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DESAFIOS DO CONTADOR AUDITOR NA APLICAÇÃO DO PRONUNCIAMENTO
TÉCNICO PME - CONTABILIDADE PARA PEQUENAS E MÉDIAS EMPRESAS
(CPC_PME) NA AUDITORIA DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS
ACCOUNTANT AUDITOR'S CHALLENGES IN IMPLEMENTING NZ PME ACCOUNTING FOR SMALL AND MEDIUM ENTERPRISES (CPC_PME) THE
AUDIT OF FINANCIAL STATEMENTS
Monique ABREU¹, Edna FERREIRA¹, Francisca DE PAULO¹, Jacqueline
DIAS¹, Mariana ROSA¹, Sebastião IGÍDIO¹, Renato Thiago da SILVA²
¹Faculdade de Minas, Faminas-BH, acadêmicos do Curso de Ciências Contábeis
Email: [email protected]
²Faculdade de Minas, Faminas-BH, Programa de Graduação
Resumo
Este artigo teve como objetivo conhecer e entender os desafios do contador auditor nos trabalhos de auditoria das
demonstrações financeiras de pequenas e médias empresas no que tange à aplicação do pronunciamento técnico
PME. Para isso, foi realizado um estudo de caso em uma grande firma da auditoria no que tange a aplicação do
CPC_PME em pequenas e médias empresas. Os resultados do estudo apontam que todas as empresas auditadas
pela auditora entrevistada usam o conjunto completo de pronunciamentos contábeis apesar de poderem optar
pelo CPC_PME. Percebeu-se que tal comportamento foi motivado pelo fato do uso do conjunto completo de
pronunciamentos possibilitar um resultado econômico maior para a empresa. Outra importante conclusão foi o
fato de que o auditor passou a ser visto pela empresa auditada como um parceiro dos gestores da empresa,
fundamental para ajudá-los a atingir e concretizar os objetivos propostos pela organização.
Palavras-chave: Comitê de Pronunciamentos Contábeis. Pequena e Média Empresa. Contador. Auditor.
Demonstrações financeiras.
Abstract
This study aimed to know and understand the challenges in the work of the accountant auditor audit the financial
statements of small and medium-sized companies regarding the application of technical pronouncement SMEs.
For this, we conducted a case study in a large audit firm regarding the application of CPC_PME in small and
medium enterprises. The study results indicate that all companies audited by the auditor interviewed using the
full set of accounting standards although they can opt for CPC_PME. It was felt that such behavior was
motivated by the fact of using the full set of statements to enable a greater economic outcome for the company.
Another important finding was the fact that the auditor has audited the company be seen as a partner of the
company's management is vital to help them reach and achieve the objectives proposed by the organization.
Keywords: Accounting Pronouncements Committee. Small and Medium Enterprise. Counter. Auditor. Financial
statements.
1 Introdução
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Na globalização, as atuais transformações econômicas e o surgimento de um novo
cenário no ambiente empresarial e contábil são fatores que contribuem para a convergência
das normas contábeis brasileiras para normas internacionais de contabilidade. Essa
convergência proporcionará às organizações a elaboração de Demonstrações Financeiras
baseadas em uma única prática contábil utilizada por toda e qualquer empresa que esteja
localizada em outros países adeptos à convergência. A esse respeito, ressalta-se a criação do
CPC – Comitê de Pronunciamentos Contábeis, que é o elo de ligação e adequação das normas
contábeis brasileiras para as normas internacionais – International Financial Reporting
Standards (IFRS).
O CPC foi criado através da Resolução CFC n°. 1.055/05 com o objetivo de estudar,
preparar e emitir pronunciamentos técnicos sobre procedimentos contábeis visando à
centralização e uniformização do seu processo de produção levando em conta a convergência
da contabilidade brasileira aos padrões internacionais. A partir do final do ano de 2007, com a
aprovação da lei 11.638/2007, o CPC passou a trabalhar ativamente no processo de
convergência, elaborando diversos pronunciamentos técnicos desde então.
Em função dessa importância, o presente artigo versa sobre a aplicação do CPC_PME
na elaboração das demonstrações financeiras de médias e pequenas empresas e sobre os
desafios enfrentados pelos auditores dessas organizações. Acredita-se que as empresas de
pequeno e médio porte, através da utilização do CPC_PME, irão adequar as suas
demonstrações financeiras de tal forma que, os proprietários-administradores, autoridades
fiscais ou governamentais obterão as informações com clareza, precisão, uniformidade e
homogeneidade.
