0 UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE FACULDADE DE ENFERMAGEM PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE E SOCIEDADE MESTRADO ACADÊMICO EM SAÚDE E SOCIEDADE AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO À SAÚDE DA CRIANÇA NO CONTEXTO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE DO MUNICÍPIO DE MOSSORÓ-RN JOCASTA MARIA OLIVEIRA MORAIS DE MEDEIROS Mossoró – RN 2014 1 JOCASTA MARIA OLIVEIRA MORAIS DE MEDEIROS AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO À SAÚDE DA CRIANÇA NO CONTEXTO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE DO MUNICÍPIO DE MOSSORÓ-RN Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Saúde e Sociedade, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, como requisito final para obtenção do grau de Mestre em Saúde e Sociedade. Orientadora: Profª. Drª. Fátima Raquel Rosado Morais Mossoró-RN 2014 2 Catalogação da Publicação na Fonte. Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Medeiros, Jocasta Maria Oliveira Morais de. Avaliação da atenção à saúde da criança no contexto da atenção primária à saúde do município de Mossoró-RN. / Jocasta Maria Oliveira Morais de Medeiros. – Mossoró, RN, 2014 118 f. Orientador(a): Profª. Drª. Fátima Raquel Rosado Morais Dissertação (Mestrado em Saúde e Sociedade). Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Programa de Pós-Graduação em Saúde e Sociedade. 1. Saúde da criança - Dissertação. 2. Atenção primária à saúde Dissertação. 3. Políticas públicas de saúde - Dissertação. I. Morais, Fátima Raquel Rosado. II. Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. III.Título. UERN/BC CDD 614 Bibliotecária: Elaine Paiva de Assunção CRB 15 / 492 3 UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE FACULDADE DE ENFERMAGEM DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM A COMISSÃO ABAIXO ASSINADA APROVA A DISSERTAÇÃO INTITULADA AVALIAÇÃO DA ATENÇÃO À SAÚDE DA CRIANÇA NO CONTEXTO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE DO MUNICÍPIO DE MOSSORÓ-RN Elaborada por JOCASTA MARIA OLIVEIRA MORAIS DE MEDEIROS COMO REQUISITO FINAL PARA A OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM SAÚDE E SOCIEDADE BANCA EXAMINADORA: Fátima Raquel Rosado Morais (UERN-RN) ____________________ Nilba Lima de Souza (UFRN-RN) ____________________ Humberto Jefferson de Medeiros (UERN-RN) ____________________ Mossoró – RN 2014 4 Sê Se não puderes ser um pinheiro, no topo de uma colina, sê um arbusto no vale, mas sê o melhor arbusto à margem do regato. Sê um ramo, se não puderes ser uma árvore. Se não puderes ser um ramo, sê um pouco de relva, e dá alegria a algum caminho. Se não puderes ser uma estrada, Sê apenas uma senda, Se não puderes ser o Sol, sê uma estrela. Não é pelo tamanho que terás êxito ou fracasso... Mas sê o melhor no que quer que sejas. Pablo Neruda 5 DEDICO A Deus, por se mostrar presente em todos os momentos da minha vida, nas horas de cansaço, de ânimo e desânimo, me dando força, paciência e perseverança, sempre iluminando meus caminhos e mostrando que nunca podemos desistir dos nossos “Sonhos”. Aos meus pais, Luiz Morais e Lucilene Oliveira, por não pouparem esforços e sempre estimularem a continuidade dos meus estudos. Neles encontro à força e a fonte de inspiração para seguir em frente... À minha filha, Anne Sofia, que chegou em um momento ímpar da minha vida... A pureza do seu olhar e a alegria transbordada em seu sorriso são fontes inesgotáveis de prazer em minha vida. Um amor indescritível. Ao meu esposo Manoel, pela força, apoio, carinho e compreensão demonstrados no decorrer desse trabalho. 6 AGRADECIMENTOS Estas páginas significam muito para mim, porque me fazem lembrar que não estive sozinha nessa caminhada e por que falo justamente para essas pessoas que estiveram ao meu lado em algum momento e que contribuíram para a conquista de mais um sonho da minha vida. Nelas expresso todos os meus sentimentos de carinho e o meu muito obrigada para aqueles que compartilharam junto comigo essa vitória! Em primeiro lugar, gostaria de agradecer a Deus, pelo seu amor imensurável, por não me deixar só em nenhum momento, me dando força, ânimo e iluminando meus passos. Obrigado Senhor por ter me permitido chegar até aqui. Agradeço aos meus pais Luiz Morais e Lucilene Oliveira, pela confiança que depositam em mim, pelo apoio, pelas orações, pelos momentos de batalhas, alegrias, tristezas, e principalmente por terem me ensinado tantos valores sobre a vida. Um amor incondicional! Ao meu esposo Manoel, por ter sido bastante compreensível nos momentos de estresses e estar ao meu lado nos momentos bons e nos momentos ruins desses dois anos de mestrado... Enfim, muito obrigada. À minha filha Anne Sofia, um grande presente de Deus em minha vida, um amor que não se mede e que com sua inocência nos proporciona momentos de alegrias. Te amo! Aos meus irmãos Josenildo e Leandro, pelo incentivo, por sempre me desejarem sucesso e felicidade, e por todo carinho e respeito que demonstram por mim. A todos os meus familiares, avós, tios, primos, cunhados, pela torcida. À Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN) e ao Programa de Pós-graduação em Saúde e Sociedade (PPGSS) por representarem espaços de crescimento profissional e pelo apoio durante a minha vida acadêmica. À FAPERN, pela concessão de uma bolsa de estudo. À minha orientadora, Profª. Drª. Fátima Raquel, agradeço pelos conhecimentos construídos e reconstruídos, pelo carinho e compromisso que sempre demonstrou para comigo, por sempre entender minhas limitações e exaltar 7 minhas potencialidades. Minha admiração e gratidão vai muito além do mestrado, vem desde a “graduação em enfermagem”, e vai para vida toda. Muito obrigada! À minha querida amiga Elane Barbosa, pessoa que muito me ensina com a sua competência e inteligência. Obrigada por sempre me ouvir e por acreditar no meu potencial, e por sempre me encorajar diante dos desafios da vida. Desejo que você continue brilhando e que Deus realize todos os seus sonhos. Aos meus amigos: Benson Abreu, Camila Carrilho, Elizabeth do Nascimento, Geórgia Maria, Humberto Luiz, Ananka Maia, Kalídia Felipe, Kelly Praxedes, Kelianny Pinheiro, Wanderley Fernandes e Líbne Lidianne, pelo apoio e pelo carinho que sempre demonstraram por mim. Às minhas amigas de caminhada no mestrado, Suzane Dantas e Amélia Carolina. Obrigada pelos valiosos conhecimentos construídos, pelas conversas descontraídas e divertidas, pelo incentivo, carinho e consideração. A todos os meus colegas do mestrado, cada um com sua história de vida, me ensinou muito e me tornou uma pessoa melhor. À coordenadora do PPGSS Profª. Drª. Maria Irany Knackfuss, pela disponibilidade e pelo apoio nesses dois anos de mestrado. Muito obrigada! A todos os docentes do PPGSS, recebam meus mais sinceros e carinhosos agradecimentos. À Profª. Drª. Lucineire Lopes de Oliveira e o Prof. Dr. Humberto Jefferson de Medeiros, pelas valiosas contribuições na minha banca de qualificação. Aos membros da banca de defesa, tenho certeza que as contribuições de vocês servirá para as reorientações necessárias a esta pesquisa e para o meu crescimento como principiante na pesquisa. Então, sou grata a todos que, direta ou indiretamente, estiveram comigo nessa caminhada, sintam-se agradecidos e com carinho abraçados. Muito Obrigada! 8 SUMÁRIO RESUMO................................................................................................. ABSTRACT.............................................................................................. 1 INTRODUÇÃO......................................................................................... 15 1.1 Objetivo.................................................................................................... 20 2 REFERENCIAL TEÓRICO...................................................................... 21 2.1 Políticas Públicas de Saúde no Brasil e a Atenção Primária à Saúde no Sistema Único de Saúde – SUS.............................................................. 2.2 Historicidade da Atenção à Saúde da Criança no mundo e no Brasil........................................................................................................ 2.3 21 29 A importância da avaliação da Atenção Primária à Saúde e o Instrumento de Avaliação da Atenção Primária – PCATool-Brasil......... 39 3 METODOLOGIA...................................................................................... 44 3.1 Tipo de Estudo......................................................................................... 44 3.2 Cenário do Estudo, População e Amostra............................................... 44 3.3 Instrumentos e Coleta de Dados.............................................................. 47 3.4 Análise dos Dados.................................................................................... 49 3.3 Procedimentos Éticos............................................................................... 50 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES............................................................. 51 4.1 Caracterização dos sujeitos participantes................................................ 51 4.2 Avaliação e comparação do desempenho dos Atributos Essenciais da Atenção Primária à Saúde do município de Mossoró/RN direcionados ao público infantil..................................................................................... 4.3 Avaliação e comparação do desempenho dos Atributos Derivados da Atenção Primária à Saúde do município de Mossoró/RN direcionados 53 ao público infantil..................................................................................... 76 5 CONCLUSÕES E SUGESTÕES............................................................. 85 6 REFERÊNCIAS....................................................................................... 87 9 LISTA DE TABELAS TABELA 1 CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA DAS MÃES/RESPONSÁVEIS E DAS CRIANÇAS PARTICIPANTES, MOSSORÓ, BRASIL, 2013.......................................................... 52 TABELA 2 VALORES MÉDIOS, RESPECTIVOS DESVIOS-PADRÃO, VALOR DA SIGNIFICÂNCIA ESTATÍSTICA E A COMPARAÇÃO ENTRE AS UBSF QUANTO AO GRAU DE AFILIAÇÃO NO SERVIÇO, MOSSORÓ, BRASIL, 2013............. 54 TABELA 3 VALORES MÉDIOS, RESPECTIVOS DESVIOS-PADRÃO, VALOR DA SIGNIFICÂNCIA ESTATÍSTICA E A COMPARAÇÃO ENTRE AS UBSF QUANTO AO ACESSO DE PRIMEIRO CONTATO - UTILIZAÇÃO, MOSSORÓ, BRASIL, 2013............................................................................................. 56 TABELA 4 VALORES MÉDIOS, RESPECTIVOS DESVIOS-PADRÃO, VALOR DA SIGNIFICÂNCIA ESTATÍSTICA E A COMPARAÇÃO ENTRE AS UBSF QUANTO AO ACESSO DE PRIMEIRO CONTATO - ACESSIBILIDADE, MOSSORÓ, BRASIL, 2013............................................................................... 58 TABELA 5 VALORES MÉDIOS, RESPECTIVOS DESVIOS-PADRÃO, VALOR DA SIGNIFICÂNCIA ESTATÍSTICA E A COMPARAÇÃO ENTRE AS UBSF QUANTO A LONGITUDINALIDADE DA ASSISTÊNCIA, MOSSORÓ, BRASIL, 2013............................................................................... 61 TABELA 6 VALORES MÉDIOS, RESPECTIVOS DESVIOS-PADRÃO, VALOR DA SIGNIFICÂNCIA ESTATÍSTICA E A COMPARAÇÃO ENTRE AS UBSF QUANTO À COORDENAÇÃO – INTEGRAÇÃO DE CUIDADOS, MOSSORÓ, BRASIL, 2013............................................................................................. 65 TABELA 7 VALORES MÉDIOS, RESPECTIVOS DESVIOS-PADRÃO, VALOR DA SIGNIFICÂNCIA ESTATÍSTICA E A COMPARAÇÃO ENTRE AS UBSF QUANTO À COORDENAÇÃO – SISTEMA DE INFORMAÇÕES, 10 MOSSORÓ, BRASIL, 2013.......................................................... 68 TABELA 8 VALORES MÉDIOS, RESPECTIVOS DESVIOS-PADRÃO, VALOR DA SIGNIFICÂNCIA ESTATÍSTICA E A COMPARAÇÃO ENTRE AS UBSF QUANTO À INTEGRALIDADE - SERVIÇOS DISPONÍVEIS, MOSSORÓ, BRASIL, 2013............................................................................... 71 TABELA 09 VALORES MÉDIOS, RESPECTIVOS DESVIOS-PADRÃO, VALOR DA SIGNIFICÂNCIA ESTATÍSTICA E A COMPARAÇÃO ENTRE AS UBSF QUANTO À INTEGRALIDADE – SERVIÇOS PRESTADOS, MOSSORÓ, BRASIL, 2013............................................................................... 74 TABELA 10 VALORES MÉDIOS, RESPECTIVOS DESVIOS-PADRÃO, VALOR DA SIGNIFICÂNCIA ESTATÍSTICA E A COMPARAÇÃO ENTRE AS UBSF QUANTO À ORIENTAÇÃO FAMILIAR, MOSSORÓ, BRASIL, 2013....................................... 77 TABELA 11 VALORES MÉDIOS, RESPECTIVOS DESVIOS-PADRÃO, VALOR DA SIGNIFICÂNCIA ESTATÍSTICA E A COMPARAÇÃO ENTRE AS UBSF QUANTO À ORIENTAÇÃO COMUNITÁRIA, MOSSORÓ, BRASIL, 2013............................... 80 TABELA 12 VALORES MÉDIOS, RESPECTIVOS DESVIOS-PADRÃO, VALOR DA SIGNIFICÂNCIA ESTATÍSTICA E A COMPARAÇÃO ENTRE AS UBSF QUANTO AOS ESCORES ESSENCIAL E GERAL DA APS, MOSSORÓ, BRASIL, 2013..... 83 11 LISTA DE QUADROS QUADRO 1 LINHAS DE CUIDADO PRIORITÁRIAS E PRINCIPAIS AÇÕES DA ÁREA TÉCNICA DE SAÚDE DA CRIANÇA E ALEITAMENTO MATERNO – ATSCAM...................................... 30 QUADRO 2 CARACTERIZAÇÃO DAS UNIDADES BÁSICAS DE SAÚDE DA FAMÍLIA ESTUDADAS E O NÚMERO TOTAL DA AMOSTRA DE TRABALHADORES E DAS 46 MÃES/RESPONSÁVEIS.............................................................. 12 LISTA DE ABREVIATURAS ACS - Agente Comunitário de Saúde APS - Atenção Primária à Saúde AIDPI - Atenção Integrada às Doenças Prevalentes na Infância ATSCAM - Área Técnica de Saúde da Criança e Aleitamento Materno CORSAMI - Coordenação de Saúde Materno Infantil CPMI - Coordenação de Proteção Materno-Infantil DINSAMI - Divisão Nacional de Saúde Materno-Infantil DNCr - Departamento Nacional da Criança ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente ESF - Estratégia Saúde da Família IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística INAM - Programa Nacional de Incentivo ao Aleitamento Materno MS - Ministério da Saúde ONU - Organização das Nações Unidas ONGs - Organizações Não Governamentais PAISMC - Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher e da Criança PAISC - Programa de Assistência Integral à Saúde da Criança PAISM - Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher PCATool - Primary Care Assessment Tool PNPI - Plano Nacional de Primeira Infância PSF - Programa Saúde da Família SUS - Sistema Único de Saúde UBSF - Unidade Básica de Saúde da Família UNICEF - Fundo das Nações Unidas para a Infância 13 RESUMO Atenção Primária à Saúde (APS) representa o primeiro nível de atenção dentro do sistema de saúde, caracterizando-se pelos atributos: acesso ao primeiro contato com o sistema de saúde, longitudinalidade, integralidade da atenção, coordenação da assistência, orientação familiar, orientação comunitária e a competência cultural. No Brasil, com a inserção da APS, os serviços de saúde passaram a se organizar para atender as diferentes demandas dos distintos grupos sociais. Na Atenção à Saúde da Criança, o setor saúde deve ter como passos constituintes as seguintes ações básicas: acompanhamento do crescimento e desenvolvimento, atenção à saúde do recém-nascido, promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno e prevenção de violências e promoção da cultura de paz. Nesse sentido, esta pesquisa objetivou avaliar a atenção à saúde da criança no âmbito da Atenção Primária à Saúde do município de Mossoró/RN a partir da ótica das mães/responsáveis e dos trabalhadores de saúde. Trata-se de uma pesquisa descritiva, com delineamento transversal e abordagem quantitativa e qualitativa dos dados. Os sujeitos da pesquisa foram mães/responsáveis por crianças de 0 a 9 anos cadastradas em 8 Unidades Básica de Saúde da Família – UBSF e profissionais médicos e enfermeiros inseridos nesses espaços. Ao final, a amostra ficou composta por 363 mães/responsáveis e 20 profissionais de saúde. Com as mães/responsáveis foi utilizado o instrumento Primary Care Assessment Tool - PCATool-Brasil na versão criança, já validado no Brasil e com os profissionais fez-se uso de um roteiro para entrevista semiestruturada, na perspectiva de apreender os aspectos que interatuam na práticas destinadas a atenção à saúde da criança. A coleta de dados ocorreu nas UBSF selecionadas, em ambiente que proporcionava a privacidade dos participantes do estudo. Foram identificados fatores negativos referentes aos atributos: Acessibilidade, Longitudinalidade, Coordenação - Integração de Cuidados, Integralidade - Serviços Disponíveis, Integralidade - Serviços Prestados, Orientação Familiar e Orientação Comunitária, os quais registraram escores gerais abaixo para APS na maioria das unidades avaliadas. Os atributo “Acesso de Primeiro Contato – Utilização” obteve médias consideradas como de altos escores em sete das oito UBSF estudadas, e o atributo “Coordenação – Sistema de Informações” apresentou escores superiores em todas as unidades. Aspectos como a sobrecarga de trabalho, estrutura física inadequada das unidades, falta de profissionais capacitados para atender o público infantil e a falta de um trabalho em equipe foram considerados pelos profissionais entrevistados como entraves na assistência à saúde da criança. Enquanto aspectos que potencializava as práticas direcionadas ao público infantil, os trabalhadores mencionaram: o acompanhamento do Crescimento e Desenvolvimento da criança pelo enfermeiro, o trabalho em equipe e o comprometimento de alguns profissionais na prestação de uma atenção adequada a essa população. Assim, no município em questão, concluiu-se que as UBSF avaliadas estão aquém das diretrizes da APS, pois obtiveram escores essenciais e escores gerais muito abaixo do ideal. Portanto, é necessário rever as ações vinculadas à assistência à saúde da criança, a fim de alcançar consonância com os atributos da Atenção Primária à Saúde. Palavras Chaves: Saúde da Criança. Atenção Primária à Saúde. Políticas Públicas de Saúde. Enfermagem Pediátrica. 14 ABSTRACT Primary Health Care (PHC) is the first level of care within the health system, characterized by the attributes: access to first contact with the health system, longitudinality, comprehensive care, coordination of care, family counseling, community orientation and cultural competence. In Brazil, with the insertion of PHC health services started to organize themselves to meet the different demands of different social groups. In Care of Children's Health, the health sector should take steps as constituents the following basic actions: monitoring growth and development, health care for the newborn, promotion, protection and support of breastfeeding and prevention of violence and promotion of culture peace. Thus, this study aimed to assess the health care of children in the Primary Care of the municipality of Mossoró/RN Health from the perspective of mothers / guardians and health workers. This is a descriptive, cross-sectional design and quantitative and qualitative data analysis. The subjects were mothers / caregivers of children 0-9 year olds registered on 8 Basic Units Family Health - UBSF and doctors and nurses inserted professionals in these spaces. Finally, the sample was composed of 363 mothers/carers and 20 health professionals. With mothers / guardians the instrument Primary Care Assessment Tool was used - in Brazil PCATool - child version, already validated in Brazil and professionals made use of a roadmap for semi-structured interview, the perspective of learning the aspects that interact in practice aimed at the health of the child. Data collection occurred in selected, in an environment that provided the privacy of study participants UBSF. - Integration of Care, Completeness - Available Services, Completeness - Servicing, Family and Community Guidance Guidance, which registered the scores below to APS in most of the units accessibility, Longitudinality, Coordination: negative factors regarding the following attributes were identified. The "Access to First Contact - Use " attribute averaged considered as high scores on 7 of 8 UBSF studied , and the " Coordination Information System " attribute had higher scores in all units . Aspects such as work overload, inadequate physical structure of units, lack of skilled cater to younger audiences and lack of teamwork professionals were considered by respondents as barriers in professional health care to the child. While aspects potencializava practices directed at children, workers mentioned: monitoring the growth and development of the child by the nurse, teamwork and commitment of some professionals in providing appropriate care to this population. Thus, in the municipality in question, it was concluded that the UBSF assessed falls short of the APS guidelines, as achieved essential scores and overall scores far below the ideal. Therefore, it is necessary to review the linked assistance to child health actions in order to achieve harmony with the attributes of the Primary Health Care. KEY WORDS: Comprehensive child health care. Primary Health Care. Health Policy. SUS. 15 I INTRODUÇÃO É sabido que a atenção à saúde, mesmo nos dias atuais, ainda se encontra fundamentada no paradigma flexneriano, sendo priorizado o cuidado clínico e excludente em detrimento de práticas que apontem novos olhares para os indivíduos/comunidades em sua dimensão integral. Há algumas décadas, muito tem sido refletido na busca por mudanças, destacando-se, em primeiro momento, a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, que passou a considerar a saúde como um direito humano fundamental (BRASIL, 1998). A I Conferência Internacional de Cuidados Primários em Saúde, realizada em 1978, na cidade de Alma-Ata, no Cazaquistão, trouxe também conquistas importantes para o setor saúde. Desde então, diversos países como Inglaterra, Canadá, Espanha e Cuba, reorganizaram seus sistemas de saúde, priorizando uma assistência de fácil acesso, integral e continuada a ser desenvolvida junto à comunidade (BRASIL, 2011a). Essa reorganização passou a apontar para práticas que delineavam uma proposta de ação com base na Atenção Primária à Saúde (APS), configurando-se como prioridade para o atendimento das necessidades de saúde dos diferentes grupos. Assim, começou a se pensar a atenção em saúde numa perspectiva de reorientação da prática clínica, curativa e excludente vigente em função de uma prática primária, articulada com as diferentes necessidades dos indivíduos (BRASIL, 2011a; 2011b). Conforme Starfield (2002), a Atenção Primária à Saúde é definida como o primeiro nível de atenção dentro do sistema de saúde, caracterizando-se pela presença de quatro atributos essenciais (acesso no primeiro contato com o sistema de saúde, a longitudinalidade, a integralidade da atenção e a coordenação da assistência dentro do sistema) e três atributos derivados (orientação familiar, orientação comunitária e a competência cultural), princípios que compõem a dimensão total da Atenção Primária. No Brasil, a criação do Sistema Único de Saúde (SUS), por meio da Constituição Federal de 1988, representa o passo mais importante para as mudanças que ocorreram nos serviços de saúde. Sabe-se que o SUS é resultado de um processo histórico de luta do movimento da Reforma Sanitária e de seus antecedentes processuais de redemocratização do país (PAIM, 2009). Assim, pode- 16 se afirmar que a implantação do SUS representa uma grande conquista para o setor saúde, uma vez que sua política veio redesenhando os contornos da atenção à saúde no Brasil. Enquanto missão, o sistema veio assegurar que seus serviços sejam ajustados as necessidades sociais de cada brasileiro a partir dos princípios da universalidade, equidade, integralidade, e as diretrizes organizativas: descentralização, regionalização, hierarquização e a participação da comunidade (PAIM, 2009). A inserção da Atenção Primária à Saúde nesse contexto aconteceu em 1991, após a criação do SUS, quando o Ministério da Saúde (MS) lançou o Programa de Agente Comunitário de Saúde (PACS). Esse programa tinha como objetivo diminuir os indicadores