PROGRAMAÇÃO E RESUMOS 70 Encontro da ABECS Associação Brasileira de Associação Brasileira de Estudos Crioulos e Similares Estudos Crioulos e Similares 130 Encontro da Associação dos Crioulos de Base Lexical Portuguesa e Espanhola Associação dos Crioulos de Base Lexical Portuguesa e Espanhola UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS – FFLCH SÃO PAULO – SP 70 ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS CRIOULOS E SIMILARES – ABECS 13 ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO DE CRIOULOS DE BASE LEXICAL PORTUGUESA E ESPANHOLA – ACBLPE 0 REALIZAÇÃO: Associação Brasileira de Estudos Crioulos e Similares – ABECS Associação de Crioulos de Base Lexical Portuguesa e Espanhola – ACBLPE APOIO: Fundação de Amparo à Pesquisa ao Estado de São Paulo – FAPESP Comissão de Cooperação Internacional da Universidade de São Paulo – CCInt Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas – FFLCH Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas FFLCH/USP Programa de Pós-Graduação em Filologia e Língua Portuguesa FFLCH/USP Comissão de Graduação FFLCH/USP São Paulo Conventions & Visitors Bureau Universidade de São Paulo Reitor João Grandino Rodas Vice-Reitor Hélio Nogueira da Cruz Vice-Reitor Executivo de Administração Antonio Roque Dechen Vice-Reitor Executivo de Relações Internacionais Adnei Melges de Andrade Pró-Reitora de Cultura e Extensão Universitária Maria Arminda do Nascimento Arruda Pró-Reitora de Graduação Telma Maria Tenório Zorn Pró-Reitor de Pesquisa Marco Antonio Zago Pró-Reitor de Pós-Graduação Vahan Agopyan Diretora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas Sandra Margarida Nitrini Chefe do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas João Roberto Gomes de Faria ABECS (Gestão 2010/2012) Presidente Prof. Dr. Gabriel Antunes de Araújo (USP) Secretária-Geral Profa. Dra. Márcia Santos Duarte de Oliveira (USP) Tesoureira Profa. Ana Lívia dos Santos Agostinho (USP) ACBLPE – Direção (desde 2011) Presidente Prof. Dr. Alain Kihm (CNRS) Vice-Presidente Prof. Dr. Carlos Filipe G. Figueiredo (Universidade de Macau) Secretária da Mesa da Direção Profa. Dra. Dulce Pereira (Universidade de Lisboa) Secretário da ACBLPE Bernardino Cardoso Tavares Tesoureira Profa. Dra. Nélia Alexandre Mesa da Assembléia Geral (desde 2011) Presidente Prof. Dr. Joseph Clancy Clements (Universidade de Indiana) Vice-Presidente Profa. Dra. Fernanda Pratas (Escola Superior de Educação – Inst. Politécnico de Setúbal) Secretários da Mesa da Assembléia Geral Sílvio A. Moreira de Sousa Profa. Dra. Liliana Inverno (CELGA, Universidade de Coimbra/CECL, Universidade do Algarve) Conselho Fiscal Presidente Prof. Dr. John Holm (Universidade de Coimbra) (desde 2009) Vogais Prof. Dr. Dante Lucchesi (Universidade Federal da Bahia) (desde 2010) Profa. Dra. Fernanda Pratas (Escola Superior de Educação – Inst. Politécnico de Setúbal) (desde 2011) Comissão Organizadora do 70ABECS/130ACBLPE Alain Kihm (CNRS – Centre National de la Recherche Scientifique, França) Carlos Filipe G. Figueiredo (Universidade de Macau, Macau) Gabriel Antunes de Araújo (Universidade de São Paulo, São Paulo) Márcia S. D. de Oliveira (Universidade de São Paulo, São Paulo) Manuele Bandeira (Universidade de São Paulo, São Paulo) Shirley Freitas (Universidade de São Paulo, São Paulo) Comissão Científica do 70ABECS/130ACBLPE Carlos Filipe G. Figueiredo (Universidade de Macau, Macau) Dulce Pereira (Universidade de Lisboa, Portugal) Gabriel Antunes de Araújo (Universidade de São Paulo, São Paulo) Hugo Canelas Cardoso (Universidade de Coimbra, Portugal) Laura Alvarez Lopez (Universidade de Estocolmo, Suécia) Manuele Bandeira (Universidade de São Paulo, São Paulo) Márcia S. D. de Oliveira (Universidade de São Paulo, São Paulo) Shirley Freitas (Universidade de São Paulo, São Paulo) Tjerk Hagemeijer (Universidade de Lisboa, Portugal) Locais de Atividade Prédio de Letras da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas – USP · Salas indicadas na Programação PROGRAMAÇÃO 130 ENCONTRO DA: ASSOCIAÇÃO DOS CRIOULOS DE BASE LEXICAL PORTUGUESA E ESPANHOLA 70 Encontro da Associação Brasileira de Estudos Crioulos e Similares – ABECS 130 Encontro da Associação de Crioulos de Base Lexical Portuguesa e Espanhola – ACBLPE Programação e Resumo dos Minicursos 30 e 31 de julho de 2012 PROF. DR. NICHOLAS FARACLAS University of Puerto Rico/Río das Piedras, Porto Rico Recontextualizando a Emergência das Línguas Crioulas: o Papel dos Povos Marginalizados na Gêneses dos Crioulos Horário: Local: 9h -12h sala 266, Prédio de Letras, USP Resumo: Em alguns dos primeiros trabalhos influentes do final do século XIX e começo do século XX, crioulistas como Hugo Schuchardt e Francisco Adolfo Coelho incorporaram um enfoque significativo sobre os crioulos de base lexical ibérica, e desde então variedades crioulizadas de base portuguesa e espanhola receberam e continuam a receber atenção especializada e permanente de gerações de estudiosos extremamente qualificados, dedicados, inteligentes e dinâmicos. Não obstante, os últimos anos do século XX testemunharam uma incômoda tendência em direção à marginalização e apagamento do Atlântico Ibérico e do Pacífico Indo-Ibérico em muitos dos debates teóricos chave a respeito da emergência dos crioulos da era colonial. Uma das poucas vozes influentes que tentam recolocar as variedades de contato de base ibérica em seu legítimo lugar no centro dos debates a respeito da emergência dos crioulos da era colonial é aquela de John Holm (1989). Suas descrições de como as variedades crioulizadas de base holandesa, francesa e inglesa do Atlântico e do Indo-Pacífico da era colonial surgiram geralmente levam em consideração uma ampla gama de fatores linguísticos e sócio-históricos que ele frequentemente 11 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas 70 ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS CRIOULOS E SIMILARES filia aos primórdios da expansão colonial ibérica. Nesta apresentação, tentamos desenvolver o trabalho fundamental de Holm, expandindo o conceito de Mervyn Alleyne (1971) de Matriz Cultural da Crioulização. No decorrer da mesma, demonstramos quantas das teorias atualmente mais influentes a respeito da emergência dos crioulos sugeridas por crioulistas como Chaudenson, Mufwene, Bickerton, McWhorter e seus seguidores são fatalmente equivocadas, pois elas não reconhecem suficientemente a importância central das consequências linguísticas e sócio-históricas do contato entre os ibéricos e os povos autóctones da África, das Américas, da Ásia e do Pacífico, especialmente durante os primeiros séculos da expansão colonial europeia. Por exemplo, nós e outros crioulistas como Ian Hancock (p.c.) temos criticado o que se tornou uma prática padrão entre muitos que estudam os crioulos de base inglesa na África ocidental: a de assumir que estas variedades devem sua existência quase exclusivamente ao influxo de escravos ‘repatriados’ do Caribe para a África Ocidental, situação que começou sob o domínio inglês nos anos de 1790. Esta visão comumente defendida ignora, ou pelo menos minimiza, a rica tradição da crioulização de línguas e culturas que tinha sido estabelecida pelos portugueses e perpetuada pelos holandeses, franceses e especialmente os ingleses ao longo da costa durante os 300 anos anteriores. Embora John McWhorter (2000) faça uma tentativa inicial de reparar esta de(s)-centralização da atividade afro-ibérica, ele o faz preponderantemente utilizando seus argumentos bastante lógicos e propícios para um novo reconhecimento da importância da influência afro-portuguesa a fim de sustentar seus argumentos mais dúbios contra a influência afro-espanhola sobre a emergência dos crioulos atlânticos. De forma semelhante, o trabalho erudito sobre os crioulos de base inglesa do Pacífico mantém um enfoque quase inabalável sobre os regimes de plantation do século XIX em Queensland, Samoa, e Havaí, de novo minimizando e ofuscando a tradição igualmente rica da crioulização no IndoPacífico estabelecida pelos portugueses e espanhóis e propagada por outras potências europeias, sobretudo pelos ingleses durante os quatro séculos anteriores. Na verdade, a maioria desses especialistas em crioulos de base inglesa do Pacífico que reconhece algum grau de input das variedades lexificadas ibéricas o faz principalmente incluindo esta influência sob o fenômeno amorfo e parcamente estudado do “Jargão do mar do Sul”. 12 Universidade de São Paulo 130 ENCONTRO DA: ASSOCIAÇÃO DOS CRIOULOS DE BASE LEXICAL PORTUGUESA E ESPANHOLA O trabalho de Chaudenson (2001) sobre a emergência de crioulos de base francesa é importante porque ele nos lembra de que precisamos prestar mais atenção tanto aos fatores sócio-históricos, bem como às variedades do Oceano Índico em nossas descrições da emergência dos crioulos. Contudo, sua exclusão sistemática de todos os fatores, exceto um conjunto muito limitado de fatores e ambientes sócio-históricos, de seu modelo teórico, automaticamente exclui um input significante de qualquer fonte que não seja a França, uma vez mais tornando invisíveis três séculos de crioulização que envolvem os portugueses e os espanhóis no Oceano Índico. Esperar-se-ia que Mufwene (2001) usasse alguns de seus constructos biogenéticos tais como “Princípio Fundador” a fim de reconhecer e recentralizar o papel pioneiro de variedades de contato que surgiram de encontros entre povos ibéricos por um lado e povos da África, das Américas, Ásia e Pacífico por outro na emergência dos crioulos da era colonial. Em vez disso ele parece estar empregando esses constructos da mesma maneira exclusiva e seletiva como faz Chaudenson, com resultados similares que efetivamente justificam, reafirmam, e reproduzem parcialidades a favor de línguas europeias do noroeste e seus falantes em debates relativos aos inputs culturais e linguísticos para a crioulização na era colonial. A maioria dos proponentes atuais de cenários universalistas para a emergência dos crioulos da era colonial já têm rejeitado explicitamente a Hipótese do Bioprograma da Linguagem de Bickerton (1984). Mas isso não significa que eles tenham rejeitado as suposições essencialmente sem cultura e órfãs que sustentam sua rasura de qualquer influência significativa, não apenas das línguas de contato lexificadoras ibéricas, mas também das mães, os africanos, indígenas americanos, asiáticos, ou da ilha do Pacífico que falam as línguas. Infelizmente, toda “gramática universal” frequentemente termina apenas por coincidir com o “europeu mediano standard” de Whorf (1941). Nessa apresentação, a evidência linguística e sócio-histórica de alguns dos primeiros séculos dos empreendimentos coloniais dos portugueses e espanhóis é utilizada para contextualizar e entender os resultados sócio-históricos e linguísticos dos empreendimentos coloniais do holandês, francês e inglês durante os séculos seguintes. Como resultado, torna-se evidente que muitos dos padrões e resultados do contato entre europeus setentrionais e não-europeus que tipificaram o período 13 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas 70 ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS CRIOULOS E SIMILARES mais recente foram na verdade prenunciados por padrões e resultados de contato entre europeus do sul e não-europeus em lugares tais como São Tomé, Brasil, e o Caribe espanhol durante o período mais antigo. PROF. DR. JOHN HOLM – UNIVERSIDADE DE COIMBRA, PORTUGAL Paralelos no Desenvolvimento Social e Linguístico de Duas Línguas Parcialmente Reestruturadas: Português Vernacular Brasileiro e Africâner da África do Sul Horário: Local: 14:30h-17:30h sala 266, Prédio de Letras, USP Resumo: Baseado em Holm (2006), Línguas em contato: reestruturação parcial de vernáculos (Cambridge University Press), esse minicurso se concentrará na identidade do português vernacular brasileiro ao comparar e contrastar a história social de seus falantes e sua estrutura sincrônica com uma variedade aparentada do holandês que se tornou uma língua standard autônoma: africâner. Isso levanta um número de questões que têm relação com definições problemáticas de língua e de dialeto: em muitas maneiras, o africâner não está mais longe do holandês estruturalmente do que o português vernacular brasileiro (PVB) está do português europeu (PE), mas sua história política é bastante diferente e isso tem contribuído para a posição anômala do PVB face ao PE comparado ao inglês dos EUA frente ao inglês do Reino Unido. A primeira metade do curso trata da história sociolinguística do PVB comparado à história do africâner, revelando as razões sócio-políticas do africâner ter se tornado uma língua estandardizada distinta do holandês, mas por que isso nunca ocorreu ao PVB, cujos falantes ainda mantêm o PE em reverência indevida, considerando o poder relativo dos dois países. A segunda metade do curso apresenta uma comparação da estrutura sincrônica do PVB e do africâner com a estrutura de duas línguas fontes. Tal apresentação torna claro que é a política não linguística per se que é tudo no que diz respeito à determinação do que é linguisticamente correto. 14 Universidade de São Paulo 130 ENCONTRO DA: ASSOCIAÇÃO DOS CRIOULOS DE BASE LEXICAL PORTUGUESA E ESPANHOLA Encontro Conjunto da ABECS e da ACBPLE 7º Encontro da Associação Brasileira de Estudos Crioulos e Similares (ABECS) 13º Encontro da Associação de Crioulos de Base Lexical Portuguesa e Espanhola (ACBLPE) 30, 31 de julho e 1-3 de agosto de 2012 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas Local: Prédio de Letras, Salas 260, 261 e 266 Universidade de São Paulo, Brasil Programa do Encontro Conjunto/Joint Meeting Program MINICURSOS/MINI-COURSES 30 e 31 de julho 9h-12h Minicurso/Mini-course 1: Sala/Room 266 Nicholas FARACLAS (Universidad de Puerto Rico/ Río Piedras, Porto Rico) 12h-14h30 14h30-17h30 Re-contextualizing the Emergence of Creole Languages: The Role of Marginalized Peoples in Creole Genesis Intervalo/Break Minicurso/Mini-course 2: Sala/Room 266 John HOLM (Universidade de Coimbra, Portugal) Parallels in the social and linguistic development of two partially restructured languages: Brazil’s Vernacular Portuguese and South Africa’s Afrikaans CONFERÊNCIAS/CONFERENCES 01-AGO 8h30-9h 9h-11h MESA DE ABERTURA DO ENCONTRO, Sala/Room 266 MESA/TABLE 1, Sala/Room 266 J. Clancy CLEMENTS (Indiana University, EUA) Hugo C. CARDOSO (CELGA, Universidade de Coimbra, Portugal) Debatedor 11h-11h10 Accelerated contact-induced language change in Korlai Creole Portuguese: A case for a Marathirelexified creole Redescobrindo os crioulos do Malabar Alan Baxter Intervalo/Break 15 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas 70 ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS CRIOULOS E SIMILARES 11h10-12h10 12h10-14h 14h-16h PAINEL/PANEL: 1, 2 e 3 Intervalo/Break MESA/TABLE 2, Sala 266 Donald WINFORD (The Ohio State University, EUA) Alain KIHM (CNRS – Université Paris-Diderot, França) Debatedor 16h-16h30 16h30-18h 18h-19h FILME/MOVIE 19h-19h50 Intervalo/Break PAINEL/PANEL: 4, 5 e 6 Intervalo/Break Local: Sala/Room 266 Entrada franca/Admission free O professor Alan Baxter (consultor da produção do filme) conversará com o público após a exibição. Creole formation, second language acquisition, and language processing: A look at the issues Morphological complexity in pidgins-creoles: Portugueselexifier pidgins-creoles from an abstractive morphology perspective John Lipski A TERRA DO PADRE DOCUMENTÁRIO/DOCUMENTAR Y Direção: JAMES JACINTO Pesquisa e roteiro: SILVIE LAI Produção: EFFICIENT PRODUCTIONS 2-AGO 8h-10h30 10h30-11h 11h-12h 12h-14h PAINEL/PANEL: 7, 8 e 9 Intervalo/Break MESA/TABLE 3, Sala/Room 266 John LIPSKI (The Pennsylvania State University, EUA) Mapping the psycholinguistic boundaries between Spanish and Palenquero: How many “grammars” per “language”? Debatedor Nicholas Faraclas Intervalo/Break 16 Universidade de São Paulo 130 ENCONTRO DA: ASSOCIAÇÃO DOS CRIOULOS DE BASE LEXICAL PORTUGUESA E ESPANHOLA 14h-16h MESA/TABLE 4, Sala/Room 266 Nicholas FARACLAS (and the Working Group on the Agency of Marginalized Peoples in the Emergence of Creole Languages and Cultures, Universidad de Puerto Rico/Río Piedras, Porto Rico) Silvia KOUWENBERG (University of the West Indies, Jamaica) Debatedor 16h-16h30 16h30-18h 19h30 Recentering the Ibero-Atlantic and the Ibero-Indo Pacific within Creolistics: Acknowledging the Crucial Impact of the Patterns and Outcomes of Creolization in the Iberian Empires on the Emergence of All of the Colonial Era Creoles The prosodic system of Papiamentu: between stress and tone Gabriel Antunes Araujo Intervalo/Break PAINEL/PANEL: 10, 11 e 12 Jantar/Dinner 3-AGO 8h-10h30 10h30-11h 11h-12h PAINEL/PANEL: 13 e 14 Intervalo/Break MESA/TABLE 5, Sala/Room 266 Edenize Ponzo PERES (Universidade Federal do Espírito Santo, Brasil) Debatedora 12h-14h 14h-15h45 Intervalo/Break MESA/TABLE 6, Sala/Room 266 Carlos FIGUEIREDO (Universidade de Macau, China) Márcia D. OLIVEIRA (Universidade de São Paulo, Brasil) Debatedora 15h45-16h 16h 17h30 A diversidade linguística no Espírito Santo Rosane de Sá Amado O Português das comunas do Libolo, Angola, e português étnico da comunidade de Jurussaca, Brasil: cotejando os sistemas de pronominalização Margarida T. Petter Intervalo/Break Assembleias/Annual General Meetings Encerramento/Closing 17 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas 70 ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS CRIOULOS E SIMILARES PAINEIS/PANELS 01-AGO, manhã/morning, 11h10-12h10 Sala/Room 260, Painel/Panel 1, Chair: Beatriz Christino Beatriz Protti Christino A concordância de gênero e a expressão da definitude 11h10-11h40 11h40-12h10 Elizana Schaffel Bremenkamp em Português Huni-Kuin A língua holandesa no Espírito Santo: análise sociolinguística do seu desaparecimento Sala/Room 261, Painel/Panel 2, Chair: Laura Álvarez López Tania Alkmim & Laura A fala de africanos e seus descendentes no Brasil: 11h10-11h40 11h40-12h10 Álvarez López Lilian do Rocio Borba representações orais e escritas Artigos de Cândido da Fonseca Galvão: fontes escritas para história do português brasileiro Sala/Room 266, Painel/Panel 3, Chair: Dante Lucchesi O continuum de normas linguísticas no português 11h10-11h40 Silvana Silva de Farias Araujo 11h40-12h10 Dante Lucchesi falado em Feira de Santana-BA Contato entre línguas e mudança linguística: as relativas e as palavras interrogativas no português afro-brasileiro 01-AGO, tarde/afternoon, 16h30-18h Sala/Room 260, Painel/Panel 4, Chair: Anthony Grant 16h30-17h Anthony Grant On the (dis)unity of the Manila Bay Creoles 17h-17h30 Marivic Lesho Acoustic description of the Caviteño vowel system 17h30-18h Eeva Sippola Chabacano escrito: variación e ideologías Sala/Room 261, Painel/Panel 5, Chair: Hugo Cardoso 16h30-17h Hugo Cardoso & Ana R. Conjugação verbal e alomorfia no crioulo indo-português de Diu Luís 17h-17h30 Alan N. Baxter Are there “short” and “long” forms of verbs in Malacca Creole Portuguese? 17h30-18h Davi Borges de Alguns traços de crioulos portugueses asiáticos no Português de TimorAlbuquerque Leste Sala/Room 266, Painel/Panel 6, Chair: Jürgen Lang 16h30-17h Jürgen Lang Um mergulho no feature pool 17h30-18h Traces of contact in creole genesis: Accounting for variation in a complex Marlyse Baptista creole continuum 17h30-18h Stephen Fafulas & Miguel Language shift and the emergence of new varieties: Spanish in contact with Rodríguez-Mondoñedo Bora and Okaina 18 Universidade de São Paulo 130 ENCONTRO DA: ASSOCIAÇÃO DOS CRIOULOS DE BASE LEXICAL PORTUGUESA E ESPANHOLA 02-AGO, manhã/morning, 8h-10h30 Sala/Room 260, Painel/Panel 7, Chair: Eliana Pitombo Teixeira 8h-8h30 A sintaxe dos clíticos no português popular Eliana Pitombo Teixeira angolano 8h30-9h Traços distintivos do português vernáculo de Liliana Inverno Angola face ao português vernáculo do Brasil 9h-9h30 A variação do uso dos clíticos no português Zhang Chaofeng falado em Angola 9h30-10h Estrutura de foco no português de Angola: Eduardo Ferreira dos cotejo com línguas do Oeste da África e com Santos o português brasileiro 10h-10h30 Una comparación de algunas estructuras de Angela Bartens la morfosintaxis del español ecuatoguineano con el portugués angoleño Sala/Room 261, Painel/Panel 8, Chair: Nicolas Quint 8h-8h30 Les idéophones en Créole Casamançais et Noël Bernard Biagui & dans les créoles afro-portugais apparentés: Nicolas Quint Bisséen, Capverdien et Papiamento. 8h30-9h Descrição fonológica segmental do crioulo da Paula Mendes Costa Guiné-Bissau: um estudo preliminar 9h-9h30 Incanha Intumbo & Ana R. Uma análise morfológica da reduplicação no Luís Kriol da Guiné-Bissau Application de la méthodologie CLAPOTY à 9h30-10h Isabelle Léglise, Pascal des phénomènes de contacts de langues Vaillant & Joseph Jeantrilingues (créole casamançais, français, François Nunez wolof) 10h-10h30 Nicolas Quint & Noël Un aperçu de la catégorie «adjectif» en Bernard Biagui créole casamançais. Sala/Room 266, Painel/Panel 9, Chair: Catherine Bárbara Kempf 9h-9h30 Catherine Bárbara Kempf, Tabu linguístico e empréstimo de lexias Cynara Albina Rabelo dos Reis & Eliana Pereira da bantu no português do Brasil Silva 9h30-10h Michela Araújo Ribeiro & Anatomia e fisiologia humana nas línguas Jacky Maniacky bantu 10h-10h30 Rosa Maria de Lima Crenças e línguas em contacto: empréstimos Ribeiro & Jacky Maniacky da religião cristã nas línguas bantu 19 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas 70 ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS CRIOULOS E SIMILARES 02-AGO, tarde/afternoon, 16h-18h Sala/Room 260, Painel/Panel 10, Chair: Lurdes Teresa Lopes Jorge 16h-16h30 A expressão morfossintática e semântica de itens lexicais: considerações sobre o Lurdes Teresa Lopes Jorge português do Brasil e línguas crioulas de base portuguesa do Atlântico 16h30-17h A contribuição do contato entre línguas para Jürgen Alves de Souza o apagamento do clítico reflexivo no português afro-brasileiro 17h-17h30 Sobre a (in)existência de pronomes clíticos Ednalvo Apóstolo Campos no “português étnico” de Jurussaca 17h30-18h Do tópico nulo ao sujeito preenchido: Edivalda Araujo caminhos de um contato linguístico Sala/Room 261, Painel/Panel 11, Chair: Gabriel Antunes Araujo A realização variável do ditongo /ej/ no 16h-16h30 Alfredo Christofoletti Silveira 16h30-17h 17h-17h30 17h30-18h Gabriel Antunes Araujo, Alfredo Christofoletti Silveira & Ana Lívia Agostinho Ana Lívia Agostinho, Manuele Bandeira & Shirley Freitas Sousa Antônio Félix de Souza Neto Português de São Tomé e Príncipe A language game in Fá d’Ambô Adaptação de empréstimos no principense moderno Implicações do contato linguístico no sistema vocálico do papiamentu de Curaçao Sala/Room 266, Painel/Panel 12, Chair: John Holm A semântica dos determinantes em 16h-16h30 Wânia Miranda 16h30-17h 17h-17h30 17h30-18h John Holm Francisco João Lopes & Maria de Loudes Zanoli Bart Jacobs caboverdiano 16th-century evidence regarding the origins of the Capeverdean verbal marker -ba Considerações sobre a categoria foco na posição de sujeito na variedade do Crioulo de São Nicolau – Cabo Verde Grammaticalization in Afro-Portuguese Creoles: idiosyncracies and particularities 20 Universidade de São Paulo 130 ENCONTRO DA: ASSOCIAÇÃO DOS CRIOULOS DE BASE LEXICAL PORTUGUESA E ESPANHOLA Filme/Movie 19h-19h50 Local: Sala 266 Entrada franca/Admission free O professor Alan Baxter (consultor da produção do filme) conversará com o público após a exibição. Prof. Alan Baxter (the adviser of the movie production) will talk to the audience at the end of the showing. A TERRA DO PADRE DOCUMENTÁRIO/DOCUMENTARY Direção: JAMES JACINTO Pesquisa e roteiro: SILVIE LAI Produção: EFFICIENT PRODUCTIONS A presença portuguesa em Malaca foi relativamente curta (1611-1641). Subsequentemente tomada pelos holandeses e, em 1824, pelos britânicos, só em 1957 a Malásia se tornou um país autónomo que, atualmente, integra o estado de Malaca. Em Malaca não sobreviveu quase nenhuma construção ou vestígio arquitetônico do período colonial português. Todavia, persistem sinais inconfundíveis desse período, profundamente enraizados numa pequena comunidade que se auto-denomina “portugueses de Malaca”, “kristang” ou “euroasiáticos portugueses”. Essa influência sedimentou-se nas próprias gentes, passou de geração em geração e foi também assimilada à distância, já que a maioria dos kristang nunca esteve em Portugal. A contínua presença de padres portugueses até à década de 90 do século XX - Malaca esteve até então sob a alçada da diocese de Macau - e o contacto regular com visitantes portugueses contribuíram para esse processo de sedimentação e assimilação cultural. Aspectos dessa influência encontram-se na sua língua, o kristang, crioulo de base portuguesa, nos apelidos portugueses e nos nomes das ruas do Bairro Português onde se concentra hoje a comunidade, nas tradições cristãs e ainda nas festas populares. Embora, ao longo destes últimos séculos, a comunidade tenha conseguido preservar a sua identidade cultural de modo relativamente consistente, pareceu oportuno aos autores documentá-la audiovisualmente. A nível da língua, por exemplo, regista-se um decréscimo preocupante do número de falantes fluentes do crioulo kristang em favor de outras línguas como o inglês e o bahasa malaio. O crescente número de famílias e jovens que saem do bairro em busca de melhores condições de vida, ou simplesmente porque as casas do bairro já não são suficientes, bem como outras pressões que derivam do facto de a comunidade ser numericamente pouco expressiva (serão perto de 2000 os habitantes do bairro), indiciam uma crescente dispersão sociocultural. Quais as possibilidades e condições de manutenção e transformação de uma cultura minoritária? E quais os limites do que se pode entender por identidade cultural? Estas são algumas das questões sobre as quais se pode refletir a partir deste filme. Fonte: padre.htm http://www.museudooriente.pt/1383/a-terra-do- 21 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas 70 ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS CRIOULOS E SIMILARES 03-AGO, manhã/morning, 8h-10h30 Sala/Room 260, Painel/Panel 13, Chair: Isabella Mozzillo Isabella Mozzillo Um olhar sobre o portunhol da fronteira Brasil8h-8h30 Uruguai Aspectos do bilinguismo societal no comércio da fronteira uruguaio-brasileira Ana Maria Carvalho Contato de línguas e variação: a expressão do 9h-9h30 pronome sujeito em português e espanhol em contato no norte do Uruguai Laura Álvarez López & Comunidades lingüísticas afrohispanoamericanas y 9h30-10h Virginia Bertolotti la pervivencia del tratamiento su merced Las voces malungo, muyinga y yimbo en el español 10h-10h30 Magdalena Coll del Uruguay Sala/Room 266, Painel/Panel 14, Chair: Juanito Ornelas de Avelar A complementação de verbos direcionais no 8h-8h30 Juanito Ornelas de Avelar português brasileiro e no português moçambicano: contato, mudança e variação Uso variável do artigo definido no português 8h30-9h Carlos Filipe G. Figueiredo reestruturado da comunidade de Almoxarife, São Tomé Silvia Rodrigues Vieira & Estudo sociolinguístico da concordância verbal na 9h-9h30 Karen Cristina da Silva fala de indivíduos de São Tomé e Príncipe Tendências universais na marcação de plural em 9h30-10h Anna Jon-And variedades africanas e brasileiras do português 8h30-9h Dania Pinto Gonçalves PÔSTERES (UNDERGRADUATE STUDENTS) – C ORREDOR (C OFFEE-BREAK AREA) Raquel Azevedo da Silva (Universidade de São Paulo, Brasil) Morfema “que” complementizador versus morfema “que” marcador de foco no português étnico de Jurussaca-PA Élida Silva Pitangueira de Andrade (Universidade Federal da Bahia, Brasil) Construções de tópico com retomada na posição de sujeito no português afro-brasileiro Natival Almeida Simões Neto (Universidade Federal da Bahia, Brasil) O preenchimento do sujeito nos verbos climáticos 22 Universidade de São Paulo RESUMO DAS CONFERÊNCIAS 130 ENCONTRO DA: ASSOCIAÇÃO DOS CRIOULOS DE BASE LEXICAL PORTUGUESA E ESPANHOLA RESUMOS DAS CONFERÊNCIAS (por ordem alfabética) C HUGO C. CARDOSO (CELGA, UNIVERSIDADE DE COIMBRA) [email protected] Redescobrindo os Crioulos do Malabar No início das actividades coloniais portuguesas na Índia, no século XVI, vários dos territórios ocupados situaram-se naquela que era então conhecida como a “costa do Malabar”, i.e. o litoral sudoeste da Índia actualmente integrante do estado de Kerala. Contam-se, entre eles, as importantes cidades de Cochim e Cananor, as primeiras praças-fortes portuguesas na Ásia, e ainda Coulão. É nesta cronologia e neste contexto que se dá na região a formação de crioulos de base portuguesa, cuja dispersão chegou a abranger uma vasta área geográfica (ex. Cananor, Tellicherry, Mahé, Calecute, Cochim e Coulão). A estes, genericamente, chamaremos aqui “crioulos do Malabar”. A sequência histórica da expansão portuguesa na região faz destes crioulos sérios candidatos aos mais antigos da Ásia e, como tal, peças essenciais para compreender o desenvolvimento de outras variedades a Norte, a Sul e a Oriente. Infelizmente, uma boa parte da história destas línguas (e dos seus falantes) permanece obscura. Algumas delas foram contudo registadas logo na infância do interesse científico pelas línguas crioulas: Schuchardt (1889a) inseriu-os na categoria de “Dravido-Português” por se tratarem de crioulos formados numa ecologia dominantemente dravídica, com o malaiala por principal substrato; o mesmo autor publicou ainda breves estudos sobre o crioulo de Cochim (Schuchardt 1882) e o de Mahé/Cananor (Schuchardt 1889b). Os crioulos do Malabar chegaram a ser dados como extintos no seu conjunto (Smith, 1995), o que na realidade é válido apenas para algumas (a maioria) das localidades em questão; nas últimas décadas, foi possível contactar os últimos falantes 25 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas 70 ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS CRIOULOS E SIMILARES em Vaipim/Cochim e Cananor (v. Cardoso 2006) e, com isso, relançar a pesquisa sobre estas línguas. Disso daremos conta nesta conferência, na qual se fará uma caracterização linguística destas duas variedades e se estabelecerão pontes com outros crioulos de base portuguesa da Ásia. JOSEPH CLANCY CLEMENTS (UNIVERSIDADE DE INDIANA) [email protected] Accelerated contact-induced language change in Korlai Creole Portuguese: A case for a Marathi-relexified creole From the foundation of Korlai at the end of the 16th century till the middle of the 20th century, its inhabitants were, with rare exceptions, always agriculturalists. In the 1900s, with the advent of education, as well as fundamental changes in the Catholic church that took place because of Vatican II, Marathi (the regional language) became increasingly a part of village life where it has not been in the same way for centuries. Although the first parochial school (grades 1-4) of the area was established in 1916, it was only in 1980 that grades 5-10 were added. The school, a Marathimedium institution, was built and still remains in Korlai proper, next to the church. Until 1962, all church services