRAGTENBERG, 2012), porém, durante seminário realizado pelo Núcleo de Estudos Negros (NEN) de Florianópolis cuja abertura contou com uma mesa sobre políticas afirmativas, composta por Marcelo de Paula Paixão (UFRJ), José Jorge de Carvalho (UNB) e frei David Raimundo dos Santos (Educafro – Rede de pré-vestibulares para negros e carentes), coordenada por José Nilton de Almeida do NEN, frei David questionou diretamente o representante administrativo da UFSC, o pró-reitor de ensino de graduação sobre quando a Universidade teria cotas (TRAGTENBERG, 2012). Em abril de 2006, quando foi constituída uma comissão responsável por estudar o acesso de estudantes considerando a diversidade étnicoracial e socioeconômica (TRAGTENBERG et al., 2013), foram convidados para participar da comissão representantes da Comissão Permanente de Vestibular (COPERVE), do sindicato de professores da universidade (APUFSC) e dos trabalhadores (SINTUFSC), do DCE, da Secretaria Estadual de Educação (SED), do movimento social negro e um representante dos índios guaranis. O SINTUFSC rejeitou o convite, o DCE participou de apenas algumas reuniões e o representante indígena compareceu apenas uma vez (TRAGTENBERG, 2012). A estratégia adotada pela comissão foi de levantar dados sobre as desigualdades e realizar discussões abertas à sociedade e com gestores, para enfim elaborarem a proposta a ser apresentada ao Conselho Universitário (CUN). Foram realizados diversos seminários com participação de docentes de universidades que possuíam sistemas de cotas, além de discussões a respeito das melhores estratégias a serem adotadas no caso específico da UFSC (TRAGTENBERG, 2012). A Resolução 008/200721 do CUN/UFSC, aprovada em 10 de julho de 2007, determina a criação de ações afirmativas na universidade beneficiando três grupos 21 Disponível em: http://www.vestibular2011.ufsc.br/resolucao_acoes_afirmativas.pdf (Acesso em 07/07/2013) 46 específicos: alunos que estudaram o ensino fundamental e médio integralmente em escolas públicas; pertencentes ao grupo racial negro e aos povos indígenas, de acordo com o artigo 16 dessa resolução, as Políticas afirmativas estariam sujeitas à avaliação nos 5 anos subsequentes à implantação. Ela prevê preparação para o acesso ao ensino superior através da oferta de cursos pré-vestibulares destinados principalmente aos egressos de escolas públicas; divulgação do programa de ações afirmativas e apoio de atividades de extensão nesta área. Quanto às vagas, 30% do total serão reservadas às ações afirmativas, sendo 20% para alunos oriundos de escolas públicas e 10% para negros que tenham cursado integralmente o ensino fundamental e médio em escolas públicas. O programa prevê ainda ações de acompanhamento e permanência, além de se preocupar com a inserção sócioprofissional dos egressos. Para TRAGTENBERG (2012), a experiência das várias universidades que já haviam aderido a um sistema de reserva de vagas, proporcionou à UFSC a possibilidade de adoção de programa amplo de ação afirmativa, capaz de prever desde a preparação do acesso até o acompanhamento de egressos. Tivemos que observar a experiência da UFSC de forma diferenciada, já que as ações afirmativas desta universidade iniciaram na fase de preparação para o vestibular, os impactos também começam a aparecer desse ponto. Conforme dados apresentados por Tragtenberg (Et al., 2013), em relação ao pré-vestibular e divulgação de vagas, a UFSC tem alcançado êxito em seus objetivos, segundo os autores, o curso existe desde 2003, mas a partir de 2009 pôde contar com uma parceria com a SED e atualmente os critérios de acesso ao curso são: ensino médio regular ou supletivo em escolas públicas e cadastro socioeconômico. Os dados mostram que após a implantação das políticas de ação afirmativa o número de aprovados no vestibular da UFSC que fizeram o curso teve um aumento progressivo. Em 2006, período prévio à implantação do sistema, o percentual de aprovação era de 20%, em 2010 passou para 54% e em 2012 foram 72%. Outro dado relevante é que de cada três aprovados por cotas, tanto raciais, quanto sociais na UFSC, dois fizeram o curso pré-vestibular da universidade (TRAGTENBERG et al., 2013). 47 Para constatar se houve alteração no número de estudantes negros que tiveram acesso ao ensino superior a partir da adoção de políticas afirmativas, os autores utilizaram a análise da razão entre brancos por pretos + pardos. Em 2004, o resultado foi 11,7; em 2008, primeiro ano de vigência das políticas de ação afirmativa, caiu para 5,2 vezes e em 2011, o resultado foi 6,4 vezes mais brancos que negros e pardos (TRAGTENBERG et al., 2013). De acordo com o “Relatório de avaliação do período de 2008 – 2012 e proposta de revisão das Políticas de Ação Afirmativa da UFSC”22, em relação à diversidade dos alunos houve uniformidade entre os vários centros de ensino. Para exemplificar utilizam o caso de dois centros que possuem situações opostas, o Centro Tecnológico (CTC), que possui alta seletividade, e o Centro de Ciências da Educação (CED), que possui baixa seletividade. O relatório mostra os dados antes e depois da implantação da política, foi constatado aumento no percentual de negros nos dois casos, no CTC a variação foi de 7,9% entre 2004 e 2007 para 13,7% entre 2008 e 2011; no CED foi de 9,6% para 15,9%, respectivamente no mesmo período. Entendemos que a escolha dos exemplos apresentados nos relatórios serve para mostrar que, apesar de haver diferenças percentuais entre cursos e áreas, as políticas de ação afirmativa foram efetivas, aumentando o número de negros na universidade. A partir das informações compiladas neste trabalho elaboramos o quadro abaixo, no qual enfatizamos as informações mais relevantes a que tivemos acesso, para finalmente tecer uma conclusão acerca dos impactos das políticas públicas de ação afirmativa na UFPR23. As informações que seguem referentes às universidades tratadas no segundo capítulo já foram escritas em forma de texto, reorganizamos desta forma para facilitar a visualização. O campo “Ano” que consta no quadro, refere-se ao ano de aprovação da lei de cotas nas universidades, a aplicação das políticas se deu nos anos seguintes à aprovação em todas elas. 22 O relatório a que nos referimos é que avalia os 5 anos de Políticas de Ação Afirmativa na UFSC disponível em http://acoesafirmativas.ufsc.br/files/2013/06/ufsc_relatorio_cotas_2008-2012.pdf (Acesso em 07/07/2013) 23 As informações que se referem à UFPR estarão especificadas no terceiro capítulo deste trabalho. 