de morbimortalidade materna e infantil na região Nordeste do país. Com o êxito do PACS, o MS criou, em 1994, o Programa de Saúde da Família (PSF), que logo ficou conhecido como uma estratégia de mudança do modelo de atenção à saúde no Brasil, buscando provocar reflexões e transformações nas instituições, nos padrões de pensamento e comportamento dos profissionais e cidadãos brasileiros (PAIM, 2009). Essas mudanças buscavam lançar um novo olhar para o cuidado em saúde, tendo em vista práticas integrais e que procurassem ver o indivíduo não enquanto uma patologia, mas como um ser social. Na perspectiva de mudanças, os serviços de saúde do país se organizaram para atender as diferentes demandas dos distintos grupos sociais. No que diz respeito à Atenção à Saúde da Criança, observa-se que, nos últimos anos, os cuidados destinados a este ciclo de vida vêm passando por diversas reestruturações. Essas transformações foram atribuídas não apenas aos avanços técnico-científicos, mas também ao surgimento das diretrizes que compõem as políticas públicas voltadas para o público infantil e ao desenvolvimento e participação de vários segmentos e agentes da sociedade (BRASIL, 2011c). No Brasil, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), dos 190 milhões de brasileiros, as crianças de 0-9 anos representam 28.765.533 da população, desses 14.124.402 milhões são do sexo feminino e 14.641.131 milhões são do sexo masculino (BRASIL, 2010a). Para o Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA, a criança é a pessoa até 11 anos de idade e o adolescente entre 12 e 18 anos. O Ministério da Saúde considera criança a pessoa de 0 a 9 anos e o adolescente de 10 a 19 anos. A divisão em ciclos de vida, adotada 17 pelo MS, busca atender as especificidades nas fases de crescimento e desenvolvimento da criança e o início da puberdade (BRASIL, 2010b). Diante dessa população em destaque e com foco na resolução da morbimortalidade infantil, estratégias foram e são continuamente organizadas para minimizar os riscos e agravos, sendo garantidas inclusive por leis. Tanto é que o Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu artigo 11º, assegura o direito a um atendimento integral para a criança e o adolescente, por meio do Sistema Único de Saúde, destacando o acesso universal e igualitário às ações e serviços para a promoção, proteção e recuperação da saúde (BRASIL, 2010b). Desde então políticas foram gestadas e estratégias organizadas para dar conta das necessidades desse grupo populacional. Referente às práticas de promoção e prevenção ao processo saúde/doença da criança, o papel da Estratégia Saúde da Família (ESF) merece destaque, pois de acordo com uma publicação sobre a situação mundial da infância, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), reconheceu a ESF como uma das principais políticas adotadas pelo Brasil e responsável pela redução da mortalidade infantil nos últimos anos (BRASIL, 2010b). Nesse sentido, a atenção integral à saúde da criança deve estar vinculada a ESF como ação fundamental para o desenvolvimento infantil. Nessa dimensão, o setor saúde deve ter como passos constituintes para Atenção Integral à Saúde da Criança, as seguintes ações básicas: acompanhamento do crescimento e desenvolvimento, atenção à saúde do recém-nascido, promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno e prevenção de violências e promoção da cultura de paz (BRASIL, 2011c). Além disso, os profissionais de saúde inseridos nos serviços precisam estar capacitados para atuar em face das diversidades econômicas, sociais e culturais com vistas ao atendimento integral e eficiente diante das diferentes necessidades (LEÃO; CALDEIRA; OLIVEIRA, 2011). Sob essa perspectiva, ressalta-se a importância da Atenção Primária à Saúde como uma estratégia essencial para organizar os serviços de saúde, de maneira a possibilitar o acesso universal aos serviços e a atenção integral e integrada no decorrer do tempo. Para autores como Leão, Caldeira e Oliveira (2011), é possível afirmar que melhores resultados dos serviços de APS serão alcançados a partir do conhecimento e operacionalização de seus princípios ordenadores. Ainda segundo esses mesmos autores, experiências vêm mostrando que os sistemas de saúde que 18 se organizam a partir de uma Atenção Primária, estruturada em conformidade com os seus atributos essenciais e derivados, são mais eficazes e de maior qualidade. No entanto, apesar de entender todos esses aspectos, observa-se uma forte influência do modelo hegemônico no cotidiano dos serviços de saúde, caracterizadas por práticas pontuais e com ações curativistas, dificultando o desenvolvimento de ações de promoção e prevenção da saúde (CASTRO et al., 2012). Assim, parte-se do pressuposto que as avaliações de saúde devem levar em consideração toda a complexidade que envolve o processo saúde-doença e a íntima relação da qualidade da atenção à saúde com os diferentes aspectos existentes no cotidiano dos serviços, sejam eles relacionados à sua dimensão humana, estrutural e de materiais. Nesta perspectiva, a implantação das Políticas Públicas de Saúde, muitas vezes acaba ocorrendo de forma vertical, sem respeitar as especificidades de cada região, desenvolvendo programas previamente formatados, que nivelam os serviços de saúde, sem considerar o contexto social em que a população se insere, tornando-se ainda mais difícil, e até mesmo inviabilizando o desenvolvimento de práticas orientadas para a qualidade na atenção à saúde da criança. Observa-se ainda que as propostas voltadas para o público infantil não conseguem dar conta das reais necessidades sociais, biológicas, econômicas e culturais desse grupo e dos profissionais da saúde. Sendo visualizado, muitas vezes, práticas do modelo hegemônico que ainda continuam influenciando a atuação dos trabalhadores e gestores do sistema saúde, imobilizando, desse modo, a própria população na busca de autonomia e participação em questões referentes à saúde. Portanto, observa-se que a qualidade da atenção prestada acaba por não satisfazer as necessidades do grupo em destaque, configurando-se como mais um instrumento engessado, que não consegue dar resposta aos anseios da população e dos profissionais que fazem parte desta dinâmica. Diante disso, potencializa a qualidade das práticas à possibilidade de avaliação das ações desenvolvidas junto à Atenção Primária à Saúde, em particular nos cuidados com o grupo infantil, tanto com quem presta como com quem recebe a assistência. Sabe-se que avaliar é instrumento que pode favorecer a apreensão dos aspectos limitantes e potencializadores do fazer cotidiano e, consequentemente, pode contribuir com a reorientação das práticas em saúde. Assim, diante das diversas necessidades em saúde apresentadas nos serviços, e por suas 19 características organizacionais e assistenciais, torna-se fundamental avaliar o processo de cuidado na atenção à saúde da criança, destacando a presença e a extensão dos atributos essenciais e derivados da APS, e ainda os avanços e limites presentes na assistência a esse público em destaque. A justificativa para a realização desta pesquisa baseia-se na sua relevância acadêmica e social, e por constituí-se em estudo com viabilidade técnica operacional. Investigações capazes de produzir conhecimentos sobre a qualidade da atenção voltada para a criança, nos serviços de APS, são bastante úteis no âmbito do SUS na perspectiva de se pensar estratégias que possibilitem mudanças nas práticas dos profissionais de saúde. Assim, avaliar a atenção e a forma de organização dos serviços da ESF na saúde da criança possibilita apontar caminhos para as mudanças possíveis e capazes de promover melhorias das ações e das práticas direcionadas a esta população, no cenário local com repercussões a nível regional e estadual. No que se refere à contribuição acadêmica, essa pesquisa aborda um tema pouco estudado no país, e que por vezes passa despercebido tanto pelos serviços como pelos profissionais de saúde. Os resultados da pesquisa devem contribuir com subsídios que possibilitem conhecimento acerca da presença e extensão dos atributos da APS, a partir da ótica das mães/responsáveis pelas crianças que são atendidas nesses serviços, refletindo, assim, sobre os aspectos que interatuam nas práticas cotidianas direcionadas a esse público. Desse modo, os usuários são considerados não somente como consumidores de serviços, e sim, como sujeitos ativos junto com os profissionais na consolidação de práticas de promoção à saúde da criança. Para o cenário nacional, esse estudo pode contribuir para a produção de saberes, visando aprimorar práticas de Atenção Primária à Saúde da criança, a partir também do exercício de repensar as políticas e de como na realidade dos serviços essas são desenvolvidas. Destaca-se ainda que esse estudo é pioneiro no Rio Grande do Norte, o que estimula novas investigações a nível regional, estadual e nacional. Portanto, pode-se afirmar que pesquisas que buscam avaliar, reconhecer e interpretar as diversas necessidades de saúde apresentadas pelos usuários são imprescindíveis para que os princípios do Sistema Único de Saúde sejam de fato implementados. 20 1.1 OBJETIVO Avaliar a presença e extensão dos atributos essenciais e derivados do cuidado prestado na Atenção Primária à Saúde de crianças de 0 a 9 anos do município de Mossoró/RN sob a ótica das suas mães/responsáveis. 21 II REFERENCIAL TEÓRICO Freire (2005) afirma que, para compreender o presente, é preciso voltar para o passado, haja vista que as vivências de hoje são frutos do que foi construído anteriormente, porém não se pode acreditar que o futuro já está previamente estabelecido pelas escolhas de outrora. Pelo contrário, ao olhar o passado, entendese o presente. E, a partir do momento em que se constrói uma consciência crítica acerca da realidade que está inserido, é possível construir um futuro diferente. Sob essa perspectiva, para compreender a que se propõe o campo da Saúde da Criança atualmente, é necessário entender como as ações voltadas para o público infantil foram sendo construídas ao longo do tempo. Assim, este capítulo traz como se deu a inserção da Atenção Primária à Saúde no Sistema Único de Saúde, faz ainda um breve resgate sobre o surgimento da Atenção à Saúde da Criança no mundo e no Brasil, focando as políticas que foram surgindo no Brasil para atender a essa população. Por último, apresenta o Instrumento de Avaliação da Atenção Primária – PCATool-Brasil versão criança, abordando a sua importância na avaliação dos atributos da Atenção Primária à Saúde. 2.1 Políticas Públicas de Saúde no Brasil e a Atenção Primária à Saúde no Sistema Único de Saúde - SUS No Brasil, na segunda metade dos anos de 1970, acontecia um movimento em prol da reforma sanitária, que se intensificou na década de 1980, com propostas de transformação do regime autoritário e do Sistema Nacional de Saúde, defendendo a democratização da saúde e a reestruturação dos serviços (PAIM, 2009). Dentro do processo de Reforma Sanitária Brasileira, surgiu a 8ª Conferência Nacional de Saúde (CNS), realizada em março de 1986, que segundo Mendes (1999) foi o principal evento político-sanitário, diferenciando-se das anteriores pela significativa Participação Popular. A 8ª CNS trouxe conquistas importantes para o setor saúde, uma vez que nessa mesma conferência lançaram-se os princípios do Sistema Único de Saúde. 22 Nesse sentido, destaca-se que o SUS surgiu com os seguintes princípios: universalidade, equidade e integralidade e as diretrizes organizativas: descentralização, regionalização, hierarquização e a participação da comunidade, sendo aprovado pela Constituição Federal Brasileira de 1988, reconhecendo ainda a saúde como um direito de todos e dever do estado (PAIM, 2009). Conforme Costa, Pontes e Rocha (2006, p.96), esse movimento “é considerado o ponto de partida das mudanças que se tem processado no campo da saúde nos últimos anos, e contabiliza como maior conquista a inclusão da saúde, na Constituição Brasileira de 1988”. Ficando evidente que as modificações no setor saúde exigiam mais de que uma simples reforma administrativa e financeira, seria necessária também uma ampliação do conceito de saúde. O documento final da 8ª CNS define o conceito de saúde como resultante das condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso a serviços de saúde (PAIM, 2009). Essa ampliação do conceito de saúde acabou implicando em mudanças paradigmáticas na forma como os serviços de saúde estavam sendo produzidos, uma vez que o autoritarismo da prática médica até então predominante, baseado num paradigma hegemônico/curativista/individualista, que não valorizava o saber do outro, deveria a partir de então ser superado, para que atendesse a esse novo conceito de saúde (PAIM, 2009). Sob essa perspectiva e em busca do fortalecimento dos princípios do SUS, o Ministério da Saúde baseou-se nas experiências de países como a Inglaterra, Canadá, Espanha e Cuba para implementar mudanças no modelo de assistência em nível nacional. Esses países reorganizaram seus sistemas de saúde dando prioridade à atenção com acesso universal, continuada e integral junto à comunidade. Com outras palavras, esses países desenvolveram seus sistemas de saúde orientados para a Atenção Primária à Saúde (BRASIL, 2011b). A moderna concepção de Atenção Primária à Saúde surgiu ainda década de 1920, no Reino Unido, através do relatório Dawson, que propõe a organização do sistema de serviços de saúde em três níveis: os centros primários e secundários de atenção à saúde e os hospitais de ensino. Essa proposta representou a base da regionalização dos serviços de saúde em bases populacionais, influenciando a organização desses sistemas em diversos países do mundo. Para alcançar os objetivos a que se propõe, essa proposta encontrava-se baseado em quatro 23 diretrizes: o Estado como provedor e encarregado do controle de políticas de saúde; o trabalho em equipe nos serviços de saúde; desenvolvimento de instituições responsáveis pelo diagnóstico e tratamento de casos agudos; medicina curativa e preventiva em conjunto, sem separações (STARFIELD, 2002). Diante desse contexto, muito tem sido feito nas últimas décadas para trazer mudanças nas condições de saúde das populações. Apesar de a proposta ter influenciado diversos países, a Atenção Primária à Saúde só foi inserida como modelo universal em 1978, destacando-se, como já mencionado anteriormente, a I Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde, preparada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Unicef, resultando na Declaração de Alma-Ata. A Conferência de Alma-Ata foi um marco importante neste processo, estabeleceu como meta a “Saúde para Todos no Ano 2000”. Na ocasião, consagrouse em definitivo o papel fundamental dos cuidados de saúde primários, sendo consenso que a promoção e proteção da saúde dos povos são essenciais para o contínuo desenvolvimento econômico e social e, consequentemente, para a melhoria da qualidade de vida das pessoas (BRASIL, 2011a; 2011b; STARFIELD, 2002). A Atenção Primária à Saúde, segundo Starfield (2002, p.46) é reconhecida como “a oferta da medicina ao primeiro contato; a suposição de responsabilidade longitudinal pelo paciente sem considerar a presença ou ausência de doença; e a integração de aspectos físicos, psicológicos e sociais de saúde aos limites da capacitação da equipe de saúde”. Esta caracterização explicita os quatro atributos essenciais e os três atributos derivados da APS (STARFIELD, 2002). O primeiro contato pressupõe a acessibilidade e o uso de serviço para cada novo problema de saúde ou novo episódio do mesmo problema, para os quais se procura os serviços de saúde. A longitudinalidade, por sua vez, tem como essência a relação que se estabelece ao longo do tempo, e requer a existência de um aporte regular de cuidados pelos profissionais de saúde e seu uso requer um ambiente de relação mútua e humanizada entre equipe de saúde, indivíduos e famílias. A integralidade é a capacidade da equipe de saúde em lidar com a ampla gama de necessidades em saúde do individuo, da família ou das comunidades, por meio da oferta de um conjunto de ações e serviços, que pressupõe um conceito amplo de saúde, no qual necessidades biopsicossociais, culturais e subjetivas são reconhecidas. No caso, a promoção, a prevenção, e o tratamento são integrados na 24 prática clínica e comunitária e a abordagem é voltada para o indivíduo, sua família e seu contexto. A coordenação, o quarto atributo essencial, é indispensável para o sucesso dos demais, implica na continuidade da atenção, através da equipe de saúde, com reconhecimento dos problemas que requerem seguimento constante (BRASIL, 2011b; 2010c). Em relação aos atributos derivados, a orientação familiar torna indispensável considerá-la como sujeito do cuidado, o que exige uma interação entre equipe e esse núcleo social e o conhecimento integral de seus problemas de saúde. A orientação comunitária, por sua vez, pressupõe o reconhecimento das necessidades familiares em função do contexto físico, econômico, social e cultural no qual vivem, o que exige um entendimento de que o reconhecimento dessas necessidades pressupõe o conhecimento desses contextos. Por último, a competência cultural demonstra a importância da adaptação da equipe e dos profissionais de saúde às características culturais da população, com o intuito de facilitar a comunicação e a relação com a mesma (BRASIL, 2011b). Dentro da sua concepção, a APS apresenta algumas atividades essenciais com foco nas ações de promoção, prevenção, cura e reabilitação. Essas atividades são: educação para saúde; saneamento básico; programas de saúde maternoinfantil; prevenção de doenças endêmicas locais; tratamento apropriado de afecções e ferimentos comuns; provisão de medicamentos essenciais; promoção da nutrição e medicina tradicional (STARFIELD, 2002). Com o objetivo de apoiar os sistemas de saúde baseados na proposta de Atenção Primária à Saúde, vários encontros aconteceram, tais como: a Assembleia Mundial da Saúde, em 1986; a Primeira Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde em 1986 (Carta de Ottawa), na qual se discutiram os progressos alcançados desde a Declaração de Alma-Ata, o documento “Os objetivos da saúde para todos” (OMS) e a ação intersetorial para a saúde; o encontro “Desde Alma-Ata até o ano 2000, perspectivas a meio caminho” em 1988, além da XXXIII Reunião do Conselho Diretivo da OPAS em 1988 (BRASIL, 2011b). Assim, para que a atenção primária otimize a saúde, torna-se imprescindível a ênfase na saúde da população, isto é, no contexto social em que as pessoas vivem e não apenas nas suas doenças de modo individual. E nesse sentido, é preciso promover o cuidado de forma integral, considerando o meio social e físico no qual a afecção existe e como esta interatua nas respostas das pessoas aos seus agravos. 25 Ao direcionar os serviços de atenção primária para as necessidades das comunidades, assim como dos indivíduos que demandam cuidado de saúde, a atenção médica primária convencional estará bem próxima aos princípios da APS preconizados em Alma-Ata (STARFIELD, 2002). Starfield (2002) ainda afirma que, com um sistema de atenção primária adequado é possível diminuir os casos que indicam cuidados insatisfatórios, como: ausência de ações de prevenção de doenças e promoção da saúde, longos intervalos para visitas de seguimento, dificuldades de acesso a serviços de referência, além do aumento de hospitalizações por problemas passíveis de resolução por meio de uma atenção primária satisfatória. Nessa perspectiva, a APS deve cumprir três funções essenciais: o papel de resolver a maioria dos problemas de saúde que acontece em uma população, o papel organizador, relacionado à organização de fluxos e contra-fluxos das pessoas e o de responsabilização da saúde dos indivíduos, independente do ponto de atenção à saúde que estejam (MENDES, 2011). É pertinente ressaltar que foi a partir da Conferência de Alma-Ata que surgiram no Brasil muitas experiências caminhando na direção da inserção da Atenção Primária no modelo de atenção à saúde. Como já citado anteriormente, o Ministério da Saúde criou o PACS, em 1991, com a finalidade de diminuir os indicadores de morbimortalidade infantil e materna na região Nordeste do país. Com a experiência bem sucedida do PACS, o MS lançou o Programa Saúde da Família, denominado atualmente como Estratégia Saúde da Família, com o propósito de responder ao desafio de ampliar e qualificar a cobertura nesse nível de atenção nos municípios de pequeno porte. Com sua expansão para municípios de médio e grande porte, consolidou-se como modelo estruturante da Atenção Primária à Saúde no país (BICUDO et al., 2010; FERREIRA, 2010). A Estratégia Saúde da Família surgiu na perspectiva de proporcionar mudanças no modelo de assistência à saúde e, consequentemente, permitir transformações de suas práticas, com a finalidade de criar vínculos entre os profissionais de saúde e a comunidade, uma vez que estas instituições estão mais próximas dos usuários, e isso possibilita conhecer a dinâmica da área de abrangência coberta pela equipe de saúde (FERREIRA, 2010). A ESF, sob esse ponto de vista, vem sendo proposta pelo Ministério da Saúde como uma estratégia de reorganização da atenção primária. Suas ações 26 incorporam os princípios básicos do Sistema Único de Saúde, como a universalização, descentralização, integralidade e participação da comunidade e estrutura-se a partir da Unidade Básica de Saúde da Família - UBSF (SILVA et al., 2009). Brasil (2011b) refere que a ESF ao visar à mudança do modelo assistencial vigente, a família passa a ser o objeto da atenção, o que permite que vínculos e compromissos sejam estabelecidos entre os profissionais de saúde e a população. Assim, há uma compreensão ampliada do seu processo saúde-doença e da necessidade de intervenções que vão além da prática curativa. Desse modo, uma equipe de saúde da família adota o princípio de adscrição de famílias, tendo responsabilidade sobre a saúde de uma população composta de seiscentos a mil famílias, não excedendo o total de quatro mil pessoas moradoras de uma área geográfica definida. Cada equipe de saúde é constituída por um médico, um enfermeiro, dois auxiliares de enfermagem e quatro a seis agentes comunitários de saúde e, quando ampliada, conta com um cirurgião dentista, um auxiliar de consultório dentário e um técnico de higiene dental (BRASIL, 2007a; 2006a). No Brasil, a reconstrução do sistema de saúde a partir da implantação do Sistema Único de Saúde procurou, através de seus princípios norteadores, reorientação das práticas de saúde, até então equivocadamente centradas na consulta médica, com destaque para os serviços de emergência (PAIM, 2009). Nesse contexto, a implantação da ESF representou um passo fundamental, conciliando um conjunto de ações de promoção, proteção e recuperação da saúde dos indivíduos e da família, desde o recém- nascido ao idoso, de forma integral e contínua (PAIM, 2009). Em sendo uma proposta considerada substitutiva das práticas convencionais e abrangendo dimensões técnica, política e administrativa inovadoras, a ESF requer o desenvolvimento de novas habilidades e mudanças de atitudes. Para tanto, na reorganização das práticas de trabalho, tem-se como preceitos e atividades fundamentais, o diagnóstico de saúde da comunidade, o planejamento/programação locais, a complementaridade (integração entre os diversos níveis de atenção à saúde), a abordagem multiprofissional, a referência e contra-referência, a educação continuada, a ação intersetorial, o acompanhamento/avaliação e o controle social (BRASIL, 2011b; 2007a). 