in Korlai were in Latin, and sermons were in simplified Portuguese. After Vatican II, Marathi was introduced as the church language. This was the point at which Marathi became an integral part of the village life. Children increasingly stayed in school longer, thus learning Marathi more proficiently, and, importantly, they learned how to pray and celebrate church services in Marathi. In 1986, construction on a bridge was finish which spanned the wide river just north of Korlai that had kept traffic from major urban areas such as Mumbai from getting the village. Once the bridge was in place, industry moved into the area. Most notably, a large iron ore factory was built, employing many people who live in the area, including inhabitants from Korlai. As the Korlai villagers began to take salaried jobs, some began to sell off their fields to developers. One of the 26 Universidade de São Paulo 130 ENCONTRO DA: ASSOCIAÇÃO DOS CRIOULOS DE BASE LEXICAL PORTUGUESA E ESPANHOLA consequences of this change has been that the structure of family relations has begun to change. As agriculturalists, the parents of the children spent and still spend the day in the fields, with the children staying in the village with the grandparents. In this system, the speech of the grandparents, a more conservative variety, had a chance to influence the speech of the children in significant ways, and this family structure still exists in many households. In the households with factory workers, the mothers, who speak a relatively innovative variety, interact significantly more with the children, thereby reducing the impact of the grandparents’ speech. In studies on Korlai Portuguese published between 1990 and 2000, I identified four generations and showed that in their respective speech samples, the preference for head-final structures in the verb phrase increased from generation to generation. In this presentation, I report on a new generation of Korlai Portuguese speakers, representing the fifth generation of speakers. I first sketch in detail the changes in social and employment structures just alluded to, that many village families have undergone in the last 20 years. As there is a significant increase in the number of villagers who have abandoned the traditional agriculturalist life style to seek factory jobs, I will argue that children are influenced more by their mothers’ more innovative speech than before. Thus, whereas in the agriculturalist family structure language transmission happened from grandparent-to-grand child as much or more than parentto-children transmission, in the blue-collar family structure, children have more input from their parents. Secondly, I will argue that there is an increased emphasis on education in the village that was not as pronounced one generation ago. As a result, parents are increasingly more involved with the education of their children. With this socio-economic overview of the Korlai as the backdrop, I then examine the impact these changes have had on the fifth generation of Korlai speakers. The new data analyzed for this presentation include those from the children of the subjects from the studies carried out in the 1990s. Some of the more significant changes to be examined are word order – which is increasingly head-final – as well as substantially more borrowed vocabulary, to the extent that many Korlai children no longer have active knowledge of the vocabulary for everyday objects. Projecting into the future a generation or two, the argument will be presented that Korlai Creole Portuguese could undergo significant relexification in a number of domains encoded not only by nouns and certain functional elements, but by adjectives and verbs, as well. 27 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas 70 ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS CRIOULOS E SIMILARES F NICHOLAS FARACLAS AND THE WORKING GROUP ON THE AGENCY OF MARGINALIZED PEOPLES IN THE EMERGENCE OF CREOLE LANGUAGES AND CULTURES (UNIVERSIDADE DE PORTO RICO, RÍO PIEDRAS) [email protected] Recentering the Ibero-Atlantic and the Ibero-IndoPacific within Creolistics: Acknowledging the Crucial impact of the Patterns and Outcomes of Creolization in the Iberian Empires on the Emergence of all of the Colonial Era Creoles Some of the earliest seminal works by late 19th and early 20th century creolists such as Hugo Schuchardt and Francisco Adolfo Coello incorporated a significant focus on Iberian lexifier Creoles, and since then Portuguese and Spanish lexified creolized varieties have received and continue to receive expert and sustained attention from generations of superbly qualified, dedicated, intelligent, and dynamic scholars. Nevertheless, the later part of the 20th century witnessed a disturbing trend toward the marginalization and erasure of the Ibero-Atlantic and the Ibero-IndoPacific in many of the key theoretical debates concerning the emergence of the colonial era Creoles. One of the few influential voices attempting to restore Iberian lexifier contact varieties to their rightful place at the center of debates concerning the emergence of the colonial era Creoles is that of John Holm (1989). His accounts of how Atlantic and Indo-Pacific colonial era creolized English, French, and Dutch lexified varieties arose usually take into account a full range of linguistic and socio-historical factors that he often traces back to the earliest days of Iberian colonial expansion. In this presentation, we attempt to build on Holm’s foundational work, by expanding on Mervyn Alleyne’s (1971) concept of the Cultural Matrix of Creolization. In the process, we demonstrate how many of the currently most influential theories concerning creole emergence put forward by creolists such as Chaudenson, Mufwene, Bickerton, McWhorter, and their followers are fatally flawed, because they do not sufficiently acknowledge the central importance of the linguistic and socio-historical consequences of contact between Iberians and the indigenous peoples of Africa, the Americas, Asia, and the Pacific, especially during the first few centuries of European colonial expansion. 28 Universidade de São Paulo 130 ENCONTRO DA: ASSOCIAÇÃO DOS CRIOULOS DE BASE LEXICAL PORTUGUESA E ESPANHOLA For example, we and other creolists such as Ian Hancock (p.c.) have criticized what has become standard practice among many of those those studying the English lexifier Creoles of West Africa to assume that these varieties owe their existence almost exclusively to the influx of ‘repatriated’ slaves from the Caribbean to West Africa that began under the English in the 1790s. This commonly held view ignores or at least discounts the rich tradition of creolization of languages and cultures that had been established by the Portuguese and perpetuated by the Dutch, French, and especially the English along the coast for the previous 300 years. While John McWhorter (2000) makes an initial attempt at redressing this de-centering of AfroIberian agency, he does so largely by utilizing his very reasoned and appropriate arguments for a new recognition of the importance of Afro-Portuguese influence in order to support his more dubious arguments against Afro-Spanish influence over the emergence of the Atlantic creoles. Similarly, scholarly work on the English lexifier Creoles of the Pacific maintains a nearly unwavering focus on the 19th century plantation regimes in Queensland, Samoa, and Hawai’i, again minimizing and obfuscating the equally rich tradition of creolization in the Indo-Pacific established by the Portuguese and Spanish and propagated by other European powers, but especially by the English during the previous four centuries. In fact, most of those specialists in the English lexifier Creoles of the Pacific who acknowledge some degree of input from Iberian lexified varieties, do so mostly by subsuming this influence under the amorphous and poorly studied phenomenon of ‘South Seas Jargon’. Chaudenson’s (2001) work on the emergence of the French lexifier Creoles is important because it reminds us that we need to pay more attention both to sociohistorical factors as well as to Indian Ocean varieties in our accounts of creole emergence. But his systematic exclusion of all but a very limited set of socio-historical factors and settings from his theoretical model automatically precludes significant input from any source except France, once again rendering invisible three centuries of creolization involving the Portuguese and the Spanish in the Indian Ocean. One would have expected Mufwene (2001) to use some of his bio-genetic constructs such as the ‘Founder Principle’ in order to acknowledge and re-center the pioneering role of contact varieties which arose from the encounters between Iberian peoples 29 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas 70 ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS CRIOULOS E SIMILARES on the one hand and the peoples of Africa, the Americas, Asia, and the Pacific on the other in the emergence of the colonial era Creoles. Instead he seems to be employing these constructs in the same very exclusive and selective way as does Chaudenson, with similar results that effectively justify, re-affirm, and reproduce biases toward Northwestern European languages and their speakers in debates concerning the linguistic and cultural inputs to creolization in the colonial era. Most current proponents of universalist scenarios for the emergence of the colonial era creoles have by now explicitly rejected Bickerton’s (1984) Language Bioprogram Hypothesis. But this does not mean that they have rejected the essentially cultureless and ‘motherless’ assumptions that underpin his erasure of any significant influence, not only from Iberian lexifier contact languages, but also from the mothers, the Africans, Indigenous Americans, Asians, or Pacific Islanders who spoke them. Unfortunately, ‘universal grammar’ all too often just happens to coincide with Whorf’s (1941) ‘Standard Average European.’ In this presentation, linguistic and socio-historical evidence from the first few centuries of the colonial enterprises of the Portuguese and the Spanish is utilized to contextualize and to make sense of the linguistic and socio-historical outcomes of the colonial enterprises of the Dutch, French, and English during the centuries that followed. As a result, it becomes apparent that many of the patterns and outcomes of contact between Northern Europeans and non-Europeans that typified the latter period were actually foreshadowed by the patterns and outcomes of contact between Southern Europeans and non-Europeans in places such as São Tomé, Brazil, and the Spanish Caribbean during the earlier period. CARLOS FILIPE G. FIGUEIREDO (UNIVERSIDADE DE MACAU) [email protected] MÁRCIA SANTOS DUARTE DE OLIVEIRA (UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO) [email protected] Português das comunas do Libolo, Angola, e português Étnico da Comunidade de Jurussaca, Brasil: Cotejando os Sistemas de Pronominalização 30 Universidade de São Paulo 130 ENCONTRO DA: ASSOCIAÇÃO DOS CRIOULOS DE BASE LEXICAL PORTUGUESA E ESPANHOLA Em oposição ao que se vem verificando no Brasil, as variedades africanas de português reestruturado têm recebido atenção mínima por parte da comunidade científica e, consequentemente, a sua tipologia e os seus sistemas gramaticais pouco contributo têm dado à teoria linguística. Em estudos sobre a concordância plural variável no sintagma nominal, Figueiredo (2010a, 2010b) observou aspectos da aquisição quer do português como língua segunda (PtgL2) por falantes monolingues que têm como L1 variedades do grupo níger-congo atlântico quer do PtgL2 por falantes de crioulos de base-portuguesa (CP), quer ainda do português como L1 por falantes bilingues em português e CP. Os achados revelam que: i) o português adquirido por falantes de um CP em situação especial de contato linguístico apresenta os mesmos padrões de variação do português que é adquirido com forte input de PtgL2 em situação de transmissão linguística irregular (imperfect language shift), por falantes que não utilizam CP’s como línguas veiculares; ii) as variedades observadas conservam características do PtgL2 adquirido unicamente por contato pelos ancestrais falantes, que poderão configurar transferências a partir das línguas do grupo nígercongo atlântico e que transitaram geracionalmente. A fim de evitarem o debate em torno das origens do português do Brasil (PB) que apontam para a possibilidade da crioulização (p.e. Baxter (1992)) e da deriva românica (p.e. (Naro & Scherre (2007)), Oliveira et alii (no prelo) evidenciam as semelhanças entre as línguas crioulas e o português vernacular brasileiro (PVB) (p.e. Couto (1989); Baxter & Lucchesi (1997 [1928])), assumindo a abordagem de Holm (2004) de que o PVB seja uma língua ‘parcialmente reestruturada’ (no que se difere das línguas crioulas que são ‘completamente reestruturadas’). Oliveira et alii (no prelo) corroboram ainda Mello (1997) quanto à proposta de o português afrobrasileiro – Lucchesi, Baxter & Ribeiro (2009) – ser visto como parte de um conjunto de variedades que formam o contínuo dialetal português vernacular brasileiro (PVB) que contém em um dos seus extremos o português quilombola e no outro os falares urbanos não-padrão. Com base neste pressuposto e nos achados que apontam dissemelhanças no cotejo do quadro pronominal da norma PVB do Pará com o da norma padrão – PB (ver Oliveira, Campos & Fernandes (2011)), Oliveira et alii (no prelo) seguem comparando o sistema pronominal do português de Jurussaca (PJ) com duas línguas que apontam para o contato etnolinguístico: o caboverdiano – 31 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas 70 ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS CRIOULOS E SIMILARES uma língua crioula do Atlântico – e o português vernacular de Angola. Oliveira et alii (no prelo) propõem, portanto, que o PJ seja considerado uma das variedades do português étnico faladas no Brasil devido a suas singularidades etnolinguísticas. Os autores concluem que, para um melhor entendimento das características e do comportamento diacrônico do PJ, há necessidade de maiores investigações e comparações com línguas envolvidas com o contato linguístico. Tendo em conta que a maioria dos escravos que aportou no Brasil, após permanência no entreposto de São Tomé, era falante de L1’s do ramo bantu – Bonvini (2008:30), para entendimento das especificidades diacrônicas do PB, em geral, e das falas quilombolas, em particular, impõe-se o cotejo sincrônico de particularidades das segundas com as de variedades vernaculares quer de São Tomé quer de Angola. Nesta conformidade, estabelecemos, no presente trabalho, comparações entre os quadros pronominais do PJ e do semicrioulo de base portuguesa do Libolo (PL), distrito do Kwanza Sul, interior de Angola, falado em 4 comunas bilingues (português e kimbundu) semi-isoladas. A nível estrutural, os quadros propostos apresentam similaridades, sendo evidente a anteposição ao verbo das formas objeto direto e objeto indireto, em oposição ao sistema enclítico do português europeu, com o qual a fala do Libolo manteve contato secular. Este aspecto sugere que os sistemas de pronominalização do PL e PJ terão respaldo no de substratos africanos do grupo níger-congo atlântico como o kikongo, o umbundu e o kimbundu (cf. Marques (1985:222)) e, também, que se terão reestruturado geracionalmente por contato. Listam-se dados do sistema pronominal do kimbundu, seguidos dos do PL, PJ e PB, respectivamente: [1] KIMBUNDU: Nga mu~mono 1SG+PERF D+ver ADV Eu o+ver “Eu já o vi” kia já 32 Universidade de São Paulo (Mingas, 2000:71) 130 ENCONTRO DA: ASSOCIAÇÃO DOS CRIOULOS DE BASE LEXICAL PORTUGUESA E ESPANHOLA [2] PL: não sei o nome dele. Me complica muito [JOMAJH1] [3] PJ: aí ela me chamo(u) e disse ... seu Valdecir (Oliveira, Campos & Fernandes, 2011:134) [4] PB: Eu me vesti rapidamente (Bechara, 1999:165) A similaridade estrutural estende-se aleatoriamente a outras variedades vernaculares africanas de português, como o evidencia Figueiredo (2010a) para o português de Moçambique (PM) (exemplo [5]), português reestruturado de Almoxarife (PA), São Tomé (exemplo [6]), português caboverdiano (PCV) (exemplo [7]), ou português dos tongas (PT), São Tomé (exemplo [8]), provavelmente em resultado do contato linguístico advindo da expansão colonial europeia que se iniciou no final do Séc. XV. [5] PM: Me lembro o que estava a ler (Gonçalves & Stroud, 1998:64) [6] PA: quando nós levantámos pa cima água me agitô assim [ZECAH1] [7] PCV: Ficava a me pagar quinhentos escudos por semana (Jon-And, 2009:1) [8] PT: o povo todo se levantô [Francisco Álamo – H1] (Exemplo extraído do corpus do PT e fornecido por Alan N. Baxter.) 33 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas 70 ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS CRIOULOS E SIMILARES K ALAIN KIHM (CNRS – UNIVERSIDADE PARIS-DIDEROT) [email protected] Morphological Complexity in Pidgins-Creoles: Portuguese-Lexifier PidginsCreoles from an Abstractive Morphology Perspective The following three statements concerning morphology and pidgins-creoles (P/C’s) seem to be true: 1. Pidgins-creoles always show less and less opaque morphological processes, inflectional and derivational, than do their lexifiers. 2. It is never the case that they show no morphological processes at all. 3. They appear significantly unequal in the amount of processes they do include. Although globally true, statements 1 and 2 are heavily dependent for their precise evaluation on the analytical angle from which one is looking at the data, as it determines what counts as a morphological process. All studies of morphology and P/C’s I am aware of explicitly or implicity adopt the dominant constructivist lexical model (e.g. Halle & Marantz 1993), according to which inflectional and (some) derivational morphemes (e.g. English /-s/ and /-er/ in readers) are listed apart from but analogously to contentive roots (see, e.g., Siegel 2004). The present study, in contrast, assumes an abstractive, inferential-realizational view of morphology (Stump 2001; Blevins 2006) such that inflected and derived forms express the association of feature sets with lexemes, and morphemes have no separate identity outside the paradigmatically organized word-forms that bear them. Paradigms therefore occupy a central position in the framework, which makes it psychologically more realistic than its constructivist competitors. Another benefit of the realizational model is that it naturally entails that periphrastic (analytic) constructs integrated to paradigms (e.g. the Portuguese Perfect tenho cantado) fall in the purview of the morphological component of grammar (Ackerman, Stump & Webelhuth to appear). This is especially important as far as P/C’s are concerned. 34 Universidade de São Paulo 130 ENCONTRO DA: ASSOCIAÇÃO DOS CRIOULOS DE BASE LEXICAL PORTUGUESA E ESPANHOLA Putting knowledge of paradigms in the centre of morphological competence helps understand why untutored adult SLA theories of P/C formation account for the features mentioned in statements 1 and 2. One may indeed hypothesize that one of the main differences between children and adults as far as acquiring languages is concerned lies in the much reduced ability of the latter rapidly and effortlessly to master complex paradigms such as, say, Portuguese conjugations. Why indeed would it be harder for adults than for children to memorize bound morphemes if these were lexically listed and they had such lists in their L1 competence? The point of abstractive morphology is that such lists do not exist in the first place. The task confronting L2-learning adults as well as L1-acquiring children is to memorize paradigms of word-forms, which adults cannot (or don’t care to) do fast enough in the demanding situations where interlanguages or Basic Varieties (BV) arise (Klein & Perdue 1997; Bakker 2002; Plag 2008). Word-forms (even if complex in L2) are then memorized as self-contained roots, possibly preserving a modicum of inflectionderivation (Bakker 2002). What we want here is a sociolinguistically relativized version of the “Fundamental Difference Hypothesis” (Bley-Vroman 1990; also see Tomasello 2000; Parisse 2005). SILVIA KOUWENBERG (UNIVERSIDADE ‘WEST INDIES’) [email protected] [email protected] The Prosodic System of Papiamentu: Between Stress and Tone Although the use of tones in Papiamentu (Pp) has been studied at least since Römer (1977), much of its prosodic system is still poorly understood. This includes its typological status: is Pp a tone language? In this paper, I will argue that Pp is a pitchaccent language – a typological category which is ill-defined at best. As Hyman (2009) points out, pitch-accent languages seem to freely “pick and choose” properties from the tone and stress prototypes. This paper explores the pick-and-choose characteristics of Pp prosody. 35 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas 70 ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS CRIOULOS E SIMILARES First, I will consider the views of prior work (in particular Römer 1977 and later work; Rivera-Castillo 1998), which takes Pp to use lexically distinctive tone. I argue that the close association between melody and categorial status, such that verbs are tonally distinct from other lexical classes, is incompatible with the view that tone is contrastive. Moreover, Römer has shown that tone is assigned on the basis of accent, and Rivera-Castillo has argued that tone is assigned within the prosodic foot. Both authors’ observations support my position that Pp is a pitchaccent language (Kouwenberg 2009). In surveying the relationship between tone and stress, we see that a High tone normally coincides with stress, which is assigned within a final bisyllabic window, on the basis of syllable weight. Pp shows a strong preference for rhythmically alternating HL sequences, as can be seen in words of sufficient length. Both weight and rhythm are typical properties of stress systems, not of tone systems. These properties are also evident in the treatment of toneless function words which consist of a single light syllable, and which receive a contextually assigned tone contrasting with an adjacent tone. So far, it seems as if tone is a signal of stress. There is, however, one class of forms which shows deviant behaviour, namely verbs. Pp verbs normally end in a light syllable, and invariably receive a single High tone which is aligned with the right edge of the word, thus assigned to the final light syllable. This is also the only class of words where tone and stress do not always coincide: thanks to its trochaic foot structure, bisyllabic verbs receive penultimate stress, while a High tone is assigned to the final syllable. We also do not see the rhythmic alternation which is evident in other word classes: verbs have a single High tone, irrespective of length. In sum, Pp operates two different types of prosodic systems: one for verbs which is independent of stress, one for all other content words which is dependent on stress and foot-based; toneless function words are incorporated into tonal domains, which coincide with foot construction, hence displaying the rhythmic pattern of non-verbs. Thus, this paper reveals that Pp prosody conforms to Hyman’s (2009) claim that pitch-accent languages produce “mixed,” “ambiguous” and sometimes “analytically indeterminate” systems. 36 Universidade de São Paulo 130 ENCONTRO DA: ASSOCIAÇÃO DOS CRIOULOS DE BASE LEXICAL PORTUGUESA E ESPANHOLA L JOHN M. LIPSKI (UNIVERSIDADE DA PENSYLVANIA) [email protected] Mapping the Psycholinguistic Boundaries Between Spanish and Palenquero: How Many “Grammars” per “Language”? There is no widely accepted consensus on the degree of morphosyntactic similarity between genealogically related and partially cognate systems that marks the psycholinguistic threshold of identification as distinct languages, as opposed to dialects of a single language. One possible testing ground involves creoles in contact with their historical lexifiers. The present study presents data from Palenquero, spoken in San Basilio de Palenque (Colombia), which has been in contact with its principal lexifier, Spanish since the late 17th century. The Palenquero language, known locally as Lengua ri Palengue (LP), exhibits a number of key grammatical features found in no variety of Spanish. Mutual intelligibility between Spanish and LP is in general quite low; monolingual Spanish speakers may recognize individual words in LP, but cannot accurately parse LP syntactic structures, which include: absence of grammatical gender, marking of nominal plural with the preposed particle ma rather than the (multiply-agreeing) suffix /-s/, invariant verbs with preverbal tense-moodaspect particles, negation by clause-final nu, absence of definite articles, a single set of obligatorily overt pronouns (all different from Spanish), marking possession by postposing the possessor, postposed disjunctive object pronouns as opposed to preverbal object clitics in Spanish. Most of the differences between Spanish and LP are categorical and binary; it is therefore not unreasonable to assume that Palenqueros psycholinguistically partition Spanish and LP according to such parameters, that they are able to identify given configurations as belonging to either Spanish or LP, and that utterances containing both quintessentially LP and uniquely Spanish structures will be acknowledged as mixed. Palenqueros do not exhibit a “post-creole continuum,” i.e. a systematic cline of intermediate variants spanning the linguistic distance between the creole language and its lexifier language. These 37 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas 70 ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS CRIOULOS E SIMILARES facts notwithstanding, linguists who have studied contemporary LP have noted the frequent introduction of indisputably Spanish elements, ranging from individual items such as conjugated verbs or preverbal clitics to more complex morphosyntactic constructions. Opinions as to the nature of this apparent mixing—rarely substantiated by empirical data—include decreolization, language attrition, code-switching, interference from Spanish, performance errors, and the possibility that such configurations have been an integral part of LP since its origins. Equally difficult to extract from available studies are Palenqueros’ notions of “canonical” LP as well as their awareness of putative deviations from any loci of inter-speaker acceptance. The present study is based on experiments conducted in San Basilio de Palenque, using stimuli (extracted from natural speech) entirely in Spanish, entirely in LP, and containing what might be considered Spanish-LP morphosyntactic mixing. In the first experiment respondents were asked to classify stimuli as Spanish, LP or mixed. All-Spanish and all-LP utterances were almost always identified accurately but there was considerable diversity in reactions to putatively mixed stimuli. Responses were subjected to a variationist analysis to determine the factors that influence language classification. In a second experiment the same participants close-shadowed allSpanish, all-LP, and nominally mixed stimuli. Previous work has shown that in sentence repetition tasks, respondents’ errors frequently reflect their own grammars, i.e. what they WOULD HAVE SAID instead of what was actually said. No language switches or other grammatical alterations were made for all-Spanish and all-LP stimuli, but there were numerous spontaneous “corrections” of mixed utterances, almost always resulting in all-LP combinations. There was also a strong correlation between “mixed” judgments and spontaneous correction by the same respondents during shadowing. The overall results suggest that code-switching as commonly defined is not explicitly accepted by Palenqueros. They also demonstrate an asymmetry between perception and production: “grammars” and “languages” are not psycholinguistically coterminous for LP-Spanish bilinguals. Despite apparently clear-cut distinctions between Spanish and LP, grammatically-defined boundaries have been partially supplanted by a more amorphous duality based on a combination of key lexical items, phonotactic profiles, and acknowledgment of known speakers as “true” Palenqueros. The linguistic situation of San Basilio de Palenque demonstrates the challenges for scholars and teachers seeking to define and delimit bilingualism in the absence of community-wide literacy, accepted canonical standards, and a rapidly evolving metalinguistic awareness. 38 Universidade de São Paulo 130 ENCONTRO DA: ASSOCIAÇÃO DOS CRIOULOS DE BASE LEXICAL PORTUGUESA E ESPANHOLA P EDENIZE PONZO PERES (UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO) [email protected] A Diversidade Linguística no Espírito Santo, Brasil O Espírito Santo, especialmente a partir da segunda metade do século XIX, contou com uma intensa imigração, sobretudo de europeus, que deixaram sua terra e sua gente devido à grave crise econômica pela qual passava a Europa. Os italianos vieram em maior número, seguidos dos alemães, pomeranos, portugueses, espanhóis, holandeses, suíços, tiroleses etc. Esses imigrantes se tornaram muito importantes para o estado do Espírito Santo, tanto para a sua economia quanto para a sua cultura. A imigração europeia foi tema de estudos em diversos campos do conhecimento, como a história, a geografia, a sociologia etc. Com respeito à linguagem, porém, ainda há poucas pesquisas concluídas ou em andamento sobre o assunto. O Atlas Linguístico do Espírito Santo, levado a cabo pela Dra. Catarina Vaz Rodrigues, da Ufes, além de alguns Trabalhos de Conclusão de Curso e de Pesquisas de Iniciação Científica sobre o alemão, o dialeto vêneto e o pomerano, são as exceções. Dessa forma, esta comunicação tem por objetivo apresentar os resultados de investigações do Grupo de Pesquisa intitulado Línguas em contato: o italiano e o português no Espírito Santo, por nós coordenado, o qual busca descrever as consequências sociais e linguísticas – nos níveis fonético-fonológico, morfossintático e semântico – do contato entre a língua majoritária e os dialetos falados pelos imigrantes italianos. Primeiramente, procuramos analisar os aspectos sociolinguísticos desse contato, bem como a manutenção ou o desaparecimento da língua de imigração. Também buscamos detectar os traços fonético-fonológicos do dialeto vêneto presentes no português falado atualmente pelos descendentes de imigrantes italianos. Ademais, pretendemos apresentar os resultados de outras pesquisas sociolinguísticas: 1) sobre o português falado em uma comunidade quilombola situada na região da Grande Vitória - a análise variacionista da concordância verbal realizada por crianças e adolescentes dessa comunidade; 2) sobre as línguas holandesa e pomerana no estado: as razões sociais que levaram os 39 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas 70 ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS CRIOULOS E SIMILARES imigrantes holandeses a trocar sua língua materna por outras e o grau de vitalidade do holandês atualmente, bem como a análise social das comunidades que ainda têm o pomerano como língua materna e os motivos de sua manutenção até hoje. Por meio dessas explanações e análises, desejamos traçar um perfil da diversidade linguística no Espírito Santo e expor os caminhos sociolinguísticos percorridos pelas línguas em contato no estado. 