É importante ressaltar ainda que todas as transações contábeis podem ser registradas
em conformidade com as normas instituídas pelo CPC_PME, mesmo que as empresas em
questão não sejam obrigadas a uma escrituração contábil completa para fins fiscais. O código
civil determina a obrigatoriedade da escrituração completa pra fins comerciais (societários) e
seguir as orientações do CPC_PME é uma importante alternativa para tais empresas. Diante
do exposto, o problema de pesquisa do presente artigo é: Quais são os desafios do contador
auditor nos trabalhos de auditoria das demonstrações financeiras de pequenas e médias
empresas no que tange à aplicação do CPC_PME?
Para alcançar resposta a esta questão, este artigo tem como objetivos: identificar os
desafios do contador auditor no desenvolvimento dos trabalhos de auditorias no que tange à
aplicação do CPC_PME na escrituração contábil de pequenas e médias empresas; descrever
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as principais competências do contador auditor; conceituar auditoria; descrever a importância
da auditoria em uma empresa de pequeno e médio porte; apresentar as principais
características do Pronunciamento Técnico PME.
No próximo tópico será abordada a sustentação teórica da pesquisa do presente artigo.
2 Desafios do contador auditor na aplicação do CPC_PME nas demonstrações
financeiras
As atuais transformações ocorridas no cenário contábil proporcionaram ao contador
auditor a busca pelo aprendizado contínuo e permanente. Com isto, torna-se essencial o
acompanhamento e entendimento dos pronunciamentos, interpretações e orientações
divulgados pelo CPC, por este profissional.
Enfatizando esses aspectos, foi criado o CPC (Comitê de Pronunciamentos Técnicos
Contábeis), com o objetivo de desenvolver e publicar pronunciamentos técnicos visando à
convergência das normas contábeis brasileiras aos padrões internacionais. Esses
pronunciamentos irão influenciar nos relatórios financeiros e nas demonstrações contábeis
melhorando a capacidade de interpretação por parte dos proprietários-administradores,
autoridades fiscais ou governamentais, tornando as informações de forma clara, precisa,
uniforme e homogênea.
Por sua vez, o CPC (2009) declara que está emitindo em separado o Pronunciamento
Técnico PME, voltado para aplicação das demonstrações contábeis das empresas de pequeno
e médio porte, ou seja, sociedades fechadas e sociedades que não sejam requeridas a fazer
prestação pública de suas contas. Fica denominado este pronunciamento como Contabilidade
para Pequenas e Médias Empresas (PME’s).
Dessa forma, ressalta-se que a emissão de um pronunciamento técnico específico para
as pequenas e médias empresas será muito importante para o contador auditor e para os
empresários. As práticas contábeis serão uniformizadas facilitando o desempenho das
atividades desenvolvidas pelo contador auditor. Com isto, este profissional será capaz de
orientar o empresário de maneira eficaz a fim de que sua organização tenha maior
permanência neste mercado cada vez mais competitivo.
É importante ressaltar ainda, que de acordo com o CPC (2009) as demonstrações
contábeis das pequenas e médias empresas têm como objetivo oferecer informação acerca da
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posição financeira (balanço patrimonial), do desempenho (resultado e resultado abrangente) e
fluxos de caixa da entidade.
Logo, a partir desta afirmativa, são descritas as demonstrações contábeis elaboradas
em empresas de pequeno e médio porte. Estas demonstrações contábeis, principalmente o
balanço patrimonial, são compostas de informações essenciais para elaboração de relatórios
financeiros por parte do contador auditor.
Nessa linha de raciocínio, Ribeiro (2008) define balanço patrimonial como sendo uma
demonstração financeira (contábil) destinada a evidenciar a posição patrimonial e financeira
da entidade em uma determina data.
Observa-se, então, que o balanço patrimonial é fundamental para se conhecer a saúde
financeira e contábil de uma organização. Com base nos relatórios gerados através do balanço
patrimonial os proprietários-administradores conseguem realizar um planejamento adequado
para atender às reais necessidades da organização e assim atingir os objetivos propostos para
aquele exercício social.