27 O impacto dessa estratégia sobre a saúde da população foi evidenciado quando estudos nacionais apontaram para uma melhoria de alguns indicadores, como: mortalidade infantil, mortalidade infantil pós-neonatal, internação por acidente vascular cerebral, entre outros. Assim, surgiram na literatura brasileira estudos que apontaram para as vantagens da ESF em relação aos outros modelos de atenção básica em saúde (BRASIL, 2006b; MENDES, 2011). Como coloca Erdmann e Sousa (2009), no sistema de saúde brasileiro, a Política de Atenção à Criança sempre esteve interligada à saúde materna, definida como política de Saúde MaternoInfantil. A percepção mais difundida da criança como ser em permanente desenvolvimento foi resultado de um longo processo que envolveu transformações na organização social, desde o ponto de vista da esfera privada das famílias, alcançando as políticas públicas, que permitiram a adoção de práticas e condutas para esse processo de mudanças. Essas práticas referiram-se à assistência, à saúde e à educação, ao validarem, como opção ao enfrentamento da questão social da criança, a adoção de um caráter universal, obrigatório e de responsabilidade do Estado com a população infantil. Nesse contexto, as autoras enfatizam que os cuidados básicos em saúde apresentam relevância como possibilidade para o enfrentamento dos problemas de morbidade, mortalidade e qualidade de vida da população infantil (ERDMANN; SOUSA, 2009). Para tanto, o MS definiu a ESF como um dos principais eixos integrador e essencial para a atenção integral à criança por meio da sistematização do acompanhamento infantil nas Unidades de Saúde da Família. A vigilância da saúde infantil, através da caderneta da criança, como instrumento de monitoramento do crescimento e desenvolvimento e as políticas que vem sendo desenvolvida ao longo dos anos, devem oferecer atendimento mais qualitativo ao público infantil, na tentativa de reverter ou melhorar os resultados dos dados epidemiológicos do país (ERDMANN; SOUSA, 2009). Desse modo, por meio da ESF, é recomendado que o desenvolvimento da criança seja acompanhado pelos profissionais de saúde, através de consultas agendadas, possibilitando a prevenção de agravos, e quando necessário, realizando intervenções e encaminhando para os serviços especializados (BRASIL, 2012). E, para que esse cuidado se desenvolva de forma mais efetiva e eficiente, é necessário um conhecimento prévio sobre as características relacionadas à morbidade e 28 mortalidade do público infantil. Neste contexto, a atenção à saúde da criança desenvolvida pela ESF apresenta grande relevância para o enfrentamento dos problemas relacionados aos cuidados insatisfatórios (SILVA et al., 2009). Costa et al. (2011) assevera que é nesse contexto que surgem indagações com relação à qualidade da atenção à saúde da criança prestada na Atenção Primária à Saúde, aos avanços e dificuldades na operacionalização das práticas e ações e por último com relação ao efeito ou impacto das estratégias para a população infantil. Sob essa perspectiva, é preciso entender que a especialidade de medicina de família mesmo estando se expandindo por todo o mundo, estudos demonstram que a maioria dos profissionais de saúde que trabalha nas equipes não tem especialização na área ou possuem pouco tempo de atuação na estratégia de saúde da família. Diante disso, alguns questionamentos surgem acerca da efetividade da assistência à saúde da população infantil por esses trabalhadores, visto que a falta de uma formação voltada para esse nível de atenção pode dificultar também no atendimento as necessidades de saúde apresentadas pelos os usuários de qualquer idade da comunidade no qual atuam (BRASIL, 2004a). Desta forma, para Costa et al. (2011), há de se desenvolver processos avaliativos pertinentes e oportunos capazes de compreender em que medida as ações e os princípios da ESF são direcionados à atenção à saúde da criança. Cabe refletir sobre o potencial transformador da ESF como reorganização da atenção primária e como reformulador do modelo assistencial hegemônico e biomédico tomando como medida a atenção à saúde da criança no Brasil. Diante dessa premissa, a atenção à saúde da criança representa um campo prioritário no cumprimento dos preceitos expressos no Estatuto da Criança e do Adolescente e nas políticas voltadas para esse público. Para tanto, o processo de cuidar da saúde dessa população deve ser desenvolvido com efetividade e eficiência, por meio do conhecimento das características de morbimortalidade em seus aspectos biológicos, demográficos e socioeconômicos (SILVA et al., 2012). Consoante Brasil (2010a), os dados sinalizam o impacto das ações de promoção à saúde direcionada à criança, no entanto, a população infantil ainda não usufrui de direitos conquistados e promulgados em documentos oficiais e pactuações realizadas, entre nações, para a melhoria da saúde infantil. 29 Para Gomes (2010), as mudanças observadas no perfil de adoecimento, na demanda por cuidados de saúde e na mortalidade de crianças e adolescentes não têm recebido o destaque necessário nos espaços acadêmicos e de gestão das políticas públicas de saúde. Ainda segundo essa autora, os movimentos estratégicos, a experiência acumulada e as pesquisas realizadas estavam até pouco tempo atrás focados no objetivo de alterar um quadro sanitário marcado por elevados índices de desnutrição e morbimortalidade por causas infecciosas. Nesse sentido, a avaliação de programas na área da saúde torna-se um elemento fundamental, na medida em que é apontado, de forma sistemática, o que ocorre na implantação de uma intervenção, com os seus aspectos facilitadores e limitadores e os efeitos produzidos na realidade observada, sendo necessário considerar a flexibilidade de análise, uma vez que a implantação e implementação de uma proposta de intervenção é um processo essencialmente dinâmico (SILVA; CALDEIRA, 2010). 2.2 Historicidade da Atenção à Saúde da Criança no mundo e no Brasil Para Machineski e Schneider (2011), a Atenção à Saúde da Criança tem sua história entrelaçada aos fatos sócio-político-econômicos que nortearam a história da humanidade. Percebe-se, no entanto, que a infância é um período da vida que até a metade do século XVIII tinha pouca relevância para a sociedade e, consequentemente, para as questões de saúde. Isso porque desde a Idade Média a visão que se tinha da criança era de um ser adulto em miniatura, e não de um ser em crescimento e desenvolvimento, e como tal poderia receber o mesmo tratamento que era dispensado aos adultos quando apresentava problemas de saúde. Mas, foi a partir do século XVIII que esse pensamento em relação à infância começou a ser modificado. A criança passou a ter importância para os serviços de saúde, na medida em que as necessidades econômicas e políticas impostas pelo modo de produção passaram a vigorar a partir da Revolução Industrial, com foco no bem estar do indivíduo como meio de produção. Dessa forma, tem-se a criação de serviços direcionados ao acompanhamento de pré-natal para as gestantes e puericultura para as crianças de zero a dois anos, a fim de avaliar e orientar os pais sobre o crescimento e desenvolvimento de seus filhos (MACHINESKI; SCHNEIDER, 2011). 30 Segundo Machineski e Schneider (2011), a partir do século XVIII a preocupação com as necessidades das crianças aumentaram, passando a ter uma maior importância também no cenário europeu. Já no Brasil, tal visão passou a ter impacto somente no século XIX, e isso aconteceu porque, tanto na Europa quanto no Brasil, a mudança de visões acerca da infância acompanhou um processo histórico e social semelhante a partir da colonização do novo mundo. Ainda no Brasil Colônia, a criança, vista como um pequeno adulto, era imposta a um sistema de educação patriarcal, baseado nas normas da igreja, no qual o castigo físico era utilizado como forma de reparar seus maus comportamentos. Esse tipo de educação além de causar danos físicos para as crianças da época, também causava danos psicológicos (MACHINESKI; SCHNEIDER, 2011). No Brasil Colônia não havia a assistência à saúde da criança, e a falta de um cuidado para esse período da vida permitiu que muitas vidas fossem dizimadas, devido principalmente às doenças infectocontagiosas. As mortes eram justificadas a partir de explicações religiosas, pois nessa época se tinha a crença que as crianças que morriam tornavam-se anjinhos no céu (MACHINESKI; SCHNEIDER, 2011). No Brasil, já no final do século XIX, a atenção à saúde da criança passou a ser visto como uma necessidade social e de desenvolvimento econômico, o que influenciou significamente nas estruturas familiares e nas diferentes formações, tendo em vista a mudança na concepção de infância e da forma como essa fase da vida passou a ser tratada (MACHINESKI; SCHNEIDER, 2011). Nessa época, os médicos higienistas procuravam prestar um atendimento diferenciado à criança ao perceberem que essa população não era bem tratada, em função do poder patriarcal e da tradição que priorizava a propriedade e a autoridade do pai, sendo todos os cuidados em saúde destinados ao pai, por se tratar do responsável em manter as posses da família. Desse modo, as ações desses higienistas buscavam a proteção, o cuidado, o amparo e a educação da criança, com o objetivo também de prevenir moléstias e diminuir o alto índice de mortalidade infantil (MACHINESKI; SCHNEIDER, 2011). No entanto, Brasil (2005a) afirma que no inicio do século XX, concomitante a propagação da importância da assistência à saúde da criança e do adolescente, principalmente por representar um futuro diferenciado para o povo brasileiro, engendrou-se também um conjunto de medidas, norteadas pela lógica higienista e 31 de inspiração normativo-jurídico. Isso aumentou o número de instituições fechadas para o cuidado de crianças e adolescentes, em sua maioria sob a tutela do campo filantrópico, instaurando-se um quadro de assistência institucionalizada, sob a forma de atendimento em asilos e orfanatos (BRASIL, 2005a). Nessa dimensão, desse longo processo na busca pela assistência as crianças e aos adolescentes, resultou, por um lado, a institucionalização do cuidado e, por outro, a criminalização da infância pobre, gerando abandono, desassistência, falta de cuidado e exclusão. Esse quadro durou até meados da década de 1960 (BRASIL, 2005a). É cônscio que o primeiro programa do Estado voltado para a proteção à maternidade, à infância e à adolescência foi criado ainda durante o Estado Novo (1937/1945). As ações desse programa eram desenvolvidas pelo Departamento Nacional de Saúde do Ministério da Educação e Saúde, por intermédio da Divisão de Amparo à Maternidade e à Infância. Em 1940, essas atividades foram assumidas pelo Departamento Nacional da Criança (DNCr), criado pelo presidente Getúlio Vargas (BRASIL, 2011c). Com a separação do Ministério da Educação e Saúde, foi instituído, em 1953, o Ministério da Saúde, que incorporou e assumiu as funções do DNCr. Em 1969 foi extinto o DNCr, sendo criado, em 1970, a Coordenação de Proteção Materno-Infantil (CPMI). Essa coordenação era vinculada à Secretaria de Assistência Médica e tinha o papel de planejar, orientar, coordenar, controlar, auxiliar e fiscalizar as atividades de proteção à maternidade, à infância e à adolescência, conforme Decreto nº 66.623, de 22 de maio de 1970 (BRASIL, 2011c). No final da década 1970, iniciou-se no Brasil, ainda no contexto de ditadura militar, o Movimento da Reforma Sanitária Brasileira, formulando propostas de transformação do regime autoritário, da concentração de poderes e do Sistema Nacional de Saúde, em defesa da democratização e da reestruturação dos serviços de saúde (PAIM, 2009). Ainda no final da década de 1970, começou a se articular os movimentos pela redemocratização do país, e isso permitiu uma nova visibilidade da situação de saúde da criança no país, o que resultou na promulgação dos direitos da criança na Constituição Federal de 1988 e na constituição da Lei 8.069/90 que rege o Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 2007b). Entretanto, a promulgação de um texto legal não conquistaria por si só as mudanças necessárias, uma vez que era 32 imprescindível mudanças no curso da história, operação que requer a efetivação de um novo modelo de assistência à saúde – de base comunitária e não mais institucionalizante –, dirigido a novos cidadãos: sujeitos de direitos e deveres. Em 1975, foi criado o Programa Nacional de Saúde Materno-Infantil, com o objetivo de contribuir para a redução dos índices de morbidade e mortalidade em mulheres e em crianças. Esse programa buscava reunir recursos financeiros, preparar a infraestrutura de saúde, garantir suplementação alimentar para a prevenção da desnutrição materna e infantil, melhorar a qualidade da informação, ampliar e melhorar a qualidade das ações dirigidas à mulher durante a gestação, o parto e o puerpério e à criança menor de cinco anos e estimular o aleitamento materno. Entre as diretrizes básicas desse programa destacou-se o aumento da cobertura de atendimento à mulher, à criança e, por conseguinte, a melhoria da saúde materno-infantil (BRASIL, 2011c). No ano seguinte, a Coordenação de Proteção Materno-Infantil passou por mudanças e começou a chamar-se Divisão Nacional de Saúde Materno-Infantil (DINSAMI). Essa coordenação estava vinculada à Secretaria Nacional de Programas Especiais de Saúde e se tornou o órgão responsável, em nível nacional, pela assistência à mulher, à criança e ao adolescente (BRASIL, 2011c). O Ministério da Saúde, em 1983, por meio da DINSAMI, formulou o Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher e da Criança (PAISMC), cujo objetivo era melhorar as condições de saúde da mulher e da criança, por meio da cobertura e de ações resolutivas da rede pública de serviços de saúde. Mas, já em 1984, o PAISMC foi desmembrado, dando lugar a dois programas específicos para a saúde da mulher e da criança: Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM) e Programa de Assistência Integral à Saúde da Criança (PAISC). Esses programas funcionavam de forma integrada e surgiram como resposta do setor saúde aos agravos mais frequentes desse grande grupo populacional (BRASIL, 2011c). O PAISC foi criado com o objetivo central de diminuir a morbimortalidade de crianças de zero a cinco anos de idade e alcançar melhores condições de saúde por meio do aumento da cobertura e da capacidade resolutiva dos serviços (BRASIL, 2011c). O Ministério da Saúde, através desse programa, marcou uma diretriz política para expansão e efetivação da rede de serviços básicos no país, usando a estratégia da assistência integral. Para isso, o acompanhamento do crescimento e do desenvolvimento infantil foi o eixo integrador das práticas assistenciais nessa 33 faixa etária, por meio da sistematização de retornos ao serviço de saúde. Assim, o programa buscava assegurar a assistência integral à saúde da criança, por meio de cinco ações básicas: promoção do aleitamento Materno e Orientação Alimentar para o desmame, controle da diarreia, controle das doenças respiratórias na infância, imunização e o acompanhamento do crescimento e do desenvolvimento (BRASIL, 2011c; ERDMANN; SOUSA, 2009). Após a implantação do PAISC, as suas avaliações subsequentes concluíram que estas ações não contribuíram para a integralidade da atenção, uma vez que tais atividades se limitavam à sobrevivência daqueles que viviam em situações de extrema pobreza. Isso aconteceu pelo fato desse programa ter se restringido a ações de pronto atendimento, assistência fracionada entre os diversos profissionais, com anamnese restrita às queixas e respostas pontuais aos problemas apresentados (ERDMANN; SOUSA, 2009). Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, observaram-se avanços na atenção à saúde da criança com a publicação da lei nº 8.069/90, que dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente. Esse Estatuto, em seu Artigo 227, expressa que “É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura [...]” (BRASIL, 2007b, p.10). No Estatuto ainda é assegurado que a criança têm direito à saúde por meio da efetivação de políticas públicas que proporcionem um nascimento e o desenvolvimento saudável com condições dignas de vida. Nesse sentido, a atenção integral à saúde da criança deve ser garantida através do Sistema Único de Saúde, com acesso universal e igualitário às ações e serviços para promoção, proteção e recuperação da saúde. Apesar da recomendação desses princípios, nem sempre esses direitos encontram-se garantidos no cotidiano dos serviços de saúde, sendo um desafio para os profissionais de saúde e demais áreas (YAMAMOTO; MELLO, 2011). Embora o ECA não se constituir-se em uma política de atenção à saúde da criança, serviu como base legal para outras políticas por se tratar de uma legislação de proteção à criança (BRASIL, 2011c). Além de todo esse aparato legal que começou a nortear a área da Saúde da Criança, em 1990, a DINSAMI passou a ser denominada Coordenação de Saúde Materno Infantil (CORSAMI), que era responsável pela normatização da assistência 34 à saúde da mulher e da criança, em nível nacional, a ser desenvolvida pelas diversas instâncias do SUS. Com essa mudança, buscava-se garantir as condições favoráveis à reprodução saudável e ao crescimento e desenvolvimento do ser humano. Suas atividades abrangiam ações de caráter promocional, preventivo, recuperador e reabilitador dessa população (BRASIL, 2011c). Ainda em 1990, foi realizado em Nova York a Reunião Mundial de Cúpula em Favor da Infância, organizada pelo Fundo das Nações Unidas em favor da Infância Unicef, com participação da OMS e de outros organismos internacionais. O Brasil, ao lado de mais de 160 países, assinou nesta reunião a ‘Declaração Mundial sobre a Sobrevivência, Proteção e o Desenvolvimento da Criança’ cujo objetivo era fazer um apelo universal e elaborar um conjunto de metas relacionadas ao bem-estar da criança para serem alcançadas ao longo da década (BRASIL, 2002a). Dentro deste contexto, com o reconhecimento da precária situação de saúde do público infantil, em 1995, o Ministério da Saúde adotou a AIDPI (Atenção Integrada às Doenças Prevalentes na Infância) como política de atenção a saúde da criança menor de cinco anos (BRASIL, 2002b). A estratégia AIDPI incorporou as ações do PAISC, introduzindo o conceito de integralidade e propondo um novo modelo de abordagem à saúde da criança na atenção primária, sistematizando o atendimento clínico e integrando ações curativas com medidas preventivas e de promoção da saúde (BRASIL, 2002b; FROTA et al., 2010). Em 1996, a CORSAMI foi extinta por meio da Portaria nº 2.179, de 1º de novembro, sendo criada a Coordenação de Saúde da Mulher e a Coordenação de Saúde da Criança e do Adolescente. Já em 1998, essas coordenações foram substituídas pelas atuais Áreas Técnicas de Saúde da Mulher, Saúde da Criança e Saúde do Adolescente e do Jovem. Neste mesmo ano, o Programa Nacional de Incentivo ao Aleitamento Materno (INAM) foi extinto, e suas ações agrupadas pela Área Técnica de Saúde da Criança, que passou a ser denominada Área Técnica de Saúde da Criança e Aleitamento Materno (ATSCAM) (BRASIL, 2011c). O Ministério da Saúde lançou também, em 2002, o Caderno de Atenção Básica - Saúde da Criança: acompanhamento do crescimento e desenvolvimento infantil; com a finalidade de adotar medidas para o crescimento e desenvolvimento saudáveis, enfocando a garantia do direito da população e o cumprimento do dever do Estado, associando as medidas recomendadas pela estratégia AIDPI. Estas normas de acompanhamento do crescimento e desenvolvimento foram sendo 35 gradativamente incorporadas às práticas da Estratégia Saúde da Família. Nessa perspectiva, as diretrizes políticas reafirmam que o crescimento e o desenvolvimento infantil são referenciais para todas as atividades de atenção à criança nos aspectos biológico, social, afetivo e psicológico (BRASIL, 2002a). Assim, o acompanhamento do crescimento sistemático da criança constitui o eixo central do atendimento direcionado a esse público e, considerando a qualidade de atendimento à criança, o Ministério da Saúde propõe o Calendário Mínimo de Consultas para a Assistência à Criança. Esse calendário consiste em sete consultas no primeiro ano de vida, duas consultas no segundo ano de vida e a partir dos três anos de idade uma consulta por ano, até os nove anos de idade. Nesses encontros devem ser avaliados o ganho de peso e identificadas as crianças com maior risco de morbimortalidade (BRASIL, 2002a). Em 2004, o Ministério da Saúde lançou a Agenda de Compromisso para a Saúde Integral da Criança e Redução da Mortalidade Infantil, com a finalidade de apoiar a organização da assistência ao público infantil e possibilitar a identificação de ações prioritárias para o cuidado integral na atenção à saúde da criança. Deve ser focado o atendimento básico, com ênfase nos vários espaços de atenção, como: unidades de saúde, domicílio, creches, escolas, hospitais, entre outros (BRASIL, 2004b). A criação dessa agenda teve como objetivo garantir o acesso universal e igualitário no SUS, propondo linhas de cuidado para a atenção integral à criança que devem ser incorporadas pelas equipes de saúde da família, tais como: promoção do nascimento saudável; acompanhamento do recém-nascido de risco; acompanhamento do crescimento e desenvolvimento e imunização; promoção do aleitamento materno e alimentação saudável; aos distúrbios nutricionais e anemias carenciais e abordagem das doenças respiratórias e infecciosas (BRASIL, 2004b; SILVA et al., 2009). Já em 2005, o Ministério da Saúde reeditou após revisão do Cartão da Criança, a Caderneta de Saúde da Criança, como instrumento importante para a vigilância integral. Essa mudança foi importante, pois a nova caderneta passou a conter dados como: alimentação saudável, espaço para a anotação do peso e da estatura, gráficos para anotações do desenvolvimento global, local de anotações de intercorrências clínicas, tratamentos realizados, suplementação de ferro e Vitamina A e o calendário de vacinação. Outra mudança com esta nova caderneta foi a 36 ampliação da faixa etária para o acompanhamento das crianças até os dez anos, o que mostra uma preocupação com a atenção integral da criança e os seus direitos como cidadã brasileira (BRASIL, 2007c). A atenção integral à saúde da criança representa um campo prioritário, dentro dos cuidados à saúde das populações. Assim, os marcos do desenvolvimento, contido na Caderneta de Saúde da Criança, permite o diálogo entre o profissional de saúde e a família da criança, na perspectiva de conseguir as informações necessárias para a definição das ações indicadas, quer sejam clínicas e/ou educativas, para o momento (BRASIL, 2007c). É importante destacar ainda que, reduzir a mortalidade infantil é um dos objetivos de desenvolvimento do milênio, proposto pela OMS em 2002, no qual 191 países membros da ONU acordaram que até 2015 atingirão os seguintes objetivos: Erradicar a pobreza extrema e a fome; alcançar a educação primária universal; promover a igualdade de gênero e a autonomia das mulheres; reduzir a mortalidade infantil; melhorar a saúde materna; combater o HIV/AIDS, a malária e outras doenças; garantir a sustentabilidade ambiental e desenvolver uma parceria global para o desenvolvimento (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2002). Apesar dos avanços visíveis, alguns indicadores de saúde da criança, como por exemplo, a mortalidade infantil, ainda sinalizam para problemas que precisam de ações/práticas/intervenções na busca de melhorá-los. No Brasil, mesmo com declínio nas taxas de mortalidade infantil, de 47 mortes para cada mil crianças nascidas vivas, em 1990, para 23,3 mortes para cada mil crianças nascidas vivas, em 2008, esse dado ainda não pode ser considerado baixo de acordo com os padrões da OMS. Nesses padrões a classificação consiste em: altas (50 por 1.000 ou mais), média (20-49 por 1.000) e baixa (menores que 20 por 1.000) (BRASIL, 2010a). Nesse caso, o Brasil ainda permanece com a maior taxa de mortalidade infantil se comparado a outros países da América do Sul, como Colômbia (17,4), Argentina (11,4), Uruguai (11,3) e Chile (7,7). Ressalta-se ainda que as taxas de países desenvolvidos são geralmente inferiores a 10, como no Canadá (5,0); Suíça (4,2); França (3,3); Japão (2,8); entre outros (BRASIL, 2010a). Nesse cenário ainda preocupante, em 2008 foi esboçado o Plano Nacional de Primeira Infância – PNPI, discutido pelo Estado, pelas Organizações não governamentais (ONGs) e pela sociedade civil cuja preocupação era a qualidade de vida na infância. Esse plano determinou diretrizes e metas que devem ser tomadas 37 pelo Estado para fazer valer os direitos da criança de 0 a 6 anos de idade. O PNPI representou, sobretudo, uma expressão da vontade nacional de cumprir os compromissos internacionais assumidos pelo país em documentos como: a Convenção dos Direitos da Criança, das Nações Unidas, o Plano de Educação de Dacar 2000/2015 e os Objetivos do Milênio, de que o Brasil é signatário e com os quais está comprometido (BRASIL, 2010a). Para alcançar o objetivo a que se propõe, o PNPI ressaltou a comprovação científica da necessidade de garantir o desenvolvimento saudável já nos primeiros anos de vida, como forma do país investir para a formação de adultos preparados a melhorar a capacidade intelectual e tornar a sociedade brasileira próspera e produtiva (FROTA et al., 2010). No Brasil, atualmente, a Área Técnica de Saúde da Criança e Aleitamento Materno é o setor do Ministério da Saúde responsável por propor e coordenar as políticas públicas de atenção à saúde da criança de zero a nove anos de idade. Tem como principal papel apoiar os estados e municípios a colocar em prática as recomendações e políticas públicas criadas, de forma a cumprir os compromissos assumidos pelo Brasil, de proteção e atenção à saúde da criança, como os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, o Pacto pela Saúde, o Pacto de Redução da Mortalidade Materna e Neonatal, e o Pacto pela Redução da Mortalidade Infantil no Nordeste e Amazônia Legal (BRASIL, 2011c). Nesse sentido, a ATSCAM na perspectiva da Atenção Integral à Saúde da Criança, e para a organização da assistência dentro dos serviços, propõe como estratégia as “Linhas de Cuidado”. Essas linhas de cuidados são denominadas como: Incentivo e Qualificação do Acompanhamento do Crescimento e Desenvolvimento; Atenção à Saúde do Recém-Nascido; Promoção, Proteção e Apoio ao Aleitamento Materno e Prevenção de Violências e Promoção da Cultura de Paz. Coloca-se, assim, como possibilidade para a superação da desarticulação entre os diversos níveis de atenção em saúde e ainda para o cuidado integral à saúde da criança (BRASIL, 2011c). O quadro a seguir apresenta as principais ações de cada linha de cuidado da Área Técnica de Saúde da Criança e Aleitamento Materno. Segundo Brasil (2011c), A ATSCAM propõe modelos de atenção que integram ações de promoção, vigilância, prevenção e assistência norteadas por essas linhas de cuidados, que se inter-relacionam, objetivando a atenção integral da saúde da criança. 