48 Após o exemplo dado por José Jorge de Carvalho e Rita Segatto, todas as outras universidades pesquisadas passaram por processos semelhantes, foram nomeadas comissões responsáveis por elaborar propostas que contemplassem as necessidades da instituição em relação à adoção de políticas afirmativas. Essas propostas eram apresentadas para os conselhos superiores que debatiam e deliberavam sobre o assunto. Apesar de demorados, em todas elas houve aprovação e os resultados predominantemente positivos estão apresentados nesse trabalho. Percebemos um grande otimismo nas análises da UFBA e da UFRGS (referente ao ano de 2012). Na primeira, apesar de não falar sobre o número de aprovados, já constatava crescimento na participação no vestibular desde 2002 (52,5%) e em 2005 teve participação acima 70%24 (SANTOS e QUEIROZ, 2013). A UFRGS possui o processo seletivo mais complexo do nosso universo de pesquisa e por conta disso dentre os anos de 2008 e 2011 não conseguiu preencher as vagas destinadas às cotas raciais, os negros eram barrados nas etapas iniciais do processo. A partir de 2012 houve ampliação das listas de pré-classificação para cotistas, o que possibilitou o preenchimento do total de vagas. Em geral os impactos das políticas de cotas conseguem produzir maior diversidade racial nas universidades, mas na maioria dos casos não houve ocupação do total de vagas oferecidas. No caso da UFJF, Beraldo e Magrone (2012) atribuem o problema à falta de demanda. Monsma (Et al, 2012) afirmam que até 2011 as vagas da UFRGS não foram ocupadas tanto pela complexidade do processo seletivo, quanto pela falta de informação. Eles constataram baixa participação de pardos no processo e dizem que isso acontece porque para além dos muros da academia e dos movimentos sociais ser negro é ser preto. A UFSC também constatou aumento significativo de estudantes de cor preta e parda em 2008, porém após aumento da nota mínima para aprovação no vestibular, em 2009 e 2010 houve queda também significativa (TRAGTENBERG et al., 2013). A UFSM aumentou o número de negros, mas também não teve todas as vagas ocupadas e ainda apresenta sérios problemas de evasão, que evidenciam a necessidade de programas de permanência. Contudo, os 24 É importante lembrar que a população de negros na Bahia de acordo com o censo 2010 é de 76,6% 49 dados relativos às médias dos alunos mostram que os rendimentos de cotistas e não cotistas estão muito próximos25. Quadro 1 – Principais características das cotas nas universidades Instituição Ano Observações importantes UNB 2003 Elaboração da proposta de política de cotas partiu de professores, a primeira foi apresentada em 1999. (CARVALHO, 2005) Talvez por ser uma das universidades mais importantes do país esteve no centro de uma das maiores polêmica (ADPF 186). Resultados considerados positivos, o relatório de 2012 comenta apenas os do primeiro ano após política de cotas e mostra que 19% das vagas destinadas às cotas raciais foram ocupadas. UFBA 2004 Primeira proposta partiu do DCE em 2003 (SANTOS e QUEIROZ, 2012). Resultados positivos, o maior impacto pode ser observado em cursos de maior prestígio, sendo que mais de 50% das vagas foram ocupadas por pessoas do sexo masculino nos últimos 9 anos (a justificativa dos autores consta no texto) (SANTOS e QUEIROZ, 2013). Em 2005, 70% dos inscritos no vestibular são pretos e pardos (SANTOS e QUEIROZ, 2013). UFJF 2006 UFSM 2007 UFRGS 2007 25 O CONSU designou uma comissão para elaborar uma proposta com base no PL 3627/04 Teve destaque inclusão de alunos de escola pública em cursos de alto prestígio Entre 2006 e 2011 apenas 30% das vagas destinadas à alunos de escolas públicas foram preenchidas e 8% das destinadas à negros, apesar de a universidade ter ofertado o número previsto de vagas não houve demanda para suprir (BERALDO e MAGRONE, 2013). Atribuem a conquista à pressão do movimento social negro associado a outras entidades e a pressão governamental exercida pelo REUNI (SILVEIRA e SILVEIRA, 2012) Relatório do Programa de ações afirmativas de inclusão racial e social da UFSM (2008 – 2011) mostra que as vagas destinadas às cotas raciais não foram totalmente ocupadas Acreditam que um dos maiores problemas da universidade seja a falta de um programa de permanência os dados apontam para um índice de 7,61% de abandono entre os cotistas raciais e 6,75% entre os sociais (SILVEIRA et al. 2013). Mostram que os alunos apresentam rendimentos muito próximos. Iniciativa dos alunos que solicitaram auxílio de um professor em 2006, mas a decisão final foi tomada por um grupo “fechado” (ANJOS, 2012) Até o vestibular de 2011 não foram ocupadas todas as vagas destinadas às cotas, devido à complexidades do processo seletivo, mas entre 2007 e 2008 houve aumento de 3,6% para 11,6%, com maior proporção de pretos dentro desse número pretos de 1,0% para 6,4%. Como a proporção de pardos no Estado é o dobro da de pretos, é provável que a grande maioria das pessoas não saiba que podem concorrer às cotas (MONSMA et al. 2012). Devido a alteração no processo seletivo que aumentou o número de Os números exatos referentes aos rendimentos foram apresentados no 2º capítulo desse trabalho. 