40 Universidade de São Paulo 130 ENCONTRO DA: ASSOCIAÇÃO DOS CRIOULOS DE BASE LEXICAL PORTUGUESA E ESPANHOLA W DONALD WINFORD (UNIVERSIDADE DO ESTADO DE OHIO) [email protected] Creole Formation, Second Language Acquisition, and Language Processing: A Look at the Issues There is a growing consensus among creolists that creole formation represents a type of naturalistic second language acquisition (SLA) that shares much in common with other types of SLA, though there are differences as well. On the one hand, there is strong evidence that the early stages of creole formation and SLA share processes of simplification and other kinds of restructuring, to the point that “the early L2 learner and the early creole co-creator are cognitively and epistemologically indistinguishable” (Sprouse 2006). Researchers also agree that L1 transfer plays some role in both cases. On the other hand, the developmental paths taken by creoles diverge to varying degrees from those taken by developing L2 systems. Creolists explain such divergence in terms of (a) the fossilization of simplified structure in creoles and (b) the pervasiveness and persistence of L1 transfer in creoles by contrast with L2 development (Kouwenberg 2006). Research into these aspects of creole formation has focused chiefly on linguistic processes of simplification and substrate influence. More recently, however, creolists have begun exploring creole formation in terms of language processing, and drawing parallels with processing in SLA (Plag 2008a, b; Winford 2008). In this paper, I explore some of the ways in which psycholinguistic models of language production can shed light on the restructuring of creole grammars, and how that process differs from the restructuring of interlanguage (IL) systems in more usual cases of SLA. I focus particularly on the role of L1 transfer in both kinds of language acquisition, and I suggest that there is a fundamental split between (radical) creole formation and IL development with regard to how L1 transfer operates at the levels of morphological and syntactic processing. Hence, I argue, Pienemann’s (2005:143) claim that L1 transfer is developmentally moderated and will occur only when the structure to be transferred is processable 41 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas 70 ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS CRIOULOS E SIMILARES within the developing L2 system” seems misplaced when applied to radical creole formation, since the restructuring of such systems involves radically different kinds of input as well as processes of restructuring. I support this with evidence from the development of functional categories and syntactic phenomena such as complementation in creoles. A final question that arises is whether creoles that are structurally closer to their lexifiers follow developmental paths more similar to those of IL development than to radical creole formation. 42 Universidade de São Paulo RESUMO DAS COMUNICAÇÕES 130 ENCONTRO DA: ASSOCIAÇÃO DOS CRIOULOS DE BASE LEXICAL PORTUGUESA E ESPANHOLA RESUMO DAS COMUNICAÇÕES (em ordem alfabética) A DAVI BORGES DE ALBUQUERQUE (UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA/UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE) email: [email protected] Alguns traços de crioulos portugueses asiáticos no Português de Timor-Leste A variedade da língua portuguesa falada em Timor-Leste até tempos recentes não havia despertado interesse dos pesquisadores. A primeira referência ao português falado em Timor-Leste data somente do início do século XX, com a publicação da obra clássica do filólogo português José Leite de Vasconcelos: Esquisse d’une dialectologie portugaise (1901). No decorrer deste mesmo século, poucos foram os trabalhos que procuraram analisar essa variedade do português e, ainda, no escasso número de publicações existentes é possível verificar uma clara confusão entre a variedade do português falada em Timor, chamada aqui somente de Português de Timor-Leste (PTL), e o crioulo de base lexical portuguesa formado neste mesmo país, especificamente em um bairro da capital, chamado de Bidau, daí o nome de Crioulo Português de Bidau (CPB), conforme analisado por Baxter (1990). A distinção entre a variedade da língua portuguesa e a variedade crioula veio somente a ser apontada em Thomaz (1974, 1985). Nos últimos anos, alguns linguistas vêm se dedicando ao estudo do PTL, apresentando trabalhos significativos como: Carvalho (2001), que pesquisou a antroponímica leste-timorense (2001) e elaborou um corpus para o estudo do léxico do PTL (Carvalho, 2002/2003); Brito (2002, 2004) elaborou uma série de artigos sobre o PTL, abordando de maneira introdutória questões de sociolinguística e política linguística; em Brito e Corte-Real (2002) há uma análise das peculiaridades do PTL no nível fonético-fonológico; Albuquerque (2010) realizou um estudo introdutório sobre a prosódia do PTL, seguido por um panorama linguístico do PTL (Albuquerque, 2011a) e uma análise léxico-semântica desta varie- 45 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas 70 ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS CRIOULOS E SIMILARES dade (Albuquerque, 2011b). A presente comunicação identificará traços de crioulos portugueses asiáticos, entre eles: Crioulo Português de Malaca (CPMal) (Baxter, 1988), Crioulo Português de Macau (CPMac) (Batalha, 1958; Baxter, 2009), o Indo-português de Korlai (Clements, 1996) e o Indo-português de Diu (Cardoso, 2009), existentes no PTL. Entre esses traços, destacam-se: na fonologia, as consoantes palatais realizadas como seus correlatos alveolares; na morfossintaxe, o verbo ‘poder’ em sua forma pode, funcionando como modal e sua negação como mpode, nupode; os verbos ‘ir’ e ‘vir’, nas formas vai e vem, com funções de modo/aspecto e marcador de direção; a variação de forma do pronome de 3ª pessoa do singular e ~ el ~ ele; o verbo ter, na forma tem, como verbo existencial; o lexema ‘gente’ empregado com função de pronome indefinido ‘alguém’ e pronome pessoal ‘eu’; ‘já’ como marcador de aspecto perfectivo. O objetivo da identificação de características em comum entre crioulos portugueses asiáticos e o PTL é utilizá-las como evidências que corroborem para uma hipótese sobre origem do PTL ter se dado a partir do CPB que ao conviver em situações multilíngues com o português europeu assimilou diversos de seus elementos, juntamente com outras variedades crioulas que tiveram influência em Timor, principalmente o CPMal e CPMac. ANA LÍVIA AGOSTINHO (UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO) email: [email protected] MANUELE BANDEIRA (UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO) email: [email protected] SHIRLEY FREITAS (UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO) email: [email protected] Adaptação de empréstimos no principense moderno No presente estudo, serão investigados processos fonológicos de nativização/ adaptação do léxico recente no principense. O principense é uma língua crioula de base portuguesa falada por cerca de 200 pessoas na Ilha do Príncipe, em São Tomé e Príncipe. 46 Universidade de São Paulo 130 ENCONTRO DA: ASSOCIAÇÃO DOS CRIOULOS DE BASE LEXICAL PORTUGUESA E ESPANHOLA A situação do Príncipe é particular pelo convívio como membro minoritário em um ambiente com falantes de outras línguas crioulas e pelo perigo de extinção da língua. Uma das questões que surgem no processo de padronização dos crioulos é a dificuldade de passar do crioulo para a língua lexificadora com competência em ambas (Appel & Verhoeven: 1995), mas no caso do Príncipe o problema é justamente o oposto, já que praticamente todos os nativos falam português. Meyn (1983 apud Garrett 2008) questiona se aprender a língua dominante não-crioula não é colocar a identidade cultural e histórica do falante do crioulo em perigo. O termo nativização denota a adaptação de um item lexical, introduzido na língua-alvo, L1, por falantes que têm acesso à língua emprestadora, L2 (Paradis & Label: 1994) e é regida por restrições fonológicas de L1. O corpus deste trabalho é formado por palavras incorporadas ao principense a partir da segunda metade do século XX, tiradas do corpus de Agostinho (2011). A partir da análise dos dados, constatou-se que o léxico estudado é nativizado segundo o padrão linguístico do principense (Paradis & Label: 1994; Paradis: 1996; Kenstowicz: 2001; Kenstowicz & Suchato: 2004) Podemos observar os seguintes exemplos de nosso corpus: (1) (2) (3) (4) (5) (6) (7) (8) (9) (10) cultura > /kutwa/ cultural > /kuturali/ agricultura > /agikutwa/ governo > /govenu/ governar > /govena/ engenheiro > /injiew/ estrangeiro > /ƒtanjew/ financeiro > /finansew/ kilometro > /kilomêtu/ palestra > /palestra/ Podemos verificar que as palavras cultura em (1) e cultural em (2) não seguem o mesmo padrão. Dessa forma, podemos observar que a palavra /sentwa/ ‘cintura’ (Maurer: 2009) que pertence ao vocabulário básico apresenta a adaptação /tura/à/twa/. Sendo 47 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas 70 ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS CRIOULOS E SIMILARES assim, podemos dizer que a adaptação /kuturali/ é mais recente e entrou já com o sufixo diretamente do português. Já a palavra em (3) segue este padrão. Segundo Agostinho (inédito), o único elemento que pode aparecer em coda é o traço [+nasal]. Em (4) e (5) podemos observar a queda da coda da sílaba no processo de nativização. Em (6), (7) e (8) podemos observar que /ejru/ passa para /ew/, ocorrendo a queda do glide e da consoante e a ditongação consequente da ressilabifição. Em (9) e (10) a segunda consoante que ocorre no onset complexo cai. Esse fenômeno é muito comum, mas é possível encontrar palavras com os seguintes onsets complexos /tr/, /pr/ e /bl/, mas todos em palavras de origem portuguesa (Agostinho: inédito). (1) [Çtri”ta] (2) [treÇze”tu] (3) [traÇvã] (4) [Çprimu] (5) [Çpro”tu] (6) [poÇblema] ‘trinta’ ‘trezentos’ ‘travar’ ‘primo’ ‘pronto’ ‘problema’ Desta forma, este trabalho reafirma que a nativização de palavras de origem estrangeira é um locus privilegiado para a observação do funcionamento do sistema linguístico da língua receptora (Calabrese & Wetzels: 2009). TÂNIA ALKMIM (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS) email: [email protected] LAURA ÁLVAREZ LÓPEZ (STOCKHOLMS UNIVERSITET) email: [email protected] A fala de africanos e os seus descendentes no Brasil: representações orais e escritas Este trabalho correlaciona representações orais e escritas da fala de africanos e os seus descendentes no Brasil a partir de uma perspectiva histórica. Por um lado, analisamos a fala dos pretos-velhos (espíritos de velhos escravos africanos que 48 Universidade de São Paulo 130 ENCONTRO DA: ASSOCIAÇÃO DOS CRIOULOS DE BASE LEXICAL PORTUGUESA E ESPANHOLA se manifestam durante o transe de possessão na Umbanda), representada oralmente durante cerimônias religiosas, e pelo outro, as representações escritas da fala de Pai João, o personagem central de um ciclo de histórias, contos, versos e cantigas (estas últimas denominadas lundus) coletadas por folcloristas a partir do final do século XIX. Ao representarem a memória da escravidão, estes personagens revelam um comportamento linguístico associado a essa condição: uma fala como deveria ser a fala de um velho escravo africano, caracterizada por um conjunto de traços linguísticos que a afastam da norma local. Com relação ao Pai João, valemo-nos das obras dos seguintes estudiosos ou folcloristas, que registraram histórias, versos e cantigas (os lundus): Sílvio Romero (1885), José Rodrigues de Carvalho (1903), Julia de Brito Mendes (1911, em Ramos 1935: 247-49), Afonso Arino (1921), Mário de Andrade (1934), Théo Brandão (1949), Antônio Gomes (1951), Abelardo Duarte (1957) e Maria de Lourdes Ribeiro (1968/ 1888). Quanto aos pretos-velhos, utilizamos os pontos, isto é cantos rituais, dedicados a esses espíritos, reproduzidos em publicações das editoras Eco e Espiritualista, reconhecidamente voltadas para as tradições afro-brasileiras e dirigidas a um público constituído dos próprios praticantes da religião (3000 pontos riscados e cantados na Umbanda e no Candomblé, 1974; Zespo (org.) Pontos cantados e riscados da Umbanda 1951; Mandarino (org.) O rosário dos Pretos Velhos 1967). Além disso, valemo-nos de gravações e observações feitas em um terreiro de Umbanda onde coletamos dados da fala de um preto-velho chamado Pai João. Existe, na linguagem analisada, uma série de características que coincidem com os traços encontrados em normas vernáculas brasileiras. Ao lado desse tipo de marcas, associadas a grupos sociais e regionais de pouco prestígio na sociedade, aparecem também traços linguísticos que, claramente, sinalizam uma “fala de estrangeiro” – e que coincidem, em parte, com os traços encontrados em comunidades rurais afro-brasileiras isoladas (Lucchesi et al. 2009). Discutem-se, no presente trabalho, os fenômenos que se destacam ao aparecerem unicamente na fala de africanos e seus descendentes: a concordância variável sujeito/verbo; a concordância variável de gênero; a ausência de artigo; o uso da partícula zi/ji e o uso do próprio nome em lugar do pronome pessoal eu na situação de interação verbal. 49 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas 70 ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS CRIOULOS E SIMILARES A convergência das representações analisadas no que diz respeito às características presentes em variedades linguísticas vernáculas de comunidades afrodescendentes justifica o uso das mesmas como registros da linguagem das personagens ou “tipos sociais” em questão (e do grupo que estes representam). De fato, existem representações orais que coincidem com representações escritas em diferentes épocas por diversos autores em diferentes regiões geográficas. Portanto, tudo indica que, em algum momento, os traços linguísticos representados foram característicos da linguagem de falantes de línguas africanas que aprendiam o português de forma espontânea como segunda língua (cf. Lipski 2005). EDIVALDA ARAÚJO (UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA) email: [email protected] Do tópico nulo ao sujeito preenchido: caminhos de um contato linguístico A realização de sujeitos preenchidos é uma característica que predomina nas línguas crioulas ou de base crioula, como indica Lipski (1999). Este autor, entretanto, em suas análises, encontrou nos crioulos derivados de línguas românicas um tipo de sujeito nulo comum a todos eles que não se comporta sintaticamente como um sujeito nulo típico das línguas de sujeito nulo, um pro referencial, pragmaticamente ligado às informações discursivas contextuais. Esse fato também foi encontrando nos corpora selecionados para análise neste trabalho, que faz parte do projeto de pesquisa O Tópico em Questão no Português Brasileiro (UFBA). Os corpora são compostos de atas escritas por africanos, do século XIX, e de dados de oralidade do português afro-rural das comunidades do Projeto Vertentes (UFBA), do século XX, com informantes acima de 70 anos. Em duas análises anteriores, foram identificadas construções de sujeito nulo nos moldes apresentados por Lipski (1999), apesar das diferenças entre a modalidade de produção dos corpora. As atas escritas no século XIX apresentam realizações de verbos sem argumentos expressos, o que levou à identificação de tópicos nulos (cf. Araújo, 2009, 2011). Tal fato também foi encontrado na fala de pessoas mais velhas de comunidades remanescentes de 50 Universidade de São Paulo 130 ENCONTRO DA: ASSOCIAÇÃO DOS CRIOULOS DE BASE LEXICAL PORTUGUESA E ESPANHOLA quilombolas (cf. Araujo, 2011), o que levou à confirmação de produção de tópicos nulos por africanos e seus descendentes, embora tais construções de tópico não fossem licenciadas pela gramática do português do século XIX. Continuando os estudos envolvendo a identificação do tópico nulo, chegou-se à geração mais nova dessas comunidades de fala. A hipótese que norteia tal comparação baseia-se na seguinte premissa: os africanos no século XIX, em função da aprendizagem truncada da língua portuguesa, em seu processo de produção linguística exibiam marcas sintáticas não só de sua língua materna mas também inferências acerca de construções sintáticas naquela língua. Tal conhecimento foi transmitido aos seus descendentes no início do século XX, que, em consequência, apresentariam quase as mesmas características linguísticas. Com o passar do tempo, as gerações mais novas implementam o quadro sintático da língua base, a portuguesa, modificando-o ou reanalisando-o. Em termos objetivos, isso significa que as construções de sujeito nulo licenciadas por um tópico nulo, encontradas tanto nas atas escritas quanto na fala de pessoas de faixa etária avançada das comunidades em análise, revelam interferências sintáticas da língua materna dos africanos na língua portuguesa provenientes do contato linguístico entre essas duas línguas. Em contrapartida, a geração mais nova desse grupo tenderá ou a fixar essa interferência ou a modificar a estrutura sintática, construindo um novo parâmetro (cf. Lightfoot). A análise comparativa, mesmo envolvendo corpora distintos, revela a reanálise na estrutura da língua portuguesa em função desse contato linguístico e da transmissão linguística irregular (cf. Lucchesi e Baxter, 2009). Ou seja, as construções de sujeito nulo licenciadas por um tópico nulo, identificadas no século XIX e inicio do século XX, dão lugar a construções com preenchimento do sujeito a partir de meados do século XX, tornando-se populares no português brasileiro. SILVANA SILVA DE FARIAS ARAÚJO (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA) email: [email protected] O continuum de normas linguísticas no português falado em Feira de Santana-Ba Diversos estudos realizados sobre a variação da concordância verbal de nú- 51 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas 70 ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS CRIOULOS E SIMILARES mero no português brasileiro já revelaram a existência de um continuum de normas linguísticas, em que, nos polos, estão o português culto e o popular (cf. Graciosa, 1991; Vieira, 1995; Scherre e Naro, 1997; Monguilhott, 2001, 2009; Lucchesi, Baxter e Silva, 2009, entre outros). Sobre essa bipolarização de normas, vide a proposta para a descrição da realidade sociolinguística brasileira defendida por Lucchesi (1994, 2001), sustenta-se, neste trabalho, a hipótese de que a sócio-história do português brasileiro foi determinante para tal. Com este estudo, analisa-se como se encontram, na comunidade de fala de Feira de Santana-Ba, o entrecruzar-se de normas, acelerado no Brasil a partir da década de 1940. Acredita-se que a análise da influência de variáveis linguísticas e socioculturais possibilita que se averigúe se a realidade sociolinguística brasileira ainda se apresenta constituída em dois subsistemas distintos – o das normas cultas e o das populares – ou se está em processo de aproximação desses subsistemas. Nesse sentido, investiga-se, por meio de uma análise variacionista laboviana da concordância verbal com a primeira e a terceira pessoa do plural, o perfil sociolinguístico da cidade de Feira de Santana-Ba, partindo-se do entendimento de que a utilização de uma amostra heterogênea (dados de informantes com diferentes níveis de escolaridade), coletados numa cidade marcada por tardios e acelerados processos de urbanização e escolarização, possibilita identificar o nível em que se encontra esse entrecruzar-se de normas na área estudada. Constatou-se que, não obstante a presença de diferenças marcantes nas normas investigadas, algumas semelhanças podem ser observadas, a exemplo do uso da variante zero nos contextos menos salientes com a terceira pessoa do plural. No que tange ao trabalho empírico, foi pesquisada a influência dos fatores sociais faixa etária, escolaridade e sexo e dos estruturais saliência fônica, posição do sujeito e paralelismo formal. Foram utilizados dados linguísticos levantados em trinta e seis entrevistas sociolinguísticas pertencentes ao acervo do Projeto A língua Portuguesa do Semiárido Baiano - fase 3, sediado no Núcleo de Estudos da Língua Portuguesa da Universidade Estadual de Feira de Santana, além de terem sido também considerados dados sócio-históricos e demográficos da comunidade de fala pesquisada. 52 Universidade de São Paulo 130 ENCONTRO DA: ASSOCIAÇÃO DOS CRIOULOS DE BASE LEXICAL PORTUGUESA E ESPANHOLA JUANITO ORNELAS DE AVELAR (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS) email: [email protected] A complementação de verbos direcionais no português brasileiro e no português moçambicano: contato, mudança e variação Este estudo compara a complementação de verbos direcionais no português brasileiro (PB) e no português moçambicano (PM), focalizando a ocorrência das preposições em e a. Tanto no PB quanto no PM, em contraste com o português europeu (PE), em é usual junto a complementos direcionais (como em Vou no cinema vs. Vou ao cinema). No PM, contudo, complementos direcionais dispensam a preposição (como em Fomos jardim vs Fomos no/ao jardim), contrastando tanto com o PB quanto com o PE. Segundo Gonçalves (2010), as duas particularidades atestadas no PM resultam do aprendizado do português por falantes de línguas bantas, com propriedades dessas línguas sendo transpostas para o português adquirido como L2. Explorando pressupostos minimalistas (Chomsky 1995-2008), este trabalho sugere que, no PB, a introdução de complementos direcionais pela preposição a caracteriza o que se convencionou chamar de dummy preposition (ou seja, preposição que não apresenta projeção na computação sintática). Isso significa que, da perspectiva sintática, o PB se iguala ao PM quanto ao licenciamento de complementos direcionais sem preposição; a diferença entre as duas variedades está no fato de que, ao contrário do PM, o PB insere um morfema dissociado (a preposição a) junto a complementos sintaticamente desprovidos de preposição. Um dos pontos em favor dessa hipótese está relacionado à ocorrência de dêiticos do tipo aqui, ali e lá: no PB, esses dêiticos causam estranhamento quando antecedem complementos introduzidos por a, ao contrário dos casos com em (Fui lá na universidade vs. *Fui lá à universidade). Esse contraste pode ser atribuído ao fato de a não dispor, nos complementos direcionais do PB, de uma projeção para hospedar o dêitico, uma vez que só é inserida no componente morfo-fonológico; já em dispõe dessa projeção, podendo por isso hospedar o dêitico. No PE, em oposição ao PB, dêiticos são usuais junto à a, o que revela uma diferença entre as duas variedades quanto ao estatuto dessa preposição. 53 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas 70 ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS CRIOULOS E SIMILARES Frente a essa hipótese, uma das questões é saber se, como proposto por Gonçalves para o PM, a emergência de em nos complementos direcionais do PB pode ser atribuída a situações de contato. Cabe também indagar por que o PB, ao contrário do PM, introduz o item a nos casos em que o complemento não dispõe de projeção preposicional. A esse respeito, o trabalho seguirá Avelar, Cyrino & Galves (2009), sugerindo que a mudança relevante no PB resulta do contato do português com línguas africanas; contudo, ao contrário do que ocorre em Moçambique, a constituição e difusão do vernáculo brasileiro, historicamente afetada por um processo de transmissão linguística irregular (Lucchesi, Baxter & Ribeiro 2010), foram marcadas pela presença constante e regular de dados produzidos por falantes portugueses no input para a aquisição da língua. Essa presença garantiu uma “sobrevida” à preposição a, que, sem lugar na computação sintática dos complementos direcionais, tem seu uso cada vez mais restrito a contextos de interlocução formal, ao contrário de em, que se firmou sintaticamente como a preposição canônica na introdução desses complementos. 54 Universidade de São Paulo 130 ENCONTRO DA: ASSOCIAÇÃO DOS CRIOULOS DE BASE LEXICAL PORTUGUESA E ESPANHOLA B MARLYSE BAPTISTA (UNIVERSITY OF MICHIGAN) email: [email protected] Traces of contact in creole genesis: Accounting for variation in a complex creole continuum This presentation focuses on the two most distinct varieties of Cape Verdean Creole spoken on the islands of Santiago and São Vicente. These two varieties are consistently viewed as being in opposition to each other on historical, linguistic, political and cultural grounds. Historically, the two islands of Santiago and São Vicente were settled during different centuries (15th and 18th, respectively), hence by different source populations. Linguistically, for the past 120 years (de Paula Brito, 1888), the two language varieties have been traditionally described as being at opposite ends of the creole continuum and display dramatically distinct properties in a number of grammatical domains. For the sake of this presentation and for reasons we discuss below, the two core domains that are examined are gender agreement and specific markers conveying Tense, Modality and Aspect (henceforth, TMA) (see Bangura et al., in preparation; Brown, in preparation). The main objective of this paper is to account for the linguistic variation observable between Santiago and São Vicente by tracing back some of the linguistic features to specific source languages or founding populations. In this paper, we focus on the founding settlers of Santiago. On this topic, according to Mufwene (1996), the goal of the Founder Principle is to “explain how structural features of creoles have been predetermined to a large extent (but not exclusively) by the characteristics of the vernaculars spoken by the populations that founded the colonies in which they developed.” This principle, if valid, gives us good grounds for examining the impact of the language variety(ies) spoken by the original settlers. Based on the assumption that the first European settlers came from Portugal and from Madeira 55 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas 70 ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS CRIOULOS E SIMILARES (Andrade,1996; Barros,1944; Carreira, 1972), we elaborate on the exact identity of these Portuguese and the language they spoke. We show that this information obviously has some bearing on the linguistic properties observed in Santiago. On this issue, we support the claims by Serels (1997), Green (2006) and Jacobs (2009) that Sephardic Jews contributed in major ways to the development of Cape Verdean society in its early years. In addition, we highlight that Sephardic Jews who fled both Spain and Portugal took refuge in the city of Ribeira Grande, Santiago in the late 1400s and emphasize, in accord with Green (2006) and Jacobs (2009), the importance of these speakers to the genesis of the Santiago variety of Cape Verdean Creole. We specifically argue in this paper that the traces of 15th/16th century Portuguese (possibly mixed with Ladino) may be detectable to this day in Santiago in the areas of gender agreement and the domain of TMA markers, distinct from their São Vicente counterparts. We chose gender agreement because it offers a yardstick to measure superstratal influences and the position of a variety on the creole continuum. We chose TMA markers because they have traditionally been a domain where linguists can detect more readily traces of source languages (substratal or superstratal). This comparative study shows that in these two areas, the variety of Santiago actually behaves more like an acrolect (also see Brown, in preparation), simply because it reflects the variety(ies) of Portuguese spoken by the original settlers. Based on these findings, we offer to redefine the concept of basilect. ANGELA BARTENS (UNIVERSITY OF TURKU/UNIVERSITY OF HELSINKI) emails: [email protected] / [email protected] Una Comparación de Algunas Estructuras de la Morfosintaxis del Español Ecuatoguineano con el Portugués Angoleño En nuestra presentación pretendemos hacer una comparación del español ecuatoguineano (EG) con el portugués angoleño (PA). Nuestro objetivo es encontrar estructuras que el EG y el PA tengan en común y que los diferencien de las variantes 56 Universidade de São Paulo 130 ENCONTRO DA: ASSOCIAÇÃO DOS CRIOULOS DE BASE LEXICAL PORTUGUESA E ESPANHOLA peninsulares estándares, el español peninsular (EP) y el portugués peninsular (PP), respectivamente. No nos ocuparemos en detalle de la colonización lingüística de los dos países ni de la situación sociolingüística actual. Sin embargo, quisiéramos llamar la atención sobre el hecho de que en ambos casos la difusión de las lenguas iberorrománicas ocurrió muy tardíamente, de manera efectiva durante la segunda mitad del siglo XIX en el caso de Guinea Ecuatorial y durante el siglo XX en el de Angola, lo que todavía se refleja en las variantes lingüísticas nacionales. El nivel de la estructura lingüística que hemos escogido para nuestro análisis es el nivel morfosintáctico por ser de particular interés, en nuestra opinión, ya que es en este nivel donde las lenguas introducidas por los colonizadores presentan mucha divergencia estructural comparadas con las lenguas autóctonas, lo que permite un análisis en el marco de la teoría de las lenguas en contacto, desarrollado en las últimas décadas por Thomason y Kaufman (1988), Thomason (2000), Myers-Scotton (2002), Winford (2003), entre otros. Aunque sea de igual importancia destacar las divergencias morfosintácticas, en este trabajo nos centraremos en el escrutinio de los paralelismos que encontramos entre el EG y el PA que, a su vez, son ajenos al EP y al PP. Nuestra hipótesis es que detrás de los paralelismos se encuentren casos de interferencia lingüística. Plantear una posible influencia de las lenguas autóctonas de Guinea Ecuatorial y de Angola en la lengua iberorrománica hablada en cada país requiere obviamente una breve presentación de las principales lenguas que hayan podido influir en la constitución del EG y del PA. A continuación, pasaremos a presentar los rasgos morfosintácticos que hallamos en las descripciones existentes de ambas variedades, así como en nuestras notas de trabajo de campo en Guinea Ecuatorial, buscándoles estructuras paralelas posibles en las lenguas autóctonas que llamaremos “lenguas de adstrato” por seguir coexistiendo e influyendo en las lenguas iberorrománicas que son lenguas oficiales en sus respectivos países. Mientras que p.ej. Casado-Fresnillo y Quilis (1995) y Lipski (1985) han estudiado la morfosintaxis del EG y Endruschat y Huth (1993) e Inverno (2009) la del PA, el único estudio comparativo de que tenemos conocimiento es Bartens (2007). 