38 Quadro 1: Linhas de cuidado prioritárias e principais ações da Área Técnica de Saúde da Criança e Aleitamento Materno – ATSCAM. Linha de cuidado Ações Incentivo e Qualificação Elaboração e distribuição da Caderneta de do Acompanhamento do Saúde da Criança – Passaporte para a Crescimento e Cidadania – versões menino e menina. Desenvolvimento Estratégia Brasileirinhas e Brasileirinhos Saudáveis. Atenção à Saúde do Rede Norte-Nordeste de Saúde Perinatal Recém-Nascido (Renospe). Atenção Humanizada ao Recém-Nascido de Baixo Peso - Método Canguru. Atenção Integrada às Doenças Prevalentes na Infância no Período Neonatal – AIDPI Neonatal. Trabalhando com Parteiras Tradicionais. Capacitação em Reanimação Neonatal, em parceria com a Sociedade Brasileira de Pediatria - SBP. Plano de Qualificação da Atenção em Maternidades e Rede Perinatal no Nordeste e Amazônia Legal. Sistema de Informação Perinatal em Maternidades Sentinela. Promoção, Proteção e Rede Amamenta Brasil. Apoio ao Aleitamento Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano. Materno Iniciativa Hospital Amigo da Criança (IHAC). Método Canguru. Monitoramento e Avaliação. Educação, Comunicação e Mobilização Social. Proteção Legal ao Aleitamento Materno. Prevenção de Violências Linha de Cuidado para a Atenção Integral à e Promoção da Cultura Saúde de Crianças, Adolescentes e suas de Paz Famílias em Situação de Violência e a estratégias e articulação de redes para a atenção integral à criança, ao adolescente e suas famílias em situação de violência. Fonte: (BRASIL, 2011c). Diante desse quadro, Brasil (2011c) afirma que as linhas de cuidados prioritárias da ATSCAM vêm ao encontro dos compromissos do país com os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, com o Pacto de Redução Materna e Neonatal, com o Pacto pela Saúde e com o Programa Mais Saúde. Nessa perspectiva, a Atenção à Saúde da Criança representa um marco ao recomendar o atendimento a esse público no contexto da integralidade do cuidado, e 39 a sua adoção mostra-se como um passo importante para o reconhecimento dos direitos da criança (ERDMANN; SOUZA, 2009). São condições que convergem para a integralidade do cuidado, compreendendo o desenvolvimento das ações de prevenção e assistência a agravos como objetivos que, para além da redução da mortalidade infantil, apontam para o compromisso de se prover qualidade de vida para a criança (FROTA et al., 2010). Resume-se, portanto, no desafio de possibilitar à criança crescer e desenvolver-se com todo o seu potencial. Os Programas de Promoção e Prevenção voltados à Linha de Cuidado em Saúde da Criança devem deslocar o foco da assistência baseada em patologias para uma modalidade de atenção que contemple a criança no seu processo de crescimento e desenvolvimento e os seus direitos como cidadãos (FERREIRA; ALBUQUERQUE, 2010). 2.3 A importância da avaliação da Atenção Primária à Saúde e o Instrumento de Avaliação da Atenção Primária – PCATool-Brasil A rápida expansão do PSF, passando a assumir o status de estratégia, confirmou a importância no novo modelo como prática reorganizadora dos cuidados primários em saúde. Com essa rápida expansão, tornou-se necessário discutir questões relacionadas à qualificação e resolubilidade das equipes de saúde. Essa necessidade é justificada pelo fato de que a maioria dos profissionais que integram as equipes de saúde ainda se forma dentro de uma lógica curativista, de assistência centrada na doença e não na promoção da saúde (SILVA; CALDEIRA, 2010). Não há dúvidas de que, no decorrer dos últimos anos, a ESF tem contribuído de forma significativa para a melhoria dos indicadores de saúde no país (VICTORA et al., 2011). No entanto, não é possível afirmar de forma absoluta o quanto a implementação da estratégia tem implicado em efetiva reestruturação do modelo assistencial (SILVA; CALDEIRA, 2010). Ainda para esses autores, tampouco é possível perceber, sem ferramentas avaliativas adequadas, os alcances e limites da estratégia, sugerindo, assim, que discussões similares são importantes no sentido de resgatar o nível de transformação do modelo assistencial que a ESF tem alcançado ou pode alcançar com o passar dos anos. A expansão da ESF trouxe a ampliação do acesso aos serviços básicos de saúde, permitindo que profissionais de saúde estivessem mais próximos dos 40 usuários (CASTRO et al., 2012). Todavia, esse fato não reproduziu mudanças nos processos de trabalho desses profissionais, uma vez que observa-se que muitos ainda mantêm a mesma lógica da assistência centrada na consulta médica, com ações curativistas, desenvolvendo parcamente os atributos da atenção primária (SILVA; CALDEIRA, 2010). Nas últimas décadas, estudos avaliativos voltados para o tema da qualidade no âmbito da Atenção Primária à Saúde tornaram-se bastante relevante a partir da reformulação dos sistemas nacionais de saúde. No contexto nacional, a literatura tem apresentado poucas referências sobre a temática e as experiências de utilização dos instrumentos avaliativos propostos também precisam de maior divulgação e padronização (SILVA; CALDEIRA, 2010). Principalmente devido ao acelerado processo de crescimento da ESF, emerge essa necessidade de processos avaliativos, em especial sobre a qualidade da atenção no âmbito dessa estratégia (BOSI; PONTES; VASCONCELOS, 2010). O termo avaliar “vem do latim a+valere, cujo significado é atribuir valor e mérito ao objeto em estudo. Portanto, avaliar é atribuir um juízo de valor sobre a propriedade de um processo para a aferição da qualidade do seu resultado [...]” (MAIOR; MUNIZ, 2010, p. 12). Entretanto o termo avaliação pode ter uma conotação negativa, assumindo a proposta de punir, disciplinar ou retaliar ações indesejadas (OLIVEIRA; VERÍSSIMO, 2012). Todavia, sabe-se que a avaliação é de fundamental importância na APS e deveria fazer parte do cotidiano do SUS nas mais diversas instâncias, provocando a experiência do novo no cuidar e gerir. Assim, a necessidade de criar uma cultura de avaliação é decorrente da urgência de descobrir para transformar (ou manter) acesso, qualidade, acolhimento, linhas de cuidado, relações de trabalho, gestão, financiamento (MAGLUTA, 2013). De modo geral, a maioria das propostas avaliativas registradas na literatura referencia os estudos de Donabedian. O autor propôs que a avaliação da qualidade deveria se dar em três níveis: (1) avaliação da estrutura, que demanda necessariamente a investigação sobre os recursos físicos, organizacionais e técnicos; (2) avaliação do processo, que implica a análise dos procedimentos entre servidor e consumidor (não necessariamente a relação médico-paciente, embora muitas vezes seja esta a atividade central do processo); e (3) avaliação de resultado, que discrimina a situação final de saúde (individual ou coletiva) como resultante da 41 complexa interação entre servidor e consumidor das ações de saúde (STARFIELD, 2002). Classicamente, os estudos que avaliam resultados de ações de saúde são considerados mais consistentes, em uma perspectiva populacional, apesar da dificuldade para a determinação de quais aspectos da saúde devem ser considerados de responsabilidade dos serviços de saúde (STARFIELD, 2002). No Brasil, é importante frisar que foram elaboradas e realizadas algumas estratégias de avaliação da APS pelo Ministério da Saúde, destacando-se a Política Nacional de Avaliação da Atenção Básica em Saúde, em 2003, a Avaliação para Melhoria da Qualidade da Estratégia Saúde da Família – AMQ (2006) e o Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica – PMAQ (2012) (BRASIL 2005b). No documento “Avaliação da Atenção Básica em Saúde – Caminhos da institucionalização”, traz a avaliação como componente da gestão em saúde, que permite dar suporte aos processos decisórios, fazendo a identificação de problemas e reorientando as ações e serviços a serem desenvolvidos, com vistas a avaliar também a incorporação de novas práticas no cotidiano dos serviços e mensurar o impacto das ações desenvolvidas pelos serviços de saúde e pelos programas implementados sobre o estado de saúde da população (BRASIL 2005b). Já a AMQ (2006), vista como um projeto estratégico que integra a Política Nacional de Avaliação da Atenção Básica em Saúde, tem como principais objetivos: desenvolver metodologia de avaliação para a melhoria continua da qualidade da ESF e definir padrões de qualidade; criar instrumento de monitoramento e avaliação; desenvolver estratégias de implantação da ESF de forma qualificada no nível local; contribuir com o desenvolvimento da capacidade técnica em monitoramento e avaliação nas secretarias estaduais de saúde e municípios brasileiros; e induzir boas praticas em atenção primária (BRASIL, 2005b; 2005c). Por último, o PMAQ é um Programa que busca criar processos que ampliem a capacidade tanto em nível de gestão federal, estaduais e municipais, como também pelas próprias Equipes de Saúde da Família, em ofertarem serviços que assegurem maior acesso e qualidade, considerando as necessidades concretas da população (BRASIL, 2005b; 2005c). Starfield e colaboradores desenvolveram um instrumento Primary Care Assessment Tool (PCATool), validado no Estados Unidos, com base no modelo de avaliação da qualidade de serviços de saúde proposto por Donabedian (1966). 42 Starfield criou o PCATool nas versões Child Consumer/Client Survey e Adult Consumer/Client Survey, aplicáveis aos usuários para avaliação da atenção à saúde da criança e do adulto respectivamente, e Facility/Provider Survey, aplicável aos profissionais de saúde e, também, ao coordenador/gerente do serviço de saúde, cujo objetivo é medir a presença e a extensão de cada atributo da APS (STARFIELD, 2002). O PCATool baseia-se na mensuração de aspectos de estrutura, processo e resultados dos serviços de saúde (BRASIL, 2010b). Para adaptá-lo à realidade brasileira, cada versão original do instrumento foi transformada em uma ferramenta aplicável por meio de entrevistadores e passou por um processo de tradução e tradução reversa, adaptação, debriefing e validação de conteúdo e de construto, além da análise de confiabilidade, sendo validado no Brasil com o nome de Instrumento de Avaliação da Atenção Primária – PCATool-Brasil (BRASIL, 2010b). O PCATool-Brasil versão criança permite, por meio da experiência dos cuidadores das crianças, identificar aspectos de estrutura e processo dos serviços que exigem reafirmação ou reformulação na busca da qualidade no planejamento e execução das ações. O instrumento produz escores para cada atributo e também os Escores Essencial e Geral, possibilitando mensurar o grau de orientação à APS em diferentes serviços e sistemas de saúde (BRASIL, 2010b). No Brasil, o PCATool versão criança foi validado por Harzheim et al. (2006), esses autores asseveram que, nacionalmente, a aplicação do PCATool-Brasil em outros contextos oportunizará a disseminação de um instrumento de avaliação comparativa entre os serviços de atenção básica, que permite, inclusive, conhecer o grau de orientação à atenção primária à saúde. Relatam, ainda, que os escores do PCATool poderão, a partir de então, ser utilizados como indicadores da qualidade da atenção, contribuindo como um instrumento para a investigação de serviços de saúde em todo país. Harzheim et al. (2006) afirmam que, por meio do PCATool, as entrevistas com os cuidadores das crianças proporcionam condições de reafirmação ou reformulação de aspectos de estrutura e processo do cuidado em direção à atenção primária à saúde de alta qualidade. O fato de valorizar as experiências e não a satisfação dos usuários sobre vários aspectos do cuidado em Atenção Primária à Saúde permite identificar quais características devem ser modificadas ou reforçadas. Além disso, a avaliação da opinião dos usuários sobre suas experiências junto aos serviços de 43 saúde é imprescindível, já que ao descrever-se somente a visão dos profissionais ou gestores, alguns aspectos importantes da qualidade do cuidado podem não ser avaliados. Assim, o PCATool-Brasil poderá constituir-se em uma estratégia de avaliação dos serviços, em direção à Atenção Primária à Saúde de qualidade também pela comunidade. Diversos autores como Castro et al. (2012); Ribeiro; Rocha e Ramos-Jorge (2010); Oliveira e Veríssimo (2012) já utilizaram o PCATool para avaliar a Atenção Primária à Saúde e os seus atributos definidos por Starfield. É consenso entre esses teóricos que com base nos atributos essenciais e derivados definidos por Starfield, é possível determinar se os sistemas de saúde são ou não orientados à APS, isto é, a presença e extensão desses atributos, estando presentes, promovem melhores indicadores de saúde, maior satisfação dos usuários, menores custos e maior equidade. Além disso, avaliar a saúde com a perspectiva do usuário é uma meta a ser alcançada, mas nunca excludente para outras visões de avaliação dos atores que também fazem parte desse processo. Assim, a visão também dos profissionais e gestores do sistema de saúde devem ser somadas a visão da comunidade, para que diferentes olhares se complementem e o planejamento criado a partir dessa soma de opiniões atinja, na medida do possível, as expectativas dos grupos envolvidos, em busca de uma saúde de qualidade para todos (LOPES, 2012). 44 III METODOLOGIA O presente capítulo apresenta as estratégias utilizadas para o desenvolvimento da pesquisa, que favoreceram no aprofundamento da Atenção à Saúde da Criança e na reflexão sobre a organização das práticas destinadas a essa população no cotidiano da Atenção Primária à Saúde. Então, por uma questão organizacional, este capítulo da dissertação divide-se em cinco momentos, com as seguintes classificações: tipo de estudo; cenário do estudo, população e amostra; instrumentos e coleta de dados; análise dos dados e procedimentos éticos. 3.1 Tipo de estudo Estudo descritivo, com delineamento transversal e abordagem quantitativa dos dados. O objetivo principal das pesquisas descritivas é a descrição das características de uma determinada população ou fenômeno, podendo também estabelecer relações entre variáveis. Desse modo, em estudos descritivos, as características mais significativas estão na utilização de técnicas padronizadas de coleta de dados, tais como o questionário e a observação sistemática (GIL, 2010). O delineamento transversal caracteriza-se pelo fato de todas as medições serem feitas num único momento, não existindo, portanto, um acompanhamento dos participantes da pesquisa. É mais utilizado para diagnósticos de saúde de uma determinada comunidade e traz amostras representativas da população (SÁ, 2007). Já a abordagem quantitativa dos dados tende a enfatizar o “raciocínio dedutivo, as regras da lógica e os atributos mensuráveis da experiência humana” (SILVEIRA; CÓRDOVA; 2009, p. 33). 3.2 Cenário do estudo, população e amostra O município de Mossoró, interior do Estado do Rio Grande do Norte, pertence à mesorregião do Oeste Potiguar. Segundo dados do censo 2010, a população estimada para 2012 é de 266.758 habitantes, sendo 91,3% moradores da região urbana da cidade. Do total de habitantes, o município conta com uma estimativa de 45 39.232 crianças na faixa etária de zero a nove anos, sendo que 35.313 dessas crianças moram na zona urbana (BRASIL, 2010a). A cidade de Mossoró é dividida por zonas, a saber: rural, central, leste, oeste, sul e norte. Então, para delimitação do espaço de investigação do presente estudo foi realizado um levantamento, por bairros do município, das unidades de saúde que faziam parte da Atenção Primária à Saúde e que tinham a atuação de equipes de saúde da família. Inicialmente, foram excluídas a zona central e a rural do campo de investigação da pesquisa, visto que na zona central as Unidades Básicas de Saúde não contavam com a atuação das equipes de saúde da família e a zona rural por apresentar uma dinâmica assistencial diferenciada da zona urbana e pela própria dificuldade no deslocamento para essa área. Nessa perspectiva, e com base nos objetivos da pesquisa, optou-se por trabalhar com 4 (quatro) zonas existentes na cidade, leia-se: zonas norte, sul, leste e oeste, sendo definida 2 (duas) Unidades Básicas de Saúde da Família (UBSF) por cada zona, totalizando 8 (oito) UBSF que participaram do estudo. Nesse sentido, destaca-se que esse número é representativo, uma vez que abrange 28,6% das unidades básicas de saúde de Mossoró/RN. A definição do quantitativo de duas unidades por zona explica-se pelo fato de Mossoró, nas zonas em questão, contar com um total de 28 (vinte e oito) UBSF, nessas quatro zonas em destaque, sendo assim, oito um número representativo desse universo amostral. A escolha das UBSF das zonas leste e oeste para compor o lócus dessa pesquisa aconteceu em função de serem áreas de práticas/estágios da Faculdade de Enfermagem - FAEN da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte - UERN. As UBSF das zonas Norte e Sul, não são campo de estágio da FAEN/UERN, no entanto também fizeram parte do estudo por apresentarem uma grande demanda de atendimento e pela localização distinta, favorecendo um olhar mais abrangente da atenção à saúde da criança no município. A população deste estudo constituiu-se das mães/responsáveis de crianças de zero a nove anos, cadastradas nas UBSF selecionadas do município de Mossoró. Segue abaixo quadro com a localização das zonas/bairros das UBSF escolhidas e o total da amostra de mães/responsáveis por crianças de zero a nove anos que participaram da pesquisa: 46 Quadro 2 – Caracterização das Unidades Básicas de Saúde da Família estudadas e o número total da amostra de mães/responsáveis. Zona Bairro UBSF Número Amostra de mães ou de ESF responsáveis por crianças de zero a nove anos Norte Abolição IV Dr. Cid Salém 03 45 Duarte Santa Dr. Luiz 02 45 Delmira Escolástico Bezerra Leste Santo Dr. Chico 04 62 Antonio Costa Barrocas Dr. Ildone 03 55 Cavalcante de Freitas Sul Walfredo Vereador 02 07 Gurgel Durval Costa Vingt Dr. Agnaldo 02 43 Rosado Pereira Oeste Belo Marcos 02 50 Horizonte Raimundo Costa Lagoa do Dr. José 02 56 Mato Fernandes de Melo Total da 363 amostra FONTE: Mossoró, Gerência Executiva de Saúde, Sistema de Informação de Atenção Básica - SIAB, 2012. Para o cálculo da amostra quantitativa, em particular das mães ou responsáveis pelas crianças, levou-se em consideração o número total de mães/responsáveis de crianças de 0 a 9 anos cadastradas nas UBSF definidas nesse estudo. Daí apreendeu-se que a população de mães/responsáveis por essas crianças corresponde a 6.535 mães/responsáveis e para o cálculo da amostra foi utilizado o intervalo de confiança de 95% e o Erro Tolerável de amostragem de 5%. Ao final, a amostra ficou composta por 363 mães/responsáveis, média de 91 por cada zona. Com as mães/responsáveis foi utilizada uma amostragem não probabilística do tipo intencional, sendo selecionadas as mães/responsáveis por crianças de zero a nove anos de idade que estavam utilizando os serviços das unidades de saúde no momento da coleta dos dados. No caso de mães com mais 47 de um filho, era selecionada a criança mais velha, por acreditar que a mesma apresentava uma experiência maior com o serviço. Foram critérios de Inclusão das UBSF: Ser campo de estágio da FAEN/ UERN; Estar localizada em uma das zonas definidas na pesquisa. Critérios de inclusão para as mães/responsáveis por crianças de zero a nove anos: Ter idade igual ou superior a 18 anos; Residir nos domicílios cadastrados nas equipes de saúde da família há pelo menos um ano, e que aceitarem participar livremente da pesquisa. Critérios de exclusão das UBSF: Ser da Zona Rural, pela dificuldade de acesso a esses serviços e/ou fazer parte da área Central da Cidade, uma vez que nestas não possuem Equipes de Saúde da Família. Critérios de exclusão para as mães/responsáveis por crianças de zero a nove anos: Aqueles que identificarem como serviço de saúde de referência um serviço fora do município de Mossoró; Apresentar algum tipo de distúrbio mental e não mostrar condições de saúde para compreender perguntas e emitir respostas. 3.3 Instrumentos e Coleta de Dados O instrumento de coleta de dados consistiu na aplicação do Instrumento de Avaliação da Atenção Primária, na sua versão criança, proposto pelo Ministério da Saúde (Primary Care Assessment Tool - PCATool-Brasil), composto por blocos de perguntas que correspondem aos atributos da Atenção Primária à Saúde (Acesso, Longitudinalidade, Integralidade, Coordenação, Orientação Familiar, Orientação Comunitária) e por três perguntas iniciais que medem o grau de afiliação ao serviço de saúde (BRASIL, 2010c). O PCATool versão criança é composto por 55 itens, sendo que estes encontram-se divididos em 10 componentes relacionados da seguinte forma aos atributos essenciais e derivados da APS (BRASIL, 2010c): 48 1. Grau de Afiliação com Serviço de Saúde (A). Composto por 3 itens (A1, A2 e A3) 2. Acesso de Primeiro Contato – Utilização (B). Composto por 3 itens (B1, B2 e B3). 