50 UFSC 2007 vagas para pré-classificados negros em 2012 foram ocupadas todas as vagas destinas das ás cotas raciais Discussões iniciadas no sindicato dos professores em 2002 A política afirmativa tem preocupação com a preparação do aluno, ofertando curso pré-vestibular, que apesar de não ter recorte racial, de cada três aprovados por cotas tanto raciais quanto sociais dois são alunos do curso. A política foi efetiva no sentido de aumentar o número de negros na Universidade como comprova o “Relatório de avaliação do período de 2008 – 2012 e proposta de revisão das Políticas de Ação Afirmativa da UFSC” ao comparar a diferença do percentual de alunos negros no período pré e pós cotas em dois centros de estudos diferentes, um de alto e outros de baixo prestígio, mostrando diferença de 5,8% e 6,3%, respectivamente. Neste capítulo procuramos através de textos, relatórios e análises publicados a respeito do assunto, sintetizar informações sobre os processos de implantação do sistema de cotas em seis universidades públicas federais, com intenção de compará-las com os dados relativos à adoção de políticas afirmativas raciais na UFPR, que trataremos detalhadamente no próximo capítulo. 51 3. AS COTAS RACIAIS NA UFPR A Universidade Federal do Paraná (UFPR) foi a segunda universidade federal do país a adotar políticas de ação afirmativa, em maio de 2004. Assim como nas outras universidades que fizeram essa opção, houve um longo processo entre o inicio das discussões e a implantação do sistema. De acordo com Silva (2008), em 2001 a Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (PROEC) promoveu um seminário para discussão de políticas públicas no ensino superior que pode ser considerado o marco inicial de inserção da temática na universidade. No ano seguinte, em 2002, é dado o primeiro passo institucional com a finalidade de criar uma política afirmativa, com a nomeação, pelo Reitor, de uma comissão responsável por elaborar propostas para serem aplicadas no vestibular de 2003, porém essa comissão não produziu o esperado no decorrer de um ano e foi substituída (SILVA, 2008). A nova comissão foi inicialmente composta por três professores e uma procuradora da Universidade, em outubro de 2003 foram incluídos mais uma professora e dois estudantes, todos com vínculo com a temática racial (PORTO, 2011). Entre junho e agosto de 2003 o grupo elaborou uma versão preliminar de proposta do Plano de metas, no entanto ficou definido que ela só seria discutida pelo Conselho Universitário (COUN) após ser amplamente debatida pela comunidade universitária (SILVA, 2008). De agosto a dezembro de 2003 a proposta foi discutida com órgãos consultivos e deliberativos 26 da universidade e do DCE, intermediada pelos membros da comissão e com espaço garantido institucionalmente. Os sindicatos dos professores e servidores administrativos não atenderam aos pedidos de coorganizarem eventos para discussão da proposta (SILVA, 2008). De acordo com Silva (2008) 27 , os debates estabelecidos não demonstravam resistência em relação às cotas sociais, nem a proposta de vagas suplementares para indígenas, entretanto, as cotas raciais eram as que causavam maiores objeções, com a maioria dos argumentos utilizados contra, fundados na falsa ideia de democracia racial comum na sociedade brasileira, os debates foram responsáveis pela desconstrução desse mito. “Grande parte da 26 A proposta foi discutida com os 12 Conselhos Setoriais e com o Conselho da Escola Técnica. 27 O autor foi um dos integrantes da Comissão 52 comunidade universitária operava (e provavelmente opera) com a suposição que no Brasil as relações raciais são cordiais, as situações de discriminação são episódicas, as desigualdades são definidas pelo eixo da classe social” (SILVA, 2008, p.163). Os pontos de vista manifestos proporcionaram à comissão possibilidade de desmistificar estas perspectivas. Isso ocorreu por meio da apresentação de dados de pesquisa que evidenciaram o abismo social que separa negros e brancos no país, apresentar hipóteses explicativas e informações sobre a necessidade de adoção de políticas para combater desigualdades, ganhando assim “parte considerável da audiência” (SILVA, 2008, p.163). Apesar de inicialmente ter identificado o direcionamento recebido como tentativa de protelar o debate sobre políticas afirmativas para negros como afirma (SILVA, 2008), o resultado final das discussões foi positivo. Com base nos debates produzidos a partir da proposta preliminar, entre janeiro e fevereiro de 2004 a comissão redigiu o relatório e o plano de metas. Em 30 de abril de 2004 foi apresentado o Processo 14898/04-12 ao COUN, no qual entre outros documentos, continha o “Relatório e Exposição dos Motivos para o Plano de Metas de Inclusão Racial e Social na Universidade Federal do Paraná”. Este, buscava discutir a necessidade de democratização do acesso à universidade. O eixo da argumentação da proposta construída pela comissão se dava na temática da exclusão devido ao racismo, englobando a questão indígena na questão racial (PORTO, 2011). Ao Diretor do Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, foi atribuído o relato do processo. Não podemos deixar de acentuar que este Setor tem posicionamento favorável à política de ações afirmativas. O relato do Diretor possui quatorze páginas, apoia a proposta apresentada pela comissão, expondo sugestões relevantes em relação aos indígenas, como a criação de vagas suplementares e uma política de permanência específica para o grupo (PORTO, 2011). Conforme Silva (2008) o relator melhorou o texto, mas manteve a argumentação básica, o texto apresentado, assim como o relatório, desenvolve-se no sentido de desmistificar a ideia sobre as relações raciais cordiais e utiliza pesquisas que comprovam que as desigualdades raciais no Brasil são importantes e não episódicas, além de distinguir desigualdade social de desigualdade racial (SILVA, 2008), é importante ressaltar que o parecer do relator demonstrava que a UFPR já contava com um percentual superior a 20% de alunos egressos de escolas públicas e que o estabelecimento de 53 cotas para esse segmento seria dispensável exceto nos cursos de maior prestígio (BEVILAQUA, 2005a). O Plano de Metas para a Inclusão Social e Racial da UFPR foi aprovado pelo COUN, em 10 de maio de 2004 após três sessões de acaloradas discussões 28. As cotas sociais não eram questionadas, o problema maior estava na reserva de vaga para negros, os conselheiros que se posicionavam contra as cotas