25 de agosto de 2015 Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos Ajuste intenso no déficit externo persistiu em julho, assim como a robustez dos investimentos diretos no país O déficit em conta corrente chegou a US$ 6,2 bilhões em julho, de acordo com os dados divulgados hoje na nota à imprensa do setor externo, pelo Banco Central. O resultado ficou abaixo da nossa projeção de US$ 6,6 bilhões e da mediana do mercado, de US$ 6,8 bilhões, e levou o saldo a acumular déficit de US$ 89,4 bilhões nos últimos doze meses, o equivalente a 4,34% do PIB. A diferença em relação ao dado efetivo e nossa projeção se deu na conta de remessas e lucros e dividendos que registraram saídas líquidas extremamente baixas de US$ 0,6 bilhões. Embora seja modesta a queda do déficit externo observada em doze meses (pois carrega inércia de um segundo semestre de 2014 muito ruim), quando comparamos com os dados de julho de 2014 (US$ -9,2 bilhões), esse ajuste é bastante intenso, reflexo da atividade econômica doméstica desaquecida e da depreciação cambial. Esse dado, portanto, reforça nossa projeção de forte ajuste externo já em 2015. Como já ressaltamos em publicações anteriores, a nova metodologia das estatísticas de Balanço de Pagamentos (BPM6/FMI) divulgada desde abril pelo Banco Central, se de um lado, deixa o país mais atualizado com padrões metodológicos internacionais, de outro, aproxima a definição de transações correntes de um conceito "contábil", enquanto a metodologia anterior estava mais alinhada a um conceito “caixa“. Nesse sentido, continuamos defendendo que o conceito anterior (BPM5/FMI) é mais adequado para análise por dois motivos: ao estar mais atrelado ao conceito “caixa”, permite diagnóstico mais exato e preciso sobre o que está ocorrendo no fluxo cambial. O outro fator é que o conceito anterior está mais atrelado às variáveis explicativas das transações correntes, a saber: atividade doméstica, taxa de câmbio e atividade externa. Como explicar o déficit de junho sair de US$ 2,6 bilhões para US$ 6,2 bilhões em julho? Houve forte aceleração da atividade doméstica, apreciação cambial? Em outras palavras, o dado de julho é emblemático dessas disparidades e a razão para isso é a contabilização dos juros reinvestidos no país no déficit externo no conceito novo. A conta de juros cresceu de US$ -1,3 bilhão em junho para US$ -4,6 bilhões em julho, devido à incorporação do pagamento de cupons de NTN-F a investidores estrangeiros, que não necessariamente retiraram do país esses recursos. Muito provavelmente, o déficit externo no conceito antigo, ou seja, o mais relevante para fluxo cambial e o que consideramos ser mais justo para avaliar a tendência dessa variável, deve ter em julho se mantido próximo da média dos últimos dois meses, ou seja, em torno de US$ 3 bilhões, acompanhando o desaquecimento da atividade doméstica e depreciação cambial. Em termos dessazonalizados e anualizados, a média dos últimos três meses do déficit externo, no conceito antigo, está abaixo de US$ 40 bilhões, contra mais de US$ 100 bilhões apurados no último trimestre de 2014, ou seja, trata-se do ajuste mais intenso e agudo já realizados nessa variável nos últimos anos. O DEPEC – BRADESCO não se responsabiliza por quaisquer atos/decisões tomadas com base nas informações disponibilizadas por suas publicações e