3. Acesso de Primeiro Contato – Acessibilidade (C). Composto por 6 itens (C1, C2, C3, C4, C5 e C6). 4. Longitudinalidade (D). Composto por 14 itens (D1, D2, D3, D4, D5, D6, D7, D8, D9, D10, D11, D12, D13, D14). 5. Coordenação – Integração de Cuidados (E). Composto por 5 itens (E2, E3, E4, E5 e E6). 6. Coordenação – Sistema de Informações (F). Composto por 3 itens (F1, F2 e F3). 7. Integralidade – Serviços Disponíveis (G). Composto por 9 itens (G1, G2, G3, G4, G5, G6, G7, G8 e G9). 8. Integralidade – Serviços Prestados (H). Composto por 5 itens (H1, H2, H3, H4 e H5). 9. Orientação Familiar (I). Composto por 3 itens (I1, I2 e I3). 10. Orientação Comunitária (J). Composto por 4 itens (J1, J2, J3 e J4). A coleta de dados foi realizada no período de dezembro de 2012 a março de 2013, nas próprias UBSF selecionadas. A coleta aconteceu no momento em que as mães/responsáveis pelas crianças buscavam algum atendimento na UBSF. Inicialmente, a pesquisadora responsável se apresentou e explicou os objetivos do estudo, verificando-se a disponibilidade das pessoas em participarem da pesquisa seguindo com a aplicação do PCATool-Brasil versão criança. Então, para garantir a escolha certa dos escores paras as respostas, os entrevistados foram informados sobre as 5 alternativas de respostas (1= com certeza não, 2= provavelmente não, 3= provavelmente sim, 4= com certeza sim, 9= não sei/não lembro) antes da aplicação do questionário. A caracterização das mães/responsáveis pelas crianças foi realizada com a aplicação da primeira parte do instrumento, composto por sete perguntas fechadas, que versavam sobre o grau de parentesco com a criança, sexo, idade e escolaridade do responsável, UBSF de referência, sexo da criança e idade. Não houve a necessidade de realizar um teste piloto com as mães/responsáveis por crianças de 0 a 9 anos, visto que o instrumento PCAToolBrasil versão criança já foi validado no Brasil (HARZHEIM et al., 2006). 49 3.4 Análise dos Dados A análise dos dados coletados junto às mães/responsáveis pelas crianças se deu conforme recomendação dos organizadores do PCATool. O instrumento orienta que, para a análise dos dados, ocorra a inversão dos itens C2, C4, C5 e D10, uma vez que esses itens foram formulados de maneira que quanto maior o valor atribuído, menor é a orientação para APS. Ou seja, estes itens devem ter seus valores invertidos para: valor 4=1, valor 3=2, valor 2=3 e valor 1=4 (BRASIL, 2010c). O instrumento ainda exige que, caso para algum entrevistado a soma de respostas em branco (respostas 9 que significa “não sei/não lembro”) atingir 50% ou mais do total de itens de um componente (B a J), não é preciso calcular o escore deste componente para este entrevistado. Ficando em branco no banco de dados o escore deste componente. Já se a soma de respostas em branco com respostas 9 (não sei/não lembro) for inferior a 50% do total de itens de um componente, para um entrevistado, era preciso transformar o valor 9 para valor 2 (provavelmente não). Esta transformação características do é necessária serviço de para saúde pontuar que não negativamente são algumas conhecidas pelas mães/responsáveis das crianças de zero a nove anos entrevistadas (BRASIL, 2010c). Foram construídas tabelas no programa SPSS® (Statistical Package for Social Sciences), Inc IBM®, versão 20.0, com o resultado dos escores de qualidade da APS calculado a partir da média dos valores dos itens que compõem cada dimensão e subdimensão do PCATool-Brasil versão criança. Para obter o escore de qualidade da APS foi calculado a média dos valores dos itens que compõem cada dimensão e subdimensão do PCATool-Brasil versão criança. Segundo Starfield (2002) considera-se o valor 6,6 o mínimo para a unidade de saúde ter a presença do atributo essencial e do atributo derivado em seu serviço conforme a avaliação das mães/responsáveis das crianças nele atendidas. O escore essencial foi medido pela soma do escore médio dos componentes que pertencem aos atributos essenciais (mais Grau de Afiliação) dividido pelo número de componentes (A + B + C + D + E + F + G + H) / 8). E o escore geral foi medido pela soma do escore médio dos componentes que pertencem aos atributos essenciais (mais Grau de Afiliação) somado aos atributos derivados dividido pelo número total de componentes (A + B + C + D + E + F + G + H + I + J) / 10 (BRASIL, 50 2010c). Assim, foram fornecidos parâmetros que permitiram avaliar a qualidade da assistência prestada à criança que utiliza os serviços de saúde ofertados na APS do município. Os dados coletados a partir do PCATool-Brasil versão criança foram descritos a partir de porcentagem a fim de caracterização e distribuição da amostra. Para saber a relação das variáveis de caracterização dos responsáveis assim como a diferença entre as UBSF com respeito avaliação da atenção primária à saúde foi utilizado o Teste de Mann-Whitiney (U) para comparação de dois grupos e o Teste de Kruskal-Wallis (x2) para comparação de três ou mais grupos. Adotou-se um nível de significância de 5% a fim de minimizar um erro do tipo I. Também usou-se o SPSS® (Statistical Package for Social Sciences), Inc IBM®, versão 20.0. 3.5 Procedimentos Éticos A pesquisa seguiu as diretrizes da Resolução nº 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, 2013). O projeto de pesquisa foi apreciado pelo Comitê de Ética em Pesquisa – CEP da UERN, sendo aprovado pelo parecer consubstanciado do CEP com o número 166.366. O número do CAAE é 07538912.0.0000.5294. Os participantes que aceitaram participar da pesquisa foram solicitados às assinaturas do Termo de consentimento Livre e Esclarecidos (TCLE) pela pesquisadora responsável. Sendo explicados os objetivos da pesquisa e da metodologia utilizada, deixando assegurado o anonimato, o sigilo e a livre participação. 51 IV RESULTADOS E DISCUSSÕES A avaliação da Atenção Primária à Saúde, por meio da utilização de um instrumento padronizado, justifica-se pela capacidade de contribuir para a produção do conhecimento desse nível de atenção e ainda para sua definição tecnológica a partir da consideração de que a valorização da cultura avaliativa e a orientação tomando por base o processo de trabalho favorecem no exercício constante de repensar, para então propor as mudanças necessárias (CASTANHEIRA et al., 2011). Sob essa perspectiva, a avaliação dos atributos Essenciais e Derivados da APS de Mossoró por meio da aplicação do PCATool versão criança, com as mães/responsáveis por criança de zero a nove anos serão apresentadas e discutidas de acordo com as categorias nas quais foram classificadas. Desse modo, a análise dos resultados obtidos encontra-se dividido em três categorias: A primeira categoria “caracterização dos sujeitos participantes”, apresenta as principais características encontradas entre as mães/responsáveis por crianças de 0 a 9 anos entrevistadas nas UBSF avaliadas. A segunda categoria “Avaliação e comparação do desempenho dos Atributos Essenciais da Atenção Primária à Saúde do município de Mossoró/RN direcionados ao público infantil”, traz os resultados referentes aos desempenhos dos atributos essenciais da APS nas UBSF estudadas, descritos e comparados entre tabelas. Por último, a terceira categoria “Avaliação e comparação do desempenho dos Atributos Derivados da Atenção Primária à Saúde do município de Mossoró/RN direcionados ao público infantil”, mostra os escores atingidos com relação aos atributos “Orientação Familiar e Orientação Comunitária” também descritos e comparados entre tabelas. 4.1 Caracterização dos sujeitos participantes Participaram da pesquisa 363 mulheres mães ou avós de crianças entre 0 e 9 anos de idade. A maior parte das participantes eram mães e tinham entre 20-29 anos, 153 (42,1%), e 30-39 anos, 116 (31,9%), sendo que 358 (98,6%) eram alfabetizadas, estando subdivididas em oito UBSF de referência. Com o objetivo de 52 traçar o perfil das crianças cujos responsáveis foram entrevistados, na tabela 1 também foram sistematizadas as idades e o sexo das crianças estudadas. Tabela 1 - Caracterização da amostra das mães/responsáveis e das crianças participantes, Mossoró, Brasil, 2013. Características N (%) Idade do responsável Mãe<20 anos 45 (12,4%) Mãe entre 20-29 anos 153 (42,1%) Mãe entre 30-39 anos 116 (31,9%) Mãe entre 40-49 anos 30 (8,2%) Avó entre 40-49 anos 11 (3,0%) Avó entre 50-59 anos 7 (1,9%) Avó entre 60-69 anos 1 (0,3%) Escolaridade do responsável Alfabetizado Analfabeto 358 (98,6%) 5 (1,4%) UBSF de referência Abolição IV Santa Delmira Belo Horizonte Santo Antônio Barrocas Lagoa do Mato Vingt Rosado Walfredo Gurgel 45 (12,4%) 45 (12,4%) 50 (13,8%) 62 (17,1%) 55 (15,2%) 56 (15,4%) 43 (11,8%) 7 (1,9%) Sexo da criança Masculino Feminino 166 (45,7%) 197 (54,1%) Idade das crianças 0-11 meses 1 a 2 anos 3 a 4 anos 5 a 6 anos 7 a 8 anos 9 anos 115 (31,7%) 80 (22,0%) 52 (14,3%) 43 (11,8%) 40 (11,0%) 33 (9,1%) Nesta pesquisa, identificou-se que os perfis dos principais responsáveis pelas crianças que compuseram amostra são semelhantes em todas as Unidades Básicas de Saúde da Família estudadas, uma vez que se observou que são as mães as principais responsáveis pelas crianças, com idade entre 20-39 anos (74%). Cabe 53 ressaltar que em nenhuma entrevista o pai foi referenciado como o principal responsável pela criança. Esses achados são corroborados por Ribeiro, Rocha e Ramos-Jorge (2010) que também apontam em sua investigação que é a mãe que na maioria das vezes leva a criança para os serviços de saúde, sendo considerada também como a pessoa mais capacitada para relatar o atendimento à saúde da criança. No que se refere ao grau de escolaridade dos responsáveis, 98,6% destes são considerados alfabetizados. Para definição dessa condição, utilizou-se os conceitos trazidos por Justo e Rubrio (2013) que consideram “alfabetizado” aqueles que sabem ler e escrever e “analfabeto” aquele que não sabe ler e/ou escrever. Também com o objetivo de traçar o perfil das crianças cujas mães ou os responsáveis foram entrevistados, na tabela 1 foram sistematizadas a idade e o sexo das mesmas, no qual observa-se predomínio de crianças do sexo feminino em todas as UBSF avaliadas, com 197 (54,3%), e estas se concentravam na faixa etária de 0-2 anos (53,7%). 4.2 Avaliação e comparação do desempenho dos Atributos Essenciais da Atenção Primária à Saúde do município de Mossoró/RN direcionados ao público infantil. A presença e a extensão dos atributos Essenciais e Derivados da APS serão discutidas conforme as orientações de Bárbara Starfield (2002). Essa autora afirma que os escores médios iguais ou acima de 6,6 são considerados de altos escores, isto é, de acordo com os preceitos da APS. Desse modo, as tabelas 2 a 9 apresentam cada item que compõem cada atributo Essencial da APS, no qual foi possível conhecer detalhadamente os escores atingidos por cada unidade de saúde que fizeram parte desse estudo. A seguir, serão apresentados os resultados da avaliação do desempenho dos atributos Essenciais da APS e a comparação entre as UBSF estudadas. Na tabela 2, encontram-se descritos os itens referentes ao Grau de Afiliação. Esse atributo se caracteriza pela responsabilidade que o serviço de saúde tem sobre o usuário (BRASIL, 2010c). Então, para a definição dos escores, os responsáveis pelas crianças foram questionados com base em três perguntas iniciais contidas no PCATool versão criança. Esses questionamentos buscavam conhecer a existência 54 de um serviço de saúde que o entrevistado geralmente leva a criança quando ele(a) está doente ou quando precisa de algum conselho sobre a saúde dele(a), com a presença de um profissional de saúde desse serviço que conhece melhor a criança como pessoa e se podia ser considerado como o mais responsável pela saúde da criança. Tabela 2 - Valores médios, respectivos desvios-padrão, valor da significância estatística e a comparação entre as UBSF quanto ao Grau de Afiliação no serviço, Mossoró, Brasil, 2013. Variáveis O profissional de saúde conhece a criança e a família? UBSF 1 UBSF 2 UBSF 3 7,11 (2,08) 6,37 (2,54) 6,13 (2,16) Média (dp) UBSF UBSF 4 5 6,12 (1,61) 6,12 (1,89) UBSF 6 UBSF 7 5,83 (1,58) 5,96 (1,37) UBSF p8 valor 6,66 (0) 0,08 UBS 1 - Abolição IV; UBS 2 - Santa Delmira; UBS 3 - Belo Horizonte; UBS 4- Santo Antônio; UBS 5- Barrocas; UBS 6- Lagoa do Mato; UBS 7- Vingt Rosado; UBS 8- Walfredo Gurgel As UBSF 1 e UBSF 8 atingiram um alto escore para APS, ao obter média igual ou superior a 6,6, indicando que os responsáveis das crianças atendidas nessas unidades manifestaram ter maior índice de afiliação com seu serviço de saúde de referência. No entanto, considerando que o grau de afiliação ao serviço de saúde/profissional diz respeito à frequência na qual o usuário reconhece aquele serviço ou um profissional como referência para o atendimento em saúde, percebese que, as outras UBSF estudadas, obtiveram um escore relativamente baixo, denotando que, mesmo com a identificação do serviço como fonte regular de atenção para o cuidado da criança, os responsáveis entrevistados relatam que a procura ao serviço está associada a outras variáveis como a oferta de serviços em sala de vacina e consultas esporádicas ao médico e não ao vínculo com o profissional de saúde ou a qualidade da assistência. Assemelhando-se aos achados encontrados em Mossoró, um estudo desenvolvido no município de Teixeiras (MG) que buscou avaliar a atenção à saúde da criança no contexto da saúde da família, mostrou também que os responsáveis pelas crianças não reconheciam os serviços das unidades de saúde da família como referência no cuidado da criança, devido à demora entre a marcação e a consulta, ou espera na fila e não conseguir o atendimento, por isso optavam por outro tipo de serviço que fosse mais resolutivo (COSTA et al., 2011). 55 Diversas pesquisas no âmbito da Atenção Primária à Saúde apresentam os motivos que levam a população a escolherem um serviço para acompanhamento de saúde, destacando a proximidade geográfica com a unidade de saúde e a qualidade do atendimento como os mais referidos (MARSIGLIA, 2012; SCHWARTZ et al. 2010; VIEIRA; GAZZINELLI, 2010). Sendo que o hábito de procurar ou não esses serviços em casos de problemas de saúde podem estar relacionado a fatores culturais como também às dificuldades para o acesso aos serviços (VIEIRA; GAZZINELLI, 2010). No estudo de Vieira e Gazzinelli (2010) analisando os motivos apontados pelos usuários para a não procura dos serviços da APS, mesmo tendo reportado necessidades de saúde, observa-se que os maiores problemas enfrentados estão relacionados à oferta de serviços e a falta de profissionais para o atendimento. Também apareceram como impedimentos as dificuldades de acesso geográfico e financeiro e o horário de funcionamento dos serviços. Esses autores afirmam que dentre os aspectos organizacionais que afetam a disponibilidade de atendimento nos serviço de APS, podem ser citados: a rotatividade dos profissionais de saúde, principalmente de médicos e o número, muitas vezes insuficiente, de profissionais disponíveis no próprio município. No município de Cascavel (PR), uma pesquisa também foi realizada trazendo a visão dos profissionais sobre a Atenção Primária à Saúde para o público infantil, e referente ao grau de afiliação das mães com esses serviços, os participantes relataram que há uma preferência das famílias pelos serviços de Pronto Atendimento Continuado, uma vez que as características de funcionamento das unidades de saúde, com agendamento de consultas e apenas com a presença do pediatra em alguns horários fazia com que as mães procurassem outros tipos de serviços diante das necessidades de saúde apresentadas pelas crianças. Os profissionais entrevistados afirmaram, inclusive, que as mães consideram os serviços de pronto atendimento mais resolutivo, devido aos exames de apoio diagnóstico, como raios-X e exames de sangue e urina (OLIVEIRA et al., 2012). Nesse sentido, Starfield (2002) defende a ideia que existe um ponto de entrada para o usuário no sistema de saúde cada vez que surge um novo atendimento para um problema de saúde. A autora afirma que este ponto de entrada precisa ser de fácil acesso e essencial a qualquer organização de serviços de saúde, seja ela na atenção primária, secundária ou terciária. Assim, esse acesso inicial é denominado pela autora como “porta de entrada”. No PCATool versão 56 criança, essa característica é mensurada como atributo Acesso de Primeiro Contato do indivíduo com o sistema de saúde. Os itens integrantes do atributo Acesso de Primeiro Contato do indivíduo com o sistema de saúde foram divididos em dois tópicos: um responsável em avaliar o acesso referente à Utilização e outro em relação à Acessibilidade. O primeiro atribui aspectos referentes à prioridade dos usuários em utilizar o serviço da Atenção Primária à Saúde e o segundo diz respeito aos dados relativos à disponibilidade e resolutividade dos serviços de saúde no atendimento ao usuário (BRASIL, 2010c). Tabela 3 - Valores médios, respectivos desvios-padrão, valor da significância estatística e a comparação entre as UBSF quanto ao Acesso de Primeiro Contato Utilização, Mossoró, Brasil, 2013. Variáveis UBSF UBSF 1 2 Vai ao seu serviço de saúde antes de ir a outro para uma consulta de rotina UBSF 3 Média (dp) UBSF UBSF 4 5 UBSF 6 UBSF 7 UBSF 8 8,66 (3,04) 7,70 (3,94) 7,73 (4,00) 7,36 (4,23) 6,42 (4,19) 4,58 (3,62) 8,37 (3,28) 8,57 (3,77) 9,25 (2,23) 9,55 (1,68) 9,13 (1,88) 9,35 (2,16) 9,39 (3,08) 8,75 (2,66) 6,12 (3,84) 6,66 (4,30) O seu serviço de saúde encaminha obrigatoriamente a um especialista quando necessário 5,18 (7,37) 7,40 (7,55) 8,53 (7,85) 6,61 (9,12) 4,30 (8,80) 6,42 (7,59) 7,82 (3,40) 7,61 (3,70) ESCORE TOTAL 7,70 (2,63) 8,22 (2,85) 8,46 (2,91) 7,77 (3,20) 6,80 (3,86) 6,58 (2,83) 7,44 (2,09) 7,61 (2,16) Vai ao seu serviço de saúde antes de ir a outro para um novo problema pvalor <0,001 <0,001 <0,001 <0,001 UBS 1 - Abolição IV; UBS 2 - Santa Delmira; UBS 3 - Belo Horizonte; UBS 4- Santo Antônio; UBS 5- Barrocas; UBS 6- Lagoa do Mato; UBS 7- Vingt Rosado; UBS 8- Walfredo Gurgel Como observado na tabela 3, o atributo “Utilização” mostra a iniciativa da família em ir ao serviço da APS para uma consulta de rotina da criança, a existência de outros serviços de saúde em que o responsável leva a criança e se já houve a necessidade de encaminhamento para especialistas. Então, Identificou-se que a maioria dos responsáveis avaliaram esse atributo com alto escore geral nas UBSF estudadas (x2=26,0; p<0,001), sendo a pontuação maior na UBSF 3 (8,46) e menor na UBSF 6 (6,58). No entanto, visualiza-se também que a UBSF 5 e UBSF 6 registraram médias abaixo do recomendado para APS no item em que os 57 responsáveis responderam que vão ao seu serviço de saúde antes de ir a outro para uma consulta de rotina da criança. Diante disso, é possível inferir que a grande demanda, o número reduzido de consultas ofertadas nas unidades e a dificuldade na marcação dessas consultas leve os responsáveis a buscar outras UBSF com demanda menor e maior disponibilidade de atendimento, ou até mesmo serviços particulares para fazer esse acompanhamento. Os resultados encontrados nessa pesquisa também coincidem com os encontrados por Oliveira e Veríssimo (2012), em um estudo desenvolvido no município de Colombo (PR), que avaliou a APS da criança utilizando o PCATool com responsáveis por crianças de 17 a 22 meses cadastradas e assíduas às atividades da unidade de saúde, identificando no atributo “Utilização” escores gerais superiores para Atenção Primária nas unidades com Estratégia de Saúde da Família. Para Starfield (2002) os termos “acesso” e “acessibilidade” são utilizados de forma intercalada e, comumente, equivocada. Para a autora, é importante entender que a acessibilidade possibilita que os usuários cheguem aos serviços de saúde, caracterizando-se como um aspecto da estrutura de um sistema ou unidade de saúde necessário na efetivação da atenção ao primeiro contato. Já o acesso, constitui-se na forma como os usuários experimenta esta característica de seu serviço de saúde. Mas, a autora afirma que a acessibilidade não é um aspecto somente da atenção primária, pois os outros níveis de atenção (secundária e terciária) deve também serem acessíveis. No entanto, na Atenção Primária, os requisitos específicos para a acessibilidade diferem, uma vez que constitui-se no ponto de entrada no sistema de saúde. No atributo “Acessibilidade”, os responsáveis foram questionados sobre a prestatividade no atendimento do serviço, sobre a possibilidade de atendimento no mesmo dia em que a criança está doente, o tempo de espera para o atendimento e a facilidade em conseguir consultas ou conselhos por telefone. Starfield (2002) afirma que a ausência de um ponto de entrada facilmente acessível, impede no desenvolvimento de uma atenção em saúde de qualidade, visto que é esperado que a partir das orientações advindas da Atenção Primária os problemas apresentados pelos usuários possam receber a melhor fonte de atenção. Como pode ser observado na tabela 4, diferentemente da “Utilização”, o atributo “Acesso de Primeiro Contato - Acessibilidade” registrou baixos escores gerais em todas as unidades de saúde avaliadas. Esses resultados indica que, 58 apesar dos responsáveis pelas crianças buscarem utilizar os serviços da Atenção Primária ou o procurarem como “porta de entrada” no sistema, os mesmos não tem seus problemas de saúde resolvidos. Desse modo, esses achados apontam para dificuldades de acesso aos serviços de Atenção Primária à Saúde de Mossoró no tocante a atenção à criança. Tabela 4 - Valores médios, respectivos desvios-padrão, valor da significância estatística e a comparação entre as UBSF quanto ao Acesso de Primeiro Contato Acessibilidade, Mossoró, Brasil, 2013. Variáveis UBSF 1 UBSF 2 UBSF 3 Média (dp) UBSF UBSF 4 5 UBSF 6 UBSF 7 UBSF 8 pvalor 0,21 O serviço de saúde atende no mesmo dia 6,44 (4,40) 5,62 (4,91) 5,13 (4,05) 5,16 (4,54) 5,15 (5,32) 4,64 (4,10) 7,59 (3,58) 8,09 (1,78) Esperar muito tempo para marcar hora no serviço de saúde 6,44 (4,46) 5,77 (4,57) 7,60 (4,15) 7,41 (5,44) 5,87 (4,30) 4,34 (4,71) 4,49 (3,70) 4,28 (3,17) 6,00 (4,47) 5,70 (5,71) 3,93 (4,29) 3,65 (4,16) 6,00 (4,50) 5,95 (5,03) 5,42 (3,71) 3,80 (4,04) 8,88 (2,65) 8,44 (3,45) 9,26 (1,68) 8,87 (2,48) 8,66 (1,76) 8,45 (2,28) 7,75 (3,14) 8,09 (3,25) 0,06 4,22 (4,34) 4,29 (4,69) 6,13 (4,48) 6,02 (4,17) 4,36 (3,84) 3,57 (3,69) 4,26 (4,00) 5,23 (2,62) 0,01 3,62 (7,27) 3,03 (5,35) 4,46 (11,93) 8,11 (10,41) 4,54 (11,06) 9,46 (10,68) 2,17 (3,62) 3,33 (3,84) <0,001 5,93 (1,95) 5,48 (1,25) 6,10 (2,25) 6,54 (2,29) 5,77 (2,16) 6,07 (2,00) 5,28 (1,38) 5,47 (0,98) <0,001 É fácil marcar consulta de rotina para a criança Tem que esperar mais de 30 minutos para as consultas Dificuldade para conseguir atendimento médico para a criança Consegue aconselhamento rápido pelo telefone no serviço ESCORE TOTAL <0,001 0,01 UBS 1 - Abolição IV; UBS 2 - Santa Delmira; UBS 3 - Belo Horizonte; UBS 4- Santo Antônio; UBS 5- Barrocas; UBS 6- Lagoa do Mato; UBS 7- Vingt Rosado; UBS 8- Walfredo Gurgel Na tabela 4, ainda merece destaque as médias inferiores em todas as UBSF estudadas no que tange aos itens “É fácil marcar consulta de rotina para a criança” e “Dificuldade para conseguir atendimento médico para a criança”. A acessibilidade é um elemento estrutural necessário para a APS e, não sendo efetiva, pode dificultar na resolutividade dos problemas de saúde da 59 população assistida, prejudicando também no desempenho do próprio serviço. Sabe-se que um serviço acessível é aquele de fácil abordagem e disponível aos usuários, sem barreiras, sejam estas de cunho geográfico, administrativo, financeiro, cultural ou de linguagem, permitindo, assim, atenção