OS HOMENS QUE CHAMAM OS DEUSES PRA TERRA CHUCHUCA ESPECIAL CONSCIÊNCIA NEGRA O LP Cânticos de Terreiro é uma das obras de Luiz da Muriçoca Esmeraldo Emetério de Santana Filho, 64 anos, 37 de vida religiosa. Xincarangoma do terreiro Tumba Junçara “O diálogo entre os instrumentos deve ser harmonioso e é essencial saber o que se fala, pois o inquice responde dançando o que a gente pergunta cantando” YOMAR PASSOS Assobá do Terreiro do Gantois, Yomar, juntamente com Gama da Paz, criou o projeto do CD “Odum Orim- Festa da Música”. O objetivo do trabalho, lançado em 2000, é contribuir para a formação de novas gerações 1 1. José Antônio Silva da Costa (Pilão de Prata), Robson Gomes de Jesus (Ilê Axé Jitolu) e Jaime Sodré (Tanuri Junsara) Senhores da arte de encantar o divino 3 DOMÍNIO Amplo conhecimento religioso e traços marcantes de personalidade levam sacerdotes músicos a se tornar exemplos 2. Euvaldo Freitas dos Santos (Vadinho Boca de Ferramenta) Terreiro do Gantois MEIRE OLIVEIRA 3. Robson Gomes de Jesus, do Ilê Axé Jitolu 4. Heron Ogumsanwo Santana da Conceição, do terreiro Oulufanjá 5. Jaime Sodré, Robson Gomes, José Antônio Silva, Elias Oliveira, Edvaldo de Araújo, Heron Ogumsanwo, Antônio Carlos, Pai Air José, Carlos Humberto, Erenilton Bispo, Pedro Virgínio, Luizinho do Jeje e Chuchuca (deitado) 6. Antônio Carlos Soares de Souza, do Pilão de Prata 2 Divulgação / Blog Opotun Vinicius LUIZINHO DO JEJE Luiz Carlos Oliveira de Souza, 39 anos, sendo 14 de iniciação. “Fico muito concentrado quando estou no atabaque. Minha obrigação como huntó é tocar no andamento da divindade e executar o que ela quer fazer na cerimônia. Foi assim que aprendi com mestre Amâncio Melo” Eles têm marcas próprias: a entonação baixa ou intensa da voz; o ritmo que extraem dos instrumentos; a extensão do repertório sagrado que conhecem e a desenvoltura no diálogo musical com as divindades. Por isso se tornam referência como sacerdotes da música e rompem as fronteiras do terreiro onde atuam ou da nação à qual estão vinculados. A marca pessoal é tão forte que, mesmo de longe, é possível identificar quem está no comando do roteiro musical de uma cerimônia. “Da rua posso identificar que determinados alabês estão presentes”, afirma o xicarangoma Esmeraldo Emetério de Santana (Chuchuca). Ele é filho de Esmeraldo Emetério de Santana (Benzinho) conhecido pelo vasto conhecimento e luta pelo respeito à religião. Era um dos mais antigos xincarogama e morreu em 2011. A harmonia entre instrumento e canto é comprovado na rea- 11 SALVADOR TERÇA-FEIRA 20/11/2012 ção do inquice, orixá ou vodum. “Prestando atenção ao pé do orixá, o alabê sabe o que deve fazer”, afirma Edvaldo de Araújo Santos (Papadinha), 42, alabê do terreiro Casa Branca. Referências Alguns já partiram para o orum, o espaço da ancestralidade, mas seus nomes continuam marcantes: Luiz da Muriçoca, Manoel da Paz (Paizinho Pai Preto) e Alcides Teles Cardoso (Cidinho). “Eles têm o poder de mudar a energia do lugar pela relação com a divindade”, diz o professor de percussão da Ufba, Jorge Sacramento que pesquisou a aprendizagem dos alabês nos terreiros Oxumarê e Bogum. “Ôia, Ôia!”. A expressão anunciava que o alabê Vadinho Boca de Ferramenta havia chegado. Dono de voz forte, muitos afirmam que o atabaque era extensão do seu corpo. “É raro alguém com o conhecimento dele. Ele brincava com todo mundo”, conta o alabê Yomar Passos, do Terreiro Gantois. 4 5 6 PAPADINHA Edvaldo de Araújo Santos, 42 anos, é o principal alabê do Terreiro Casa Branca e teve Cipriano Manuel Bonfim como um dos seus mestres. “Candomblé se faz na hora. Dentro do sentido da festa, o orixá vai colocando na nossa mente o que deve ser cantado” Carlos Casaes / Ag. A TARDE / 6.8.1992 LUIZ DA MURIÇOCA ERENILTON Luís Alves de Assis De voz Erenilton Bispo Santos Com mais inconfundível, ele era babalorixá do de 50 anos de sacerdócio, o alabê terreiro Ilê Axé Ibá Ogun, mas fez e influenciou vários trabalhos sobre os cânticos sagrados que incluíram mais antigo de Salvador, é respeitado pelo profundo conhecimento dos cânticos. “Toco e a gravação de LPs. Também interpretou o babalorixá “Procópio canto com amor e respeito para ver a alegria do orixá. O canto tem que d’Ogum” em “Tenda dos Milagres”. ser com floreio para ficar bonito” Canto e instrumento devem estar em harmonia