57 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas 70 ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS CRIOULOS E SIMILARES ALAN N. BAXTER (UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA) email: [email protected] Are there ‘short’ and ‘long’ forms of verbs in Malacca Creole Portuguese (MCP)? In MCP, some disyllabic verbs, such as pódi <Ptg. pode ‘3SG can’ (and influenced by sundry root-stressed forms in the paradigm of Ptg. poder) are stressed on the penultimate syllable. However, other disyllabic verbs display variation, with stress either on the penultimate or the final syllable. Baxter (1988:40) ventured that this tendency in modern MCP was related to the immediacy of the next tonic stress after the verb, as in: (a) (b) éli ta bébe súra 3SG -P drink toddy ‘He is drinking toddy’ éli ta bebé na butíka 3SG -P drink LOC shop ‘He is drinking at the shop’ Nevertheless, until now, a detailed study of this phenomenon in MCP has not been entertained. Corne (1981), DeGraff (2001), Syea (1992), and Veenstra (2003), working on French-lexified creoles (CF), identified verbs having a short form (e.g. Haitian mäz ‘eat’) and a long form (e.g. Haitian mäze ‘eat’). In some varieties of CF, this alternation reflects clause structure. Recent work on Mauritian Creole by Becker & Veenstra (2003) and Veenstra (2009) points to the role of learner strategies in the acquisition of Portuguese L2 in early contact, and the interplay of these with substrate or developmental mechanisms subsequent to target shift in the creolizing situation. Some French creoles assign distinct functions to the variants that originated in early L2 acquisition prior to target shift, whereas others have simply eliminated the variation. On the other hand, Becker & Veenstra (2003) also point out that in one instance, that of Lousianna Creole, long and short verbs appear to have been acquired 58 Universidade de São Paulo 130 ENCONTRO DA: ASSOCIAÇÃO DOS CRIOULOS DE BASE LEXICAL PORTUGUESA E ESPANHOLA through renewed contact with the lexifier in the 19thC. What is the situation in MCP? Is variable verb stress a sentence-level phonetic phenomenon, or is it deeper seated in the grammar of MCP? The present paper considers the results of an analysis of variable stress assignment on disyllabic verbs in MCP, in data from traditional oral stories. Adopting the experimental assumption that the two stress patterns are variants of a single variable, a pilot study was conducted within the variationist paradigm (Labov 1972;Bayley 2004) to consider the relative effect of several hypotheses stemming from the work of the abovementioned research on long and short verbs in CF. The hypotheses examined include the phonetic environment following the verb (following vowel/consonant/ pause), the position of tonic stress in material following the verb, the form of the VP, the syntactic-semantic class of verb, tense and aspect, and questions of clause structure. Initial results of this ongoing research yield traces of a tendency for a long/short verb form-function distinction, relating to the position of the verb in the clause, the structure of the VP, tense-aspect factors, and the phonetic context following the verb-final syllable. The profile of this variation has complex origins related to different stages of L2 acquisition of Portuguese in the history of the creole and also from the influence of local Malay. The paper contributes to linguistic research on the development of the verb in Romance-lexified creoles. NOËL BERNARD BIAGUI (LLACAN-INALCO/UNIVERSITÉ DE DAKAR) email: [email protected] NICOLAS QUINT (LLACAN-CNRS/INALCO) email: [email protected] Les Idéophones en Créole Casamançais et dans les autres créoles apparentés La communication proposée porte sur les adverbes idéophoniques du créole afro-portugais de Casamance (Sénégal). Bien que la plus grande partie de son lexique soit d’origine romane (portugais), le créole casamançais a une série d’adverbes 59 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas 70 ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS CRIOULOS E SIMILARES d’origine non-romane qui intensifient spécifiquement une notion adjectivale ou verbale donnée: Exemples: À partir d’une notion adjectivale forti /’forti/aigre > seku /’seku/sec > pretu /’pretu/ noir > forti baw h seku koh pretu nok /’forti baw/ complètement aigre /’seku koh/ complètement sec /’pretu nok/ complètement noir Exemples: À partir d’une notion verbale kabá /ka’ba/ finir > yiñcí /ji’øcí/ remplir > mojá /moïa/ mouiller > kabá fep /ka’ba fep/ yiñcí kuh h /ji’øci kuú/ mojá yop /mo’ïa jop/ finir complètement remplir complètement mouiller complètement À ce jour, je dispose de plus de 60 formes adverbiales intensives de ce genre collectées auprès de créolophones de langue maternelle en Casamance. Il s’agit à ma connaissance du corpus le plus important d’adverbes idéophoniques collecté à ce jour pour un créole afro-portugais d’Afrique de l’Ouest (pour le bisséen, cf. Couto (1994:103), Mbodj (1984:58), Rougé (1988:28) et Scantamburlo (1999:189-191)). Cette présentation comptera trois parties : 1- tout d’abord je ferai le point le point de manière aussi détaillée que possible sur le fonctionnement morpho-syntaxique de ces adverbes idéophoniques (reduplication, place par rapport à l’élément intensifié, type d’éléments à intensifier, sémantisme…); 2- ensuite, j’analyserai la syntaxe de ces adverbes idéophoniques et le rapport entre le radical de l’idéophone et celui de l’item intensifié; 3- enfin, je donnerai une ouverture comparative à ma présentation en soulignant les points communs et les différences qui existent entre le créole casamançais, le créole de Guinée-Bissao et le capverdien dans le domaine des idéophones. 60 Universidade de São Paulo 130 ENCONTRO DA: ASSOCIAÇÃO DOS CRIOULOS DE BASE LEXICAL PORTUGUESA E ESPANHOLA La communication ici présentée se veut une contribution à la description du Créole afro-portugais Casamançais (C.C), variété dont les caractéristiques linguistiques sont encore peu connues de la communauté scientifique. LILIAN DO ROCIO BORBA (PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS) email: [email protected] Artigos de Cândido da Fonseca Galvão: fontes escritas para história do português brasileiro Este trabalho faz parte da pesquisa linguística que desenvolvo sobre os escritos de Cândido da Fonseca Galvão (1845 -1890), o Dom Obá, brasileiro de primeira geração, filho de africano forro. Alfabetizado, Cândido da Fonseca Galvão publicou diversos artigos em colunas pagas de jornais do Rio de Janeiro no final do século XIX.(Silva, 2001) Nessas colunas de jornal, seus interlocutores não eram apenas os leitores comuns dos periódicos. Frequentemente, Dom Obá explicitava alguns de seus, digamos, ‘interlocutores preferenciais’. Em um dos artigos que analisamos, por exemplo, o interlocutor é Conde d’Eu, o marido da princesa Izabel, filha de D Pedro II. O fato de selecionar, nomear alguns de seus interlocutores e de veicular em suas publicações pedidos, defender-se de calúnias recebidas, permite caracterizar algumas de suas colunas como ‘conversas ou diálogos públicos’. Sendo assim, seus textos constituem uma rara e rica fonte de dados relativos à escrita de afrodescendentes em fins do século XIX, no contexto da abolição. Como destacam Oliveira e Lobo (2009), “nas investigações sobre a história e a cultura escrita no Brasil, um campo de estudos ainda por explorar é o dos caminhos trilhados por negros livres e libertos, integrantes de grupos sociais subalternos.” Tomando como objeto de análise artigos de Dom Obá publicados no Jornal do Commercio entre os anos de 1882 e 1886, um dos objetivos de nosso estudo é identificar e analisar características morfossintáticas da escrita desse importante personagem histórico. Além disso, procuramos refletir sobre a apropriação da língua escrita por esse indi- 61 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas 70 ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS CRIOULOS E SIMILARES víduo que em seus textos manipula fórmulas de tradição oral, citações em latim e alguns vocábulos de suposta origem africana. Para tal discussão, baseamo-nos em Labov (1964), para quem os usos linguísticos são uma forma de comportamento social porque as variedades (as formas linguísticas) são revestidas de valor simbólico. Considerando as questões acima propostas, nossa pesquisa busca contribuir com os estudos sobre fontes escritas para a história do português do século XIX. ELIZANA SCHAFFEL BREMENKAMP (UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO) email: [email protected] A língua holandesa no Espírito Santo: análise sociolinguística do seu desaparecimento O intenso fluxo de imigração do século XIX possibilitou, ao estado do Espírito Santo, receber milhares de imigrantes de diferentes nacionalidades, principalmente europeias. Essa situação trouxe consigo a diversidade linguística ao estado. Os holandeses estavam entre esse grupo de imigrantes, somando 323 pessoas (APEES, 2010). Eles enfrentaram a miséria e a discriminação, tanto em West-Zeeland-Vlaamse (Holanda), como no Espírito Santo. Atualmente, a maioria dos descendentes se concentra na agricultura. Nesta pesquisa exploratória de campo, entrevistamos 76 (setenta e seis) descendentes de holandeses residentes em diversas comunidades de diferentes municípios do Espírito Santo. As entrevistas foram devidamente filmadas, fato o qual os entrevistados permitiram, sabendo que sua identidade seria mantida em sigilo. As mesmas foram analisadas por meio dos princípios da Sociolinguística. Os resultados de nossas análises mostram que, infelizmente, os holandeses foram esquecidos por muito tempo, o que dificultou uma intervenção com vistas à preservação de sua língua. Neste trabalho, fazemos um percurso histórico da língua de imigração holandesa no Espírito Santo e seu atual estágio vitalício, além de discutir a substituição linguística com base em dados reais. A pesquisa mostra que hoje o dialeto holandês Zeeuws conta com pouquíssimos falantes, e os jovens têm ouvi- 62 Universidade de São Paulo 130 ENCONTRO DA: ASSOCIAÇÃO DOS CRIOULOS DE BASE LEXICAL PORTUGUESA E ESPANHOLA do cada vez menos essa língua de imigração. Dadas as estatísticas e segundo o Language Vitality and Endangerment, da Unesco (2003), a língua está criticamente ameaçada, e isso se deve a diversos fatores sócio-histórico-linguístico-culturais. Alguns deles são: o reduzido número de holandeses que vieram para o Espírito Santo; o isolamento da comunidade holandesa; o casamento misto, principalmente com pomeranos; o caráter permanente da imigração holandesa para o estado; o grande número de descendentes europeus de outras nações que não a holandesa; a migração interna, que isolou muitos imigrantes; o preconceito linguístico e a discriminação de quem falava de forma diferente da maioria; a mudança de religião, do calvinismo para o luteranismo; a política de integração, ocorrida na década de 1930, que visava à destruição das línguas alóctones e, dessa forma, proibiu o uso de qualquer outra língua que não fosse o português; e o ensino formal. A escola, como aparelho repressor do Estado, incumbiu-se de aplicar com rigor o ideal monolíngue. Neste trabalho, esses fatores são discutidos, com vistas a auxiliar a elaboração de políticas que preservem a diversidade linguística no estado. 63 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas 70 ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS CRIOULOS E SIMILARES C EDNALVO APÓSTOLO CAMPOS (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PARÁ/UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO-PG) email: [email protected] Sobre a (in)existência de pronomes clíticos no ‘português étnico’ de Jurussaca Neste trabalho, retomo a temática de pesquisa da área do português falado em Jurussaca/PA – denominado ‘português étnico’ por Oliveira et alii (a sair) – que atesta um sistema pronominal com enfraquecimento de pronomes clíticos. No tocante à análise, considero duas vertentes: (i) a tradição da descrição das línguas românicas quanto ao estudo dos pronomes clíticos e (ii) estudos de descrição de línguas ameríndias (cf. Everett, 1996) que defendem a inexistência de pronomes clíticos em algumas dessas línguas. Os dados analisados foram todos coletados na comunidade quilombola de Jurussaca e compõem a pesquisa referente à tese de doutorado, em andamento, sobre a expressão pronominal que desenvolvo nessa comunidade. Tradicionalmente, os pronomes tônicos são descritos como aqueles que se referem à pessoa gramatical das entidades participantes do ato da comunicação, enquanto os clíticos são prototipicamente correspondentes átonos das formas dos pronomes tônicos e ocorrem associados à posição dos complementos dos verbos. Tal correlação, no entanto, não é simétrica, pois, segundo Mateus et alii (2003, p 826, 827) o uso dos clíticos tanto pode se enquadrar na definição tradicional de pronome pessoal, designando uma das entidades envolvidas no processo de comunicação, como pode denotar um predicado e não uma entidade, conforme se pode verificar nos exemplos, retirados de Mateus et alii (op. cit. p 827): (1) Ele viu-me ontem na praia (2) Simpáticos para nós, eles sempre assim o foram em que a primeira ocorrência diferencia-se da segunda pelo fato de denotar a enti- 64 Universidade de São Paulo 130 ENCONTRO DA: ASSOCIAÇÃO DOS CRIOULOS DE BASE LEXICAL PORTUGUESA E ESPANHOLA dade participante do discurso, no caso a primeira pessoa; já a segunda ocorrência denota uma categoria gramatical, no caso, um predicado. Mateus et alii (2003) argumentam que a inclusão dos pronomes clíticos nos pronomes pessoais, embora pareça formalmente pertinente, não permite estabelecer um paralelo exato entre as formas fortes do pronome pessoal e as formas clíticas, em termos do seu significado e das funções que desempenham. Tal observação é bastante pertinente, pois no português vernacular brasileiro tende-se ao emprego das formas tônicas na posição de complementos verbais. Em Jurussaca, como se pode ver nos exemplos (3) e (4), abaixo, esse uso é categórico: (3) dá uma rebocada, arrumá ela melhor... (4) e... com o poder de Deus... e... o Lula nós deu essa uma, que nós tava precisando mesmo... Nesse sentido, parece interessante ‘olhar’ as construções (3) e (4) como parte de um fenômeno mais amplo dentro de um quadro que aborda as variedades do português como o ‘português étnico’, em que ocorre reestruturação no quadro pronominal dessas variantes. HUGO C. CARDOSO (CELGA, UNIVERSIDADE DE COIMBRA) email: [email protected] ANA R. LUÍS (UNIVERSIDADE DE COIMBRA) email: [email protected] Conjugação verbal e alomorfia no crioulo indo-português de Diu A presença de morfologia flexional em línguas crioulas tem gerado intenso debate e numerosos estudos têm demonstrado que nem todos os crioulos são igualmente isentos de flexão (Plag 2008, Siegel 2004, Kihm 2003, 2010). Os crioulos indo- 65 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas 70 ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS CRIOULOS E SIMILARES portugueses, em particular, são conhecidos pelo grau invulgar de retenção de morfologia flexional (Clements 1996, Clements & Koontz-Garboden 2002, Luís 2008, Cardoso 2009). Esta comunicação pretende dar um contributo para o debate geral sobre a natureza da flexão nas línguas crioulas através de um estudo que incide sobre os padrões alomórficos dos paradigmas verbais do indo-português de Diu (IPD). Tal como demonstrado na tabela (1), os verbos regulares em IPD têm quarto formas flexionadas: uma forma de infinitivo, uma forma de não-passado, uma forma de passado e uma forma de particípio. Nenhuma delas admite marcadores de concordância e todos os verbos se organizam nas classes temáticas em -a, -e e -i. Para além disso, observa-se ainda alomorfia sufixal para os marcadores de passado (-o e -w) e alomorfia ao nível do radical para as formas de passado e particípio (falo vs kum-i-d). Infinitivo Classe 1 ‘falar’ Classe 2 ‘comer’ Classe 3 ‘pedir’ Tabela 1 Não-passado fal-a fal kum-e kTm pid-i påd Passado fal-o kum-e-w pid-i-w Particípio fal-a-d kum-i-d pid-i-d Uma das caraterísticas mais significativas do IPD prende-se com o fato de reter uma forma verbal (finita) com o valor de não-passado (Cardoso 2009), a qual difere das demais formas verbais de modo significativo: i) não contém afixos, ii) o acento recai sobre o radical, e iii) pode divergir de outras formas pela inclusão de uma vogal aberta ([T] ou [å]). A sua forma fonológica deriva, na maioria dos casos, do radical de 3ª pessoa singular do Presente do Indicativo em Português. Estes dados revelam que os paradigmas verbais do IPD se apoiam nos seguintes radicais: a) o radical regular (em -a, -e ou -i), b) o radical da primeira conjugação para formas de passado, e c) o radical ‘derivado’ para formas de não-passado. Para além destes, há ainda a registar os radicais supletivos dos verbos irregulares, para as formas de não-passado e, nalguns casos, também para as formas de passado, como se observa na tabela 2. Assim, para estes verbos, o IPD oferece dois tipos adicionais de radical, a saber iv) o radical supletivo para a forma de não-passado, e 66 Universidade de São Paulo 130 ENCONTRO DA: ASSOCIAÇÃO DOS CRIOULOS DE BASE LEXICAL PORTUGUESA E ESPANHOLA v) o radical supletivo para a forma de passado. Infinitivo Classe 2 ‘trazer’ Classe 3 ‘sair’ sa-i Tabela 2 Não-passado traz-e trag say Passado tros sa-i-w Particípio traz-i-d sa-i-d A presença significativa de alomorfia ao nível do radical constitui uma clara violação da relação isomórfica entre forma e significado, aumentando assim o grau de opacidade dos paradigmas verbais. No âmbito da teoria morfológica de Stump (2001), será possível demonstrar que a seleção destes alomorfes constitui efetivamente uma operação flexional predominantemente formal que contraria o princípio da transparência semântica, proposto por Seuren & Wekker (1986) para as línguas crioulas. ANA M. CARVALHO (UNIVERSITY OF ARIZONA) email: [email protected] Contato de línguas e variação: a expressão do pronome sujeito em português e espanhol em contato no norte do Uruguai Tanto em espanhol como em português, a expressão do pronome sujeito é variável. A variação entre o pronome expresso e o nulo tem sido objeto de vários estudos, que visam detectar os contextos lingüísticos que favorecem ou não a expressão do sujeito em ambos os idiomas. Estes estudos mostram que, de um modo geral, os dialetos de espanhol tendem ao uso do sujeito nulo (Otheguy et al. 2007, entre outros), enquanto que em português brasileiro, o pronome expresso tem se tornado cada dia mais frequente (Paredes Silva 2003, entre outros). Neste trabalho, analiso a distribuição dessa variável em português e espanhol de bilíngües na cidade uruguaia de Rivera, na fronteira com o Brasil, onde ambas as línguas tem coexis- 67 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas 70 ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS CRIOULOS E SIMILARES tido de maneira semi diglóssica já há mais de um século (Behares 1985, Elizaincín 1992, Carvalho 2006). Baseada em dados coletados durante 24 entrevistas sociolingüísticas com doze bilíngües, feitas primeiramente em espanhol e posteriormente em português, examino a ocorrência dessa variável em ambos os idiomas entre os mesmos participantes, a fim de analisar os efeitos do contato de línguas nos padrões variacionais desde numa perspectiva variacionista comparativa (nos moldes de Meyerhoff 2009, Nagy 2011, Poplack & Levey 2010). A partir da análise probabilística, meu primeiro objetivo é identificar e descrever os fatores linguísticos e extra-linguísticos que condicionam a expressão do pronome sujeito no português uruguaio e espanhol uruguaio fronteiriço. Logo, comparo-os com os resultados encontrados em variedades monolíngues dos respectivos idiomas, a fim de detectar até que ponto o uso dessa variável é afetado pelo contato de línguas. O objetivo final dessa pesquisa é explorar as maneiras pelas quais os bilíngues utilizam as estruturas paralelas entre os idiomas em situações onde línguas parecidas estão em contato, a fim de testar a hipótese de economia cognitiva proposta por Silva-Corvalán (1994). Sabe-se que as línguas tipologicamente similares em situações de contato prolongado tendem à convergência gramatical (Muysken 2000). O português e o espanhol apresentam vários paralelos lexicais e estruturais, o que em teoria deveria levá-los à convergência. No entanto, os resultados baseados em aproximadamente 1.800 tokens em cada idioma mostram que, em termos de freqüência e padrões distribucionais, o português uruguaio e o espanhol fronteiriço apresentam convergência somente parcial. Esses resultados apontam para as vantagens do método variacionista de análise no estudo de línguas em contato, já que esses padrões não são acessíveis através de intuição e observação da comunidade. 68 Universidade de São Paulo 130 ENCONTRO DA: ASSOCIAÇÃO DOS CRIOULOS DE BASE LEXICAL PORTUGUESA E ESPANHOLA ZHANG CHAOFENG (UNIVERSIDADE DE MACAU) email: [email protected] A variação do uso dos clíticos no português falado em Angola Apresenta-se uma análise da variação do uso dos clíticos na linguagem falada do PA (Português de Angola), em Luanda, o qual tem assumido um papel cada vez mais importante no que se refere ao estudo de contato linguístico entre o português e as línguas da família bântu (Oliver, 1991; Mingas, 2000; Inverno, 2005; Webb & Kembo-Sure, 2000; Heine & Nurse, 2000; Nurse & Philippson, 2003; Nurse, 2008; Cat & Demuth, 2008). Vale dizer que se trata de uma análise parcial que faz parte de uma pesquisa em realização no curso de mestrado da UM. O estudo sobre a variação dos clíticos no PA apresenta uma nova frente para o aprofundamento na investigação de como o processo de dispersão mundial do português encontrou alternativas para adaptar a estrutura linguística observada, a qual representa a última instância da flexão casual latina (Nascentes, 1954; Williams, 1961; Camara Jr., 1975; Teyssier, 1987). Este trabalho objetiva revelar como se dá o preenchimento (Abraham, 1939; Cyrino, 1997) e a colocação (Figueiredo, 1944; Lobo, 1992) dos clíticos na língua falada do PA, comparando os resultados aos existentes para o PE - português europeu (Costa & Lobo, 2003; Martins, 2005; Antonelli, 2007) e o PB - português brasileiro (Cyrino, 1997; Galves, 2009; Barreto, 2010), para elucidar as suas características, além de combinar fatores histórico-sociais angolanos (Pepetela, 1990; Heintze, 2007) para investigar a causa, o processo e a influência da sua variação. Sabe-se que Angola é pátria de algumas das línguas bantus (Sanders, 1885; Stover, 1885; Chatelain, 1889; Torrend, 1891; Nogueira, 1955; Valente, 1964; Fernandes & Ntondo, 2002; Ntondo, 2006), e que vários falantes dessas línguas tiveram um papel fundamental no processo de divulgação do português também na América. Assim, supõe-se que o PA tem o papel de ser como uma ponte, tendo a sua generalidade e especificidade em relação às outras duas principais modalidades do português. Diante disso, elegeu-se a investigação dos casos do preenchimento e da colocação dos clíticos, para que se desvele quais são as estratégias utilizadas no cotidiano. A análise baseia-se em entrevistas que foram recolhidas no início de 2011 para o projeto 69 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas 70 ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS CRIOULOS E SIMILARES Angolan Oral Portuguese: a historical and present record e ainda se encontram sob o processo de transcrição. Faz-se um cômputo estatístico dos casos catalogados, comparando com os estudos realizados alhures para o PE e o PB. Além disso, estuda-se a sócio-história, usando a abordagem da área da sociolinguística laboviana para observar como tal uso pode ter sido influenciado. Pretende-se com isso observar a história de como o PE foi divulgado em Angola, nos dois últimos séculos, e qual foi o seu impacto no ambiente da língua falada. Persegue-se ao mesmo tempo a revelação de como se deu o processo de diferenciação entre o PA e o PB na cidade de Luanda, uma vez que se assume que estas duas últimas variantes são parte de um mesmo processo histórico que se diferenciou a partir do século XIX. BEATRIZ PROTTI CHRISTINO (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO) email: [email protected] A concordância de gênero e a expressão da definitude em Português Huni-Kuin As variedades de Português empregadas como segunda língua pelas diversas comunidades indígenas brasileiras não apenas servem de veículo de comunicação com a sociedade nacional, mas também desempenham o papel de línguas francas na interação entre indígenas de distintas origens e constituem elemento de identidade étnica (v. Maher 1996, 1998). Várias pesquisas vêm apontando as especificidades do ‘Português-Indígena’ e, com isso, trazendo dados valiosos para as reflexões envolvendo as relações entre contato linguístico e mudança linguística. Boa parte desses trabalhos destaca a ausência completa ou parcial de concordância de gênero, tal como se observa em outros falares ligados a situações de contato linguístico, como o de habitantes da comunidade rural afro-brasileira de Helvécia (BA), estudado por Lucchesi, Baxter e Ribeiro (2009) e o Português vernacular de Angola (v. Holm 2009). Com efeito, Costa (1993) constatou que o Português-Fulniô nem sempre apresentava concordância de gênero, situação semelhante à identificada por Lucchesi e Macedo (1997) no 70 Universidade de São Paulo 130 ENCONTRO DA: ASSOCIAÇÃO DOS CRIOULOS DE BASE LEXICAL PORTUGUESA E ESPANHOLA Português de contato do Alto Xingu. De acordo com Ferreira (2005), o PortuguêsParkatejê não realiza a concordância de gênero. O Português-Kaingang escrito (investigado por Lima e Silva e Christino 2011) conta com construções como (1) “a marca contrario vai lavar ela” e (2) “a criança fica certo da cabeça”. O presente trabalho tem por objetivo descrever o modo como opera a concordância de gênero no Português-Huni Kuin. Por conta da estreita ligação entre artigos e marcação de gênero, em Português, atenta-se também para a(s) forma(s) de expressão da definitude naquela variedade linguística. Os auto-denominados huni kuin (ou homens verdadeiros, também conhecidos como kaxinawás) vivem ao longo dos rios Tarauacá, Jordão, Breu, Muru, Humaitá e Purus (no Acre) e, no lado peruano da fronteira, às margens do Juruá, do Curanja e do Envira. Ao todo são cerca de 5.000 e sua língua materna pertence à família Pano. Como se pôde notar por meio de gravações obtidas em 2009, no PortuguêsHuni Kuin um nome com gênero feminino pode ocorrer antecedido por artigo no masculino, como em: (3) “no tinta de nosso fuso” (Adauto Paulo Busã), (4) “Aí eu peço pro Bia ficá mais com vontade” (Raimundo Paulo Tuin). Também foram encontradas estruturas semelhantes a (2), caso de “isso deixou muita gente confuso” (João Carlos Iskubu) e verificou-se a atuação do neutro tudo como desencadeador da ausência da concordância (fenômeno anteriormente reconhecido no Português xinguano por Lucchesi e Macedo 1997): (5) “a gente vê tudo essa diversidade” (João Carlos Iskubu). A presença/ ausência de artigos definidos no Português Huni-kuin nem sempre se dá da mesma forma como nas variedades em uso por falantes nativos. Dentre os casos de ausência de (um previsível) artigo definido podem-se lembrar: (6) “quando chega tempo de apanhá algodão” (Adauto Paulo Busã), (7) “vô contá como é que pessoal trabalha” (Adauto Paulo Busã) e (8) “meu nome em língua português” (Gilberto Paulo Bane). Noutros contextos, surgem artigos definidos que falantes nativos dificilmente usariam, a exemplo de: (9) “Quer dizer que eu falei no Português” (Adauto Paulo Busã) e (10) “vô contar história do antigamente” (Ademar Inkamuru). 