projeções. Todos os dados ou opiniões dos informativos aqui presentes são rigorosamente apurados e elaborados por profissionais plenamente qualificados, mas não devem ser tomados, em nenhuma hipótese, como base, balizamento, guia ou norma para qualquer documento, avaliações, julgamentos ou tomadas de decisões, sejam de natureza formal ou informal. Desse modo, ressaltamos que todas as consequências ou responsabilidades pelo uso de quaisquer dados ou análises desta publicação são assumidas exclusivamente pelo usuário, eximindo o BRADESCO de todas as ações decorrentes do uso deste material. Lembramos ainda que o acesso a essas informações implica a total aceitação deste termo de responsabilidade e uso. A reprodução total ou parcial desta publicação é expressamente proibida, exceto com a autorização do Banco BRADESCO ou a citação por completo da fonte (nomes dos autores, da publicação e do Banco BRADESCO). DESTAQUE EXPRESSO O Investimento Direto no País (IDP) registrou saldo positivo de US$ 6,0 bilhões no mês passado, sucedendo uma entrada de US$ 5,4 bilhões em junho. Com isso, nos últimos doze meses acumulou entrada de US$ 78,4 bilhões, o equivalente a 3,81% do PIB. Novamente, consideramos que a antiga metodologia também é a mais adequada para análise, pois está mais condizente com o conceito econômico de investimento estrangeiro direto. Mas, nesse caso, vemos que também o IED (Investimento Estrangeiro Direto) no conceito antigo tem surpreendido positivamente e registrou US$ 4,8 bilhões em julho e US$ 60 bilhões em doze meses. Em relação aos dados acumulados no ano, vale uma observação: o IDP registrou queda de 33% em 2015, porém o IED (conceito antigo) mostrou queda de apenas 7% em 2015. A nossa leitura dessa divergência é que de um lado a atividade econômica enfraquecida reduziu os lucros reinvestidos (que registraram queda de 41%), e de outro, as captações de empresas brasileiras no exterior realizadas por subsidiárias (que entram no conceito de IDP) se reduziram drasticamente em 2015 (queda de 44%). Ou seja, a boa notícia é que o investidor estrangeiro não alterou significativamente seu apetite por ativos brasileiros, porém, de outro lado, as maiores emissoras brasileiras de bonds externos reduziram drasticamente suas ofertas. Os investimentos em carteira continuaram mostrando moderação, principalmente nos fluxos de renda fixa que registraram saída líquida expressiva de US$ -3 bilhões, ainda que ações tenham registrado entradas de US$ 234 milhões. Esse é o principal ponto de alerta nessa divulgação, pois até junho, apesar da alta volatilidade dos mercados domésticos, ainda não tínhamos nos deparado com quadro de saídas expressivas de capitais. Ainda que a prévia dos fluxos de renda fixa de agosto sugira ligeira entrada líquida, esse tipo de fluxo continua sendo o mais sensível ao aumento de incertezas no cenário doméstico e merece ser monitorado com atenção nos próximos meses. A taxa de rolagem da dívida externa ficou estável em 97% na passagem de junho para julho. Pode-se dizer que esse nível em torno de 100% é neutro em termos de fluxo cambial. Assim, diante de mais uma confirmação de que há um forte ajuste em curso, mantemos nossa perspectiva de redução do déficit em conta corrente em 2015, para US$ 63 bilhões (o que equivale a 3,3% do PIB, considerando a nova série do PIB e a nova metodologia do Balanço de Pagamentos), sucedendo déficit de US$ 104 bilhões em 2014 (4,4% do PIB). Adicionalmente, o IDP deve somar US$ 70 bilhões, ante US$ 96,9 bilhões no ano passado. Já no conceito antigo, que julgamos ser mais adequado para a análise, projetamos déficit externo de US$ 54 bilhões em 2015 (contra US$ 92,2 bilhões em 2014) e IED de US$ 50 bilhões (ante US$ 62,5 bilhões em 2015). 