2.1 Pequena e média empresa: pronunciamento especial do CPC
As PME’s possuem um conceito próprio quanto à emissão de relatórios e
demonstrações contábeis. Segundo Iudícibus et al (2010) as pequenas e médias empresas, não
tem obrigação de prestação de contas pública e suas demonstrações contábeis são voltadas
para o auxílio aos usuários internos de gestão e usuários externos como, por exemplo, sócios,
bancos, etc.
Por sua vez, os autores afirmam que se uma empresa tem seus instrumentos de dívidas
ou patrimoniais negociados no mercado de ações, em bolsas de valores, mercado de balcão,
mercados locais e regionais e se a mesma tem seus ativos em condições fiduciárias tem a
obrigação de prestação de contas públicas.
Neste contexto, no Brasil as sociedades por ações fechadas são aquelas que não
negociam suas ações ou outros instrumentos patrimoniais ou dívidas no mercado e que não
possuem ativos em condições fiduciárias perante a um grupo de terceiros, mesmo obrigadas
à publicação de suas demonstrações contábeis são classificadas como pequenas e médias
empresas de acordo com o Pronunciamento Técnico PME do CPC desde que não enquadradas
pela Lei n° 11.638/07. As sociedades comerciais, desde que não enquadradas também pela
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Lei nº. 11.638/07 como sociedades de grande porte, também são classificadas como pequenas
e médias empresas. (IUDÍCIBUS et al, 2010).
Logo, a partir deste Pronunciamento Técnico PME do CPC são definidas as empresas
de pequeno e médio porte que não tem a obrigação de prestação pública de suas
demonstrações contábeis. Estas empresas elaboram suas demonstrações contábeis para
atender aos usuários internos responsáveis por tomada de decisão e usuários externos para
captação de recursos.
É importante ressaltar ainda, segundo Iudícibus et al (2010), que as empresas de
pequeno e médio porte têm o direito de adotar os Pronunciamentos Técnicos, Interpretações e
Orientações do CPC ou adotar o Pronunciamento Técnico PME – Contabilidade para
Pequenas e Médias Empresas.
Dessa forma, os autores relacionam os tópicos que não são abordados pelo PME:
informação por segmento, demonstrações contábeis Intermediárias (ITR), lucro por ação,
seguros, ativos mantidos para venda, DVA, correção monetária e os tópicos que são
abordados pelo PME: instrumentos financeiros, consolidação das demonstrações contábeis,
ativo
imobilizado,
ativo
intangível,
propriedade
para
investimento,
subvenções
governamentais, ágio por expectativa de rentabilidade futura (Goodwill), gastos com pesquisa
e desenvolvimento, investimento em coligadas e controladas, atividade de agricultura, custos
dos empréstimos, arrendamento mercantil, benefícios aos empregados, adoção pela primeira
vez das IFRS-SME, pagamento baseado em ações, conversão das demonstrações contábeis,
demonstrações das mutações do Patrimônio Líquido, apresentações, divulgações.
Observa-se, então, que para a realização das demonstrações financeiras as pequenas e
médias empresas podem se basear em todos os pronunciamentos do CPC ou de forma
simplificada no CPC_PME. O CPC_PME facilita o estudo e a análise das demonstrações por
parte do contador auditor.
Enfatizando esses aspectos, Iudícibus et al (2010), afirmam que mesmo tendo a
simplificação das normas contábeis através do PME em alguns casos será necessário o
conhecimento do pronunciamento técnico propriamente dito, como, por exemplo, o caso de
pequenas e médias empresas que apliquem em derivativos ou outros instrumentos financeiros
complexos.
Logo, com a criação do Comitê de Pronunciamentos Técnicos - CPC, todas as
empresas deverão realizar suas demonstrações contábeis de acordo com os pronunciamentos
técnicos emitidos por este comitê. As empresas de pequeno e médio porte poderão utilizar o
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conjunto completo dos pronunciamentos ou utilizar o CPC-PME. O contador auditor deverá
ter o conhecimento de todos os pronunciamentos para utilização do mais adequado à
organização.