para negros e manifestavam indiretamente apoio às cotas para escolas públicas (BEVILAQUA, 2005a). Segundo Silva (2008), foram dois os contra-argumentos utilizados pelos conselheiros. O primeiro defendia que a entrada de alunos (pobres) de escola pública fosse a única forma de acesso diferenciada, os negros seriam contemplados por representarem maioria dentre os alunos das escolas públicas, o outro aceitava a cota racial desde que os candidatos negros fossem também pobres. Os argumentos não se sustentaram e por fim, ficou estabelecido na UFPR reserva de vagas independentes para negros e alunos de escolas públicas. A Resolução 37/2004 resultante do processo 14898/04-12, estabelece por um período de 10 anos, reserva de 20% das vagas ofertadas nos processos seletivos para negros, 20% para alunos que tenham feito os cursos fundamental e médio exclusivamente em escola pública. Em relação aos indígenas, a proposta era ofertar vagas suplementares, segundo demanda intermediada pela FUNAI, que aumentariam gradativamente, começando com 5 vagas para os anos de 2005 e 2006, passando para 7 vagas nos anos de 2007 e 2008 até atingir 10 vagas a partir de 2009 29. A resolução prevê nos capítulos II e III ações referentes à permanência e implantação de um sistema de acompanhamento de estudantes na universidade, conforme Porto (et al., 2012) e estratégias de divulgação das políticas afirmativas. A implementação de programa de apoio acadêmico e psicopedagógico e/ou tutoria é 28 BEVILAQUA, Cimea B. 2005 a. Entre o Previsível e o contingente: etnografia do processo de decisão sobre uma política de ação afirmativa in Revista de Antropologia, v. 48, n. 1, São Paulo: USP. 29 As cotas raciais e para escolas públicas referem-se a um percentual dentre as vagas já ofertadas pela universidade que é reservado para esses grupos, no caso dos indígenas são criadas vagas extras pra inserção dos alunos de acordo com a necessidade apontada pelo grupo e pela FUNAI e em conjunto com as IES estaduais. 54 destinada a todos os estudantes que apresentem dificuldades no acompanhamento de disciplinas, independente de serem ou não cotistas. Ou seja é um programa geral da Universidade que existe independente da política de cotas. Quanto ao acompanhamento e avaliação, a resolução previa implementação de um programa que produzisse relatórios anuais, que seriam apresentados ao COUN, o que não aconteceu. Em 2009, a comissão que tinha essa responsabilidade solicitou sua recomposição ao reitor, mas ainda não teve retorno, alguns membros continuam acompanhando e avaliando o plano de metas por interesses de pesquisa próprios (PORTO Et al., 2012). Algumas questões operacionais foram definidas após a aprovação da política pelo COUN, como a decisão de manter em sigilo o nome dos alunos ingressantes através das políticas de cotas, a realização de autodeclaração racial dos aprovados de próprio punho e o estabelecimento de uma banca composta por três membros, sendo pelo menos um representante da UFPR e representantes do movimento negro responsáveis pela hetero-classificação dos candidatos e aprovados nos vestibulares de 2003 a 2006 (SILVA, 2008, p. 167). Inicialmente, os candidatos que não apresentassem fenótipo30 afro-brasileiro eram desclassificados do processo seletivo, no entanto, após alterações, nos últimos vestibulares os aprovados na primeira fase passavam pela banca e caso não fossem reconhecidos como afrodescendentes voltavam para a concorrência geral na segunda fase. O primeiro ano de políticas afirmativas na UFPR foi também o primeiro ano do processo seletivo separado em duas fases31, esse processo foi detalhadamente explicado pelo Pró-Reitor de graduação na reunião do COUN, que resultou na aprovação do Plano de metas (BEVILAQUA, 2005a). A partir do vestibular de 2004 para ingresso em 2005, ficou estabelecido que os alunos realizassem uma prova de conhecimentos gerais na qual concorreriam em igualdade de condições. A reserva de vagas ocorreria apenas na segunda fase, na qual seriam aplicadas as provas de compreensão e produção de textos e alguns cursos teriam provas específicas. 30 As condições para aprovação no processo são descritas no edital, mas consistem em apresentação de características fenotípicas que identifiquem o candidato como pertencente ao grupo racial negro (preto ou pardo). 31 A alteração no processo seletivo foi aprovada em uma Reunião do COUN que antecedeu a Reunião na qual houve aprovação da adoção de política de cotas. 55 Nesse vestibular, de acordo com o Edital 01/2004, seriam convocados para a segunda fase do vestibular os melhores classificados em número “N” vezes o número de vagas, sendo que “N” dependeria da relação candidato/vaga em cada curso: a) N=3, quando a relação candidato/vaga for igual ou inferior a 10; b) N=4, quando a relação candidato/vaga for superior a 10 e inferior a 15; c) N=5, quando a relação candidato/vaga for igual ou superior a 15 e inferior a 20, ou; d) N=6, quando a relação candidato/vaga for igual ou superior a 20; A partir do vestibular ocorrido em 2005 para ingresso em 2006 houve alteração nos índices, conforme o edital 03/2005: a) N=2, quando a relação candidato/vaga for igual ou inferior a 5; b) N=3, quando a relação candidato/vaga for superior a 5 e inferior a 15; c) N=4, quando a relação candidato/vaga for igual ou superior a 15 e inferior a 20, ou; d) N=5, quando a relação candidato/vaga for igual ou superior a 20; Essa alteração interfere diretamente na ocupação de vagas para cotistas raciais (PORTO et al., 2012), o que será perceptível nos dados que apresentaremos posteriormente. Ao estudar os dados referentes ao período de 2004 a 2010, observando apenas o percentual de alunos que ingressaram pelo sistema de cotas raciais na UFPR, Porto (et al., 2012) afirmam que a mudança no perfil dos aprovados é “evidente e numericamente significativa” desde o início do sistema de cotas. No ano de 2005 houve um número superior ao dobro de aprovados em 2004. Nos anos posteriores houve redução no número de aprovados, mas ainda se manteve superior a 2004 conforme