ao primeiro contato (STARFIELD, 2002). Oliveira e Veríssimo (2012), semelhante a este estudo, evidenciaram que o atributo “Acessibilidade” encontra-se longe do nível ideal para a APS, demonstrando claramente barreiras de acesso às unidades de saúde. As autoras afirmam que os baixos escores nesse atributo podem ser devidos aos horários restritos das unidades, que funcionam de segunda à sexta, das 07:00 até as 17:00 horas. As autoras ainda destacam as médias muito inferiores nos serviços de atenção primária referente aos itens que questionavam se os cuidadores das crianças esperavam muito tempo para marcar hora no serviço e se o tempo era superior a 30 minutos na espera das consultas. Em um estudo no município de Cascavel/PR sobre o acesso de primeiro contato, em unidades básicas de saúde, demonstraram que a organização dos serviços baseados no agendamento de consultas para atender casos clínicos de doenças agudas, ou por demanda espontânea, não tem resolvido os problemas de saúde daquela população, seja por não dar conta de atender a todos os usuários que procuram a unidade de saúde ou por carecer de resolutividade. As autoras relatam que, além disso, a atenção programada não é executada como prática desses serviços de saúde, demonstrando também a (des)humanização do cuidado nesse sistema, uma vez que os usuários para conseguir atendimento que necessitam devem estar de madrugada à porta das unidades de saúde por demanda espontânea (OLIVEIRA et al., 2012). Uma alternativa para superar esses limites e impactar positivamente esse acesso seria a conveniência do horário de funcionamento dos serviços da atenção primária, o tempo de espera das consultas para ser atendido, profissionais e especialidades disponíveis, o desenvolvimento de práticas de acolhimento e de política de humanização e a qualidade técnica do cuidado (CUNHA; SILVA, 2010). Reis et al. (2013) afirmam que os horários de funcionamento dos serviços na Estratégia de Saúde da Família precisam ser revistos a fim de permitir o acesso dos usuários aos serviços em horário alternativo, seja aos finais de semana ou após as 18 horas. Assim, com o objetivo de reorientar a atenção à saúde no SUS, a ESF 60 precisa ter suas unidades funcionando conforme as necessidades dos usuários, em parceria com as comunidades, para diminuir as barreiras de acesso e possibilitar a utilização dos serviços da APS como primeiro contato com o sistema de saúde (CUNHA; SILVA, 2010). Nessa perspectiva, o acolhimento é entendido como uma estratégia indispensável para as práticas de prevenção e promoção de saúde, que visa reorganizar o processo de trabalho em unidades de saúde, identificando as necessidades dos usuários, e garantir o acesso humanizado quando a população busca atendimento nos serviços (BRASIL, 2008). Sabe-se, então, que a prática do acolhimento requer a responsabilização do trabalhador/equipe pelo usuário, desde a sua chegada à recepção da unidade até a sua saída. É mais do que uma triagem qualificada, é preciso ouvir as queixas dos usuários, avaliando seus anseios, preocupações e angústias, e esse exercício implica no desenvolvimento de atividades de escuta qualificada, identificação da demanda, levantamento dos problemas e intervenções resolutivas para seu enfrentamento. Através dessa estratégia, é possível garantir atenção integral, com mais resolutividade e para continuidade da assistência quando necessário, buscando articular as redes internas dos serviços, que permite à horizontalidade do cuidado, e redes externas, com outros tipos de serviços de saúde (BRASIL, 2008). Nesse sentido, o acolhimento é “considerado também como uma postura comprometida com a construção do entendimento do processo saúde-doença pelo usuário, com a finalidade que ele participe como sujeito do seu processo de cura” (REBELLO; KOOPMANS; ROMANO, 2012, p. 129). O atributo “Longitudinalidade” também foi avaliado nesse estudo, definido por Starfield (2002, p. 247) como “uma relação pessoal de longa duração entre os profissionais de saúde e os pacientes em suas unidades de saúde.” É considerado característica central e exclusiva da Atenção Primária, sendo que o atendimento a este atributo está ligado à resultados positivos, por isso é utilizado para fins de avaliação quando busca-se conhecer se um serviço está voltado para à APS (CUNHA; GIOVANELLA, 2011). No Brasil, a palavra “Longitudinalidade” não é utilizada com frequência entre os autores, por outro lado, na literatura internacional o termo “Continuidade do Cuidado” é utilizado com sentido semelhante (CUNHA; GIOVANELLA, 2011). No entanto, Starfield (2002) prefere não usar o termo continuidade do cuidado como 61 sinônimo de longitudinalidade, ao afirmar que a continuidade não é necessária para que a relação pessoal entre o profissional e o paciente exista, uma vez que as interrupções na continuidade da atenção, independente de qual motivo, não interrompem esta relação necessariamente. Nesse estudo, a longitudinalidade apresentou escores gerais diferentes nas UBSF pesquisadas (x2=73,0; p<0,001), sendo que a UBSF 5 apresentou o maior escore geral 7,45 e a UBSF 7 obteve o menor escore 5,71 e três unidades (1,7 e 8) tiveram escore abaixo do preconizado. Como pode ser visualizado na tabela seguinte. Tabela 5 - Valores médios, respectivos desvios-padrão, valor da significância estatística e a comparação entre as UBSF quanto a Longitudinalidade da assistência, Mossoró, Brasil, 2013. Variáveis É o mesmo profissional que atende a criança Pode telefonar para falar com o profissional que melhor conhece a criança O profissional entende o que você diz ou pergunta O profissional responde suas perguntas de maneira que entenda O profissional lhe dá tempo suficiente para falar sobre seus problemas Você se sente à vontade contando os problemas relacionados a sua criança ao profissional O profissional conhece a criança como pessoa mais do que alguém com Média (dp) UBSF UBSF 4 5 UBSF 1 UBSF 2 UBSF 3 UBSF 6 UBSF 7 UBSF 8 pvalor 6,14 (5,45) 8,81 (2,94) 9,06 (2,61) 7,63 (3,73) 9,51 (2,07) 8,45 (3,42) 8,06 (3,35) 6,66 (3,84) <0,001 6,37 (7,61) 5,77 (6,60) 4,20 (9,45) 7,79 (9,73) 5,22 (11,79) 8,27 (10,20) 3,87 (5,58) 5,23 (4,24) <0,001 8,81 (2,85) 8,81 (2,76) 4,04 (4,61) 8,92 (3,00) 9,27 (1,89) 8,57 (1,66) 9,06 (2,33) 7,61 (3,70) 0,02 8,66 (2,78) 9,03 (2,52) 9,06 (4,90) 8,38 (3,12) 9,27 (2,09) 8,69 (2,74) 8,91 (2,38) 6,66 (3,33) 0,23 8,44 (3,52) 8,59 (3,29) 7,06 (5,37) 5,6 (4,57) 7,09 (3,57) 6,78 (3,59) 9,37 (3,86) 7,61 (2,51) <0,001 7,55 (4,16) 8,81 (4,21) 8,53 (5,30) 7,36 (4,09) 8,24 (3,56) 8,21 (3,59) 8,06 (3,58) 9,04 (1,62) 3,25 (5,43) 6,07 (5,60) 7,80 (8,12) 7,52 (8,51) 9,15 (9,51) 9,52 (10,73) 4,26 (4,00) 9,52 (8,48) 0,87 <0,01 62 um problema de saúde O profissional conhece a história clínica da criança O profissional sabe dos medicamentos que a criança está tomando Você mudaria para outro serviço de saúde Você acha que o profissional conhece a sua família bem O profissional sabe quais são os problemas mais importantes para você e sua família O profissional sabe sobre o trabalho ou emprego dos familiares da criança O profissional saberia se você tivesse problemas em obter medicamentos para a criança 6,66 (4,20) 7,25 (4,03) 9,26 (6,77) 7,95 (6,31) 8,84 (3,58) 7,73 (4,71) 5,34 (5,25) 6,19 (4,87) 7,70 (4,19) 8,66 (3,28) 4,34 (6,41) 8,76 (4,94) 8,96 (2,93) 8,92 (4,07) 7,44 (3,90) 7,60 (4,17) 3,70 (4,72) 2,74 (4,22) 4,13 (4,64) 3,54 (4,13) 2,12 (3,76) 3,09 (4,06) 5,27 (5,45) 6,19 (2,99) 2,14 (4,02) 3,85 (4,76) 3,66 (6,14) 2,68 (5,29) 5,87 (8,77) 4,40 (7,73) 3,02 (3,47) 1,90 (1,78) 5,33 (7,79) 7,33 (6,76) 9,60 (8,07) 8,06 (6,20) 7,85 (5,55) 7,85 (5,55) 2,55 (3,32) 2,38 (1,62) 3,11 (6,45) 4,81 (7,96) 8,06 (9,99) 4,29 (11,81) 4,20 (10,93) 4,20 (10,93) 2,24 (3,68) 2,38 (3,70) 7,77 (5,98) 6,96 (5,49) 9,4 (5,97) 8,92 (6,71) 8,03 (7,01) 8,03 (7,01) 2,48 (3,78) 1,42 (2,62) <0,01 0,01 <0,01 0,28 <0,01 <0,01 <0,01 6,12 6,96 7,01 6,95 7,45 7,33 5,71 5,74 (1,85) (2,00) (2,32) (2,59) (2,52) (2,74) (1,67) (1,48) <0,001 UBS 1 - Abolição IV; UBS 2 - Santa Delmira; UBS 3 - Belo Horizonte; UBS 4- Santo Antônio; UBS 5- Barrocas; UBS 6- Lagoa do Mato; UBS 7- Vingt Rosado; UBS 8- Walfredo Gurgel ESCORE TOTAL O item “telefonar para falar com o profissional que melhor conhece a criança” apresentou médias inferiores nas UBSF 1, 2, 3, 5, 7 e 8, quando comparadas as outras UBSF estudadas. Já o item “o profissional sabe sobre o trabalho ou emprego dos familiares da criança” registrou baixos escores em sete UBSF. Observa-se também nos itens que perguntavam aos responsáveis se mudariam para outro serviço de saúde se fosse fácil e se achava que o profissional de referência conhecia a família da criança bem, os escores ficaram bem abaixo do que é considerado ideal para à APS, pois nenhuma UBSF registrou uma média igual ou superior a 6,6. 63 Esses resultados devem ser confrontados, dentre outros aspectos, com as deficiências nas estruturas física das unidades de APS e a falta de resolutividade desses serviços, que em sua maioria apresentam dificuldades pela postura do profissional frente ao usuário, com práticas assistenciais voltadas para a doença e não para o paciente, valorizando a quantidade de atendimentos e não a qualidade da atenção, impossibilitando a construção de vínculos dos profissionais das equipes e os usuários e da prestação de uma assistencial integral (LEÃO; CALDEIRA; OLIVEIRA, 2011; STARFIELD, 2002). Apesar dos resultados insatisfatórios nos itens do atributo longitudinalidade anteriormente discutidos, merece destaque quatro itens que obtiveram médias consideradas altas para APS em todas as UBSF pesquisadas, sendo eles: “o profissional entende o que você diz ou pergunta”, “o profissional responde suas perguntas de maneira que entenda”, “você se sente à vontade contando as preocupações ou problemas relacionados a sua criança ao profissional” e “o profissional sabe dos medicamentos que a criança está tomando”. Ao final, nesse atributo, as UBSF 2, 3, 4, 5 e 6 apresentaram “altos escores gerais”, ou seja, de acordo com os preceitos da APS. Um estudo avaliativo da APS tendo os responsáveis por criança como fonte da investigação, na cidade de Montes Claros (MG), expõe também valores de escores gerais satisfatórios para o atributo da longitudinalidade (LEÃO; CALDEIRA; OLIVEIRA, 2011). Com resultados semelhantes, em uma pesquisa desenvolvida com enfermeiros atuantes na Estratégia de Saúde da Família, em sete municípios do estado do Paraná, apontou que o atributo longitudinalidade ocorre também junto à criança, tendo o trabalho em equipe, acessibilidade, participação do usuário, visita domiciliar e as ações de prevenção à saúde como aspectos que, na visão dos participantes, viabilizam a longitudinalidade, trazendo impactos positivos para a saúde da população. Sob essa perspectiva, as autoras concluíram que a longitudinalidade, enquanto atributo essencial da atenção primária, melhora a qualidade de vida das pessoas e contribui para a resolutividade dos serviços de saúde nesse primeiro nível de atenção (BARATIERI; MANDU; MARCON, 2012). Cunha e Giovanella (2011, p. 1038) ao discutirem sobre o atributo da longitudinalidade a partir de uma revisão conceitual sobre a temática, concluíram que três elementos são imprescindíveis na composição deste atributo, a saber: “a existência e o reconhecimento de uma fonte regular de cuidados de atenção 64 primária, o estabelecimento de vínculo terapêutico duradouro entre os pacientes e os profissionais de saúde da equipe local e, ainda, a continuidade informacional.” Para as autoras, esses elementos devem ser considerados como dimensões do atributo em questão. A longitudinalidade apresenta vários benefícios no sistema de saúde, diminuindo a utilização dos serviços, com o melhor reconhecimento das necessidades dos usuários; permite uma melhor promoção da saúde e atenção preventiva eficaz, com diagnóstico mais preciso, redução de custos e de hospitalizações, e consequentemente, uma maior satisfação dos usuários. A longitudinalidade promove, ao longo do tempo, uma relação de confiança entre profissional e paciente, criando um ambiente mais confortável para os usuários exporem seus problemas e atender as recomendações. Do mesmo modo, quando o profissional de saúde possui um conhecimento acumulado sobre o paciente, o seu trabalho torna-se mais fácil, visto que chega-se rapidamente à avaliação do problema (STARFIELD, 2002). Mas, é preciso entender que, mesmo estando presente na prática dos profissionais de saúde, o atendimento ao vínculo longitudinal só será possível se for uma prioridade da gestão, na medida em que envolve questões como a oferta adequada de serviços de Atenção Primária à Saúde e ações que diminuam a rotatividade de profissionais, permitindo a sua fixação na unidade de saúde (CUNHA; GIOVANELLA, 2011). Outro atributo avaliado foi a “Coordenação da Atenção”, que é divido no PCATool em dois tópicos: Coordenação – Integração de Cuidados e Coordenação – Sistema de Informações. Esse atributo encontra-se dividido dessa forma com o objetivo de facilitar a compreensão dos resultados na íntegra (BRASIL, 2010c). A coordenação, enquanto atributo essencial da APS, é entendida como uma condição necessária para alcançar uma resposta integral, que atenda as diversas necessidades em saúde apresentadas pelos usuários, com a integração entre os níveis de atenção à saúde (ALMEIDA; GIOVANELLA; NUNAN, 2012). “A essência da coordenação é a disponibilidade de informações a respeito de problemas e serviços anteriores e o reconhecimento daquela informação, na medida em que está relacionada às necessidades para o presente atendimento” (STARFIELD, 2002, p. 365). Na tabela 6 traz os achados referentes à Integração de Cuidados. 65 Tabela 6 - Valores médios, respectivos desvios-padrão, valor da significância estatística e a comparação entre as UBSF quanto à Coordenação – Integração de Cuidados, Mossoró, Brasil, 2013. Variáveis Média (dp) UBSF UBSF 4 5 UBSF 1 UBSF 2 UBSF 3 Houve indicação do seu serviço à um especialista 2,22 (1,58) 2,59 (1,40) 2,60 (1,39) 3,06 (1,09) O profissional do seu serviço sabe da consulta com o especialista 9,33 (2,58) 10,00 (0) 9,09 (3,01) 6,22 (4,51) 2,90 (5,67) 5,33 (9,41) O profissional do seu serviço soube dos resultados da consulta Depois da consulta com o especialista o profissional do seu serviço conversou com você O profissional do seu serviço mostrou-se interessado na consulta com o especialista ESCORE TOTAL UBSF 6 UBSF 7 UBSF 8 pvalor 2,24 (1,57) 3,03 (0,95) 2,32 (1,54) 3,33 (0) 0,01 5,00 (5,47) 10,00 (0) 10,00 (0) 7,69 (4,38) 0 (0) 6,96 (4,58) 3,88 (4,90) 7,84 (3,89) 6,66 (3,33) 5,38 (5,18) 0 (0) 6,33 (4,56) 6,96 (7,95) 3,33 (5,16) 6,66 (7,07) 4,00 (5,47) 4,87 (4,83) 0 (0) 0,12 1,11 (2,99) 7,66 (8,32) 2,72 (4,67) 2,22 (4,03) 5,09 (5,01) 6,66 (11,54) 4,35 (4,78) 0 (0) 0,73 4,84 (4,12) 5,80 (4,71) 5,66 (4,32) 3,50 (2,20) 6,03 (5,00) 6,07 (2,96) 4,90 (4,78) 0,66 (0) 0,01 0,22 0,76 UBS 1 - Abolição IV; UBS 2 - Santa Delmira; UBS 3 - Belo Horizonte; UBS 4- Santo Antônio; UBS 5- Barrocas; UBS 6Lagoa do Mato; UBS 7- Vingt Rosado; UBS 8- Walfredo Gurgel Nesse atributo, as perguntas realizadas aos responsáveis pelas crianças buscavam conhecer à relação entre os serviços da UBSF com algum serviço especializado. A tabela 6 mostra que todas as UBSF foram avaliadas com baixos escores, sendo a UBSF 8 com a menor pontuação e a UBSF 6 com a maior pontuação (x2=18,47; p=0,01). Esses resultados indicam que todos os serviços não estão no nível considerado adequado para APS, demonstrando dificuldades dos serviços e/ou profissionais na integração de cuidados ao paciente. Chama à atenção as médias de todas as UBSF bem inferiores a 6,6 no primeiro item, que questiona se houve encaminhamento da criança pela UBSF a um serviço especializado ou algum especialista. Esses resultados podem ser devido à insuficiência de oferta nos 66 serviços especializados do município ou a grande demanda de atendimentos nesses serviços; a falta de profissionais pediatras ou a carência de serviços especializados no cuidado da criança. Nesse sentido, autores ao discutirem a coordenação dos cuidados em saúde, identificaram também como desafios para esse atributo a insuficiência na oferta de atenção especializada, devido principalmente pela falta de integração entre prestadores estaduais e municipais, que reflete nos problemas enfrentados para agendamento de procedimentos especializados (ALMEIDA et al., 2010). Um estudo desenvolvido em uma unidade básica de saúde de um município do interior do estado de São Paulo assemelha-se também aos achados nesta pesquisa, no qual quatro itens que compõem o atributo “Integração de Cuidados” foram classificados como ruim, são eles: “profissional discute possíveis lugares de atendimento especializado”, “usuário discute resultados da consulta especializada, com profissionais deste posto”, “profissionais deste posto se interessam pela qualidade dos serviços especializados” e “retorna para a unidade os resultados da consulta especializada”. Para os autores, os resultados insatisfatórios nesses itens indicam a fragilidade da coordenação da atenção nesse nível de atenção (PEREIRA et al., 2011). Diferente do encontrado nesse estudo, destaca-se uma pesquisa desenvolvida na APS do município de Caxias do Sul, sendo que esta utilizou o PCATool versão profissionais de saúde como instrumento de avaliação dos atributos essenciais e derivados desse nível de atenção, e trouxe em seus resultados um escore geral acima do valor central de 6,6 no atributo Integração de Cuidados. Entretanto, as autoras relatam que esses dados não podem ser generalizados, uma vez que a pesquisa foi realizada com gestores de 15 Unidades Básicas de Saúde do município e não com o número total de unidades (NODARI; OLEA, 2010). A coordenação pressupõe uma continuidade do cuidado seja por parte da assistência pelo mesmo profissional de saúde, ou através de prontuários médicos, ou ambos, além do conhecimento dos problemas evidenciados em outros serviços e a integração desta atenção no cuidado global do paciente. Os serviços de APS são os mais adequados para integrar todo cuidado que o usuário recebe através da coordenação entre os serviços, na maior parte dos casos de adoecimento (ALMEIDA, GIOVANELLA, NUNAN, 2012; BRASIL, 2010c). Sob essa perspectiva, Almeida, Giovanella e Nunan (2012) questionam sobre qual Atenção Primária estão 67 falando quando atribui a complexa missão de coordenar uma resposta integral em saúde. As autoras afirmam que não estão se referindo à APS seletiva, com pouca oferta de ações e limitada à atenção de primeiro nível, e sim, uma APS com seus atributos fortalecidos, sendo responsável em mobilizar apoios, recursos políticos, econômicos, financeiros e humanos. Starfield (2002) ainda assevera que a Coordenação é essencial para a obtenção dos outros atributos da Atenção Primária. Visto que, “sem ela, a longitudinalidade perderia muito de seu potencial, a integralidade seria dificultada e o acesso de primeiro contato tornar-se-ia uma função puramente administrativa” (STARFIELD, 2002, p. 365). Em pesquisa sobre os desafios à coordenação dos cuidados em saúde, realizada com representantes de entidades profissionais médicas e de enfermagem, Secretários Municipais de Saúde, Coordenadores da ESF, gerentes vinculados à Regulação, Controle e Avaliação, à Vigilância em Saúde e gerentes de Unidades Básicas de Saúde, em grandes centros urbanos como Aracaju (Sergipe), Belo Horizonte (Minas Gerais), Florianópolis (Santa Catarina) e Vitória (Espírito Santo), afirma que a falta de integração entre diferentes prestadores, a insuficiência nos encaminhamentos para atenção hospitalar e a ausência de políticas direcionadas à média complexidade representam entraves à garantia do cuidado integral, tornando incompleto o processo de integração da rede de atenção à saúde (ALMEIDA et al., 2010). Nos quatro municípios estudados por Almeida et al. (2010) mostrou que a prática sistemática de avaliação dos encaminhamentos pela Atenção Primária à Saúde poderia melhorar a qualificação das referências e fazer com que os recursos especializados fossem utilizados de forma mais racional. Essas autoras sugerem também um maior empenho junto aos demais profissionais da rede diante da necessidade de garantir a continuidade informacional, visto ser uma condição de suma importância para a coordenação do cuidado pela APS. E nesse sentido, a ausência da contra-referência indica que os profissionais da Atenção Primária e dos serviços especializados precisam de uma maior integração (ALMEIDA et al., 2010). O próximo atributo da APS a ser discutido é a “Coordenação – Sistema de Informações”. Nele são feitas considerações sobre os registros de saúde ou boletins de atendimento que a criança recebeu no passado, como fichas de atendimento e carteira de vacinação, e se nas consultas o prontuário da criança está sempre 68 disponível ao responsável para eventual consulta. A avaliação desses itens está apresentada na tabela seguinte: Tabela 7 - Valores médios, respectivos desvios-padrão, valor da significância estatística e a comparação entre as UBSF quanto à Coordenação – Sistema de Informações, Mossoró, Brasil, 2013. Variáveis Média (dp) UBSF UBSF 4 5 UBSF 1 UBSF 2 UBSF 3 UBSF 6 UBSF 7 UBSF 8 pvalor Você leva a carteira de vacinação nas consultas 7,33 (4,35) 9,48 (2,12) 9,40 (2,39) 10,00 (0) 10,00 (0) 10,00 (0) 8,06 (3,65) 7,14 (4,87) <0,001 O prontuário da criança está sempre disponível nas consultas 8,00 (4,04) 8,88 (3,17) 9,33 (2,42) 9,83 (1,27) 9,93 (0,44) 9,34 (2,41) 9,53 (1,71) 8,09 (3,77) Você tem acesso ou poderia ler o prontuário de sua criança 5,25 (8,65) 3,18 (5,63) 6,73 (9,53) 3,81 (6,90) 9,51 (9,56) 6,13 (6,53) 7,98 (5,35) 8,57 (8,78) ESCORE TOTAL 6,86 (3,93) 7,18 (2,65) 8,48 (3,56) 7,88 (2,36) 9,81 (3,21) 8,49 (2,24) 8,52 (2,64) 7,93 (4,60) <0,001 <0,001 <0,001 UBS 1 - Abolição IV; UBS 2 - Santa Delmira; UBS 3 - Belo Horizonte; UBS 4- Santo Antônio; UBS 5- Barrocas; UBS 6- Lagoa do Mato; UBS 7- Vingt Rosado; UBS 8- Walfredo Gurgel Na tabela 7, indica que todas as UBSF foram reconhecidas com alto valor de escore geral, com a menor média de 6,89 na UBSF 1 e a maior média no valor de 9,81 na UBSF 5 (x2=33,80; p<0,001). Demonstrando que o atributo Coordenação – Sistema de Informação conseguiu o escore ideal para as condições de APS. É importante destacar que, 50% (1, 2, 4 e 6) das UBSF tiveram escores abaixo do preconizado no item “você tem acesso ou poderia ler o prontuário de sua criança”, indicando que o acesso ao prontuário da criança pelo responsável não está de acordo aos preceitos da APS nessas unidades. De forma semelhante, no estudo de Oliveira e Veríssimo (2012) foram registrados também baixos escores no item que questionava as famílias sobre o acesso ao prontuário das crianças. No entanto, diferentemente do encontrado em Mossoró, essas autoras identificaram que o atributo Coordenação – Sistema de Informação foi avaliado com escores gerais insatisfatórios para APS, tanto em unidades com e sem estratégia de saúde da família. 