2.2 Principais competências do contador auditor e a auditoria
Em face da evolução das atividades econômicas, surgiu à necessidade de ter um
melhor controle dentro das organizações, desta forma, a contabilidade evoluiu e ramificou-se
em diversas áreas como, por exemplo, a auditoria.
Nesse contexto, Franco (2001) conceitua auditoria com sendo um exame de
documentos, livros e registros, inspeções e obtenção de informações e confirmações, internas
e externas, acerca do controle do patrimônio, objetivando a mensuração e exatidão dos
registros das demonstrações contábeis deles decorrentes.
O autor ressalta que a auditoria consiste na busca de registros internos e externos
referente à empresa, esses registros são informações que o auditor busca confirmações de
análises da empresa para um controle do patrimônio, baseados em dados reais.
Nessa linha de raciocínio, Almeida (2003) define os papéis de trabalhos de auditoria,
como sendo: atender as normas de auditoria; acumular provas para suporte do parecer do
auditor; facilitar a revisão por parte do auditor de forma a assegurar-se que o serviço foi
efetuado corretamente; servir como base para avaliação dos auditores; ajudar no trabalho da
próxima auditoria; representar na justiça caso seja movida uma ação contra o auditor ou a
firma de auditoria.
Na realização de uma auditoria, normas devem ser seguidas, pois elas auxiliam o
contador auditor na execução de seu trabalho. As provas acumuladas servem como
comprovação das análises realizadas pelo auditor e poderão ser utilizadas no futuro contra
possíveis problemas com o fisco.
Enfatizando esses aspectos, Franco (2001) afirma que em uma organização o contador
auditor deverá exercer as seguintes atividades: fiscalizar a eficiência dos controles internos;
assegurar a validade dos registros contábeis; propor adequação das demonstrações contábeis;
dificultar desvios de bens patrimoniais e pagamentos indevidos de despesas; possibilitar
apuração de omissões no registro das receitas na realização oportuna de créditos ou liquidação
oportuna de débitos; viabilizar a obtenção de informações reais da situação econômica,
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patrimonial e financeira das empresas; indicar falhas na organização administrativa da
empresa e nos controles internos.
É importante ressaltar ainda, que a auditoria interna é a realização de exames, análises,
avaliações, levantamento e comprovações, através de métodos estruturados para avaliação da
integridade, adequação, eficácia, eficiência e economicidade dos processos, dos sistemas de
informações e de controles internos integrados ao ambiente, e de gerenciamento de riscos para
auxiliar a administração da entidade no cumprimento de seus objetivos. (CFC, 2008).
Logo, a auditoria interna está voltada para a análise, avaliações, levantamento e
comprovações dos processos da entidade com o intuito de informar à administração da
entidade acerca do cumprimento dos objetivos.
Por sua vez, a auditoria externa é realizada por um auditor independente que não
possui vínculo empregatício com a entidade que esta sendo auditada, por isso, ele jamais
poderá aceitar imposições da empresa quando ao procedimento que deverá utilizar para a
realização da auditoria, nem quanto às conclusões que deve chegar. (FRANCO, 2001).
Na concepção de Cherman (2001) “a auditoria externa é feita por um profissional
totalmente independente da empresa auditada. O objetivo do auditor externo é emitir uma
opinião (chamado parecer) sobre as demonstrações financeiras”.
Diante do apontado, é possível perceber que a independência do auditor externo lhe
proporciona autonomia na execução de suas tarefas a fim de oferecer um parecer real das
demonstrações financeiras da organização.
Nesse contexto, Franco (2001) afirma que nada impede que uma organização utilize a
auditoria interna e externa, pois uma completa a outra e a auditoria interna poderá deixar de
executar procedimentos que ela sabe que serão executados pela auditoria externa.
Este artigo focalizará a auditoria externa que tem como objetivo emitir parecer sobre
as demonstrações financeiras.
2.3 Importância do contador auditor em empresas de pequeno e médio porte
Neste tópico será abordada a importância do contador auditor na realização de
trabalhos de auditoria em empresas de pequeno e médio porte. No que tange essa questão,
Amano (2009) destaca que as empresas de pequeno e médio porte baseavam-se antigamente
em deixar os problemas para serem resolvidos na base do “jeitinho”, logo isso chegará ao fim,
às empresas precisam abrir-se para a era do planejamento.