a tabela a seguir. Tabela 2: Percentual de aprovados nos processos seletivos da UFPR entre 2004 e 2010, de acordo com autoclassificação racial Brancos 2004 85,53% 2005 74,68% 2006 80,31% 2007 81,27% 2008 79,37% 2009 79,32% 2010 79,56% Negros 9,30% 20,57% 15,30% 14,80% 16,01% 16,46% 16,44% Fonte: (PORTO et al, 2012) 56 A tabela mostra que entre 2005 e 2010 houve aumento no número de negros aprovados no vestibular da UFPR. Em comparação com outros dados32, Porto (et al., 2012) consideram que a política de cotas foi capaz de gerar democratização do acesso à universidade, porém em relação à população de negros no Estado, o número de aprovados ainda é bem inferior. Para fazer essa afirmação os autores utilizam dados da Pesquisa Nacional por amostra de Domicílios (PNAD) 2008 que apresentam um percentual de 28,89% de negros no Estado (PORTO et al., 2012)33. É relevante para nosso estudo advertir que a tabela acima não apresenta distinção entre a opção escolhida pelo aluno na hora da inscrição. Há alunos que se autodeclararam negros, mas foram aprovados pela concorrência geral e pelas cotas sociais. A tabela a seguir mostra número e percentual de aprovados em cada uma das categorias entre os anos de 2005 e 2012. Tabela 3 - Aprovados por cotas no vestibular da UFPR entre 2005 e 2012 racial escola Pública geral ano n % n % n 2005 492 11,9 897 21,7 2.744 2006 306 7,1 899 21 3.067 2007 279 6,3 889 20,2 3.224 2008 291 6,6 1.089 24,9 2.989 2009 319 6,2 1.298 25,1 3.556 2010 363 6,9 1.350 25,8 3.516 2011 282 5,4 1.346 25,4 3.668 2012 286 5,4 1.596 30,2 3.399 média 05-12 327,2 6,9 1.170,50 24,2 3.270,30 Fonte: (CERVI, 2013) % 66,3 71,7 73,4 68,1 68,7 67,2 69,2 64,4 68,6 total n 4.133 4.272 4.392 4.369 5.173 5.229 5.298 5.281 4.768,3 % 100 100 100 100 100 100 100 100 100 Em todos os anos foi constatado um percentual superior a 20% referente à ocupação de vagas reservadas a alunos oriundos de escolas públicas, cuja explicação até 2007 pode ser atribuída ao fato de alguns candidatos, apesar de terem optado por concorrer à reserva de vagas, conseguirem ser aprovados pela classificação geral (SILVA, 2008). De acordo com Porto (2011), no início de 2007, 32 Tabela 1 Percentual de inscritos nos processos seletivos da UFPR de 2004 a 2010 (PORTO et al, 2012) página 226. 33 Os dados atuais, de acordo com o Censo 2010, divulgados pelo IBGE mostram que o percentual de negros no Estado é de 27,4%. 57 foram convocadas pelo reitor uma série de reuniões para avaliação do plano de metas e revisão da Resolução 37/04, das quais participaram professores, funcionários envolvidos com a elaboração e a implantação das políticas afirmativas na Universidade, responsáveis por programas de bolsas para cotistas, membros do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros (NEAB) e da Comissão para Acompanhamento e Avaliação do Plano de Metas. Foram muitos os temas debatidos, mas é válido destacar a análise de dados que mostrava a relevância das cotas raciais na mudança do perfil racial dos aprovados e como tal mudança não aconteceria se houvesse apenas cotas sociais (PORTO, 2011). Esse resultado foi essencial para o momento, no sentido de garantir a independência entre as cotas raciais e sociais, já que o reitor demonstrou tendência a vincular as duas. Outro resultado importante apresentado foi a constatação de como a redução de vagas na segunda etapa do vestibular reduziu a inclusão racial (PORTO, 2011), no entanto, este não foi sequer considerado. A Resolução 37/04 determinava que as vagas não ocupadas pelas cotas voltassem para a concorrência geral, porém, a partir da revisão do plano de metas pelo impacto do social relevante e bons resultados alcançados pelos cotistas entre 2005 e 2007, as vagas remanescentes de uma das cotas deverão ser aproveitadas pela outra antes de passar para a concorrência geral, medida que resultou na maior inserção de alunos egressos de escolas públicas (PORTO et al., 2012). Se não houvesse essa alteração na resolução o percentual de aprovados por vagas gerais seria superior a 70% (CERVI, 2013). Outra alteração importante que resultou dessa revisão foi a decisão de que não deveria ser mantido o sigilo sobre o nome dos cotistas (PORTO, 2011), já que tal decisão dificultava o acompanhamento e avaliação dos impactos produzidos pelas cotas. Em todos os anos é possível observar que o percentual de negros classificados para a segunda fase não atinge os 20% do total de vagas reservado. Para Silva (2008), em sua análise que abrange os resultados de 2005 e 2006, podem existir três explicações. A primeira foi a ampliação do Programa Universidade para Todos (PROUNI), que pode ter direcionado possíveis candidatos a instituições particulares. A segunda foi a criação da terceira fase no vestibular para a área de exatas, na qual os candidatos classificados cursariam conteúdos considerados básicos referente à matemática no primeiro semestre de 2006, a nota final, que definia se o candidato seria ou não aprovado, considerava a média das duas fases 58 somada às avaliações deste semestre chamado de curso preparatório. Finalmente, a terceira hipótese de Silva (2008), em conformidade com Porto (et al., 2012) e Cervi (2013) está relacionada com a explicação dada anteriormente referente à redução do número de candidatos classificados para a segunda fase. A partir de 2006 houve alteração nas regras no processo seletivo, cujo resultado foi o decréscimo no percentual de cotistas raciais aprovados, a alteração do índice N reduziu o número de vagas para a segunda fase. Em 2005 11,9% dos aprovados eram cotistas raciais, nos anos posteriores esse número chegou ao máximo de 7,1% (2006). Para Porto (et al., 2012) esse número não afeta as cotas sociais e a concorrência geral, mas impede que os negros inscritos por cotas raciais, que representam uma quantidade menor de candidatos, se classifiquem para a segunda fase, gerando redução no percentual preenchido por esses candidatos, principalmente por serem estes os que geralmente apresentam as menores médias. Consideramos ainda, outra hipótese pertinente