71 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas 70 ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS CRIOULOS E SIMILARES MAGDALENA COLL (UNIVERSIDAD DE LA REPÚBLICA, URUGUAY) email: [email protected] Las voces malungo, muyinga y yimbo en el español del Uruguay Existen importantes – aunque aislados – mojones en la historia de las investigaciones que apuntan a rescatar la presencia lingüística africana en el Uruguay, entre ellos los trabajos de Pereda Valdés (1937 y 1965) y Laguarda Trías (1969). Ya para fines del siglo XX y principios del XXI, aparecen nuevas investigaciones en torno al tema (Fontanella de Weinberg 1987, Lipski 1998, Álvarez López 2007 y Coll 2010), que apuntan a describir las características fonético-fonológicas, morfosintácticas y léxicas del español hablado por africanos o afrodescendientes en el Río de la Plata durante el siglo XIX. En esta oportunidad, y teniendo en cuenta los antecedentes mencionados, abordaremos el análisis de malungo, muyinga y yimbo, tres formas de tratamiento nominales de origen africano que sirven para dirigirse o referirse a los africanos y a sus descendientes. Varias son las fuentes a las que recurrimos para analizar estos africanismos, consignados por Laguarda Trías (1969). Por un lado, revisamos diferentes documentos del XVIII y XIX, a saber, querellas, sumarios, expedientes, en los que se consignan formas nominales para hacer referencia o dirigirse a un esclavo y también revisamos anuncios de fuga o venta de esclavos publicados en la prensa del siglo XIX. Como esos caminos no nos condujeron a información pertinente, recopilamos un amplio y relevante conjunto de representaciones literarias que evocan, imitan o representan el habla de los esclavos y sus descendientes. En estas fuentes encontramos la forma malungo, en casos como el que reproducimos a continuación: (1) E qui á ese su malungo quiliado e sinvidole (anónimo, 1831). Por otro lado, nos apoyamos en algunas obras de narradores uruguayos en las que aparecen personajes de origen africano y en cuyos diálogos surgen diferentes formas de tratamiento. En estas obras asimismo se dan formas de tratamiento que otros sectores de la sociedad utiliza para referirse o dirigirse a los descendientes 72 Universidade de São Paulo 130 ENCONTRO DA: ASSOCIAÇÃO DOS CRIOULOS DE BASE LEXICAL PORTUGUESA E ESPANHOLA de esclavos. En esta narrativa uruguaya aparecen las formas muyinga y yimbo: (2) - Tratá de no dejármele ni un cañuto a ese bicho, muyinga!, agrega doña Cirila! (García 1928: 70). (3) - Mirá, yimbo, no te hagás el santo. No vas a tener dentrada porque han declarau cerrada la lista (Ballesteros 1950: 98). Las tres formas se diferencian claramente. Malungo aparece sólo en boca de los propios africanos para hacer referencia a un compañero de viaje, un compañero de vida. Mishungo se ha empleado como sinónimo de negrito o negrita, con ciertas connotaciones afectivas, tanto por miembros de la colectividad africana como por personajes de extracción social baja y/o del ámbito rural. Yimbo, por otra parte, es una forma de tratamiento usada por no africanos que, de forma despectiva, se dirigen (o hacen referencia) a un niño afrodescendiente. Se diferencian, asimismo, por poseer desigual vigencia en el español actual del Uruguay. Sin embargo, todas ellas contribuyen a entender el contacto entre el español y las lenguas africanas en el Uruguay y echan luz sobre el proceso de pérdida de lenguas no europeas en territorio americano. PAULA MENDES COSTA (UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO) emails: [email protected] / [email protected] Descrição fonológica segmental do crioulo da Guiné-Bissau: um estudo preliminar Este trabalho objetiva realizar uma descrição sincrônica da fonologia segmental do crioulo da Guiné-Bissau (Kriyol), isto é, descrever o inventário segmental da língua, bem como as realizações fonéticas decorrentes de variação contextual. Ele faz parte de um estudo maior, ainda em andamento, cujos resultados comporão uma dissertação de mestrado. Para a sua realização, serão levados em consideração 73 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas 70 ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS CRIOULOS E SIMILARES trabalhos anteriores acerca da fonologia do Crioulo da Guiné-Bissau (CGB), como os de Mbodj (1979), Rougé (1988) e Couto (1994), e trabalhos que apresentam análises fonológicas de outras línguas africanas, como o de Moura (2007), a respeito da língua Fula, falada na Guiné-Bissau, e o de Rodrigues (2007), acerca do caboverdiano (ou Kabuverdianu), os quais, pela natureza da pesquisa científica, podem contribuir para a elucidação de questões pertinentes ao presente estudo. O CGB integra a família linguística dos crioulos de base lexical portuguesa da Alta Guiné (CAG), da qual também fazem parte o Crioulo Kabuverdianu e o crioulo de Casamansa. Nessa perspectiva, o CGB é uma língua que resulta do contato entre o português (língua de superstrato ou lexificadora) e as diversas línguas africanas (línguas de substrato) faladas na Guiné-Bissau, todas pertencentes à família Níger-Congo, nomeadamente aos grupos Mande e Atlântico, conforme atestam Hagemeijer e Alexandre (2010). O mosaico linguístico do país compreende um total de 22 línguas, entre elas o Crioulo da Guiné-Bissau, a respeito do qual Couto (2009) afirma ser “um dos menos estudados do mundo”. Nesse contexto, salienta-se a pertinência do presente estudo, a qual se respalda, pelo menos, em razões de três naturezas: 1) social, que diz respeito à relevância de qualquer língua para sua sociedade; 2) linguística, que se refere à contribuição potencial que o conhecimento de línguas (e de sua fonologia) pode dar para a construção da teoria linguística e para o avanço do entendimento da faculdade humana da linguagem, acrescentando-se a perspectiva de colaborar para o esclarecimento de questões referentes à fonologia do CGB e, dessa forma, para a realização de trabalhos posteriores acerca da língua; e 3) cultural, visto que compreende um intercâmbio sócio-cultural de conhecimento, cujo resultado vem a funcionar como elemento catalisador desse mesmo processo, fortalecendo o desenvolvimento de pesquisas que pressuponham uma relação de troca bilateral entre as partes envolvidas. Para a realização desse estudo, procedeu-se à coleta de dados sonoros junto a estudantes guineenses de ambos os sexos vinculados à UFPE através do Programa de Estudantes-Convênio de Graduação (PEC-G), os quais compreendem um total de 26 alunos. Finalmente, é importante dizer que o presente trabalho de descrição fonológica inscreve-se nos estudos crioulísticos de base sincrônica, apoiando-se inicialmente na abordagem estruturalista norte-americana, através do uso das técnicas da linguística distribucional, bastante úteis para o estabelecimento da 74 Universidade de São Paulo 130 ENCONTRO DA: ASSOCIAÇÃO DOS CRIOULOS DE BASE LEXICAL PORTUGUESA E ESPANHOLA fonologia segmental das línguas naturais. Além disso, para se proceder à análise mais avançada acerca da fonologia da língua, o estudo se apoia em arcabouço teórico mais moderno, fornecido pela fonologia pós-gerativa, constantes em Goldsmith (1995), Clements (1995), entre outros. 75 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas 70 ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS CRIOULOS E SIMILARES F STEPHEN FAFULAS (INDIANA UNIVERSITY) email: [email protected] MIGUEL RODRÍGUEZ-MONDOÑEDO (INDIANA UNIVERSITY) email: [email protected] Language shift and the emergence of new varieties: Spanish in contact with Bora and Okaina BACKGROUND Spanish is in contact with a vast number of languages, a situation which has been studied in depth from many perspectives (see Díaz-Campos 2012). However, little attention has been devoted to the Amazon, where Spanish is in contact with dozens of less well-known languages. The current study addressees the contact between Spanish and two Amazonian languages, Bora and Okaina, in several communities along the Yaguasyacu and Ampiyacu rivers, in Peru. Both of these Amazonian languages have a reduced number of speakers, and Okaina is nearing extinction. While they come from the same family, they are distinct languages (Kaufman 1990). METHODOLOGY The data of the present study are comprised of sociolinguistic interviews and community-wide surveys from five communities (Aconcolonia, Brillo Nuevo, Nuevo Peru, Puerto y Sango, and Nueva Esperanza) of the North-Western Amazon region of Peru. First, data from language usage surveys for 63 members of these communities will be presented. Then, a fine-grained analysis of morphosyntactic phenomena of ten residents from Bora communities will be analyzed alongside the speech of ten residents from the Okaina communities. HYPOTHESES Since Spanish is expanding, we expect to find evidence of language shift, 76 Universidade de São Paulo 130 ENCONTRO DA: ASSOCIAÇÃO DOS CRIOULOS DE BASE LEXICAL PORTUGUESA E ESPANHOLA from the local language to Spanish. Bora and Okaina are different languages and we hypothesize that the contact varieties will display divergences. However, given they are of the same family, we anticipate that the interlanguages of the bilinguals will have features in common, while still differing from monolingual Spanish. RESULTS Results indicate that: (i) Bora and Okaina proficiency is declining in the community, and (ii) the Spanish which has emerged in these communities is unique in a number of ways. For example, Bora Spanish offers a number of features that are not common in other varieties of Spanish: (A) Gerundive agreement: gerundives show agreement with the subject in number (PLU=plural), which is not found in native Spanish (NS): (1) Nosotros venimo-s We come- PLU We have been suffering sufriendo-s cf. Nosotros venimos sufriendo (NS) suffering- PLU (2) Está-n cogiendo-s unas frutas Be- PLU taking- PLU some fruits They are taking some fruits cf. Están cogiendo unas frutas (NS) (B) Plural floating: the verbal plural marker for agreement (AGR) with the subject is inserted on a word other than the verb, replacing the nominal agreement marker: (2) lo que ello-n hablaba what they-AGR talk what they talked about cf. lo que ellos hablaban (NS) (C) One plural marker in the nominal domain: PLU is expressed only once in the noun phrase: 77 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas 70 ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS CRIOULOS E SIMILARES (3) los trece año The thirteen The thirteen years cf. los trece años (NS) year (D) Double relatives: Locative relativization with a secondary relative pronoun (4) Donde que está ese fruto Wherethat is the fruit Where that fruit is cf. Donde está ese fruto (NS) Interestingly, these features are not found in Okaina Spanish. A feature particular to this variety is: (E) Plural marking only through overt subjects (5) Ello no buscaba coca They no looked-for coca They did not look for coca cf. Ellos no buscaban coca (NS) CARLOS FILIPE G. FIGUEIREDO (UNIVERSIDADE DE MACAU) email: [email protected] Uso variável do artigo definido no português reestruturado da comunidade de Almoxarife, São Tomé As variedades africanas de português (Ptg) permitem analisar fenómenos emergentes do contacto entre o Ptg e as línguas africanas e entender fases de formação do português brasileiro (PB). O uso do artigo definido no português da comunidade bilingue (português e santomense) de Almoxarife (PA), São Tomé, regista variação 78 Universidade de São Paulo 130 ENCONTRO DA: ASSOCIAÇÃO DOS CRIOULOS DE BASE LEXICAL PORTUGUESA E ESPANHOLA ternária: (i) Aplicação do determinante do Ptg (o, a, os, as, exemplo [1]); (ii) Omissão, configurando nomes nus (NNs) (exemplo [2]); (iii) Em sintagmas nominais (SNs) plural, realização sob a forma do pronome pessoal eles (exemplo [3]): [1] PA: É os meus pai. [OSVALH1] [2] PA: E amigo meu. [OSVALH1] [3] PA: outra pessoa foi tirô eles rôpa, [ZECAH1] A variação [1] e [2], envolvendo posse ou não, regista-se no Brasil, seja no PtgL2 indígena (Aikhenvald, 2002) seja em registos rurais (Baxter & Lopes, 2004b, 2009) e urbanos (Baxter & Lopes, 2004a). Idêntica variação ocorre no Ptg dos Tongas (PT), Roça Monte Café, São Tomé (Baxter & Lopes, 2004a). Os NNs registam-se na aquisição de L1 (Klein & Perdue, 1992), mas, na aquisição de L2, são também relacionados a influências da L1 na estruturação das categorias funcionais da L2 (Hawkins, 2001). Assim, importa verificar se estas realizações no PA apresentam idêntico perfil ao do substrato santomense, cujos NNs têm distribuição e interpretação livre a nível gramatical, mas restringidas pela componente extra-gramatical. Licenciando-se na interface entre nível gramatical e extra-gramatical, os NNs relacionam o discurso à pragmática (Alexandre & Hagemeijer, 2007:49) e a interpretação de definitude acontece por ser previamente licenciada no discurso. O uso do determinante resulta de reestruturação geracional do PA, determinada pela aquisição diacrónica em relação ao artigo pleno do Ptg. A variação [3] em nomes [+humanos] ou extensão de [+humanos] é uma especificidade do PA e respaldará também no santomense. Neste, uma das formas de marcar o plural recorre ao determinante definido inen do edo (exemplo [4]), homófono do pronome pessoal, 3ª pessoa plural, colocado pré-nominalmente como marcador de flexão plural em nomes [+humanos]: 79 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas 70 ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS CRIOULOS E SIMILARES [4] SANTOMENSE: ome plejidu (Hagemeijer, 2000:118) “(o) homem preguiçoso” inen ome plejidu 3PL homem preguiçoso “os homens preguiçosos” Recorrendo ao GOLDVARB X (Sankoff, Tagliamonte & Smith, 2005), observarse-á a influência de variáveis linguísticas (p.e. animacidade do substantivo, número do SN ou função sintáctica do SN) e extralinguísticas (p.e. idade e escolaridade) nas realizações do PA, com ou sem artigo definido. A comparação com resultados do PT (Baxter & Lopes, 2004a), da norma urbana de Salvador (Baxter & Lopes, 2004a) e do dialecto rural de Helvécia (Baxter & Lopes, 2004a, 2004b, 2009), contribuirá com mais dados para o conjunto de variáveis que testemunham a reestruturação morfossintáctica quer do PA quer de variedades do Brasil, permitindo conclusões sobre: (i) Tipologia do NN do PA relativamente à de crioulos portugueses atlânticos (CP’s) – observada por Alexandre & Hagemeijer (2007) e Baptista (2007) – e das variedades comparadas; (ii) Possibilidade do Ptg adquirido por contacto por falantes de um CP manifestar idênticos padrões de variação do Ptg adquirido por falantes cuja língua ancestral não é um CP (Figueiredo, 2010b); (iii) Formação do PB. 80 Universidade de São Paulo 130 ENCONTRO DA: ASSOCIAÇÃO DOS CRIOULOS DE BASE LEXICAL PORTUGUESA E ESPANHOLA G DÂNIA PINTO GONÇALVES (UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS) email: [email protected] Aspectos do bilinguismo societal no comércio da fronteira uruguaio-brasileira A zona fronteiriça Uruguai/Brasil que estudamos é cenário do contato linguístico entre duas línguas de poderosas raízes culturais, demográficas e econômicas na região. Nessa fronteira, além das línguas nacionais- português e espanholencontramos variantes desse contato linguístico denominado pela literatura especializada, a Linguística Fronteiriça, de Dialetos Portugueses do Uruguai (DPU), do lado fronteiriço uruguaio e Português Gaúcho da Fronteira (PGF), do lado fronteiriço brasileiro. Os DPUs são dialetos de base lusitana e sua descrição pode ser encontrada em Elizaincín, Behares e Barrios (1987). Já o PGF recebe este nome não só por ter influência da língua espanhola, mas também por não ser a variedade do português padrão. Behares (2011) considera o produto linguístico dos comerciantes e comerciários fronteiriços uruguaios como uma das variantes dos DPUs, que formam, em sua concepção, quase um pidgin, visto que a comunicação se dá através da necessidade de interatuar no âmbito comercial dos Free Shops, entre uruguaios locais e brasileiros distantes da região fronteiriça, tal como do nordeste, sudeste, centrooeste do Brasil. Como do lado fronteiriço brasileiro, a comunicação ocorre com o brasileiro ou uruguaio local, desconsideramos a prática do pidgin e levamos em consideração outro fenômeno dessas variantes fronteiriças que, segundo Mozzillo (2011), podem ser consideradas um code-switching, característica de indivíduos bilíngues. O termo bilinguismo é utilizado para denominar uma comunidade que se expressa em mais de uma língua ou um sujeito que também se comunica em mais de uma língua. Por esse motivo, Romaine (1997) compreende que não há como separar a definição de bilinguismo societal de bilinguismo do indivíduo. As cidades gêmeas de Jaguarão/Rio Branco se configuram, portanto desse bilinguismo societal. A comunidade linguística jaguarense, mais especificamente, maneja dois códigos linguísticos, a saber, as línguas nacionais Português e Espanhol. O fato de haver um bilinguismo 81 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas 70 ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS CRIOULOS E SIMILARES societal nos leva a crer que os comerciantes e os comerciários estão mais sujeitos a esse bilinguismo por tratarem com clientes de ambas nacionalidades. Para esse trabalho, o que se pretende é mostrar os resultados parciais dos dados que estão sendo coletados na fronteira de Jaguarão/Rio Branco, a fim de analisar o produto linguístico enunciado pelos comerciantes e comerciários fronteiriços brasileiros quando querem se comunicar em espanhol, como se dá o code-switching no comércio jaguarense e quais suas possíveis motivações. ANTHONY GRANT (EDGE HILL UNIVERSITY, UK) email: [email protected] On the (dis)unity of the Manila Bay Creoles A number of Spanish-lexifier creoles have been recorded at various points in Manila Bay, Luzon, Philippines, namely Caviteño, Ternateño and the extinct or highly obsolescent Ermitaño. Very valuable linguistic work on these has been carried out on these, especially in the past few years (Sippola 2011 and references, and Steinkrüger 2007 on Ternateño, Lesho to appear on Caviteño). Although the creoles spoken around Manila Bay show strong structural similarities, Ternateño stands out from other creoles especially strongly because of many unique features in its lexicon. As a glance at the indexes in Riego de Dios (1987) immediately shows, a greater number of Ternateño words are phonologically or lexically distinct from those of Caviteño or of the Mindanao creoles which Riego profiles (Zamboangueño and especially Cotabateño) than any others. Some of this is the result of sound changes upon forms of Spanish origin which operated only in Ternateño at the time. Other forms (especially the ‘Mardica’ words which Tirona 1924 lists, and which he associates with the Márdikas, 17th century Christian refugees from the island of Ternate who wound up in the Philippines) are exclusive to this creole. Molony (1978) stated that these forms came from Portuguese, Moluccan (Ternate) Malay and Bahasa Ternate, a non-Austronesian language with a lexical 82 Universidade de São Paulo 130 ENCONTRO DA: ASSOCIAÇÃO DOS CRIOULOS DE BASE LEXICAL PORTUGUESA E ESPANHOLA overlay of Malay. This hypothesis is examined with regard to the Márdika words, paying close attention to forms of Bahasa Ternate origin (as documented in HayamiAllen 2001). These forms do not occur in Caviteño or what we have of Ermitaño (notably Whinnom 1956), nor for that matter in Mindanao Creole Spanish, and I suggest that ‘Manila Bay Creoles’ is better as an areal than as a genealogical term. 83 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas 70 ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS CRIOULOS E SIMILARES H JOHN HOLM (UNIVERSIDADE DE COIMBRA) email: [email protected] 16th-century evidence regarding the origins of the Capeverdean verbal marker -ba This paper offers newly uncovered evidence to help solve an old problem with important implications for linguistic theory: whether inflectional morphemes have existed in some restructured varieties of Portuguese used by Africans since their very beginnings, rather than being the results of comparatively recent decreolization. One of the few indisputable inflections found in basilectal varieties of the Atlantic creoles is the past or anterior marker -ba found in Capeverdean: kantaba ‘cantava’ [‘was singing’] (Lopes da Silva 1957:140). This “-ba...foi tirada dos verbos portugueses da 1.ª conjugação (canta-va) e assumiu a form -ba” (ibid.). [‘-ba was taken from the first conjugation of Portuguese verbs (canta-va) and took the form -ba.] However, the credibility of this etymology alone was undermined by the nearly total lack of inflected forms in other Atlantic creoles and the fact that in the closely related Portuguese-based creole of Guinea-Bissau (GB), the past/anterior marker ba is not a bound morpheme like its Capeverdean (CV) counterpart: GB CP N konta u ba... 1s tell 2s PAST ‘I told you...’ (Kihm 1994:99) Kihm suggests conflation with GB CP kaba ‘finish’ (cf. P acabar idem) and substrate forms “We may suppose that both /-va/ and (a)cabar, the latter reinforced by the honetically similar Manjaku, Diola-Fogny, and perhaps still other languages, ba, had to enter into the process” (1994: 103). Boretzky (1983:132) agrees that “Im Crioulo von Guinea-Bissau ist kaba zu ba verkürzt worden, erscheint aber ebenfalls nach dem Verb und drückt Vorzeitigkeit aus” [‘In the Creole of Guinea-Bissau kaba has been shortened to ba but also occurs after the verb to express anteriority.’] 84 Universidade de São Paulo 130 ENCONTRO DA: ASSOCIAÇÃO DOS CRIOULOS DE BASE LEXICAL PORTUGUESA E ESPANHOLA Baptista (2002: 201) pointed out that CV “...-ba is a verbal inflection found exclusively bound to verb stems”, causing speculation that the CV inflection -ba may have had its origin in a free morpheme like GB ba but later have conformed to the bound status of the Portuguese inflection –va through decreolization. It has also been pointed out that Portuguese -va alone as the etymon of CV-ba and GB ba seems unlikely in that no other examples are known of creole morphemes being derived from superstrate inflections, which cannot be isolated or stressed and tend to be semantically opaque, thus not lending themselves to borrowing. However, this paper presents evidence that throws light on the above controversy: what appears to be a past/anterior inflection -ba occurs in a passage in Língua de Preto (LP) in a played called O Negro da Frágua d’Amor, written by Gil Vicente in 1524: Oyae, seoro ferreyro, boso meu negro tornae como mi saba primeyro! Olhai, senhor ferreiro transformai-me vós em negro Como eu era primeiro (Teyssier 2005:285) The form sa is clearly the LP copula sa (also spelled saa) as “tu saa home o saa riabo?” [‘Are you a man or a devil?’] (ibid.) so the only possible meaning of saba is past ‘was’, as the translation ‘era’ indicates. While the relationship between the Língua de Preto and the modern Upper Guinea creoles is problematical, this documentation of an apparently inflectional form -ba in the 16th century suggests that the inflectional status of modern CV -ba need not be the product of modern decreolization. 85 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas 70 ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS CRIOULOS E SIMILARES I INCANHA INTUMBO (UNIVERSIDADE DE COIMBRA) emails: [email protected] / [email protected] ANA R. LUÍS (UNIVERSIDADE DE COIMBRA) email: [email protected] Uma análise morfológica da reduplicação no Kriol da Guiné-Bissau Enquanto processo de criação lexical, a reduplicação total tem ocupado um lugar secundário na investigação morfológica. Katamba considera mesmo que, por se tratar de um fenómeno que duplica a totalidade de uma palavra, afigura-se demasiado simples para merecer um tratamento teórico (Katamba, 1993:182-3). O presente trabalho apresenta dados empíricos que permitem contrariar esta posição. Será nosso objectivo demonstrar que a reduplicação total no Kriol da Guiné-Bissau, além de apresentar propriedades semânticas e morfológicas complexas, estabelece uma interação produtiva com outros processos morfológicos, entre os quais a conversão, a derivação e a flexão. Por se tratar de uma interacção que coloca desafios a qualquer teoria morfológica, propomo-nos explorar uma análise da reduplicação total no Kriol no âmbito do quadro teórico da Morfologia Construcional (Booij, 2010). Com base num corpus recentemente recolhido, começaremos por reforçar a ideia, anteriormente defendida por Kihm (1994), Couto (2000) e Melo (2007), de que as palavras reduplicadas constituem unidades lexicais com significado noncomposicional. Quanto às operações morfológicas que interagem com verbos reduplicados, destacaremos de seguida o processo de conversão. Conforme ilustrado em (1a-b), verbos reduplicados no Kriol podem converter-se em nomes, sem recurso à afixação. Esta conversão realiza-se através da migração do acento de palavra para a esquerda, conforme exemplificado em (1b). Verbos reduplicados podem ainda adquirir um valor causativo através da sufixação múltipla do marcador causativo. Neste caso, a derivação causativa terá de marcar simultaneamente a base e o reduplicante, conforme exemplificado em (2a-b). Por fim, em (2c), toda a sequência reduplicada causativa pode adquirir o valor de particípio passado através de uma operação flexional que coloca o sufixo na margem direita da palavra reduplicada. 86 Universidade de São Paulo 130 ENCONTRO DA: ASSOCIAÇÃO DOS CRIOULOS DE BASE LEXICAL PORTUGUESA E ESPANHOLA (1) a. kuri kurí (V) ‘caminhar continuamente’ b. kuri kúri (N) ‘caminhar contínuo’ (2) a. ianda iandá ‘caminhar de um lado para o outro’ b. ianda-nta ianda-ntá ‘fazer caminhar de um lado para o outro’ c. ianda-nta ianda-ntá-du ‘obrigado a caminhar de um lado para o outro’ Formalmente, a nossa análise permite corroborar a ideia de que a reduplicação total no Kriol constitui um processo de formação de lexemas. Será proposto o esquema construcional apresentado em (3), segundo o qual os sub-constituintes da palavra reduplicada são membros de um lexema não-composicional. A interação entre verbos reduplicados e outras operações morfológicas será formalizada através de sub-esquemas construcionais. Assim, derivamos a forma reduplicada do particípio, através da unificação do esquema (3) com o sub-esquema (4), colocando o sufixo na margem direita da forma verbal reduplicada. A forma causativa do verbo reduplicado será derivada através da unificação do esquema (3) com o subesquema (5), verificando-se aqui a inserção do sufixo causativo nos dois sub-constituintes da palavra reduplicada. Por fim, a forma verbal exemplificada em (2c) será obtida através da unificação sucessiva dos esquemas (3), (4) e (5). (3) (4) (5) VV reduplication: [[V]i [V]i]V,j Û [RED i] j Past Participle formation: [[V]j du]V, k Û [PASS j]k Reduplicated Causative formation [[Vi - nti]Vj-1 [Vi - nti]Vj-1 ] V, j]V, m Û [CAUSE j]m LILIANA INVERNO (CELGA, UNIVERSIDADE DE COIMBRA/CECL, UNIVERSIDADE DO ALGARVE) emails: [email protected] / [email protected] Traços distintivos do português vernáculo de Angola face ao português vernáculo do Brasil 87 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas 70 ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS CRIOULOS E SIMILARES Após o surgimento, ao longo das duas últimas décadas, de inúmeros estudos comparativos da estrutura linguística das variedades vernáculas do português faladas no Brasil, por um lado, e nos países africanos de língua oficial portuguesa (PALOPs) por outro, ganha cada vez mais fundamento empírico a proposta de existência de um “continuum afro-brasileiro do português” (Petter 2007; 2008; 2009) fruto do contacto linguístico entre esta língua e as diferentes línguas africanas. Contudo, no que respeita às variedades angolana (PVA) e brasileira (PVB), essa fundamentação tem assentado exclusivamente na identificação e descrição dos muitos aspetos linguísticos que ambas partilham, sendo ignorados, ou desconhecidos, os aspetos nos quais, parecendo convergir, as duas variedades, de facto, divergem (Gärtner 1989; 1996; 1997; Mello 1998; Gärtner 2003; Holm 2005; Holm 2009). Ao fazê-lo, estes estudos comparativos permitem comprovar a pertença do PVB e do PVA a um mesmo continuum, mas não permitem avaliar o seu posicionamento nesse continuum. Partindo de dados orais recolhidos no interior de Angola pela autora e de dados e análises disponíveis na literatura para o português vernáculo do Brasil, a presente comunicação visa ajudar a preencher esta lacuna na literatura através da análise de quatro fenómenos linguísticos partilhados pelas variedades vernáculas do português em Angola e no Brasil: a apócope do morfema de infinitivo nos verbos da segunda conjugação, a ausência de concordância de género no seio do sintagma nominal (SN), a utilização da negação bipartida como estratégia de marcação da negação frásica e a redução do paradigma de marcação do modo imperativo. Procurar-se-á demonstrar que embora PVA e PVB partilhem os traços linguísticos acima enumerados, inexistentes no português europeu, estes não se concretizam, linguisticamente, da mesma forma em cada uma das variedades, o que aponta, não para diferentes processos de formação, mas para uma formação mais recente da variedade angolana face à brasileira. Longe de refutar a hipótese do continuum afrobrasileiro do português, as conclusões apresentadas nesta comunicação permitem, espera-se, ganhar uma compreensão mais abrangente dos vários mecanismos linguísticos envolvidos na sua criação e do posicionamento de cada uma das variedades em estudo nesse mesmo continuum. 