IDENTIDADE, REGULAÇÃO E CONTROLE SOCIAL DAS PRÁTICAS AFRO-RELIGIOSAS EM SANTARÉM/PA: UM ESTUDO SOBRE UMA FEDERAÇÃO RELIGIOSA Autora: Telma de Sousa Bemerguy ( Pesquisa vinculada ao Programa de Mapeamento das Casas e Terreiros de Matriz Afro-brasileira na cidade de Santarém/PA - PROEXT/MEC, Universidade Federal do Oeste do Pará – UFOPA).Orientadora: Prof. Msc.Carla Ramos (UFOPA) DEFINIÇÃO DO OBJETO Entre os anos 1982 e 1983, a Federação Espírita Umbandista e dos cultos afro-brasileiros do Estado do Pará (FEUCABEP), com sede na capital paraense Belém, começa a atuar mais diretamente na organização das práticas afro-brasileiras em Santarém. Segundo os informantes, a Federação introduziu no campo um discurso que propunha a legitimação e legalização das práticas religiosas a partir da adesão ao movimento federativo (CUMINO, 2010) e da realização de rituais de iniciação – “rituais de feitura” - particulares às práticas do Candomblé. Em busca de compreender o processo de constituição de identidade através da análise deste caso, compartilho da proposição teórica de Emerson Giumbelli (2003), que afirma que a configuração das identidades religiosas se compõe pela ação de diversos mecanismos de regulação social do campo, para ele, estes mecanismos são compostos pela interação de diversos personagens e campos sociais, e apenas alguns deles são religiosos. Nesse sentido, pretendo analisar a interatividade de agente múltiplos - religiosos e não religiosos – para entender a configuração das identidades religiosas no campo afroreligioso santareno. A FEUCABEP, no ponto referente à sua trajetória de atuação, é descrita tanto pela bibliografia como pelos entrevistados como um órgão ambíguo, atravessado por uma série de disputas e conflitos, mas que ainda assim mantém sua legitimidade enquanto órgão representativo dos afro-religiosos no Estado (VERGOLINO, 1976). Taíssa Luca (2003) afirma que a FEUCABEP representa no campo afro-religioso do Estado o papel de grande guardiã da tradição religiosa afro-paraense. Assim, a partir da análise da atuação da FEUCABEP no município de Santarém/PA nos anos 80, busco compreender o processo de constituição de identidades/diferenciação/conflito no “campo” (BORDIEU, 1974) afro-religioso da cidade. OBJETIVOS • Observar as relações construídas a partir da atuação da FEUCABEP na organização no espaço afro-religioso da cidade de Santarém-PA; • A partir da observação das relações, acompanhar o processo de constituição de identidades/diferenciação/conflito religiosos no campo afro-religioso de Santarém; • Refletir como e de que maneira a FEUCABEP se faz presente na cidade, a partir do estudo de casos no Terreiro de Candomblé Ilê Asé Oto Sindoyá e no Terreiro de Mina Nagô Obá Afonjá; REFERÊNCIAS METODOLOGIA • Método etnográfico de trabalho de campo com observação direta e sistemática do Terreiro de Candomblé Ilê Asé Oto Sindoyá e do Terreiro de Mina Nagô Obá Afonjá; • Revisão crítica da bibliografia existente sobre o tema; • Como técnicas para o levantamento de dados realizo entrevistas com as lideranças dos Terreiros, com base em roteiro previamente elaborado e com o objetivo de visualizar se e como a FEUCABEP é mencionada na trajetória religiosa dos entrevistados; • Os modelos teóricos para análise dos mecanismos de regulação social são retirados do trabalho de Emerson Giumbelli (2003 ); e as categorias de campo e de capital simbólico são pensados a partir de Pierre Bordieu (1974); RESULTADOS • A caracterização da Federação Espírita Umbandista e dos cultos afrobrasileiros do Estado do Pará (FEUCABEP) na bibliografia afirma a importância do estudo de sua atuação para o entendimento do campo de estudos sobre afro-religiosidade no Estado do Pará; • A revisão da bibliografia aponta para a inexistência de pesquisa sobre a atuação da FEUCABEP em Santarém; • A pesquisa aponta que a disputa por capital simbólico (Bordieu, 1974) no âmbito da FEUCABEP - ponto bastante referenciado na bibliografia - parece ter reflexos na atuação da instituição em Santarém; • As entrevistas realizadas até o momento apontam que a atuação da FEUCABEP em Santarém é um item de análise relevante para o entendimento do contexto das práticas afro-religiosas na cidade; “A partir de 82 começou. A ordem que chegou em Santarém era que quem quisesse tocar tambor tinha que raspar santo . E assim eles chegaram de livre e espontânea pressão. As casas aqui em Santarém eram todas Umbanda e Mina”.(Entrevista com Pai Ogan filho carnal de Mãe-de-Santo de uma das Casas de Umbanda abertas em Santarém nos anos 80). “A Federação proíbe bebida alcoólica. Dona Mariana reclamou, reclamou, reclamou, mas ninguém mais bebe nem fuma dentro do terreiro. Eles [caboclos] bebem, mas não dentro do terreiro. Se querem beber e fumar tem que ser aqui fora ou lá atrás. Eu tento sempre diminuir a bebida pra doutrinar a entidade. Eu acho lindo o caboco bebendo e fumando na frente do tambor, mas aqui eles não bebem mais dentro do salão”. (Entrevista com Pai-de-santo de um terreiro de Mina de Santarém) BORDIEU, Pierre. A economia das trocas simbólicas. São Paulo: Ed. Perspectiva, 1974; CUMINO, Alexandre. História da Umbanda: uma religião brasileira. São Paulo: Madras, 2010; GIUMBELLI, Emerson. O “Baixo Espiritismo” e a história dos cultos mediúnicos. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 9, n. 19, p. 247-281, julho de 2003; LUCA, Taíssa Tavernard de. Revisitando o Tambor das Flores: a Federação Espírita e Umbandista dos Cultos Afro-Brasileiros do Estado Pará como guardião de uma tradição (Dissertação de Mestrado) Recife: UFPE, 2003; SILVA, Anaiza Vergolino e. O Tambor das Flores: Uma análise da Federação Espírita Umbandista e dos Cultos Afro-Brasileiros do Estado do Pará. Dissertação de Mestrado. UNICAMP, 1976.