que se refere ao distanciamento social e simbólico existente entre os jovens negros e a universidade (MARÇAL, 2011), que pode ser relacionada ao não cumprimento dos itens d e e descritos no capítulo III da Resolução 37/04. Eles determinam a inserção de referência às populações atendidas pelo plano de metas em seus cartazes e materiais de divulgação, incentivando a inscrição de eventuais candidatos e a divulgação do plano de metas nas escolas públicas do Paraná. Em relação a isso Souza (2007), afirma que apesar de aparecerem pessoas negras no cartaz do concurso vestibular de 2006 e a chamada fosse: “Venha viver a diversidade”, no material publicitário e no site da universidade aparecem poucos negros e na divulgação dos cursos de graduação não apareceu nenhum negro. Podemos constatar uma alteração relevante no que se refere à inserção de negros na UFPR, não há dúvidas que houve modificação no perfil dos alunos ingressantes, no entanto, para Porto (2011), apesar dos altos índices de inserção de cotistas sociais, os resultados ficaram muito aquém do que era esperado. A autora defende que a inclusão de pobres não garante a inclusão de negros. No entendimento de Cervi (2013), os resultados foram limitados, e o fato de não ter gerado uma redução significativa no índice destinado às vagas universais, significa que o vestibular continuou restringindo o ingresso de pretos e pardos nos cursos da UFPR. Mesmo sendo um mecanismo de inclusão, a política de cotas não alcançou o objetivo, ao observarmos o percentual de aprovados na tabela 2 perceberemos 59 que os índices estão muito distantes dos 20% propostos pelo plano de metas. Se metade dos candidatos fossem aprovados para a segunda fase haveria condições de preenchimento das vagas (CERVI, 2013). Para Cervi (2013), a regra que determina a validade da política de cotas apenas para segunda fase do vestibular é excludente, já que apenas os que passam pela primeira fase tem acesso a ela: Ou seja, essa regra neutraliza o princípio de tratar como desiguais os perfis de alunos que não tiveram condições igualitárias de formação escolar até o ensino médio, reduzindo muito o potencial de inclusão das cotas raciais no vestibular, que é o princípio das políticas sociais compensatórias. (CERVI, 2013, Pag 72). Com todas as limitações apresentadas, a maioria dos negros que ingressaram na UFPR entre 2005 e 2012 fez opção pelo sistema de cotas raciais (MARÇAL, 2011). Segundo Cervi (2013), em termos gerais, as consequências das políticas de cotas nos vestibulares da UFPR entre os anos de 2005 e 2012 foram positivas com o aumento do número de aprovados de pele preta e parda, todavia, como já comentamos, esse número tem apresentado um leve declínio. Mesmo não tendo atingido a proposta inicial do plano de metas, os números foram capazes de comprovar a efetividade da política afirmativa no vestibular (CERVI, 2013)34. Enfim, como fizemos com as instituições estudadas no capítulo 2, apresentaremos a seguir o quadro com informações relativas à UFPR: Quadro 2 - Principais características das cotas na UFPR Instituição Ano Observações importantes UFPR 2004 Iniciativa de professores, resistência por parte do DCE e Sindicatos dos Professores e Funcionários (PORTO, 2011) Discussões iniciadas em 2001 Aumentou o número de negros na universidade, atingindo um número maior em 2005, com decréscimo nos anos subsequentes (PORTO et al, 2012) (CERVI, 2013) Em nenhum dos anos da política de cotas conseguiu ocupar o total de vagas reservadas para afrodescendentes, em 2005 ultrapassou 50% das vagas reservadas, nos anos seguintes nem atingiu esse percentual. Nos 8 anos de políticas afirmativas a UFPR aprovou uma média 6,9% de afrodescendentes Os maiores beneficiados com as políticas de cotas da UFPR foram os cotistas sociais, principalmente a partir de 2007, quando começaram a ocupar as vagas remanescentes das cotas raciais. (PORTO, 2011), (PORTO et al, 2012) (CERVI, 2013) 34 Ao comparar a diferença de sexo entre os ingressantes por cotas raciais na UFPR Cervi (2013), constatou a efetividade da política em inserir mulheres negras, tais resultados não serão detalhados por não haver nenhum recorte de gênero em nossa pesquisa. 60 O processo de implantação foi similar em quase todas as universidades, entretanto, as iniciativas tiveram procedências diversas dependendo do caso partiram de professores, alunos, representantes de movimentos sociais, sindicatos ou da própria instituição, mas sempre encontraram algum tipo de resistência, como o caso da UFPR, teve que enfrentar resistência por parte do DCE e dos sindicatos dos professores e dos alunos (Processo 14898/04-2, apud PORTO, 2011), além dos evidentes posicionamentos contrários manifestos na reunião do COUN detalhadamente descritos por (BEVILAQUA, 2005a). Mesmo não tendo um processo tão complexo quanto o da UFRGS, o aumento de vagas na primeira fase do vestibular da UFPR seria capaz de inserir maior número de negros, a prova disso é maior percentual de inserção no ano de 2005, quando o índice N aplicado na segunda fase do vestibular tinha valor superior. Os resultados apresentados até agora são suficientes para responder o questionamento inicial colocado por este trabalho, no entanto, ainda existem muitas questões a serem respondidas sobre as políticas de ação afirmativa da UFPR. Temos percebido grande preocupação com a permanência dos alunos que ingressam por cotas nas universidades públicas e a UFPR não é exceção. Assim como constatado no percurso dessa pesquisa, em diversas universidades, alguns pesquisadores da UFPR também tem colocado esse questionamento em suas pesquisas. Certamente se tivéssemos dados sobre evasão poderíamos nos aprofundar nessa discussão, mas a falta de acesso a alguns dados ainda é um problema a ser sanado, assim como a criação de mecanismos que assegurem a permanência dos alunos que ingressam através do sistema de cotas, possivelmente retomamos este assunto em outra oportunidade. 