88 Universidade de São Paulo 130 ENCONTRO DA: ASSOCIAÇÃO DOS CRIOULOS DE BASE LEXICAL PORTUGUESA E ESPANHOLA J BART JACOBS (JAGIELLONIAN UNIVERSITY OF KRAKÓW/RADBOUD UNIVERSITEIT NIJMEGEN) email: [email protected] Grammaticalization in Afro-Portuguese Creoles: Idiosyncracies and particularities In recent decades, scholars have come to realize that creoles offer a unique and quite spectacular window on grammaticalization. (On grammaticalization in creoles, see e.g. Detges 2000, Bakker 2008, Bruyn 2008, 2009, Hopper & Traugott 2003, Heine 2005, Heine & Kuteva 2000, 2005, etc.). The Portuguese-based creoles spoken in West Africa form no exception: they contain a significant amount of grammatical words, morphemes and constructions that have developed out of (often clearly identifiable) content words from the lexifier. The present paper discusses the most interesting and characteristic of these grammatical features, moving from the Gulf of Guinea through to Upper Guinea, then to the ABC Islands, and back. First, we discuss a set of grammaticalization phenomena shared by all of the Afro-Portuguese creoles (including Papiamentu) and estimate the idiosyncrasy of these shared features by contrasting them with non-Afro-Portuguese creoles. Then, we describe grammaticalization phenomena that appear to set the Upper Guinea Creoles apart from the Gulf of Guinea Creoles. Finally, Papiamentu is brought into the equation and compared with both the Upper Guinea and Gulf of Guinea branch. Taking this comparative approach, the paper shows how grammaticalization phenomena can be used to corroborate alleged genetic links between certain creoles. More precisely, it will be argued that the grammaticalization phenomena shared between Papiamentu and Upper Guinea Creole are of such an idiosyncratic nature that chance cannot plausibly account for them (cf. Martinus 1996; Quint 2000; Jacobs 2008, 2009, forthcoming).In addition, I will classify the discussed phenomena in terms of internal vs. contact-induced grammaticalization, showing, amongst other things, that both types are abundantly found in all the creoles. Also, some mixed cases are discussed, i.e. cases where internal grammatical change appears to have been 89 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas 70 ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS CRIOULOS E SIMILARES accelerated by language contact. Furthermore, while contact-induced grammaticalization processes are generally thought to occur more rapidly than internal grammaticalization (e.g. Bruyn 2008, 2009), I will put forward data from Early Papiamentu texts to argue that not only contact-induced, but also internal grammaticalization processes can, under the right socio-linguistic circumstances, occur extremely rapidly. Finally, I will explain why the assumption that Papiamentu and Upper Guinea Creole are genetically related sheds interesting new light on the rate of grammaticalization processes in emerging creoles. ANNA JON-AND (STOCKHOLMS UNIVERSITET) email: [email protected] Tendências universais na marcação de plural em variedades africanas e brasileiras do português A concordância variável de número no SN (CVN) é um fenómeno que ocorre principalmente em variedades do português influenciadas pelo contato linguístico, historicamente ou atualmente. A origem da CVN é um assunto que tem gerado muito debate nas últimas três décadas. Em estudos como os de Guy (1981), Lopes (2001), Andrade (2003) e Baxter (2009) a CVN no português brasileiro é interpretada como resultando principalmente do contacto entre português e línguas africanas na história do Brasil. O mesmo fenómeno é, no entanto, interpretado por Scherre (1988) e Naro e Scherre (1993, 2007) como o resultado de processos internos da língua portuguesa, sem nenhuma relação ao contacto linguístico. Em estudos quantitativos de CVN em variedades de português L1 e L2 de São Tomé (Baxter, 2004; Figueiredo, 2008) o fenómeno é explicado a partir de influências da estrutura de marcação de plural nas línguas bantu. O presente estudo compara dados quantitativos novos da CVN em duas variedades africanas de português L2, com estudos anteriores de CVN em variedades 90 Universidade de São Paulo 130 ENCONTRO DA: ASSOCIAÇÃO DOS CRIOULOS DE BASE LEXICAL PORTUGUESA E ESPANHOLA brasileiras e africanas do português. O português de Moçambique e o português de Cabo Verde são duas variedades particularmente interessantes de incluir numa perspectiva comparativa, já que em Moçambique línguas bantu são basicamente as únicas línguas que podem influenciar o português, e em Cabo Verde nunca houve presença considerável de línguas bantu, mas apenas de línguas da África ocidental. O estudo comparativo revela tendências universais nos padrões de marcação de plural nas variedades comparadas. A CVN é regida principalmente por fatores sintáticos, e a marcação de plural em elementos pré-nucleares é uma tendência forte encontrada em todas as variedades. O que distingue as variedades comparadas quanto à marcação de número é a frequência de elementos que levam marca de plural em relação a elementos flexionáveis que não o levam, mais do que a própria estrutura da variação. Observa-se ainda que parece haver uma tendência para as variedades, que presentemente têm, ou historicamente tiveram, mais condições para reestruturação gramatical (isto é, ASL informal por adultos numa parte considerável da população), apresentarem uma frequência menor de marcação de plural. A partir dos dados apresentados discute-se a existência de um contínuo de reestruturação gramatical em relação à marcação de plural, incluindo as variedades comparadas. LURDES TERESA LOPES JORGE (UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA) email: [email protected] A expressão morfossintática e semântica de itens lexicais: considerações sobre o português do Brasil e línguas crioulas de base portuguesa do Atlântico Neste trabalho analiso o comportamento de itens lexicais no que se refere a propriedades relativas a traços formais e a traços semânticos (Chomsky, 1998, 1999, 2001, 2005 e 2008), na derivação de estruturas do português brasileiro (PB), com o objetivo de explicar fenômenos gramaticais considerados inovadores no PB, tais como: sentenças interrogativas diretas e indiretas (Quem que o Zé Victor viu?); (Ninguém me diz quando que ela chega.), em que elementos QU- que codificam categorias ontológicas, entre elas, ‘quem’ e ‘quando’, por exemplo, co-ocorrem com um 91 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas 70 ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS CRIOULOS E SIMILARES elemento (que) na posição de núcleo do sistema complementizador - CP (Jorge&Oliveira, 2010; cf. Mioto & Negrão; 2007, entre outros); a falta de concordância de número (cf. Scherre, 1988; Magalhães, 2004, entre outros) em elementos não nucleares de sintagmas determinantes - DPs - (Eu não tolero esses menino da Benzinha); a variação da concordância de gênero em DPs (Esse é amiga da onça...) (cf. Carvalho, 2008; Lucchesi, 2000, 2009, entre outros). Tomando como ponto de partida Oliveira (2005), e Jorge&Oliveira (2010), em que se estudam estruturas de foco em línguas crioulas do Atlântico, pretendo buscar evidências independentes para a hipótese de que aspectos da gramática do PB como os acima representados podem ser creditados à verificação de traços formais e semânticos instanciados em contrapartes nominais de categorias funcionais (Jorge&Oliveira (op.cit.) e atestam operações disponíveis no curso da derivação sintática (Chomsky, 2008). A exemplo do que se propõe para a derivação das interrogativas em que duas posições de CP estão preenchidas, investigar-se-á, com base na perspectiva da derivação por fases (Chomsky, 2008), o comportamento - em especial no que se refere à sua expressão morfossintática - das categorias funcionais C(omplementizador), D(eterminante) e T(empo), em estruturas do PB e de línguas crioulas do Atlântico- aqui, cite-se, em especial, a análise de aspectos ligados à instanciação das categorias de gênero e número em DPs (Holm, 1989; Baxter&Lucchesi&Guimarães, 1995, entre outros) e à codificação de tempo, modo e aspecto (Oliveira, 2011, entre outros). A possibilidade de interrelação, no PB, entre aspectos representados nos dados citados neste trabalho é inovadora, e o será, também, no que se refere às línguas crioulas de base portuguesa, em se considerando estudos já existentes, ao passo que ratifica propostas em que os pressupostos da teoria da gramática e os da teoria substratista são vistos como complementares (Mufwene, 1986; Oliveira&Agostinho, 2010, entre outros). A proposta de investigação, que integra pesquisa em andamento, confirmaria, ainda, a perspectiva gerativista, intensificada a partir do sistema de fases (Chomsky, 2008), de que a variação paramétrica encontra-se centrada no conjunto de traços que alimentam a sintaxe para que esta gere derivações que serão interpretadas semanticamente. Assim sendo, se a interpretação semântica é compu-tada a partir de operações sintáticas creditadas a traços distintos de itens lexicais, interessa à pesquisa a questão do comportamento, no curso da derivação, de traços 92 Universidade de São Paulo 130 ENCONTRO DA: ASSOCIAÇÃO DOS CRIOULOS DE BASE LEXICAL PORTUGUESA E ESPANHOLA intrínsecos a categorias funcionais distintas. A questão trazida pela configuração do léxico para a arquitetura da faculdade da linguagem (cf. Lobato, 2010) justifica, portanto, o interesse do presente estudo. 93 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas 70 ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS CRIOULOS E SIMILARES K CATHERINE BÁRBARA KEMPF (FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA) email: [email protected] CYNARA ALBINA RABELO DOS REIS (FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA) email: [email protected] ELIANA PEREIRA DA SILVA (FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA) email: [email protected] Tabu linguístico e empréstimo de lexias bantu no português do Brasil Os contatos de língua – podendo levar à mescla ou não – são conhecidamente as maiores fontes de empréstimos de lexias e de calques. A sexualidade, por seu lado, pode ser considerada como uma atividade física e natural, mas de fato adquiriu nas culturas humanas uma função simbólica de extrema relevância, o que explica os tabus que afetam o vocabulário referente a ela. Isso levou a pesquisa a investigar a influência dos vocábulos de suposta origem africana no léxico do português brasileiro referente à sexualidade, com suas variedades regionais. Os termos referentes à sexualidade não foram repassados pela língua dominante por conta dos tabus característicos da cultura luso-católica, o que favoreceu a preservação das lexias e calques vindos das línguas africanas. A pesquisa já foi tema de uma dissertação de Mestrado, baseada num levantamento de lexias e expressões específicas à Vila Bela da Santíssima Trindade – MT, de um lado, da cidade de Salvador e cidades que compõe o Recôncavo Baiano de outro. Ela mostra pontos de “encontros” e “desencontros” entre os “africanismos” dessas localidades. Os “encontros” – lexias, “dicionarizadas” ou não, semelhantes entre esses dois pontos opostos do vasto território brasileiro –, são justificados pelo deslocamento de muitos escravos trazidos da Bahia, no século XVIII, para o Vale do Guaporé. Os “desencontros” – lexias que existem somente em Vila Bela da Santíssima Trindade, ou somente no Recôncavo Baiano – têm sua explicação no tempo e no espaço que separam os dois ecossistemas lingüísticos. Foram levantadas ao todo 291 lexias, das quais 21 são fortes candidatos a bantuismos, conforme os levantamentos de Yeda Castro (Castro, Yeda Pessoa. Fa- 94 Universidade de São Paulo 130 ENCONTRO DA: ASSOCIAÇÃO DOS CRIOULOS DE BASE LEXICAL PORTUGUESA E ESPANHOLA lares africanos na Bahia: um vocabulário afro-brasileiro. 2. ed., Rio de Janeiro: Topbooks. 2005.) e de Angenot e Angenot (Angenot, Jean Pierre; Angenot, Geralda de Lima Vitor, 2010, Glossário dos bantuísmos brasileiros. Guajará-Mirim/RO, Caderno de Ciências da Linguagem. Publicação on-line);. mas tem também um certo números de lexias, ou sem registro em dicionário algum, ou então cunhadas como de “origem obscura”, ou ainda “controvérsia”, que, pelos critérios usados pelos bantuistas (Angenot, Jean Pierre ; Jacquemin, Jean Pierre, 1976, Identificação de critérios Línguísticos que permitem precisar a origem dos empréstimos bantos no português do Brasil. In: X Reunião Brasileira de Antropologia. UFBA. Salvador/BA) são candidatas a bantuismos. Neste trabalho pretendemos apresentar os resultados preliminares de um levantamento de possíveis cognatos encontrados nos léxicos e dicionários das línguas bantu afetadas pelo tráfico, ora acessíveis à nossa equipe, para embasar a procura dos possíveis étimos das lexias brasileiras. Apresentaremos alguns dos casos mais interessantes. 95 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas 70 ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS CRIOULOS E SIMILARES L JÜRGEN LANG (UNIVERSITÄT ERLANGEN-NÜRNBERG) Email: [email protected] A dive in the feature pool In recent times, it has become rather usual to make biological scenarios a model of what occurs in situations of language contact and creolization. We hear of a linguistic “feature pool” (as genetists speak of a “gene pool”), of “competition’ among” and “selection of” linguistic features, of linguistic “ecologies”, etc. There is of course a long tradition of metaphorical use of biological terms in linguistics, and it is hard to say whether these metaphors have done linguistics more good or harm. In order to prevent the second from happening this time, we shall examine the new recourse to biology analyzing Salikoko Mufwene’s contributions from 2001 e 2002. These two publications seem to have contributed more than any other to establish the new trend. In principle, three questions should be answered: 1. What does Mufwene affirm, concerning language contact, using biologyinspired metaphors? 2. To what extent does the metaphorical use of these terms correspond to their literal sense in biology and genetics? 3. Does the linguistic scenario outlined with the help of these terms correspond to what we think is going on in language contact? This program is too ambitious for a 20 minute’s talk. We shall confine ourselves to the first and the second question. It will be shown that Mufwene’s use of biological terms differs too much from their use in biology and genetics to be of great help. We keep our doubts concerning the appropriateness of what he asserts about the mechanisms of language contact and criolization for another occasion. 96 Universidade de São Paulo 130 ENCONTRO DA: ASSOCIAÇÃO DOS CRIOULOS DE BASE LEXICAL PORTUGUESA E ESPANHOLA ISABELLE LÉGLISE (CNRS, SEDYL, PARIS) email: [email protected] PASCAL VAILLANT (LIMBIO, UNIVERSITÉ PARIS 13) email: [email protected] JOSEPH JEAN-FRANÇOIS NUÑES (INALCO, SEDYL/LLACAN) email: [email protected] Application de la méthodologie CLAPOTY à des phénomènes de contacts de langues trilingues (Créole Casamançais, Français et Wolof) Bien que la créolistique aie peu investi ce domaine, longtemps réservé aux relations entre les créoles et leurs langues lexificatrices (Goury & Léglise, 2005), la linguistique du contact (ou contact linguistics) est en plein essor depuis une quinzaine d’années. Deux traditions de recherche s’y croisent : l’une en diachronie, plutôt axée sur la description des conséquences du contact sur les langues elles-mêmes (Thomason, 2001, Heine & Kuteva, 2005), l’autre en synchronie, plutôt intéressée par la description des effets du plurilinguisme et du sens socialement attribué, par les locuteurs, à l’alternance de langues (Auer, 1998). Le projet ANR CLAPOTY (Léglise et al., 2009) propose un modèle d’analyse des conséquences linguistiques des contacts de langues qui articule ces deux traditions. Il est actuellement testé sur un corpus commun multilingue comprenant 40 langues (soit 164 enregistrements différents représentant 290 locuteurs). Ce corpus constitue, à notre connaissance, la plus grande base de données multilingues existante dans la communauté scientifique internationale. Dans cette communication, nous présenterons dans une première partie les objectifs et méthodes mis en place dans le projet Clapoty, en insistant sur les choix d’annotation des données. L’originalité de notre modèle d’analyse réside en ce qu’il a été élaboré en commun par des linguistes de différentes traditions disciplinaires, au cours d’une démarche empirique et ascendante — c’est-à-dire par agrégation de cas, à partir d’un recensement systématique de « phénomènes remarquables » observés dans les corpus, sans pré-catégorisation. Dans une deuxième partie, nous présenterons l’étude de phénomènes de 97 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas 70 ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS CRIOULOS E SIMILARES contact intervenant dans des corpus trilingues créole afro-portugais casamançais – français – wolof, enregistrés auprès de locuteurs plurilingues au Sénégal dans les villes de Dakar et Ziguinchor. La situation sociolinguistique du Sénégal est relativement bien documentée depuis une quinzaine d’années (Juillard, 1995) ainsi que le créole casamançais (Chataigner, 1963, Rougé, 2010, Biagui en préparation). Après avoir présenté les particularités du corpus, nous illustrerons comment les trois langues sont traitées au niveau morphosyntaxique dans les interactions quotidiennes. Nous nous concentrerons en particulier sur les phénomènes de contact intervenant au niveau du GN et sur le traitement – par les locuteurs créolophones - des substantifs issus du français comme influansa (composé d’un élément probablement issus du français «influ» (influence) et d’un suffixe créole «ansa») notamment lors de l’expression des repères temporels. MARIVIC LESHO (THE OHIO STATE UNIVERSITY) email: [email protected] Acoustic description of the Caviteño vowel system The present study offers a preliminary acoustic description of the vowel system of the variety of Chabacano spoken in Cavite City, Philippines (Caviteño). Chabacano phonology is relatively underdescribed, and the few studies available have relied on small sets of impressionistic data. Using phonetic methods to describe the creole allows for a more nuanced description of the vowel system, which is useful in determining the relationships between Caviteño and its superstrate (Spanish) and substrate/adstrate (Tagalog). Preliminary results suggest that the vowels pattern similarly to those of Tagalog in different prosodic positions. Caviteño has a 5-vowel system of /i e a o u/. German (1932) and Ramos (1963) observe that there is a difference in how the mid vowels are realized in the two main districts of the city where Caviteño is still spoken, Caridad and San Roque. German (1932:12-13) observes that in San Roque the mid vowels are often raised in post- 98 Universidade de São Paulo 130 ENCONTRO DA: ASSOCIAÇÃO DOS CRIOULOS DE BASE LEXICAL PORTUGUESA E ESPANHOLA tonic positions (e.g. noche [notƒi] ‘night’), which he compares to similar behavior in some Spanish dialects. It is equally possible that there is influence from the Old Tagalog 3-vowel system of /i a u/. Ramos (1963:63-66) also observes mid vowel raising in San Roque but claims that it occurs in free variation, regardless of stress or position. She also claims that Caviteño vowels do not vary in duration, whether they are stressed or unstressed (Ramos 1963:76), and that there is no vowel reduction (1963:79). To test these previous claims about the Caviteño vowel system, I present preliminary analysis of data elicited over the course of five months of fieldwork, focusing on two word lists elicited from one male speaker from San Roque and one from Caridad. Measurements of vowel duration, quality, and dispersion were taken from 907 vowel tokens in varying prosodic positions: stressed antepenultimate, penultimate, and ultimate position, and unstressed preantepenultimate, penultimate, and ultimate position. For both dialects, duration measurements show that phrase-final vowels tend to be longer than non-final vowels, regardless of stress. Additionally, F1 and F2 measurements show that vowel quality is reduced in unstressed positions. Measures of vowel dispersion also confirm that the vowel spaces of both speakers are reduced in unstressed compared to stressed positions, and in non-final compared to final positions. Both speakers show some overlap between the mid and high vowel categories, although to varying degrees and with slightly different patterns affecting the front and back vowels. These preliminary results show that contrary to Ramos (1963), Caviteño has a reduced vowel space in unstressed and non-final positions, and duration also varies according to prosodic factors. This behavior is similar to patterns previously observed in Tagalog (Gonzalez 1970), but not Spanish (Ortega-Llebaria & Prieto 2011). At the broad level, Chabacano appears to be similar to Spanish in having a 5-vowel rather than a 3-vowel system, but fine-grained acoustic analysis shows that there are phonetic and phonological similarities to the substrate/adstrate. Further analysis will show whether these patterns hold across the other 32 speakers in the corpus, including in utterances elicited in other task types. 99 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas 70 ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS CRIOULOS E SIMILARES FRANCISCO JOÃO LOPES (UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO) email: [email protected] MARIA DE LOURDES ZANOLI (UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO) email: [email protected] Considerações sobre o foco na posição de sujeito no crioulo de São Nicolau O crioulo de São Nicolau (CSN) é um dos nove dialetos do caboverdiano (CCV), e parte do grupo de Barlavento (ver Quint, 2000: 9). Neste trabalho apresentamos um estudo inicial sobre a categoria sintático-discursiva foco na posição de sujeito em CSN, assumindo a definição de foco de Zubizarreta (1997: 1): “[...] foco é definido em termos da noção discursiva de pressuposição: o foco é a parte não pressuposta da sentença”. Ratificamos ainda a proposta dessa autora de que a interpretação de um constituinte focalizado deve ser representada por meio de duas asserções (A) no nível da Forma Lógica (A1 e A2). Seguindo a literatura acerca da tipologia do foco – ver entre outros, Zubizarreta (1998) & Kiss (1998) – propomos que em CSN é possível identificar dois tipos de foco na posição de sujeito: ‘de informação’ e ‘contrastivo’. A seguir, apresentamos um exemplo produzido em contexto de obtenção de foco contrastivo, em CSN, em (1b), antecedido de sua contraparte neutra em (1a): (1) (a) Juaun konpra un kadern Juaun konpra un kadern Kinha comprar DET caderno O Juaun comprou um caderno. (a’) Análise Entoacional – Programa Praat 100 Universidade de São Paulo 130 ENCONTRO DA: ASSOCIAÇÃO DOS CRIOULOS DE BASE LEXICAL PORTUGUESA E ESPANHOLA tal (b) Naun, é [F Juaun] k’konpra un kadern Naun, é Juaun k’ konpra un Kadern NEG COP Juaun +FOC comprar DET Caderno Não, é o Juaun que comprou um caderno. (b’) Forma Lógica A1: Há um X tal que o X comprou um caderno. A2: Não é o caso que o tal X (que comprou um caderno) = (Kinha) & o X (que comprou um caderno) = [F Juaun] (Abrev.: A1/ A2 = asserção 1/2; COP = cópula; DET = determinante; F = núcleo de foco; FOC = foco; NEG = negação). (b’’) Análise Entoacional – Programa Praat O programa evidencia a marcação de foco no sintagma [Juaun], o elemento com pico entoacional mais alto. (c) *Nau, [F Juaun] konpra um kadern. – “Não, Juaun comprou um caderno”. Os dados em (1a’ e 1b’’) exemplificam o fato de que, em CSN, o sujeito clivado é marcado prosodicamente (em termos entoacionais) de maneira distinta do sujeito neutro, à semelhança do que Fernandes (2007) encontra para as variedades brasileira e europeia do português. Em uma descrição preliminar, tal como demonstrado em (1b), a estrutura clivada se apresenta como a estratégia de marcação de foco por excelência na posição de sujeito em CSN, o que se pode ver pela agramaticalidade 101 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas 70 ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS CRIOULOS E SIMILARES da sentença em (1c). Em trabalhos futuros, pretendemos comparar o comportamento prosódico (em termos entoacionais) do sujeito neutro e clivado do CSN com os resultados obtidos por Fernandes (2007) para o comportamento prosódico dos sujeitos neutro e clivado nas variedades do português brasileiro e europeu, apontando diferenças e/ou semelhanças entre CSN e essas duas variedades. LAURA ÁLVAREZ LÓPEZ (STOCKHOLMS UNIVERSITET) email: [email protected] VIRGINIA BERTOLOTTI (STOCKHOLMS UNIVERSITET) email: [email protected] COMUNIDADES LINGÜÍSTICAS AFROHISPANOAMERICANAS Y LA PERVIVENCIA DEL TRATAMIENTO SU MERCED Este trabajo documenta los usos de su merced y variantes en América en el siglo XIX. Aportamos evidencia empírica a favor de la hipótesis de que la conservación de la forma de tratamiento su merced (y variantes) en América se relaciona con contextos de fuerte presencia de africanos esclavizados. Si bien varios autores han señalado la correlación entre el uso de esta forma y población de origen africano la mayoría lo hace, por no ser el centro de su análisis, sin aportar datos o a partir de documentación episódica sobre la cuestión (Granda 2007; Obediente 2009, 2010; Pérez Guerra 1988, 1989). Reunimos un total de 115 casos de su merced (y variantes) en textos con representaciones del habla de personajes negros y esclavos de 21 autores publicados en Colombia, Cuba, Perú y Puerto Rico. Los ejemplos provienen del apéndice que acompaña el libro The History of Afro-Hispanic language: five centuries, five continents de John Lipski (2005) y del CORDE (www.rae.es). Diatópicamente, cabe señalar que los ejemplos encontrados en el CORDE se limitan a Puerto Rico, Colombia y Cuba y no hay allí ejemplos peruanos. En la literatura, la mayoría de los personajes que pronuncian esta forma son 102 Universidade de São Paulo 130 ENCONTRO DA: ASSOCIAÇÃO DOS CRIOULOS DE BASE LEXICAL PORTUGUESA E ESPANHOLA descritos como africanos o afrodescendientes, que se dirigen a un amo o señor, o a alguien de un nivel social que puede ser interpretado como superior. En todos los casos se dan relaciones de diferencias de poder (Brown y Gilman 1960) y el uso de la forma de tratamiento tiene que ver con la cortesía normativa (Escandell Vidal 1996). Hay además comentarios metalingüísticos que revelan una relación entre estructuras esclavistas de fuerte presencia afro y la forma de tratamiento su merced, como es el caso siguiente ejemplo en el que se hace alusión a la caída en desuso de ‘su mecé’ cuando los afrodescendientes se vuelven ciudadanos: […] Ya no diremo a ninguno ni amo, ni su mecé, ya no somo tata pepe somo Señó don Cosé (citado en Lipski 2005: 127) A diferencia de lo que sucede actualmente en algunas variedades de español, no encontramos evidencia alguna que permita suponer un uso solidario (Brown y Gilman 1960) de la forma en el período estudiado. Si bien este trabajo pone de manifiesto un fenómeno ya profusamente estudiado y documentado, el de las relaciones sociales como explicación del cambio en las formas de tratamiento, conjuga los estudios sobre el contacto de lenguas con los de los estudios sobre la historia de las formas de tratamiento en español, adoptando una renovada perspectiva que nos propone Klaus Zimmermann (2011): pensar la historia de la lengua como la historia de una comunidad comunicativa. Resulta de este estudio un nuevo caso de innovación en el español americano, consecuencia de la aceptación y difusión del nuevo uso de una “vieja” forma lingüística, determinado por una comunidad comunicativa integrada por africanos y sus descendientes nacidos en América. 103 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas 70 ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS CRIOULOS E SIMILARES DANTE LUCCHESI (UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA) email: [email protected] Contato entre línguas e mudança linguística: as relativas e as palavras interrogativas no português afro-brasileiro Uma das questões centrais no desenvolvimento da crioulística diz respeito à própria natureza das línguas pidgins e crioulas. Essas línguas teriam uma configuração estrutural especial ou não? Um dos principais modelos teóricos desenvolvidos no campo, o Bioprograma da Linguagem, de Derek Bickerton (1981 e 1999), assentava essencialmente na idéia de que as línguas crioulas eram um tipo especial de língua que refletia mais diretamente os dispositivos da Faculdade da Linguagem. Esse modelo gozou de muito prestígio no campo na década de 1980, porém, a partir do final da década de 1990, sua influência tem declinado, e explicações baseadas na hipótese da transferência das línguas do substrato ganharam força (Siegel, 2008). Passaram a surgir no campo também posições que preconizam que as línguas crioulas não devem ser vistas como línguas diferenciadas (DeGraff, 2005; Mufwene, 2003). Contudo, recentemente Bakker, Daval-Markussen, Parkvall e Plag (2011) apresentaram evidências empíricas consistentes de que os crioulos “formam um subgrupo estruturalmente diferenciado no conjunto das línguas do mundo”, em um amplo estudo que emprega modelos estatísticos recentemente desenvolvidos no âmbito da tipologia quantitativa. Temos defendido a posição de que as características estruturais que aproximam as línguas crioulas de diferentes regiões do planeta, independentemente das línguas do substrato que concorreram para sua formação, refletem as situações históricas especiais em que essas línguas se formaram. Assim, as línguas crioulas constituíram um profícuo terreno para desenvolvimento de teorizações sobre a relação entre a mudança linguística e as situações de contato entre línguas. Dentro dessa perspectiva, a pesquisa pode ampliar o seu escopo, observando não apenas as línguas crioulas, mas variedades linguísticas que se formaram em situações de contato massivo, sem se terem crioulizado. Pode-se pensar, assim, em um nível de generalização mais elevado, em uma teoria geral dos efeitos do contato linguístico na estrutura da gramática. 104 Universidade de São Paulo 130 ENCONTRO DA: ASSOCIAÇÃO DOS CRIOULOS DE BASE LEXICAL PORTUGUESA E ESPANHOLA Temos desenvolvido uma ampla pesquisa empírica sobre variedades do português popular do Brasil que se formaram em uma situação de contato do português com línguas africanas que investe nessa perspectiva teórica. Nesta comunicação apresentaremos os resultados de análises variacionistas da fala de comunidades rurais afro-brasileiras isoladas do interior do Brasil que fornecem uma base empírica consistente para uma teorização de como o contato entre línguas afeta dois aspectos da gramática que já constavam do modelo de Bickerton (1981): as orações relativas e as palavras interrogativas. 105 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas 70 ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS CRIOULOS E SIMILARES M MARIA APARECIDA CURUPANÁ DA ROCHA DE MELLO (BIRKBECK UNIVERSITY OF LONDON) email: [email protected] Reduplicações no guineense e no caboverdeano: composição ou derivação? No estruturalismo, quando o morfema era considerado como elemento mínimo de som e significado, composição e derivação se distinguiam, principalmente, na estrutura interna da palavra. A composição se estrutura na base de duas palavras da língua que, juntas, formam uma terceira palavra, com um significado final diferente de suas bases. Essa caraterística difere a composição da derivação, que usa, no acionamento da regra, uma forma livre, supostamente uma palavra da língua, e uma forma presa, ou seja, uma base lexical e um afixo gramatical. Contudo, nem sempre a distinção entre derivação e composição é clara, tampouco a separação entre afixo e radical é resolvida no âmbito das formas presas e livres, proposta por Bloomfield (1933) . O exemplo clássico para a discussão é conhecido na literatura como cran morphemes. Por sua vez, a reduplicação consiste na cópia do material fonético da base de uma palavra e a adjunção dessa forma copiada junto à base lexical. Esse processo é acionado para fins gramaticais e tem a tendência de copiar constituintes da base, porém, o material reduplicado pode ser uma palavra inteira, um morfema inteiro, uma sílaba ou uma sequência de sílabas (Spencer, 1995). O estatuto gramatical da reduplicação não é consensual entre os linguistas. Há aqueles que a consideram processo de afixação, outros como composição ou mesmo como um processo de formação, juntamente com a afixação, e a composição, que é o caso de Sapir (1971). Para aqueles que consideram a reduplicação no âmbito da composição, a base argumentativa está na gênese dos processos morfológicos e das línguas, de forma mais generalizada. Já aqueles que consideram a reduplicação como processo de afixação, tem uma olhar voltado para as questões gramaticais nos moldes sincrônicos, sem considerar o processo de gramaticalização, bastante relevante para os estudos de morfologia das línguas crioulas. Enfim, trata-se da antiga discus- 106 Universidade de São Paulo 130 ENCONTRO DA: ASSOCIAÇÃO DOS CRIOULOS DE BASE LEXICAL PORTUGUESA E ESPANHOLA são entre os pontos de vista sincrônico e diacrônico. Nos estudos crioulos, a diacronia é bastante reveladora das articulações cognitivas de uma língua crioula, uma vez que os fatores históricos e sociolinguísticos do crioulo refletem na construção de sua gramática e, consequentemente, nos processos recursivos que se apresentam no plano sincrônico. Este trabalho discute o estatuto morfológico das reduplicações no guineense e no caboverdeano: composição ou derivação. Adotando-se como modelo teórico Aronoff (1976) e Kiparsky (1982), discutem-se aspetos relacionados à produtividade, à gramaticalização, a morfofonologia e as implicações destes nos planos sincrônicos e diacrônicos desses crioulos. WÂNIA MIRANDA (UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO) emails: [email protected] / [email protected] A semântica dos determinantes es e uma em caboverdiano Consoante aos pressupostos da semântica formal, faremos uma abordagem preliminar sobre a função de alguns determinantes em caboverdiano (CCV) – variedade de Sotavento –, a saber, es e uma, que, embora possuam pouca ocorrência em CCV, têm função semântica específica e integram o sistema de determinantes da língua. No tocante ao determinante es, Quint (2000:184) aponta que é menos empregado que kel – partícula muito estudada em CCV e que causa controvérsia entre os estudiosos quanto à previsibilidade de seus contextos de ocorrência. Esta discussão não será detalhada no presente trabalho, mas virá à baila quando pertinente à exposição dos dados, pois também é foco de nosso estudo –, e essencialmente em contraste a ele, pois assinala a proximidade ou a “imediatidade” do objeto designado. Es parece ser neutro quanto ao referente ser novo no discurso, ou exige qualquer grau de familiaridade, podendo fazer referência inclusive à eventos futuros, enquanto kel exige um alto grau de familiaridade por parte do falante. No que diz respeito ao determinante uma, Baptista (2002) assevera que a ocorrência desta partícula é acidental e não sistemática. As análises que realizamos 107 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas 70 ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS CRIOULOS E SIMILARES em trabalho anterior, contudo, indicam que esta partícula não é a contraparte feminina de un e sim um intensificador que aponta para o maior grau, tanto de quantidade quanto de qualidade (Miranda, Quadros Gomes e Oliveira: 2010). Observemos os dados abaixo: 1) N 1SG sta estar kaloka un colocar ramedi na DET remédio bo firida PREP 2SG.POSS ferida “Vou passar um remédio na sua ferida” 2) N sta 1SG estar kaloka colocar UMA IntP ramedi remédio na PREP bo 2SG.POSS firida ferida “Vou passar UMA remédio na sua ferida” 3) N sta 1SG estar kaloka colocar UMA IntP baita baita ramedi na remédio PREP bo 2SG.POSS firida ferida “Vou passar UMA baita remédio na sua ferida” Glosas: 1SG – primeira pessoa do singular; 2SG - segunda pessoa do singular; DET – determinante; IntP – sintagma intensificador; POSS – possessivo; PREP – preposição. As sentenças acima estão ordenadas em escala de intensidade: a palavra ramedi comporta-se como um kind, ou seja, faz referência a uma (sub)espécie e não a um indivíduo particular. Na sentença (1), a interpretação é que uma espécie de medicamento vai ser aplicada ao ferimento. Não há requerimento de que a quantidade de remédio seja grande, nem o comprometimento com a qualidade do remédio, já em (2), uma intensifica a palavra ramedi e a sentença pode ser interpretada tanto como um remédio muito eficaz, quanto como uma quantidade demasiada de remédio. O adjetivo baita em (3) enfatiza ainda mais a intensificação de uma. Vale salientar que a própria entonação de uma na sentença é diferente. 