69 Outro estudo realizado em Porto Alegre (RS), com profissionais médicos e enfermeiros, em diferentes serviços da APS, registrou escores gerais acima de 9 no atributo “Coordenação – Sistema de Informação” nos quatro tipos de serviços avaliados, cujos escores não apresentaram diferença significativa entre os serviços com e sem equipes de saúde da família (CASTRO et al., 2012). Uma pesquisa realizada com usuários de unidades de saúde, do município de São Paulo, faz inferência sobre a importância dos prontuários e de suas anotações, destacando que esses serviços, ao reunir condições que possibilitam um melhor registro no prontuário, serão capazes também de estabelecer melhor comunicação entre as diferentes categorias de profissionais da equipe de saúde da família, trazendo, inclusive, facilidades (no prontuário) para o seguimento longitudinal do usuário (SALA et al., 2011). Ao discorrer sobre os sistemas de informações na APS, Starfield (2002) assevera que esses sistemas são agregações de prontuários, que podem incluir identificadores dos usuários, sendo um número exclusivo a forma mais utilizada ou podem ser anônimos. A autora relata que, no primeiro caso, ao utilizar um número específico para as pessoas, é possível interligar as informações de épocas e lugares diferentes em que os usuários buscaram assistência. Já no caso quando os identificadores são anônimos, a interligação só é possível para o nível da agregação dos dados, que em geral acontece por área geográfica. Na Atenção Primária à Saúde, os prontuários e os sistemas de informações apresentam quatro funções. Primeiro, auxiliam a memória dos profissionais desses serviços na atenção aos usuários e constituí-se numa ferramenta epidemiológica no planejamento da atenção à saúde das pessoas. Em segundo lugar, os prontuários são considerados documentos legais, uma vez que devem ser registrados os processos de atenção à saúde dos usuários, para fornecer informações caso esses processos sejam colocados à prova. Uma terceira função dos prontuários é a característica de influenciar na assistência à saúde, pois os conteúdos contidos neles afetam o conhecimento dos usuários sobre sua atenção e como eles respondem a estas informações. Por último, a quarta função dos prontuários é de servir como uma fonte de informações sobre a qualidade da atenção prestada na APS e as formas de melhorá-las (STARFIELD, 2002). Nesse sentido, é oportuno frisar que os sistemas de informação na Atenção Primária à Saúde apresentam três objetivos principais, a saber: administrativo, 70 atenção clínica nos níveis individual e populacional e geração de conhecimento. No primeiro, as informações devem ser obtidas e transferidas para acompanhar o fluxo de prestação dos serviços, de tal maneira que o financiamento em saúde e o reembolso sejam realizados de forma adequada. Já o segundo objetivo, abrange as ações básicas da transferência das informações indispensáveis a respeito das necessidades de saúde dos usuários e a atenção à saúde no manejo clínico, acompanhamento e coordenação da assistência que acontece em vários períodos e em lugares diferentes para o paciente. Por fim, a geração de conhecimento como outro objetivo, mostra que os sistemas de informação são utilizados cada vez mais como fontes de dados para avaliar os méritos referentes às diversas abordagens para a atenção à saúde dos indivíduos e o diagnóstico preciso, mostrando a efetividade dos serviços (STARFIELD, 2002). Dias e Giovanella (2012) reafirmam que o aprimoramento do atributo Coordenação – Sistema de Informação é apontado como um dos principais desafios para a implantação da Atenção Primária à Saúde, face à fragmentação da rede assistencial e à insuficiente comunicação entre prestadores. Para essas autoras, também é visível que a coordenação das informações ajuda no reconhecimento do histórico de saúde do paciente, identificando os problemas que requerem cuidado constante, o que favorece a continuidade da atenção e a implantação de tratamentos e prevenção de agravos à saúde. Outro atributo essencial da APS avaliado nesse estudo foi a “Integralidade”. Mas, antes de apresentar os resultados para tal atributo, é importante frisar que a integralidade pode ser entendida a partir de vários ângulos, que não se excluem entre si, contudo, trazem aspectos diversos da mesma questão. Inicialmente, pode ser compreendida como ‘atendimento integral’, tendo suas ações focadas na prevenção e na promoção à saúde, sem prejuízo dos serviços assistenciais à saúde (SALA et al., 2011). Nesse sentido, a Integralidade enquanto atributo próprio da APS, proposto por Starfield (2002), exige que a atenção primária reconheça, de forma adequada, as diversas necessidades de saúde do paciente e tenha disponíveis os recursos para abordá-las. Logo, a decisão se é APS ou outro nível de atenção que tem a capacidade de oferecer serviços específicos podem variar de lugar para lugar e de época para época, estando sujeito à natureza dos problemas de saúde de diferentes populações. 71 No PCATool versão criança, esse atributo foi divido em dois seguimentos: Serviços Disponíveis e Serviços Prestados. “Em Serviços Disponíveis”, representa as ações disponibilizadas pela unidade de saúde para atender amplamente a diversidade e as necessidades de saúde da população da sua área de abrangência. Nesse seguimento, os itens não se referem exclusivamente à criança selecionada para a entrevista, e sim, sobre toda a experiência do responsável com o serviço de saúde. Nesse caso, não é necessário que a criança tenha recebido esses serviços, mas o entrevistado ao ser questionado deve saber sobre a disponibilidade desses serviços na sua unidade de saúde. Desse modo, os encaminhamentos para serviços especializados, por exemplo, não são considerados serviços disponíveis na unidade avaliada (BRASIL, 2010c). Na tabela 8, serão apresentados os resultados dos tópicos que foram avaliados pelos responsáveis das crianças, referente aos Serviços Disponíveis em cada UBSF selecionada. Tabela 8 - Valores médios, respectivos desvios-padrão, valor da significância estatística e a comparação entre as UBSF quanto à Integralidade - Serviços Disponíveis, Mossoró, Brasil, 2013. Variáveis Média (dp) UBSF UBSF 4 5 UBSF 1 UBSF 2 UBSF 3 Vacinas 9,40 (4,98) 7,25 (3,77) 8,86 (5,81) 6,23 (3,88) 7,45 (3,73) Programa de Assistência Social 6,22 (4,90) 3,11 (4,68) 3,00 (4,62) 2,90 (4,57) 0,84 (2,73) Planejamento Familiar Programa de suplementação Nutricional 9,70 (6,58) 7,85 (5,18) 9,00 (5,05) 7,20 (5,87) 7,93 (4,03) 9,40 (10,80) 7,40 (11,43) 4,33 (9,41) 0,80 (3,80) Aconselhamento de uso prejudicial de Drogas 8,96 (11,41) 2,37 (5,34) 2,06 (5,90) Aconselhamento para problemas de saúde mental 7,70 (11,75) 1,70 (4,95) 2,44 (6,94) 4,08 (12,09) Sutura de pontos Aconselhamento e solicitação de teste anti-HIV UBSF 6 UBSF 7 UBSF 8 pvalor 8,91 (6,41) 4,37 (7,16) <0,001 9,61 (8,67) 9,04 (8,75) <0,001 7,73 (4,12) 9,30 (7,68) 5,60 (10,07) 0,08 0,18 (1,34) 0,29 (0,95) 5,40 (12,96) 4,00 (14,25) <0,001 1,39 (4,92) 0,48 (3,59) 1,19 (3,88) 5,80 (13,19) 6,0 (13,01) <0,001 0,53 (2,16) 1,93 (6,59) 0,18 (1,34) 1,30 (4,10) 5,40 (13,00) 6,00 (13,01) <0,001 0,66 (2,52) 0,20 (1,41) 1,77 (5,35) 1,57 (5,43) 4,27 (12,13) 6,00 (12,90) <0,001 3,18 (6,51) 0,93 (2,86) 1,39 (4,16) 0,60 (2,32) 5,55 (12,68) 6,00 (13,01) <0,001 9,04 (3,79) 0,17 (1,33) 1,13 (3,13) 3,21 (6,32) 72 Saúde da visão 4,24 (12,31) 1,85 (5,96) 0,53 (2,16) 2,25 (6,7) 1,09 (4,20) 4,16 (7,92) 4,25 (13,03) 6,00 (13,01) <0,001 6,88 3,93 3,27 2,87 2,26 3,14 6,50 5,89 (5,38) (2,47) (2,36) (2,15) (1,28) (2,03) (7,88) (8,79) <0,001 UBS 1 - Abolição IV; UBS 2 - Santa Delmira; UBS 3 - Belo Horizonte; UBS 4- Santo Antônio; UBS 5- Barrocas; UBS 6- Lagoa do Mato; UBS 7- Vingt Rosado; UBS 8- Walfredo Gurgel ESCORE TOTAL Mais uma vez as UBSF apresentaram pontuações diferentes, com a UBSF 1 a de maior pontuação e a UBSF 5 de menor pontuação (x 2=112,56; p<0,001). Observa-se que mais da metade das unidades de saúde estudadas permaneceram com escores gerais abaixo de 6,6, ficando aquém do ideal para Atenção Primária. Nota-se que o serviço de vacinação foi bem avaliado pelos entrevistados, apenas a UBSF 4 e 8 apresentaram um baixo escore nesse item. Esse resultado pode ser devido a grande demanda e a falta de uma geladeira que comporte um número maior de vacinas observada nessas unidades. Identificou-se também que o item que questionava os entrevistados “sobre a iniciativa da UBSF na verificação se a sua família podia participar de algum programa de assistência social ou benefícios sociais”, foi avaliado em 6 UBSF com escores inferiores ao recomendado, e apenas as UBSF 7 e 8 receberam altos escores. Já o item sobre o planejamento familiar apresentou médias superiores em sete UBSF, sendo o serviço disponível mais bem avaliado pelos entrevistados. Serviços como sutura de pontos, aconselhamento de uso prejudicial de drogas lícitas e ilícitas, aconselhamento e solicitação de teste anti-HIV, e avaliação da saúde da visão, obtiveram médias inferiores em todas as UBSF estudadas. Em um estudo similar, em Montes Claros (MG), observou-se também que o valor do escore referente ao atributo Integralidade – Serviços Disponíveis ficou bem abaixo do ideal para a Atenção Primária. Para os autores, este fato indica a necessidade das unidades com Estratégia de Saúde da Família disponibilizarem mais serviços para atenderem às necessidades básicas de saúde da população, destacando, inclusive, a necessidade de uma melhor qualificação dos profissionais de saúde para o cuidado com condições comuns e de grande impacto na saúde da família e da comunidade, como o alcoolismo, uso de drogas, problemas de saúde mental e vários outros (LEÃO; CALDEIRA; OLIVEIRA, 2011). Outros estudos se assemelham com os resultados encontrados nessa pesquisa, no qual o atributo Integralidade recebeu escores inferiores do 73 recomendado para APS (VIANA; NERY, 2012; OLIVEIRA; VERÍSSIMO, 2012). Percepção esta que encontra ressonância também por parte dos profissionais de saúde, em uma pesquisa realizada com médicos e enfermeiros das unidades de saúde nos diferentes tipos de serviços públicos de APS de Porto Alegre (RS), demonstrando um escore para “Integralidade - Serviços Disponíveis” também abaixo do ideal tanto para unidades com e sem Estratégia de Saúde da Família (CASTRO et al., 2012). Esses resultados indicam que as deficiências encontradas nos serviços disponíveis da APS é um problema a ser enfrentado em muitos municípios do Brasil. Nesse ínterim, é preciso entender também que, mesmo parecendo que quanto maiores as variedades e a aplicação dos serviços disponíveis, melhor será o cuidado, isto não é necessariamente verdade, uma vez que na prática alguns serviços disponíveis podem não ser efetivos, já outros tipos de serviços podem ser efetivos, entretanto não valem o custo, e outros serviços ainda podem ser prejudiciais. Sendo assim, sabe-se que a decisão sobre uma variedade de serviços disponíveis na APS é uma questão política importante e um componente chave do papel dos serviços nesse nível de atenção (STARFIELD, 2002). Sabe-se que a Atenção Primária é a “porta de entrada” para a atenção à saúde das pessoas, o lócus da responsabilidade continuada pelos pacientes em comunidade e o nível de atenção capaz de prestar uma melhor interpretação dos problemas evidenciados a partir do contexto histórico e meio social do paciente. Sendo assim, a forma como os serviços são formulados e prestados constituem componentes-chave de uma estratégia que busca melhorar a efetividade e a equidade dos serviços no âmbito da saúde (STARFIELD, 2002). O segundo seguimento que compõe o atributo “Integralidade” diz respeito aos “Serviços Prestados”, cujo objetivo dos itens desse atributo é saber se em consulta específica à criança o responsável recebeu orientações de como manter a criança saudável, com informações sobre alimentação saudável, boa higiene e sono adequado, orientações de como manter medicamentos com segurança, sobre as mudanças no crescimento e desenvolvimento da criança, maneiras de lidar com os problemas de comportamento da criança, e por último, orientações para manter a criança segura, como: evitar tombos de altura, queimaduras e etc (BRASIL, 2010c). Na tabela 09, mostra os resultados relativo a esse enfoque, avaliado pelos responsáveis das crianças selecionadas nesse estudo. 74 Tabela 9 - Valores médios, respectivos desvios-padrão, valor da significância estatística e a comparação entre as UBSF quanto à Integralidade – Serviços Prestados, Mossoró, Brasil, 2013. Variáveis Média (dp) UBSF UBSF 4 5 UBSF 1 UBSF 2 UBSF 3 8,29 (4,90) 8,37 (3,66) 9,26 (5,00) 8,70 (3,37) 6,14 (5,85) 4,59 (7,42) 6,53 (9,75) 5,48 (5,95) 5,33 (5,83) Problemas comportamentais da criança 5,77 (7,43) Maneiras para manter a criança segura 4,29 (6,72) Orientações quanto à alimentação, higiene e sono adequados Segurança no lar Mudanças do crescimento e desenvolvimento UBSF 6 UBSF 7 UBSF 8 8,30 (3,73) 8,39 (3,70) 8,52 (5,78) 8,57 (9,20) 4,56 (8,66) 4,78 (7,61) 2,91 (7,27) 5,65 (5,70) 4,76 (5,03) 7,60 (8,54) 5,91 (6,22) 6,24 (6,35) 7,61 (5,15) 6,43 (4,50) 6,19 (4,87) 3,40 (6,57) 7,40 (10,06) 4,40 (7,84) 4,48 (7,62) 6,07 (8,48) 2,94 (4,19) 6,19 (4,87) 4,29 (6,72) 7,73 (9,02) 5,05 (7,86) 5,09 (7,08) 5,05 (6,45) 3,48 (4,36) 8,57 (9,20) pvalor 0,90 <0,01 0,36 0,16 0,28 ESCORE TOTAL 6,00 5,20 7,70 5,73 5,78 6,01 5,41 6,50 (4,53) (3,95) (7,19) (4,60) (4,40) (4,00) (3,68) (3,76) 0,81 UBS 1 - Abolição IV; UBS 2 - Santa Delmira; UBS 3 - Belo Horizonte; UBS 4- Santo Antônio; UBS 5- Barrocas; UBS 6- Lagoa do Mato; UBS 7- Vingt Rosado; UBS 8- Walfredo Gurgel Identificou-se que 7 das 8 unidades de saúde estudadas não atingiram o escore adequado para APS nesse atributo, apenas a UBSF 3 atingiu um alto escore, com média de 7,70. Esse resultado é preocupante, uma vez que a presença desse atributo na APS representa o cuidado e a responsabilidade dos profissionais na atenção à saúde da criança (BRASIL, 2010c). O item que perguntava aos responsáveis sobre as orientações recebidas para manter a segurança no lar recebeu médias inferiores a 6,6 em todas as UBSF. Apenas o item “orientações quanto à alimentação, higiene e sono adequados” obteve médias superiores a 8 em todas as UBSF avaliadas. Diante disso, é possível inferir que nas consultas direcionadas à criança há uma maior preocupação dos profissionais com esses aspectos, não sendo dada a devida atenção as questões referentes às mudanças no crescimento e desenvolvimento infantil, maneiras de lidar com os problemas no comportamento da criança e como manter a criança segura. 75 De forma semelhante, o estudo de Oliveira e Veríssimo (2012) também identificou altos escores com relação às orientações sobre alimentação saudável, boa higiene e sono adequado e escores abaixo do recomendado no item que versava sobre “a segurança no lar”. No entanto, essa mesma pesquisa apresentou altos escores gerais para APS nesse atributo, ao obter média 6,6 nas unidades com Estratégia de Saúde da Família. Castro et al. (2012) ao avaliarem a qualidade da Atenção Primária à Saúde a partir da concepção dos profissionais de saúde, registraram também achados positivos no atributo Integralidade – Serviços Prestados, sendo que em todos os serviços que participaram da pesquisa atingiram altos escores gerais com média acima de 7,0, indicando que os preceitos da APS estão sendo atendidos. No estudo avaliativo com pais e cuidadores de crianças os serviços não se apresentaram resolutivos diante dos problemas de saúde desse público em destaque, visto que, atributos essenciais da Atenção Primaria à Saúde não estiveram presentes. Sendo identificados vários problemas, como: falta de acesso e de qualidade na atenção à saúde da criança; ausência de vínculo entre o profissional e o responsável pela criança, pela falta de interesse e não responsabilização; carência da integralidade; falta de organização dos serviços pela privação da coordenação (SILVA et al., 2013). Nesse sentido, as informações e conhecimento adequado da gênese do problema de um paciente ou de uma comunidade específica, fornece, assim, uma poderosa ferramenta para o profissional de saúde organizar o seu ambiente de trabalho, com o intuito de influenciar a natureza dos serviços que deveriam ser prestados à população sob a responsabilidade da unidade ou do sistema de saúde integrado (STARFIELD, 2002). Starfield (2002) relata ainda que nenhum tipo de profissional pode lidar sozinho com todas as necessidades de saúde apresentadas pela população. Ao invés disso, a integralidade requer que os serviços estejam disponíveis e sejam prestados diante dos problemas de saúde que acontecem com frequência suficiente para que os profissionais mantenham sua competência. Desse modo, o número de serviços disponíveis e prestados na APS pode mudar de comunidade para comunidade de acordo com os problemas evidenciados, visto que esse nível de atenção deve está voltada para o atendimento das necessidades dos sujeitos, além reconhecer as necessidades existentes na população. Para autora, é um desafio 76 reconhecer as situações que precisam de uma intervenção, pois os tipos de problemas de saúde que chegam à atenção primária são muito maiores do que em qualquer outro nível de atenção, e, portanto, necessitam de intervenções mais amplas. Por último, reafirmar-se que a integralidade, também enquanto diretriz do Sistema Único de Saúde, “buscando compatibilizar ações preventivas e curativas, individuais e coletivas, representa uma inovação nos modos de cuidar das pessoas e de buscar soluções adequadas para os problemas e necessidades de saúde da população de um bairro ou de uma cidade” (PAIM, 2009, p. 50). Dando continuidade na avaliação dos atributos da Atenção Primária à Saúde de Mossoró, na próxima categoria serão discutidos os atributos derivados “Orientação Familiar e Orientação Comunitária”, descritos e comparados também por meio de tabelas. Por fim, ainda apresenta os Escores Essenciais e Escores Gerais registrados em todas as UBSF avaliadas. 4.3 Avaliação e comparação do desempenho dos Atributos Derivados da Atenção Primária à Saúde do município de Mossoró/RN direcionados ao público infantil. Starfield afirma que a presença de outras três características, denominadas “Atributos Derivados”, qualificam as ações dos serviços de APS. Estes atributos, citados anteriormente, são: Orientação Familiar, Orientação Comunitária e Competência Cultural. Conforme a autora, estes atributos são tão fundamentais quanto os quatros atributos essências, formando um elo de complemento para Atenção Primária à Saúde (STARFIELD, 2002). Nesse estudo, os atributos derivados avaliados foram “Orientação Familiar e a Orientação Comunitária”, visto que no PCATool versão criança não contempla itens que permitam que o escore para o atributo “Competência Cultural” seja calculado. Sendo assim, o próximo atributo da APS a ser discutido é a “Orientação Familiar”. É definido como um atributo derivado que impõe considerar a família como o sujeito da atenção, sendo que essa centralização na família apresenta interrelação com a Integralidade e a Coordenação da atenção, que estas ao serem alcançadas fornecem uma base para a consideração do paciente em seu ambiente cotidiano, quando a avaliação das necessidades de saúde do indivíduo para a 77 atenção integral considera o contexto familiar e a exposição a ameaças à saúde, além do desafio da coordenação da atenção quando se depara com recursos familiares limitados (STARFIELD, 2002). Os resultados referentes a esse atributo estão disponíveis na tabela 10, no qual para avaliá-lo os responsáveis pela criança foram questionados se o profissional do serviço de saúde buscava conhecer a sua opinião acerca do tratamento e cuidado da criança, o histórico de doenças ou problemas da família, tais como: câncer, alcoolismo e depressão e, por fim, se na opinião do entrevistado o profissional de saúde mais responsável pelo cuidado da criança se reuniria com outros membros da família caso ele achasse necessário (BRASIL, 2010c). Tabela 10 - Valores médios, respectivos desvios-padrão, valor da significância estatística e a comparação entre as UBSF quanto à Orientação Familiar, Mossoró, Brasil, 2013. Variáveis O profissional pergunta sua opinião sobre o tratamento da criança O profissional conhece problemas de saúde da família O profissional reuniria com outros membros da família se você achasse Necessário Média (dp) UBSF UBSF 4 5 UBSF 1 UBSF 2 UBSF 3 UBSF 6 UBSF 7 UBSF 8 pvalor 5,40 (7,29) 5,55 (6,51) 5,13 (7,74) 6,39 (9,23) 4,43 (9,24) 9,22 (9,61) 4,34 (4,33) 1,90 (1,78) <0,001 8,22 (6,65) 6,29 (4,83) 8,60 (4,52) 8,92 (3,00) 9,39 (3,74) 9,52 (3,50) 7,51 (5,30) 10,00 (8,38) <0,001 2,96 (6,78) 4,22 (8,33) 8,93 (10,57) 6,50 (9,75) 5,00 (11,67) 4,00 (11,94) 6,82 (5,90) 7,61 (9,17) <0,01 5,53 5,35 7,55 7,27 6,27 7,58 6,22 6,50 <0,001 (4,19) (4,88) (5,56) (5,06) (5,80) (5,76) (3,41) (3,66) UBS 1 - Abolição IV; UBS 2 - Santa Delmira; UBS 3 - Belo Horizonte; UBS 4- Santo Antônio; UBS 5- Barrocas; UBS 6- Lagoa do Mato; UBS 7- Vingt Rosado; UBS 8- Walfredo Gurgel ESCORE TOTAL Em relação à Orientação Familiar, a UBSF 6 teve a maior pontuação 2 (x =50,74; p<0,001) e a UBSF 2 a menor pontuação, sendo que apenas três unidades apresentaram escores gerais superiores para APS. Esses resultados são preocupantes, uma que a ESF busca uma integração maior do profissional com a comunidade, e por ter essa característica os escores nesse atributo eram pra ter registrados valores maiores do que os encontrados. 78 O item que questionava se o profissional do serviço conhecia os problemas de saúde da família da criança foi o mais bem avaliado pelos entrevistados, atingindo médias satisfatórias em 7 unidades selecionadas, no qual a UBSF 2 foi a única que apresentou um escore abaixo do recomendado. Esses resultados indicam que nessas unidades os usuários acreditam que os profissionais conhecem as principais doenças e problemas das famílias sob sua responsabilidade. Entretanto, no item que questionava “o profissional se reuniria com outros membros da família se você achasse necessário” obteve média abaixo do ideal para APS em 5 UBSF avaliadas e o item “o profissional pergunta sua opinião sobre o tratamento da criança” recebeu médias inferiores a 6,6 em 7 das 8 UBSF estudadas. Visualiza-se que apenas as UBSF 5 e 6 registraram valores acima do ideal para Atenção Primária nesse item. Mas, de forma geral, pode-se afirmar que esse atributo foi bem avaliado pelos responsáveis das crianças assistidas nessas unidades, apesar das UBSF 1, 2, 5, 7 e 8 terem registrados escores gerais baixos (<6,6), considera-se que elas estão próximas do valor recomendado para APS. Corroborando com esses resultados, destaca-se um estudo que avaliou a presença e extensão dos atributos da Atenção Primária na rede básica de saúde do município de Curitiba (PR), no ano de 2008, no qual os autores também observaram que o atributo Orientação Familiar obteve altos escores (CHOMATAS; VIGO, 2009). No estudo de Leão, Caldeira e Oliveira (2011) o escore geral para esse atributo foi significativamente mais elevado nas crianças que tinham a ESF como fonte regular de atenção à saúde do que aquelas que buscavam outros tipos de serviços. Já pesquisa realizada por Pereira et al. (2011), a “Orientação Familiar” foi o atributo com resultado mais baixo em relação aos demais. Para os autores, as médias inferiores ao recomendado nos itens que questionava se “o profissional pergunta as opiniões do entrevistado” e “profissional conhece bem sua família” indicam que as práticas de saúde desenvolvidas na APS ainda não valorizam aspectos desta natureza, mostrando que esse e outros estudos realizados no Brasil têm revelado que a família ainda não tem sido incorporada na assistência à saúde. Diferentemente dos achados nessa pesquisa, um estudo que buscou avaliar a APS no município de Teresina (PI), por meio da aplicação do PCATool - Brasil às usuárias atendidas por equipes da Estratégia Saúde da Família, apresentou uma classificação por parte das entrevistadas como de baixo escore (<6,6) em relação ao atributo derivado “Orientação Familiar” (VIANA; NERY, 2012). 