61 CONSIDERAÇÕES FINAIS Dentre as constatações mais importantes feitas por este trabalho, cabe destacar a importância do movimento negro enquanto protagonista das conquista pelos direitos voltados à população afrodescendente em todos os momentos históricos do país. Desde seu surgimento nos anos 1930 até as conquistas atuais, relacionadas às políticas públicas de ação afirmativa, que surgiram da necessidade de tratar os desiguais como desiguais e visam oferecer a grupos discriminados e excluídos um tratamento diferenciado para compensar as desvantagens devido à sua situação de vítimas do racismo e de outras formas de discriminação (MUNANGA, 2003). Foram as inúmeras manifestações produzidas por esse movimento social que começaram a abrir espaço para a discussão da temática racial no país, mas o grande reforço foi dado pela III Conferência Mundial de Combate ao Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata, realizada em Durban, na África do Sul, no ano de 2001. Além de produzir diversos debates a respeito do assunto no período prévio à conferência, ganhou muita força no período posterior, principalmente no âmbito do governo federal. A partir daí as políticas públicas de ação afirmativa no formato de reserva de vagas para negros nas universidades começaram a ganhar espaço. No caso das universidades estudadas, este movimento social teve mais participação no processo de adoção de políticas afirmativas e obteve mais avanços que umas que em outras. A primeira universidade federal a aderir a um sistema de reserva de vagas para afrodescendentes foi a UNB, que a partir do processo seletivo de 2004 teve 20% das vagas reservadas para negros. A primeira proposta foi apresentada em 1999, sendo reapresentada em 2002 e aprovada em 2003, ou seja, foram 5 anos entre a apresentação da primeira proposta e a implantação do sistema. A UFPR foi a segunda a aprovar um sistema de reserva de vagas, com 20% para negros e 20% para alunos de escolas públicas, além da criação de vagas suplementares para indígenas. A terceira universidade a aprovar o sistema de cotas foi a UFBA, no mesmo ano que a UFPR, 43% do total de vagas da universidade seriam destinadas às cotas sendo dividido da seguinte forma: 85% desse total para negros e 15% para não negros. Em 2006 foi aprovado o sistema de cotas na UFJF, para ter direito a vaga o candidato deveria ter cursado sete séries do ensino básico em escolas 62 públicas, pelo menos 4 séries do ensino fundamental e todo o ensino médio em escolas públicas. Os percentuais de vagas seriam crescentes 30% em 2006 até 50% a partir de 2008, sendo 25% destes percentuais reservados para candidatos autodeclarados negros. A UFSM estabeleceu, em 2007, reserva de 20% para alunos que concluíram o total do ensino fundamental e médio em escolas públicas, no vestibular de 2008 10% das vagas de cada curso foram destinadas a afrodescendentes aumentando um por cento ao ano chegando ao máximo de 15% em 2013, 5 vagas para indígenas em 2008 e 10 nos anos posteriores e 5% para portadores de necessidades especiais, a UFRGS também em 2007 reservou 30% das vagas do vestibular para estudantes que concluíram pelo menos metade do ensino fundamental e totalidade do médio em escolas públicas, sendo metade destinada a candidatos autodeclarados negros e a criação de 10 vagas para estudantes indígenas indicados por suas comunidades, que prestam prova especial. Finalmente em 2008, a UFSC criou seu sistema de cotas no qual 20% das vagas ficariam reservadas para alunos que concluíram o total do ensino fundamental e médio em escolas públicas, no vestibular de 2008 10% das vagas de cada curso foram destinadas a afrodescendentes aumentando um por cento ao ano chegando ao máximo de 15% em 2013, 5 vagas para indígenas em 2008 e 10 nos anos posteriores e 5% para portadores de necessidades especiais. Como foi possível perceber, cada universidade adotou um sistema específico de reserva de vagas, a maioria optou por manter uma ligação entre as cotas raciais e sociais, que ficaram separadas apenas na UFPR e na UFSM, o percentual reservado também variou de uma universidade para outra, a UFBA foi a que reservou o maior número de vagas para negros, situação facilmente explicada por ter a maior proporção de negros no Estado. O processo de implantação foi semelhante em todas as universidades, apenas na UFJF a adoção da política de cotas foi iniciativa da instituição, nas outras universidades a iniciativa foi tomada por professores, alunos, sindicatos, movimentos sociais ou DCE, o que há em comum é que a partir do primeiro passo dado foram constituídas comissões responsáveis pela elaboração das propostas que fossem mais adequadas para cada instituição e posteriormente essas propostas foram votadas e aprovadas pelos conselhos superiores das universidades, todos os casos geraram polêmicas internas e externas, destacamos principalmente os casos da 63 carta dos 113 cidadãos antirracistas e a ADPF 186, que tiveram repercussão nacional. Quanto aos resultados além da UFPR, outras três análises mostraram que o total de vagas reservadas para cotas raciais não foram totalmente preenchidas, a UFJF, que teve apenas 30% das cotas sociais e 8% das cotas raciais preenchidas, a não ocupação das vagas é atribuída à falta de demanda, outro ponto comum dessa universidade com a UFPR foi o sucesso na inclusão de alunos egressos de escolas públicas em cursos de alto prestígio (BERALDO E MAGRONE, 2013). Na UFSM além de não haver ocupação do total de vagas, há grande preocupação com os altos índices de evasão dos alunos cotistas, no entanto, os rendimentos próximos entre candidatos ingressantes pela concorrência geral, cotistas sociais e raciais são um aspecto positivo indicado por Silveira (Et al., 2013). A terceira pesquisa que traz essa informação é da UFRGS, entre 2007 e 2011 as vagas destinadas às cotas não foram totalmente ocupadas, Monsma (Et al., 2013), atribuem o problema à complexidade do processo seletivo e afirmam que em 2012, após o aumento do número de vagas para pré-classificados cotistas houve preenchimento do total de vagas, outra constatação destes autores é o aumento do número de pretos inscritos no