108 Universidade de São Paulo 130 ENCONTRO DA: ASSOCIAÇÃO DOS CRIOULOS DE BASE LEXICAL PORTUGUESA E ESPANHOLA No presente trabalho apresentaremos, de modo preliminar, as funções semânticas dos determinantes supracitados, delimitando os contextos que propiciam ou não a utilização de cada determinante, posto que, não obstante à sua baixa ocorrência, possuem funções semânticas específicas na língua e são pertinentes ao entendimento do sintagma nominal do CCV como um todo. ISABELLA MOZZILLO (UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS) email: [email protected] Um olhar sobre o portunhol da fronteira Brasil-Uruguai Na região da fronteira brasileiro-uruguaia coexistem, ao lado do espanhol e do português em suas variantes culta e popular, diversas variedades de contato, dentre as quais o chamado portunhol ou fronteiriço. Estudados há muito por linguistas como Rona (1959), Elizaicín, Behares e Barrios (1987), os também chamados Dialetos Portugueses do Uruguai (DPU) raramente contam com uma situação de prestígio entre os próprios falantes nativos, o que poderia configurar uma situação de bilinguismo com diglossia. Trata-se de práticas essencialmente orais, o que implica que tais variedades híbridas raramente apareçam impressas, já que tanto o Uruguai como o Brasil caracterizam-se por uma política linguística historicamente direcionada ao monolinguismo nos respectivos idiomas nacionais ou oficiais. Pretendo neste trabalho analisar alguns elementos linguísticos oriundos dessas variedades em contato no sentido de verificar se são produtos de code-mixing também denominado language mixing, momento intermediário dentro do continuum de alternância de códigos que parte do code-switching e se dirige à criação de um terceiro código, a uma fusão de letos, variedade mesclada estabilizada com uma gramática mista ou fused lects. (AUER, 1999). O que define o grau da mistura não são só as evidencias gramaticais, mas as funções comunicativas e a história sociolinguística dos falantes. Depende da histó- 109 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas 70 ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS CRIOULOS E SIMILARES ria particular da aquisição de línguas de cada falante, das pressões sociolinguísticas que influenciam suas vidas e falares, os vários contextos e funções da situação de contato que levam aos sistemas mistos. Matras (2000) considera que a diferença do code-switching para o code-mixing é que este é já um sistema convencional, onde a alternância não mais ocorre como uma opção sincrônica, mas ele apenas reflete a etimologia dos componentes. As condições de emergência do code-mixing dependem da habilidade de os falantes mexerem com diversas línguas num estágio inicial. As orações mistas não são como as do code-switching, em que se ativam elementos de cada língua, mas sim ativações de elementos de origem da outra língua que já passaram por processos de mistura e estão convencionalizados. A partir de tais considerações, acredito que o portunhol possa ser no momento um produto de code-mixing no qual a língua de base parece ser o português. Para ilustrar minha análise, lanço mão do corpus compilado por Behares e Díaz (1998) o qual é composto de poesia e prosa tanto já impressa como ainda inédita produzida na variedade de contato. 110 Universidade de São Paulo 130 ENCONTRO DA: ASSOCIAÇÃO DOS CRIOULOS DE BASE LEXICAL PORTUGUESA E ESPANHOLA N ANTÔNIO FÉLIX DE SOUZA NETO (UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO) email: [email protected] Implicações do contato linguístico no sistema vocálico do papiamentu de Curaçao Embora contrariando alguns estudos prévios (cf. HARRIS, 1951; KOUWEMBERG & MURRAY, 1994 e MARTINUS, 2004), o estagio da pesquisa que estamos desenvolvendo em torno do sistema fonológico do papiamentu de Curaçao permite-nos concluir que o sistema vocálico dessa língua é constituído das sete vogais (/i/, /e/, /D/, /a/, //, /o/, /u/) comuns aos crioulos de base portuguesa da África Ocidental (cf. FERRAZ, 1979; MAURER, 1995/2009; BARRENA, 1957; SEGORBE, 2007; CARDOSO, 1981), mais quatro segmentos (éticos) vocálicos ([y], [ø], [«] e [®]), que demonstram pouca ou nenhuma produtividade contrastiva. Além de sua pouca ou nenhuma produtividade contrastiva, ([y], [ø], [«] e [®]) estão restritos ao léxico originário do holandês (tal como em [úyr] ‘alugar, aluguel’, [brøx] ‘ponte’, [Èsta.t«n] ‘Estado’, [Èejx.lök] ‘na realidade, de fato’) e do inglês (tal como em /døs/ ‘assim’, [pl«s] ‘mais’, [swötS] ‘mudar, mudança, troca’). Por serem pouco produtivos e estarem restritos ao léxico de origem, esses segmentos podem até mesmo ser interpretados como fones. Donald Winford (2003), afirma que os resultados de contatos de línguas podem variar desde o simples empréstimo de vocabulário até a criação de novas línguas. De acordo com Mufwene (2007), as línguas crioulas – bem como na diversificação das línguas do mundo – são produtos de contatos linguísticos: competição, seleção e especiação ecológica das línguas, devido a contatos linguísticos promovidos por movimentos populacionais. Thomason e Kaufman (1988) defendem a tese de acordo com a qual, fatores como grau e duração do contato, assim como a relação estabelecida entre as línguas contactantes são decisivos – pressão cultural forte e duradoura da língua emprestadora, bem como bilinguismo da parte dos falantes da língua receptora geralmente resultam em empréstimo de elementos de vários níveis linguísticos. De acordo com Silva-Corvalán 111 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas 70 ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS CRIOULOS E SIMILARES (2008), o fenômeno da convergência é típico de situação de bilinguismo/ multlilinguismo. Ele consiste da ativação de potencialidades de línguas, promovido por uma situação de contato, que convergem/acomodam os traços potencias comuns às línguas contactantes ou os convertem para algum traço específico de cada uma dessas línguas. De acordo com Myers Scotton (2002), as estruturas abstratas resultantes de contato são as janelas empíricas das estruturas das línguas, sua manifestação, sua matéria empírica. Com base nas propostas teóricas básicas da Linguística de Contato – tal como proposto por Thomason e Kaufman (1988), Myers-Scotton (2002), Winford (2003), Mufwene (2007) e Silva-Corvalán (2008) –, apresentaremos evidências de que as ocorrências de [y], [ø], [«] e [®] no papiamentu de Curaçao são o reflexo de empréstimos, interferências e convergência linguísticos devidos a contatos com o holandês, o espanhol, e o inglês. 112 Universidade de São Paulo 130 ENCONTRO DA: ASSOCIAÇÃO DOS CRIOULOS DE BASE LEXICAL PORTUGUESA E ESPANHOLA Q NICOLAS QUINT (LLACAN-CNRS/INALCO) email: [email protected] NOËL BERNARD BIAGUI (LLACAN-INALCO/UNIVERSITÉ DE DAKAR) email: [email protected] Un aperçu de la catégorie «Adjectif» en Créole Casamaçais Le créole afro-portugais de Casamance (ou créole casamançais) est la langue maternelle d’environ 10.000 personnes vivant dans la ville de Ziguinchor (Sénégal) et dans un certain nombre de villages environnants (Nyaguis, Sindone, Adéane…); il est également pratiqué en tant que langue seconde par plusieurs milliers de personnes demeurant dans la même région. Dans cette langue créole, encore très peu décrite de nos jours, il existe des éléments à valeur qualifiante, que nous avons choisi de nommer « adjectifs » et dont le comportement syntaxique et morphologique présente des caractéristiques à la fois verbales et nominales et variables selon les unités considérées. Ainsi, si nous considérons l’adjectif dudu, fou, cet élément peut d’une part et à l’instar d’un nom: - (1) être fléchi (en tant qu’épithète) en fonction du genre du référent qu’il qualifie: womi dudu, un homme fou vs. miñjer duda, une femme folle (cf. opposition primu, cousin vs. prima, cousine). - (2) occuper le centre d’un syntagme et être pluralisé: kel dudu-s DEM fou-PL Ces fous. Si nous prenons maintenant l’adjectif burmeju, rouge, cet élément peut être 113 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas 70 ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS CRIOULOS E SIMILARES nominalisé (cf. (2)) mais pas être fléchi en genre (cf. (1)). Il peut en revanche, à l’instar d’un verbe: - (3) se combiner avec des marques d’aspect (ici la particule aspectuelle d’inaccompli na): e maKgu na burmeju DEM mangue INACC rouge Cette mangue va mûrir, litt. “rouge-ra”. - (4) être suivi d’un pronom objet: i ø burmeju-mi 3SG ACC rouge-O1SG Ça va mal pour moi, litt. “ça me rouge”. Les deux adjectifs présentés ci-dessus suffisent à montrer que la caractérisation des unités adjectivales est loin d’être une tâche aisée dans une langue telle que le créole casamançais. Dans cette présentation, nous nous attacherons à montrer que la catégorie « adjectif » est bien une réalité en créole casamançais. Pour ce faire, nous étudierons d’abord successivement les principales caractéristiques nominales puis verbales des adjectifs casamançais (en nous fondant sur un corpus d’environ 160 adjectifs casamançais collectés auprès de locuteurs natifs), avant de faire le point sur l’ensemble des propriétés qui permettent de définir la catégorie « adjectif » dans cette langue. Puis nous donnerons une perspective comparative à notre présentation en comparant le système adjectival du casamançais avec ceux –mieux décrits – du créole de Guinée-Bissao et du capverdien (langue dans laquelle l’item dodu, fou, peut se combiner avec une marque aspectuelle (cf. (3)) ce qui n’est pas possible en casamançais). Enfin, nous élargirons davantage encore la perspective de notre présentation en montrant que la question de la délimitation de la catégorie « adjectif » est un 114 Universidade de São Paulo 130 ENCONTRO DA: ASSOCIAÇÃO DOS CRIOULOS DE BASE LEXICAL PORTUGUESA E ESPANHOLA problème récurrent dans nombre de langues du monde (Dixon 2011 : 62-114 ; 2010 : 112-114) et en mettant en relation ces données typologiques avec le cas particulier du casamançais. 115 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas 70 ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS CRIOULOS E SIMILARES R MICHELA ARAÚJO RIBEIRO (FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA) email: [email protected] JACKY MANIACKY (MUSÉE ROYAL DE L’AFRIQUE CENTRALE – TERVUREN, BELGIQUE) email: [email protected] Anatomia e fisiologia humana nas línguas bantu Apresentamos os resultados iniciais de um estudo lexical histórico-comparativo da anatomia e fisiologia humana nas línguas bantu, que cobre um vasto território da África que é o berço de uma parte importante da realidade linguística e cultural do Brasil (Lopes, 1999; Angenot e de Lima Angenot 2009). Apesar das línguas bantu estarem sendo amplamente documentadas desde meados do século XIX, as informações referentes à anatomia e fisiologia humana são escassas (Homburger, 1929). Os resultados hora apresentados, visam, através da análise e reflexão do grau de semelhança entre as línguas bantu, evidenciar assim, por meio dos cognatos existentes entre palavras que expressam a anatomia do corpo humano nessas línguas: 1) como uma mesma palavra pode, com o tempo e/ou por meio do contato entre as diversas línguas, mantendo sua forma ou não e variar de sentido de uma língua para a outra; mbombo mbombo kikongo mboombo ‘testa’ em duala (Camarões) ‘testa’, ‘nariz’ em kikongo (Congo, Angola), depende da variedade ‘nariz’ em kibeembe (Congo) 2) palavras que integram o vocabulário anatômico e fisiológico bantu que estão presentes no léxico do Português brasileiro; mutuê, camutuê bunda ‘cabeça’, ‘testa’ ‘nádegas’ (só ‘cabeça’ nas línguas bantu) (não sempre ‘nádegas’ nas línguas bantu) 116 Universidade de São Paulo 130 ENCONTRO DA: ASSOCIAÇÃO DOS CRIOULOS DE BASE LEXICAL PORTUGUESA E ESPANHOLA 3) o dinamismo e a riqueza cultural das línguas expressos no processo de formação, por justaposição, de palavras em bantu que designam as partes do corpo humano. omol’iso ‘pupila’ em umbundu (literalmente ‘menina do olho’) Assim, a referida pesquisa, com uma, abordagem histórico-comparativa (cf. Campbell, 2004), pretende, além, de contribuir à reconstrução do acervo lexical do proto-bantu (cf. Gutherie, 1967-1971; Meeussen, 1980; Bastin et alii, 2002), busca destacar alguns dos reflexos deste léxico presentes no Português do Brasil. ROSA MARIA DE LIMA RIBEIRO (FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA) email: [email protected] JACKY MANIACKY (MUSÉE ROYAL DE L’AFRIQUE CENTRALE – TERVUREN, BELGIQUE) email: [email protected] Crenças e línguas em contacto: empréstimos da religião cristã nas línguas bantu Os contatos ocorridos entre europeus e africanos nos séculos passados e até hoje afetaram de modo importante as concepções religiosas africanas. O processo da escravidão dos povos africanos levados para a América também foi a fonte de um amálgama de doutrinas ou concepções heterogêneas. A língua é uma parte da cultura, é o veículo dela. A partir da linguística podemos ver a evolução destes contatos através das integrações lexicais, das adaptações morfológicas e das mudanças semânticas. Podemos perceber com isso o problema da exportação de um sistema de crença diferente e as questões da tradução (Comby, 2005). Isso já foi bem verificado na coleta de dados preliminar de uma pesquisa doutoral (Ribeiro, em fase de elaboração) em linguística bantu (Nurse & Philippson, 2003), no domínio da religião, no sentido largo do termo, incluindo todas as práticas da medicina tradicional e o que está qualificado de feiticismo, paganismo... 117 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas 70 ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS CRIOULOS E SIMILARES Exemplos em kikongo: nzambi ‘o ser supremo’ nkuya ‘espírito de antepassado’ > > ‘Deus’ (do cristianismo) ‘demônio’ Existem estudos dedicados a uma região só ou uma língua (Labrecque, sd; Burton, 1961; Dos Santos, 1969; Maniacky, 2007). Mas a abordagem histórico-comparativa (Campbell, 2004) permite ver evoluções das palavras e dos sentidos delas. É bem verdade que as ingerências religiosas na África não dizem respeito somente ao cristianismo, haja vista a difusão do Islã principalmente no lado leste do continente, porém, para este trabalho, foi necessário fazer esta delimitação, enfocando amostras significativas de todas as zonas linguísticas bantu. Muitas palavras são encontradas como tradução de termos cristãos e outras simplesmente incorporadas ao universo bantu, como inovação na religião, com adaptações fonológicas, morfológicas e semânticas. Quando empréstimos, estas palavras são de origem portuguesa, inglesa, francesa... Exemplos: jianju em kimbundu, ombatisimu em umbundu, ndáko (ya) nzambé em lingala, do português ‘anjo’ do português ‘batismo’ literalmente ‘casa de Deus’ Uma parte do vocabulário religioso bantu encontra-se hoje no português do Brasil, também com mudanças fonológicas, morfológicas e semânticas (ANGENOT & ANGENOT, 2009). Exemplos: calundo, calundu kalundu kilundu okalundu ‘espírito, alma, lugar dos mortos, denominação dos antigos cultos afro-baianos’ ‘cemitério, divindade’ em kimbundu ‘espírito’ em kimbundu ‘cemitério’ em umbundu 118 Universidade de São Paulo 130 ENCONTRO DA: ASSOCIAÇÃO DOS CRIOULOS DE BASE LEXICAL PORTUGUESA E ESPANHOLA S EDUARDO FERREIRA DOS SANTOS (UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO/CNPQ) email: [email protected] Estrutura de foco no português de Angola: cotejo com línguas do oeste da África e com o português brasileiro Neste trabalho enfoca-se as construções de ‘perguntas QU fronteadas seguidas de ‘que’ sem cópula’ no português de Angola (PA) e sua aproximação com o português brasileiro ‘norma padrão’ (PB), o português vernacular brasileiro ‘norma não padrão’ (PVB) e algumas línguas do oeste africano (LA). Comumente classificadas como ‘interrogativas clivadas sem cópula’, essas construções serão consideradas sentenças do tipo monoclausais, em que o elemento fronteado, que recebe a leitura de foco, é seguido de uma partícula focalizadora, resultando em um tipo de foco controlado gramaticalmente e, portanto, fora do âmbito das clivadas – ver Oliveira (2011); Santos & Oliveira (a sair) – como vemos em uma sentença do português angolano em (01): (01) Onde que vai seguir a faculdade? O exemplo em (01) é uma estrutura que também ocorre no PB e no PVB e em algumas LAs, mas que se faz ausente no português europeu (PE) – ver Oliveira & Holm (2011): (02) PB/PVB/*PE O que que você fez? Segundo Oliveira (2011), a presença de uma construção como (01) nessas duas variedades do português brasileiro está diretamente relacionada ao contato linguístico com as línguas do oeste africano que exibem o fenômeno do foco de controle gramatical, como exemplifica Green (2007) para o foco em hausa. Ainda segundo Oliveira (2011:75), esse tipo de foco difere do foco ‘convencional’ por (i) 119 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas 70 ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS CRIOULOS E SIMILARES não apresentar um padrão entoacional; (ii) não apresentar tipologia; e (iii) não ser controlado pela intenção do falante. A presença da língua portuguesa em território africano resultou em variedades com diferentes substratos e que também estão relacionadas ao contato linguístico do português com as respectivas línguas africanas presentes em cada país – no caso específico de Angola, temos um caso de diglossia com falantes de língua portuguesa e línguas banto, conforme aponta Figueiredo (2010:38). Ao considerarmos, portanto, que tanto o PA como as variedades brasileiras do português atestam uma situação de contato e que sentenças como (01) são manifestações específicas de uma marcação de foco presente em certas LAs que participaram desse contato linguístico, ratificamos as posições de Figueiredo (2010) e Oliveira (2011) de considerarem, respectivamente, o PA e o PB/PVB, como ‘línguas reestruturadas’ nos termos de Holm (2004). ALFREDO CHRISTOFOLETTI SILVEIRA (UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO/FAPESP) email: [email protected] A realização do ditongo /ej/ no português vernacular são-tomense O objeto de estudo deste trabalho é o português vernacular são-tomense (PVS), uma variante transplantada do português europeu (PE) em contato com línguas crioulas faladas nas ilhas de São Tomé e Príncipe (STP), como o santomé, o principense, o angolar e o kabuverdianu (Hagemeijer, 2009, 2012 (submetido); Gonçalves, 2009, 2010; Figueiredo, 2010). Estudos recentes de Gonçalves (2010), Silveira (2011), Santos & Silveira (2011) indicam que o PVS difere estruturalmente do sistema linguístico europeu tanto na fonética e fonologia, na prosódia, e na sintaxe. O presente trabalho traz os primeiros resultados de um amplo estudo sobre as realizações dos ditongos no PVS. A metodologia aplicada para a constituição e análise do corpus foi baseada na sociolinguística variacionista (Labov, 1972). O corpus é constituído por gravações individuais de fala espontânea com 18 informantes distintos, coletadas in loco. Para a 120 Universidade de São Paulo 130 ENCONTRO DA: ASSOCIAÇÃO DOS CRIOULOS DE BASE LEXICAL PORTUGUESA E ESPANHOLA análise, consideraram-se variáveis linguísticas que poderiam influenciar na realização dos ditongos, como: tonicidade; posição do ditongo na estrutura; contexto seguinte; entre outras. Quanto às variáveis sociais, foram escolhidas idade, escolarização e sexo. Nos dados parciais obtidos desse estudo, voltado para o ditongo /ej/, é possível verificar a singularidade do sistema fonético-fonológico dessa variedade africana de português. Diferente da norma europeia (Mateus & D’Andrade, 2000; Mateus, 2002), considerada de prestígio no país, o PVS realiza a monotongação dos ditongos /ej/, como em “dinheiro” [di”JeRu] (a transcrição fonética segue o padrão SAMPA extendido), “primeiro” [pri”meRu], “feijoada” [feZu”adQ] e “beijo” [“beZu], sugerindo uma aproximação ao comportamento do português brasileiro (PB) (cf. Bisol 1991, 1994; Araújo, 1999; Lopes, 2002 e outros), todavia, a monotongação ocorre ainda em contextos nos quais na variantes citadas do PB, bem como nas variantes citadas do PE, ela é bloqueada, como quando ocorre no contexto seguinte ao ditongo uma consoante alveolar plosiva [t], como em “feitiço” [fe”tisu], “leitão” [le”ta~w~], “direito” [di”Retu] e “azeite” [a”zet•]. Verificou-se, em relação às variáveis sociais, uma relação da aplicação do processo de monotongação com a quantidade de anos de escolarização, sendo que as pessoas mais escolarizadas tendem evitar mais a monotongação do que as pessoas menos escolarizadas. A influência do contato com as línguas crioulas faladas no país, como o santomé (Ferraz, 1979), o principense (Maurer, 2009), o angolar (Maurer, 1995) e o kabuverdianu, assim como o aprendizado do português como L2 (por gerações passadas recentes) (Hagemeijer, 2009; Gonçalves, 2010) são as hipóteses para o comportamento do sistema fonético-fonológico do PVS, visto que as comunidades são bilíngues ou convivem em espaços multilíngues. O contato também justificaria esse comportamento na realização do ditongo /ej/ e de outros ditongos do PVS, pois no santomé, principal contato com o PVS, esse ditongo não aparece (Braga, inédito). A justificativa para o estudo das realizações dos ditongos, constatada a singularidade de suas realizações, é observar o comportamento de uma variante de português em um ambiente multilíngue; aumentar o nosso conhecimento sobre essa variante; confrontar um sistema em diglossia; possibilitar outros estudos sobre o PVS e comparações com outras variantes de português nos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa. 121 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas 70 ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS CRIOULOS E SIMILARES EEVA SIPPOLA (UNIVERSITY OF HELSINKI) email: [email protected] Chabacano escrito: variación e ideologías La presente investigación abordará la forma escrita de las variedades chabacanas de Filipinas que carecen de ortografía estandardizada. Las variedades chabacanas son, sobre todo, lenguas habladas, y el uso de la lengua escrita varía entre hablantes y de comunidad en comunidad. En estudios anteriores (por ejemplo, Forman 2001, Sippola 2010) se han señalado varias formas divergentes en el uso escrito de estas variedades de contacto hispano-filipinas, pero hasta hoy no se ha ofrecido un análisis sistemático de muestras de diferentes dominios de uso, ni una interpretación discursiva de las prácticas literales. Esta investigación presenta un análisis comparativo de las prácticas actuales en y entre las comunidades de Cavite, Ternate y Zamboanga, así como una interpretación de los resultados desde el punto de vista de actitudes lingüísticas y culturales. El material analizado consta de diversas muestras de lengua escrita, recolectadas de los hablantes, así como de publicaciones impresas y digitales. Incluye material de enseñanza del chabacano, diccionarios, ejercicios de redacción, poemas, canciones, textos de foros de internet y mensajes de texto. Las muestras se clasifican según las soluciones ortográficas empleadas en ellas, el dominio en escala de formalidad, y los datos de fondo del autor, cuando son aplicables. El estudio revela que los hablantes del chabacano de Zamboanga y Cavite son los que más usan su lengua en forma escrita. Los resultados apuntan a un uso mayor de una ortografía etimológicamente motivada en contextos formales, en que las entidades léxicas que se interpretan como palabras de origen español, se escriben generalmente según la ortografía española, mientras las interpretadas como elementos de lenguas filipinas, siguen la ortografía de las lenguas filipinas, con una mayor correspondencia fonema-grafema. En dominios informales, como foros de internet y mensajes de texto, la edad del hablante es significativa. La ortografía es generalmente vista como un símbolo de normalización y representación de las normas lingüísticas estrechamente relacionada con políticas 122 Universidade de São Paulo 130 ENCONTRO DA: ASSOCIAÇÃO DOS CRIOULOS DE BASE LEXICAL PORTUGUESA E ESPANHOLA lingüísticas e ideologías políticas (Sebba 1996). Por ello, este estudio abordará una discusión de las motivaciones para la variación encontrada, así como sus implicaciones para los procesos de normativización y la producción de materiales de enseñanza. Los resultados del análisis y la discusión contribuyen a la investigación de la situación sociolingüística de las lenguas criollas iberorrománicas como lenguas minoritarias en la región de Asia-Pacífico y en particular de las comunidades chabacanas. Asimismo, aportan información para actores involucrados en políticas lingüísticas locales y la promoción de las variedades chabacanas. JURGEN ALVES DE SOUZA (UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA) email: [email protected] A contribuição do contato entre línguas para o apagamento do clítico reflexivo no português afro-brasileiro Muitos dos estudos que já foram realizados a respeito do processo de reflexivização no português popular brasileiro apontaram o apagamento do clítico reflexivo como traço típico do nosso português, mas a maioria deles não considerou o contato entre línguas ocorrido no período colonial como uma explicação provável para o surgimento dessa estratégia de reflexivização. Diferentemente desses estudos, a pesquisa que aqui se apresenta procurou investigar, tomando por base o conceito de transmissão linguística irregular, a contribuição do contato entre línguas para o apagamento do clítico reflexivo no chamado português afro-brasileiro, variedade do português popular brasileiro que teria sido mais afetada pelas situações de contato linguístico ocorridas em nosso território. Amparando-se nos fundamentos teóricos e metodológicos da Sociolinguística Variacionista, analisou-se a variação nas estratégias de reflexivização presentes na fala vernácula de quatro comunidades rurais afro-brasileiras isoladas do interior do Estado da Bahia e constatou-se que o apagamento dos clíticos reflexivos seria a estratégia mais utilizada pelos falantes locais, principalmente os mais idosos, do sexo feminino, que não se ausenta- 123 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas 70 ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS CRIOULOS E SIMILARES ram da comunidade e que tiveram menos acesso aos padrões culturais externos, apontando, assim, para a possibilidade de ter havido influência do contato entre línguas para o surgimento dessa estratégia de reflexivização no português afro-brasileiro. No que tange aos aspectos linguísticos, é importante lembrar que, apesar de a situação de contato linguístico ocorrida no Brasil não ter sido das mais radicais, ocasionando a gramaticalização de itens originais para desempenhar as funções dos elementos que se perderam durante o contato – como acontece nas línguas crioulas, as quais usam a palavra “corpo” ou “cabeça” para desempenhar a função de partícula reflexivizadora –, esta pesquisa constatou que o processo de reflexivização no português afro-brasileiro foi marcado pelo apagamento dos clíticos reflexivos que possuem menos valor informacional. Essas constatações, para além de traçar um perfil das estruturas reflexivas presentes no português afro-brasileiro, contribuem para uma melhor compreensão do relevante papel do contato entre línguas para forjar os traços peculiares do português popular brasileiro, lançando luz sobre as ainda obscuras origens do nosso português. 124 Universidade de São Paulo 130 ENCONTRO DA: ASSOCIAÇÃO DOS CRIOULOS DE BASE LEXICAL PORTUGUESA E ESPANHOLA T ELIANA PITOMBO TEIXEIRA (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA) email: [email protected] Sintaxe dos clíticos no português popular angolano Pagotto (1993, p. 202) entende que “lidar com mudança na posição dos clíticos é lidar com profundas alterações na gramática de uma língua como um todo.” Galves (1993) observa que a raiz da mudança gramatical é atestada já no século XVIII nos dados de Pagotto (1992) onde aparece a próclise ao verbo principal na presença da negação ou do complementizador. Ora, se levarmos em conta que tal estudo foi realizado a partir de dados de língua escrita, pode-se inferir que tais inovações já andavam na boca do povo bem antes de serem documentadas nos setecentos. Resultados de estudos em aquisição do português como L1 corroboram essa hipótese, mostrando que a ênclise é adquirida via educação formal, portanto, usado por pessoas letradas. Estudos sobre o português vernacular de Angola (PVA), têm demonstrado haver semelhanças morfossintáticas ao português do Brasil, nas suas variedades popular e coloquial (cf. Teixeira, 2008; Teixeira & Almeida, 2011; Petter, 2009; Holm, 2009; Inverno, 2004). Assim, nos propomos a descrever a sintaxe dos clíticos no português popular falado em Angola, com base em uma amostra constituída de dez informantes de ambos os sexos, pertencentes a duas faixas etárias distintas, falantes nativos e não nativos do português. Todos eles são analfabetos ou têm até cinco anos de escolarização e pertencem à classe baixa. Com base Sociolinguística Quantitativa (Labov, 1972), estabelecemos como possíveis fatores condicionadores a estrutura do sintagma verbal, o tipo semântico de verbo, gênero/sexo, faixa etária e língua nativa. Os resultados mostram que, nessa variedade linguística, há uma nítida preferência pela próclise, independentemente de idade, e sexo do informante, como o comprovam os dados a seguir: (1) Nós tivemos lá, fizeram lá o primeiro curativo, nos deram receita (homem, analfabeto, faixa 1, falante nativo do kimbundu). 