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Nesse caso, a chamada auditoria de desempenho é uma ótima alternativa para os
empreendedores que se tornaram administradores. Porém ainda não são reconhecidos os
benefícios proporcionados pelos auditores. Prevalece a visão de que estes profissionais apenas
apontam problemas sem apresentar soluções e que sempre estão ansiosos a reduzir o quadro
de funcional. No entanto, é bom lembrar que as auditorias são solicitadas, via de regra,
quando o barco está afundando e não à deriva. Nestas situações, em muitos casos, já não há o
que fazer. (AMANO, 2009).
Logo, a partir desta afirmativa, conclui-se que o contador auditor ainda é renegado
pela falta de conhecimento da sua importância dentro de uma organização, com o seu auxílio
muitos problemas podem ser evitados, mas para que isso aconteça é preciso que haja a
colaboração do representante legal da organização, desta forma, o contador auditor irá
desempenhar um ótimo trabalho.
Por sua vez, Silva (2011), afirma que neste cenário econômico estável as pequenas e
médias empresas estão valorizando os serviços de autoria quando o assunto é crescimento,
pois, as PME’s querem ampliar os seus negócios rapidamente e ter um balanço patrimonial
válido faz toda a diferença na hora de buscar investidores.
Observa-se, então, que o contador auditor é de grande importância para uma
organização que busca o crescimento no mercado. O controle das contas e um balanço
patrimonial bem elaborado é o diferencial à frente da concorrência e uma grande ferramenta
na captação de recursos para ampliação de seus negócios.
É importante ressaltar ainda, segundo Amano (2009) que o empreendedor deverá olhar
para o auditor como um parceiro que irá orientá-lo da melhor maneira a atingir e realizar os
objetivos da organização. Para que a parceria entre o auditor e a empresa seja um sucesso, é
preciso que haja o acompanhamento do que foi planejado para atualizar e mudar os rumos do
processo.
Diante do apontado, percebe-se, que os empreendedores das pequenas e médias
empresas estão buscando o auxílio do contador auditor para que os objetivos propostos pela
organização sejam atingidos e para que a mesma possa manter-se erguida com perspectiva de
crescimento.
3 Metodologia
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Este artigo foi baseado em uma pesquisa de caráter qualitativo. A partir dos dados
colhidos na pesquisa pode-se aprofundar no problema estudado e buscar respostas para
comprovação destes dados.
Como método de pesquisa, foi realizado um estudo de caso em uma grande firma de
auditoria, considerada uma das “Big Four”, que são as quatro maiores empresas de auditoria
externa do mundo1. Este estudo de caso é uma é uma ferramenta essencial para se descobrir
como os fatos ocorrem. Justifica-se a escolha do caso pesquisado, tendo em vista a grande
relevância e importância da empresa escolhida no mercado de auditoria externa.
Outro tipo de pesquisa utilizada e que foi de grande importância para o
desenvolvimento deste artigo é a pesquisa bibliográfica realizada em biblioteca e
complementada por pesquisa na internet. A pesquisa bibliográfica é a base para o
desenvolvimento de uma pesquisa científica.
Por fim, foi utilizada como instrumento de coleta de dados, a entrevista estruturada
com perguntas predeterminadas. Realizou-se uma entrevista com uma auditora externa,
funcionária em cargo de coordenação da empresa. A entrevistada é formada em Ciências
Contábeis e pós graduanda em Auditoria.
4 Análise de Resultados
Ao ser questionada se os administradores das pequenas e médias empresas
reconhecem os benefícios que a auditoria externa pode proporcionar para organização e por
que, a entrevistada respondeu que:
Sim, principalmente nos últimos três anos. A maioria das pequenas e medias
empresas não conseguiram atualizar as equipes de contabilidade sobre as alterações
das práticas contábeis e estão cada vez mais contando com a ajuda e conhecimento
dos auditores para entender as mudanças. (INFORMAÇÃO VERBAL, 2011).
Questionada ainda, se os contadores das empresas de pequeno e médio porte auditadas
por sua empresa ou não conhecem as novas normas de contabilidade vigentes no Brasil e
quais são as principais deficiências, ela respondeu:
A maioria não tem conhecimento das mudanças das práticas contábeis. As principais
deficiências são: Preparar a demonstração do fluxo de caixa; Conceito de caixa e
equivalentes de caixa e títulos e valores mobiliários; Classificação dos ativos
financeiros em “disponível para venda”, “empréstimos e recebíveis”, “Para
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As quatro maiores firmas de auditoria externa do mundo são: Deloitte Touche Tohmatsu, Ernst & Young, KPMG
e PricewaterhouseCoopers.