vestibular, superior ao de pardos, situação que diverge da proporção desses grupos no Estado. Segundo (MONSMA et al., 2013), isso acontece por falta de informações, acreditam que a maioria dos pardos nem saiba que podem concorrer pelo sistema de cotas. A UNB apresenta apenas os dados do primeiro vestibular em seu relatório que mostra que 19% do total de 20% das vagas foram ocupadas, a UFBA e a UFSC não falam a respeito da ocupação de vagas, mas garantem o sucesso da política na inserção de negros na universidade, no caso da UFBA em 2005 70% dos inscritos no vestibular se declararam pretos ou pardos, assim como na UFPR e na UFJF, o maior sucesso pode ser notado nos cursos de alto prestígio (SANTOS E QUEIROZ, 2013). Conforme Tragtenberg (2012) o fato de ter adotado a política de cotas depois de outras universidades se constituiu num benefício para a UFSC que pôde se basear em outros exemplos, sem dúvida apresentou o programa mais completo dentre os estudados, tratando desde a preparação do aluno através do curso pré-vestibular. O aumento de alunos negros foi constatado tanto em cursos de alto quanto de baixo prestígio, ficando comprovada a efetividade da política de cotas adotada pela instituição. 64 Como podemos ver ainda há muitos problemas a serem resolvidos para ter uma política de cotas raciais totalmente eficaz, na UFPR, assim como em outras instituições as políticas afirmativas beneficiaram muito mais alunos egressos de escolas públicas do que negros, em nenhum dos oito anos em que vigorou a política de cotas na instituição o número de negros que ingressaram chegou próximo a ocupar o total de vagas, a partir de 2006 o número de negros ingressantes pelo sistema de cotas se tornou ainda menor devido às alterações no processo seletivo e em 2007 com as mudanças na Resolução 37/04 aumentou o número de cotistas sociais, nesse caso é válido lembrar que de acordo com o parecer do Relator do Processo 14898/04-12 ao COUN antes da implantação do sistema de cotas, a UFPR já contava com um percentual de 20% alunos de escola pública, situação que reforça a necessidade de cotas raciais e não apenas sociais, de acordo com Porto (2011), a inclusão social não é capaz de resolver as distorções raciais presentes na universidade. Para Cervi (2013) os números são capazes de provar que houve aumento no quantidade de negros na UFPR a partir de 2005, no entanto, a partir da nossa pesquisa constatamos diversos problemas que impedem o alcance dos objetivos propostos inicialmente, porém gostaríamos de evidenciar as possíveis soluções apresentadas pelo trabalho. Para Porto (et al., 2012) o aumento do número de candidatos selecionados para a segunda fase poderia inserir mais negros na universidade, apesar das diferenças nos processos seletivos essa estratégia foi bem sucedida no vestibular da UFRGS, o aumento do número de vagas para préclassificados cotistas foi capaz de garantir a ocupação do total de vagas em 2012, ou ainda a extensão da política de cotas para as duas fases do vestibular, deixando de tratar como iguais os diferentes, mantendo o princípio das políticas públicas de ação afirmativa como sugere CERVI (2013). Finalmente, mas não menos importante poderia trabalhar o distanciamento simbólico entre os negros e a universidade (MARÇAL, 2011) cumprindo com o previsto no capítulo III da Resolução 37/04: d) integrar em todos os seus documentos e materiais de divulgação oficiais referências às populações atendidas nesse Plano de Metas com o fim de incentivar a inscrição dos potenciais candidatos; e) divulgar esse Plano de Metas nas escolas públicas do Estado do Paraná. 65 A média de cotistas raciais que ingressaram na UFPR nos últimos oito anos é de 6,9%, como comentamos anteriormente a partir do vestibular 2013 a universidade deverá se adequar à Lei 12711/12, que estipula reserva de 50% das vagas para estudantes que tenham cursado ensino médio integralmente em escola pública, sendo que dentro deste percentual será reservado para autodeclarados pretos, pardos e indígenas, em proporção no mínimo igual à de pretos, pardos e indígenas na população da unidade da Federação onde está instalada a instituição, segundo o último censo do IBGE. De acordo com censo 2010, 27,4% da população paranaense é formada por pretos e pardos, ou seja, esse será o percentual de cotas raciais da universidade e, apesar de não abordarmos os detalhes referentes às mudanças é válido mostrar em termos de números que a UFPR tem uma difícil missão para cumprir. Ouvimos muitos discursos que versam a respeito da necessidade de “mudar a cara da universidade”, podemos afirmar que mesmo que quantitativamente o sistema de cotas da UFPR não tenha alcançado seu ápice, de 2005 podemos perceber maior quantidade de alunos negros na instituição, não apenas nos cursos de graduação como na pós graduação, valendo a pena citar que podemos encontrar dentre os ingressantes pelo sistema de cotas em anos anteriores, pessoas formadas e inseridas no mercado de trabalho, mestrandos, mestres e doutorandos, situação não era comum antes da adoção de políticas afirmativas 35. Mesmo que uma parte dos alunos pretos e pardos não tenha optado pelas cotas raciais, sabemos que a maioria deles ingressou através dessa política, o que comprova a necessidade desses mecanismos de inserção. A pesquisa realizada para elaboração desse trabalho mostrou a necessidade de revisão e análise das políticas afirmativas no Brasil e apontou dificuldades comuns em instituições distintas, o que nos leva a pensar que o debate e a troca de experiências entre IES que possuem o mesmo sistema podem mostrar possíveis caminhos para adequação e resolução de problemas. 35 Observação da autora que ingressou na UFPR em 2005 através do sistema de cotas no curso de Química, participou do Programa Brasil Afroatitude (2005-2006) e mudou de curso, para Ciências Sociais em 2007 através de processo interno de ocupação de vagas remanescentes. 66 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANJOS, José Carlos Gomes dos. 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