30,000 14,657 20,000 10,000 -20,000 Média 3 meses 1,712 0 -10,000 Conta corrente (Conceito anterior) - dessazonalizado anualizado média móvel de 3 meses 2002-2014 12 meses 13,919 8,194 -6,257 -11,952 -21,753 -16,982 -17,369 -30,614 -30,000 -40,000 -50,000 -60,000 -70,000 -34,122 -35,638 -36,005 -39,349 -57,994 -70,191 -68,248 -77,151 -80,000 -90,000 -100,000 -96,156 -110,000 jul/03 out/03 jan/04 abr/04 jul/04 out/04 jan/05 abr/05 jul/05 out/05 jan/06 abr/06 jul/06 out/06 jan/07 abr/07 jul/07 out/07 jan/08 abr/08 jul/08 out/08 jan/09 abr/09 jul/09 out/09 jan/10 abr/10 jul/10 out/10 jan/11 abr/11 jul/11 out/11 jan/12 abr/12 jul/12 out/12 jan/13 abr/13 jul/13 out/13 jan/14 abr/14 jul/14 out/14 jan/15 abr/15 jul/15 -120,000 2 Fonte: BC Elaboração: BRADESCO DESTAQUE EXPRESSO 3,2% 1,4% 1,2% 1,2% Déficit em conta corrente como proporção do PIB em % (histórico: conceito antigo e 2014-2016: conceito novo) 1,7% 1,2% 0,7% 0,2% 0,1% -0,1% -0,8% 0,1% -0,3%-0,1% -0,7% -0,4% -2,4% -2,8% -3,5% -4,2% -4,8% -1,7%-1,5% -1,5% -1,8% -2,8% -2,3% -2,4% -3,4% -3,7% -4,2% -4,1% -3.3% -4,5% -6,3% -6,8% -7,8% Fonte: BC Elaboração: BRADESCO -8,1% 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 -8,8% 19,000 Déficit em conta corrente em US$ milhões (histórico: conceito antigo e 2014-2016: conceito novo) 13,98513,643 11,679 4,177 1,551 10,000 1,000 -8,000 -1,811 -7,637 -17,000 -18,384 -23,215 -23,502 -25,335 -24,225 -30,452 -33,416 -26,000 -35,000 -24,302 -28,192 -2,4% PIB -44,000 -45,277 -47,273 -52,480 -54,283 -53,000 -62,000 -3,3% PIB -63,429 -71,000 -80,000 -81,379 -89,000 -4,5% PIB -98,000 -107,000 -104,740 2016 2015 2014 2013 2012 2011 2010 2009 2008 2007 2006 2005 2004 2003 2002 2001 2000 1999 1998 1997 1996 1995 -116,000 1994 Fonte: BC Elaboração: BRADESCO 110.000 96.851 100.000 90.000 80.000 70.000 70.000 70.000 66.660 65.272 63.996 60.000 50.000 30.000 48.506 45.058 40.000 34.585 32.779 28.856 28.578 25.949 22.457 18.146 16.590 20.000 15.066 18.822 10.144 10.000 2016* 2015* 2014 2013 2012 2011 2010 2009 2008 2007 2006 2005 2004 2003 2002 2001 2000 1999 1998 0 3 Investimento direto no País (histórico: conceito antigo e 2014-2016: conceito novo) Fonte: BC Elaboração: BRADESCO DESTAQUE EXPRESSO Equipe Técnica Octavio de Barros - Diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos Marcelo Cirne de Toledo – Superintendente executivo Economia Internacional: Fabiana D’Atri / Felipe Wajskop França / Thomas Henrique Schreurs Pires Economia Doméstica: Igor Velecico / Andréa Bastos Damico / Ellen Regina Steter / Myriã Tatiany Neves Bast / Ariana Stephanie Zerbinatti Análise Setorial: Regina Helena Couto Silva / Priscila Pacheco Trigo / Leandro de Oliveira Almeida Pesquisa Proprietária: Fernando Freitas / Leandro Câmara Negrão / Ana Maria Bonomi Barufi Estagiários: Davi Sacomani Beganskas / Henrique Neves Plens / Mizael Silva Alves/ Gabriel Marcondes dos Santos/ Wesley Paixão Bachiega/ Carlos Henrique Gomes de Brito 4