79 O enfoque familiar, no estudo de Sala et al. (2011), também registrou a maior proporção de questões com percentuais baixos de respostas positivas. Dos usuários entrevistados, apenas 26% declararam que os profissionais de saúde sempre conhecem a sua família e 44% dos usuários responderam que os profissionais conhecem sobre as doenças de outros membros da família. Contraditoriamente, 75% dos usuários relataram que os profissionais das unidades de saúde sempre falariam sobre seu estado de saúde com outros membros da sua família, caso ele achasse necessário. Costa et al. (2011) ao analisarem as ações de atenção à saúde da criança no contexto da Saúde da Família no município de Teixeiras (MG) verificaram uma fragmentação do cuidado, principalmente nas práticas educativas direcionadas as famílias das crianças. Os autores observaram um despreparo dos profissionais desses serviços acerca das medidas preventivas, de controle e de promoção da saúde, tendo suas práticas focadas apenas em atendimentos no consultório e com orientação individual, demonstrando, assim, um total desconhecimento dos atributos da Atenção Primária à Saúde. O último atributo avaliado nesse estudo foi a ‘”Orientação Comunitária”. Esse atributo refere-se ao “reconhecimento por parte do serviço de saúde das necessidades em saúde da comunidade através de dados epidemiológicos e do contato direto com a comunidade; sua relação com ela, assim como o planejamento e a avaliação conjunta dos serviços” (BRASIL, 2010c, p.09). A tabela 11 apresenta os achados relativos a esse enfoque. Para Starfield (2002) a orientação para a comunidade resulta de um alto grau de integralidade da atenção, reafirmando que o conhecimento do contexto social que as pessoas estão inseridas permite o reconhecimento das necessidades de saúde da população. Contudo, é necessário entender que os indivíduos podem até não perceber que precisam de serviços de saúde, uma vez que podem faltar conhecimentos por parte deles sobre a importância de ações preventivas ou porque não percebem que um determinado problema pode ser passível de intervenções. Agora, entender as características de saúde de uma comunidade e dos recursos nela disponíveis, permite, inclusive, uma maneira mais ampla de avaliar as necessidades de saúde do que apenas uma abordagem baseada na interação com 80 o paciente ou com suas famílias (STARFIELD, 2002). Tabela 11 - Valores médios, respectivos desvios-padrão, valor da significância estatística e a comparação entre as UBSF quanto à Orientação Comunitária, Mossoró, Brasil, 2013. Variáveis Alguém do seu serviço faz visitas domiciliares O seu serviço conhece problemas de saúde da vizinhança O seu serviço faz pesquisas na comunidade para identificar problemas de saúde O seu serviço convida para participar dos Conselhos de Saúde Média (dp) UBSF UBSF 4 5 UBSF 1 UBSF 2 UBSF 3 UBSF 6 UBSF 7 UBSF 8 pvalor 5,33 (4,84) 4,14 (4,82) 5,26 (4,90) 2,90 (4,28) 4,54 (4,94) 4,58 (4,94) 1,86 (3,35) 4,28 (3,70) <0,01 4,09 (8,55) 4,22 (9,37) 4,30 (8,47) 4,50 (9,12) 4,03 (6,28) 9,40 (6,29) 7,59 (9,79) 4,80 (13,11) 0,02 5,69 (11,29) 5,52 (11,18) 4,96 (10,14) 5,30 (10,68) 6,70 (10,12) 6,63 (10,14) 6,25 (12,68) 9,00 (0) 0,01 2,66 (7,09) 4,65 (13,45) 5,40 (10,75) 0,10 (0,84) 0,48 (3,59) 3,86 (9,40) 6,40 (12,64) 7,85 (10,07) <0,001 4,63 4,98 3,20 3,93 6,11 5,53 6,48 4,44 (5,81) (4,39) (4,49) (3,34) (4,09) (8,02) (4,54) (4,94) <0,001 UBS 1 - Abolição IV; UBS 2 - Santa Delmira; UBS 3 - Belo Horizonte; UBS 4- Santo Antônio; UBS 5- Barrocas; UBS 6- Lagoa do Mato; UBS 7- Vingt Rosado; UBS 8- Walfredo Gurgel ESCORE TOTAL Nesse atributo, os responsáveis pelas crianças foram questionados sobre a realização de visitas domiciliares pelos profissionais dos serviços, o conhecimento dos profissionais acerca dos problemas de saúde da vizinhança, a realização de pesquisas pelo serviço para identificar problemas de saúde na comunidade e se o serviço convida a comunidade para participar de reuniões nos Conselhos de Saúde. Os resultados mostram que todas as UBSF estudadas baixos escores gerais para Atenção Primária nesse atributo, sendo a UBSF 8 o serviço que registrou a maior pontuação (x2=32,37; p<0,001). No entanto, destaca-se o item que perguntava se algum profissional da unidade de saúde fazia visitas domiciliares, no qual apresentou média abaixo do ideal em todas as unidades. Isso indica que a prática de visitas domiciliares ainda não é uma realidade desses serviços, distanciando-as dos preceitos da APS. 81 Também se aproxima da realidade de Mossoró outro estudo no qual a visita domiciliar foi relatada apenas por 30,2% dos usuários entrevistados (PEREIRA et al., 2011). Já na pesquisa de Sala et al. (2011), às visitas domiciliares foram confirmadas por 53% dos usuários, referindo que os profissionais da unidade sempre realizam esse serviço. Mas, destaca-se que nesse seguimento ocorreu diferença significativa das respostas segundo a modalidade de atenção. Os usuários de unidades com Estratégia de Saúde da Família responderam que os profissionais sempre fazem visita domiciliar em uma frequência de 71%, enquanto que em outros modelos apenas 29% relataram que os profissionais fazem visitas. A visita domiciliar é definida como “metodologia de trabalho de caráter educacional, assistencial e exploratório, realizada por profissionais que vão ao domicílio do paciente, usuário ou beneficiário de um serviço” (TEIXEIRA, 2009, p. 167). Portanto, diante da precariedade das médias quanto à visita domiciliar em todas as UBSF avaliadas, faz-se necessário que a visita domiciliar enquanto instrumento de intervenção para a atenção à saúde, seja incorporada as práticas desses serviços, possibilitando a partir da aproximação do ambiente familiar e domiciliar do indivíduo, o fortalecimento de vínculos entre profissional e paciente, além de atuar na promoção de saúde, prevenção, tratamento e reabilitação de doenças e agravos à saúde (TEIXEIRA, 2009). Nas UBSF 1, 3, 4, 5 e 6 chama à atenção também as médias inferiores quanto a participação da comunidade nos Conselhos de Saúde. Essa avaliação insatisfatória feita pelos entrevistados indica que a participação da comunidade nessa instância colegiada de participação tem sido restrita, por parte dos usuários desses serviços, que inclusive afirmavam no momento das entrevistas que desconheciam a existência de Conselhos Locais de Saúde e de onde funcionava o Conselho Municipal de Saúde. Em um estudo realizado também na cidade de Mossoró, em Unidades Básicas de Saúde da Família, identificou que 92,5% dos usuários entrevistados não sabiam da existência e de como funcionava os Conselhos de Saúde (MORAIS, 2011). Ao discutir sobre o atributo “Orientação Comunitária”, Pereira et al. (2011) reafirmam que os itens deste atributo avaliam se as ações em saúde são elaboradas e aplicadas com a comunidade e não somente para a comunidade. Nesse sentido, os autores identificaram que o item “profissionais conhecem os problemas da comunidade” foi classificado como bom por 53,2% dos entrevistados, entretanto 82 também foram registrados escores menores no item: “participação da comunidade nos conselhos de saúde” (40,7%). Para os autores, esses dados sinalizam a necessidade de uma revisão do processo de trabalho, que permita a participação efetiva dos usuários na formulação de propostas e intervenções (PEREIRA et al., 2011). O estudo de Chomatas e Vigo (2009) se assemelha aos resultados encontrados nesta pesquisa, uma vez que esses autores também observaram que a Orientação Comunitária obteve altos escores gerais na APS do município de Curitiba. Porém, difere de outras pesquisas realizadas em outros municípios do país, como na cidade de São Paulo, no qual um estudo demonstrou que, em relação à Orientação Comunitária, somente 24% dos usuários entrevistados relataram que sempre foram consultados pela unidade de saúde se os serviços fornecidos atendem às suas necessidades (SALA et al., 2011). Da mesma forma, no município de Montes Claros (MG), esse atributo registrou escores gerais abaixo do ideal para APS, tanto em unidades com Estratégia Saúde da Família e outros tipos de serviços (LEÃO; CALDEIRA; OLIVEIRA, 2011). Achados também encontrados por Oliveira e Veríssimo (2012) na cidade de Colombo, mostram que as respostas dos responsáveis pelas crianças para esse atributo derivado, resultaram em escore geral com valor de 5,6 em unidades com ESF e 1,8 em Unidades Básicas de Saúde sem ESF. Diante disso, é visível que a prática de orientação comunitária não está sendo incorporada na produção em saúde nesses serviços estudados. Por último, para facilitar a visão geral dos Escores Essenciais e Escores Gerais atingidos em cada Unidade Básica de Saúde da Família avaliada, na tabela 12 foram reunidos os resultados juntamente com os desvios-padrão e o valor da significância estatística, possibilitando a comparação entre os desempenhos de cada Unidade Básica de Saúde estudada. Tabela 12 - Valores médios, respectivos desvios-padrão, valor da significância estatística e a comparação entre as UBSF quanto aos Escores Essencial e Geral da 83 APS, Mossoró, Brasil, 2013. Variáveis Média (dp) UBSF UBSF 4 5 UBSF 1 UBSF 2 UBSF 3 Escore Essencial 3,32 (0,43) 3,07 (0,41) 3,27 (0,39) 3,02 (0,36) Escore Geral 3,28 (0,46) 3,13 (0,40) 3,31 (0,39) 3,05 (0,36) UBSF 6 UBSF 7 UBSF 8 pvalor 3,26 (0,43) 2,97 (0,37) 3,32 (0,53) 3,47 (0,58) <0,001 3,40 (0,41) 3,14 (0,42) 3,39 (0,60) 3,68 (0,45) <0,001 UBS 1 - Abolição IV; UBS 2 - Santa Delmira; UBS 3 - Belo Horizonte; UBS 4- Santo Antônio; UBS 5- Barrocas; UBS 6- Lagoa do Mato; UBS 7- Vingt Rosado; UBS 8- Walfredo Gurgel A partir desses resultados, torna-se evidente que nenhuma UBSF conseguiu atingir o valor preconizado para APS, uma vez que os Escores Essenciais e os Escores Gerais das unidades apresentaram médias insatisfatórias, chamando a atenção para os valores bem inferiores, no qual a UBSF 8 foi a unidade com a maior pontuação no Escore essencial com 3,47 e também no Escore Geral com 3,68, ficando aquém do valor ideal (6,6). Isto significa que os pressupostos da Atenção Primária não estão presentes no cotidiano dos serviços estudados em Mossoró, o que impossibilita a prestação de uma atenção à saúde da criança de forma integral. Mendes (2011, p.89) afirma que um estudo clássico de Bábara Starfield comparou a associação da APS com resultados sanitários em 11 países desenvolvidos. Cada país foi classificado de acordo com quatro atributos, a saber: primeiro contato, longitudinalidade, integralidade e coordenação, e a partir também das características políticas, como “equidade na distribuição dos serviços, cobertura universal ou quase universal garantida com recursos públicos, co-pagamento inexistente ou baixo, percentual de médicos que não eram médicos de APS e renda dos médicos de APS em relação aos médicos especialistas”. Esse autor relata que nesse estudo ficou evidenciado que os atributos da APS estavam relacionados com as características políticas dos países; e outro resultado também importante foi visto que os países com baixo escore para a APS registraram resultados sanitários mais pobres, principalmente em relação aos indicadores de saúde infantil. Diante dos resultados até aqui apresentados, reafirma-se que Atenção Primária à Saúde de qualidade representa estratégia eficaz para uma maior promoção da saúde, prevenção de agravos ou doenças, melhor estado de saúde da população infantil e, consequentemente, maior satisfação por parte dos pais/responsáveis. A literatura internacional é rica em evidências que comprovam 84 que os sistemas de saúde que têm uma Atenção Primária fortalecida são mais efetivos (STARFIELD, 2002). E nesse sentido, merece destaque para a Estratégia de Saúde da Família, sendo considerada como o espaço preferencial para a promoção da saúde infantil no âmbito sanitário, no entanto, resultados de estudos nacionais sinalizam a necessidade de melhorias em alguns atributos da prática assistencial (LEÃO; CALDEIRA; OLIVEIRA, 2011). Essas melhorias sugerem mudanças em alguns aspectos de sua estrutura e processo, para que de fato ofereçam Atenção Primária à Saúde com a qualidade que se propõe. V CONCLUSÕES E SUGESTÕES 85 Nessa investigação observou-se que as unidades de saúde estudadas apresentaram resultados insatisfatórios, com escores essenciais e escores gerais aquém do ideal preconizado para Atenção Primária à Saúde. Foram identificados fatores negativos referentes aos atributos essenciais: Acessibilidade, Longitudinalidade, Coordenação - Integração de Cuidados, Integralidade - Serviços Disponíveis, Integralidade - Serviços Prestados, e os atributos derivados: Orientação Familiar e Orientação Comunitária, os quais registraram escores gerais abaixo do recomendado para APS na maioria das UBSF avaliadas. Os achados desse estudo mostram fragilidades ainda quanto aos seguintes aspectos: facilidade para conseguir atendimento médico para a criança no mesmo dia ou marcar consulta de rotina, conseguir aconselhamento por telefone com o profissional que melhor conhece a criança, criação de vínculos entre os profissionais e as crianças e seus familiares, disponibilização de ações básicas como visitas domiciliares, orientações sobre crescimento e desenvolvimento da criança, sobre a saúde da visão, saúde mental, prevenção de drogas, entre outros. Contudo, ao avaliar os atributos isoladamente, nota-se que algumas unidades tiveram médias satisfatórias em alguns escores. Como observado no atributo “Acesso de Primeiro Contato – Utilização” que obteve médias consideradas como de altos escores em 7 das 8 UBSF estudadas, e no atributo “Coordenação – Sistema de Informações” que registrou escores superiores em todas as unidades. Esses dados permitem afirmar que, embora APS seja considerada a “porta de entrada” no Sistema Único de Saúde, muitos obstáculos precisam ser superados para que esse nível de atenção seja considerado como referência no cuidado à saúde da criança. Considera-se fundamental repensar os aspectos que se mostraram insuficientes para a qualidade do serviço na Atenção Primária à Saúde da criança nos espaços avaliados. Desse modo, ressalta-se a necessidade de refletir sobre o atendimento oferecido pelas Unidades Básicas de Saúde da Família de Mossoró, com o intuito de garantir que os atributos da APS sejam garantidos em todas as direções. Essa pesquisa pode servir como material de reflexão preliminar para os diferentes integrantes do processo de gestão do Sistema Único de Saúde no município em destaque, no planejamento e tomada de decisões para a organização 86 dos serviços de saúde, principalmente, os da Atenção Primária à Saúde, de modo a minimizar os principais limites encontrados. Sob essa perspectiva, em decorrência dos resultados dessa investigação e objetivando aumentar o grau de orientação à Atenção Primária à Saúde da ESF de Mossoró, bem como a qualidade do serviço, pode-se apresentar as seguintes sugestões: Garantir que cada equipe de saúde da família se responsabilize pelo atendimento a essa população e sensibilizar os profissionais de saúde que atuam no cuidado a criança para a continuidade da assistência prestada. Ressaltar a necessidade da implementação das normas do Ministério da Saúde no que diz respeito às linhas de cuidado para a atenção integral à criança, que devem ser incorporadas pelas equipes de saúde da família e da importância do acompanhamento do Crescimento e Desenvolvimento infantil. Desenvolver ações que fortaleçam o vínculo da população adscrita à ESF com a equipe, com o objetivo das mães/responsáveis identificarem o serviço como referência na atenção à saúde da criança. Inserir, no cotidiano da Atenção Primária à Saúde, serviços que garantam a Integralidade, como: orientações sobre nutrição ou dieta, programa de suplementação nutricional, orientações sobre as mudanças no crescimento e desenvolvimento da criança, vacinação, avaliação da saúde bucal, planejamento familiar, identificação de problemas auditivos ou visuais, aconselhamento ou tratamento para o uso prejudicial de drogas, aconselhamento para problemas de saúde mental, aconselhamento e solicitação de teste anti-HIV, dentre outras igualmente importantes. Por último, recomenda-se a realização de novos estudos utilizando o PCATool-Brasil versão criança, para verificar, de forma periódica, o grau de orientação à APS da ESF de Mossoró, buscando adequar a assistência às novas lacunas encontradas. VI REFERÊNCIAS 87 ALMEIDA, Patty Fidelis de; GIOVANELLA, Lígia; MENDONÇA, Maria Helena Magalhães de; ESCOREL, Sarah. 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APÊNDICE A - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – TCLE TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO 100 Esclarecimentos Este é um convite para você participar da pesquisa “Avaliação da atenção à saúde da criança no contexto da Atenção Primária à Saúde – APS no município de Mossoró-RN”, que tem como objetivos específicos: Identificar a acessibilidade e a vinculação presentes no cotidiano dos serviços de saúde destinadas à criança a partir da perspectiva das mães/responsáveis; Descrever a integralidade das ações em saúde desenvolvidas nos serviços de atenção primária à saúde destinadas a criança a partir da perspectiva das mães/responsáveis; Identificar as práticas educativas realizadas nos serviços de atenção primária à saúde destinadas a criança a partir da perspectiva das mães/responsáveis; Delinear as concepções e práticas que permeiam os cuidados voltados para a saúde da criança nos serviços de atenção primária à saúde do município de Mossoró a partir do olhar dos trabalhadores de saúde inseridos nesses serviços; Elencar aspectos limitadores e potencializadores que se apresentam na organização das práticas destinadas a atenção à saúde da criança, tendo em vista as políticas públicas voltadas para as mesmas e a dinâmica do cotidiano a partir da ótica dos trabalhadores de saúde. A obtenção do TCLE será de responsabilidade da coordenadora Jocasta Maria Oliveira Morais, que segue as recomendações da resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde e suas complementares. Sua participação é voluntária, o que significa que você poderá desistir a qualquer momento, retirando seu consentimento, sem que isso lhe traga nenhum prejuízo ou penalidade. Essa pesquisa procura avaliar a atenção à saúde da criança no âmbito da Atenção Primária à Saúde do município de Mossoró/RN a partir da ótica das mães/responsáveis e dos trabalhadores de saúde inseridos nesses espaços. Caso decida aceitar o convite, o trabalhador de saúde participará de uma entrevista e as mães/responsáveis de crianças de 0 a 9 anos participarão da aplicação de um questionário. A coleta dos dados da pesquisa acontecerá a partir destes instrumentos. O estudo envolve o risco para a participante de constrangimento que possa ser gerado diante dos questionamentos, no entanto os mesmos serão minimizados através da utilização de um instrumento que não proporcione conotações negativas de caráter pessoal ou profissional, bem como a realização da coleta de dados em um local reservado que proporcione total privacidade, com porta devidamente fechada e trancada. Além disso, é garantido um local seguro para armazenamento dos áudios coletados e transcrições de acesso exclusivo aos pesquisadores desta pesquisa. A participação do profissional de saúde possui certo grau de vulnerabilidade e dependência, por serem funcionários públicos, mas que apesar dessa condição, a presente pesquisa foi autorizada a ser desenvolvida mediante a carta de anuência dos responsáveis legais pelas instituições co-participante, minimizando, assim, os riscos possíveis pela sua participação. O fato da pesquisa buscar avaliar as práticas em saúde voltadas para a criança no município de Mossoró-RN, faz com que essa forma de abordagem tenda a não agredir e/ou lesar os envolvidos neste processo. Caso as pessoas se sintam constrangidas e/ou de algum modo prejudicadas, será garantido o direito de ressarcimento aos sujeitos por quaisquer gastos, previstos ou não, e a garantia de indenização por quaisquer danos que acaso possa sofrer decorrentes da sua participação na pesquisa. Você terá os seguintes benefícios ao participar da pesquisa: contribuirá tanto para a contextualização da assistência à saúde da criança no município de Mossoró-RN, 101 bem como poderá estimular a reflexão dos saberes e das práticas realizadas e destinadas a prática no cotidiano da assistência ao público infantil. Todas as informações obtidas serão sigilosas e seu nome não será identificado em nenhum momento. Os dados serão guardados em local seguro e a divulgação dos resultados será feita de forma a não identificar os voluntários. Você ficará com uma cópia deste Termo e toda a dúvida que você tiver a respeito desta pesquisa, poderá perguntar diretamente para Jocasta Maria Oliveira Morais, na Rua Dionísio Filgueira, 383, Centro, Mossoró-RN ou pelo telefone: (84) 94028953. Dúvidas a respeito da ética dessa pesquisa poderão ser questionadas ao Comitê de Ética em Pesquisa da UERN no endereço Rua Atirador Miguel da Silva Neto, s/n – Aeroporto, Mossoró -RN ou pelo telefone (84) 3318-2596. Consentimento Livre e Esclarecido Estou de acordo com a participação no estudo descrito acima. Fui devidamente esclarecido quanto aos objetivos da pesquisa, aos procedimentos aos quais seremos submetidos e dos possíveis riscos que possam advir de tal participação. Foram-me garantidos esclarecimentos que acaso venha a solicitar durante o curso da pesquisa e o direito de desistir da participação em qualquer momento, sem que minha desistência implique em qualquer prejuízo a minha pessoa ou família. A minha participação na pesquisa não implicará em custos ou prejuízos adicionais, sejam esses custos ou prejuízos de caráter econômico, social, psicológico ou moral. Autorizo assim a publicação dos dados da pesquisa a qual me foi garantido o anonimato e o sigilo dos dados referentes à minha identificação. Mossoró-RN, ____ de _______________ de 20____. Participante da pesquisa ou responsável legal: <<assinatura>> <<testemunhas>> <<testemunhas>> Pesquisador responsável: ___________________________________________________________________ Jocasta Maria Oliveira Morais Rua Dionísio Filgueira, 383, Centro, Mossoró-RN (84) 9402-8953 Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos – CEP/UERN Rua Atirador Miguel da Silva Neto, S/N Aeroporto. 3° Pavimento da Faculdade de Ciências da Saúde Tel.: (84) 3318-2596 e-mail:[email protected] CEP 59607 360. APÊNDICE B - ROTEIRO NORTEADOR DA ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA COM OS PROFISSIONAIS DE SAÚDE DAS UNIDADES BÁSICAS DE SAÚDE DA FAMÍLIA DE MOSSORÓ/RN 102 DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: Formação em saúde: Especialização: ( ) Sim ( ) Não Tempo de formação: Área: Tempo de atuação na Estratégia Saúde da Família - ESF: 1. Durante a sua graduação recebeu formação para trabalhar na Estratégia de Saúde da Família? Qual tipo? Realizou algum curso após a graduação para atuar na ESF? 2. Já realizou alguma capacitação na área de Atenção a Saúde da Criança? Se sim, qual? 3. Como você organiza a sua agenda de trabalho semanal para o atendimento as crianças de 0 a 9 anos? Quais as ações comumente desenvolvidas? 4. O que você entende por atenção primária? Quais as ações/atributos que você define como atenção primária? 5. Quais as ações, com foco na atenção primária, que você realiza nas práticas destinadas a criança? 6. Qual a sua opinião sobre a atenção à saúde da criança na sua unidade? 7. Como você caracteriza a acessibilidade e a vinculação dos profissionais desse serviço no tocante a atenção à saúde da criança? 8. Você acredita que a Atenção Primária à Saúde de Mossoró/RN consegue prestar um atendimento integral as crianças de 0 a 9 anos? 9. Em sua opinião, existem aspectos que limitam e potencializam as práticas destinadas a atenção à saúde da criança, se existe, quais limitam? Quais potencializam? ANEXO 1 - INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS PARTE 1: CARACTERIZAÇÃO: 103 UBSF: Nome da mãe/responsável: Sexo: Nome da criança: Sexo: Escolaridade: ( ) alfabetizado ( ) analfabeto Idade: Idade: PARTE 2: PCATOOL-BRASIL - INTRUMENTO DE COLETA DE DADOS COM AS MÃES/RESPONSÁVES POR CRIANÇAS DE 0 A 9 ANOS DAS UNIDADES BÁSICAS DE SAÚDE DA FAMÍLIA – UBSF DE MOSSORÓ/RN 104 105 106 107 108 109 110 111 112 113 114 115 ANEXO 2 - PARECER CONSUBSTANCIADO DO CEP 116 117 118