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negociação” e “Mantidos até o vencimento”; Conceito de valor justo.
(INFORMAÇÃO VERBAL, 2011).
Nas respostas dadas identifica-se a importância do auditor nas pequenas e médias
organizações, sendo que os contadores dessas empresas, pelas evidências obtidas, estão tendo
dificuldades no acompanhamento das novas normas de contabilidade vigentes no Brasil.
Essa constatação é corroborada pelas considerações de Amano (2009) ao afirmar que o
empreendedor deverá olhar para o auditor como um parceiro que irá auxiliá-lo da melhor
maneira possível a atingir e concretizar os objetivos da empresa, como por exemplo, a
expansão dos negócios ou geração de exportações.
Ao ser questionada se a adoção do CPC PME facilita o trabalho do auditor externo e
por que, a entrevistada respondeu que “facilita somente no sentido do menor volume de
informações requeridas a serem divulgadas”. (INFORMAÇÃO VERBAL, 2011)
Questionada ainda se as empresas de pequeno e médio auditadas utilizam os demais
pronunciamentos do CPC ao invés de utilizar o PME e por que elas fizeram esta opção, a
entrevistada respondeu:
As empresas que auditei que poderiam ter se enquadrado no CPC PME e optaram
pela adoção dos demais, fizeram essa opção porque era interesse delas capitalizar a
variação cambial de determinados empréstimos e financiamentos que foram
captados para financiar obras de expansão. De acordo com o CPC de PME essa
variação cambial deveria ser toda registrada no resultado. Adicionalmente, elas
fizeram uso da opção de adotar o deemed cost no ativo imobilizado, e o CPC PME
não prevê essa adoção. (INFORMAÇÃO VERBAL, 2011).
A não opção pelo CPC PME relatada pela entrevistada é possível, pois as empresas de
pequeno e médio porte, segundo Iudícibus et al (2010), tem o direito de adotar os
Pronunciamentos Técnicos, Interpretações e Orientações do CPC ou adotar o Pronunciamento
Técnico PME – Contabilidade para Pequenas Médias Empresas.
A entrevistada foi questionada se, em sua opinião, seria mais adequado para uma
empresa de médio ou pequeno porte utilizar o CPC_PME ou utilizar o conjunto completo de
pronunciamentos técnicos e ela respondeu que “com certeza utilizar o CPC_PME, pois as
exigências de divulgação são mais brandas”. (INFORMAÇÃO VERBAL, 2011)
Ao ser questionada sobre as empresas de pequeno e médio porte que estão sendo
auditadas no ano de 2011, quantas utilizam o PME e os demais pronunciamentos, respondeu
que:
Acredite, nenhuma empresa utiliza o CPC_PME embora algumas pudessem se
enquadrar nesse conceito. Atualmente atuo como gerente de 21 clientes e todos
utilizam o full CPC’s. A norma não prevê a opção de usar os demais CPC’s e o CPC
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de PME, pois se tratam de práticas contábeis diferentes. As empresas têm que fazer
a opção por uma delas. (INFORMAÇÃO VERBAL, 2011).
Ao ser questionada se existem benefícios para o auditor na utilização do
pronunciamento CPC PME e caso afirmativo quais são, a entrevistada respondeu:
Sim. O volume de informações que os demais CPC’s estão requerendo,
principalmente de divulgação, é muito alto. O CPC PME permite que sejam
preparadas demonstrações financeiras com uma menor quantidade de informação e
divulgação. Muitas informações requeridas pelos demais CPC’s são bastante
complexas e dificultam o trabalho dos contadores. (INFORMAÇÃO VERBAL,
2011).
Sua resposta corrobora em parte o entendimento de Iudícibus et al (2010) que afirma
que mesmo ocorrendo a simplificação das normas contábeis através do PME, em alguns casos
será necessário o conhecimento do pronunciamento técnico propriamente dito, como por
exemplo, o caso de pequenas e médias empresas que aplique em derivativos ou outros
instrumentos financeiros complexos.