125 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas 70 ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS CRIOULOS E SIMILARES (2) Mas eu sempre faço mesmo coragem, lhe deixo em casa e venho pra escola (mulher, analfabeta, faixa 2, falante nativa do kimbundu). (3)... eu me deparei com uma ponte, uma ponte já partida (homem, faixa 1, analfabeto, falante nativo do português). (4) Eu disse não, no posso te mostrar porque a tia é muito má, mas vamos combinar o seguinte (mulher, analfabeta, faixa 1, falante nativa do português). Tais resultados constituem evidências de que as variedades populares/coloquiais angolana e brasileira do português – formadas a partir do contato com outras línguas, entre elas as línguas africanas do grupo bantu – são o resultado da transmissão linguística irregular (Lucchesi & Baxter, 2009) ou aquisição imperfeita (Kroch, 1994) o que pressupõe transferência de traços gramaticais das línguas do substrato. 126 Universidade de São Paulo 130 ENCONTRO DA: ASSOCIAÇÃO DOS CRIOULOS DE BASE LEXICAL PORTUGUESA E ESPANHOLA V SILVIA RODRIGUES VIEIRA (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO) email: [email protected] KAREN CRISTINA DA SILVA (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO) email: [email protected] Estudo sociolinguístico da concordância verbal na fala de indivíduos de São Tomé e Príncipe Constitui tema do presente trabalho a concordância verbal de terceira pessoa do plural no português falado em São Tomé e Príncipe, África. A pesquisa tem por intuito proceder ao exame dos condicionamentos lingüísticos e extralinguísticos que (des-)favorecem a variação no corpus em estudo, com base fundamentalmente na Teoria da Variação e Mudança (Labov & Herzog, 1968; Labov, 2003), como suporte teórico-metodológico. Vinculado ao projeto internacional “Estudo comparado dos padrões de concordância em variedades africanas, brasileiras e européias do Português”, este trabalho realiza a análise dos dados da variedade africana, partindo do corpus organizado pelo Professor Tjerk Hagemeijer, cedido ao projeto. Consideram-se gravações da fala dos são-tomenses, que são analisadas de acordo com as seguintes variáveis independentes: (i) de natureza extralinguística: escolaridade, sexo, faixa etária e língua de intercomunicação do informante; (ii) de natureza linguística: posição do sujeito em relação ao verbo, configuração morfossintática do sujeito, animacidade do sujeito, paralelismo, saliência fônica, tempo/modo verbal. A metodologia consiste na coleta e na codificação dos dados, seguida do tratamento computacional das ocorrências através do pacote de programas GOLDVARB X, sistematização e interpretação dos resultados de acordo com as variáveis lingüísticas e extralingüísticas. Observando os resultados preliminares, propõe-se que os grupos de fatores relacionados à escolaridade e à língua de intercomunicação dos informantes no contexto social, que exibe vasto contato linguístico (Hagemeijer, 2009), importem para 127 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas 70 ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS CRIOULOS E SIMILARES as motivações que configuram a regra variável. Na realidade, ao analisar a língua de intercomunicação dos informantes, nota-se uma correlação com a escolaridade, uma vez que, quanto menor a escolaridade do informante, maior contato com uma língua crioula, o que, em conjunto, concorre para a tendência à menor realização dos índices de concordância. Em outro extremo, é altíssimo o nível de concordância para os mais escolarizados, os quais, consequentemente, são aqueles que possuem maior contato com a língua portuguesa. Quanto aos demais grupos de fatores, a concordância na variedade em questão mostrou-se influenciada pelas variáveis estruturais animacidade, posição do sujeito e paralelismo, além da variável social sexo, mostrando tendências de incremento da marca para mulheres, sujeitos animados, antepostos e com marcas de plural. No âmbito geral, o Português de São Tomé e Príncipe demonstra preferência pela concordância (cf. Brandão, 2011), o que o aproximaria do modelo europeu. Atesta-se, no entanto, haver uma regra variável na variedade africana (da ordem de cerca de 90%), o que a diferencia, em certa medida, da variedade europeia, especialmente a lisboeta, que apresentaria uma regra semicategórica (cf. Labov, 2003) de concordância. De outro lado, o índice de concordância obtido em São Tomé e Príncipe mostra-se semelhante ao apresentado no Português do Brasil em variedades urbanas cultas/semicultas (Lucchesi et alii, 2009). Por fim, ressalte-se que os resultados obtidos, principalmente quanto à escolaridade e à língua de intercomunicação, são importantes para que se compreenda aquilo que ocorreu no Brasil, cuja variedade também surgiu com base em várias línguas em situação de contato lingüístico, o que teria influenciado de maneira expressiva a formação do português popular brasileiro. 128 Universidade de São Paulo RESUMO DOS PAINÉIS 130 ENCONTRO DA: ASSOCIAÇÃO DOS CRIOULOS DE BASE LEXICAL PORTUGUESA E ESPANHOLA RESUMO DOS PAINÉIS (por ordem alfabética) A ÉLIDA SILVA PITANGUEIRA DE ANDRADE (UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA) [email protected] Construções de tópico com retoma na posição de sujeito no português afrobrasileiro Em seu trabalho pioneiro, Pontes (1987) analisa minuciosamente as construções de tópico, constantemente presentes no português popular brasileiro. Posteriormente, estudos de Galves (1996 e 2001) evidenciam que o português brasileiro (PB) apresenta uma gramática bastante diferente da gramática do português europeu (PE), principalmente no que se refere às construções de tópico. Possivelmente, um dos motivos para tal divergência seria a interferência das línguas africanas. Podemos explicar essa hipótese pelo fato de que, durante o período colonial, o número de negros africanos no Brasil superava o número de brancos em decorrência do tráfico de escravos, que trazia negros de todos os cantos da África. Houve uma diversidade de grupos étnicos africanos, o que possibilitou uma série de manifestações linguísticas. Em função disso, Mattos e Silva (2001) afirma terem sido os africanos e afro-descendentes os principais difusores e formatadores do atual português brasileiro. Segundo Lucchesi (2006), esse contato com as diversas etnias africanas contribuiu para que ocorresse um processo de transmissão linguística irregular para os descendentes de escravos africanos. Seguindo essa perspectiva, o objetivo desse trabalho é analisar dados de oralidade de comunidades remanescentes de quilombolas para verificar a ocorrência das construções de tópico com retomada na posição de sujeito, em fala de pessoas da faixa etária acima de 60. Após levantamento de corpus de oralidade de comunidades remanescentes de quilombolas, audição e análise dos dados e identificação do material de análise, notou-se que é possível encontrar na fala de pessoas mais velhas construções do tipo: i) As fia da 131 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas 70 ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS CRIOULOS E SIMILARES gente, depois que casa elas vai simbora...; ii) As folha, elas seca tudo. O contato com as duas línguas e a consequente transmissão irregular promoveu a criação dessas construções. Esses exemplos foram produzidos por pessoas com idade acima de 60 anos. No entanto, construções desse tipo foram mais realizadas por falantes jovens dessas comunidades e são as mesmas que estão presentes no dia-a-dia do português popular. Diante desse quadro teórico e da análise realizada, defende-se a ideia de que as construções de tópico no português brasileiro podem ter sido oriundas da transmissão linguística irregular (cf. Lucchesi e Baxter, 2009) e do consequente enfraquecimento do sistema flexional, o que levou ao preenchimento da posição de sujeito pelo traço de pessoa (cf. Galves, 1996) pela faixa mais jovem, já que as pessoas mais velhas das comunidades analisadas pouco realizaram construções de tópico com retomada pronominal. 132 Universidade de São Paulo 130 ENCONTRO DA: ASSOCIAÇÃO DOS CRIOULOS DE BASE LEXICAL PORTUGUESA E ESPANHOLA N NATIVAL ALMEIDA SIMÕES NETO (UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA) [email protected] O preenchimento do sujeito nos verbos climáticos O Princípio de Projeção Estendido (EPP) garante que toda sentença tem um sujeito, que pode ser proveniente da seleção do verbo, como o argumento externo, ou da exigência paramétrica da língua, como é o caso dos expletivos, seguindo-se os pressupostos da teoria gerativa. O português europeu (PE) é uma língua de morfologia forte, tendo uma forma verbal devidamente associada a cada pessoa pronominal. Dessa forma, existe a possibilidade de o sujeito ser nulo, enquanto o inglês, por exemplo, não apresenta essa propriedade. Essas duas línguas se diferenciam pelo Parâmetro do Sujeito Nulo, que decorre de outras propriedades substantivas na língua (cf. RIZZI, 1982), como a existência de sujeitos nulos referenciais ou sujeitos nulos expletivos, dentre outras. O PE, em virtude de sua morfologia forte, não realiza foneticamente o sujeito expletivo; além disso, não exibe pronomes expletivos no léxico para tal propriedade. É considerada, portanto, uma língua de sujeito nulo. Estudos comparativos entre o português europeu e o português brasileiro (PB), como os empreendidos por Duarte (1996), Galves (1996, 2001) e Kato (2002), dentre outros, evidenciam que o primeiro licencia o sujeito nulo, enquanto o segundo tende a apresentar o preenchimento do sujeito. As formas de preenchimento do sujeito são amplamente discutidas nos trabalhos de Duarte, principalmente nos casos de sujeitos referenciais. Há, entretanto, algumas formas de preenchimento do sujeito no PB que merecem destaque, como o que ocorre nos verbos climáticos, objeto de estudo do presente trabalho. Tem-se encontrado com frequência frases do seguinte tipo: Essas cidades chovem muito e Uns verões chovem mais, outros menos. Face a construções desse tipo, levanta-se a hipótese de que o preenchimento do sujeito é um fenômeno linguístico proveniente do contato entre a língua portuguesa e as línguas africanas da família bantu. Essa hipótese encontra respaldo nos estudos desenvolvidos por Bearth (2006), visto que, conforme 133 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas 70 ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS CRIOULOS E SIMILARES indica o autor, nas línguas da família bantu, há uma tendência em tornar sujeito o elemento que está deslocado à esquerda, ocorrendo a concordância desse elemento com o verbo. Essa semelhança de fenômenos sintáticos sugere uma contribuição das línguas africanas para a formação da sintaxe do PB, já que é historicamente evidenciado que o contato existiu. E como num determinado período da história do Brasil, a maioria da população era negra, esta foi responsável por disseminar a língua e sendo assim, contribuiu não somente para o léxico (contribuição mais evidente), mas também para a sintaxe (cf. MATTOS E SILVA, 2006). O grande problema é que estudos nessa área ainda são muito incipientes e, muitas vezes, esses fenômenos são considerados meras coincidências. Mas não se pode considerar coincidência fenômenos que distinguem a sintaxe do português europeu em relação às outras vertentes, como a brasileira e a africana, como indica Petter (2009). É em função desses fatos que se justifica a realização deste trabalho como forma de investigar o preenchimento do sujeito com verbos climáticos, contribuindo para a discussão da história do português brasileiro. 134 Universidade de São Paulo 130 ENCONTRO DA: ASSOCIAÇÃO DOS CRIOULOS DE BASE LEXICAL PORTUGUESA E ESPANHOLA S RAQUEL AZEVEDO DA SILVA (UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO) [email protected] [email protected] Morfema ‘que’ complementizador versus morfema ‘que’ marcador de foco no português étnico de Jurussaca-PA Silva (2011) apresenta uma descrição preliminar das orações relativas na fala da comunidade de Jurussaca – PA – observando os principais fenômenos que envolvem esse tipo de construção nesta variedade do português vernacular brasileiro (PVB) denominada de ‘português étnico’ por Oliveira et alii (a sair). Silva (2011) orienta sua descrição/análise a partir de estudos já realizados sobre as sentenças relativas no português afrobrasileiro (PVB) – ver Ribeiro (2009) – e destaca características morfossintáticas das relativas em PVB, apontando, brevemente, um cotejo com as construções relativas no português em sua ‘norma padrão’, chamada PB (toma Braga, Kato & Mioto (2009: 243-244) como referência para as relativas da variedade PB). Silva (2011: dados (1), (2)) observou que, na fala de Jurussaca, as sentenças com antecedente nominal são introduzidas por meio do complementizador que em lugar do uso do pronome relativo acompanhado da preposição, configurando-se a chamada ‘relativa cortadora’ como se veem nos dados abaixo: (1) Rocinha é um local que tem umas manguera... (PB – em que) (2) Essas véia que eu tô falando (PB – de quem) Silva (2011: dados (5), (6), renumerados abaixo) descreveu ainda que os falantes de Jurussaca utilizam os pronomes relativos onde (e suas variações livres seguidas de ‘a’ e em’: aonde e na onde) e quem quando a oração relativa é uma relativa do tipo ‘livre’ – sobre relativas livres ver (Negrão, 1994). Observe os exemplos: (3) É porque de tudo tem que... diz que de tudo existe na onde é... remanescente de quilombo, né. Tem pajé, tem parteira, tem tudo. 135 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas 70 ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS CRIOULOS E SIMILARES (4) (...) eu não sei as pessoa, né, a... a... quem mora aqui porque [das vêz] (...) Neste trabalho propomos uma ampliação da descrição/análise das relativas de Silva (2011) da fala de Jurussaca a partir de um conjunto de dados que exemplificamos em: (5) [ foi ela que ] começô a descobrí lá e aí ela chamô o meu irmão que era o... presidente da associação (6) Pois é. [É essa Meire que ] foi ..que foi a dona de descobri lá o negócio que aqui em Jurussaca era remanescente de quilombos... As sentenças entre colchetes em (5), (6) apresentam claros exemplos de construções clivadas e, seguindo a análise sintática corrente na literatura, o que presente nas clivadas é analisado como um pronome relativo – ver Braga, Kato & Mioto (2009: 283). No entanto, seguimos a abordagem semântica de clivagem de Modesto (2001), ratificada em Mioto & Negrão (2007) para as orações clivadas em colchetes em (5) e (6). Estas orações apresentam foco dos sintagmas nominais – ‘ela’/’essa Meire’ – e neste caso há uma leitura ‘especificacional’ desses sintagmas que exclui a análise de que nessas construções ocorra uma relativa. O que nas clivadas em (5) e (6) é um marcador de foco e não um pronome relativo. 136 Universidade de São Paulo 130 ENCONTRO DA: ASSOCIAÇÃO DOS CRIOULOS DE BASE LEXICAL PORTUGUESA E ESPANHOLA Sumário PROGRAMAÇÃO ........................................................................................................ 9 PROF. DR. NICHOLAS FARACLAS ........................................................................................ 11 Recontextualizando a Emergência das Línguas Crioulas: o Papel dos Povos Marginalizados na Gêneses dos Crioulos PROF. DR. JOHN HOLM – UNIVERSIDADE DE COIMBRA, PORTUGAL ............................................. 14 Paralelos no Desenvolvimento Social e Linguístico de Duas Línguas Parcialmente Reestruturadas: Português Vernacular Brasileiro e Africâner da África do Sul RESUMO DAS CONFERÊNCIAS ................................................................................ 23 HUGO C. CARDOSO (CELGA, UNIVERSIDADE DE COIMBRA) ................................................. 25 Redescobrindo os Crioulos do Malabar JOSEPH CLANCY CLEMENTS (UNIVERSIDADE DE INDIANA) ...................................................... 26 Accelerated contact-induced language change in Korlai Creole Portuguese: A case for a Marathi-relexified creole NICHOLAS FARACLAS AND THE WORKING GROUP ON THE AGENCY OF MARGINALIZED PEOPLES IN THE EMERGENCE OF CREOLE LANGUAGES AND CULTURES (UNIVERSIDADE DE PORTO RICO, RÍO PIEDRAS) .... 28 Recentering the Ibero-Atlantic and the Ibero-IndoPacific within Creolistics: Acknowledging the Crucial impact of the Patterns and Outcomes of Creolization in the Iberian Empires on the Emergence of all of the Colonial Era Creoles CARLOS FILIPE G. FIGUEIREDO (UNIVERSIDADE DE MACAU) ................................................. 30 MÁRCIA SANTOS DUARTE DE OLIVEIRA (UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO) .................................... 30 Português das comunas do Libolo, Angola, e português Étnico da Comunidade de Jurussaca, Brasil: Cotejando os Sistemas de Pronominalização 137 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas 70 ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS CRIOULOS E SIMILARES ALAIN KIHM (CNRS – UNIVERSIDADE PARIS-DIDEROT) ......................................................... 34 Morphological Complexity in Pidgins-Creoles: Portuguese-Lexifier Pidgins-Creoles from an Abstractive Morphology Perspective SILVIA KOUWENBERG (UNIVERSIDADE ‘WEST INDIES’) ....................................................... 35 The Prosodic System of Papiamentu: Between Stress and Tone JOHN M. LIPSKI (UNIVERSIDADE DA PENSYLVANIA) ............................................................... 37 Mapping the Psycholinguistic Boundaries Between Spanish and Palenquero: How Many “Grammars” per “Language”? EDENIZE PONZO PERES (UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO) ....................................... 39 A Diversidade Linguística no Espírito Santo, Brasil DONALD WINFORD (UNIVERSIDADE DO ESTADO DE OHIO) .................................................... 41 Creole Formation, Second Language Acquisition, and Language Processing: A Look at the Issues RESUMO DAS COMUNICAÇÕES .............................................................................. 43 DAVI BORGES DE ALBUQUERQUE (UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA/UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE) ..... 45 Alguns traços de crioulos portugueses asiáticos no Português de Timor-Leste ANA LÍVIA AGOSTINHO (UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO) ...................................................... 46 MANUELE BANDEIRA (UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO) ......................................................... 46 SHIRLEY FREITAS (UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO) ................................................................ 46 Adaptação de empréstimos no principense moderno TÂNIA ALKMIM (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS) ..................................................... 48 LAURA ÁLVAREZ LÓPEZ (STOCKHOLMS UNIVERSITET) ............................................................. 48 A fala de africanos e os seus descendentes no Brasil: representações orais e escritas 138 Universidade de São Paulo 130 ENCONTRO DA: ASSOCIAÇÃO DOS CRIOULOS DE BASE LEXICAL PORTUGUESA E ESPANHOLA EDIVALDA ARAÚJO (UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA) ........................................................ 50 Do tópico nulo ao sujeito preenchido: caminhos de um contato linguístico SILVANA SILVA DE FARIAS ARAÚJO (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA) .................... 51 O continuum de normas linguísticas no português falado em Feira de Santana-Ba . JUANITO ORNELAS DE AVELAR (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS) .................................... 53 A complementação de verbos direcionais no português brasileiro e no português moçambicano: contato, mudança e variação MARLYSE BAPTISTA (UNIVERSITY OF MICHIGAN) ................................................................. 55 Traces of contact in creole genesis: Accounting for variation in a complex creole continuum ANGELA BARTENS (UNIVERSITY OF TURKU/UNIVERSITY OF HELSINKI) ........................................ 56 Una Comparación de Algunas Estructuras de la Morfosintaxis del Español Ecuatoguineano con el Portugués Angoleño ALAN N. BAXTER (UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA) ......................................................... 58 Are there ‘short’ and ‘long’ forms of verbs in Malacca Creole Portuguese (MCP)? NOËL BERNARD BIAGUI (LLACAN-INALCO/UNIVERSITÉ DE DAKAR) .................................... 59 NICOLAS QUINT (LLACAN-CNRS/INALCO) .................................................................. 59 Les Idéophones en Créole Casamançais et dans les autres créoles apparentés LILIAN DO ROCIO BORBA (PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS) ............................ 61 Artigos de Cândido da Fonseca Galvão: fontes escritas para história do português brasileiro ELIZANA SCHAFFEL BREMENKAMP (UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO) ...................... 62 A língua holandesa no Espírito Santo: análise sociolinguística do seu desaparecimento 139 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas 70 ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS CRIOULOS E SIMILARES EDNALVO APÓSTOLO CAMPOS (UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PARÁ/UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO-PG) ... 64 Sobre a (in)existência de pronomes clíticos no ‘português étnico’ de Jurussaca HUGO C. CARDOSO (CELGA, UNIVERSIDADE DE COIMBRA) ................................................. 65 ANA R. LUÍS (UNIVERSIDADE DE COIMBRA) ........................................................................ 65 Conjugação verbal e alomorfia no crioulo indo-português de Diu ANA M. CARVALHO (UNIVERSITY OF ARIZONA) ................................................................. 67 Contato de línguas e variação: a expressão do pronome sujeito em português e espanhol em contato no norte do Uruguai ZHANG CHAOFENG (UNIVERSIDADE DE MACAU) ................................................................ 69 A variação do uso dos clíticos no português falado em Angola BEATRIZ PROTTI CHRISTINO (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO) ................................ 70 A concordância de gênero e a expressão da definitude em Português Huni-Kuin MAGDALENA COLL (UNIVERSIDAD DE LA REPÚBLICA, URUGUAY) ............................................... 72 Las voces malungo, muyinga y yimbo en el español del Uruguay PAULA MENDES COSTA (UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO) .......................................... 73 Descrição fonológica segmental do crioulo da Guiné-Bissau: um estudo preliminar STEPHEN FAFULAS (INDIANA UNIVERSITY) ......................................................................... 76 MIGUEL RODRÍGUEZ-MONDOÑEDO (INDIANA UNIVERSITY) ............................................ 76 Language shift and the emergence of new varieties: Spanish in contact with Bora and Okaina CARLOS FILIPE G. FIGUEIREDO (UNIVERSIDADE DE MACAU) ................................................. 78 Uso variável do artigo definido no português reestruturado da comunidade de Almoxarife, São Tomé 140 Universidade de São Paulo 130 ENCONTRO DA: ASSOCIAÇÃO DOS CRIOULOS DE BASE LEXICAL PORTUGUESA E ESPANHOLA DÂNIA PINTO GONÇALVES (UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS) ........................................... 81 Aspectos do bilinguismo societal no comércio da fronteira uruguaio-brasileira ANTHONY GRANT (EDGE HILL UNIVERSITY, UK) ................................................................. 82 On the (dis)unity of the Manila Bay Creoles JOHN HOLM (UNIVERSIDADE DE COIMBRA) ........................................................................ 84 16th-century evidence regarding the origins of the Capeverdean verbal marker -ba INCANHA INTUMBO (UNIVERSIDADE DE COIMBRA) .............................................................. 86 ANA R. LUÍS (UNIVERSIDADE DE COIMBRA) ........................................................................ 86 Uma análise morfológica da reduplicação no Kriol da Guiné-Bissau LILIANA INVERNO (CELGA, UNIVERSIDADE DE COIMBRA/CECL, UNIVERSIDADE DO ALGARVE) ...... 87 Traços distintivos do português vernáculo de Angola face ao português vernáculo do Brasil BART JACOBS (JAGIELLONIAN UNIVERSITY OF KRAKÓW/RADBOUD UNIVERSITEIT NIJMEGEN) ............ 89 Grammaticalization in Afro-Portuguese Creoles: Idiosyncracies and particularities ANNA JON-AND (STOCKHOLMS UNIVERSITET) .................................................................... 93 Tendências universais na marcação de plural em variedades africanas e brasileiras do português LURDES TERESA LOPES JORGE (UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA) .................................................... 91 A expressão morfossintática e semântica de itens lexicais: considerações sobre o português do Brasil e línguas crioulas de base portuguesa do Atlântico CATHERINE BÁRBARA KEMPF (FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA) ........................ 94 CYNARA ALBINA RABELO DOS REIS (FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA) .................. 94 ELIANA PEREIRA DA SILVA (FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA) ............................. 94 Tabu linguístico e empréstimo de lexias bantu no português do Brasil 141 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas 70 ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS CRIOULOS E SIMILARES JÜRGEN LANG (UNIVERSITÄT ERLANGEN-NÜRNBERG) ............................................................. 96 A dive in the feature pool ISABELLE LÉGLISE (CNRS, SEDYL, PARIS) ....................................................................... 97 PASCAL VAILLANT (LIMBIO, UNIVERSITÉ PARIS 13) ........................................................... 97 JOSEPH JEAN-FRANÇOIS NUÑES (INALCO, SEDYL/LLACAN) ............................................ 97 Application de la méthodologie CLAPOTY à des phénomènes de contacts de langues trilingues (Créole Casamançais, Français et Wolof) MARIVIC LESHO (THE OHIO STATE UNIVERSITY) .................................................................. 98 Acoustic description of the Caviteño vowel system FRANCISCO JOÃO LOPES (UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO) ..................................................... 100 MARIA DE LOURDES ZANOLI (UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO) ............................................... 100 Considerações sobre o foco na posição de sujeito no crioulo de São Nicolau LAURA ÁLVAREZ LÓPEZ (STOCKHOLMS UNIVERSITET) ........................................................... 102 VIRGINIA BERTOLOTTI (STOCKHOLMS UNIVERSITET) ......................................................... 102 Comunidades lingüísticas afrohispanoamericanas y la pervivencia del tratamiento su merced DANTE LUCCHESI (UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA) ....................................................... 104 Contato entre línguas e mudança linguística: as relativas e as palavras interrogativas no português afro-brasileiro MARIA APARECIDA CURUPANÁ DA ROCHA DE MELLO (BIRKBECK UNIVERSITY OF LONDON) ............ 106 Reduplicações no guineense e no caboverdeano: composição ou derivação? WÂNIA MIRANDA (UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO) ........................................................... 107 A semântica dos determinantes es e uma em caboverdiano ISABELLA MOZZILLO (UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS) .................................................. 109 Um olhar sobre o portunhol da fronteira Brasil-Uruguai 142 Universidade de São Paulo 130 ENCONTRO DA: ASSOCIAÇÃO DOS CRIOULOS DE BASE LEXICAL PORTUGUESA E ESPANHOLA ANTÔNIO FÉLIX DE SOUZA NETO (UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO) ........................................... 111 Implicações do contato linguístico no sistema vocálico do papiamentu de Curaçao NICOLAS QUINT (LLACAN-CNRS/INALCO) ................................................................ 113 NOËL BERNARD BIAGUI (LLACAN-INALCO/UNIVERSITÉ DE DAKAR) ................................... 113 Un aperçu de la catégorie «Adjectif» en Créole Casamaçais MICHELA ARAÚJO RIBEIRO (FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA) ........................ 116 JACKY MANIACKY (MUSÉE ROYAL DE L’AFRIQUE CENTRALE – TERVUREN, BELGIQUE) ................. 116 ANATOMIA E FISIOLOGIA HUMANA NAS LÍNGUAS BANTU ROSA MARIA DE LIMA RIBEIRO (FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA) .................. 117 JACKY MANIACKY (MUSÉE ROYAL DE L’AFRIQUE CENTRALE – TERVUREN, BELGIQUE) ................. 117 Crenças e línguas em contacto: empréstimos da religião cristã nas línguas bantu EDUARDO FERREIRA DOS SANTOS (UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO/CNPQ) ............................... 119 Estrutura de foco no português de Angola: cotejo com línguas do oeste da África e com o português brasileiro ALFREDO CHRISTOFOLETTI SILVEIRA (UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO/FAPESP) ......................... 120 A realização do ditongo /ej/ no português vernacular são-tomense EEVA SIPPOLA (UNIVERSITY OF HELSINKI) ........................................................................ 122 Chabacano escrito: variación e ideologías JURGEN ALVES DE SOUZA (UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA) .............................................. 123 A contribuição do contato entre línguas para o apagamento do clítico reflexivo no português afro-brasileiro ELIANA PITOMBO TEIXEIRA (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA) ........................... 125 Sintaxe dos clíticos no português popular angolano 143 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas 70 ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS CRIOULOS E SIMILARES SILVIA RODRIGUES VIEIRA (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO) .................................. 127 KAREN CRISTINA DA SILVA (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO) .................................. 127 Estudo sociolinguístico da concordância verbal na fala de indivíduos de São Tomé e Príncipe RESUMO DOS PAINÉIS .......................................................................................... 129 ÉLIDA SILVA PITANGUEIRA DE ANDRADE (UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA) ............................ 131 Construções de tópico com retoma na posição de sujeito no português afrobrasileiro NATIVAL ALMEIDA SIMÕES NETO (UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA) ...................................... 133 O preenchimento do sujeito nos verbos climáticos RAQUEL AZEVEDO DA SILVA (UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO) ................................................. 135 Morfema ‘que’ complementizador versus morfema ‘que’ marcador de foco no português étnico de Jurussaca-PA 144 Universidade de São Paulo