“DONA MARIANA PEDE, A GENTE FAZ”: A RELAÇÃO DO PAI DE SANTO DO TERREIRO DE MINA SANTA BÁRBARA COM OS SÍMBOLOS E ELEMENTOS SAGRADOS DO ALTAR DA ENTIDADE CABOCLA MARIANA Autor: Anderson Lucas da Costa Pereira (UFOPA); Orientadora: Prof. Msc. Carla Ramos (UFOPA) Pesquisa vinculada ao Programa de Mapeamento das Casas e Terreiros de religiões de matriz Afro-brasileira na cidade de Santarém/PA -PROEXT/MEC. Universidade Federal do Oeste do Pará Objeto compreendendo que o Altar é um potente aglutinador de forças dentro do terreiro, o condensador, escoador, expansor, transformador e alimentador dos mais diferentes tipos de energias e magnetismo (FERRETTI, 1985; LUCA, 1999; GELL, 1999; CRUZ, 2012). Entendendo que nas religiões de matriz afrobrasileira existe um processo de constante renovação de Axé (Força, Energia, Vida) que emana do Altar, estabelecendo a postura que o indivíduo deve ter ao longo da vida determinando o modo de sentir, viver e agir, me interessa compreender a relação do Pai de Santo do Terreiro de Mina Santa Bárbara, Santarém (PA) com os Símbolos e Elementos Sagrados que compõem o Altar da entidade Cabocla Dona Mariana. Do ponto de vista de uma concepção do Sagrado nas religiões de matriz afro-brasileira compartilho da tese de Alfred Gell (1999) quando ressalta que o “Altar” emana forças que influenciam comportamentos, sentimentos e sensações, desempenhando um importante elo na vida social do grupo religioso. Assim, partindo da concepção acima definida, estou indagando como certos Elementos presentes no Altar prescrevem comportamentos no interior desse grupo religioso. Resultados Figura 1: Altar da D. Mariana, Terreiro Santa Bárbara, Santarém, PA. Fonte: CHAVES,2012. Objetivos Figura 2: Ibá da D. Mariana, Terreiro Santa Bárbara, Santarém, PA. •Analisar como os Elementos e Objetos presentes no Altar prescrevem certos comportamentos no interior do grupo religioso. •Entender a construção de um espaço Sagrado na perspectiva do Pai de Santo do Terreiro. •Compreender a relação do Pai de Santo com os Símbolos e Elementos que compõem o espaço Sagrado no Terreiro. “Meu filho, essas coisas vai depender muito da vontade do Santo, tento ordenar as coisas da maneira como ela vai me dizendo. Cada coisa tem o seu lugar e sua importância para com a religião e principalmente com seus filhos, tudo tem que estar em ordem, pra depois não haver confusão. Dona Mariana pede a gente faz” (Pai de Santo, revelando a importância de obedecer e tentar organizar o altar de acordo com a vontade do Santo. Santarém, PA. 2012). Metodologia •Método etnográfico de trabalho de campo com observação direta e sistemática do Terreiro de Mina Santa Bárbara, tanto do seu cotidiano como dos momentos festivos e cerimoniais; •Como técnicas para o levantamento de dados utilizo o registro fotográfico dos Altares e de outros espaços considerados Sagrados no Terreiro. Realização de entrevistas gravadas com sacerdotes, religiosos e frequentadores desses espaços; •Revisão crítica da bibliografia existente sobre o tema; •Modelos teóricos para análise da categoria de “Sagrado” no interior das religiões afro-brasileiras proposto por Mariana Funari (2011) e Sergio Ferretti (1985); para a noção de “Religiosidade” utilizo o trabalho de Edward Thompson (1998); e para a análise dos elementos que compõe os “Altares” nos terreiros que estou acompanhado me aproximo da abordagem indicada por Alfred Gell (1999). Os dados etnográficos nos revelam detalhes importantes sobre a organização espacial do terreiro em questão. De acordo com os relatos da liderança religiosa do terreiro de Mina Santa Bárbara, o Altar representa o mais importante espaço sagrado e o conjunto dos seus elementos deve estar disposto de maneira a obedecer a um determinado padrão hierárquico e ritualístico. Na concepção do Pai de Santo, o Altar teria a função de concentrar as energias emanadas pelas entidades e divindades que atuam no Terreiro. Para ele, as energias acumuladas nesse espaço são direcionadas pelos espíritos aos médiuns e às pessoas que frequentam o terreiro. Fonte: CHAVES,2012. Figura 3: Bandeira da D. Mariana, Terreiro Santa Bárbara, Santarém, PA. “No Ibá da Mãe Mariana dentro do que a religião me permite falar, temos elementos da natureza, búzios, barro, ferro, pedras semipreciosas que para Mãe Mariana são elementos de força e o sagrado são os búzios o peixe que representa água , a ancora que mostra força e as estrelas que é a ligação com os astros que ela tem, e claro também, dois remos, que representa as caboclas das águas da nossa região” (Pai de Santo, explicando a composição do Ibá da D. Mariana, 2012). “Mãe Mariana é o Caminho da esperança, da paz, e harmonia. Mãe da esperança, que nos conduz nos caminhos difíceis da vida terrena, Ela nos dá as palavras certas, o conselho certo. Mãe Mariana só quer o nosso bem. Ela Cuida de pessoas que médicos já disseram que não tinha jeito, mas que na presença da Mãe Mariana encontraram a cura e estão perfeitamente bem, e eu tenho prova disso”. (Pai de Santo, revelando a importância de D. Mariana. Santarém, PA. 2012). Referências Fonte: CHAVES,2012. CANCLINI, N. G. As culturas populares no capitalismo. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1983; CRUZ, Alline Torres Dias da. Manutenção de espíritos, extração de energias “não-governo de si”: “pessoa”, “família” e “trabalho” entre imigrantes da Repúblicas Dominicana em Porto Rico.In: COLÓQUIO ESPÍRITO DAS COISAS: ETNOGRAFIAS DA MATERIALIZAÇÃO E DA TRANFORMAÇÃO, 2012, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: Museu Nacional/UFRJ, 2012; FERRETTI, Sergio. Querebentan de Zomadonu: etnografia da Casa das Minas. São Luís: UFMA, 1985; FUNARI, M. S., Reconhecimento e divulgação da cultura africana e afro-brasileira (Estudos sobre o Museu Afro Brasil). 2011. Trabalho de conclusão de curso – Escola de Comunicação e Artes. Centro de Estudos Latino-Americanos sobre cultura e comunicação. Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011; GELL, A. Art and Agency. An Anthropological Theory, Oxford: Clarendon Press. 1999; LUCA, T. T. Devaneios da memória: A história dos cultos afro-brasileiros em Belém do Pará na versão do povo-de-santo. 1999. Monografia (Graduação). Curso de História. Universidade Federal do Pará. Belém, 1999; THOMPSON, Edward Palmer. Costumes em comum: estudos sobre a cultura popular tradicional. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.