Concluindo a entrevista, a auditora foi questionada sobre quais são os desafios do
contador auditor na aplicação do CPC_PME nas demonstrações financeiras ela respondeu
que:
Compreender o que de fato esse CPC exige que seja realizado e divulgado. É
necessário fazer uma leitura crítica desse pronunciamento e saber que não se pode
adotar parte desse pronunciamento e parte dos demais. As práticas contábeis devem
ser consistentes. (INFORMAÇÃO VERBAL, 2011).
As informações obtidas através da entrevista e a teoria desenvolvida por Iudícibus et
al, Amano, CPC e CPC_PME se completam no ponto em que é necessário compreender, de
fato, o que o PME exige das pequenas e médias empresas. Mesmo o PME sendo simplificado,
é necessário ter uma visão crítica acerca de suas normas e ter um conhecimento aprofundado
de todos os demais pronunciamentos emitidos pelo CPC.
5 Conclusão
A realização deste artigo científico foi motivada pela intenção de conhecer e entender
os desafios do contador auditor nos trabalhos de auditoria das demonstrações financeiras de
pequenas e médias empresas no que tange à aplicação do pronunciamento técnico PME.
A partir da pesquisa realizada conclui-se que o PME, por ser uma forma simplificada
das normas de contabilidade, permite o preparo de demonstrações financeiras com um menor
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volume de informações e divulgação, facilitando o estudo e a análise das demonstrações por
parte do contador auditor. Esta evidência ficou clara nas afirmações da auditora entrevistada.
Assim, de acordo com os dados da pesquisa, é possível concluir que o maior desafio
enfrentado pelo auditor diante do PME é compreender de fato o que ele exige que seja
realizado e divulgado. Para isso, é necessário realizar uma leitura crítica deste
pronunciamento e saber que a norma não prevê a utilização de todos os pronunciamentos e o
PME simultaneamente, pois são práticas contábeis diferentes.
As pequenas e médias empresas tem a opção de utilizar o conjunto completo dos
pronunciamentos ou utilizar o PME. Porém, de acordo com os dados levantados na pesquisa,
conclui-se que as empresas que possuem o perfil de enquadramento no PME preferiram
utilizar o conjunto completo dos pronunciamentos, pois através deles é possível realizar
práticas contábeis que irão beneficiar a organização.
O conjunto complemento dos CPC’s conhecido como full CPC, permite ativação de
despesas financeiras decorrentes de ativos permanentes, o que melhora o resultado da empresa
tendo em vista que estes gastos, em caso de adoção do PME seriam carregados diretamente no
resultado da empresa. Desta forma conclui-se que uma das maiores causas do uso do full CPC
em detrimento do CPC_PME é o fato da aplicação do full CPC possibilitar um resultado
econômico maior para a empresa, o que melhora os seus indicadores de performance
econômico-financeira. Esta conclusão é sustentada pelo fato de na pesquisa, ser constatado
que das 21 empresas de pequeno e médio porte que eram auditadas pela entrevistada, todas
usavam o conjunto completo de pronunciamentos do CPC, o full CPC.
Percebeu-se ainda que as pequenas e médias empresas auditadas pela auditora
entrevistada não conseguiram atualizar a sua equipe de contabilidade acerca das alterações
instituídas pelas novas normas contábeis, isso se deve pela falta de profissionais qualificados
no mercado. Esse fato permite concluir que é essencial o trabalho do auditor no auxílio a estes
contadores.
Conforme apontado por Amano (2009), os auditores antes renegados pelos
administradores das pequenas e médias empresas começam a ser vistos como um parceiro que
irá orientar o administrador da melhor maneira possível a atingir e concretizar os objetivos
propostos pela organização.
Tendo em vista, a continuidade e o aprofundamento deste estudo, recomenda-se que
sejam feitas novas investigações aumentando a amostragem de empresas de auditoria para que
se possa avaliar se a utilização do conjunto de pronunciamentos do CPC em detrimento ao
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CPC_PME é uma tendência entre as empresas de médio e pequeno porte que são submetidas a
procedimentos de auditoria externa, como constatada na presente pesquisa.
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DESAFIOS DO CONTADOR AUDITOR NA APLICAÇÃO